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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Carlos Lacerda: confrontando Getulio Vargas em 1950

Agradeço enfaticamente ao Carlos Mauricio Pires Albuquerque Ardissone por ter não apenas corrigido meu erro monumental, ao atribuir o alerta abaixo de Carlos Lacerda à circunstância da eleição de JK, em 1955, e não, como é o correto, à eleição de Getúlio Vargas, em 1950. Feita a correção, transcrevo o texto gentilmente cedido pelo Carlos Ardissone, a quem manifesto uma vez mais minha gratidão pela retificação.
Paulo Roberto de Almeida

ADVERTÊNCIA OPORTUNA
Carlos Lacerda
Tribuna da Imprensa, 1º de junho de 1950

A esta hora terá o sr. Getúlio Vargas recebido uma advertência oportuna. Não se trata de retirar-lhe os direitos políticos, pois o que não foi feito a 29 de outubro não teria cabimento agora. Menos ainda se trata de proibir-lhe o acesso a assembleias legislativas, para uma das quais, a mais alta de todas, foi eleito e à qual não se dignou de comparecer.

Trata-se, isto sim, de advertir o antigo ditador sobre os perigos que ele faz correr a nação, e os que ele próprio terá de arrostar, se insistir em se prevalecer das armas democráticas que negou aos seus concidadãos para voltar ao poder de que se havia apropriado pela força.

Essa advertência feita agora com ponderação e equilíbrio pelo Ministro da Guerra, sem arreganhos de força, mas sem o açodamento ignóbil com que alguns políticos e outros tantos militares desmandados procuram fazer reverdecer a árvore seca da ditadura, deve calar fundo no espírito do sr. Getúlio Vargas.

Ele bem sabe que não tem o direito de protestar contra qualquer aparente cassação de seus direitos de ser candidato à presidência da República. Candidato ele pode ser, o que não pode é ser presidente. Absurdo? De nenhum modo. O sr. Getúlio Vargas bem sabe que não é absurdo, uma vez que não fez outra coisa senão beneficiar-se dele.

Em 1930, derrotado na eleição - ainda que esta não fosse das mais lisas - prevaleceu-se de uma revolução para assumir a presidência. O candidato legalmente eleito era o sr. Júlio Prestes. Quem subiu ao poder foi o sr. Getúlio Vargas.

Em 1934, quando a eleição deveria ser feita pela consulta direta ao sufrágio direto e universal, o sr. Getúlio Vargas manobrou de modo a que se escamoteasse a decisão das urnas - e se fez eleger pelo voto indireto da Constituinte. Com isso, evitou o debate, a campanha e a concorrência nas urnas livres. E não houve candidato - pois quem estava lá ficou.

Em 1937, quando se devia efetuar uma eleição livre e honrada, o grande benefício da Revolução de 30 ao Brasil, a qual deveria ser, apesar dos pesares, a consagração do seu governo, ele traiu a Constituição e, mentindo, fez-se ditador - cancelando a eleição e, portanto, suprimindo os candidatos.

Em 1945, preparava-se para fazer o mesmo quando foi apeado do poder. Com um governo provisório, ele se rebelou? Mostrou-se, acaso, inconformado? Nada disso. Concorreu muito bem comportado às eleições. E à última hora fez valer todo o peso de sua propaganda e da confiança que de boa-fé depositava nele uma grande parte do povo para eleger o seu candidato, o candidato de Getúlio Vargas, chamado Eurico Gaspar Dutra. Aceitou, portanto, o novo estado de coisas, submeteu-se às regras e princípios que informaram a nova situação, surgida do 29 de outubro. E fez das franquias que lhe foram concedidas o uso que se sabe: elegeu o general Dutra.

Agora, premido pelos famintos do poder e da volta à comilança, por todos os coronéis Teles, por todos os Artures Pires deste país, ele conta utilizar o honrado apoio de muitos brasileiros dignos que nele creem como tantos bons italianos acreditaram em Mussolini, ele se dispõe a ser candidato - e ainda pretende tomar posse.

Não. Mil vezes não. Ainda que para isso seja preciso fazer uma revolução no Brasil, tenhamos a coragem de dizer claramente ao sr. Getúlio Vargas: desista, porque não voltará à presidência da República.

Isso desgostará muitos brasileiros? É pena. O que não é possível é ver o governo que tem governado tão mal, por culpa do próprio sr. Getúlio Vargas, que o elegeu, servir afinal à volta do seu antigo amo, do ditador fantasiado de democrata.

A campanha divide opiniões. A existência de mais um candidato divide salutarmente as correntes partidárias, provoca um choque útil - aquele que o Estado Novo procurou eliminar. Mas, uma vez terminada a campanha, cessa a luta e o que existe ou deve existir é apenas governo e oposição numa emulação, numa concorrência útil ao país.

A eleição do sr. Getúlio Vargas, porém, seria diferente. Ela não dividira opiniões dos brasileiros, ela dividiria os brasileiros. Verdadeiramente não seria uma luta política, seria uma luta de vida ou morte, entre os que acreditam na democracia com democratas e os que acreditam na democracia com antidemocratas.

A divisão não seria de opiniões e sim de concepções de vida, do Estado, da sociedade, da nação. O sr. Getúlio Vargas deixaria de ser aquele velhote galhofeiro e churrascal do Itu para ser, então, na prática, o símbolo de uma empreitada monstruosa de destruição do regime em que pretendemos viver, e que ele já traiu mais de uma vez.

O sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar. Ele já fez várias, isso para ele não é novidade.

Sentimo-nos no dever de lealmente lhe dizer que a advertência do ministro da Guerra não é apenas a do oficialismo, a do governo, a das Forças Armadas. É a de uma parte considerável e também responsável da nação, que está pronta a se unir com o governo ou com quem quer que seja para evitar que ele, o traidor de 10 de novembro de 1937, volte a governar o Brasil com a sua camorra.

