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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Cambio no Brasil: cambio?; Brasil?? Muito confuso, diz Financial Times

Eu também nao entendo o que quer, o que diz, o que pretende, para onde vai o ministro Mantega e seus passos erráticos na política economica em geral e na politica cambial em particular.
Mas, quem se importa com isso?
Acho, contudo, que o Ministro Mantega nao vai dar entrevista exclusiva para a Samantha Pearson: ela pega muito no pé dele. Com razao...
Interessante ver os comentários dos leitores a esta matéria do Estadao.
Paulo Roberto de Almeida
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Tentar entender o que Mantega quer no câmbio é exaustivo, diz FT

Segundo a publicação, há 3 razões para as mensagens contraditórias do governo. Uma delas: ‘Eles não têm ideia do que estão fazendo’.

31 de janeiro de 2013 | 11h 28
Fernando Nakagawa, correspondente da Agência Estado

LONDRES - Tentar entender o que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, quer pode ser "exaustivo", segundo o jornal Financial Times. Em texto publicado no blog sobre mercados emergentes, o BeyondBrics, a publicação diz que esse problema é ainda maior no tema preferido do ministro brasileiro: a chamada "guerra cambial". A reportagem sugere, inclusive, que o recente sobe-e-desce do dólar pode indicar, entre outras coisas, que o governo "não tem ideia do que está fazendo".
O texto cita algumas passagens recentes em que o governo demonstrou desejos distintos sobre o rumo das cotações de câmbio. Até alguns dias atrás, diz o texto, o real seguia relativamente enfraquecido depois de o ministro declarar diversas vezes que o governo estava pronto para corrigir qualquer movimento excessivo na moeda e que um real mais fraco seria favorável à indústria brasileira.
Apesar dessa sinalização de que o governo olhava com simpatia um real fraco, Mantega disse, lembra o texto, que o real permaneceria flutuante "desde que dentro de uma banda apropriada". "Um comentário quase tão sem sentido como a promessa recente do Banco Central de que a inflação convergiria de uma forma não-linear com a meta", diz o texto do FT.
Mas o mesmo governo brasileiro permitiu, afirma o texto, com uma estratégia liderada pelo BC que o real se fortalecesse nos últimos dias abaixo de R$ 2 pela primeira vez desde julho. Após esse sobe-e-desce, diz o blog, o mercado ficou "completamente confuso".
Para a repórter Samantha Pearson, do escritório do FT em São Paulo, "há três explicações possíveis" para as mensagens que parecem contraditórias. A primeira é que o governo brasileiro "quer uma valorização gradual do real para conter a inflação e os avisos de Mantega foram destinados a moderar os movimentos" da moeda norte-americana. A segunda opção é que a equipe econômica pode ter avaliado que o real está "no nível certo" e, então, passaram a ser emitidos sinais contraditórios para "estabilizar a moeda".
Há, porém, uma terceira opção. "Eles não têm ideia do que estão fazendo".
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 Matéria original do Beyond Brics, Blog do Financial Times:
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Confused about Brazil’s currency war? So are we

Guido Mantega, Brazilian finance ministerTrying to understand what Guido Mantega is up to can be exhausting, especially when it comes to his favourite topic: currency wars.
The real weakened early on Wednesday after Brazil’s finance minister warned the government was ready to correct any excessive moves in the exchange rate, adding that a weaker currency makes domestic industry more competitive.
Mantega added that the currency would remain free-floating as long as it stayed within an appropriate band – a comment almost as nonsensical as the central bank’s recent promise that inflation would “converge in a non-linear way” with the target.
But then the real trimmed those losses later on Wednesday after the central bank sold dollars with an agreement to repurchase them in two months, rolling over a line worth more than $1bn before it expires this week.
On Tuesday, the central bank allowed the real to strengthen beyond the 2 per dollar level for the first time since July as concerns grow that the weaker currency is making imports more expensive for industry and adding to the country’s inflation problems.
In the end, the real closed Wednesday’s session more or less flat and traders went home thoroughly confused.
It seems there are three possible explanations behind the authorities’ mixed messages:
1. They want a gradual appreciation of the real to curb inflation and Mantega’s warning was intended to moderate any sharp moves on the back of the central bank’s intervention
2. They have decided the real is at the right level and are sending out contradictory signals to stabilise the currency
3. They have no idea what they’re doing.
This from analysts at Bulltick:
Throughout 2012, the authorities had displayed their willingness to defend the BRL against aggressive appreciation pressures via various intervention schemes and capital controls. Then, in mid-December of last year, Brazil reversed some of the capital controls, in an effort to shore up the BRL, which has massively underperformed. The BCB increased the minimum amount on short dollar positions required by local banks to hold (60% reserve requirement). Then the BCB rolled over all maturing (Jan 2013) USD swap positions and the BCB sounded more hawkish (in the latest minutes). However all this may be more of a head-fake or worse, indicative of lack of clear direction on FX/inflation policy, part of reactive policy that has been the pattern over the past year. We think the government will return to a weak(er) BRL policy to prop up growth with the BRL trading on average this year within a range of 1.95-2.0/USD.
Related reading:
Brazil’s currency warriors swap sides, beyondbrics
Brazil drops a capital control, beyondbrics
Brazil: A different kind of currency warrior, beyondbrics
Downturn shakes Brazil from its dream, FT.com

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Dólar câmbio (#dolarcambio)

