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quinta-feira, 13 de março de 2014

Venezuela: segue o caminho da Argentina no maior calote da historia economica

O governo bolivariano prepara-se para aplicar um calote de proporções bilionárias, talvez não tão importante, em magnitude, ao que a Argentina aplicou aos seus credores em 2001 -- ou seja, aos detentores de bônus da dívida argentina, pagos à razão de apenas 30 centavos por cada dólar emitido -- mas igualmente relevante, e ainda mais significativo, por não incidir sobre "poupança" acumulada de privados e investidores institucionais (ou seja, estoque de recursos), mas sobre fluxos correspondentes a operações reais no mundo do comércio (bens e serviços efetivamente transacionados).
O que a Argentina fez, em 2001 -- e por isso ela paga um preço até hoje -- foi atuar no âmbito da sua balança de capitais, ou seja, transações puramente financeiras ou compensatórias.
O que a Venezuela está pretendendo fazer agora é atuar sobre a balança de transações correntes, ou seja, dar calote a pagamento de fatores, o que formalmente seria sancionado pelo FMI.
Acredito que se trata de sequestro econômico ainda mais grave, e deve atingir igualmente empresas brasileiras.
Vamos ver como reage o governo companheiro a esse novo atentado do governo bolivariano contra os interesses legítimos das empresas brasileiras.
Segundo um analista, "o governo venezuelano "ignora tratados internacionais e está tornando mais difícil para as companhias manterem seus compromissos naquele mercado".
No que se refere a empresas brasileiras, vejamos esta informação: 
"Em balanço relativo ao terceiro trimestre de 2013, a Latam, maior companhia aérea da América Latina e dona da brasileira TAM e da chilena LAN, afirma que seu caixa "sujeito a restrições" na Venezuela subiu de R$ 104,9 milhões no fim de 2012 para R$ 314 milhões (US$ 133 milhões no câmbio de ontem). O número é próximo ao fornecido por uma fonte do governo brasileiro ao Valor, que disse ter tomado conhecimento de que a Latam tem US$ 120 milhões em dividendos retidos no país e a Gol, outra aérea brasileira que opera ali, US$ 60 milhões. Os números também levam em conta o câmbio oficial."
Pois é. Chega um momento em que as empresas vão parar de operar na Venezuela ou para a Venezuela.
Paulo Roberto de Almeida 

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Múltis temem perdas bilionárias na Venezuela

As recentes mudanças no sistema cambial da Venezuela podem gerar perdas bilionárias para as multinacionais que operam no país e precisam remeter divisas às suas matrizes no exterior. Segundo estimativa da consultoria Ecoanalítica, de Caracas, há cerca de US$ 10,5 bilhões em dividendos represados no país, levando-se em conta a taxa oficial, controlada, de 6,30 bolívares. A Datanálisis, também venezuelana, estima que o volume retido chegue a US$ 12 bilhões.
Mas esse valor pode praticamente evaporar caso as empresas sejam obrigadas, conforme sinaliza o governo, a recorrer ao Sicad 2, um novo mercado de compra e venda de dólares que entrará em vigor nos próximos dias.
O Sicad 2 relaxa os controles do governo sobre o câmbio, permitindo a pessoas físicas e jurídicas trocarem dólares entre si - o que estava proibido desde 2010. Cria-se, assim, uma terceira faixa cambial no país. Além da oficial, utilizada sobretudo para compras de produtos essenciais pelo governo, há o Sicad 1, que distribui dólares em um sistema de leilões, a uma cotação de cerca de 11 bolívares.
Diferentes analistas estimam que a moeda americana deverá ser negociada no Sicad 2 numa faixa entre 20 e 60 bolívares. Como um dos objetivos do governo é combater o mercado negro - onde o dólar já chegou a rondar a faixa dos 90 bolívares -, acredita-se que ela seja negociada no Sicad 2 perto da banda mais alta das previsões.
É justamente esse o temor das companhias. "Enquanto as empresas multinacionais estão cheias de bolívares e querem comprar moeda estrangeira, se a taxa de referência não é de 6 [bolívares por dólar], mas 60, sua compra é diluída em dez", disse Luis Vicente León, da consultoria Datanálisis, em sua conta no Twitter. "Se o governo decide que as multinacionais devem comprar seus dividendos no Sicad 2 e a taxa é 60, a dívida baixa de US$ 12 bilhões para US 1,2 bilhão."
A consultoria venezuelana Hinterlaces afirma que a última aprovação dada pelo governo venezuelano para a repatriação de divisas por empresas estrangeiras ocorreu no ano de 2011, com um total de US$ 81,9 milhões liberados. Segundo a Hinterlaces, há casos de empresas que esperam há sete anos para fazer essas remessas.
Um dos setores mais afetados é o da aviação civil. Ontem, o diretor-geral da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), Tony Taylor, disse em Genebra que os recursos bloqueados das empresas que operam no país chegam a US$ 3,7 bilhões. O cálculo considera o dólar oficial, de 6,30 bolívares.
Levando-se em conta os cálculos dos analistas, o montante cairá a US$ 1,16 bilhão, na melhor das hipóteses - um câmbio de 20 bolívares por dólar no Sicad 2. Se a moeda americana for negociada por 60 bolívares no novo mercado, o montante a ser repatriado será de apenas US$ 388 milhões.
Sem citar o novo tipo de câmbio, Taylor reclamou que o governo venezuelano "ignora tratados internacionais e está tornando mais difícil para as companhias manterem seus compromissos naquele mercado". Ele afirmou que algumas das 24 companhias que operam no país já limitaram a frequência de conexões e já deixaram de vender passagens internacionais na Venezuela. Taylor deu a entender, além disso, que pode haver uma paralisação de voos para o país, mas afirmou que essa é uma decisão individual das empresas.
"Negociações duram vários meses. E nossa preocupação é que, se a Venezuela mantém essa situação, será complicado, porque todos os países precisam de conexões na economia globalizada", afirmou. "Já fizemos intervenções diretas junto ao presidente [Nicolás] Maduro, para ele atuar pessoalmente para resolver esse problema, mas até agora não houve resultados."
Segundo a Iata, o impacto do dinheiro retido na Venezuela é enorme, considerando que toda a indústria aérea terá lucro de apenas US$ 18,7 bilhões globalmente.
Em balanço relativo ao terceiro trimestre de 2013, a Latam, maior companhia aérea da América Latina e dona da brasileira TAM e da chilena LAN, afirma que seu caixa "sujeito a restrições" na Venezuela subiu de R$ 104,9 milhões no fim de 2012 para R$ 314 milhões (US$ 133 milhões no câmbio de ontem). O número é próximo ao fornecido por uma fonte do governo brasileiro ao Valor, que disse ter tomado conhecimento de que a Latam tem US$ 120 milhões em dividendos retidos no país e a Gol, outra aérea brasileira que opera ali, US$ 60 milhões. Os números também levam em conta o câmbio oficial.
Pelos cálculos da Câmara de Indústria e Comércio Venezuelano-Brasileira (Cavenbra), há entre US$ 300 e US$ 400 milhões em dividendos de empresas brasileiras represados no país.
A migração para o Sicad 2 também pode multiplicar as perdas milionárias esperadas por empresas de consumo que atuam no país. A Colgate-Palmolive, que tem na América Latina seu principal mercado, responsável por 29% do faturamento, já estimava perdas após impostos de US$ 180 milhões a US$ 200 milhões com a Venezuela no primeiro trimestre, por conta da migração para o Sicad 1, no qual o bolívar é cotado a quase o dobro do valor oficial. Em 2013, a empresa deduziu US$ 172 milhões do balanço com o câmbio venezuelano. No Sicad 2, a perda pode chegar a US$ 1,02 bilhão, se for considerado o teto de 60 bolívares.
A Procter & Gamble (P&G), maior fabricante de bens de consumo do mundo, estimava em fevereiro perdas de US$ 230 milhões a US$ 280 milhões depois de impostos em 2014, por conta da nova taxa de 11 bolívares por dólar. No topo das expectativas do mercado para o Sicad 2, a empresa acumularia despesas de até US$ 1,47 bilhão.

