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terça-feira, 16 de março de 2021

Chanceler acidental terá de informar exatamente os custos e os retornos da aloprada visita para nada em Israel (UOL)

 Araújo terá de revelar emails, custos e documentos de viagem para Israel

UOL | 16/3/2021, 4h

O chanceler Ernesto Araújo recebeu um requerimento para apresentar todos os documentos, telegramas, emails e custos da viagem que ele liderou na para Israel. O pedido foi apresentado pela bancada do PSOL na Câmara dos Deputados e, entre os pedidos, o grupo solicita todos os informes científicos que basearam a missão, além do material técnico que teria servido para justificar a aproximação com os institutos israelenses.

"No início da semana passada, em plena pandemia com recordes diários de mortes, o país foi surpreendido com o anúncio de uma comitiva do governo brasileiro Israel", afirma o requerimento obtido pela coluna.

"Em um contexto de afastamento da respeitada tradição diplomática brasileira, de ataques ao multilateralismo e de um aparelhamento ideológico, acientífico e inconsequente das relações exteriores, urge que este Parlamento e a sociedade em geral tenham acesso às informações aqui solicitadas", insiste o requerimento assinado pela deputada Talíria Petrone, além de outros deputados.

A Constituição prevê que o Itamaraty é obrigado a prestar as informações, de maneira clara e objetiva, sob pena de cometimento de crime de responsabilidade. Caso a documentação seja reservada ou sigilosa, o governo precisa justificar a medida.

Os parlamentares querem saber quando e por iniciativa de quem se decidiu realizar a viagem. "Solicitam-se cópias de todos os documentos e comunicações preparatórias e da agenda de reuniões e eventos em que houve participação da comitiva", pedem.

Ciência?

Outro destaque do requerimento é a questão científica. "Houve base científica para justificar a preferência por relações de cooperação com Israel sobre possíveis tratamentos contra a Covid-19 ainda em fase incipiente de testes? Em caso afirmativo, solicita-se o detalhamento destas razões e envio de relatórios e pesquisas que as comprovem", dizem os deputados. "Se não, por que o Brasil assume esta preferência e não realiza movimentos de aproximação com outros países com pesquisas semelhantes ou mais avançadas?", questiona.

Os parlamentares ainda destacaram como o deputado federal Eduardo Bolsonaro justificou o interesse de Israel em testar no Brasil em virtude da "miscigenação" de nossa população. "Solicitam-se cópias de todos os estudos, relatórios e comunicações a respeito do referido medicamento em posse deste Ministério", pediram.

O grupo também quer saber quantos e quais cientistas, técnicos, acadêmicos e pesquisadores da área de epidemiologia e infectologia participaram da delegação.

"Solicita-se a lista exaustiva de todos os membros da referida comitiva, com a descrição de seus cargos e detalhamento de todos os eventos, reuniões e demais compromissos aos quais atenderam durante a viagem", pedem.

Gastos

Outro trecho do requerimento exige do Itamaraty explicações sobre o custo da viagem. "Considerando o agravo estágio da pandemia global de Covid-19, o que justifica a realização da viagem em questão em detrimento da realização de reuniões virtuais?", questiona.

"Qual o valor total gasto na referida viagem? Solicita-se a descrição exaustiva de todos os custos relativos a sua realização", diz o documento. Também são solicitados do Itamaraty cópias da íntegra dos instrumentos assinados com o Instituto Weizman, Hadassa e o Ichilov.

Os deputados também querem saber se tecnologias, políticas públicas ou empresas brasileiras na área de saúde foram de algum modo promovidas durante a viagem.

Constrangimento do chanceler

Os protocolos estabelecidos pelo governo de Israel também foram motivos de questionamento, assim como o "pito" que Araújo recebeu das autoridades locais por não levar a máscara.

"Quais protocolos sanitários - testes, uso de máscara, distanciamento, isolamento, dentre outros - foram adotados pelos membros da comitiva antes, durante e depois da viagem? A comitiva foi instruída por autoridades israelenses a utilizar máscaras ao chegar naquele país?", pedem.

