O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador chanceler brasileiro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador chanceler brasileiro. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 21 de março de 2019

Política externa sem rumo? Cedendo a impulsos pessoais?

Enormes dúvidas de toda a comunidade "epistêmica" de relações internacionais do Brasil, sobre diversos temas da diplomacia brasileira, depois da viagem altamente improvisada aos EUA, da qual não se sabem os resultados efetivos, como por exemplo, essa "troca de favores" entre o apoio dos EUA para a admissão do Brasil na OCDE e a contrapartida da nossa renúncia unilateral do tratamento especial e mais favorável para países em desenvolvimento, que o Brasil sempre insistiu em manter ao longo de décadas.
Outra questão é a de saber quem manda, de fato, na diplomacia brasileira: se vem do Itamaraty enquanto corpo profissional, se é apenas o chanceler acidental, se é o chanceler de fato, um dos Bolsokids, se é o guru da Virgínia, enfim, persistem algumas dúvidas quanto a isso...
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 21 de março de 2019

Brasil quer fim da Unasul e criação de outro bloco

    Chanceler Ernesto Araújo diz que Jair Bolsonaro anunciará, em sua visita ao Chile, a saída do país do grupo. Ideia é ter um novo organismo internacional, sem a Venezuela

    » Rosana Hessel
    02:00:20 | 21/03/2019 | Economia | Correio Braziliense | Política | BR
    O presidente Jair Bolsonaro deve anunciar, em sua visita ao Chile, hoje e amanhã, a saída do Brasil da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), grupo integrado por 12 países sul-americanos: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Chile, Guiana, Suriname e Venezuela.
    A informação é do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Ele fez ontem um balanço da viagem oficial de Bolsonaro aos Estados Unidos. Segundo o chanceler, o abandono da Unasul será coordenado com os demais países do grupo e deve representar o esboço de um novo bloco sul-americano, sem a presença da Venezuela.
    "Gostamos muito da ideia chilena de substituir a Unasul por outro bloco. A Unasul é um órgão falido, que foi capturado e com vício de origem, que não conseguiu avançar na integração física entre os países. Não construiu um quilômetro de rodovia", criticou o ministro, horas antes de viajar ao Chile. Para Araújo, a criação de um outro bloco permitirá substituir a Unasul por iniciativas mais específicas de integração regional.
    O ministro adiantou que as conversas entre Bolsonaro e o presidente do Chile, Sebastián Piñera, devem focar no avanço dos projetos de integração do Brasil com o Pacífico e no aumento dos investimentos. Em terras chilenas, o chefe do Executivo participará de uma cúpula que contará com 21 chanceleres e 22 presidentes, segundo o Itamaraty.
    Bolsonaro retornará ao Brasil no sábado. Na semana que vem, fará uma visita oficial a Israel. Araújo, no entanto, não confirmou se, na ocasião, será anunciada a mudança efetiva da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. Segundo o ministro, isso será definido durante as reuniões preparatórias da viagem, que não tem previsão de visita a territórios palestinos.
    Ao ser questionado sobre a troca de embaixadores de 15 representações no exterior, prevista pelo novo governo, Araújo destacou que a preferência para os novos titulares será técnica. "A lista que fechamos das mudanças atuais inclui apenas embaixadores de carreira. Washington não está nessa lista", disse ele, acrescentando que, em relação à embaixada de Washington, não haverá a restrição.
    Positivo
    Na avaliação de Araújo, o saldo da visita de Bolsonaro aos EUA foi positivo. Ele tentou rebater as críticas de que o Brasil teria cedido mais do que os EUA nas conversas bilaterais. "Não cedemos muito nessa visita. Se colocar um patamar de avaliação de interlocutores de fundos de investimentos, há entusiasmo com os sinais dados com o Brasil", declarou. "O mundo está olhando o Brasil e reconhece que é um novo acordo. Muita gente quer que o gigante continue adormecido."
    Ele não detalhou, contudo, como o país tem mais a ganhar do que a perder se realmente abrir mão do status de país em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC) para receber o apoio formal dos Estados Unidos para a entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma vez que Chile e México já pertencem à OCDE e não abriram mão desse status.
    Para o ministro, o principal saldo positivo foi a inclusão do país como aliado preferencial dos Estados Unidos na Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) e o acordo de salvaguardas tecnológicas para a Base de Alcântara, no Maranhão.
    Em relação à Venezuela e às medidas que podem ser adotadas pelo Brasil e pelos EUA, Araújo não deu detalhes, mas tentou reforçar que é preciso combater o terrorismo de integrantes do Hezbolah que há no país vizinho.
    Prosul
    O outro bloco seria o Prosul, integrado por Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Costa Rica, Nicarágua, Panamá e República Dominicana.
    Desconforto
    No início da entrevista, Araújo demonstrou inquietação, pois seu papel na viagem acabou sendo ofuscado pelo filho do presidente e deputado federal, Eduardo Bolsonaro(PSL-SP), que acompanhou o pai na conversa privada com Trump, e, portanto, desempenhando o papel de chanceler, que deveria ter sido do titular do Itamaraty. Ao ser questionado sobre isso, o ministro tentou minimizar o desconforto. "Fazemos parte da mesma equipe. Ele ajudou muito na construção dessa parceria, e achei excelente que ele pudesse participar da conversa, porque reforça essa ideia de que faz parte desse novo relacionamento", afirmou.

    segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

    Posturas distintas no tema da Venezuela: militares e chanceler - Bruno Boghossian (FSP)

    Brincadeira ideológica atrapalha a cautela dos militares com a Venezuela

    Generais delimitam envolvimento brasileiro, mas chanceler faz jogo político perigoso

    Quando a crise na Venezuela começava a transbordar, o general Hamilton Mourão se apressou para empurrar as inquietações para outras fronteiras. “Do lado mais complicado, que é o lado colombiano, acho que vai ficar nessa situação de impasse”, afirmou o vice à BBC.
    Enquanto isso, do lado mais complicado, o chanceler Ernesto Araújo resolveu posar sorridente com o autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó. O ministro decidiu confraternizar com o opositor de Nicolás Maduro justamente na hora em que os venezuelanos chegavam a uma encruzilhada.
    O núcleo militar do governo tem reagido com cautela à escalada de tensões na região, mas a ala ideológica do bolsonarismo insiste num jogo político perigoso.
    Generais do Planalto trabalharam nos últimos dias para delimitar claramente o envolvimento brasileiro na crise venezuelana. Embora não tenha se recusado a enviar ajuda humanitária ao país, o grupo conseguiu reduzir a marcha dessa ação.
    Além de circunscrever a participação de tropas brasileiras, os militares também barraram a presença de soldados americanos em território nacional —ideia que havia sido alimentada pelo Itamaraty em conversas com autoridades dos EUA.
    Araújo mergulhou numa guerra de provocações que, agora, interessa somente a Maduro, aos colombianos e a Donald Trump. Enquanto os militares tentavam baixar a temperatura para evitar uma matança, o chanceler brincava de fazer diplomacia.