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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Argentina vs holdouts: Corte Suprema dos EUA vai decidir sobre o caso

La Corte Suprema de EEUU aceptó un caso argentino contra los holdouts

Si bien no es la causa principal, el máximo tribunal estadounidense aceptó un proceso de litigio entre el país y tenedores de bonos. Se intenta frenar un pedido de los acreedores.
InfoNews, 10/01/2014

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La Corte Suprema de los Estados Unidos aceptó hoy analizar una apelación de la Argentina que busca impedir que la justicia de ese país ordene que el Bank Of America y el Banco Nación entreguen a los holdouts información sobre activos embargables.
Según reportes de agencias internacionales, el máximo tribunal de los Estados Unidos decidió estudiar una causa derivada de la causa madre que es la violación del "pari pasu" (igualdad en el tratamiento de acreedores) sobre la cuál aún no se pronunció.
Los holdouts le solicitaron a la justicia de los Estados Unidos que obligue al Bank Of America y al Banco de la Nación a suministrar información sobre activos embargables del país para garantizar el cobro de los 1.300 millones de dólares, derivados de fallos favorables.
Argentina apeló a la cláusula de "inmunidad soberana" de sus activos fuera de los Estados Unidos como defensa a la presentación de los holdouts.
No obstante, cabe aclarar que esta decisión no incluye a la causa central en la que la Corte Suprema de los Estados Unidos debe decidir si acepta rever fallos de primera y segunda instancia que obligan al país a la cancelación de 1.300 millones de dólares a holdouts en un solo pago y en efectivo.
Según la agencia de noticias especializada Bloomberg, en el fallo la Corte dice que se "exige indebidamente información sobre los activos en poder de los bancos en cuentas fuera de Estados Unidos".
"La ley de Inmunidad Soberana Extranjera de EE.UU. prohibiría que los tenedores de bonos tomen activos del país en el extranjero", dice la resolución de la Corte.
"Un mercado que funciona bien para la deuda soberana depende de la confianza de los inversores de que serán capaces de hacer cumplir los acuerdos de préstamos con el extranjero - y recoger en cualquier sentencia obtenida", dijo el fondo NML, según reproduce la agencia Bloomberg.
La ley de Inmunidad Soberana Extranjera de EE.UU. prohibiría que los tenedores de bonos tomen activos del país
La Corte Suprema actuó después de que el Fiscal General de EEUU, Donald Verrilli, se uniera al pedido de la Argentina para instar a los jueces a que tomen en estudio este caso. Verrilli dijo en documentos judiciales que el pedido de los holdouts "no es propio en la medida en que se dirigen a los bienes situados fuera de los Estados Unidos".
En un caso separado, el de mayor perfil y el que tiene al país en vilo por un eventual default, la Argentina está luchando contra una orden judicial que prohíbe al país de hacer los pagos de la deuda reestructurada a menos que pague los tenedores de los bonos en default. Argentina tiene hasta febrero para presentar una apelación ante la Corte Suprema en ese caso.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Argentina: caminhando para um novo calote da divida em 2014? - TheEconomist

Argentina to reopen debt swap

The Economist, August 27, 2013

Event
In late August a US appeals court upheld the ruling of a New York court, which forces Argentina to repay litigant "holdout" creditors (who did not accept the terms of debt restructurings in 2005 or 2010) in full. The government has responded by announcing a reopening of the 2010 debt exchange.
Analysis
The US appeals court decision will not be enforced until the US Supreme Court decides whether it will take up a request by Argentina to review the case. Legal experts have suggested that the Supreme Court is unlikely to reverse the appeals court decision, and may not take up the case. Probable delays in the legal process mean that a decision is unlikely before early 2014.
In the interim period, the government appears to be trying to encourage holders of restructured debt voluntarily to agree to exchange their bonds issued under New York law for local jurisdiction bonds. Although Argentinian officials have suggested that they want the 7% of creditors who had not yet restructured their debts to join in the swap, this is extremely unlikely, especially after the US appeals court decision in favour of litigant holdouts. Instead, the authorities appear to be attempting to avoid payment disruptions to current creditors in the likely event that Argentina refuses to comply with an unfavourable court ruling.
By agreeing a voluntary restructuring, Argentina will hope to avoid a technical default. However, it is unclear whether the swap of foreign-jurisdiction bonds with local-jurisdiction bonds (terms that would be considered prejudicial)—when the alternative appears to be non-payment of New York law bonds—constitutes a voluntary restructuring.
Impact on the forecast
The Argentinian authorities continue to stress that they will not pay litigant holdout creditors in full, regardless of any US court ruling. Meanwhile, legal experts suggest that a favourable ruling for Argentina from the US Supreme Court is unlikely. Under these circumstances, we continue to believe that, despite the reopening of the debt swap, there is a strong risk of technical default by Argentina, although this now appears unlikely to happen until 2014.

