Não vou entrar no “debate” entre o patético chanceler acidental de um país surrealista situado a centro-leste da América do Sul e o representante de uma ditadura caricata (mas efetiva em suas cubanices), pois nem ouvi por inteiro os dois “pronunciamientos”, nem isso interessa para o que pretendo destacar: a parte em que o chanceler venezuelano, depois de recomendar um calmante ao sub-chanceler brasileiro, manda um “recado” aos diplomatas profissionais brasileiros:
Sei que vocês estão em resistência, que têm vergonha das posições de seu chanceler. Mas fiquem tranquilos. Isso é temporário e, no final, nenhum governo, nenhum chanceler pode derrotar a excelência do que representa o Itamaraty. No final, esses anos serão apenas uma má lembrança e nada mais.
De fato, estes “anos de chumbo”, tristes e lamentáveis, da diplomacia brasileira vão passar e reconstruiremos a honra, o prestígio e a qualidade que ela sempre teve pelos seus profissionais qualificados, mas isto depois que os novos bárbaros forem escorraçados democraticamente pela vontade do povo brasileiro.
Até lá, cabe aos diplomatas conscientes e responsáveis — excluindo aqueles poucos que estão aproveitando essa janela de “loucura diplomática” dos sabujos e capachos que grudaram nos tiranetes do poder para arrancarem vantagens temporárias para si mesmos — preparar o caminho da reconstrução de uma nova diplomacia brasileira, com as boas motivações dos mais jovens e ousados profissionais e daqueles mais seniores e mais experientes, que não se deixaram contaminar pelas insanidades dos que estão destruindo as bases fundamentais sobre as quais sempre se ergueu uma das boas diplomacias de um país emergente, desigual, mas aberto às inovações e aos talentos dos inteligentes.
A vergonha passará, mas eu não deixarei de oferecer o meu registro e as minhas reflexões sobre estes tempos pouco convencionais de um mergulho temporário no histrionismo ridículo de quem pretende representar a diplomacia brasileira.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2/12/2020