    sábado, 19 de janeiro de 2019

    Vice-presidente sobre a atual diplomacia

    General Mourão demonstra atitude crítica no tocante à política externa

    "BRASÍLIA (O Globo) — O vice-presidente Hamilton Mourão colocou em dúvida, em entrevista à revista "Época", a capacidade do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, de conduzir a política externa brasileira. De acordo com Mourão, o chanceler "não falou o que pretende fazer".
    O vice foi entrevistado para um perfil de Araújo, publicado na última edição da revista. No final da conversa, ele sugeriu uma chamada de capa para a reportagem:
    — Acho que uma boa seria: "Terá Ernesto condições de tocar e dizer o que é a política externa do Brasil?". Porque ele não falou o que pretende fazer — disse. 
    Mourão ironizou o destaque aos Estados Unidos e a Israel dado pelo chanceler nas relações diplomáticas.
    — Vai todo mundo virar israelense desde criancinha? Vai todo mundo virar fã dos americanos de qualquer jeito? — indagou, em tom de troça. — A diplomacia são métodos e objetivos, não um fim. É preciso inserir conceitos claros, não interferir em assuntos de outros países. E ainda não está claro.
    O vice-presidente tem se reunido com embaixadores de diversos países, como Argentina, Rússia, Ucrânia, Holanda e França — sem a presença do ministro das Relações Exteriores, como é de praxe.
    Ele se disse preocupado com as notícias negativas sobre o Brasil, sobre a confusão na nomeação feita por Araújo para a presidência da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex) — primeira demissão do governo Bolsonaro — e com o recuo de falar em construir uma base militar no Brasil — coisa que é contra.
    — Está faltando prudência. Não podemos falar qualquer coisa e depois desfalar. Agora é tempo de analisar. Não é tempo de sacar soluções da cartola. A palavra é prudência."

    domingo, 6 de janeiro de 2019

    Machado de Assis entra no Itamaraty - Luiz Antonio Simas; Dawisson Lopes


     Um medalhão em Saramandaia
    Versos, citações em latim, adjetivos em profusão, citações históricas: a teoria do medalhão, de Machado de Assis, estava toda ali no discurso de posse de Ernesto Araújo. Lembranças também dos professores Aristóbulo Camargo e Astromar Junqueira, de Dias Gomes
    Luiz Antonio Simas
    Revista Época, 05/01/2019 - 13:47 / Atualizado em 05/01/2019 - 14:22

    O escritor carioca Machado de Assis publicou o conto Teoria do Medalhão em 1881, no jornal Gazeta de Notícias . A trama é simples: Janjão está completando 21 anos, a maioridade naquela época. Logo depois do jantar de comemoração do aniversário, o jovem é chamado pelo pai para uma daquelas conversas definitivas sobre o futuro.
    Em resumo, o pai aconselha o filho a ser o que ele mesmo não conseguira: um medalhão. O que seria isso? Basicamente, o medalhão é “grande e ilustre, ou pelo menos notável”. Para chegar ao auge entre os 45 e os 50 anos, período em que o medalhão geralmente desabrocha, Janjão deveria se preparar desde cedo, aparelhando o espírito para evitar o perigo das ideias próprias.
    Dentre diversas dicas para que o status de medalhão seja alcançado, o pai de Janjão ressalta a importância da linguagem. Cito: “podes empregar umas quantas figuras expressivas, a hidra de Lerna, por exemplo, a cabeça de Medusa, o tonel das Danaides, as asas de Ícaro, e outras, que românticos, clássicos e realistas empregam sem desar, quando precisam delas. Sentenças latinas, ditos históricos, versos célebres, brocardos jurídicos, máximas, é de bom aviso trazê-los contigo para os discursos de sobremesa, de felicitação, ou de agradecimento. Caveant consules é um excelente fecho de artigo político; o mesmo direi do Si vis pacem para bellum ”.
    Por fim o pai sugere que o medalhão não chegue a nenhuma conclusão que já não tenha sido chegada por outros, mas faça isso de forma aparentemente original, e evite os riscos da ironia, coisa de “céticos e desabusados”.
    Ao escrever o conto Machado satirizava uma turma da sociedade aristocrática e bacharelesca que misturava, nas mesmas proporções, mediocridade e pedantismo. Os medalhões difundiam ideias rasteiras recheadas de citações, tentavam impressionar os populares com demonstrações de conhecimento das coisas do povo e, ao mesmo tempo, comover os eruditos com axiomas clássicos, enfiando três ou quatro máximas em outras línguas para arrematar.
    A Teoria do Medalhão me veio à memória quando escutei o discurso de posse do novo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. A linguagem do medalhão estava toda ali: citação em grego de versículo do Evangelho de São João, citação da banda Legião Urbana em música com versos de Camões, citação em latim do brasão da Ordem de Rio Branco, referências a Tarcísio Meira, Raul Seixas e José de Alencar, menção a uma série de ficção científica e, para arrematar, a Ave Maria em Tupi, de acordo com a tradução do padre José de Anchieta. No meio do sarapatel, ataques ao globalismo, exortações ao caráter libertador de Bolsonaro e saudações aos governos conservadores de direita da Europa.
    Confesso que, até me recordar da Teoria do Medalhão, comecei a considerar o arrazoado do ministro similar aos discursos que dois personagens de Dias Gomes faziam nas novelas Saramandaia e Roque Santeiro : os professores Aristóbulo Camargo e Astromar Junqueira. Versos, citações em latim, adjetivos em profusão, citações históricas eram comuns aos homens das letras, sempre vestidos de preto, criados por Dias. Registre-se que Aristóbulo e Astromar, nos intervalos entre um discurso e outro, viravam lobisomens.
    Outro detalhe chama atenção no discurso do chanceler. Em alguma medida, ele parece ir em direção oposta à comunicação do governo. Enquanto o presidente e outros assessores buscam construir imagens populares de pessoas comuns, com sucesso, o chanceler aparece com fumos de erudição, saca do colete dezenas de autores, arremata tudo isso com sentenças bíblicas em línguas clássicas e, dando uma de Policarpo Quaresma, enfia no meio um tupi-guarani suspeito.
    O discurso do chanceler, digno de um medalhão bem sucedido, sugere duas possibilidades: uma delas é a da confirmação da atemporalidade da obra de Machado de Assis. O Bruxo do Cosme Velho, ao diagnosticar a sua época, permanece atual. O que escreveu em 1881 continua irretocável em 2019; coisa que só faz afirmar o preto do Morro do Livramento como um gigante das letras. A outra possibilidade é a de que o chanceler de 2019 seja um exemplo bem acabado de brasileiro de 1881.
    A minha impressão é a de que elas não se excluem: o escritor do século XIX continua vivendo no século XXI. O chanceler do século XXI continua vivendo no século XIX.