"Qual a avaliação deste Ministério sobre o constrangimento diplomático causado pela repreensão ao ministro Ernesto Araújo por não utilizar máscara em evento durante a comitiva?", questionam.

Mas os parlamentares também pediram ao Itamaraty detalhes sobre todos os demais assuntos tratados durante a viagem. "Solicita-se uma lista exaustiva de todos os temas abordados, com identificação dos interlocutores envolvidos, descrição dos posicionamentos apresentados e detalhamento dos eventuais encaminhamentos", indicaram.

No documento, os deputados lembraram que, durante a comitiva, o ministro das relações exteriores israelense agradeceu ao Brasil por sua posição contrária à investigação pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) sobre os crimes de guerra perpetrados por Israel contra o povo palestino.

"Pergunta-se: o Brasil reconhece Israel como potência ocupante na Faixa de Gaza e Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, sujeita, portanto, às disposições da IV Convenção de Genebra? O Brasil possui posicionamentos sobre outras investigações em curso no TPI?", questionam.

"Durante a comitiva, abordou-se a discriminação imposta a palestinos e palestinas no processo de vacinação empreendido em Israel e no Território Palestino Ocupado, onde residem milhares de colonos israelenses?", completam.

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2021/03/16/araujo-tera-de-revelar-emails-custos-e-documentos-de-viagem-para-israel.htm


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Minhas críticas à diplomacia bolsolavista SEIS MESES ANTES de sua implementação - Paulo Roberto de Almeida

 Reproduzo o que escrevi numa recente postagem no Facebook: 

Antes mesmo de começar o desgoverno do capitão, eu antecipei que a política externa a ter início em janeiro de 2019 seria um desastre, isso com base unicamente em cinco medíocres parágrafos esquizofrênicos contidos no seu programa de governo, liberado em agosto de 2018. Não só antecipei a ruindade que seria, como publiquei minhas críticas em meu blog Diplomatizzando. Eu só pequei por ingenuidade, achando que os estronchos iriam se corrigir uma vez sentados nas cadeiras do poder. Que ilusão! Não se corrigiram e conseguiram ser MUITO PIORES do que o imaginado, mas MUUUIIITO PIORES.

Minhas críticas, formuladas imediatamente após conhecer a porcaria de programa do candidato tresloucado na parte da política externa, foram "externadas" neste trabalho:
3321. “Um programa insuficiente de política externa: comentários pessoais”, Brasília, 15-16 agosto 2018, 5 p. Comentários à parte de política externa do programa do candidato Bolsonaro. 
Divulgado no blog Diplomatizzando (15/08/2018; link:
e no Facebook: 

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Google Alerts sobre "política externa brasileira": cada matéria mais deprimente que a outra...

 Os alertas do Google não conseguem trazer NENHUMA notícia positiva para o chanceler acidental, para a sua desastrosa política externa (que na verdade não existe, como alertam várias das matérias aqui selecionadas), para o desgoverno do capitão, para o Brasil. Todas são profundamente deprimentes, vergonhosas para o corpo profissional do Itamaraty, para a nação como um todo...

Quem fala muito em soberania, é porque, no fundo, tem o pressentimento de que ela não está sendo suficientemente defendida, e de fato é isso que ocorre, pois esse bando de malucos alienou a nossa soberania a um mentecapto estrangeiro, um pouco mais poderoso do que os mentecaptos nacionais.

Nem dá vontade de abrir qualquer uma dessas matérias, pois elas dizem o que já sabemos.