Argentina: como estender uma decadencia que ja dura 80 anos: dois momentos da crise da divida

Sobre la deuda de Argentina 
El video abajo muestra cuando el presidente interino de Argentina, Adolfo Rodríguez Saá (fue presidente durante una semana) anuncia en el Congreso en diciembre de 2001 que Argentina dejaría de pagar su deuda —el default soberano más grande de la historia. Rodríguez fue interrumpido por una ovación y cantos de “¡Argentina! ¡Argentina!”
Una década después, en mayo de 2012, el Congreso de Argentina aprobó de manera abrumadora la expropiación (sin compensación hasta la fecha) de Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF), la empresa petrolera más grande del país, cuyo paquete accionario mayoritario pertenecía a la empresa española Repsol. Cuando el voto de 207 versus 32 fue anunciado, estalló una celebración con diputados abrazándose y cantando:
Esta es solo una muestra de lo débil que es el Estado de Derecho en Argentina.
Este lunes, Buenos Aires anunció que reabrirá el canje de 2010 a través del cual reestructuró su deuda reemplazando bonos viejos con bonos nuevos con un descuento considerable. El anuncio llegó ante la probable decisión por parte de la Corte Suprema de EE.UU. (EE.UU. tiene jurisdicción sobre la deuda emitida bajo la legislación de Nueva York, como sucede en este caso) de no revertir la decisión de una corte de apelaciones que establece que el gobierno argentino primero debe pagar a los acreedores que reclamaron el valor negociado inicialmente, esto es, los tenedores de bonos que no aceptaron los términos de los anteriores canjes de deuda. El gobierno argentino ha declarado de manera categórica que no les pagará.
En un intento por evitar un default técnico, Argentina ofrecerá a los tenedores de bonos que aceptaron los canjes de deuda de 2005 y 2010 nuevos bonos emitidos bajo jurisdicción argentina. El Economist Intelligence Unit tiene un buen análisis de este caso aquí(en inglés).
Los tenedores de bonos argentinos ahora se enfrentan a una disyuntiva terrible: o retienen sus bonos emitidos en EE.UU. y se enfrentan a un probable default, o aceptan la oferta de Argentina de nuevos bonos emitidos bajo la “protección” de las poco confiables instituciones legales y políticas de ese país.
Antes de aceptar la oferta, los tenedores de bono deberían recordar el cántico: “¡Argentina! ¡Argentina!”

domingo, 3 de novembro de 2013

Venezuela nega o que de fato pratica: calote nos seus pagamentos externos (Brasil primeiro)


BBC-Brasil, 31/10/2013

O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Elias Jaua, negou que a crise de desabastecimento que atinge o país tenha virado ponto de tensão na relação com o Brasil.
Em entrevista à BBC Brasil, ele desmentiu que o desembarque em Caracas de uma comissão especial enviada por Brasília tenha tido como objetivo a cobrança de dívidas do governo venezuelano com empresários brasileiros.
“A presidente Dilma (Roussef) enviou uma comissão para ver de que maneira podemos ampliar as importações e fazer frente à guerra econômica que estamos enfrentando”, afirmou o ministro Jaua. “Em nenhum momento foi tratado este assunto (dívida)”, acrescentou.
Jaua rebateu rumores sobre uma mudança de tom por parte da diplomacia brasileira logo após recepcionar os ministros colegas do Mercosul em uma cúpula do bloco na Casa Amarela, sede da chancelaria.
Segundo a imprensa brasileira, a comissão foi enviada a Caracas para cobrar calotes de pagamentos de exportações do Brasil feitas neste ano.
Jaua também minimizou o atraso no pagamento das faturas das importações brasileiras. Empresários não revelam o total da dívida, mas somente neste ano, o Brasil exportou US$ 3,1 bilhões à Venezuela.
“Não há nada diferente” no ritmo habitual do pagamento das faturas, afirmou o chanceler. Jaua disse que detalhes da balança comercial não são de competência da sua pasta, mas admitiu que pode haver dificuldades no pagamento devido às restrições para o acesso à divisas.
“Temos problemas com a concessão de divisas para importações, mas o governo está trabalhando para solucionar isso”, afirmou.

Controle cambial
O governo acusa empresários que, para importar alimentos, têm acesso ao dólar oficial, de guardar as divisas no exterior ou vendê-las no mercado paralelo, em vez de usá-las para a compra de produtos de primeira necessidade para abastecer o país.
Já os empresários venezuelanos dizem que a política de controle de divisas do governo tem impedido acesso aos dólares necessários para pagar suas dívidas.
O ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, esteve em Caracas na semana passada, acompanhado do assessor especial para assuntos internacionais da presidência do Brasil, Marco Aurélio Garcia. Publicamente, Pimentel manteve o discurso do governo e disse que o Brasil ajudaria a Venezuela a “vencer” a “guerra econômica”.
“Fizemos os planos para que, de maneira imediata, os produtos que fazem falta na Venezuela para esta conjuntura saiam do Brasil”, afirmou, após reunião com o presidente Nicolás Maduro, no dia 21.
“Ativamos de imediato planos especiais para conseguir o superabastecimento de produtos-chave que foram golpeados por essa guerra econômica de especulação”, acrescentou.
O diretor da Câmara de Comércio Venezuela-Brasil, Fernando Portela, disse que apesar de haver atrasos no pagamento de algumas faturas, o Brasil está mais preocupado em ampliar as exportações para o vizinho caribenho e frear a entrada de produtos chineses no mercado venezuelano.
“Nessa situação, o Brasil não pode vir puxar as orelhas do governo venezuelano, a mensagem vem em outro sentido”, disse Portela à BBC Brasil.

Queda no comércio
Um fator de preocupação para o Brasil seria a queda de 17% no comércio bilateral neste ano. Em 2012, o Brasil exportou US$ 5 bilhões à Venezuela.
Apesar da queda nos números em geral, a importação dos produtos essenciais para combater a escassez, como carne bovina, carne de frango, açúcar e medicamentos, cresceu cerca de 30%.
O setor de alimentos, que corresponde a cerca de 40% das importações brasileiras, tem sido “beneficiado” com a crise de abastecimento: as faturas demoram entre dois a três meses para serem saldadas, o que é visto como um tempo “razoável” por um negociador brasileiro.
De acordo com o empresário, os setores automotriz e de construção chegam a esperar até um ano para receber o acumulado da dívida. “Esses atrasos têm prejudicado a produção de muitas empresas que começam a se questionar se vale a pena seguir exportando para a Venezuela ou não”, afirmou o empresário.

