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quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O Sinédrio, fonte da Revolução Liberal no Porto, em 1820

No ano que vem, os portugueses – menos os muito reaças e partidários da monarquia absoluta e do Ancien Régime – comemorarão os 200 anos da Revolução Liberal do Porto, que visava acabar com o regime arcaico e inaugurar uma monarquia constitucional. Haverá um seminário internacional em Lisboa, uma vez que a revolução deu a partida para a convocação das Cortes, que atuaram como Assembleia Constituinte (da qual participaram inclusive muitos representantes das províncias do Brasil, depois postos a correr pela força do movimento recolonizador impulsionado pelos comerciantes lusos).
A base, a fonte, a origem da revolução foi o Sinédrio, criado três anos antes.
Reproduzo aqui a síntese oferecida pela Wikipedia sobre essa entidade secreta.
Paulo Roberto de Almeida

Sinédrio (Portugal)

Esta página cita fontes confiáveis e independentes, mas que não cobrem todo o conteúdo (desde julho de 2016). Ajude a inserir referências. Conteúdo não verificável poderá ser removido.—Encontre fontes: Google (notícias, livros e acadêmico)

Wikipedia, acesso em 29/08/2019

O Sinédrio foi uma associação secreta. O objectivo do sinédrio era preparar uma revolução. Criada em Portugal pelo juiz desembargador portuense Manuel Fernandes Tomás e por José Ferreira Borges, José da Silva Carvalho e João Ferreira Viana, no Porto em 22 de Janeiro de 1818. O seu nome deriva de uma Organização homónima - o Supremo Tribunal judaico.
Embora não fosse uma organização de caráter maçônico, vários dos seus membros eram maçons.
A criação do Sinédrio dá-se após a Revolução falhada que se tentara em Lisboa pelo General Gomes Freire de Andrade, que era o único que se via capaz de fazer frente ao marechal inglês Beresford, que visava o fim do domínio inglês sobre Portugal através da instauração de uma Monarquia Constitucional. A criação do Sinédrio é um dos sinais que antecederam a implantação do liberalismo em Portugal, e foi encorajado pela revolução espanhola de 9 de Março de 1820. Após a revolução liberal, que ocorreu na cidade do Porto a 24 de Agosto de 1820, e associação extinguiu-se, tendo alguns dos seus membros participado na Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, que iniciou o período do liberalismo em Portugal.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Diplomacia economica - revista do IPRI (Portugal)

Uma excelente revista portuguesa, um excelente dossiê sobre diplomacia econômica:

IPRI, n 61 (IPRI, Portugal)
http://www.ipri.pt/index.php/pt/publicacoes/revista-r-i/arquivo-de-revista-r-i/2896-relacoes-internacionais-61

A diplomacia económica e os desafios da globalização no passado (séculos XIX e XX)
Brexit: referendo de 2016António Goucha Soares
Recensões
Migrações internacionais e insegurança humana no Mediterrâneo: Os anos recentes da Europa, João EstevensSusana Ferreira, Human Security and Migration in Europe’s Southern Borders. Cham, Palgrave Macmillan, 2018, 211 páginas
A memória enquanto instrumento de combate ao terrorismo, Diogo NoivoGaizka Fernández Soldevilla e Florencio Domínguez Iribarren (Coord.), Pardines: cuando eta empezó a matar. Madrid, Tecnos, 2018, 381 páginas

A revista Relações Internacionais está indexada na CSA PAIS, IBSS, IPSA, LATINDEX, SciELO Citation Index da Thomson Reuters e EBSCO.

sábado, 20 de julho de 2019

Congresso do Bicentenário da Revolução de 1820 (Lisboa) - inscrições até 30/09/2019


Congresso Internacional do Bicentenário da Revolução de 1820
Lisboa, Congresso da República, 12 a 14 de outubro de 2010
Call for papers
https://cbr1820.com/call-for-papers/
Os interessados em submeter uma proposta de comunicação ao Congresso do Bicentenário da Revolução de 1820 deverão preencher o formulário até 30 de Setembro de 2019.
As propostas deverão indicar o painel temático em que se enquadra a comunicação a apresentar.
Cada proponente só poderá apresentar uma proposta de comunicação.
A decisão sobre aceitação de propostas de comunicação será da responsabilidade dos coordenadores dos painéis temáticos, sendo informada até 2 de Dezembro de 2019.
Os autores de comunicações aceites deverão entregar o respetivo texto (de acordo com normas a fixar oportunamente) até 31 de Maio de 2020.
O programa final do Congresso será definido após receção dos textos das comunicações aprovadas.
Línguas do Congresso: português, espanhol e inglês.



sábado, 13 de abril de 2019

OECD: economic surveys: France, Italy, Portugal, Sweden, Argentina


Global economic conditions, monetary policy and structural reforms have supported exports and investment in recent years. However, global uncertainties and the effects of social unrests weighed on activity in 2018.
 