O sr. Getúlio Vargas já teve tudo o que podia esperar do Brasil - e muito mais. Deixe-o agora em paz, se quiser ter paz. Pois, se quiser guerra, ele a terá também, e não poderá se queixar dos resultados.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Sobre alguns boatos persistentes: um novo desmentido - Paulo Roberto de Almeida

Tomei conhecimento, novamente nesta data (15/08/2018), por um colega de trabalho, de boatos, aparentemente persistentes, sobre minha condição de "assessor de um (tal) candidato (de direita) na área de relações internacionais", com "acusação" adicional de que seria o "indicado" para o Itamaraty nesse governo, em caso de vitória desse candidato nas eleições de outubro. 
Fui novamente tomado de surpresa, uma vez que não estou assessorando nenhum candidato, não pertenço e nem pretendo pertencer a qualquer partido, sou absolutamente independente, embora tenha convicções e escolhas políticas, sendo que meus candidatos – não tenho nenhum problema em apontar os preferidos – nas eleições presidenciais são, pela ordem, João Amoedo e Geraldo Alkmin.

A única coisa a que sou candidato seria continuar a exercer minhas atividades intelectuais, e a terminar a redação de meus volumes 2 e 3 de minha história da diplomacia econômica, cujo primeiro volume já foi publicado em terceira edição, como informo ao final.

Para dirimir qualquer dúvida quanto a minha postura, permito relembrar, e reproduzir, texto que já disseminei um mês atrás, quando os primeiros boatos chegaram aos meus ouvidos. Não tenho nada de novo a acrescentar ao que já disse neste texto, e que reproduzo novamente abaixo.

Como fiz em todas as eleições anteriores – e isto está claramente indicado numa seção da coluna da direita neste meu blog – sigo atentamente programas e propostas dos candidatos, agregando comentários pessoais, especialmente sobre economia, relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira, nos blogs temporais indicados ali. O blog deste ano é este aqui: 

Eleições presidenciais 2018
https://eleicoespresidenciais2018.blogspot.com

Segue a ficha e o texto deste meu segundo desmentido (e espero que não necessite uma terceira vez):

3300. “Uma revelação surpreendente, uma explicação necessária”, Brasília, 15 julho 2018, 3 p. Sobre um boato de que eu estaria trabalhando na equipe de certo candidato de direita e integraria seu ministério, meus comentários. Divulgado no blog Diplomatizzando(https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/07/uma-revelacao-surpreendente-uma.html), disseminado no Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1996311863765587).

Uma revelação surpreendente, uma explicação necessária

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: retirar fundamento de um boato; finalidade: esclarecimento público]