Desabastecimento
A crise de desabastecimento de alguns produtos da cesta básica são o principal reflexo da crise econômica que os venezuelanos enfrentam. Com uma inflação acumulada de mais de 40%, a população tem que visitar diferentes supermercados e enfrentar longas filas para conseguir comprar os produtos com preços congelados, como o açúcar, óleo de soja, arroz, papel higiênico e margarina.
Para o governo, empresários e opositores são os responsáveis pela escassez ao promover uma “guerra econômica”, estocando alimentos e diminuindo a produção.
Empresários, por sua vez, afirmam que dificuldades no acesso às divisas para importação e a aplicação da lei trabalhista — que proíbe demissões de funcionários de baixo e médio escalão — inibe novos investimentos e desestimula a produção instalada.
Frear o desabastecimento e conter a inflação é um dos desafios do governo, que disputará sua hegemonia nas eleições regionais de dezembro, que escolherão prefeitos e vereadores. O pleito é visto como um teste da força do chavismo pós-Hugo Chávez, morto em março.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A insustentavel lerdeza do crescimento brasileiro

ENunca, em nenhum lugar do mundo, um país cresceu de maneira sustentável, na base de estímulos ao consumo, em lugar de investimentos na infraestrutura e na produção. Os sábios econômicos companheiros achavam que tinham inventado o moto perpétuo.
Paulo Roberto de Almeida


Dívida dos brasileiros é alerta para outros países emergentes

Odete Meira da Silva teve que interromper a construção de sua casa por causa das dívidasPhoto: Rodrigo Marcondes para o The Wall Street Journal

Como milhões de pessoas pobres fizeram durante o boom de dez anos da economia brasileira, Odete Meira da Silva tomou empréstimos para acelerar a sua ascensão à classe média. Mãe solteira, ela comprou um computador, uma TV de tela plana e começou a construir uma casa num bairro violento da periferia de São Paulo.
Mas a farra dos gastos acabou. Essa pequena comerciante de 56 anos de idade está agora preocupada com um lado menos charmoso da vida da classe média: as dívidas. Depois que suas contas de cartão de crédito ultrapassaram o valor que conseguia pagar, Silva reduziu todas as despesas e interrompeu a construção da casa. Recentemente, via-se na sua casa uma escada rústica de cimento se erguendo da sala de estar até um segundo andar inacabado. É uma imagem da sua própria escalada na economia brasileira: só até a metade.
"Ainda pretendo terminar a casa, mas isso vai ter que ser feito pouco a pouco, talvez em mais três anos", disse ela.