Available in ENGLISH and FRENCH
OECD Secretary-General, Angel Gurría, with the French Minister of Economy and Finance, Mr. Bruno Le Maire.
 
Italy continues to suffer from long-standing social and economic problems. Italy's GDP per capita is at the same level as 20 years ago and well below its pre-crisis peak. GDP growth has slowed and is projected to contract by 0.2% in 2019 and expand by 0.5% in 2020. Expansionary fiscal policy and low growth will push the general government budget deficit to 2.5% of GDP in 2019 from 2.1% in 2018.
Available in ENGLISH and ITALIAN
 
GDP has expanded at an average rate of close to 3% over the past five years.

Employment has grown steadily and the unemployment rate has fallen. But jobseekers are increasingly low-skilled and immigrants, who struggle to find jobs..
Read more...
OECD's Secretary-General, Angel Gurría, with the Swedish Minister of Finance, Madame Magdalena Andersson
 
The economy is in recession. A strategy of reducing the large fiscal deficit only gradually, the reliance on its foreign financing and high interest rates due to tight monetary policy opened up significant vulnerabilities. In April 2018, markets reacted with a reversal of capital inflows, exacerbating a slowdown of currency inflows due to a record drought.
Available in ENGLISH and SPANISH
 
Economic conditions in Portugal have improved markedly over the past few years. GDP is now back to its pre-crisis level and the unemployment rate has declined 10 percentage points since 2013 to below 7%, one of the largest reductions in any OECD country over the past decade.
Available in ENGLISH and PORTUGUESE
 
Upcoming
JAPAN - Economic Survey 15 April
CHINA - Economic Survey 16 April 
MEXICO - Economic Survey - 2 May
OECD Economic Projections - 21 May

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Liga das Nações: conferencia internacional - Lisboa, setembro 2019

by Aurora Almada e Santos
Call for Papers
Lisbon, 19-20 September 2019
Intergovernmental organizations – understood as multilateral institutions created by sovereign states, with their own permanent structures and charged with the long-term pursuit of common goals – are tools for promoting the peaceful resolution of conflicts and facilitating cooperation. By establishing permanent dialogue between governments and trying to promote cooperative relations between peoples at a global level, intergovernmental organizations are a fundamental new element of global politics in the contemporary era. The genealogy and nature of intergovernmental organizations has therefore been the subject of highly relevant political controversy as well as significant debate in academia.
Established in January 1920, at the end of the First World War, the League of Nations was the first permanent multilateral organization set up to maintain peace and collective security, aiming at promoting a new stable and prosperous international order. Although it was meant to be in principle a global organization, European states de facto were the central core of founding members. After a decade, it became increasingly clear that the League’s performance in addressing major conflicts did not live up to the expectations of guarantying the collective security of member states. Resolutions and sanctions were ineffective against increasingly violent conflicts. In the functional areas, regarding minority rights and in the oversight of the role of imperial powers in mandate territories, the League of Nations created an important precedent but also showed important limitations.
With the suspension of the activities of the League of Nations with the beginning of the Second World War and its subsequent replacement came the idea of a total failure of the League of Nations. But current studies have pointed in new directions in the analysis of the knowledge of the organization. This rehabilitation of the importance of the critical study of the League of Nations has led to new and different readings of its various facets. It is, nevertheless, important to pursue these new approaches not only from an institutional perspective, but also by a more multidimensional and comparative analysis that does greater justice to the rich and important history of the organization. The tools of International History, Global and Transnational History, History of Ideas, Comparative History, Social History, Labour History, History of Communications, History of Health, History of Migration and others allow us to consider the presence and the role of the League of Nations in various scales and spaces, as well as its relationship with a diversity of actors and themes.
The relevance of the League of Nations is also justified by how topical and important many of the issues with which it struggled still are. The growing globalization and mobility of the contemporary era, voluntary or not, generates global problems and norms with enormous national and local impact. It has been in and through intergovernmental organizations that global regimes have been defined in a variety of areas – human rights, drug trafficking, terrorism and refugees. This brings us to the controversial but arguably indispensable role of multilateral organizations in international governance, as standards-makers and managers of the problems and challenges of contemporary societies which require a global response.
To promote the debate between those who study the League of Nations and connected topics we will organize an interdisciplinary conference to be held in Lisbon on 19 and 20 September 2019.
The keynote speakers are:
- Erez Manela (Harvard University) 
- Mark Mazower (Columbia University) – to be confirmed 
- Nicolas Werth (CNRS) 
- Patricia Clavin (University of Oxford) 
- Patrick Finney (Aberystwyth University) 
- Philippe Rygiel (École Normale Supérieure - Lyon) 
- William Mulligan (University College Dublin) 