2136 comentários
pcmarq
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Concordo com o FT. A política econômica atual do governo parece quadrilha de festa junina. "olha a cobra!" ai fazem algo "a ponte caiu" ai fazem outra. Não tem planejamento e isso obviamente pressupõe uma estratégia. O governo faz os doze trabalhos de Hércules (impõe goela abaixo mudanças no setor energetico, usa os bancos publico para baixar spread sem olhar a inadimplencia crescente, usa a Petrobras para segurar a inflação etc. Mas não faz a única coisa que precisa. As famosas reformas estruturais. Pode chegar o cambio a 3,00 e o juro a 0,5%. O Brasil não cresce mais do que isso, sem baixar o custo de produção e dar uma segurança ao empresário.
fabionog
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Nunca ninguém entendeu o Mantega aqui mesmo no Brasil. Não surpreende que alguém de fora também não o entenda.\

domingo, 8 de julho de 2012

Plano Real: 18 anos, a despeito dos entraves - Pedro Malan

Tive a oportunidade de ler, hoje mesmo, artigo que o atual ministro da Fazenda, então simples militante partidário, escreveu sobre o Plano Real,  em julho de 1994, publicado na página de Opinião da Folha de S.Paulo.
Quem estiver interessado em conhecer o imenso leque de bobagens afirmadas por ele, pode consultar este link: 


A comparação com o artigo abaixo do ex-ministro da Fazenda, que foi o responsável pela montagem do Plano Real, quando era presidente do Banco Central, nos faz corar de vergonha, pelo atual ministro da Fazenda. Não pelo que ele disse na época, pois isso pode ser debitado à conta do fundamentalismo político e da desonestidade intelectual. Mas pelo que ele está fazendo hoje, de concreto, na economia brasileira.

Desde a saída de Palocci, estamos assistindo à lenta e decidida erosão dos três pilares da política econômica instalada em 1999: desprezo pelas metas de inflação; abandono prático da flutuação suja por um sistema de bandas situadas ao redor de R$2/US$1; e comprometimento progressivo das metas fiscais, pelo descuido com o superávit primário e maquiagem das contas do Tesouro.
Infelizmente, todos pagaremos por isso, sob a forma de inflação persistente, mais deterioração das contas públicas e um menor crescimento econômico, ademais do comprometimento da inserção global, com o protecionismo tosco que vem sendo implantado, um atraso de pelo menos meio século em nosso itinerário econômico. 
O Brasil se atrasa, certamente, mas nas mãos dos companheiros, ele se atrasa muito mais mentalmente do que materialmente.
Paulo Roberto de Almeida

A maioridade do Real e os próximos 18 anos

Pedro Sampaio Malan

O Estado de S.Paulo, 8/07/2012

Há exatamente uma semana o Real completou os primeiros 18 anos do que espero seja a longa vida de uma moeda que veio para ficar como um dos símbolos do avanço institucional do País. Os brasileiros que tinham 18 anos em 1994 - e, portanto, todos os que estão hoje na faixa dos 36-40 anos - provavelmente não têm nenhuma lembrança pessoal significativa, isto é, vivida, da marcha da insensatez que foi a evolução do processo inflacionário no Brasil pré-Real.
Vale lembrar: no meio século que vai de meados dos anos 40 a meados dos anos 90, o Brasil só teve três anos de inflação inferior a 10% (nos anos 40). Entre 1950 e 1980 a taxa média de inflação foi da ordem de 25%-30% ao ano. Do início dos anos 80 (quando chegou a 100%) até o Real, a taxa média anual foi superior a 600%, passando dos 1.000% em 1989 e chegando a quase 2.500% em 1993. Na literatura econômica há uma palavra para isso: hiperinflação.
Ainda era muito precária, à época, a percepção, que hoje felizmente existe, de que a inflação é um imposto. E o mais injusto de todos, porque incide principalmente sobre os mais pobres. Não é por acaso que os indicadores de concentração de renda e riqueza no Brasil nas últimas décadas - sejam os índices de Gini, sejam as parcelas de renda apropriadas pelo 1% mais rico e pelos 20% mais pobres - mostram que os piores anos de desigualdade na concentração de renda no Brasil foram ao final dos anos 80 e início dos anos 90.
O povo brasileiro entendeu, muito rapidamente, que o controle da inflação propiciado pelo Real era algo que redundava em seu benefício. E hoje a inflação baixa é vista como um objetivo da sociedade e como obrigação de qualquer governo minimamente responsável. Não é um fim em si mesmo, como sempre afirmamos, mas uma condição indispensável para que outros objetivos econômicos e sociais possam ser alcançados. Afinal, com inflação alta, crônica e crescente não há possibilidade alguma de verdadeira inclusão social, tampouco de crescimento sustentado.
O que quero dizer com isso? Que a importância e o significado do Real, que ora atinge sua maioridade, transcende de muito a derrota da hiperinflação em 1994. E que a agenda do Brasil pós-hiperinflação se confundia com a própria agenda do desenvolvimento econômico e social do País, que pôde, sem a zoeira da inflação, começar a alargar seus horizontes e procurar tornar-se um país mais normal, mais previsível, mais confiável, mais competitivo. Um país talvez capaz de crescer de forma sustentada, com inflação sob controle, com maior justiça social, menos pobreza, com as finanças públicas em ordem, infraestrutura decente, melhor educação e maior eficiência nos setores público e privado.
Como sabemos, 18 anos são pouco para a magnitude dessa empreitada. Mas o Brasil não começou com o Real e já havia avançado muito em períodos anteriores, apesar de aparências em contrário. Agora é preciso contemplar os próximos 18 anos. Afinal, 2030 está logo ali adiante, quando os que chegaram à sua maioridade com o Real - como meu filho mais moço - terão dobrada sua idade.
Quem viver até lá acompanhará as tentativas do governo atual, e os labores dos governos que se lhe seguirão, de lidar com as urgências constantemente postas e repostas pelo sempre fugidio "momento presente" - que exigem respostas no curto prazo da parte dos responsáveis por políticas públicas. Respostas que serão tão mais adequadas quanto mais levem em conta objetivos de longo prazo: políticas de Estado, e não apenas do governo de turno; para a próxima geração, e não somente para a próxima eleição.
Como procurou fazer o governo FHC, nessa área de respostas a problemas que precisavam ser encarados com firmeza - e o foram. Exemplos: a resolução de problemas de liquidez e solvência no sistema bancário nacional, privado e público; a reestruturação das dívidas de Estados e municípios então insolventes do ponto de vista fiscal e desde então sem problemas mais sérios nessa área; a Lei de Responsabilidade Fiscal, de maio de 2000, marco de mudança histórica nas finanças públicas brasileiras; o reconhecimento de que as necessidades de investimentos do País (não do governo) superavam de muito a capacidade do setor público e de suas empresas, exigindo mudanças, até mesmo constitucionais, que abrissem espaço ao investimento privado, doméstico e internacional.
É verdade que o ex-presidente Lula nunca reconheceu de público o quanto seu governo se beneficiou desses avanços. Ao contrario, preferiu caracterizá-los como herança maldita, algo que não  engrandece. Mas não importa, a presidente Dilma fez tal reconhecimento de público de maneira muito explícita em mais de uma ocasião, desde seu relevante discurso de posse. Como antes haviam feito importantes ministros de Lula, como Antônio Palocci e Paulo Bernardo.
A propósito, é importante reconhecer que o governo Dilma, à diferença de seu antecessor, que nem sequer tentou (ou porque não quis, ou porque não pôde, ou talvez porque o extraordinário vento a favor que pegou da economia mundial lhe permitiu evitar incorrer em custos políticos domésticos), está procurando enfrentar certas "urgências do gradualismo", para as quais deveria ter apoio de quem pensa no longo prazo, como a mudança do insustentável regime de previdência do setor público e as "inexoráveis" concessões ao setor privado em áreas de infraestrutura, por exemplo. Para não falar nas necessárias resistências do Executivo às insaciáveis demandas de sua vastíssima "base de apoio" por contínua expansão dos gastos públicos no curto, no médio e no longo prazos.
Debates desse tipo são fundamentais quando se olha à frente. Afinal, teremos nada menos que cinco eleições presidenciais nos próximos 18 anos.
PEDRO S. MALAN, ECONOMISTA, FOI MINISTRO DA FAZENDA NO GOVERNO FHC. E-MAIL: MALAN@ESTADAO.COM.BR 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Republica Mafiosa do Brasil?