Paulo Roberto de Almeida

Google
politica externa do Brasil
Atualização semanal  21 de dezembro de 2020
NOTÍCIAS 
Publicado em 20/12/2020 - 09:42 Por Agência Brasil - Brasília. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo, será entrevistado neste domingo (20) ...
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A destruição da política externa. O País nunca esteve tão isolado e os interesses nacionais nunca foram tão mal defendidos.
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A rejeição do Senado à indicação do embaixador Fabio Marzano para a delegação do Brasil junto à ONU em Genebra (Suíça) foi um recado político ...
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... do Brasil, com consequências para as políticas externa e interna do país, ... e externa americana, será um tema delicado na relação com o Brasil”, ...
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Profissionais não podem reclamar quando permitem que amadores mandem na política externa. William Waack, O Estado de S.Paulo.
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Em dois anos de governo, a política de Araujo-Bolsonaro só rendeu ao Brasil perda de prestígio e influência, isolamento e desmoralização. Mas a ...
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Sem política externa. Governo não moveu uma palha para evitar a perda do poder de voto do Brasil na ONU.
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Com as eleições americanas no horizonte e o alinhamento do Brasil à política externa dos Estados Unidos, diz Caramuru, o presidente e a ...
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Especialistas em política externa, no entanto, demonstram certo ceticismo com a perspectiva de uma adesão rápida do Brasil como membro.

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Do lado do Brasil, vemos uma politização histórica da política externa", afirma Guilherme Casarões, professor de relações internacionais da ...
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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Os desastres da política externa do olavo-bolsonarismo - Paulo Roberto de Almeida


Os desastres da política externa do olavo-bolsonarismo

Paulo Roberto de Almeida
  
As decepções e mesmo as derrotas eram previsíveis: conduzida por amadores da própria família presidencial e por um aspone medíocre de um partido sem qualquer credencial no setor, e que, sob recomendação de um guru destrambelhado e completamente inepto em relações internacionais, escolheram um chanceler amestrado para operar a máquina do Itamaraty (sem maiores credenciais para fazê-lo, e devendo sua designação à montagem improvisada de qualificações artificialmente moldadas para agradar os novos donos do poder), a diplomacia “terraplanista” só podia dar errado em toda a linha, e isso pela absoluta ignorância, despreparo e vulgaridade do titular.
Primeiro, foi a servidão voluntária e sabuja demonstrada não em relação a um país, os EUA, mas a um dirigente tosco, Trump, que já tinha amplamente demonstrado as mesmas más qualidades que o seu novo admirador beato. A submissão às piores loucuras do “laranjão” grosseiro e autocentrado, foi muito além do antigo entreguismo tupiniquim, que só queria ampla associação com o capital estrangeiro via investimentos diretos privados, jamais subordinação da política externa a uma potência qualquer, mesmo sendo ela a líder ocidental na luta contra o comunismo. Essa primeira grande ilusão terminou por ser desfeita na questão da OCDE, e parece comprometer irremediavelmente as chances de ter um de seus pimpolhos — o 03, o chanceler real, mas totalmente inepto para o cargo — aprovado como embaixador na capital do império.