Proposals for 20-minute presentations on issues related to the League of Nations will be accepted, including but not limited to the following topics:
- The genealogy of the concept of intergovernmental organizations; 
- Concepts and methodologies for the study of intergovernmental organizations; 
- History of intergovernmental organizations; 
- The Paris peace talks, the Peace Treaties and the creation of the League of Nations; 
- Institutional structure and dynamics of the League of Nations; 
- The League of Nations and the relationship with its member states; 
- The League of Nations and international civil service; 
- The League of Nations and international peace and security; 
- The League of Nations and the rights of minorities and refugees; 
- The League of Nations, empires and international mandates; 
- The League of Nations, social issues and the International Labour Organization (ILO); 
- The League of Nations and technical areas; 
- The League of Nations and non-state actors; 
- The League of Nations and other international organizations; 
- The League of Nations, international law and justice; 
- The transition from the League of Nations to the United Nations (UN). 

Abstracts of presentations (300 words) and biographical notes (250 words) should be sent in English or French or Portuguese to: sdnconferencialisboa@gmail.com

Deadline for submission of abstracts: 31 October 2018

Date of notification of acceptance: 15 December 2018.
N.B. Submissions can be made in English, French or Portuguese. However, to facilitate debate the organizers encourage participants to use English in their oral presentation.
A publication of some of the papers presented at the conference is a future aim.
The registration will have a fee of 25 EUR. 

Organizing Committee
Aurora Almada e Santos (IHC – NOVA FCSH) 
Cristina Rodrigues (IHC – NOVA FCSH) 
Bruno Cardoso Reis (ISCTE-IUL) 
João Paulo Avelãs Nunes (CEIS20 – Universidade de Coimbra) 
Pedro Aires Oliveira (IHC – NOVA FCSH) 
Yvette Santos (IHC – NOVA FCSH)

Scientific Committee
Álvaro Garrido (CEIS20 – Universidade de Coimbra) 
Aurora Almada e Santos (IHC – NOVA FCSH) 
Bruno Cardoso Reis (ISCTE-IUL) 
Cristina Rodrigues (IHC – NOVA FCSH) 
Erez Manela (Harvard University) 
Fernando Tavares Pimenta (IPRI – NOVA FCSH) 
Filipe Ribeiro Meneses (Maynooth University) 
Hipolito de la Torre Gómez (UNED) 
Luís Nuno Rodrigues (ISCTE-IUL) 
Maria Manuela Tavares Ribeiro (CEIS20 – Universidade de Coimbra) 
Mark Mazower (Columbia University) 
Nicolas Werth (CNRS) 
Patricia Clavin (University of Oxford) 
Patrick Finney (Aberystwyth University) 
Pedro Aires Oliveira (IHC – NOVA FCSH) 
Philippe Rygiel (École Normale Supérieure - Lyon) 
William Mulligan (University College Dublin) 
Yvette Santos (IHC – NOVA FCSH)

Institutional Sponsorship 

Diplomatic Institute / Portuguese Ministry for Foreign Affairs 

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Jaime Cortesao: trajetorias de um triplo exílio - Francisco Roque de Oliveira

Transcrevo, sem comentários no momento, excelente relatório feito pelo professor Francisco Roque de Oliveira, sobre o colóquio recentemente realizado na Biblioteca Nacional de Portugal, em torno da obra no exílio do mais insigne representante da historiografia luso-brasileira do século XX.
Paulo Roberto de Almeida 