Retire-se o ponto de interrogação...

‘A cara do Brasil’, de J.R. Guzzo

J.R. Guzzo
Revista Veja, 15/02/2012
A cena, registrada com fotos na semana passada em Brasília, poderia servir como um belo documento sobre os usos e costumes da vida política brasileira neste começo de século. Na área central do retrato, a presidente da República, Dilma Rousseff, afaga com a mão direita o rosto do ministro das Cidades, Mário Negromonte, no exato momento em que ele estava virando ex-ministro das Cidades. Um sorriso de beato ilumina o seu semblante ─ como se ele estivesse tomando posse no cargo, em vez de estar sendo demitido. O novo titular, deputado Aguinaldo Ribeiro, também em estado de graça, aguarda a sua vez de receber a bênção presidencial. Entre os grão-duques da política nordestina presentes à cerimônia, na qualidade de donos hereditários do atual Ministério das Cidades ─ Negromonte é da Bahia, Ribeiro vem da Paraíba, e ambos são do mesmo partido, o PP ─, dá para ver o senador José Sarney, vice-rei do Nordeste e do governo em geral, deslizando quietamente no cenário.
Deveria ser um momento de drama. Afinal, mais um ministro de estado, o sétimo em seguida deste governo, acabava de ser posto na rua por atolar-se em indícios de má conduta, e alguém com ficha limpíssima estaria vindo para consertar o desastre. Mas o que se podia ver, nesta fotografia do Brasil-2012, era uma comemoração. Em alegre harmonia, a presidente e seus parceiros pareciam estar dando o seguinte recado: “Atenção, respeitável público: garantimos que por aqui continua tudo igual”. Continua igual, em primeiro lugar, o que já se pode chamar de “sistema brasileiro” de mexer no ministério. Quando um ministro atinge uma cota crítica de “malfeitos” em sua área e precisa ser demitido, porque se tornou impossível, inútil ou simplesmente cansativo segurá-lo no emprego, é obrigatório nomear para seu lugar alguém que seja uma fotocópia dele ─ mesmo partido, mesma região, mesmo estilo e mesma folha corrida. Há uma salva de palmas para o ministro que sai, outra para o que entra e todo mundo fica aliviado, porque não há perigo de mudar nada. Continua igual, acima de tudo, a privatização do estado brasileiro, com áreas inteiras da máquina pública transformadas em propriedade particular de partidos e de políticos que apoiam o governo, mais suas famílias, amigos e redondezas. É a cara do Brasil de hoje.
O ex-ministro Negromonte, como os companheiros de infortúnio que o antecederam, viveu nas últimas semanas um processo de torrefação acelerada, por conta de suspeitas cada vez mais feias e cada vez menos explicadas; também como os outros, começou “blindado” e acabou virando farinha de rosca. Para seu lugar, privatizado pelo governo em favor do PP, foi nomeado praticamente um sósia. O homem já vem carimbado na frente e no verso. Está envolvido no tráfego de dinheiro público, por via de “emendas parlamentares”, em favor da mãe, prefeita de uma cidade da Paraíba, e da irmã, deputada estadual e possível candidata à prefeitura de outra. Não declarou à Justiça eleitoral nas últimas eleições, como era obrigado a fazer, a propriedade de quatro empresas. Tem duas emissoras de rádio, sempre na Paraíba, registradas em nome de pessoas ligadas a ele ─ um assessor e um ex-contador. Emprega em seu gabinete de deputado um primo que não bate ponto em Brasília; ele mora na Paraíba, onde, aliás, é dono de uma construtora. (O novo ministro acha que não há nada de mais nisso: segundo explicou, primo é parente “de quarto grau”.)