Minha atenção foi chamada, recentemente, para uma revelação surpreendente, feita em tom de confidência por um amigo que a ouviu, direta ou indiretamente, de algum colega diplomata, segundo a qual eu estaria integrando a equipe de apoio de um dos candidatos às próximas eleições presidenciais – ou seja, fazendo parte de um grupo de formulação de políticas – e que eu poderia vir a ser membro de seu ministério, na área das relações exteriores, se por acaso esse candidato, classificado à direita no âmbito do espectro político, viesse a ser eleito. Não sei exatamente de onde pode ter saído tal “informação”, mas ela não corresponde absolutamente à minha postura, na atual campanha eleitoral, por motivos que julgo relevante explicar, por simples cuidado de transparência, aliás confirmada em relação a minha produção intelectual e atividades públicas, objeto de registro e divulgação em minhas ferramentas de comunicação social, como por exemplo o blog Diplomatizzandoe o meu site pessoal, nos quais estão consignadas minhas listas de trabalhos originais e os publicados. 
Não estou, por razões de ética profissional e de simples acatamento a uma postura totalmente independente em relação a partidos e movimentos políticos, a serviço de qualquer um dos atuais ou futuros candidatos à presidência da República, assim como não postulo, e não desejo, por razões eminentemente práticas, exercer qualquer cargo executivo em eventual governo que venha a tomar posse em janeiro de 2019. Preservo total autonomia de pensamento e ação no terreno da política e, embora seja um cidadão consciente de minhas obrigações cívicas nessa área, não aspiro cargos ou assessorias em qualquer governo que venha a se formar a partir das eleições de outubro do corrente ano. Pretendo manter minha atitude de distanciamento crítico em relação a qualquer um dos candidatos à presidência do Brasil, em especial em relação ao candidato ao qual pretendem, contra a minha vontade, me vincular politicamente.
Essa revelação surpreendente pede algum esclarecimento sobre suas prováveis origens, assim como minha postura aqui exposta apela a uma explicação credível; é a isto que se destina a presente nota. Meus colegas de carreira estão quase amplamente informados, mas não necessariamente o público externo, de que, dentre os diplomatas que, na vigência dos governos do PT, foram considerados como “adversários políticos” de um regime que eu nunca hesitei em considerar nefasto ao Brasil, eu fui o único que permaneci, na inteira vigência daquele “reinado”, sem qualquer cargo ou função na Secretaria de Estado, aliás até o presente momento. Desde o início de 2003, quando fui expressa e deliberadamente vetado para um cargo no Itamaraty, ao qual eu tinha sido convidado em razão de minha capacitação na área, atravessando os dois governos Lula e um e meio de sua sucessora, e até o momento mesmo do impeachment, em maio de 2016, eu nunca exerci qualquer função na Secretaria de Estado, vetado que estava para o exercício das atividades às quais eu estava vinculado por dever de ofício, e isso contrariamente a normas administrativas a que o Ministério deveria estar adstrito. Já me expliquei, em diversas ocasiões, mas especialmente em dois textos divulgados em meu blog pessoal – uma primeira vez em 18 de dezembro de 2016, uma segunda em 26 de junho de 2018: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/uma-longa-travessia-do-deserto.htmlhttps://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/duas-pedras-no-meio-do-caminho-paulo.html– sobre como transcorreu essa longa travessia do deserto funcional a que estive relegado, um exílio involuntário que durou exatamente o dobro de meu primeiro exílio, voluntário, a que fui levado durante o período da ditadura militar. 
Pois bem, a que se poderia atribuir a “informação” em questão, dado que sempre fui extremamente discreto quanto às minhas escolhas políticas, mas deliberadamente aberto e transparente quanto ao que penso em relação a políticas e políticos em geral? Provavelmente ao fato que nunca escondi o que pensava – e isto está registrado em inúmeros trabalhos publicados desde antes de 2003 – sobre o partido companheiro e suas políticas esquizofrênicas para a administração do país. Paralelamente às minhas atribuições profissionais na carreira diplomática, exerço desde sempre atividades complementares no mundo acadêmico, sendo autor de muitos livros e artigos sobre os mais diversos assuntos de interesse em meu universo de preocupações intelectuais. Pode-se dizer que fui o único diplomata a ter escrito e publicado artigos e livros que podem ser classificados como objetivamente – e até subjetivamente – críticos em relação ao regime e suas políticas públicas, especialmente sua política externa, que sempre chamei de “lulopetismo diplomático”. 
Entendo que devo a essa postura de objeção pessoal à maior parte das políticas companheiras, em especial na área externa, o fato de ter sido agora alinhado “à direita” do espectro político, posição que rejeito não apenas por convicções ideológicas, mas também porque ela não corresponde absolutamente à verdade dos fatos. Aliás, eu nunca fui crítico do PT e das políticas companheiras porque estas e o seu partido seriam “de esquerda”, o que eu considero plenamente admissível no terreno das opções políticas disponíveis a qualquer cidadão consciente e participante ativo do jogo político, como aliás eu mesmo sou, mesmo sem estar integrado a qualquer partido, o que nunca fiz e não pretendo fazer. Sempre fui opositor daquelas políticas e de seus promotores pelo fato singelo de que sempre considerei que eles fossem totalmente ineptos na condução das políticas públicas, e por saber, de antemão – o que depois se revelou amplamente – que eles eram tremendamente corruptos no exercício do poder, além de dominados por um inaceitável espírito totalitário. 
Creio que os inúmeros textos meus divulgados a esse respeito – a maior parte deles livremente disponíveis nas ferramentas pessoais e na plataforma Academia.edu, e os mais representativos no livro Nunca antes na diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Appris) – podem ter causado essa impressão de que eu estaria identificado com, ou trabalhando para, um desses candidatos também crítico aos companheiros, o que eu desminto formalmente. Recentemente formulei algumas propostas de política econômica externa – notadamente o capítulo sobre “relações internacionais” no livro organizado por Jaime Pinsky, Brasil: o futuro que queremos(Contexto, 2018) – o que pode, mais uma vez, ter aberto espaço para esse tipo de associação que absolutamente inexiste. 
Se ouso ser ainda mais transparente quanto às minhas preferencias políticas, posso confirmar, formalmente, que não sou, nem pretendo ser, eleitor do candidato em questão, por divergir filosoficamente, e absolutamente, de suas posturas gerais em uma variedade muito ampla de terrenos e políticas públicas. Se existe algum candidato que se aproxima mais ou menos daquilo que eu mesmo penso quanto à natureza e sentido das medidas que deveriam ser implementadas por algum estadista (até aqui inexistente) eventualmente alçado à condição de presidente, esta pessoa seria o candidato do partido Novo, com o qual a minha interface de ideias é mais ampla e bem mais convergente. Depois de ter sido marxista na juventude, sou, na idade madura, um libertário puro. 
Espero que estas minhas explicações sejam suficientes para eliminar qualquer questionamento quanto às minhas preferências políticas, ou qualquer “revelação” de que eu estaria interessado em exercer cargos executivos, mesmo em minha área de trabalho. Sou, e pretendo continuar sendo, um espectador engajado, e não mais do que isso. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de julho de 2018

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A obra de história da diplomacia econômica no Brasil, para a qual preciso ainda escrever e publicar o segundo e o terceiro volume: 

Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império. 3ra. edição, revista; apresentação embaixador Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras; Brasília: Funag, 2017, 2 volumes; Coleção História Diplomática; ISBN: 978-85-7631-675-6 (obra completa; 964 p.); Volume I, 516 p.; ISBN: 978-85-7631-668-8 (link:http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=907) e Volume II, 464 p.; ISBN: 978-85-7631-669-5(link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=908).Divulgado no blog Diplomatizzando(link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/formacao-da-diplomacia-economica-no_9.html)e disseminado no Facebook (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1648798118516965).Relação de Originais n. 1351 (prefácio à 2aedição) e 3083 (prefácio à 3aedição).

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Por que votarei em Joao Amoedo? - Paulo Roberto de Almeida

Por que votarei em João Amoedo?

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: declaração de voto; finalidade: divulgação geral]