Jaime Cortesão: escritos e geografias do exílio

Nos dias 10 e 11 de Maio de 2018 deco­rreu na Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal, em Lis­boa, o Sim­pó­sio Inter­na­cio­nal Jaime Cor­te­são: escri­tos e geo­gra­fias do exí­lio.Tratou-se de uma ini­cia­tiva con­junta do CEG-Centro de Estu­dos Geo­grá­fi­cos da Uni­ver­si­dade de Lis­boa e do CHAM-Centro de Huma­ni­da­des da Uni­ver­si­dade Nova de Lis­boa e da Uni­ver­si­dade dos Aço­res, em par­ce­ria com a Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal. Esta reunião foi rea­li­zada no âmbito das acti­vi­da­des do Pro­jecto de Inves­ti­gação FCT/CAPES «Sabe­res geo­grá­fi­cos e geo­gra­fia ins­ti­tu­cio­nal: influên­cia e relações recí­pro­cas entre Por­tu­gal e o Bra­sil no século XX», desen­vol­vido no Cen­tro de Estu­dos Geo­grá­fi­cos da Uni­ver­si­dade de Lis­boa, e do grupo de inves­ti­gação Lei­tura e For­mas de Escrita do CHAM.
Este Sim­pó­sio propôs-se reunir os mais recen­tes resul­ta­dos da inves­ti­gação que vem sendo rea­li­zada em torno da obra do autor de Ale­xan­dre de Gus­mão e o Tra­tado de Madrid e da His­tó­ria do Bra­sil nos vel­hos mapas. Pretendeu-se tam­bém apro­fun­dar o con­he­ci­mento sobre os suces­si­vos con­tex­tos de exí­lio que Jaime Cor­te­são enfren­tou na Europa e no Bra­sil durante mais de 30 anos, com des­ta­que para aque­les que deco­rre­ram na Espanha repu­bli­cana e no Rio de Janeiro das déca­das de 1940 e 1950. Esta ini­cia­tiva foi ainda pen­sada como uma opor­tu­ni­dade para reflec­tir sobre o impor­tante legado de Cor­te­são enquanto edi­tor e tra­du­tor, assim como para ana­li­sar o estado actual dos pro­jec­tos de edição da sua obra, tanto em Por­tu­gal como no Brasil.
A escolha da Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal para local de rea­li­zação deste Sim­pó­sio repre­sen­tou um gesto sim­bó­lico. Jaime Cor­te­são (1884–1960) foi o mais des­ta­cado direc­tor da então cha­mada Biblio­teca Nacio­nal de Lis­boa durante a I Repú­blica Por­tu­guesa (1910–1926). A par­tir de 1919, quando foi nomeado para esse cargo, Cor­te­são teve opor­tu­ni­dade de exe­cu­tar aí um notá­vel tra­balho de reor­ga­ni­zação admi­nis­tra­tiva e téc­nica e – sobre­tudo – de dou­tri­nação cul­tu­ral e cívica, tendo sido saneado em 1927, na sequên­cia da ins­tau­ração da dita­dura mili­tar em Por­tu­gal. Médico por for­mação e escri­tor por vocação, este inte­lec­tual mul­ti­fa­ce­tado foi poeta e fic­cio­nista, dra­ma­turgo e escri­tor de via­gens, peda­gogo das Uni­ver­si­da­des Popu­la­res das pri­mei­ras déca­das do século XX e, final­mente, o historiador-geógrafo que reali­zou a sín­tese entre a his­to­rio­gra­fia dos Anna­les de Lucien Feb­vre e Marc Bloch e a geo­gra­fia humana de Cami­lle Vallaux e Jean Brun­hes apli­cada à his­tó­ria de Por­tu­gal e do seu império.
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Cor­te­são foi estu­dado como um pro­ta­go­nista, entre outros, de uma bril­hante diás­pora polí­tica e cien­tí­fica que tem inúme­ras afi­ni­da­des com a diás­pora repu­bli­cana espan­hola que se viu obri­gada a reinventar-se nas Amé­ri­cas na mesma época, fazendo fru­ti­fi­car aí as suas com­pe­tên­cias inte­lec­tuais e o seu cosmopolitismo.
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Jaime Cor­te­são foi tam­bém um homem de acção polí­tica muito empen­hado e, por isso mesmo, sem­pre muito temido pela dita­dura por­tu­guesa. Os atri­bu­la­dos anos da sua per­ma­nên­cia em Espanha e Fra­nça, entre 1927 e 1940, repre­sen­tam a expe­riên­cia de um dos prin­ci­pais pro­ta­go­nis­tas de exí­lio repu­bli­cano por­tu­guês acos­sado e dis­perso entre Madrid, Bar­ce­lona, o sul de Fra­nça e Paris. Banido para o Bra­sil por ordem de Sala­zar, em 1940, Cor­te­são rela­nçou no Rio de Janeiro o magis­té­rio e as pes­qui­sas que fize­ram dele a mais impor­tante figura da his­to­rio­gra­fia luso-brasileira do século