Os problemas de Odete Silva com suas dívidas ajudam a explicar por que o crescimento brasileiro, antes impressionante, vem perdendo fôlego e não deve se recuperar tão cedo. Muitos estrangeiros imaginam que o Brasil, um dos maiores produtores mundiais de soja e minério de ferro, seja um país pobre que depende da venda de commodities para sobreviver. Mas são os novos consumidores como Odete Silva que alimentaram boa parte da recente expansão econômica do país, enquanto o crédito ao consumidor mais que dobrou, para cerca de US$ 600 bilhões em cinco anos.
Agora, muitos desses novos compradores estão sofrendo com o uso excessivo do cartão de crédito. Alguns estão atrasando os pagamentos dos cartões, que chegam a cobrar 80% de juros anuais ou mais. Diante da inadimplência crescente, os bancos agora hesitam em emprestar.
Como resultado, o índice de aumento do consumo é o menor desde 2004. Isso está se juntando a outros problemas, incluindo exportações mais fracas para a China e uma queda na produção industrial causada pela valorização do real , fatores que já estavam desacelerando a economia brasileira. Com a confiança do consumidor em declínio, o PIB brasileiro deve crescer 2,4% este ano, após atingir 7,5% em 2010.
Para complicar as coisas, a explosão do consumo no Brasil provocou uma inflação de 6% ao ano, com a demanda pelos bens superando a capacidade da economia de fornecê-los. Isso colocou o Banco Central na incômoda posição de ter que aumentar os juros para controlar a inflação em meio a uma economia já lenta — iniciativa que pode desacelerar ainda mais o crescimento. Os economistas esperam que o BC eleve a taxa de juros básica, a Selic, que já está em elevados 9% ao ano, em meio ponto percentual na reunião de hoje.
Os problemas do Brasil representam um alerta a outros mercados emergentes envolvidos numa das mais fascinantes narrativas econômicas dos últimos dez anos: a ascensão dos consumidores à classe média nos países em desenvolvimento.
Do Brasil à Indonésia e à África do Sul, o crescimento mais rápido tirou milhões da pobreza nos últimos dez anos, trazendo mais pessoas para a classe média e iniciando muitas delas no crédito. Mas enquanto os economistas em geral veem essa expansão do crédito como um fato positivo, o caso brasileiro mostra como o crescimento da classe média também pode sair dos trilhos devido a dívidas em excesso.
Na Tailândia, a dívida das famílias aumentou 88% entre 2007 e 2012, em parte devido aos programas governamentais de estímulo às vendas de automóveis. Na África do Sul, os empréstimos ao consumidor chegaram a quase 40% do PIB, mais que o dobro da média de outros países em desenvolvimento. Os consumidores russos gastaram quase 80 % a mais nos seus cartões de crédito em 2012 do que no ano anterior.
Por outro lado, na China, onde os trabalhadores são conhecidos pelo hábito de poupar, não de tomar empréstimos, o governo agora tenta incentivar a população a consumir mais para prolongar sua expansão econômica.
Mas os problemas do Brasil com o crédito ao consumidor se destacam entre as grandes economias em desenvolvimento. O crédito à pessoa física cresceu a uma taxa média anual de 25% nos quatro anos após a crise financeira mundial de 2008. Em junho de 2013, cerca de 5% dos empréstimos a pessoas físicas estavam com 90 dias de atraso, o dobro da taxa da Índia e maior que a do México, África do Sul e Rússia, segundo a Fitch Ratings.
"Todas essas pessoas estão gastando mais do que têm, criando uma ilusão de crescimento econômico", disse Vera Pereira, diretora executiva do Procon de São Paulo.
Parte do problema, dizem alguns economistas, é que o Brasil se concentrou demais em políticas destinadas a aumentar o consumo em vez de construir portos e estradas que beneficiem a produção econômica no longo prazo. Os brasileiros compraram muitas TVs de tela plana durante o boom, mas os portos do país continuam tão congestionados que alguns navios dão meia volta e vão embora em vez de esperar.
"O endividamento externo do Brasil foi gasto em viagens para a Disneilândia e malas cheias de compras vindas diretamente de Nova York ou Miami", disse Paulo Leme, que dirige os negócios do Goldman Sachs no Brasil. "Isso terá consequências no futuro."
As autoridades brasileiras dizem que pôr a culpa dos recentes problemas econômicos do país em políticas equivocadas é é absurdo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e outros dizem que a economia brasileira simplesmente foi apanhada numa desaceleração mundial e que a situação estaria ainda pior sem os incentivos ao consumo.
Não se espera que os problemas de crédito do Brasil façam o país voltar a uma crise como as que destruíram a classe média em gerações passadas, dizem os economistas. O total de empréstimos bancários pendentes no Brasil, incluindo as dívidas comerciais e de consumo, chega a cerca de 55% do PIB, índice baixo pelos padrões internacionais.
Além disso, os bancos brasileiros têm grandes reservas de capital, o que deve ajudar o país a enfrentar uma crise mais profunda. As reservas do Banco Central, de US$ 372 bilhões, são dez vezes maiores que há dez anos.
Mesmo assim, as preocupações com as dívidas dos consumidores levaram muitos a repensar até onde a nova classe média brasileira vai crescer e com qual rapidez. O percentual da renda familiar destinada a pagar dívidas é extraordinariamente alto: no Brasil, chega a mais de 20% da renda familiar, segundo dados do banco central, em comparação com 10% nos EUA, de acordo com o banco central americano.
Isso acontece, em grande parte, porque as taxas de empréstimos no Brasil são altíssimas, uma herança de muitas crises econômicas. Os juros de um empréstimo típico é de 37% ao ano.
Além disso, o perfil da dívida brasileira não é tão saudável como em países como os Estados Unidos. Grande parte do endividamento nos EUA consiste em hipotecas, algo visto como economicamente mais saudável, já que o preço dos imóveis pode subir. Mas no Brasil o mercado de hipotecas habitacionais é muito pequeno. O consumidor brasileiro se endividou, em grande parte, para comprar carros e eletrodomésticos — bens que se desvalorizam.
As vendas de automóveis mostram bem o que ocorreu com a explosão do crédito. Os empréstimos para compra de veículos mais que triplicaram entre 2004 e 2010, para cerca de US$ 70 bilhões por ano, à medida que consumidores ansiavam por ter um carro – um dos principais símbolos da vida de classe média. Os bancos estavam financiando carros sem entrada, prática antes impensável no país.
No ano passado foram emplacados 2,9 milhões de carros novos no Brasil, um aumento de 130% em relação a dez anos atrás.
O governo se esforçou para expandir o consumo na esperança de reduzir a diferença, historicamente muito grande, entre ricos e pobres no Brasil. A estratégia ajudou a elevar o padrão de vida e estimulou o crescimento.
Mas o governo não acompanhou suas iniciativas favoráveis ao consumo com medidas para melhorar a produtividade e o crescimento de longo prazo, segundo muitos economistas.
Resultado: o consumo continuou crescendo, mesmo quando o restante da economia dava sinais de fraqueza devido ao declínio nos preços das commodities e à supervalorização da moeda. Em 2012, os turistas brasileiros, muitos viajando para o exterior pela primeira vez, foram dos que mais gastaram entre todos os turistas estrangeiros em Nova York, segundo autoridades da cidade. No Brasil, porém, a produção industrial encolheu, com as empresas perdendo terreno para concorrentes globais.
Esse descompasso entre a demanda dos consumidores e a produção econômica alimentou a inflação, dizem economistas.
"O governo insiste em incentivar as pessoas a consumir, mas por outro lado a oferta, as indústrias, as empresas, não vêm produzindo tanto assim", disse Samy Dana, professor da Fundação Getúlio Vargas.
E o governo já sinalizou planos para continuar estimulando o consumo. A presidente anunciou há pouco um aumento do salário mínimo e um plano para fornecer mais US$ 8 bilhões em crédito para famílias de baixa renda.
O BNDES informou que o montante dos seus empréstimos vai subir 22% este ano, depois de aumentar 12,3% em 2012.
A presidente Dilma Rousseff anunciou em setembro que o governo emprestou cerca de US$ 500 milhões ao longo de três meses para que os beneficiários do programa "Minha Casa, Minha Vida", de moradia subsidiada, pudessem comprar também seus eletrodomésticos.
Mesmo assim, pessoas como Odete Silva têm que encontrar maneiras de cortar os gastos. Para construir a casa, ela acumulou dívidas em três cartões de crédito, comprando aparelhos domésticos e materiais de construção. Com as altas taxas de juros, essa dívida aumentou de R$ 11.000 para R$ 25.000.
Ela agora fez acordos com seus credores, que concordaram em reduzir seus pagamentos e baixar as dívidas. Ela diz que não está preocupada. "Acho que as coisas estão melhorando."

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

A "nova classe media" e a economia do calote - Estadao

UM CALOTE DE R$ 44 BILHÕES
O Estado de S.Paulo, 30 de dezembro de 2012
 
Depois da farra do crédito fácil, que alavancou o crescimento do País até 2010, nova classe média dá calote recorde e a economia brasileira patina. Impacto chegou a diferentes setores da economia

A técnica em enfermagem Wedna Bispo, 31 anos, ganha R$ 1,2 mil por mês e até outro dia devia quase R$ 34 mil na praça. Não consegue lembrar tudo que comprou, mas estava pendurada na loja de material de construção, em dois cartões de crédito, no banco e na faculdade. Estica prazo daqui, renegocia dali, agora só falta discutir R$ 2,6 mil com o curso de enfermagem. "Minhas dívidas viraram uma bola de neve. Se você não controla, só se lasca." Wedna admite ter se perdido nas compras, mas hoje percebe que o descontrole não foi só dela: num dos cartões de crédito, a administradora lhe deu limite para gastar R$ 1,2 mil por mês - exatamente o valor de seu salário.