Segundo, foi a grosseria demonstrada pelo titular principal no tratamento da questão das queimadas amazônicas, tanto interna quanto externamente, o que implodiu imediatamente a implementação do acordo UE-Mercosul laboriosamente construído pela equipe econômica (com a participação marginal do Itamaraty), sem chances de aprovação pela parte europeia no futuro previsível. A culpa, no caso, incumbe inteiramente ao chefe de Estado, um antidiplomata absoluto, no caso secundado por assessores militares que continuam a ser paranoicos amazônicos, como nos velhos tempos da ditadura militar.
Terceiro, o rompimento virtual de relações pessoais com o provável futuro presidente argentino, e danos irreparáveis nas relações entre os dois grandes vizinhos platinos e sócios no Mercosul, devido a agressões verbais incompreensíveis e irreparáveis por parte do mesmo personagem tosco e vulgar, jamais controlado pelo seu chanceler acidental; ao contrário, este acrescentou a indignidade ao insulto, ao comparar o provável vencedor a uma boneca russa, com dois ou três esquerdistas dentro, numa inacreditável demonstração de grosseria diplomática inadmissível num funcionário de carreira (só pode ter sido por seguidismo burro ao chefe). Como reparar e superar esse terceiro grande desastre ainda é uma incógnita no futuro das relações bilaterais e da agenda do Mercosul, já estressada por uma ignorância do titular da Economia sobre a importância do bloco para o Brasil, e não só economicamente.
Esses três grandes desastres diplomáticos — o fim do sonho do ingresso rápido na OCDE e da aliança com o império, a virtual postergação indefinida do acordo UE-Mercosul e a queima gratuita de pontes na principal relação bilateral — se tinham agregado à crônica de outros pequenos desastres anunciados ainda durante a campanha: a devoção evangélica a Jerusalém, o afastamento irracional do principal parceiro comercial e o anticlimatismo burro defendido pelos encarregados do 1/2 ambiente, ministro setorial e chantecler, felizmente contornados por assessores mais racionais ainda presentes e pela pressão do agronegócio, visivelmente preocupado pelas perdas imensas que decorreriam dessas três outras loucuras diplomáticas.
Tem muitas outras bobagens, reais e potenciais, na frente antidiplomática do governo, entre elas o fracasso imediato da adesão ao aventureirismo eleitoral trumpista na questão da Venezuela, a luta insana contra a “ideologia do gênero”, contra um suposto globalismo e o “marxismo cultural” no plano mundial, a aliança com líderes da extrema-direita nacionalista em outros países e outras obsessões ideológicas dos novos cruzados no poder.
Tudo isso conforma um desastre político e diplomático sem precedentes em nossa trajetória de quase dois séculos de lenta construção de uma política externa respeitável e respeitada em âmbito mundial, e mais do que vergonhoso para o corpo profissional do Itamaraty.
Continuarei acompanhando as confusões na área externa, com a compreensível preocupação de um profissional do setor, estarrecido com a diminuição do nosso prestígio internacional, em proporções nunca antes vistas em nossa história diplomática. Lamento ter de desempenhar esse papel de alerta, mas estou seguro de interpretar o sentimento e as apreensões da maior parte dos meus colegas de carreira e de muitos observadores externos.
Ao corpo diplomático estrangeiro, que ainda busca explicações para certos atos inexplicáveis dos atuais titulares do setor, caberia uma palavra de caução quanto a possíveis novos desenvolvimentos nessa área, que não posso oferecer neste momento, por absoluta falta de clareza em torno da possível trajetória a partir dos desastres atuais já enunciados: ou recrudescimento nos erros e equívocos já materializados, ou modesta correção de rumos, que no momento julgo ser improvável. Isso exigiria uma revolução mental por parte do principal responsável e um abandono dos assessores ineptos que não me parece perto de ocorrer. Ou seja, o Brasil poderá continuar exibindo mediocridade governamental e diplomática pelos três anos à frente.
  
