O BRIC-BRICS SEMPRE FOI RUIM PARA O BRASIL: O BRICS+ SERÁ PIOR
Paulo Roberto de Almeida
O BRIC (2006-2009) foi uma decisão equivocada, estrategicamente destruidora da autonomia em política externa, objetivo perseguido pela diplomacia brasileira desde sempre, adotada por um governo, o de Lula 1, claramente antiamericano e antiocidental, praticante de uma diplomacia partidária, sectária, enviesada e contrária aos interesses nacionais maiores do Brasil; já o ingresso da África do Sul (em 2011) representou uma imposição chinesa, que tende a se reproduzir agora na ampliação do BRICS, que só interessa à China e à Rússia.
A decisão errada adotada entre 2006-2009, depois ampliada em 2011, agora ameaça de vez a pretensa autonomia da política externa do Brasil. O “bebê” acalentado de forma excessivamente otimista ao inicio, agora se transformou num “jovem” problemático, que serve a outros interesses que não os do Brasil.
Não sei como Oliver Stuenkel ainda não percebeu isso. Meu livro sobre A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira (Kindle Amazon, 2022) aprofunda esse debate.
Paulo Roberto de Almeida
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AMPLIAR O BRICS É RUIM PARA O BRASIL!
Oliver Stuenkel
Analista político e professor de relações internacionais da FGV em São Paulo
O Estado de S. Paulo, 3/07/2023
No próximo dia 22 de agosto, os líderes do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul se reunirão em Joanesburgo para a 15ª cúpula do Brics. Por vários motivos, será o encontro mais importante da história do bloco, que se transformou em um grupo geopolítico em 2009, ano de sua primeira cúpula.
Em primeiro lugar, o anfitrião precisa lidar com uma situação diplomática delicada: como signatária do Tribunal Penal Internacional (TPI), a África do Sul tem a obrigação de prender o presidente russo se ele comparecer à reunião, pois o TPI emitiu, em março, mandado de prisão contra Vladimir Putin pela deportação ilegal de crianças ucranianas para a Rússia.
Nos últimos meses, o governo sul-africano até considerou transferir a cúpula para a China – que não é signatária do TPI. Afinal, como o ex-presidente sul-africano Thabo Mbeki apontou recentemente: “Não podemos dizer ao presidente Putin, ‘por favor, venha para a África do Sul’ e depois prendê-lo. Ao mesmo tempo, não podemos dizer ‘venha para a África do Sul’ e não o prender – porque estamos violando nossa própria lei”.
Porém, ao que tudo indica, é justamente isso que o governo sul-africano fará, atitude que não apenas representaria um triunfo diplomático para Putin, mas também fortaleceria o grupo Brics: afinal, o país se mostraria disposto a violar sua própria legislação para preservar a tradição diplomática das cúpulas do Brics, às quais até hoje nenhum presidente deixou de comparecer.
Em segundo lugar, em Joanesburgo o grupo estará diante da decisão mais importante de sua história: criar ou não um processo formal para admitir novos integrantes. Em 2010, a China conseguiu convencer o Brasil, a Rússia e a Índia a agregar a África do Sul, argumentando que incluir um país africano dava ao Brics mais legitimidade para falar em nome do mundo em desenvolvimento.
Parte da motivação, porém, provavelmente foi o desejo chinês de tornar supérfluo o IBAS – grupo criado em 2003 composto por Índia, Brasil e África do Sul – pois a consolidação de um agrupamento de três grandes democracias no Sul Global não era do interesse de Pequim. De fato, em 2013, o IBAS, uma das principais inovações da política externa do primeiro mandato Lula, perdeu relevância.
Desde 2017, a China promove sua visão de um Brics ampliado, e perto de 20 países – entre eles o Egito, o Irã, a Argentina e a Arábia Saudita – sinalizaram o interesse em aderir. Como a China, cujo PIB é maior do que de todos os outros integrantes somados, sempre será vista como líder do grupo, a expansão faz sentido para Pequim, e um Brics com dez ou vinte integrantes pode ajudar a formalizar a enorme influência econômica e política que a China já exerce globalmente. Para a Rússia, a expansão também faz sentido para se proteger do crescente isolamento diplomático.
Para a Índia e o Brasil, porém, ampliar o grupo teria um custo estratégico significativo: um Brics diluído dificilmente traria o mesmo prestígio, status e exclusividade que oferece hoje. É em parte graças ao Brics que o Brasil ainda é visto como uma potência em ascensão, apesar de estar em estagnação há uma década. Enquanto Nova Deli e Brasília têm a capacidade de vetar decisões em um agrupamento de cinco países, é bem mais difícil exercer a mesma influência em uma aliança de dez ou vinte, onde o maior objetivo dos novos integrantes é fortalecer laços econômicos com a China.
Além disso, é importante lembrar que vários dos países que buscam aderir ao grupo adotam uma estratégia explicitamente anti-ocidental, contrária à estratégia brasileira e indiana de articular uma postura de não-alinhamento no contexto das crescentes tensões entre os EUA e a China. Um Brics que inclua a Venezuela, o Irã e a Síria dificultaria garantir que as declarações finais das cúpulas tenham um tom moderado.
A participação brasileira do grupo Brics, do jeito que está, produz vantagens concretas para o Brasil, trazendo prestígio diplomático e facilitando o diálogo com quatro atores-chave no sistema internacional com os quais o País não tinha relação estreita há apenas duas décadas. Aceitar um Brics ampliado equivaleria a abrir mão desses benefícios.
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