    (Leia aqui o conto Teoria do Medalhão e tire sua conclusão sobre as duas possibilidades levantadas por Simas)

    Luiz Antonio Simas é historiador, autor de 15 livros, ganhador de dois prêmios Jabuti – entre eles o de Livro do Ano de Não Ficção de 2016, com Nei Lopes

    SAIBA MAIS

    ==============


    O GLOBO ONLINE
    Deus e o diabo na terra da política externa
    Chanceler promete diplomacia que reflita religiosidade popular, mas será que brasileiros são contra o secularismo?
    Dawisson Belém Lopes*
    O Globo online, 06/01/2019 - 04:30

     Ernesto Araújo faz seu discurso de posse, no qual disse que o Brasil "está perdido fora de si mesmo" Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil/2-12-2018 / Agência O Globo

    Há algo de farsesco, ainda que bastante engenhoso, no modo como a política externa do governo Bolsonaro vem buscando legitimar-se publicamente. O principal impulso ao processo é dado pelo chanceler Ernesto Araújo, homem de fortes convicções morais, admirador dos nacionalismos românticos e da herança ocidental. Trata-se, ademais, de um fiel devoto de Donald Trump.
    Araújo vem se aproximando, nas manifestações feitas em seu blog pessoal e nas peças que publica na imprensa, do apelo popular de Jair Bolsonaro à religiosidade do povo brasileiro. A fórmula da nova política externa, segundo o chanceler, terá de alinhar-se a essas circunstâncias.
    Se a gente brasileira é religiosa, logo a política externa, praticada por um presidente com mandato democrático, também deverá sê-lo. O Brasil, entende Bolsonaro, necessita pautar-se nas suas relações internas e internacionais por valores judaico-cristãos, pois é isso que o povo reivindica na atualidade.
    Do raciocínio deriva o receituário da política externa bolsonarista: o país precisa rejeitar o “globalismo” e o “marxismo cultural”, tendências emanadas de foros diplomáticos e editoriais internacionais, desprovidas do empuxo popular e, alegadamente, corruptoras da soberania nacional e do patriotismo. Eis o bilhete para a “libertação do Itamaraty” – na expressão carregada de Araújo.