Wedna é uma típica brasileira da nova classe média enrolada na armadilha do crédito fácil. Como ela, milhões de pessoas atraídas pela oferta de crédito abundante nos bancos se atiraram às compras em 2009, 2010 e no início de 2011. Este ano, a conta chegou. Para muitos, foi como acordar de um surto coletivo de embriaguez: as doses de crédito a mais desaguaram num calote total de R$ 44,2 bilhões em bancos, financeiras e no cartão de crédito. Para comparar, em 2010, a inadimplência total era de R$ 23,7 bilhões, quase a metade de hoje. As contas foram feitas pela economista Marianne Hanson, da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

O reflexo do aumento da inadimplência e do maior comprometimento da renda das famílias com dívidas foi além do balanço dos bancos e respingou em setores da economia real. Depois do avanço de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010, o País patinou e cresceu 2,7% em 2011 e deve avançar apenas 1% este ano. Para os especialistas, o impacto pode persistir até 2014.

A ressaca só não é maior porque muitos inadimplentes renegociaram dívidas para limpar o nome. Foram pelo menos 15 milhões de pessoas apenas nos mutirões organizados - em escala recorde - por duas empresas de serviços financeiros, a Serasa Experian e a Boa Vista Serviços. "Tivemos uma bolha de crédito para o consumo. E a bolha sempre estoura com a inadimplência", diz José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados.

Segundo várias avaliações, a maior parte dos inadimplentes são famílias emergentes que melhoraram de vida nos últimos anos e migraram da base para o miolo da pirâmide social. Parte dessa massa de 40 milhões de pessoas está tateando o mercado de crédito e acabou se perdendo no uso do cheque especial, do cartão de crédito e do financiamento sem entrada com parcelas a serem pagas em cinco anos ou mais.

O Instituto GEOC, que reúne 17 empresas de cobrança de dívidas, captou uma mudança significativa no perfil dos inadimplentes. Cinco anos atrás, o principal motivo para deixar de pagar a prestação era a perda do emprego. "Hoje o consumidor está empregado e o motivo é que tomou mais crédito do que podia", diz Jair Lantaller, presidente do instituto. Estudo do Ibope e da Serasa Experian, encomendado pelo GEOC, mostra que 87% dos inadimplentes e 69% de quem está com os pagamentos em dia chegam ao fim do mês sem dinheiro. "O brasileiro está cada vez mais endividado", confirma Lantaller.

Exageros. Passada a euforia, apareceram os exageros do festival de empréstimos. Não foram só os consumidores que erraram nas contas. Os bancos estavam entusiasmados com a nova classe média e emprestaram sem muito critério. O governo, empolgado com o aumento da renda da população, colocou os bancos federais para inundar a praça com crédito e alavancar a economia.

O gerente de uma grande concessionária Volkswagen de São Paulo conta que há cerca de dois anos, na disputa pela classe C, os bancos pagavam comissões às concessionárias e aos vendedores de 5% a 10% do valor financiado - prática depois proibida pelo Banco Central. "O crédito era automático. Se o nome não estava sujo, era aprovado", diz o gerente. "Na época, por exemplo, tinha muito camelô comprando carro bom e, como não tinha comprovação de renda, o banco pedia só o extrato bancário."

Um dos sinais mais marcantes dessa fase de exageros só apareceu mais tarde, na forma de um indicador que o mercado não costumava prestar atenção: de repente, os bancos descobriram que muitos dos que compraram carros em parcelas a perder de vista não pagaram sequer a primeira prestação. No Banco Votorantim, um dos líderes no financiamento de veículos, de 4% a 5% dos clientes deram calote já na primeira parcela entre 2010 e 2011. É o dobro dos 2% que o mercado costuma aceitar como índice máximo desse tipo de inadimplência.

Para piorar, o sistema de checagem dos clientes era limitado. Os bancos não tinham acesso aos dados sobre o comprometimento total da renda do comprador. Até abril deste ano, o Sistema de Informações de Créditos (SCR), do BC, só informava dívidas individualizadas acima de R$ 5 mil. Mesmo que o tomador tivesse vários contratos abaixo desse valor, não era identificado pelo sistema. Assim, a loja vendia um carro sem saber que a renda do cliente já estava comprometida em outras compras.

Hoje, dentro do governo, já há quem reconheça - com a condição de permanecer no anonimato - que houve exageros nas concessões de empréstimos em 2010. "Os bancos emprestavam sem entrada e por prazo superior à vida útil do bem. Se não tivéssemos atuado, o ajuste seria traumático", afirma uma fonte do BC, lembrando que a autoridade monetária tomou uma série de medidas no fim daquele ano para frear o crédito.

Os bancos são pragmáticos e encaram a inadimplência por outro ângulo: é o preço pago para transformar em clientes 36,2 milhões de pessoas que abriram conta em banco entre 2002 e 2011. "Os bancos não erraram, foi o preço que tivemos de pagar pela bancarização", diz um alto executivo de uma das maiores instituições financeiras do País. "Fomos compelidos pelas circunstâncias a essa velocidade."

Política de consumo. O estímulo à popularização do crédito e o incentivo às compras foram produtos de uma política de crescimento baseada no consumo. Começou com o governo Lula, na crise de 2008, e foi reforçada com as reduções temporárias de impostos para a compra de carros, eletrodomésticos e material de construção. O governo mandou seus bancos de varejo, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, abrirem os cofres para financiar o consumo. Em abril de 2009, o então presidente do BB, Antonio Francisco de Lima Neto, foi demitido porque demorou a cumprir a ordem do ex-presidente Lula.

No esforço de guerra para ampliar o crédito, o BB comprou quase metade do Banco Votorantim, da família Ermírio de Moraes. A Caixa comprou o Panamericano, mas essa estratégia deu errado porque o banco, que na época pertencia ao apresentador Silvio Santos, estava quebrado. Com a movimentação das instituições estatais, a banca privada sentiu-se pressionada a segui-las para não perder mercado.

Além da pressão de Brasília, as instituições privadas sofreram outro tipo de influência para turbinar a oferta de crédito. Na visão dos investidores, havia uma demanda por crédito reprimida no País e os bancos que se lançassem agressivamente na conquista desses consumidores ganhariam mais mercado. Foi com a promessa de abocanhar parte desse crescimento que o Santander levantou mais de R$ 14 bilhões com a abertura de seu capital no Brasil, em 2009. A operação foi, na época, a maior do tipo já realizada no País.

