Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
Politica mafiosa: "Ja da' para ouvir o 15 de marco"- Reinaldo Azevedo
Paulo Roberto de Almeida
Já dá para ouvir o 15 de março
Reinaldo Azevedo
Folha de São Paulo, 27 de fevereiro de 2015
A pantomima petista chegou ao fim. O custo é imenso. E vai cobrar a fatura de gerações, podem escrever
"Soc, poft, pow! Coxinha. Golpista!"
Eis o som presente do mar futuro de gente nas ruas no próximo dia 15. Ali vão as onomatopeias e vitupérios produzidos pelos milicianos petistas contra pessoas comuns, que pagam impostos e estão cansadas de ser roubadas. Pois é... Os companheiros acham que chegou a hora de nos pegar na porrada.
Na segunda, enquanto Lula e seus "tontons macoute" faziam um ato "em defesa da Petrobras", no Rio --o que supõe distribuir sopapos didáticos para ensinar a essa brasileirada o valor do patriotismo--, a Moody's anunciava o rebaixamento da nota da estatal. Bastava que caísse um degrau para passar do azul para o vermelho, do grau de investimento para o especulativo. Mas a agência empurrou a empresa escada abaixo: a queda foi logo de dois --e ainda com viés negativo.
A presidente Dilma Rousseff, com a clarividência habitual, atribuiu a decisão "à falta de conhecimento". É verdade. A agência, o mercado e todo mundo desconhecem, por exemplo, o balanço da empresa. O que se dá como certo é que o governo indicou uma diretoria para o exercício da contabilidade criativa, com Aldemir "Hellôôô" Bendine à frente. A crise, no Brasil, também é brega.
A realidade ganhava, assim, traços de caricatura, de narrativa barata, de roteiro de filme de segunda linha. Enquanto Lula, o grande sacerdote do modelo que levou a Petrobras ao desastre, oficiava na ABI mais uma de suas missas macabras, disparando contra elites imaginárias, a empresa passava a arcar com mais um custo das forças malignas que ele conjurava. Havia pouco, Paulo Okamotto, o sócio do Babalorixá de Banânia, explicara em entrevista como o partido lida com as empreiteiras: "Funciona assim: 'Você está ganhando dinheiro? Estou. Você pode dar um pouquinho do seu lucro para o PT? Posso, não posso.'"
Das expressões ou palavras que criei para definir esses seres exóticos, "petralha" é a mais popular, mas não é a de que mais me orgulho. Gosto mesmo é de "burguesia do capital alheio", que é como chamo os companheiros desde meados da década de 90, antes ainda de sua ascensão, quando fingiam ares de resistência.
Sempre me impressionou a facilidade com que se insinuavam nas estruturas do Estado e das empresas privadas e passavam a ser beneficiários do esforço de terceiros. Voltem lá a Okamotto. Jamais lhe ocorreria indagar se os empresários podem dar um pouco do seu risco ao PT. O partido se apropria é de uma parte do lucro. A expressão que criei serve para designar o petismo, mas poderia definir a máfia.
O modelo entrou em colapso. Se Dilma será ou não impichada, não sei. Como escrevi nesta Folha, golpe é rasgar a lei e a Constituição democraticamente pactuadas. O que dá para saber, e isto é certo, é que a pantomima petista chegou ao fim. O custo é imenso. E vai cobrar a fatura de gerações, podem escrever. As ruas vêm aí, e Lula, o irresponsável da segunda-feira, com seus milicianos, nada pode fazer pela governanta. Ao contrário: é ele, hoje, quem a desestabiliza.
A presidente tem de se escorar no braço de Eduardo Cunha e repetir Blanche DuBois, a doidona de "Um Bonde Chamado Desejo", quando decide seguir pacificamente para o hospício, em companhia de um alienista: "Seja você quem for, eu sempre dependi da boa vontade de estranhos".
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
Petrolao e partido totalitario: a Mafia e as penas - eu e Reinaldo Azevedo
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
Crimes economicos do lulo-petismo: por enquanto o da Petrobras e' o maior...