XX. Regres­sado defi­ni­ti­va­mente a Por­tu­gal em 1957, foi eleito pre­si­dente da Socie­dade Por­tu­guesa de Escri­to­res e pro­posto como can­di­dato à Pre­si­dên­cia da Repú­blica pela opo­sição não comu­nista orga­ni­zada sob a égide do Direc­tó­rio Democrato-Social, indi­gi­tação essa que decli­nou. Preso uma última vez por moti­vos polí­ti­cos quando con­tava já 74 anos de idade, foi liber­tado na sequên­cia de uma intensa cam­panha inter­na­cio­nal de pro­testo enca­beçada pela imprensa bra­si­leira. Depois de reins­tau­rada da demo­cra­cia em Por­tu­gal, Cor­te­são seria rein­te­grado na função pública a título pós­tumo, restituindo-se-lhe então as hon­ras e dig­ni­da­des de que fora arbi­tra­ria­mente pri­vado, como se lê no Decreto-Lei 275, de 14 de Agosto de 1980, que deter­mi­nou esta repa­ração moral.
Atra­vés do estudo de algu­mas das prin­ci­pais peças da obra de Jaime Cor­te­são, os par­ti­ci­pan­tes neste Sim­pó­sio tive­ram opor­tu­ni­dade de inqui­rir aspec­tos asso­cia­dos à dura­doura marca dei­xada na ciên­cia e na uni­ver­si­dade por­tu­gue­sas por força dos exí­lios e de toda a série cons­tran­gi­men­tos mais dis­cre­tos, mas nem por isso menos efi­ca­zes, impos­tos pela dita­dura à acti­vi­dade cien­tí­fica e ao saber em geral. Nesse sen­tido, Cor­te­são foi tam­bém estu­dado como um pro­ta­go­nista, entre outros, de uma bril­hante diás­pora polí­tica e cien­tí­fica que tem inúme­ras afi­ni­da­des com a diás­pora repu­bli­cana espan­hola que se viu obri­gada a reinventar-se nas Amé­ri­cas na mesma época, fazendo fru­ti­fi­car aí as suas com­pe­tên­cias inte­lec­tuais e o seu cos­mo­po­li­tismo. O Sim­pó­sio estruturou-se em três mesas dis­tin­tas, pre­ce­di­das por uma ses­são de aber­tura e uma con­fe­rên­cia inau­gu­ral, con­forme a sequên­cia que pas­sa­mos a resenhar.
Usa­ram da pala­vra na ses­são de aber­tura os direc­to­res dos dois Cen­tros de inves­ti­gação orga­ni­za­do­res – Mário Vale pelo CEG e João Paulo Oli­veira e Costa pelo CHAM –, Car­los Kes­sel, chefe do Setor Cul­tu­ral da Embai­xada do Bra­sil em Lis­boa, Vera Lucia Ama­ral Fer­lini, res­pon­sá­vel pela Cáte­dra Jaime Cor­te­são da Uni­ver­si­dade de São Paulo e Ins­ti­tuto Camões, para além de Fran­cisco Roque de Oli­veira, pela comis­são orga­ni­za­dora do Sim­pó­sio. A lição inau­gu­ral esteve a cargo de Joa­quim Romero Magal­hães (Uni­ver­si­dade de Coim­bra), que dis­ser­tou sobre «O des­con­he­cido Bra­sil, de los comien­zos a 1799, de Jaime Cor­te­são (1956)». Trata-se de uma obra que apa­re­ceu inte­grada no volume 26 da His­to­ria de Amé­rica y de los Pue­blos Ame­ri­ca­nos diri­gida por Anto­nio Balles­te­ros y Berreta, publi­cada em Bar­ce­lona pela Edi­to­rial Sal­vat. Sabe-se que a mesma obra teve ori­gem num con­trato assi­nado ainda em 1933, quando Cor­te­são vivia exi­lado em Madrid e cuja con­cre­ti­zação em livro seria pro­te­lada pelas vicis­si­tu­des da Gue­rra Civil de Espanha e da II Gue­rra Mundial.
Jaime Cortesão durante o seu exílio no Brasil (c. 1950) Fotografia: Espólio Jaime Cortesão, Biblioteca Nacional de Portugal (Lisboa).
Jaime Cor­te­são durante o seu exí­lio no Bra­sil (c. 1950)
Foto­gra­fia: Espó­lio Jaime Cor­te­são, Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal (Lisboa).
A pri­meira mesa do Sim­pó­sio foi subor­di­nada ao tema «Jaime Cor­te­são, edi­tor e edições», tendo sido preen­chida por duas comu­ni­cações que arti­cu­la­ram a prin­ci­pal acti­vi­dade de Cor­te­são enquanto publi­cista durante a I Repú­blica Por­tu­guesa e o seu con­tri­buto como edi­tor e tra­du­tor ao longo das déca­das seguin­tes. Daniel Pires (Cen­tro de Estu­dos Boca­gea­nos e CLEPUL-Centro de Lite­ra­tu­ras e Cul­tu­ras Lusó­fo­nas e Euro­peias da Uni­ver­si­dade de Lis­boa) trouxe uma comu­ni­cação sobre «Jaime Cor­te­são, o Grupo da Biblio­teca e a Seara Nova», tendo apre­sen­tado uma carta des­con­he­cida na qual o escri­tor