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sábado, 7 de dezembro de 2013

Irineu Evangelista de Souza, o Barao de Maua: enfim homenageado - mesa redonda na UFF

Abaixo, o cartaz com a programação da Mesa redonda "VISCONDE DE MAUÁ: INOVAÇÃO NO BRASIL DO SEGUNDO REINADO", organizada pela entidade que coordena os cursos de Administração na Universidade Federal Fluminense e que anuncia que existem mais informações neste link: http://abrasuff.blogspot.com.br/ (de fato não, há; o curso de administração ainda não conseguiu administrar o seu próprio site).

Em todo caso, se trata de uma seção em homenagem a um dos grandes empresários, o maior, do Império, o homem que teria colocado o Brasil no caminho da modernidade, se por acaso suas ideias tivessem penetrado mais fundo na consciência dos líderes políticos agraristas e escravocratas que conduziram o Império à sua modorra de estagnação durante quase um século inteiro.
Eu costumo dizer que é mais interessante examinar a trajetória de um país pelos seus fracassos do que pelo seus supostos sucessos. O sucesso tem muitos país, o fracasso não costuma ter nenhuma mãe. Ninguém quer ser responsável pelo fracasso de um país, embora muitos sejam responsáveis, em primeiro lugar, como sempre ocorre, elites incompetentes, desde o Império até hoje, quando temos uma nova elite no poder, na verdade uma nova classe, no sentido da Nomenklatura, que está conseguindo fazer o país recuar.
Podemos facilmente identificar os grandes derrotados da história do Brasil, e Mauá é certamente um deles. Mas a história começa com José Bonifácio, derrotado em seu projeto de libertar imediatamente o Brasil do tráfico e da escravidão em médio prazo, estimulando a imigração europeia e a industrialização do país, com uma consciência muito avançada do que hoje em dia se chama "desenvolvimento sustentável", ou seja, preservação dos recursos naturais e do meio ambiente.
O outro grande derrotado foi justamente Irineu Evangelista de Souza, que queria um Brasil aberto ao comércio internacional, às inovações industriais, a um mercado de capitais ativo, e dominado por interesses privados, enfim, um país capitalista, e liberal em economia, mesmo se ele mesmo se beneficiou de inúmeras concessões públicas e de monopólios oficiais. Mas, criador do segundo Banco do Brasil, ele foi derrotado pelos políticos do Segundo Império nos seus propósitos de ampliar o crédito e abrir o Brasil aos investimentos estrangeiros. Não conseguiu, e a monarquia continuou escravocrata, agrarista, atrasada em tudo.
Outro derrotado foram os primeiros tribunos republicanos, inclusive Rui Barbosa, em seus propósitos de educar a população e fazer do direito uma das bases da política nacional; foi derrotado também pelos agraristas reacionários, e pelos políticos corruptos.
Monteiro Lobato tentou modernizar o país, mas também foi um derrotado, assim como o foram os reformistas da educação brasileira nos anos 1920 e 30, que só conseguiram construir parcialmente uma educação de qualidade para o povo brasileiro, ainda assim limitada às camadas médias urbanas.
Não coloco os nacionalistas dos anos 1950 e 60 entre os derrotados, pois eles foram amplamente vitoriosos, inclusive pela ação dos militares, que foram obtusamente nacionalistas e equivocadamente estatizantes, aliás como são hoje os representantes da elite no poder, sempre atrasados mentalmente.
Espero que alguns aspectos dessas tentativas derrotadas sejam evocadas no colóquio abaixo, para esclarecimento dos presentes, e conscientização dos atuais defensores de um "modelo"  brasileiro de desenvolvimento.
Na verdade, não existem modelos, apenas trabalho, em torno de alguns princípios fundamentais, infelizmente sempre derrogados por nossas elites. Listo aqui os elementos de um país bem sucedido: 
1) Macroeconomia aberta, estável, com fundamentos sólidos nas boas políticas macroeconômicas e setoriais; 2) Micreconomia competitiva, sem oligopólios, carteis e proteção indevida; 3) Boa governança, instituições sólidas, transparentes, responsáveis, baixa ou nenhuma corrupção, sem privilégios para quaisquer categorias, mas assegurando um bom ambiente de negócios privados; 4) Alta qualidade dos recursos humanos, o que significa boas escolas, abertas a todos; 5) Abertura ao comércio e aos investimentos internacionais, o que infelizmente não é o caso ainda em nosso país.
Com essas considerações em mente, formulo meus votos para um bom colóquio na UFF.
Paulo Roberto de Almeida












