Num país com 190 milhões de habitantes, a presidente Dilma Rousseff não encontrou ninguém melhor que esse deputado Aguinaldo para o seu Ministério das Cidades; no Brasil de hoje, ao que parece, uma ficha como a sua é recomendação, e não problema, para nomear um ministro de estado. É triste, mas o que se há de fazer? O cargo pertence ao PP, e foi ele que o PP escolheu. Pior ainda é a história da Casa da Moeda, a mais recente na coleção de verão do governo; não deu nem para fingir, aí, que existe algum tipo de autoridade pública na repartição que fabrica todo o dinheiro do país. Seu presidente, Luiz Felipe Denucci, foi subitamente para o espaço, ao se descobrir a movimentação de 25 milhões de dólares em contas de empresas que ele mantinha em paraísos fiscais. O que esse cidadão estava fazendo lá? Ninguém sabe. O cargo é do PTB; o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que nunca tinha falado com ele, nem sequer visto sua cara, antes de assinar sua nomeação para presidir a Casa da Moeda ─ um caso único no mundo, sem dúvida.
Estamos, de fato, em plena privatização.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Mantega: os impostos nao sao altos no Brasil (sic, sic, sic...)

IstoÉ Dinheiro
Nº EDIÇÃO: 748 | Capa | 03.FEV.12 - 21:00 | Atualizado em 14.02 - 10:47

O plano de Mantega para garantir o crescimento

O ministro da Fazenda conta à DINHEIRO como pretende proteger a economia brasileira e assegurar um aumento de 4,5% do PIB em 2012, ano em que as incertezas ainda dominam o cenário mundial.

Por Denize BACOCCINA, Carla JIMENEZ e Guilherme BARROS

Exclusivo: Clique e confira a entrevista de Guilherme Barros com o ministro da Fazenda, Guido Mantega