    Para tanto, devem-se recusar peremptoriamente as resoluções das entidades multilaterais e juntar-se à liga dos regimes fortes e cultores das tradições ocidentais. Estados Unidos, Itália, Polônia e Hungria, nações cristãs, credenciam-se como parceiras preferenciais. Israel, o Estado judaico, candidata-se a aliado incondicional.
    Percebe-se, todavia, que a equivalência “voz do povo, voz de Deus”, proposta pelos bolsonaristas como o verdadeiro elo perdido da autoridade, resulta logicamente falaciosa. Se é bem verdade que a sociedade brasileira preza a dimensão religiosa, não se extrai daí que os cidadãos sejamos refratários ao secularismo como princípio organizador da vida política.

    Mero estereótipo
    De resto, a experiência religiosa dos brasileiros, como já amplamente difundido pelos antropólogos, é de um tipo sincrético, não acomodando no cotidiano os rigores da ortodoxia. Somos o país dos milhões de cristãos “não praticantes”, das infusões e dos intercâmbios entre as variadas denominações de fé.
    Ao substituir as máximas mundanas do realismo político por princípios idealistas e metafísicos, Araújo e colaboradores recriam o ciclo de produção da política externa brasileira. Tira-se o povo da conversa, reduzindo-o a mero estereótipo de uma expressão religiosa. Habilmente, o chanceler e seu grupo promovem jogos filosóficos e de linguagem cujo saldo é a elitização decisória em política externa.
    Explica-se: quando o mote da política externa democrática era anteriormente evocado, imaginava-se uma tensão constitutiva entre os aristocráticos homens de Estado e a plebe. A democratização poderia até avançar, lenta e dialeticamente, por meio de choques de interesses. Por um truque retórico, contudo, essa tensão dissipou-se no discurso corrente, dado que os novos mandatários imaginam falar pelo e para o povo, interpretando de maneira peculiar os sentidos da sua fé.
    Os diplomatas profissionais, integrantes da comunidade cosmopolita global, tradicionalmente autorizados a pronunciar-se sobre as relações exteriores do Brasil, dão lugar a teocratas e nativistas. Dentro desse esquema de coisas, saber técnico, trajetória institucional e acúmulo acadêmico não se tornam, necessariamente, alavancas de poder. Afinidade ideológica e proximidade com a chefia do Poder Executivo, sim.
    Existe, ainda, um inesperado problema empírico com a narrativa diplomática em construção: segundo levantamento do instituto Datafolha, divulgado em 27 de dezembro último, 66% dos brasileiros não querem ver o país associado aos Estados Unidos nos assuntos estrangeiros. É um rechaço popular emitido em alto e bom som aos caminhos vislumbrados pelo novo governo federal.

    * Professor de política internacional da UFMG, é o autor de “Política Externa e Democracia no Brasil: Ensaio de Interpretação Histórica” (Ed. Unesp, 2013) e “Política Externa na Nova República: Os Primeiros 30 Anos” (Ed. UFMG, 2017).


    Saiba mais


    sábado, 5 de janeiro de 2019

    Bases americanas no Brasil? (OESP)