Graça Foster escarnece dos fatos, e Dilma Rousseff escarnece da razão. Em seis anos, o valor de mercado a Petrobras foi reduzido a quase um sexto: de R$ 737 bilhões em 2008 para R$ 135 bilhões agora e dívida de R$ 330 bilhões. Ou seja: quebrou! O patrimônio público está evaporando. É a incompetência alimentando a roubalheira, e a roubalheira alimentando a incompetência. Quando nos lembramos que o PT fez terrorismo com a suposta intenção dos tucanos de privatizar a estatal em 2002, 2006 e 2010, a gente se dá conta da obra desses vigaristas. Se Dilma insistir em não fazer nada, daqui a pouco ninguém aceita a Petrobras nem de graça. A gente não precisa fazer muitos malabarismos: houvesse um regime parlamentarista, o gabinete já teria sido dissolvido, e Dilma não se elegeria mais nem vereadora.
Não dá! As evidências de que Venina Velosa da Fonseca advertiu Graça para os procedimentos heterodoxos vigentes na Petrobras são inquestionáveis. E ela o fez em 2009, 2011 e 2014. Observem que não entro no mérito das motivações da denunciante. Se há algo contra ela, que se investigue. Que Graça dispunha de elementos para agir, que lhe foram fornecidos por uma alta executiva, isso é inquestionável. E ela não fez nada. Como não fez em fevereiro deste ano, quando VEJA trouxe à luz o escândalo envolvendo a empresa holandesa SBM Offshore. Ou melhor, fez: negou que houvesse irregularidades.
As ações da Petrobras despencaram outra vez. Há uma conjunção de fatores externos negativos, sim, mas isso não justifica a pindaíba em que se encontra. A estatal brasileira é hoje sinônimo mundial do que não se deve fazer, de má governança. É preciso ser um rematado idiota ou dotado de incrível má-fé para ignorar o que se passou por lá. E a sangria está longe do fim, uma vez que a empresa é agora investigada nos EUA, na Holanda e na Suíça. Se o descalabro continua, sem uma resposta efetiva do governo, a Petrobras, prestes a perder a classificação de “grau de investimento”, pode até ser proibida de operar na Bolsa de Nova York. Aí, meus caros, é o fim da linha.
Mas não há horror que faça o comando da empresa descer de seu pedestal de arrogância. Nesta terça, em comunicado à dócil Comissão de Valores Mobiliários, a direção da estatal veio com a história de que Graça fora advertida por Venina para eventuais desvios de conduta apenas em novembro, como se isso fizesse alguma diferença a esta altura do jogo.
Dilma está vivendo um processo de alienação da realidade. Decidiu proteger sua “amiga” Graça Foster. Deve achar que há espaço para brincar de Clube das Luluzinhas Enfezadas. Não há. A Petrobras beija a lona, e a presidente da estatal brinca de desqualificar uma funcionária. Dilma não se deu conta de que o desastre decorrente da herança maldita do lulo-petismo na estatal está só no começo. O pior ainda está por vir.
E está mesmo. Com o preço do barril do petróleo no atual patamar, a exploração do pré-sal já é antieconômica. Pior: as regras de partilha definidas pelo petismo, com o seu nacionalismo de fancaria, impõem à Petrobras um desembolso de recursos de que ela não dispõe. Dilma estuda agora mudar as regras, que eram consideradas cláusulas pétreas da visão petista de mundo. Mas como? A turma ainda não sabe.
E já que o patético não tem limites, os petralhas deram início a uma corrente na Internet estimulando a companheirada a comprar ações da Petrobras. Ocorre que não se deve confundir mau-caratismo com burrice. Parece que a campanha não vai emplacar.
É fácil Dilma fazer a Petrobras voltar a valer R$ 700 bilhões no mercado. Basta anunciar que, depois de saneada, a empresa será privatizada. O mercado lerá nisso o sinal de que os ladrões e os petistas — e também os petistas ladrões — serão definitivamente chutados de lá. Os brasileiros não mais serão roubados — não na estatal ao menos —, e o Brasil efetivamente sairá ganhando.
FHC não quebrou o Brasil nem uma, nem duas nem três vezes, à diferença do que disse Dilma na campanha eleitoral. Mas o PT quebrou a Petrobras.