Não sou homem de partido, nunca serei. O que não quer dizer que eu não possa tomar partido por certas causas. Todos, absolutamente todos, na vida, tomamos partido todos os dias por alguma causa, alguma opção, alguma escolha ou preferência pessoal, ou mesmo coletiva, por algo que corresponda às nossas inclinações, desejos, percepções do que pode ser útil, gratificante espiritualmente, intelectualmente satisfatório ou mesmo materialmente benéfico, para nós mesmos, ou para os que nos são próximos, familiares, amigos, colegas ou parceiros em alguma condição social. 
Ou seja, sempre temos, conscientemente ou não, afinidades eletivas, isto é, empatia, com algo, com pessoas, com situações ou posturas, próprias ou de outrem, com aquilo com que nos identificamos, para resumir em uma expressão, essa sensação de partilha e de simpatia por algumas coisas, de preferência a outras. Assim ocorre também na vida política, pois ela permeia, quer queiramos ou não, toda a nossa condição de vida, a situação econômica, o conforto (ou desconforto) que sentimos em pertencer a uma determinada comunidade, de origem ou adquirida. A vida política está presente em cada momento das atividades cotidianas, pois acordamos e dormimos pagando por bens e serviços, impostos, taxas e contribuições: eletricidade, água, comunicações, provimento de bens essenciais, regulamentos quanto a transportes, trabalho, remuneração, poupança, investimento, viagens, tudo isso, do nascimento até a morte. Ou seja, ao viver em sociedade – e ninguém é eremita neste mundo, nem mesmo os pretensos eremitas – somos condicionados o tempo todo, cada segundo, por normas, leis, regulamentos, proibições e condicionalidades que nos são impostas pela política, em todas as dimensões desse termo.
Se quisermos resumir, a situação é a seguinte: somos todos prisioneiros de uma ordem, com a qual não necessariamente concordamos, mas que se impôs a cada um de nós, desde que viemos ao mundo, com todas as modificações subsequentes, passadas e futuras, e que nos acompanharão até o fim de nossas vidas, e depois continuarão se impondo aos nossos filhos, netos, descendentes. Somos absolutamente condicionados pela política, e dela não conseguimos escapar.
Eu, pessoalmente, dotado de um espírito bem mais libertário e contestador do que conformista e acomodado, considero essa situação como sendo horrível e opressiva. Regras me são impostas sem que eu tenha discutido e decidido o que elas seriam, o que elas são, as mais compatíveis (ou não) com meu estilo de vida, caráter, espírito, inclinações e desejos. Claro, não se pode ter tudo o que se deseja, mas se eu pudesse escolher meu modo de vida seria uma biblioteca recheada de milhões de livros (talvez a Library of Congress), com uma boa ducha num canto e uma máquina de café expresso no outro; o resto viria de acompanhamento, sem esquecer, claro, a melhor companhia de livre eleição (de preferência, a que eu já tenho, Carmen Lícia Palazzo, que lê ainda mais do que eu).
Pronto, estão feitas as minhas escolhas básicas, ainda não satisfeitas, claro. Mas pensemos no nosso Brasil. Você, caro leitor, está satisfeito com este nosso paisinho medíocre, com políticos corruptos no comando do Estado, com corporações tribais atuando como os mandarins do antigo Império do Meio, ou como a aristocracia do Ancien Régime, com capitalistas promíscuos alimentando a cupidez dos primeiros, apenas para continuar a extrair renda do resto da sociedade, em primeiro lugar do próprio Estado?
Eu não estou, mas sei que vai ser difícil mudar tudo isso, libertar o Brasil desse bando de sanguessugas oficiais, desses marajás arrogantes, que se acham no direito de espoliar toda a sociedade para continuar desfrutando de suas mordomias indecentes, desses empresários que vivem grudados nas tetas do Estado, sem qualquer remorso ou vergonha por proceder como rentistas inconfessos. Vai ser difícil, mas nada mudará se não nos mobilizarmos para acabar com esse festival de deformações que foram sendo acumuladas ao longo tempo, enquanto a pátria dormia distraída, e os oportunistas se mobilizavam para capturar a riqueza criada duramente por empresários honestos e simples trabalhadores do setor privado. 
Acredito que nem tudo se fará rapidamente e nada acontecerá do dia para a noite. Mas é preciso começar a mudar, e antes de mais nada as mentalidades. Aquela que herdamos de nossos ancestrais, baseada em “ismos” inaceitáveis, precisa ser aposentada pelo voto, para que possamos inaugurar uma nova fase na vida publica.
Em lugar de patrimonialismo, meritocracia; em lugar de protecionismo, abertura econômica e liberalização comercial; em lugar desse nacionalismo tosco, um patriotismo sem qualquer ingenuidade; em lugar de dirigismo, liberdades econômicas as mais amplas; em lugar de estatismo, livre iniciativa com regulações mínimas, estritamente necessárias a proteger o direito de cada um também se lançar nos negócios; em lugar de intervencionismo doentio, livre arbítrio no plano individual, com plena responsabilização dos agentes privados; em lugar cotas raciais ou exclusivismos religiosos, verdadeira integração de todas as raças, cores e religiões, abolição total do apartheid racialista que pretendem nos impingir os verdadeiros racistas, em nome de uma justiça social que deve ser conquistada pelo acesso igualitário a escolas de boa qualidade para todos; em lugar da extorsão tributária, um regime de Estado mínimo, com serviços individuais e coletivos oferecidos o mais possível em bases de mercado; em lugar de concessões, privilégios e reservas de mercado, abertura total à livre concorrência, ou seja, competição desenfreada aos ofertantes de quaisquer serviços ou bens de consumo, sem barreiras à entrada de novos competidores; liberdade a mais plena possível para que os indivíduos possam viver de acordo com a sua consciência, sem atentar contra direitos ou garantias de terceiros, sem que quaisquer tipos de fundamentalismos, de ordem moral ou religioso, venha cercear o direito de conduzir nossas vidas de acordo com o que consideramos correto, adequado e necessário; total liberdade de escolher as melhores moedas para nossas transações de mercado, sem mais monopólios e limitações à nossa liberdade de transacionar livremente com o resto do mundo; respeito a todas as crenças, proteção aos mais fracos e desvalidos, solidariedade conduzida de forma voluntária, sem que o Estado venha impor programas oficiais de assistencialismo demagógico.
Enfim, ouso resumir: liberdades as mais amplas, o exato contrário do que temos hoje no Brasil. Estas são as minhas reivindicações como cidadão, como eleitor, como simples trabalhador, tendo escolhido as profissões (duas) que me trazem mais satisfação pessoal, intelectual e espiritual: sou diplomata e professor, ou seja, um servidor do Estado e um mestre absolutamente voluntário de uma instituição privada. Gostaria que o “meu” Estado fosse menos burocrático, mais libertário – o que é, evidentemente, impossível –, mas que ele fosse, sobretudo, menos injusto para com os mais pobres, menos fascista no regulacionismo alucinante com que ele nos cerca, menos propenso a ser capturado por oportunistas, rentistas, corporatistas, demagogos, ladrões e meliantes de alto coturno. Tudo isso vai ser duro de conseguir, mas nada conseguiremos se não nos mobilizarmos a cada nova oportunidade de elegermos representantes e executivos.
Estamos próximos de uma nova oportunidade. Cabe não desperdiçá-la. Eu sei exatamente em quem NÃO votar: naqueles que exibem as más qualidades já devidamente denunciadas nos parágrafos anteriores. Mas sempre hão de existir bons candidatos, comprometidos, pelo menos parcialmente, com as coisas que valorizamos, ou que consideramos necessárias, para nós, para o Brasil.
Existem muitos, certamente, mas precisamos nos informar, buscar, selecionar, separar o joio do trigo (sem correr o risco de escolher o joio, claro), pesquisar com todo cuidado o currículo de cada um dos candidatos, e fazer as escolhas certas no momento devido. Por tudo isso que escrevi nos parágrafos precedentes, meu candidato preferencial no primeiro turno das eleições presidenciais é João Dionísio Amoedo, assim como também serão, nas legislativas, os candidatos do Partido Novo – o que mais se identifica com o que penso – mas também candidatos de outros partidos que, no plano puramente individual, dos valores e princípios, se aproximem um pouco, se possível bastante, com algumas coisas já explicitadas acima.
Não votem nulo, em branco, não se ausentem das eleições. Esse é o meu pedido a todos. Quem deixar de votar, precisa estar consciente, de que estará contribuindo para a eleição dos piores, dos bandidos que vão continuar a roubar todos nós, pois são esses que dispõem de caixa 2, de cabos eleitorais, que vão usar e abusar da demagogia política e do populismo econômico. O não voto também é uma escolha: o ausentismo, a renúncia a contribuir para a construção de um Brasil melhor, o conformismo com a continuidade de todas as bandalheiras que já existem, e que continuarão a existir se renunciarmos a fazer as boas escolhas.
Vote consciente, vote certo, vote para mudar o Brasil.
O meu voto, no primeiro turno, é João Amoedo, junto com outros candidatos aos cargos proporcionais e legislativos. No segundo também, se isso for possível. Depois verei o que fazer. Uma coisa é certa: não serei um cidadão passivo e conformado: meu espírito anarco-libertário não o permitiria. 
Vale!
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3 de agosto de 2018