Nem mesmo a pane no jato que o levaria de volta a Brasília, na manhã da terça-feira 31, foi capaz de abalar o bom humor de Guido Mantega. Ao final de uma longa conversa com a DINHEIRO na Base Aérea de Congonhas, em São Paulo, o ministro da Fazenda olhou para a parafernália eletrônica da reportagem sobre a mesa à sua frente e brincou: “Cuidado para não levar o meu iPad por engano. Aqui tem segredos de Estado”. Um dos segredos mais bem guardados no tablet do ministro é a natureza dos cortes que o governo irá fazer no Orçamento de 2012 para garantir o equilíbrio das contas públicas. A decisão, que tomou boa parte do seu tempo na semana passada, é essencial para garantir a relativa tranquilidade com que o Brasil tem atravessado a crise dos países ricos. 
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Guido Mantega: "2012 será o ano do investimento. Queremos que o setor privado seja protagonista"
Ele não comenta as estimativas de analistas que apontam para uma redução de até R$ 60 bilhões nas despesas da União. Mas ressalta que não abre mão de manter o superávit primário (economia para pagar juros) em 3,1% do PIB, uma das principais armas em seu plano de voo para proteger o País das turbulências externas. Nesse ponto, nada muda na política econômica. “O Brasil faz superávit primário há 12 anos consecutivos”, afirma. “É uma situação consolidada. Nunca fomos tão respeitados.” Mas Mantega quer ir além e fortalecer ainda mais a economia neste ano. A ordem da presidenta Dilma Rousseff, que Mantega seguirá à risca, é garantir o crescimento do PIB entre 4% e 5% neste segundo ano de mandato. Em 2011, a soma das riquezas produzidas no País aumentou 3%. 
Isso depois de atingir 7,5% em 2010. Acertar o passo em torno de 4,5% é uma meta ousada, num momento em que a Europa enfrenta a perspectiva de recessão, os Estados Unidos tendem a andar de lado e a Ásia, especialmente a China, deverá desacelerar, segundo as previsões da maioria dos economistas do mercado financeiro. Mesmo com a crise lá fora, Mantega acredita que o Brasil conseguirá evitar a contaminação e tem os instrumentos para ditar a velocidade do crescimento da atividade econômica. “Não há uma blindagem, porque a economia mundial é toda interconectada”, diz ele. “Mas nós temos um domínio maior do ritmo de crescimento que queremos imprimir. Nós ganhamos essa autonomia.” A fórmula dessa calibragem é continuar a redução dos juros para um dígito, de um lado, e acelerar os investimentos, de outro. 
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Canteiro de obras: usina de Santo Antônio, prédios do "Minha casa minha vida"
e refinaria da Petrobras: projetos do PAC são prioridade do governo neste ano.
O Banco Central reduziu a taxa básica Selic em mais meio ponto percentual em janeiro, para 10,5% ao ano, e deve promover novos cortes nos próximos meses. E a Fazenda deve coordenar as medidas para estimular os investimentos públicos e privados. “2012 será o ano do investimento”, afirma Mantega. Nos últimos três anos, o estímulo ao consumo e o fortalecimento do mercado interno foram vitais para o Brasil driblar os efeitos da crise internacional. O País incluiu 50 milhões de pessoas no mercado consumidor e, em dezembro passado, o desemprego já havia caído para 4,7%, a menor taxa da história. Agora, o governo aposta no investimento como o motor do desenvolvimento. São os recursos produtivos, tanto públicos quanto privados, que vão modernizar a infraestrutura e preparar o parque industrial para o crescimento dos próximos anos. 
Projetos de logística, energia e habitação encabeçam a lista de prioridades desse pacote de crescimento, que inclui as obras do PAC e medidas de desoneração tributária (veja mais detalhes nos quadros). Na semana passada, a agenda de Mantega começou com uma reunião em São Paulo – onde mora a família e ele tem despachado às segundas e sexta-feiras. Na tarde da segunda-feira, ele reuniu-se com representantes da Caixa, do Banco do Brasil e de construtoras para pedir o empenho de todo o setor para acelerar a construção das unidades do programa habitacional “Minha Casa Minha Vida”. O setor de construção civil é um dos que mais cresceram nos últimos anos, mas o governo acha que as obras do programa que pretende construir e entregar 2,5 milhões de residências até 2014 podem andar mais depressa. 
No esforço para distanciar o Brasil da crise que já reduziu as exportações para a Europa, os dias do ministro da Fazenda têm sido divididos entre medidas para estimular a economia brasileira, proteger as empresas nacionais da concorrência dos importados e cortar as despesas. Na primeira tarefa, a parceria é com o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. No difícil trabalho de cortar gastos, a parceira é a ministra do Planejamento, Miriam Belchior – que na quarta-feira 1º deixou Brasília para fazer exames em São Paulo por causa de uma crise de hipertensão. O governo tem até o dia 17 de fevereiro para apresentar os números. Até lá, as equipes de Mantega, Pimentel e Miriam Belchior negociam incentivos e cortes. Mantega já decidiu que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) terá um novo aporte do Tesouro, mas o volume será menor do que o do ano passado, de R$ 45 bilhões. 
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O BNDES é fundamental na estratégia de crescer 4,5% em 2012. O banco foi um dos grandes financiadores de fusões entre empresas, como a BRFoods, na política de criação de “campeões nacionais” do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, vai privilegiar os financiamentos para melhorar a infraestrutura do País, uma das condições básicas para se garantir um crescimento sustentado. No ano passado, esses financiamentos representaram 40% dos desembolsos de R$ 139,7 bilhões. Somente os projetos de energia elétrica e logística (as grandes obras de transportes) somaram R$ 18,7 bilhões, num total de 155 empreendimentos. Para este ano, o diretor da área, Roberto Zurli Machado, prevê que o segmento terá financiamentos de R$ 23,4 bilhões e uma fatia maior do bolo, que não deve crescer. 
A novidade é que o BNDES quer entrar também como sócio nas obras de infraestrutura, e não apenas como financiador. “Os projetos precisam de financiamento e de capital também. Por isso vamos entrar mais nisso, olhando as necessidades de cada projeto”, afirmou Machado. Projetos não faltam. O que faltou, nos últimos anos, foi mais velocidade para tirá-los do papel. No ano passado, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) só conseguiu gastar R$ 28 bilhões. Neste ano, o governo garante que vai executar todo o orçamento, superior a R$ 40 bilhões. São obras importantes, como novas usinas hidrelétricas, rodovias, ferrovias, projetos de saneamento básico, portos e aeroportos. Em todos esses setores, a parceria com o setor privado é fundamental. 
Nos planos do governo, os investimentos privados devem chegar a 17% do PIB, enquanto os do setor público, incluindo as estatais, aumentariam de 2,8% do PIB em 2011 para algo entre 3% e 3,5% em 2012. É o bom e velho desenvolvimentismo, mas com uma ênfase diferente na participação dos agentes econômicos. “No passado era só o Estado que investia, e o setor privado era um coadjuvante”, diz o ministro. “Agora nós queremos que o setor privado seja o protagonista.” Há muito espaço a ser ocupado pelos empresários. Um levantamento do economista Carlos Campos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que a maioria das obras do PAC realizadas no ano passado estava apoiada em três frentes: os projetos patrocinados pela Petrobras, pela Caixa (para financiar os mutuários do “Minha Casa Minha Vida”) e pelo do BNDES. 
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O setor privado participou com 18% dos recursos necessários para o PAC, mas também com grande suporte do BNDES. Para alterar esse quadro, o governo vem estimulando, desde o fim de 2010, a criação de instrumentos financeiros que garantam o crédito ao setor de infraestrutura. “Os bancos privados já levantaram R$ 150 bilhões em letras financeiras e estão se preparando para financiar projetos de infraestrutura”, diz Mantega. Apetite para entrar no jogo não falta ao setor, garante Silvania Del Barrio, superintendente de Project Finance do Itaú BBA. Que venham as grandes obras. “Ainda não estamos vendo o número de projetos que gostaríamos de ver”, diz Silvania. Alguns fatores explicam esse desencontro entre oferta e demanda de recursos. 
E um deles é a falta de cultura do País de investir em empreendimentos de longo prazo, como os de infraestrutura. “O governo pode dar o norte, mas quem dá o ritmo dos negócios são as agências reguladoras”, diz Robertson Emerenciano, advogado especializado em infraestrutura. Licenças ambientais e autorizações de uso de solo ou de espaço dependem de uma coordenação nos órgãos públicos, que ainda está se acomodando na economia brasileira. “É preciso destravar a burocracia para emitir licenças ambientais”, diz Wagner Cardoso, secretário-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Para liberar autorizações, pedem até a foto do Pelé”, dramatiza. Muitos projetos dependem, ainda, de concessões, ou marcos regulatórios que estão em fase de ajuste, como no caso de saneamento básico ou do setor ferroviário. 
“Entrar no setor de ferrovias ainda é difícil, pois os projetos têm maturação de 30 anos. Mas o mercado quer retorno de dez anos”, diz Renato Mazzola, diretor da divisão de Investimentos em Infraestrutura do BTG Pactual. Se por um lado a carência brasileira desanima, ela é também sinônimo de oportunidades de negócios para quem busca alternativas de lucro, principalmente quando a economia global está patinando. Mazzola conta que já conversou com 160 investidores estrangeiros, interessados em projetos na área. “Se compararmos o Brasil com os demais Brics, ainda somos a Suíça em termos de regulação”, afirma o executivo. Um bom termômetro da atração pelo País será o leilão dos primeiros aeroportos, que acontece na segunda-feira 6. Onze consórcios disputam o controle dos terminais de Guarulhos e Viracopos, em São Paulo, e o aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília. 