O caso do banco Votorantim foi exemplar. Na visão do mercado, o banco pisou forte demais no acelerador depois que o BB tornou-se sócio e passou a usá-lo como linha auxiliar na política oficial de estímulo ao consumo. Experiente no ramo de carros usados, o Votorantim passou a atuar também com veículos novos, segmento no qual a competição é maior. Como resultado, sua fatia no financiamento total de veículos saltou de 12% para 21% entre 2008 e 2011.

A onda de calotes, que envolveu todo o sistema financeiro, pegou forte no Votorantim. De janeiro a setembro, a instituição registrou prejuízo de R$ 1,6 bilhão ante lucro de R$ 455 milhões no mesmo período de 2011. Desde o fim do ano passado, o banco passa por um processo de reestruturação. "Os impactos ainda são relevantes, mas os números estão melhorando e o pior ficou para trás", diz o presidente do Votorantim, João Teixeira, que assumiu o cargo em setembro de 2011 para colocar a casa em ordem.

Para analistas, a ressaca da onda de calotes deve se estender até meados do ano que vem, em algumas instituições até 2014. "Em 2012, os bancos foram mais criteriosos e a turma ruim (de maus pagadores) está indo embora", diz Décio Carbonari, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). "A água limpa que está entrando no lamaçal é pouca, por isso a inadimplência vai demorar a cair", afirma Luiz Rabi, assessor da Serasa Experian. /MÁRCIA DE CHIARA, CLEIDE SILVA, RAQUEL LANDIM, MELINA COSTA E DAVID FRIEDLANDER

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Argentina: pagando o preco da moratoria unilateral de 2002

Em 2002, lembro-me de ter "discutido" com alguns colegas, amigos ou correspondentes, a propósito da moratória unilateral da Argentina sobre sua imensa dívida externa. Os "progressistas", ou antineoliberais, invariavelmente apoiavam a "corajosa" medida argentina, achando que era isso mesmo que era necessário e imprescindível, para que a Argentina pudesse voltar a crescer em bases mais sãs, e desprovidas da ameaça, e da obrigação contratual concreta, de remessa de milhões de dólares anuais a título de serviço da dívida (juros) e da amortização do principal.
Eu, que nunca fui neoliberal, ou algo do gênero, sempre argumentei que a Argentina pagaria um alto preço pelo calote unilateral imposto aos milhares de credores, muitos dos quais tiveram de aceitar o desconto humilhante imposto pelo governo argentino (apenas 30 centavos de dólar, por cada dólar da dívida contraída).
Pois bem, a despeito do spread altíssimo que a Argentina teria de pagar se quisesse retornar aos mercados financeiros, fui "desmentido" durante anos pelas taxas realmente robustas do crescimento da economia argentina, em parte mera recuperação das perdas de 2001-2001, em outra proporção, os estímulos temporários criados por vários anabolizantes ministrados a partir de sua introversão econômica dos anos K.
Mas, a economia nunca falha e, como diria um filósofo, as consequências sempre vêm depois. A Argentina está agora pagando o preço de seu enfrentamento com os mercados, com os tribunais, com os credores, com a simples realidade.
Só posso ser, nestas circunstâncias, um profeta do apocalipse: não haverá meios de evitar um desastre, e uma nova crise é o que desponta no futuro próximo do país.
Paulo Roberto de Almeida 

Argentina é condenada a pagar Credores

Justiça de NY determina que governo quite dívida de US$ 1,3 bilhão com fundos

Ariel Palacios, correspondente em Buenos Aires 
O Estado de S.Paulo, 22 de novembro de 2012

BUENOS AIRES - O juiz federal americano Thomas Griesa, da Justiça de Nova York, determinou que a Argentina pague até 15 de dezembro US$ 1,3 bilhão aos credores da dívida pública do país que optaram por ficar de fora das duas reestruturações dos bônus, realizadas em 2005 e 2010 pelos governos de Néstor e Cristina Kirchner. A decisão de Griesa deve piorar a abalada imagem financeira do país no exterior.
Cristina Kirchner diz que não pretende pagar credores - Efe
Efe
Cristina Kirchner diz que não pretende pagar credores
Cristina considera esses credores, chamados de holdouts, "fundos abutres". Segundo ela, tratam-se de fundos de investimentos, assessorados por experientes times de advogados, que compram títulos a preços baixos para especular com esses bônus nos mercados e nos tribunais para obter melhores preços. A presidente argentina diz que não pretende pagá-los.
Era previsto que a Argentina pagasse US$ 3,14 bilhões aos credores dos títulos reestruturados em dezembro. Mas esse pagamento só pode ser feito, segundo a Justiça americana, depois que o governo deposite os US$ 1,3 bilhão em uma conta para os "abutres". Assim, embora conte com fundos para pagar os credores reconhecidos, a Argentina ficaria à beira de um calote técnico.
"A Argentina deve isso e o deve agora", declarou o juiz. Na terça-feira, o ministro da Economia da Argentina, Hernán Lorenzino, disse que, caso seja necessário, o governo Kirchner apelará à Corte Suprema dos EUA.
Fragata
Além dos problemas com o juiz Griesa, a Argentina vive um impasse jurídico com Gana, país da Costa da Guiné onde está retida a fragata Liberdade, o navio-escola argentino.
A embarcação foi detida há dois meses e meio - em plena viagem com seus cadetes - no porto de Tema, Gana, a pedido do fundo americano NLM-Elliot, que pediu o embargo desse ativo do Estado argentino como forma de pressionar pelo pagamento dos títulos em estado de calote.
Segundo o tribunal ganense, a fragata somente será liberada com o pagamento de um depósito de US$ 20 milhões. No entanto, a presidente Cristina declarou que não pagaria um centavo aos credores envolvidos. Além disso, Cristina exige que Gana indenize a Argentina e o pequeno país do Golfo da Guiné peça desculpas publicamente. 
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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Eu troco a sua nota de dolar por 50 centavos: que tal?