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Agenda eleitoral: o que pensar dos candidatos? - Paulo Roberto de Almeida (Radio-entrevista)

Agenda eleitoral: o que pensar dos candidatos?

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: impressões pessoais sobre o processo eleitoral, a escolha de candidatos, etc.; finalidade: atender a demanda de programa radiofônico]


Eleições brasileiras em 2018: como julgar os candidatos?
Um programa de rádio demanda novamente minha opinião sobre os temas do momento. Pretendem fazer um boletim especial a respeito de orientações para o eleitor típico e me pediram para responder algumas perguntas, alinhadas abaixo.
Eis um resumo de meus comentários, gravados oralmente.

0 – Nome completo, profissão e especialidade
PRA: Paulo Roberto de Almeida, diplomata de carreira, professor de Economia Política nos programas de mestrado e doutorado em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub), atual Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI, órgão da Fundação Alexandre de Gusmão, autarquia vinculada ao Itamaraty, ou seja, ao Ministério de Relações Exteriores do Brasil.

1 - O que analisar de um candidato? 
PRA: Embora a atenção da maior parte dos eleitores esteja voltada principalmente para os candidatos à presidência da República, a verdade é que candidato é todo aquele que se apresenta para as eleições gerais de 2018, e não apenas aqueles poucos que se apresentam para o cargo maior, o de presidente da República. Eu diria, até, que uma atenção maior deve ser dedicada aos membros do parlamento – Senadores e deputados –, assim como aos membros dos legislativos estaduais, sem esquecer, é claro, os candidatos aos governos de cada estado e, logicamente, os pretendentes à cadeira presidencial. Uma atenção muito maior, eu entendo, deve ser dedicada a esses membros dos corpos legislativos, estaduais e federal, pois é deles, com toda certeza, que dependem as leis que irão valer para o Brasil nos próximos quatro anos e mais à frente, no futuro previsível. Eles são decisivos, pois sem os senadores e deputados do Congresso Nacional, o presidente, por mais ativo e empreendedor que seja, não poderá fazer nada.
Pois bem, dito isto, o que penso de como deva ser um candidato? O eleitor médio brasileiro já é suficientemente informado para não mais ser engabelado por aquelas promessas falsas, mentirosas, enganosas, fraudulentas dos demagogos de plantão e dos populistas sempre à espreita do voto dos menos educados. Aqueles que prometem mudar radicalmente o Brasil estão, na verdade, pedindo um cheque em branco para não fazer absolutamente nada, pois sabemos que as coisas não mudam muito, ou radicalmente, da noite para o dia. Por isso, a primeira regra é ficar atento ao que diz o candidato e medir as promessas feitas à percepção que cada eleitor tem dos problemas brasileiros. Quais são suas principais preocupações?: Segurança, educação, saúde, emprego, habitação, o quê? 
Veja, concretamente, o que cada um deles tem a dizer sobre essas questões, propostas que possam ir além de promessas vagas e ofertas generosas de “fazer investimentos” nisso e mais aquilo. Sabemos todos que o Estado brasileiro é um Estado literalmente falido, sem recursos sequer para pagar seus funcionários em determinados estados, ou para assegurar uma aposentadoria digna quando a maioria dos atuais trabalhadores se aposentarão. O Estado, na verdade, não é apenas essa massa falida, e sim um sugador, um extrator, um arrecadador compulsivo, que mete a mão no bolso dos cidadãos e no caixa das empresas, para ser um perdulário em seu próprio favor, em benefício daqueles que já estão no Estado ou vivem em torno dele, gastando antes de mais nada consigo mesmo e com os mandarins da República, os altos funcionários, os políticos, os magistrados e outros marajás do serviço público.
Por isso, examine, eleitor, antes de mais nada, o que cada candidato tem a dizer a respeito do Estado: se ele prometer que, eleito, vai fazer isso e aquilo com o dinheiro público, fuja dele, pois já não existe mais dinheiro público, e sim um enorme déficit deixado pela Grande Destruição econômica feita pelos companheiros, pelo PT e por seus chefes, que vai pesar nas nossas costas por anos a fio, no futuro previsível. Quem disser que vai fazer isso e aquilo com o dinheiro público, está mentindo, quer enganar.