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“Teremos um ágio interessante para o governo, que tornará as próximas rodadas de concessão ainda mais atraentes”, diz Renato Mazzola. O BNDES também vai financiar parte dos investimentos – até 80% do que for gasto no Brasil. Mas o plano do ministro Mantega não é apenas de investimentos em obras de infraestrutura. Ele lembra que as montadoras de veículos instaladas no País vão investir U$S 20 bilhões na ampliação de suas atividades até 2014. “Graças aos cuidados que nós tomamos, senão eles iriam investir em outro lugar”, afirmou o ministro. No dia 15 de dezembro do ano passado, o governo aumentou em 30 pontos percentuais o IPI sobre carros importados. Embora polêmica, a medida foi celebrada por outros segmentos da economia, que compõem a cadeia de fornecedores do setor automobilístico. 
“Se querem vender aos brasileiros, então que venham produzir aqui”, diz Carlos Fadigas, presidente da petroquímica Braskem. Fadigas acredita que a boa fase da economia brasileira deve ser aproveitada internamente, principalmente depois do crescimento de apenas 0,3% no setor industrial em 2011. “É legítimo investir numa cadeia nacional de veículos, assim como numa rede de fornecedores locais da Petrobras”, diz ele. As decisões de investimento da Braskem também levaram em conta essas prioridades do governo. Com US$ 5 bilhões em caixa para os projetos dos próximos cinco anos, a petroquímica deve inaugurar, em 2012, duas fábricas, uma de PVC, em Alagoas, e outras de intermediário de borracha (butadieno), no Rio Grande do Sul – esta última visa a atender ao crescimento do mercado automotivo brasileiro. A empresa de logística Ceva também se beneficia da expansão da indústria automotiva e já prevê crescimento de dois dígitos em 2012, ancorado, em parte, na expansão das plantas da Ford e da Volkswagen, no Nordeste. 
“Vamos fazer o maior investimento dos últimos três anos em gestão de pessoas”, diz Caio Najm, diretor-geral da Ceva, que pretende ampliar em 10% o quadro de funcionários para atender à demanda. O economista-chefe do Banco Bradesco, Octávio de Barros, observa que, na prática, o ciclo de investimentos privados no País nunca foi de fato interrompido desde 2005. “O cenário global adverso apenas gerou uma recalibragem dos projetos de investimento, mas eles não foram abandonados”, diz Barros, que acredita na recuperação do setor industrial este ano, apesar da sobreoferta dos produtos manufaturados no mundo. Para ele, a meta de crescer 4,5% não é impossível, pois o “fundo do poço” da desaceleração da economia ficou em outubro. A pesquisa do Banco Central com economistas de bancos e consultorias mostra que o mercado prevê um crescimento de 3,27% para este ano. 
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A meta de crescimento do governo também parece factível para o presidente da DHL Express Brasil, Joakim Thrane. “Mas não devemos olhar o mercado doméstico como único foco”, diz Thrane. “É preciso trabalhar uma estratégia de comércio exterior mais aberta e agressiva.” O ministro Guido Mantega lembra que o País conseguiu diversificar os destinos de suas exportações, o que reduziu a dependência da Europa, por exemplo. Com o dólar desvalorizado, no entanto, o problema ganhou força. Em janeiro, a balança comercial teve um déficit de US$ 1,29 bilhão, o maior para um mês de janeiro. Por isso, o governo quer tomar providências para proteger o mercado brasileiro. Uma das medidas em análise é uma salvaguarda temporária que vai instituir a cobrança do imposto de importação de produtos têxteis por peça e não por valor, e pode impedir a entrada de mercadorias subfaturadas. 
O governo também quer romper o acordo automotivo com o México, por causa do déficit comercial neste setor e de suspeitas de que peças e partes que entram como mexicanas sejam na verdade produzidas em outros países. Apesar das reclamações da indústria, o nível de utilização da capacidade instalada aumentou para 83,7% em janeiro, próximo ao patamar histórico de 84,1% de julho do ano passado. Neste cenário de plena utilização da indústria, são muito bem-vindos novos investimentos no aumento da capacidade produtiva da indústria brasileira, para que o governo não seja obrigado a esfriar de novo a economia quando ela voltar a aquecer. Se o plano de Mantega der certo, quem sabe seu próximo iPad será fabricado no Brasil.
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“O Brasil será um caso à parte em 2012”
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, fala sobre as medidas que o governo já adotou para garantir o crescimento de 4,5% na economia neste ano e destaca a importância do setor privado para aumentar o volume de investimentos no País. Confira os principais trechos da entrevista:
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Como o sr. pretende blindar a economia brasileira da crise global?
Não há uma blindagem, mas estamos protegendo a economia brasileira. No passado, ela foi muito dependente dos Estados Unidos e da Europa, mas diversificamos muito os parceiros comerciais. Hoje, dependemos muito mais do mercado interno. Enquanto a Europa vai ficar próxima da recessão, os Estados Unidos vão crescer no máximo 2% e a Ásia vai desacelerar, nós vamos crescer mais do que no ano passado. Estou prevendo 4,5%. Seremos um caso à parte. No ano passado, queríamos desacelerar, porque havia um fenômeno mundial de inflação que poderia contagiar o Brasil. Fizemos política monetária e fiscal restritivas. Neste ano, revertemos essas medidas, soltamos o crédito, baixamos o IOF e reduzimos o IPI para alguns produtos.
O nível de tributação no Brasil ainda é muito elevado. Não está na hora de uma mudança? O turista brasileiro que vai para Miami paga um décimo do valor cobrado aqui nos produtos que compra.
Não acho que a carga tributária seja elevada. Ela tem caído. O que aconteceu é que as empresas estão pagando mais Imposto de Renda porque tanto a formalização quanto a fiscalização da Receita aumentaram. Quem já pagava, agora paga menos. O investidor e o empresário estão pagando menos. Há menos IPI, menos PIS/Cofins, para alguns setores. Reduzimos o prazo de depreciação dos equipamentos. Também reduzimos a apropriação do prazo do PIS/Cofins. Temos desonerado bastante.
Qual é o efeito cambial?
A desvalorização do dólar é de mais de 50%. Então, lá fora tudo fica mais barato. Há um desespero dos produtores. O pavor de Ben Bernanke, presidente do Fed, é a deflação. Além do mais, os Estados Unidos não produzem mais nada, trazem tudo de fora. Por isso fica barato. Foi assim que desestruturaram a indústria. Não queremos isso aqui. O câmbio é a maior arma comercial que nós temos hoje.
E o que o governo pode fazer para atacar esse problema?
O governo tem de atuar no câmbio, e estamos fazendo isso. Não dá para fazer milagre. Tanto os Estados Unidos quanto a Europa estão com a moeda desvalorizada. Vários países têm juro real negativo. Estamos com o câmbio melhor do que antes, porque tomamos medidas eficazes, como o IOF. Tomamos medidas de defesa comercial, como o IPI dos carros. A importação já está caindo.
As montadoras podem subir o preço? Há acordo para evitar isso?
Quando aumentamos o IPI, fizemos um acordo para não subir os preços. Se subir, a gente reverte. Não permitiremos que o consumidor brasileiro seja prejudicado.
Os preços não cairiam mais para o consumidor se o mercado fosse livre?
Se o mercado fosse livre, iria acabar com a indústria nacional. Só haveria produção na China, na Coreia, e o Brasil se tornaria só um grande importador. Voltaríamos ao Brasil da Primeira República. 
O sr. acha natural a remessa dos lucros das montadoras? Não deveria haver uma maior contrapartida, com investimento delas no Brasil?
O Brasil é um país que tem regras do jogo bem claras em relação ao investimento externo. Não podemos impedir a remessa de lucros e dividendos. As remessas no ano passado foram de US$ 38 bilhões, mas entraram US$ 66,6 bilhões de investimentos externos A indústria automobilística tem um plano de investimento de US$ 20 bilhões até 2014, graças a essas medidas que nós tomamos. 
Qual é a sua visão sobre o futuro do capitalismo?
O capitalismo precisa ser sempre reinventado. Onde está dando mais certo? Nos países que adotaram o capitalismo de Estado. Não vamos comparar o Brasil com a China, onde 80% da economia está sob controle do Estado. Mas o Brasil tem bancos públicos também, o Brasil tem financiamento público. O que está em crise é o capitalismo liberal clássico, o capitalismo da desregulamentação financeira, que nos levou a esta crise toda. Modestamente, acho que uma das formas mais eficientes de capitalismo é a do Brasil. É um capitalismo que traz diretamente benefícios à população. Estamos longe do modelo europeu de desenvolvimento, mas estamos a caminho de alcançá-lo.
O sr. está feliz no cargo? É bom ser ministro da Fazenda neste momento?
É bom. E sabe por quê? Porque gosto de desafios. Eu não tenho me entediado no cargo. Os resultados são muito satisfatórios. A classe E diminuiu sensivelmente e estamos conseguindo dar emprego para todo mundo que quer emprego. Me dá uma grande satisfação ser ministro de uma economia que não está arrochando salário, não está desempregando gente, que paga dívida.
O que falta?
Muita coisa. Falta termos todo mundo na classe B, na classe A. Falta a renda per capita ser de US$ 40 mil, e não de US$ 12 mil. Não temos o padrão da população japonesa, da população americana. Mas a vida está melhorando.
Diante disso, a reeleição da presidenta Dilma está garantida?
Ninguém está pensando em eleição. Temos um ano de governo e temos de pensar em consolidar essa situação. Estamos na rota do desenvolvimento sustentável.