    Chanceler confirma intenção de sediar base
    O Estado de S. Paulo, 5/01/2019

    O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, afirmou ontem, durante encontro do Grupo de Lima – bloco de países latinoamericanos que monitoram a crise na Venezuela –, que o presidente Jair Bolsonaro “não exclui a possibilidade” da instalação de uma base militar americana no Brasil. Segundo Araújo, caso isso aconteça, faria parte de “agenda mais ampla” do País com os Estados Unidos. “O presidente não exclui esse tipo de possibilidade. Temos todo interesse em aumentar a cooperação com EUA em todas as áreas. Isso é algo que tem que ser conversado. Não haveria problema na questão de uma presença desse tipo”, afirmou Araújo, em Lima, quando questionado sobre o assunto. O Ministério da Defesa, no entanto, disse que desconhece qualquer tratativa desse tipo. Anteontem, Bolsonaro foi questionado sobre o tema em entrevista ao SBT e afirmou que a instalação poderia ocorrer no futuro. O presidente admitiu uma aproximação bélica com os EUA. “A questão física pode ser até simbólica”, disse Bolsonaro.
    De acordo com o chanceler, o tema poderia ser discutido até março, caso Bolsonaro encontre o presidente dos EUA, Donald Trump, em viagem oficial. “(A base) seria parte de uma agenda muito mais ampla que queremos ter com EUA, que creio que os EUA querem ter conosco. Então, quando tivermos essa visita, esperamos que a tenhamos como o presidente quer, até março, haverá uma agenda que cobrirá além de cooperação e defesa, segurança, temas de comercio e economia.” Ontem, Bolsonaro voltou a se manifestar favoravelmente à instalação de uma base militar dos Estados Unidos (EUA) em território brasileiro. Defensor da aproximação diplomática e comercial com os EUA e admirador de Trump, Bolsonaro disse considerar o povo americano “amigo” e vinculou um possível acordo futuro com o país a questões de segurança nacional.
    Defesa. A assessoria do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, informou ao Estado que ele “não tem conhecimento de qualquer tratativa nesse sentido e que não tratou do tema com o presidente”. O ministério disse que não seria possível avaliar vantagens e desvantagens para as Forças Armadas brasileiras “sem ter conhecimento de possíveis condicionantes envolvendo o tema”.
    Oficiais das Forças Armadas consultados pelo Estado reagiram com surpresa à declaração do presidente. Eles avaliam que Bolsonaro falou em tom de especulação. Os Estados Unidos têm cooperação militar com o Brasil e outros países sul-americanos, como Peru e Colômbia, onde mantêm bases militares. A posição geográfica do litoral nordeste do Brasil desperta interesse militar, pelo acesso facilitado à África e Atlântico Sul. Durante a 2.ª Guerra Mundial, os EUA instalaram temporariamente bases militares no Norte e no Nordeste, depois desativadas.

    quinta-feira, 5 de outubro de 2017

    Oswaldo Aranha, textos e analises; Rogerio S. Farias e Paulo R. Almeida

    Quase pronto o nosso livro de textos de (e análises sobre) Oswaldo Aranha; últimas correções e depois impressão. Dentro em breve vai estar disponível na Biblioteca Digital da Funag, podendo igualmente ser adquirido impresso.

    Eis o Sumário:

    Volume 1

    Prefácio
    Cronologia
    Introdução geral
    Oswaldo Aranha: the evolution of his strategic vision
    Stanley Hilton

    Parte I: Diplomacia hemisférica (1934-1939)
    Parte II: O chanceler no conflito global (1939-1945)
    Parte III: Multilateralismo e pós-guerra (1947-1958)

    Volume 2

    Parte IV: O estadista econômico
    Parte V: O estadista político

    Frases de Oswaldo Aranha
    Referências bibliográficas
    Sobre os autores

    e o Índice Geral:

    Volume 1

    Prefácio. Oswaldo Aranha: diplomata e estadista, 19
    Sérgio E. Moreira Lima
    Cronologia , 29
    Introdução geral, 37
    Rogério de Souza Farias
    Oswaldo Aranha: the evolution of his strategic vision, 57
    Stanley Hilton

    Parte I - Diplomacia hemisférica (1934-1939) 
    Introdução, 89
    Rogério de Souza Farias
    O homem de virtù. Oswaldo Aranha em Washington (1934-1937), 101
    Carlos Leopoldo G. de Oliveira
    Textos de Oswaldo Aranha
    Entre a Europa e a América (1934), 121
    A chegada nos Estados Unidos (1934), 127
    Um elogio à civilização americana (1936), 131
    Limite, fronteira e paz (1937), 135
    Retorno da Embaixada em Washington (1937), 155
    Posse no Ministério das Relações Exteriores (1938), 157
     Paz para a América: assinatura da paz do Chaco (1938), 163
    A vulnerabilidade das Américas (1939), 167
    Pan-americanismo (1939), 173
    Retorno da Missão aos Estados Unidos (1939), 177
    Avaliação da Missão Aranha (1939), 183
    Reassumindo Itamaraty (1939), 191