2 – Como olhar e analisar os projetos? Ver se é ficha limpa?
PRA: Ficha limpa nem deveria ser uma condição a ser exigida, pois isso é o mínimo que poderíamos exigir de cada candidato. Político que meteu a mão no dinheiro público em seu próprio benefício ou no de alguma empresa que financiou sua campanha deveria ser sumariamente eliminado de suas possibilidades de voto. Risque-o de seu caderno e esqueça. Quem roubou no passado, vai continuar roubando no futuro.
Meu critério básico para escolher um representante do povo ou um executivo estadual ou federal, ou seja, governador ou  presidente, é simplesmente o seguinte: depois da imensa destruição econômica que fizeram os companheiros, depois do persistente assalto aos recursos públicos que percebemos em quase todos os representantes no Congresso, em seu próprio favor, a primeira palavra de ordem deveria ser: redução do peso do Estado. Comece, por exemplo, com uma pergunta simples: o candidato é contra ou a favor do Fundo Partidário, ou do Fundo Eleitoral? Esse é um critério básico. Se ele for a favor de qualquer desses mecanismos de roubo organizado do dinheiro do contribuinte, risque-o de seu caderno. Partido político é uma organização de caráter privado, da sociedade civil, e portanto deve viver com os recursos e doações de seus filiados, com as contribuições de seus próprios membros. Como é que eu, que sou um eleitor que favorece a economia de mercado, vou financiar representantes de um partido, como os de esquerda, que desejam mais Estado, mais socialismo, mais distribuição do dinheiro duramente ganho pelos trabalhadores com um Estado cada vez mais obeso e mais irresponsável? Pergunte, portanto, se seu candidato é a favor ou contra esses fundos partidários e eleitorais, que representam um roubo do seu dinheiro.

3 - Onde o eleitor pode localizar informações importantes sobre os candidatos? 
PRA: Existem muito sites, atualmente, que informam corretamente sobre a ficha regressa de cada candidato. Em alguns casos até poderíamos dizer ficha criminal, tal o número de processos em que alguns estão envolvidos, no STF ou nos foros primários, agora. Veja a ficha do candidato em algum desses sites. Não pretendo agora favorecer qualquer um, mas esses sites existem e podem ser pesquisados.

4 – Como evitar as fake News?
PRA: Esqueça fake News, elas existem e vão continuar existindo, pois cada candidato vai produzir o seu lote de mentiras, sobre si mesmo e sobre seus adversários. Impossível evitar fake News, que existem desde os tempos bíblicos e vão continuar existindo, o que quer que nós façamos. Apenas recomendaria usar o bom senso, e evitar propagar você mesmo essas notícias falsas que nos chegam todos os dias, a cada instante, pelo celular. Vídeos (alguns contendo vírus), mensagens de alerta, notícias espetaculosas, contendo algum grão de verdade (pois essa é a base das fake News, partir de algum conteúdo possuindo verossimilhança), devem ser todas descartadas, pois existe 80% de chance de que sejam ou fraudes deliberadas, ou propaganda enganosa.

5 – Quais cuidados devem ser tomados para evitar as famosas fake News?
PRA: Descarte o conteúdo que lhe chegar por internet, a menos que seja de uma pessoa que você confie, mas lembre que mesmo amigos e familiares podem cair no conto do material falso, e propagar involuntariamente essas mentiras plausíveis. Confie apenas na grande imprensa e nas grandes redes de comunicação, que possuem mecanismos para aferir as fontes reais de cada informação. Não confie sobretudo naquelas mensagens que dizem, sintomaticamente: “divulgue antes que apaguem”, ou “essa notícia a Globo não vai dar”, “eles não querem que você saiba disso” e coisas do gênero. Qualquer mensagem que já vem com alertas espetaculares, pedidos para que se repasse imediatamente, divulgue o mais amplamente possível, é POR PRINCÍPIO e POR DEFINIÇÃO, uma notícia falsa, fraudulenta. Descarte imediatamente e nem tente verificar a origem, pois você pode cair num vírus que vai lhe dar muitos problemas.
Esqueça, portanto, as Fake News duplamente: elas vão existir, o que quer que façam as autoridades e a grande mídia em geral, e você vai recebe-las inapelavelmente. Prepare-se, então, para apagar continuamente todo esse besteirol que lhe chegar.

6 – O que um bom candidato deve ter?
PRA: Em primeiro lugar, clareza de expressão, preparação adequada, propostas claras e compreensíveis, e sobretudo, uma mensagem de sacrifício. Não confie naqueles que dizem que vão consertar o Brasil, pois ele estará mentindo. O Brasil, como parece claro, aos olhos de todos, é um Estado falido, que necessitará anos de reconstrução dura e laboriosa, depois de tudo o que políticos incompetentes e corruptos fizeram com ele. O candidato, portanto, precisa expor claramente os PROBLEMAS, antes de tudo e acima de qualquer coisa, e depois dizer o que pretenderia começar a fazer para resolver esses PROBLEMAS, pois é tudo o que temos pela frente.