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14/10/2019


Miséria da Política Externa - José Augusto Guilhon de Albiquerque

José Augusto Guilhon | Professor de Relações Internacionais

WASHINGTON É APENAS UM DETALHE, BEM QUE EU AVISEI

É A POLÍTICA EXTERNA, SEU TOLO
Em julho, “analistas” e “especialistas” de sempre, pegavam no pé do nosso presidente por causa do nepotismo moral de prometer nomear seu filho para a mais importante missão no exterior, a embaixada em Washington. Ora, o problema realmente grave é a condução de nossa política externa. Segue o blog que postei, comentando esse equívoco:

Bolsonaro está enrolando toda a imprensa e a grande maioria dos publicistas (como eram chamados os que escrevem e falam sobre a coisa pública). Dá vontade de zombar, desqualificar intelectualmente, contestar os fatos, condenar moralmente – concentrar-se nas inúmeras insuficiências intelectuais, morais e de personalidade do presidente. Em pura perda, porque, como já disse em blog anterior, nosso presidente atua por impulso, e não por escolha racional. 
Enquanto se discutem seus gestos e façanhas, os efeitos delas permanecem, e o alvo da controvérsia é totalmente infenso a ela, porque, como também já disse, ele jamais faria nada “disso daí”. Tanto isso vale para sua declaração de que jamais falaria de coisas estratégicas ao telefone, como quando explica que não pratica nepotismo nem favoritismo, nem toma decisões temerárias ao indicar uma pessoa inexperiente e sem qualificações para um posto diplomático que é vital para o interesse nacional.
Acho muito improvável – levando-se em conta a ligeireza com que trata de suas prerrogativas como chefe da Nação e do Estado – que saiba distinguir as questões estratégicas de seus compromissos com os interesses imediatos de seguidores. Tampouco acho provável que saiba distinguir suas relações pessoais de uma política de relações exteriores, a julgar pelo fato de empregar, como modelo de entendimento de tudo o que se passa na sociedade e no Estado, metáforas de relações conjugais, casamento, noivado, namoro e sexo.
Nossa embaixada em Washington é apenas um detalhe – sem dúvida importante, mas um detalhe – no que diz respeito à nossa política externa, que se encontra à deriva. Alguns exemplos concretos podem ajudar a esclarecer meu argumento.
Posso estar enganado, mas o momento de maior risco externo neste governo ocorreu em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, quando o Itamaraty e a Presidência da República cogitaram de coordenar com os EUA uma ação em território venezuelano, que não ocorreu graças à intervenção contrária das nossas Forças Armadas e à moderação de nossos vizinhos do Grupo de Lima. 
Isso se passou a milhares de léguas de Washington. A embaixada em Washington poderia ter aumentado o risco em mãos inexperientes e sem qualificações? Até poderia, tendo um chefe de missão alinhado com John Bolton, assessor de insegurança nacional de Trump. Diga-se de passagem: quem, da confiança de Macron ou de Merkel, ou mesmo de Johnson, tomaria a bênção de John Bolton ou de Steve Bannon?
Também a milhares de léguas de Washington, ocorreram as graves trapalhadas com navios de carga de bandeira iraniana. O embargo trumpiano ao Irã é um dos jogos de guerra prediletos do presidente americano, uma crise criada gratuitamente (mas com custos altíssimos), de acordo com a opinião geral dos especialistas em política externa mais destacados do mundo. Por causa de sua obstinação em alterar o acordo alcançado entre as principais potências mundiais e o Irã – sob a liderança de Obama –, Trump está cobrando um preço enorme aos principais aliados dos EUA em termos perdas de comércio, investimentos e segurança energética.
Todos os países sérios do mundo, especialmente as principais potências europeias, com dependência energética do fluxo de petróleo pelo Oriente Médio, definiram uma política para enfrentar ou contornar o embargo trumpiano, que prevê retaliações contra todas as empresas que não cumprirem seu diktat. E mantêm essa política em contínua evolução, uma vez que o que Trump diz não se escreve, e mesmo o que se escreve não se faz.
Embora as áreas governamentais da agricultura, do comércio exterior, de energia e do sistema bancário, possam e devam ser ouvidas, cabe ao Itamaraty, por orientação do Presidente da República, enfrentar a ameaça aos interesses nacionais provocada por Trump. O Presidente da República Federativa do Brasil, diferentemente dos Estados Unidos da América, não compartilha com nenhum outro poder ou setor do governo (nem com o Itamaraty) a responsabilidade pela definição e a condução da política externa. 
O Itamaraty, portanto, – ou melhor, seu chefe – prevarica ao não possuir um protocolo bem definido sobre as políticas a serem seguidas pelo País em casos como o dos navios sob bandeira iraniana que a Petrobrás se recusou a abastecer. Na vigência desse protocolo, não se deixaria a questão do embargo ao sabor de um jogo de empurra entre decisões da Petrobras, de juízes de diferentes instâncias, ou do STF, despreparados que são, e sem autoridade constitucional para interferir na definição e condução da política externa brasileira.
É bem verdade que o Presidente da República abriu mão de ter uma política externa ao nomear um chanceler sem qualquer experiência de chefia de missão no exterior e ao entregar a definição de nossa política externa a outro país, como tornou público ao declarar, segundo a Folha (25/07/2019): “Sabe que estamos alinhados à política deles. Então, fazemos o que tem que fazer”. 
Em casos dessa natureza, é dever de Estado do chefe da diplomacia esclarecer ao Presidente a diferença entre alinhamento diplomático e subserviência a uma potência externa. É o que deveria distinguir o Brasil de Hong Kong e Macau, por exemplo, cuja política externa e de defesa estão a cargo de Pequim. 
O prejuízos aos interesses nacionais e a sua segurança internacional estão – e tudo indica que continuarão – em risco, independentemente de quem for efetivamente nomeado para Washington.