e jor­na­lista Raul Proença – chefe da Divi­são dos Ser­viços Téc­ni­cos da Biblio­teca Nacio­nal durante a Dire­cção de Cor­te­são – se insurge con­tra a cen­sura imposta na sequên­cia do golpe mili­tar do 28 de Maio de 1926, que ins­ti­tuiu a dita­dura em Por­tu­gal. Coube a Daniel Melo (CHAM) apre­sen­tar «Jaime Cor­te­são enquanto pro­mo­tor da edição e da lei­tura», suma­riando a fecunda acti­vi­dade que deco­rreu entre a cola­bo­ração de Cor­te­são com o movi­mento cul­tu­ral Renas­ce­nça Por­tu­guesa e o magis­té­rio da Uni­ver­si­dade Popu­lar do Porto, em 1914, e o seu tra­balho como edi­tor lite­rá­rio no Bra­sil, pas­sando pelo com­pro­misso que teve com a Asso­ciação Inter­na­cio­nal de Escri­to­res para a Defesa da Cul­tura, em par­ti­cu­lar por via da par­ti­ci­pação nos Con­gres­sos Inter­na­cio­nais de Escri­to­res pela Defesa da Cul­tura de 1935 (Paris) e 1937 (Valência-Madrid-Barcelona-Paris).
A segunda mesa foi dedi­cada à «Escrita da His­tó­ria», agru­pando qua­tro comu­ni­cações. Vera Fer­lini apre­sen­tou «Jaime Cor­te­são: novas dimen­sões para a His­tó­ria de São Paulo». Par­tindo das obras A Fun­dação de São Paulo – Capi­tal Geo­grá­fica do Bra­sil (1955), Ale­xan­dre de Gus­mão e o Tra­tado de Madrid (1952–1961) e Raposo Tava­res e a For­mação Terri­to­rial do Bra­sil (1958), Fer­lini salien­tou o modo como as mes­mas dia­lo­ga­ram com as pers­pec­ti­vas his­to­rio­grá­fi­cas do Ins­ti­tuto His­tó­rico e Geo­grá­fico de São Paulo (IHGSP) e as teses de alguns dos seus notá­veis his­to­ria­do­res bra­si­lei­ros de então, como Afonso d’Escragnolle Tau­nay e Sér­gio Buar­que de Holanda. Renato Amado Pei­xoto (Uni­ver­si­dade Fede­ral do Rio Grande do Norte) cen­trou a sua inter­ve­nção inti­tu­lada «Oxy­mo­ron: Cor­te­são, Varn­ha­gen, o Meri­diano de Tor­de­sil­has e a repre­sen­tação da For­mação do Bra­sil» numa pers­pec­tiva equi­va­lente a essa. Neste caso, tratou-se de con­fron­tar alguns dos con­teú­dos con­so­li­da­dos na his­to­rio­gra­fia bra­si­leira do século XIX, que se reper­cu­ti­ram dura­dou­ra­mente na cons­trução pro­gra­má­tica da iden­ti­dade nacio­nal atra­vés do ensino da Geo­gra­fia e da His­tó­ria, com algu­mas das teses que Cor­te­são gizou para expli­car o pro­cesso de for­mação terri­to­rial deste país e que for­ma­li­zou em dois pro­jec­tos edi­to­rais orga­ni­za­dos no âmbito do Minis­té­rio das Relações Exte­rio­res do Bra­sil: o Atlas His­tó­rico do Bra­sil (1959) e a His­tó­ria do Bra­sil nos vel­hos mapas (1957–1971).
«Os irmãos Jaime e Armando Cor­te­são. Dos exí­lios e das polé­mi­cas his­to­rio­grá­fi­cas na expan­são atlân­tica» cons­ti­tuiu o título escol­hido por Rui S. Andrade (Cen­tro de His­tó­ria da Uni­ver­si­dade de Lis­boa), numa comu­ni­cação cen­trada em algu­mas das mais rele­van­tes teo­rias que estes dois his­to­ria­do­res desen­vol­ve­ram ao longo de déca­das no qua­dro de um esfo­rço inte­lec­tual mais vasto, com raí­zes fun­das na his­to­rio­gra­fia do século XIX, e de que são exem­plo a cha­mada «polí­tica do sigilo» e o suposto des­co­bri­mento pré-colombino da Amé­rica pelos por­tu­gue­ses. Como ilus­trou Andrade, tais teo­rias esti­ve­ram na ori­gem de um intenso debate tra­vado entre os irmãos Cor­te­são e diver­sos aca­dé­mi­cos anglo-saxónicos, assim como com alguns dos seus pares por­tu­gue­ses e bra­si­lei­ros, cons­ti­tuindo um dos aspec­tos mais inter­es­san­tes, mas tam­bém mais con­tro­ver­sos do seu legado. A fechar a ses­são, José Manuel Gar­cia (Aca­de­mia Por­tu­guesa da His­tó­ria) apre­sen­tou «Os Des­co­bri­men­tos Por­tu­gue­ses de Jaime Cor­te­são: bala­nço de uma carreira his­to­rio­grá­fica». Como o título indi­cia, tratou-se de uma abor­da­gem àquela que cons­ti­tui a última grande empresa his­to­rio­grá­fica de Cor­te­são, vista aqui, simul­ta­nea­mente, como ponto de che­gada e sín­tese monu­men­tal de cerca de qua­tro déca­das de carreira no domí­nio da his­tó­ria da expan­são portuguesa.