7 – O que o eleitor não pode esquecer?
PRA: NUNCA deixar de votar. O eleitor precisa ter a EXATA CONSCIÊNCIA de que se ele deixar de votar, se por desprezo, amargura abandonar sua chance de escolher alguém de boa índole e de bons propósitos, ele pode ter CERTEZA de que irá contribuir para eleger os mesmos que afundaram o Brasil, os mesmos desonestos, demagogos, ladrões, incompetentes, que nos deixaram nesta triste situação de falência virtual e real de qualquer possibilidade de termos uma vida melhor no futuro imediato. 
Se o eleitor dizer isso, ou seja, renunciar a expressar uma postura positiva em relação à política no Brasil, ele estará entregando o Brasil nas piores mãos que possam existir, que são, em grande parte, as mesmas que já estão aí, nos três poderes da República, em várias agências públicas, em todos os espaços que caem sob o domínio do Estado, e sabemos que é quase tudo. O Estado no Brasil não vai deixar de existir, ele vai continuar, mesmo falido e sugando cada vez mais impostos retirados de nosso patrimônio e do nosso trabalho. Portanto, a PRIMEIRA COISA que um eleitor não pode fazer é deixar de votar positivamente para aqueles que ele entende serem sinceros e comprometidos com o bem público. Lembre-se: os que estão atualmente no poder são os mesmos que nos levaram a essa situação. Portanto, não pense que você poderá abandonar o barco à deriva, ele vai nos levar para o abismo. Renove a representação política, mas faça-o de forma consciente e não se deixa engabelar por demagogos e mentirosos. Escolha os melhores, não deve ser difícil ver sinceridade nas palavras de algum candidato de sua escolha.

8 – Quais sites são confiáveis?
PRA: Não tenho recomendações a fazer, pois respeito a inteligência e o discernimento de cada eleitor. Ele deve decidir em função daquilo que lhe parece prioritário. Eu apenas acho que não se pode confiar em partidos ou movimentos que são a favor do socialismo, do Estado grande, dessas ditaduras execráveis que existem na própria região e em outros lugares do mundo. Tampouco se pode confiar naqueles que já estão no governo ou no Congresso. Sinto dizer isso, mas os que estão aí falharam miseravelmente não só em impedir que o Brasil chegasse nessa situação lamentável em que se encontra o país, como tampouco estão contribuindo atualmente para resolver esses mesmos problemas, e, num certo sentido, estão até agravando a situação ao autorizar novos gastos irresponsáveis.

9 – Hoje em sua opinião os eleitores estão indo votar despreparados?
PRA: Não creio, o eleitor médio brasileiro já é suficientemente informado, pelos bons meios de comunicação, para saber a real situação do país e por quais motivos nos encontramos nessa situação deplorável. Eles acompanham as investigações policiais, estão atentos aos procedimentos do Ministério Público, e sabem exatamente quem são os que traíram a sua confiança nos últimos anos. Com exceção daqueles eleitores de educação muito precária, desinformados ou enganados pelo chamado voto de curral, a maior parte dos eleitores sabe distinguir quem é demagogo e quem é responsável. Claro, sempre existem os militantes, os mortadelas, os sindicalistas e aquela tropa de fanatizados ou de comprados, que vão seguir as recomendações fraudulentas dos mesmos demagogos que já os enganaram mais de uma vez. Com esses, não é possível fazer nada: ou porque são fundamentalistas de algum credo político, ou porque são oportunistas e aproveitadores da pior espécie, como são todos aqueles que participam de esquemas imorais de recursos estatais ou de grupos políticos que também vivem dos recursos públicos, eles vão continuar apoiando aqueles que já afundaram o Brasil. 
Os eleitores sabem que não existem salvadores da pátria, nem à direita, nem à esquerda, e esse tipo de divisão nefasta na vida política do país não é bem vinda para ninguém. Nem os que pedem intervenção militar, nem os que proclamam as virtudes de quem está atualmente preso, porque roubou, e muito, podem prevalecer sobre a opinião média do eleitor. Este sabe que temos um duro e longo caminho pela frente, um imenso esforço de reconstrução do país, com novos homens e novas ideias.
Eu sou pela renovação total de quem está hoje em cargos públicos; acredito que, se for para fazer alguma aposta, aceitar alguma promessa, que seja pelo menos de quem é novo, de quem não participou do descalabro dos últimos anos, do imenso, gigantesco, empreendimento de destruição do país, a que nos levaram os que foram expulsos do poder, em 2016, mas com a colaboração ativa de muitos que ainda nele se encontram.

10 – Informações adicionais:
PRA: Minha regra básica em política é: nunca deixar de participar, mas sem ser ingênuo. Políticos são seres que vivem para serem eleitos, reeleitos e eleitos de forma indefinida, e que fazem de seus cargos uma profissão, o que não deveria ser assim. Por isso sou pela renovação contínua, para que eles não se acostumem com os benefícios do poder, e com uma de suas práticas mais nefastas, que é o ato de gastar o dinheiro que não lhes pertence. Precisamos renovar continuamente o corpo político, para que eles não se sintam habilitados a gastar o que não é deles. Simples assim. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de junho de 2018

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Politica Externa e Eleicoes Presidenciais: livro de ensaios - Paulo Roberto de Almeida

Como estamos em um ano eleitoral, e como tenho produzido, desde meados dos anos 1980, estudos e análises sobre a interação entre a política externa, o sistema político, as atividades dos partidos, as campanhas eleitorais presidenciais e o funcionamento do Congresso em matérias diplomáticas, resolvi reunir meus escritos (seletivamente) num único volume para consulta dos interessados.
Eis o volume:  https://www.academia.edu/s/01644a871c/eleicoes-presidenciais-no-brasil-relacoes-internacionais-politica-externa-e-diplomacia-brasileira-1985-2018


Eleições Presidenciais no Brasil
Relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira
1985-2018