Colaborou: Luís Artur Nogueira

domingo, 28 de novembro de 2010

Mudando Indices da Economia: perigo a vista

Todo governo sempre tem um ministro trapalhão. Isso é inevitável. Aliás, quanto maior for a equipe -- e no Brasil chega aos quarenta, mas confesso que perdi a conta --, maior a possibilidade de serem vários os trapalhões.
Quando eles apenas concorrem com os humoristas da TV, nenhum perigo à vista: apenas matéria para os programas de humor e os chargistas dos jornais, justamente. Mas quando eles se metem a reformar o mundo, o Brasil, o Piauí, existe um enorme perigo à vista, como alerta este editorial do Estadão.
Perguntar não ofende: no nosso caso, precisaria ser justamente o ministro da Fazenda?
Esse cargo é, potencialmente, o de maior perigo nacional.
Em complemento, um editorial anterior sobre o mesmo personagem...
Paulo Roberto de Almeida

Mantega ataca de novo


Editorial - O Estado de S.Paulo
Domingo, 28 de novembro de 2010
Perigo à vista: o ministro Guido Mantega teve mais uma ideia. Agora ele propõe uma trapalhada para o próximo governo - usar um índice especial de inflação para baixar os juros mais velozmente. Se essa lambança for executada, as metas oficiais serão desmoralizadas, como ocorreu na Argentina, o combate à inflação será relaxado e toda a estratégia dos próximos quatro anos poderá ser prejudicada. Convidado pela presidente eleita para permanecer no posto, o ministro deu uma entrevista coletiva e prometeu uma gestão séria, renegando implicitamente seu currículo. A mudança foi desmentida rapidamente por ele mesmo.
A ideia é adotar um IPCA sem combustíveis e sem alimentos para servir de referência para a meta de inflação e para a política de juros. Mas o Banco Central (BC), o mercado financeiro e muitas consultorias já dispõem de índices desse tipo. O expurgo do índice permite obter o chamado núcleo de inflação. A exclusão dos itens mais instáveis ou das variações extremas pode ajudar na avaliação da tendência geral dos preços.
A técnica é usada em muitos países. O BC leva em conta esse tipo de informação ao fixar os juros. Mas não se baseia só nesses dados, porque sua missão é atingir um alvo definido em termos do IPCA cheio, isto é, com todos os componentes. Pode-se corrigir qualquer erro de avaliação num prazo curto, porque a política é revista a cada 45 dias. Tem havido muito mais acertos do que erros.
No Brasil, a maior parte dos preços flutua livremente. Uma alta sazonal ou acidental é compensada num prazo razoável por uma queda. Mas é perigoso apostar, sempre, no recuo dos preços de alimentos e de combustíveis. Pode haver longos períodos de alta, não apenas em consequência de mudanças nas condições de produção e de consumo, mas também de alterações financeiras. Produtos agrícolas, petróleo e outras commodities são objetos do jogo financeiro tanto quanto ações, títulos de crédito e moedas.
Núcleos de inflação podem dar informações importantes, quando avaliados com discernimento. Mas concentrar a atenção em dados como esses pode levar a resultados desastrosos. O exemplo mais evidente é o erro cometido pelo Federal Reserve, o banco central americano, ao manter os juros muito baixos por muito tempo. Os condutores da política levaram em conta um número muito restrito de preços, quando deveriam ter dado importância à especulação nos mercados de commodities. Da mesma forma, deveriam ter estado atentos à formação da enorme bolha no setor imobiliário.
O ministro Mantega parece não ter percebido ou interpretado corretamente esses fatos. Para produzir uma boa política monetária e financeira é preciso levar em conta um número maior - e não menor - de informações. O núcleo de inflação só é útil porque é um dado a mais, isto é, porque propicia uma perspectiva adicional para o exame do índice cheio. Não é bom por apresentar menos informações, mas por enriquecer o conjunto. Além disso, as pessoas pagam os preços da inflação cheia, não da expurgada, e um persistente erro de avaliação pode causar muito mal, especialmente aos pobres.
O ministro Mantega tem um longo currículo de trapalhadas e de mágicas desastrosas. Ele tem exercido o seu talento principalmente na tentativa de maquiar as contas do governo e, de um modo especial, o endividamento público. Se cuidasse melhor da política fiscal, contendo a gastança e preservando o Tesouro de operações promíscuas de financiamento, a economia seria mais saudável e seria mais fácil baixar os juros. O caminho é esse. A presidente eleita não deve maquiar a política de preços e de juros, mas promover com urgência o expurgo das más ideias.
Também deve recomendar boas maneiras a seu pessoal. Segundo o ministro Mantega, o economista Alexandre Tombini, escolhido para presidir o BC, "não vai titubear" quando tiver de prejudicar o setor financeiro, por ser funcionário público de carreira. O atual presidente do BC, Henrique Meirelles, dirigiu um banco privado e seu desempenho no governo é muito superior ao do ministro da Fazenda. Essa diferença, reconhecida internacionalmente, talvez explique a descortesia do ministro. Mas não a justifica.
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Promessas de seriedade