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Entre as suces­si­vas ini­cia­ti­vas aglu­ti­na­do­ras da opo­sição por­tu­guesa no exí­lio dina­mi­za­das por Jaime Cor­te­são, destacou-se a União dos Anti­fas­cis­tas Por­tu­gue­ses Resi­den­tes em Espanha, criada em Madrid depois da vitó­ria elei­to­ral da Frente Popu­lar, em Feve­reiro de 1936, e a Dele­gação da Frente Popu­lar Por­tu­guesa ins­ti­tuída em Bar­ce­lona com apoio do governo repu­bli­cano e da Gene­ra­li­tat da Catalunha.
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A última mesa do Sim­pó­sio agru­pou três comu­ni­cações à volta do tema gené­rico «Geo­gra­fias do exí­lio». Cris­tina Clí­maco (Uni­ver­sité Paris 8) leu «O exí­lio euro­peu de Jaime Cor­te­são e a luta anti­fas­cista (1927–1940)», des­cre­vendo e con­tex­tua­li­zando os perío­dos de per­ma­nên­cia de Cor­te­são em Espanha e Fra­nça na sequên­cia da sua par­ti­ci­pação na frus­trada revolta de Feve­reiro de 1927 con­tra a dita­dura mili­tar por­tu­guesa e o papel que lhe coube como dina­mi­za­dor de suces­si­vas ini­cia­ti­vas aglu­ti­na­do­ras da opo­sição no exí­lio. Entre estas, Clí­maco des­ta­cou a União dos Anti­fas­cis­tas Por­tu­gue­ses Resi­den­tes em Espanha, criada em Madrid depois da vitó­ria elei­to­ral da Frente Popu­lar, em Feve­reiro de 1936, e a Dele­gação da Frente Popu­lar Por­tu­guesa ins­ti­tuída em Bar­ce­lona com apoio do governo repu­bli­cano e da Gene­ra­li­tat da Cata­lunha. Fran­cisco Roque de Oli­veira (CEG-Universidade de Lis­boa), Roger Lee de Jesus (Uni­ver­si­dade de Coim­bra) e Rui S. Andrade apre­sen­ta­ram «Abraça-te o teu irmão muito amigo: a corres­pon­dên­cia entre Jaime e Armando Cor­te­são», tendo sin­te­ti­zado o con­teúdo do extenso con­junto de car­tas dis­per­sas pelos arqui­vos de Lis­boa, Coim­bra e Rio de Janeiro atra­vés das quais se podem seguir as vicis­si­tu­des do exí­lio durante muito tempo par­til­hado pelos irmãos Cor­te­são, os con­tex­tos que os enqua­dra­ram, assim como o desen­vol­vi­mento das res­pec­ti­vas obras cien­tí­fi­cas, desig­na­da­mente no domí­nio da his­tó­ria da car­to­gra­fia, cujo inter­esse par­til­ha­ram. Por último, Aqui­lino Machado (CEG-Universidade de Lis­boa) expôs «Do Vera Cruz ao Bra­sil: entre a via­gem de Aqui­lino Ribeiro e as geo­gra­fias do exí­lio de Jaime Cor­te­são», comu­ni­cação cen­trada nos regis­tos autó­gra­fos e na docu­men­tação exis­tente sobre a des­lo­cação de Aqui­lino Ribeiro ao Bra­sil, em 1952, e o círculo de socia­bi­li­da­des do exí­lio polí­tico por­tu­guês aí radi­cado com o qual este escri­tor man­teve impor­tan­tes contactos.
Em ses­são extra­or­di­ná­ria que deco­rreu no início do segundo dia de tra­bal­hos, Roger Lee de Jesus intro­du­ziu os dois úni­cos regis­tos sono­ros de Jaime Cor­te­são edi­ta­dos em disco no final da década de 1950. De seguida, o mesmo Roger Lee de Jesus e Fran­cisco Roque de Oli­veira apre­sen­ta­ram o Dia­po­rama que ela­bo­ra­ram a par­tir da longa entre­vista con­ce­dida por Cor­te­são ao jor­na­lista Igre­jas Caeiro em 1958 e então emi­tida pelo Rádio Clube Por­tu­guês. Na mesma oca­sião, foi exi­bido na sala Mul­ti­mé­dia da Biblio­teca Nacio­nal o epi­só­dio do docu­men­tá­rio À Porta da His­tó­ria dedi­cado a Jaime Cor­te­são. Rea­li­zado por Jorge Pai­xão da Costa para a Rádio e Tele­vi­são de Por­tu­gal (RTP) em 2015, este epi­só­dio foi gen­til­mente cedido para exi­bição não comer­cial durante o Sim­pó­sio pela Ukbar Fil­mes. Para­le­la­mente, os Ser­viços da Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal, coor­de­na­dos por Manuela Rêgo, orga­ni­za­ram uma pequena mos­tra biblio­grá­fica que reuniu algu­mas das mais impor­tan­tes obras de Jaime Cor­te­são nos domí­nios da his­to­rio­gra­fia – sobre­tudo sobre o Bra­sil –, da cró­nica de via­gens, do registo memo­ria­lís­tico de gue­rra e da poesia.