É o que está dizendo a Grécia aos seus queridos credores, europeus e outros: você me dá o seu dólar -- claro, tem de ter dinheiro novo nessa jogada, do contrário qual a graça? -- e eu lhe dou duas moedinhas de 25 centávos de dólares, que tal?
Eu acho que a Grécia poderia ir inclusive um pouco mais longe e fazer como a Argentina, que deu apenas 30 centavos de dólares para cada dólar detido por seus credores.
Me parece uma troca mais justa e apropriada ao momento.
Never mind que depois a Argentina ficou por dez anos fora dos mercados financeiros, só tendo o consolo de ver seu amigo Hugo Chávez comprar cinco ou dez bilhões de dólares de seus novos títulos da dívida (mas tendo de pagar 14% de juros por isso).
Não é problema. O essencial é dar uma de macho e aplicar um calote merecido nesses credores ingênuos que pensaram que iriam lucrar muito com os nossos global bonds e que agora vão ter de acordar para a realidade.
Nada como um calote depois do outro...
Paulo Roberto de Almeida


Grécia admite calote e sugere desconto de 50% na dívida

De acordo com o jornal local, ministro de Finanças apresentou aos parlamentares do Partido Socialista três cenários possíveis para a Grécia

23 de setembro de 2011 | 5h 03
Gustavo Nicoletta e Hélio Barboza, da Agência Estado
ATENAS - O ministro de Finanças da Grécia, Evangelos Venizelos, disse a parlamentares do seu partido que o país enfrenta o risco de um default desordenado, segundo a edição desta sexta-feira de um jornal grego. A publicação acrescenta que o ministro sugeriu um possível desconto de 50% na dívida do país. De acordo com o jornal Ta Nea, Venizelos apresentou aos parlamentares do Partido Socialista três cenários possíveis para a Grécia.
No primeiro cenário, a Europa seguiria adiante com os compromissos assumidos em uma reunião de cúpula de 21 de julho, estendendo um novo pacote de ajuda aos gregos, no valor de € 109 bilhões, mas incluindo o oferecimento aos credores do país de um programa voluntário de troca da dívida.
No segundo cenário, a Grécia não conseguiria chegar a um acordo com seus credores internacionais nos próximos dias, o que levaria o governo grego a ficar sem dinheiro no meio de outubro e o obrigaria a um default desordenado.
Sem citar fontes, o Ta Nea relata que Venizelos também indicou uma terceira opção para o país, que incluiria uma reestruturação ordenada da dívida grega, mas com os credores enfrentando uma perda de 50%. Tal cenário seria acordado com os credores e permitiria a permanência da Grécia na zona do euro, diz o jornal. O Ta Nea acrescenta que esse cenário parece estar ganhando terreno no restante da Europa.
BCE em alerta
O calote da Grécia não pode ser descartado enquanto o país mediterrâneo lutar para escorar suas finanças, disse Klaas Knot, novo representante da Holanda no conselho da presidência do Banco Central Europeu (BCE), em uma entrevista ao jornal Financieele Dagblad. Knot, que também é presidente do Banco Central Holandês, disse que o default "é um dos cenários".
"Eu não estou dizendo que a Grécia vai entrar em default", afirmou. "Eu já havia sido convencido há muito tempo que um default não era necessário, mas as notícias que chegam de Atenas não são encorajadoras", declarou. "Todos os esforços são destinados a impedir isso, mas eu agora tenho menos certeza do que tinha há alguns meses para descartar um default", disse Knot, em sua primeira entrevista desde que tomou posse no Banco Central Holandês, em julho.
Knot é uma das primeiras autoridades do BCE a admitir publicamente um possível calote da Grécia. O banco sempre insistiu que o default seria evitado a todo custo porque poderia desestabilizar a zona do euro. Mas os mercados estão cada vez mais se antecipando a este cenário, enquanto a Grécia luta para reunir condições que lhe assegurem ajuda financeira. Sem essa ajuda, o país ficará sem dinheiro em meados de outubro.
Na entrevista, Knot questionou "se os gregos percebem a seriedade da situação" e disse que "há dúvidas quanto à qualidade do governo grego e se os políticos têm um controle firme do país".
Nas próximas semanas, inspetores internacionais do BCE, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Comissão Europeia - a chamada "troica" - vão revisar os esforços do país para amparar suas finanças. "Será tenso", declarou Knor ao jornal. "(A troica) terá de chegar à conclusão positiva de que a Grécia está fazendo o que prometeu."
Um eventual calote da Grécia poderia deflagrar o contágio para outros países da zona do euro, como Itália e Espanha. Repetindo o que havia afirmado seu predecessor Nout Wellink, Knot disse que tal cenário pode ser impedido pela ampliação substancial do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. 
Reunião
A agenda de eventos dos EUA desta sexta-feira traz como destaque o início da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington. Paralelamente a esse evento, também acontecerá o encontro dos ministros de Finanças e representantes de bancos centrais do G-20. O grupo deve conceder uma entrevista coletiva por volta das 21h30 (de Brasília). As informações são do site do FMI.
As informações são da Dow Jones.

sábado, 7 de agosto de 2010

Not Doing Business in Venezuela: um manual de economia al revés

El Profesor continua dando aulas de economia, al revés, por supuesto.
As empresas brasileiras sofrem. Também, quem mandou acreditar na conversa do melhor amigo do ultra-democrata Chávez...
Paulo Roberto de Almeida

Caracas atrasa pagamentos e afasta empresa brasileira
Agencia Estado - O Estado de S. Paulo
7 de agosto de 2010

SÃO PAULO - A vida das empresas brasileiras na Venezuela não está fácil e pode piorar. A Braskem, que havia fechado duas joint ventures com a estatal venezuelana Pequiven, para dois projetos no valor de US$ 3,5 bilhões, mudou seus planos. Das 30 pessoas que a empresa mantinha em Caracas para tocar o projeto, só sobrarão cinco. A maioria dos executivos está voltando para o Brasil ou indo para outras filiais da Braskem.

"O governo venezuelano não cumpriu sua parte nos investimentos", disse uma fonte próxima ao projeto. A Braskem e a estatal venezuelana haviam assinado um memorando, em 2007, para criar duas companhias. O projeto da Propilsur foi adiado por um ano, enquanto o da Polimérica, de capital misto, teve o investimento reduzido pela metade.

Empreiteiras brasileiras, como Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Correa, que têm bilhões em negócios na Venezuela, também estão prestes a sofrer um duro golpe do governo chavista com a Reforma da Lei de Contratações. A Assembleia Nacional venezuelana aprovou, na quarta-feira, uma lei que permite ao governo confiscar máquinas ou se apoderar de obras públicas que estejam paralisadas ou atrasadas.

Muitas empreiteiras brasileiras estão tocando seus projetos aos poucos ou deixando-os paralisados. A nova lei ainda precisa ser aprovada em segundo turno, mas, como há maioria chavista, deve passar. "Se for aprovada, a lei pode ser um enorme problema para as construtoras brasileiras", disse Fernando Portela, diretor executivo da Cavenbra, Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Venezuela.