Brasil e China convocam 19 países para reunião sobre paz na Ucrânia
Encontro busca angariar apoio de nações em desenvolvimento para plano de cessar-fogo
Ricardo Della Coletta
Folha de S. Paulo, 21/09/2024
NOVA YORK A lista final de convidados para a reunião que Celso Amorim, assessor internacional do presidente Lula
(PT), está organizando com a China para discutir um processo de paz no
Leste Europeu tem 19 países, todos do chamado Sul Global, termo não
oficial para se referir a nações em desenvolvimento. Nem Rússia nem
Ucrânia, as partes diretamente envolvidas na guerra, foram convidadas.
A reunião está prevista para a próxima sexta-feira (27), pouco depois da Assembleia-Geral da ONU em Nova York.
A Folha teve acesso à lista, que tem duas categorias de países. A
primeira reúne Estados que se engajaram mais de perto no processo e
passaram a participar dos preparativos. São eles: África do Sul, Arábia
Saudita, Egito e Indonésia. Os sauditas já se envolveram em negociações
sobre a Ucrânia no passado, enquanto o Egito tem expertise como mediador
na guerra Israel-Hamas.
A partir dessa atuação conjunta, os organizadores chegaram a um grupo de
países que, segundo eles, sinalizaram disposição de enviar um
representante para o encontro em Nova York.
Aém do primeiro grupo, a lista de convidados é composta por Emirados
Árabes Unidos, Tailândia, Vietnã, Etiópia, Zâmbia, Nigéria, Senegal,
Bolívia, Colômbia, México, Argélia, Cazaquistão, Malásia, Quênia e
Azerbaijão.
A presença dos nomes na lista não significa necessariamente que esses
países vão participar do encontro nem em qual nível - se representado
por um ministro ou por um funcionário de escalão inferior. Mas mostra
que os organizadores os consideram inclinados a apoiar a proposta
sino-brasileira.
Um interlocutor ouvido pela reportagem sob anonimato ressaltou que
alguns dos participantes tendem a enviar seus embaixadores na ONU, uma
vez que seus chanceleres podem já ter deixado Nova York na data do
encontro.
Como a Folha mostrou, Brasil e China estão organizando a reunião para
divulgar a proposta conjunta de um plano de paz para Ucrânia e Rússia. O
documento foi anunciado em maio, durante uma visita de Celso Amorim a
Pequim, e assinado por ele e por Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China.
O plano consiste em seis pontos, entre os quais a realização de uma
conferência internacional de paz "que seja reconhecida tanto pela Rússia
quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes
relevantes".
A proposta engloba a rejeição ao uso de armas de destruição em massa e
aos ataques contra usinas nucleares - e rejeita a "divisão do mundo em
grupos políticos ou econômicos isolados".
Os termos do documento, no entanto, foram rejeitados pelo presidente da
Ucrânia, Volodimir Zelenski - que chamou a proposta de destrutiva - e
por aliados de Kiev no Ocidente. Em linhas gerais, estes consideram que a
abordagem sino-brasileira premia a Rússia e autorizaria o governo de
Vladimir Putin a anexar territórios ocupados.
Na quarta-feira (18), Lula conversou por telefone com Putin e discutiu a proposta de paz.
Amorim, ex-chanceler e principal conselheiro de Lula
para temas internacionais, está pessoalmente envolvido na iniciativa. O
presidente já não estará em Nova York no dia da reunião, de modo que
Amorim deve conduzir o encontro ao lado do chanceler chinês. O Brasil
pode ser representado ainda pelo ministro Mauro Vieira, mas sua participação ainda não está confirmada.
Ao anunciar um plano conjunto com a China, na prática o governo Lula também marcou distância de uma conferência de paz realizada na Suíça em junho. Lula escalou apenas uma observadora para o encontro e não endossou a declaração final da conferência.
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