CENTRO DE ESTUDOS GEOGRÁFICOS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA. Sabe­res geo­grá­fi­cos e geo­gra­fia ins­ti­tu­cio­nal: influên­cia e relações recí­pro­cas entre Por­tu­gal e o Bra­sil no século XX, Pro­jecto Con­vé­nio FCT-CAPES, 2016–2018, Proc. 44.1.00 CAPES/8513/14–7. <http://www.ceg.ulisboa.pt/saberesgeograficos/>

OLIVEIRA, Fran­cisco Roque de. A «Ilha Bra­sil» de Jaime Cor­te­são: ideias geo­grá­fi­cas e expres­são car­to­grá­fica de um con­ceito geo­po­lí­tico. Biblio 3W. Revista Biblio­grá­fica de Geo­gra­fía y Cien­cias Socia­les. [En línea]. Bar­ce­lona: Uni­ver­si­dad de Bar­ce­lona, 25 febrero 2017, Vol. XXII, nº 1.191. <http://www.ub.edu/geocrit/b3w-1191.pdf>

Fran­cisco Roque de Oli­veira é inves­ti­ga­dor do Cen­tro de Estu­dos Geo­grá­fi­cos e pro­fes­sor no Ins­ti­tuto de Geo­gra­fia e Orde­na­mento do Terri­tó­rio da Uni­ver­si­dade de Lisboa.

Ficha biblio­grá­fica:
OLIVEIRA, Fran­cisco Roque de. Jaime Cor­te­são: escri­tos e geo­gra­fias do exí­lio. Geo­cri­tiQ. 30 de mayo de 2018, nº 391. [ISSN: 2385–5096]. <http://www.geocritiq.com/2018/05/jaime-cortesao-escritos-e-geografias-do-exilio>