Para encerrar: em 2013, o Bolsa Família repassou aos miseráveis R$ 24,5 bilhões. De fato, e uma merreca. Só o que a Petrobras perdeu em valor de mercado em seis anos corresponde a mais de 24 anos de Bolsa Família. Se a gente acrescentar o valor roubado com superfaturamento, chega-se perto da eternidade. Abreu e Lima, por exemplo, estava orçada em US$ 2,5 bilhões e, hoje, já está custando US$ 20 bilhões.
Os ladrões no Brasil perderam a modéstia e a o senso de proporção.
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
Petrobras e governo: a inacao irresponsavel no limiar do crime deirresponsabilidade - Reinaldo Azevedo
A figura política é crime de responsabilidade, mas neste caso, a irresponsabilidade predomina.
A conjuntura internacional explica parte do desastre? Explica. O preço do barril do petróleo não é nada estimulante para a petroleira; a economia americana se recupera, o que provoca uma migração de papeis dos países emergentes para os EUA, parte do movimento de aversão ao risco etc. Assim, ainda que as ações da gigante brasileira estivessem nas nuvens, é justo inferir que teriam caído um pouco — quem sabe tivesse despencado.
O problema é que as ações já estavam no fundo do poço em razão de fatores que nada têm a ver com a economia mundial. O que conduziu a Petrobras à beira do colapso é a roubalheira. Juntam-se, assim, fatores que não dependem de escolhas feitas pelo governo brasileiro com outros que dependem, sim. Até quando Dilma pretende empurrar com a barriga a necessária substituição de toda a diretoria da empresa. A governanta tem alguma esperança de que Graça Foster, presidente da estatal, recupere a credibilidade? De que modo.
A mais recente notícia escabrosa saída daquele hospício de malfeitores informa que, ora vejam, a diretoria da estatal subscreveu um contrato em branco com a empresa holandesa SBM Offshore para a construção do navio-plataforma P-57. Isso aconteceu na sexta-feira, 1º de janeiro de 2008. O contrato de construção da P-57 (nº 0801.0000032.07.2), que chegou à CPMI da Petrobras, não contém “informação expressa sobre seu valor”, relataram os técnicos, por escrito, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Só para lembrar: mesmo assim, o relator, Marco Maia (PT-SP), não viu nada de errado.
Voltemos à Petrobras. Dilma está esperando o quê? A inação já beira o crime de responsabilidade, conforme o expresso na Alínea 3 do Artigo 9º: “não tornar efetiva a responsabilidade dos seus subordinados, quando manifesta em delitos funcionais ou na prática de atos contrários à Constituição”. A melhor maneira que Dilma tem de cobrar a responsabilidade desses subordinados é substituído-os.
sábado, 6 de dezembro de 2014
Republica da Gatunagem, e a organizacao criminosa que a controla - Reinaldo Azevedo
Nunca antes na história deste país, uma organização criminosa tinha roubado tanto, e facilitado a vida de tantos outros gatunos.
Paulo Roberto de Almeida
O Brasil tem jeito: privatização de estatais e quase extinção de cargos de confiança. Vai encarar, Dilma, ou só embromar?
Lobista da Toyo Setal ajuda PF a rastrear fortuna no exterior do petista Duque
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
Presidencialismo de mensalao: entre a dignidade e a desonra, adivinhe o que eles escolherao?
Parece que os parlamentares brasileiros vão escolher a desonra, e terão a crise, de qualquer forma, e uma confusão dos diabos no plano constitucional e das contas públicas.
Paulo Roberto de Almeida
Quanto custa para comprar um deputado ou um senador? Dilma está pagando R$ 748 mil por cabeça! Ou: Lembrando como Karl Marx interpreta Dilma Rousseff
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
Economia companheira fez o Brasil estagnar: pobres e miseraveis aumentaram - Reinaldo Azevedo
Sabem por que a miséria cresceu? Porque o modelo petista morreu! O segundo mandato de Dilma é só um cadáver adiado que procriaReinaldo Azevedo, 6/11/2014
terça-feira, 7 de outubro de 2014
Eleicoes 2014: o quadro partidario no Congresso - Reinaldo Azevedo
Os partidos que disputaram a eleição coligados a Dilma Rousseff têm hoje 339 deputados e passarão a contar com apenas 304. Os que apoiaram o tucano Aécio Neves contam com 119 e passarão a ter 128. Os que apoiaram Marina Silva saltaram de 30 para 49. Nesse caso, o PSB passa de 24 para 34; o PPS, de 6 para 10, e o PHS, de nenhum para cinco. Vejam quadro geral.