Editorial - O Estado de S.Paulo
26 de novembro de 2010
 
Se as promessas tiverem algum valor, a equipe econômica do próximo governo será parcimoniosa no gasto, preocupada com a eficiência e empenhada em aumentar a poupança pública, para elevar o investimento federal e dar mais força e mais espaço à iniciativa privada. Nisto se resumem os compromissos de austeridade anunciados pelos futuros ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior, na primeira entrevista depois de confirmada sua escolha pela presidente eleita, Dilma Rousseff. Na mesma ocasião, o economista Alexandre Tombini, convidado para presidir o Banco Central (BC), defendeu o regime de metas de inflação e disse haver recebido a garantia de respeito à independência operacional da instituição. Ele ainda terá de mostrar na prática se dará continuidade ao estilo de política monetária dos últimos oito anos, mas seu currículo autoriza um crédito de confiança. Uma expectativa otimista é muito mais difícil no caso dos convidados para a Fazenda e para o Planejamento.
No governo há mais de quatro anos, o ministro Guido Mantega jamais se destacou por qualquer compromisso com a austeridade e com o uso eficiente e criterioso do dinheiro público. Para cumprir suas novas promessas, terá de renegar atos e palavras bem conhecidos. Durante sua gestão, o governo só produziu algum superávit primário - o dinheiro posto de lado para o pagamento de juros - porque a arrecadação cresceu ininterruptamente. Apesar disso, recorreu a artifícios para cumprir a meta. Neste ano, o resultado global só não foi pior graças a dividendos de empresas estatais e a um malabarismo contábil para converter em receita o aporte de capital à Petrobrás.
Seu currículo inclui a criação de um fundo soberano muito peculiar, alimentado com dinheiro de um Tesouro deficitário (o governo acumula déficits nominais, ano após ano, porque o superávit primário nem dá para cobrir o serviço da dívida). A proposta inicial - usar dólares da reserva - foi logo abandonada, porque a aplicação da reserva cambial é regulada por lei. Ele, aparentemente, não sabia disso.
Em mais de quatro anos ele nada fez para conter o inchaço da folha de salários e encargos e nunca se opôs às custosas conveniências político-eleitorais do presidente e do partido. Quando surgiu a crise, concedeu facilidades fiscais a alguns setores e passou recursos do Tesouro ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para um programa de estímulo ao investimento. O programa deveria ter sido interrompido após alguns meses, mas foi mantido no ano seguinte e envolveu aportes de R$ 180 bilhões. O Grupo Petrobrás foi um dos principais beneficiários. O setor privado, o mais atingido pela crise, teve acesso bem mais limitado aos empréstimos.
Os gastos de custeio continuaram crescendo na crise e a retórica oficial incluiu também essa gastança no bolo da política anticíclica. Mas ações anticíclicas têm ida e volta. Não é o caso dessas despesas, na maior parte incomprimíveis.
Neste ano, o ministro Mantega defendeu os gastos federais ainda falando em combater a crise - terminada no ano passado. Além disso, negou qualquer relação entre a expansão da despesa pública e o aumento da inflação. Terá de renegar também essa conversa, se quiser levar adiante o discurso da seriedade.
Quanto à engenheira Miriam Belchior, escolhida para o Ministério do Planejamento, participou da estruturação do Bolsa-Família, um programa em geral bem-sucedido, e trabalhou com a ministra Dilma Rousseff na Casa Civil, como coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Deve ter sido a babá do programa, já que a ministra, segundo o presidente Lula, foi a mãe. Tem reputação de boa administradora, mas terá de provar suas qualidades mais uma vez, porque a gestão do PAC - um dos fracassos mais visíveis do atual governo - empobrece qualquer currículo. Ainda este mês o Tribunal de Contas chamou de precários os balanços do programa e cobrou clareza.
A futura ministra defendeu uma revisão dos gastos de custeio e falou em "fazer mais com menos". Para isso, será preciso renegar os critérios do atual governo e buscar eficiência - uma preocupação condenada como reacionária pelo lulismo.