Mauá
Kenneth Maxwell
Folha de S.Paulo, 7/12/2013

Este mês marca o bicentenário do nascimento de Irineu Evangelista de Sousa, em 28 de dezembro de 1813, em Arroio Grande, na fronteira sul do território que se tornaria o Rio Grande do Sul. Ele morreu em 1889, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, como visconde de Mauá, pouco antes da queda do Império brasileiro.
Mauá foi industrial, banqueiro e empresário. Homem de origens modestas, perdeu o pai, morto por ladrões de gado, aos cinco anos de idade. O tio, capitão de navio, o levou ao Rio de Janeiro quando ele tinha nove anos de idade. Aos 15, Irineu começou a trabalhar para Richard Carruthers, um comerciante escocês radicado no Rio de Janeiro que se tornou seu mentor e seu amigo pelo resto da vida. Carruthers ensinou inglês e contabilidade a Mauá, e o iniciou na ordem maçônica. Depois que Carruthers retornou à Escócia, em 1829, Irineu assumiu o comando de seus negócios.
Ele se opunha ao comércio negreiro e à escravatura. Foi um pioneiro da metalurgia, da iluminação a gás, dos estaleiros, dos motores a vapor, dos navios a vapor para o rio Amazonas e das ferrovias.
No auge de sua carreira, em 1860, controlava 17 em- presas no Brasil, Uruguai, Argentina, Reino Unido, França e Estados Unidos. Em 1867, o valor de suas propriedades foi estimado em 155 milhões de libras. A renda do império brasileiro naquela época era de 97 milhões de libras.
O imperador dom Pedro 2º compareceu à inauguração do trecho inicial de sua ferrovia até Petrópolis, em 1854, no dia em que Mauá recebeu o título de barão de Mauá. O emblema heráldico do novo nobre exibia um motor a vapor no topo de seu brasão, com um navio a vapor abaixo. O lema que ele adotou foi "Labor Improbus Omnia Vincit": o trabalho árduo tudo vence.
O Barão de Mauá conseguia levantar capital em Londres em seu nome pessoal. Em 1860, obteve o apoio do barão Lionel de Rothschild, que adquiriu mil ações de sua "São Paulo Railway Company". Mas Carruthers aconselhou cautela. Em tempos de prosperidade, "os bancos são só sorrisos e empréstimos fáceis, mas não conte com o dinheiro deles nos momentos difíceis".

Mauá lutou contra a falência, na velhice. Mas pagou suas dívidas. Em 1889, seu corpo foi transportado de Petrópolis ao Rio pela ferrovia que ele construiu sobre a Serra do Mar. Sua vida é uma lição sobre o que um homem vindo de baixo pode realizar no Brasil. E sobre os riscos que ele corre.
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Addendum em 09/12/2013, a partir de comentário recebido neste post, já inserido, mas aqui tornado explícito, sob a forma de uma indicação de artigo publicado na Revista de Administração e Inovação (RAI):

PROCESSO DE INOVAÇÃO E O EMPREENDEDORISMO NO BRASIL: O CASO MAUÁ
DOI: 10.5585/rai.v6i1.313
Moacir Bispo Santos, Camila Papa Lopes, José Alberto Carvalho dos Santos Claro

Resumo

Este artigo apresenta um exemplo de empreendedorismo que alia conhecimento e inovação, ao relacionar a vida de Irineu Evangelista de Sousa (Barão de Mauá) com o tema do empreendedorismo, passando pelas leituras de McClelland, Schumpeter, Vries, Thimmmons, Say, Dornellas, Empretec pelo Sebrae, que tratam do comportamento empreendedor, e Caldeira, que aborda especificamente a história de Mauá, utilizando-se para tal a análise comparativa entre esses autores para mostrar a contribuição do Barão de Mauá para o desenvolvimento do Brasil, por meio dos negócios por ele estabelecidos no século XIX, identificando a capacidade administrativa e o pioneirismo no processo de industrialização brasileira. Questiona-se se o processo de inovação no Brasil deve sua história ao empreendedorismo a partir de pioneiros que alavancaram nossa economia e administração. Adotou-se o exemplo de Irineu Evangelista de Sousa, o empreendedor da inovação a partir de um estudo qualitativo descritivo, de forma a contextualizar a realidade do empreendedorismo no Brasil e de que forma foi consolidada sua estrutura. A pesquisa entre o que a literatura estabelece de comportamento empreendedor e a postura do Barão de Mauá mostra quais características são consideradas no empreendedor para definir a competência para o sucesso nos negócios, como um exemplo de que a inovação é perpetuada pelas características empreendedoras.