Isso é sinal de que Aécio Neves, se eleito, enfrentará dificuldades severas na Câmara? É claro que não! À base de 128 deputados, que pode ser considerada certa, há uma chance grande de se agregarem os 53 eleitos por partidos que apoiaram Marina, o que elevaria esse número, então, para 181. Não me parece que, caso o tucano se eleja, o PMDB ficaria na oposição. Ao contrário: Aécio já estabeleceu entendimento com a legenda em vários Estados. Certamente levaria para a base de apoio uma boa parcela dos 66 parlamentares da legenda — estamos falando de um potencial de 247 parlamentares.
O PP, com 36 deputados, chegou a flertar com a candidatura do PSDB, mas acabou vítima de um golpe da sua direção. Poderia perfeitamente migrar para a base de apoio. O potencial, então, já chega a 283. Certamente seria possível dialogar com os 8 do PV, os 12 do PSC, os 2 do PSDC e 1 do PRTB. Eis aí uma possibilidade clara de 306 deputados. E me digam uma boa razão para PSD, PR e PRB integrarem a oposição sistemática. Já estamos falando de um universo de 409 deputados. Não será impossível dialogar com o PDT — e se salta para 428. A oposição sistemática a um eventual presidente tucano viria mesmo dos 70 deputados do PT, dos 5 do PSOL e, talvez, mas não com tanta certeza, dos 10 do PCdoB.
Mas que se note: não acho que Aécio, se eleito, deva repetir o erro da presidente Dilma de criar a maior base congressual da história do Ocidente. Isso não é necessário. É possível fazer negociações pontuais com os partidos a partir de propostas programáticas, sim. Afinal vocês sabem que a arte de vender e de se vender sempre depende da disposição de quem quer comprar. O que estou demonstrando aqui é que é bobagem a história de que, se eleito, Aécio poderia ter problemas no Congresso. Não teria.
Senado
Os partidos que apoiaram Dilma têm hoje 52 senadores e passarão a ter 53; os que apoiaram Aécio tem 22 e ficarão com 19. O PSB, no entanto, que esteve com Marina, saltou de 4 para 7. O PMDB e o PT perderam um senador cada um, passando, respetivamente, para 18 e 12 parlamentares. O PSDB caiu de 12 para 10, e o PTB, de 6 para 3. O PCdoB também murchou: tinha 2 e contará com apenas 1. Além do PSB, ganharam parlamentares o PDT, de 6 para 8; o PSD, de 1 para 3, e o DEM, de 4 para 5. Vejam quadro.
Dilma, se eleita, continua com uma base sólida. Mas Aécio também não teria grandes dificuldades para negociar. PT, PC do B e PSOL (14 parlamentares) certamente ficariam na oposição. Sobrariam 67 senadores para dialogar.
O que estou dizendo, meus caros, é que tanto Dilma como Aécio conseguiriam fazer maiorias folgadas no Congresso, inclusive para encaminhar reformar constitucionais. Boas reformas se o governo for bom; más reformas se o governo for mau.