    Parte II: O chanceler no conflito global (1939-1945) 
    Introdução, 197
    Paulo Roberto de Almeida
    Oswaldo Aranha e os refugiados judeus, 235
    Fábio Koifman
    Textos de Oswaldo Aranha
    Fronteiras e limites: a política do Brasil (1939), 259
    A preparação para a guerra (1939), 279
    Conferência sobre a história diplomática brasileira (1940), 283
    Reunião de consulta dos chanceleres americanos (1942), 297
    O papel do Itamaraty na política do Brasil (1942), 303
    O torpedeamento de navios brasileiros (1942), 307
    O Brasil e a comunidade britânica (1942), 311
    A carta a Vargas: planejando o pós-guerra (1943), 321
    A América no cenário internacional (1943), 329
    Um ano da entrada do Brasil na guerra (1943)., 333
    A Sociedade dos Amigos da América (1945), 337
    Comício das quatro liberdades (1945), 347
    Liga da Defesa Nacional (1945), 363

    Parte III: Multilateralismo e pós-guerra (1947-1958) 
    Introdução, 373
    Rogério de Souza Farias
    Textos de Oswaldo Aranha
    A conception of world order (1947), 391
    Homenagem nas Nações Unidas (1947), 399
    A profile of Brazil (1947), 401
    Sessão Especial da ONU: Partilha da Palestina (1947), 407
    Abertura da II Assembleia Geral da ONU (1947), 411
    A new order through the United Nations (1947), 419
    A crise da consciência universal (1948), 429
    Regional systems and the future of UN (1948), 439
    A ONU e a nova ordem mundial (1948), 447
    Entre a paz e a guerra (1949) , 455
    Formatura no Instituto Rio Branco (1950), 477
    O Brasil e o pós-guerra (1950), 491
    Estados Unidos e Brasil na Guerra Fria (1953), 503
    A última missão na ONU (1957), 515
    Um balanço da Assembleia Geral da ONU (1957), 521
    Dez anos nas Nações Unidas (1957), 525
    Reatamento das relações com a União Soviética (1958), 533
    Discurso na ESG: o bloco soviético (1958), 545

    Volume 2
     
    Parte IV: O estadista econômico 
    Introdução, 569
    Paulo Roberto de Almeida
    Textos de Oswaldo Aranha
    Renegociação da dívida externa (1934), 601
    Nacionalismo econômico na Constituinte (1934), 627
    Comparando as economias do Brasil e dos Estados Unidos (1936), 633
    Soluções nacionais para os problemas de cada país (1937), 643
    Tratado de integração econômica Brasil-Argentina (1941), 647
    The rise of interdependence (1947), 655
    De volta ao Ministério da Fazenda (1953) , 661
    A situação financeira e econômica do país (1953) , 671
    O parlamento e as finanças (1953) , 689
    Os fundamentos do Plano Aranha (1953), 701
    O problema da dívida brasileira (1954)., 725
    O café e o Brasil (1954), 735

    Parte V: O estadista político 
    Introdução, 745
    Paulo Roberto de Almeida
    Textos de Oswaldo Aranha
    A Revolução (1930), 761
    Despedida do Ministério da Justiça (1931), 765
    Roosevelt: o único estadista mundial (1945) , 785
    A relevância de Rui Barbosa (1945), 817
    Democracia, Estado Novo e relações internacionais (1945) , 819
    Os governos e o povo (1947), 825
    Discurso no túmulo de Vargas (1954), 837
    Compreendendo o suicídio de Vargas (1954) , 847
    A despedida do estadista (1959), 857

    Frases de Oswaldo Aranha., 873
    Referências bibliográficas , 879
    Sobre os autores , 911