Transcrevo do Arthur Virgilio Neto, a quem abraço afetuosamente, com meu mais profundo sentimento de solidariedade na dor:
“Acordei, hoje, bem cedo e não podia telefonar para o meu filho, Arthur Virgílio Bisneto. Afinal, ele está morto.
Ele não pode marcar uma conversa comigo, pela forte razão de estar morto.
Não posso mais conversar com ele, porque, todos sabem, ele faleceu.
Não podemos mais discutir política, porque ele não está mais entre nós.
Não podemos ver jogos do Flamengo e da Seleção, juntos, porque, ao fim e ao cabo, ele viajou, nas mãos de um destino áspero para um lugar bem distante.
Não podemos nem discordar um do outro, coisa que, volta e meia ocorria, porque ele não tem como vir à minha casa e nem posso ir à dele, porque eu não posso chegar perto do Bisneto e nem ele pode se aproximar do Arthur, pai!
Eu queria beija-lo hoje, agora, muito, mil vezes, porém não tenho a menor possibilidade de fazer isso. É bem explicável: meu filho morreu, seu corpo imponente está embaixo da terra, ao lado de sua avó, Isabel Victória, do senador Arthur Virgílio Filho, de sua avó Luíza e do seu avô, desembargador Arthur Virgílio.
Sua alma e seu espírito, estão voando, na direção do mundo espiritual. Longe, muito distante, do beijo que queria lhe dar, do seu belo sorriso, que eu queria acolher.
Queria fazê-lo nascer de novo, mas sei que isso é impossível de acontecer!
Perdi meu filhão, companheiro de luta, confidente, tão apaixonado por mim, quanto eu por ele.
Estou em pedaços e desfalcado de metade do meu coração, que encontrou um lugarzinho no caixão que enterrou meu Arthurzinho.
Saudades insuportáveis, “Turuca”. Só penso em você!
Quase não durmo…e, logo que acordo, penso que sua morte é uma mentira de péssimo gosto.
Logo a seguir, lembro que vocé morreu, faleceu, partiu, seja lá o nome que queiram dar a essa punição que o destino aplicou em nossa família…e em mim!
Paz para sua alma, filhão, porque a minha está em maremoto, tsunami, tumulto torturante. E você não pode me ajudar,como fez tantas vezes.
Sinto-me impotente para fazer você retornar da viagem, que dizem ser a última e voltar para sua aflita mãe, para sua irmãos, para seus amigos e amigas…para mim.
Não se preocupe, porque sou um guerreiro, gravemente ferido, que mergulhará em suas águas mais profundas e haverá de emergir, como você sempre gostou de me ver: de escudo e lança nas mãos.
Hoje, confesso, esqueço tudo, nada me interessa, o sorriso é raríssimo. Hoje, sinceramente, não sou nada. Nada mesmo!
Até breve, meu xará amado!”