sábado, 10 de agosto de 2013

Historia empresarial no Brasil: Maua, Roberto Simonsen, Delmiro Gouveia e outros

Trajetória do Barão de Mauá é destaque em curso da FEA sobre Pioneirismo

Cacilda Luna
PioneirismoA trajetória de um dos mais importantes, se não o mais importante empreendedor brasileiro do século 19 - o Barão de Mauá - foi destaque no primeiro dia do curso de Difusão "Pioneirismo no Brasil e a Construção do Século XXI", realizado na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, promovido pela FEAUSP entre os dias 30 e 31 de julho.
Além da exibição do filme "Mauá - O imperador e o Rei" (1999), dirigido por Sérgio Rezende, a diretora do Museu Histórico Nacional (RJ), Dra. Vera Lúcia Bottrel Tostes, enfocou os 200 anos do nascimento de Mauá (1813-1889), um gaúcho que viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro e foi responsável por várias iniciativas que contribuíram para o desenvolvimento econômico do país como a construção da primeira ferrovia brasileira, a introdução do telégrafo e da iluminação a gás.
Coordenado pelo Prof. Jacques Marcovitch, o curso faz parte do projeto "Pioneiros & Empreendedores", cujo objetivo é resgatar e difundir a memória dos grandes empreendedores brasileiros. "Temos de lembrar que pioneirismo e utopia se acompanham. A utopia é aquela visão de futuro aparentemente inalcançável e são pioneiros os que ajudam a nos aproximar desses horizontes distantes", ressaltou Marcovitch durante a abertura, que teve a participação do secretário estadual da Cultura, Marcelo Araújo, da diretora do Departamento de Patrimônio Histórico, Nádia Somekh, representando o secretário municipal de Cultura Juca Ferreira, da pró-reitora de Cultura e Extensão da USP, Maria Arminda do Nascimento Arruda, e do chefe do Departamento de Administração da FEA, Adalberto Fischmann, representando o diretor da Faculdade, Reinaldo Guerreiro.
O curso teve início com uma discussão sobre a memória empresarial nas instituições preservacionistas. Em sua exposição, Vera Lúcia Tostes discorreu sobre a vida e as iniciativas empreendedoras de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, sob um viés museológico. A diretora do Museu Histórico Nacional analisou o fato de a memória empresarial não ter tido o devido espaço e destaque nas instituições preservacionistas brasileiras ao longo do tempo. Segundo ela, os museus do país seguiram por muito tempo o modelo dos museus da Europa, que após a Revolução Francesa passaram a coletar e expor objetos tão somente de personagens ligadas ao círculo de poder da época.
"Logo após a Revolução, os objetos que pertenciam àquela nobreza, especialmente aos governantes da época, foram recolhidos e foram organizados e expostos de maneira a mostrar à população como viviam aquelas pessoas. Era uma mostra didática com um fim eminentemente político", ressalta Vera Lúcia. Mas um lado positivo, segundo ela, é que a partir daí a França decide que aqueles objetos não seriam mais objetos particulares, mas sim pertencentes ao patrimônio nacional, criando-se um sentido de patrimônio nacional.
No caso do Brasil, alguns objetos relacionados ao Barão de Mauá foram preservados devido à sua proximidade com a corte. "Quando esses objetos chegaram aos museus, não havia interesse em valorizar o empreendedorismo ou as iniciativas de um homem que foi tão importante na história brasileira do século 19", destacou Vera Lúcia Tostes. No seu entendimento, a questão de ver o cidadão como empresário é uma visão moderna nos museus, que foi introduzida a partir da década de 80 do século passado.
O Museu Histórico Nacional, de acordo com Vera Lúcia, possui em seus acervos parte dos objetos de uso pessoal do Barão de Mauá, que foram doados por seus descendentes, entre eles uma caixa de charutos, uma escrivaninha e uma cuia de chimarrão. "Temos no Museu alguns objetos de uso pessoal, que chegaram ao Museu mais recentemente, quando se fez uma modernização no enfoque conceitual, histórico, das exposições, ali colocando Mauá como um empreendedor do século 19". 
Mauá e Pedro II: relacionamento difícil
Mas a curiosidade no acervo fica por conta de peças que revelam detalhes da vida do empresário, como seu conturbado relacionamento com o imperador Pedro II. É o caso do carrinho de mão e da pá de prata que foram usados no lançamento da pedra fundamental da estrada de ferro Mauá. "Mauá teve, na melhor das intenções, mais um ato que foi extremamente prejudicial a ele, que foi dar ao imperador o privilégio de jogar a primeira pá de terra naquela pedra fundamental. O imperador entendeu que o ato o diminuía perante a corte ali reunida", ressaltou Tostes. "A partir daí, claramente começou o corte e uma dificuldade muito grande para Mauá continuar com seus empreendimentos, no que dependesse da parte do governo, do imperador Pedro II".
Um objeto importante que ressalta o caráter empreendedor de Mauá e que se encontra no Museu Histórico Nacional é a caixa de madeira contendo cabos de telégrafo, com a qual ele presenteou o imperador. "Uma das iniciativas de Mauá foi trazer os cabos para o telégrafo que uniria o Brasil à Europa. Ele podia ter a intenção de se favorecer, porque dependia de uma comunicação mais rápida e eficiente com a Europa, mas ele estava lançando o Brasil no que tinha de mais moderno em termos de comunicação da época. Ele tinha a visão de que aquilo que serviria a ele serviria ao país", afirmou a diretora do Museu.
"Outro aspecto interessante que você acompanha nesses objetos é que Mauá, apesar de não ter uma formação de engenharia, de tecnologia da época, ele tinha essa curiosidade, se cercando de pessoas que pudessem o orientar de como proceder naquilo", completa Tostes.
O segundo dia do curso "Pioneirismo no Brasil e a Construção do Século XXI" retratou as iniciativas de grandes empreendedores paulistas como Julio Mesquita, Jorge Street, Francesco Matarazzo e Roberto Simonsen. Em 2014, o projeto enfocará os empreendedores da região Norte-Nordeste e, em 2015, do Sul-Sudeste.
02/08/2013