O NEO-ENTREGUISMO DA NEO-DIREITA

A noção de que o radicalismo é uma opção estratégica de atores sociais e políticos, e não o resultado espontâneo da convivência humana, não é intuitiva. Apenas a reflexão teórica a partir de fatos observados permite explica-la. Um exemplo singelo pode ajudar a entender este argumento. 
As opiniões políticas, sociais, morais, religiosas, etc., expressam-se geralmente ao longo de um amplo espectro, com tênues divergências entre as diferentes denominações. A hipótese teórica que cabe aqui, é que a polarização provém de uma opção deliberada das denominações extremas, de definir, como principal ameaça a ser combatida e neutralizada, a imensa maioria que as separa. Observe-se que o espectro de diferenças “ideacionais” entre as denominações é geralmente extenso e difuso, o que equivale a dizer que cada variante tende a ser pequena e as alas extremadas a serem minúsculas.
Tudo isso para falar da suposta radicalização entre “nacionalistas” e “entreguistas” ao longo da segunda metade do século passado neste País e, com isso, justificar por que classificar o governo neo-direitista de Bolsonaro como um governo neo-entreguista. Em todo o período mencionado, essas classificações eram mais categorias de ofensa e armas eleitorais do que critérios de diferenciação, tais como seriam hoje as acusações de neoliberalismo ou de globalismo. Ora, a maioria dos acusados de neoliberalismo, no passado ou no presente (não são os mesmos…), sequer poderiam ser considerados liberais, e a imensa maioria dos chamados globalistas sequer sabe do que se trata. 
Tradicionalmente, chamava-se de “entreguistas” os que não excluíam totalmente a presença de capitais estrangeiros no País e, mais importante, não consideravam os EUA uma potência agressora. “Nacionalistas”, por sua vez, eram tachados de “comunistas”, desde que não considerassem a União Soviética um perigo iminente de agressão. Ambos – “nacionalistas” e “entreguistas” – eram ao menos parcialmente estatistas, de moderadamente desenvolvimentistas para cima e favoráveis a proteger o comércio e as indústrias que competiam com importações – que muitos “nacionalistas” chamavam de “burguesia nacional”.
Governos como o brasileiro, o americano, o húngaro, o turco, são hoje chamados, pela literatura internacional de Ciência Política, de “neo-direita” por não se encaixarem no conceito tradicional de direita. Mas o governo Bolsonaro possui, ademais, uma característica única na neo-direita contemporânea, ao aceitar uma tutelagem explícita exercida por uma potência estrangeira, isto é, ao colocar-se numa posição de protetorado – ou seja, um país soberano, cuja política externa e cuja defesa de interesses vitais são, não obstante, exercidos por uma potência estrangeira.
Dois breves exemplos de que o Brasil de Bolsonaro é um protetorado dos EUA de Trump: o enviado especial de Bolsonaro a Washington – seu filho – em companhia de seu chanceler, disse a jornalistas brasileiros à saída de uma reunião com Trump que “Brasil e os Estados Unidos estão aliados e, em que pese alguns líderes tentarem fazer qualquer tipo de negociação com a Amazônia sem a presença do Brasil, vão encontrar muitos problemas de tentar fazê-la porque os Estados Unidos vão se opor a isso”.


O chanceler de Bolsonaro tinha uma agenda secreta – amplamente divulgada pela imprensa – em meados de julho: revisar o discurso do presidente brasileiro na abertura da Assembleia Geral da ONU, com um ex-estrategista chefe de uma potência estrangeira, Steve Bannon.