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
Eleicoes 2014: reacionarios insistem na mentira; progressistas olham para a frente
“Sabemos que o Brasil sinalizou que não concorda com o que está aí, e sabemos que uma boa parte do Brasil, desde 2010, vem dando sustentação a uma mudança que seja qualificada. A postura que eu tive quando não foi aceito registro da Rede pode ser uma tendência. Eu assumi um compromisso com a mudança indo apoiar o Eduardo Campos (…) O Brasil sinalizou que não concorda com esse projeto, que quer uma mudança qualificada, temos uma clareza do que representamos. Nós vamos fazer essa discussão, os partidos individualmente, e depois vamos dialogar, mas, estatisticamente, a sociedade mostra isso, não há de tergiversar com o sentimento de 60% dos eleitores”
Ora, as palavras fazem sentido, não é mesmo? Marina, assim, deixa claro, com todas as letras, que tanto Aécio Neves, do PSDB, como ela própria representam a mudança. É cedo para dizer se ela vai dar um apoio formal ao candidato tucano, mas a sua fala parece apontar para isso. E que fique claro: na nova ou na antiga políticas, um apoio no segundo turno não implica, necessariamente, se comprometer com o futuro governo. Aliás, o primeiro turno de uma eleição pede o voto da convicção; o segundo, o da possibilidade, De resto, Marina não deve ignorar que a sua meteórica ascensão, logo depois de se fazer candidata, se deu com os votos daqueles que estavam interessados em apear o PT no poder. Parte deles voltou ou migrou para Aécio. Mas um mesmo sentimento une os dois eleitorados.
Aécio também fez um aceno à união, embora não tenha se referido diretamente a Marina Silva — e nem seria o caso. Disse: “A minha primeira constatação é que este sentimento de mudança amplamente presente no Brasil foi vitorioso no primeiro turno. Os candidatos de oposição somados foram vitoriosos, tiveram a maioria dos votos. E é isso que nós temos que buscar agora no segundo turno. Eu me sinto extremamente honrado em ser o representante desse sentimento nessas três semanas que nos separam da eleição”, afirmou.
O tucano mandou a mensagem também a Pernambuco, que votou esmagadoramente com Marina e elegeu um senador do PSB: “A ele [Eduardo Campos], aos seus ideais e aos seus sonhos também, a minha reverência. E nós saberemos transformá-los em realidade. Portanto, é hora de unirmos as forças. A minha candidatura não é mais a candidatura de um partido político ou de um conjunto de alianças. É um sentimento mais puro de todos os brasileiros que ainda têm capacidade de se indignar, mas principalmente a capacidade de sonhar”.
Aécio sabia bem, enquanto falava, que, mesmo no PSDB, ele chegou a ser, num dado momento, um dos poucos que ainda acreditavam. Não tergiversou em nenhum momento, não fraquejou, não desanimou. Enfrentou, sim, Marina Silva — afinal, havia uma única vaga em disputa no segundo turno, mas foi um confronto leal.
Dilma Rousseff, a presidente-candidata do PT, certamente surpresa — com o seu desempenho bem abaixo do que indicavam as pesquisas, e com o de Aécio bem acima —, foi a que transmitiu mais tensão no discurso, no tom e na aparência. Mesmo no que deveria ser uma fala de agradecimento, percebeu-se, mais uma vez, a pregação do medo. Disse: “O povo brasileiro não quer de volta o que nós podemos chamar de fantasmas do passado, que quebraram esse País três vezes, com juros que chegaram a 45%, desemprego massivo, arrocho salarial e jamais promoveram, quando tiveram a oportunidade, políticas de inclusão social e redução da desigualdade”.
Bem, o Brasil não quebrou três vezes; o aumento real de salário mínimo foi maior nos governos FHC do que no da própria Dilma, e o controle da inflação significou, com o Plano Real, uma das medidas mais efetivas em favor da inclusão social de que se têm notícia. Mas não me estenderei sobre isso agora. O que foi verdadeiramente notável no discurso da presidente foi a promessa de que ela fará um governo diferente. Insistiu muito que será uma gestão nova, com ideias novas e pessoas novas. Chegou a afirmar que entendeu o recado das urnas. Ou por outra: Dilma prometeu que, se reeleita, não dará continuidade ao governo… Dilma!
Já deu para sentir o que vem por aí. Aécio, com o possível apoio de Marina, tentará fazer uma disputa sobre o futuro do país, e Dilma insistirá em travar uma batalha de versões sobre o passado. O eleitor terá de optar entre os discursos progressista e reacionário.