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terça-feira, 25 de junho de 2013

Maua: um empresario do Imperio (e um derrotado do Brasil) - homenagem da ACRJ

Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá (bem mais tarde), foi um visionário e uma pessoa absolutamente prática; tinha visão de futuro, mas também tinha senso pragmático. Queria fazer um Brasil desenvolvido, capitalista, liberal, democrático, mas foi derrotado pelas forças do atraso, do escravismo, da fatalidade agrária, do monopólio estatal (alguns dos quais, aliás, o beneficiaram, na exploração de várias atividades, mas assim funcionava o Estado desfuncional do Brasil).
Foi um derrotado, como muitos outros, como José Bonifácio, antes dele, como Joaquim Nabuco, pouco depois, como Monteiro Lobato, no século 20, como muitos outros reformadores sociais e paladinos da educação brasileira.
Eugênio Gudin, também, foi p vencedor intelectual do debate sobre mercado e intervencionismo estatal no Brasil, sobre liberalismo e protecionismo, mas foi derrotado na prática pelos que pretendiam um Estado empresário.
Deu no que deu.
Agora querem homenagear Mauá, justamente, legitimamente. Mas precisamos recordar que sua mensagem principal ainda não passou no Brasil. Ainda continuamos no Estado patrimonialista, prebendalista, intervencionista.
Até quando?
Minha proposta seria aprovada por Mauá: a de uma fronda empresarial.
Vai ser difícil.
Mas os derrotados tampouco deixam de pensar, de falar, de escrever e de pensar...
Paulo Roberto de Almeida

A Associação Comercial do Rio de Janeiro criou um site para destacar as comemorações do Bicentenário de Nascimento do Visconde de Mauá. No endereço www.maua200anos.com.br  há informações sobre a programação de eventos, matérias, vídeos, fotos etc. O objetivo é destacar a importância de Irineu Evangelista de Souza para o país.