Eleicoes 2014: o partido do atraso, do medo, da chantagem, os mafiosos neobolcheviques
Votos de pessoas beneficiadas e não-beneficiadas por políticas assistencialistas valem igualmente. Ainda bem! Assim deve ser numa democracia. Votos de pessoas mais sujeitas e menos sujeitas às chantagens oficiais valem igualmente. Ainda bem! Assim deve ser numa democracia. Votos de pessoas suscetíveis a pregações terroristas e não suscetíveis valem igualmente. Ainda bem! A democracia não tem de criar restrições para o livre exercício da escolha. Mas isso não nos impede de fazer um diagnóstico.
O PT já é o maior partido de grotões do Brasil democrático em qualquer tempo. Querem ver? Dilma venceu em 15 Estados: oito estão no Nordeste, quatro no Norte, dois no Sudeste e um no Sul. Essas três exceções parecem negar a tese, mas só a confirmam. Explico por quê. Em Minas, a petista teve 43,48%, não tão distante de Aécio Neves, com 39,75%; Marina obteve 14%. No Rio, a candidata do PT alcançou 35,62%, quase o mesmo tanto da peessebista, com 31,07%; o tucano chegou a 26,84%. Os gaúchos deram à presidente-candidata 43,21%, quase o mesmo tanto que ao senador mineiro: 41,42%. Vale dizer: a vantagem do petismo não é acachapante.
Onde é que Dilma, de fato, fez a diferença e arrancou a primeira colocação: em oito estados nordestinos — a exceção é Pernambuco — e nos quatro nortistas. Nesse grupo, pasmem, a sua menor marca foi Alagoas, com 49,95%, e a maior foi no Piauí, o segundo estado com os piores indicadores sociais do país: 70,6%. A segunda maior foi no Maranhão, com 69,56% — sim, é a unidade da federação socialmente mais perversa. Assim, os dois Estados que oferecem a pior qualidade de vida à sua população são os mais “dilmistas”. Atentem para o desempenho da petista nos demais, em ordem decrescente: Ceará: 68,3%; Bahia, 61,4%; Rio Grande do Norte, 60,06%; Paraíba, 55,61%; Sergipe, 54,93%; Amazonas, 54,53%; Pará, 53,18%, Amapá, 51,1% e Tocantins: 50,24%.
Aécio obteve a sua melhor marca em Santa Catarina, com 52,89% dos votos, seguido por Paraná, com 49,79%. O Mato Grosso vem em seguida, com 44,47%, e eis que surge São Paulo, com 44,22%. O Estado deu a Aécio 10.152.688 dos seus 34.897.196 votos — isso corresponde a 29% do total; quase um terço. Minas, até agora, está em falta com Aécio. São Paulo não! Azulou de vez. Vejam o mapa.
O Distrito Federal, que conhece bem o PT porque governado pelo partido e porque muito próximo de Dilma, deu à presidente o seu menor percentual: só 23,02%; o segundo menor foi justamente o colhido em terras paulistas: 25,82%.
Dois mapas ajudam a comprovar o que aqui se diz. Vejam o que aconteceu na Bahia — nas áreas em vermelho, o PT venceu:
Agora vejam Minas. Como se nota, é a “Minas Nordestina” — ou baiana — que vota majoritariamente com Dilma.
Muito bem! Aonde quero chegar? É evidente que os petistas colhem hoje os seus melhores resultados nas regiões do país que são mais dependentes do Bolsa Família. Isso não quer dizer, é evidente, que o programa tenha de acabar. Quer dizer apenas que ele precisa existir não como instrumento de um partido, mas como uma política de estado. Não é segredo para ninguém que, pela terceira eleição consecutiva, o terrorismo correu solto nas áreas mais pobres do país: “Se a oposição ganhar, o Bolsa Família vai acabar”. Ora, não era exatamente esse o sentido da campanha eleitoral do PT quando se referia à independência do Banco Central por exemplo? Se vier, assegura-se por lá, haverá fome. É um disparate.
Eis aí mais uma impressionante ironia da história, não é? O PT, que nasceu para ser o partido das massas urbanas trabalhadoras, é hoje uma legenda que se enraíza nos grotões e que arranca a sua força do subdesenvolvimento minorado pela caridade de Estado transformada em moeda política. Há uma grande diferença entre ter o voto dos pobres e chantagear os pobres com o discurso do medo.