Paulo Roberto de Almeida 
 
Índice 

Preparando o acompanhamento da campanha presidencial de 2018 , 17

1. Partidos políticos e política externa (1985)  , 47
2. A política externa nas eleições presidenciais: 1989 e 1994 (1994) , 85
3. Política externa e sistema político: as eleições de 1989, 1994 e 1998 (1998)105
4. O projeto externo como projeto nacional (2002) , 137
5. As relações internacionais nas eleições presidenciais de 1994 a 2002 (2003) , 141
6. Blog Eleições Presidenciais 2006 171
7. A política externa na campanha de 2006: antecipando o debate (2006) , 175
8. Desconstruindo o Brasil: como iludir com números - a brochura do PT (2006) , 179
9. Programas da campanha presidencial de 2006: alguns comentários (2006) , 185
10. Os programas econômicos dos candidatos: comentários (2006) , 189
11. Blog Eleições Presidenciais 2010209
12. A política externa nas eleições presidenciais de 2010 (2010)  ,  225
13. Uma declaração de princípios, preventiva, sobre as eleições (2010)229
14. A política externa e as eleições presidenciais no Brasil em 2010 (2010)233
15. Declaração de voto: um manifesto quase marxista (2010) , 239
16. Contra o Voto Nulo: meus critérios de escolha (2010)253
17. O programa do candidato do PSDB: uma crítica central (2010)259
18. As promessas da candidata eleita: breve avaliação (2010) , 263
19. O que está em jogo nestas eleições (2014) ,   267
20. O que os liberais podem esperar das eleições de 2014? (2014)271
21. O Brasil quebrou três vezes sob FHC? Mentira da candidata! (2014)  , 275
22. Toda a Gália está ocupada? Não! Uma pequena aldeia resiste ainda... (2014)279
23. Blog Eleições Presidenciais 2018283

Relação de trabalhos sobre eleições presidenciais, 1985-2018 , 285
Livros de Paulo Roberto de Almeida  ,  293
Nota sobre o autor ,  297

Apresentação
A política externa nas campanhas presidenciais


Esta compilação de textos foi montada com base nos muitos trabalhos – ensaios, artigos para a imprensa, materiais inéditos, notas conjunturais, comentários em blogs – que fui produzindo ao longo dos anos eleitorais, em número relativamente elevado, como se pode verificar pela lista final de trabalhos, que serviu de fonte a esta seleção de trabalhos mais relevantes quanto aos temas de relações internacionais e de política externa do Brasil desde meados dos anos 1980, quando, com a democratização, comecei a acompanhar mais detidamente os processos políticos naquela conjuntura.
Eu havia recém regressado de um doutoramento no exterior – na Universidade Livre de Bruxelas, em 1984 – com tese situada conceitualmente no âmbito da sociologia histórica, cujo tema era a relação entre a democracia e o capitalismo no itinerário das revoluções burguesas clássicas, e sua aplicação ao caso brasileiro, mediante um exame metodológico e empírico das teses do sociólogo paulista Florestan Fernandes. Mas o foco estava obviamente voltado para a situação conjuntural do Brasil, que naquele momento se preparava para superar as duas décadas de regime autoritário, sob a égide dos militares. Ao reintegrar-me ao ambiente brasileiro no momento exato da transição democrática, comecei a dar aulas de Sociologia Política, justamente, tanto no curso de preparação à carreira diplomática, do Instituto Rio Branco, quanto no mestrado em sociologia da Universidade de Brasileira, e, a despeito de um exame tipicamente acadêmico das teorias e doutrinas clássicas nessa área (Maquiavel, Marx, Weber, Aron, etc.), eu também passei a acompanhar detidamente os preparativos para o processo de elaboração constitucional que começava a ser desenhado.
Já estabelecendo uma ponte entre as atividades profissionais na carreira e as lides acadêmicas, a decisão pelo exame das relações entre o sistema político e a política externa foi natural, daí a dedicação ao exame dos programas e atividades partidárias, bem como à interação entre o Parlamento e a diplomacia, objeto dos primeiros ensaios e palestras nessa área. Não fiquei no Brasil para acompanhar toda a trajetória do processo de elaboração de uma nova Carta, mas tão pronto a Constituição de 1988 foi finalizada e promulgada, passei a um exame do seu texto, bem como dos anais da comissão constitucional da área em exame, redigindo trabalhos de análise dos dispositivos afetando a orientação da política externa e a atividade diplomática do Brasil, inclusive em perspectiva comparada. A etapa seguinte foi o acompanhamento dos processos eleitorais, em especial as campanhas presidenciais, com um exame tanto quanto possível exaustivo dos programas partidários e das plataformas eleitorais (na verdade com impacto muito relativo nos debates correntes e nos políticas efetivas posteriores).
Creio ter sido relativamente pioneiro nesse tipo de análise no Brasil, e meus textos começaram a ser citados em trabalhos universitários, ainda que eu não adotasse a metodologia e o ferramental de ciência política, mas mais simplesmente o foco linear e textual dos dispositivos constitucionais ou dos argumentos políticos e sua correlação com dados econômicos nacionais ou internacionais. A partir de 2006 dediquei blogs especializados no acompanhamento conjuntural e analítico das campanhas políticas de nível presidencial, com dezenas, ou centenas de postagens que permanecem registradas e portanto disponíveis para consulta. Eventualmente, eu fazia uma declaração de voto, não partidária ou vinculada a um candidato específico, mas com base em certos valores e princípio políticos, como por exemplo a oposição ao voto nulo ou em branco.
No momento em que finalizo uma primeira versão desta compilação, algumas constatações são praticamente inevitáveis. O quadro geral do Brasil, na sociedade, nas instituições de Estado, no debate público, é de uma grave crise de legitimidade do sistema político, de erosão na confiança que a cidadania ativa e consciente deveria ter em relação ao funcionamento “normal” dos poderes constituídos, e uma sensação de quase desalento ou de desespero ante a mediocridade das supostas elites que deveriam conduzir o país nos momentos difíceis de sua trajetória. Tomou-se consciência, com as revelações efetuadas no quadro da Operação Lava Jato, de que o Brasil e os brasileiros tinham sido assaltados por uma organização criminosa, que não poupou nenhum esforço para saquear o Estado, as empresas privadas, os particulares, em toda a extensão possível da riqueza criada pela sociedade, num ambiente de negócios particularmente atroz, do ponto de vista de uma verdadeira economia de mercado.
A transição política se exerceu, em 2016, em condições muito longe do ideal, com a preservação de imensos bolsões de corrupção que ainda estão sendo combatidos por uma fração corajosa do Ministério Público, da Polícia Federal, de poucos setores da justiça de primeira instância, em face de uma resistência, quando não sabotagem, do sistema político “carcomido” – como se dizia da velha República – e de áreas influentes da própria Justiça, em seus escalões superiores. A crise econômica, à qual eu chamei de A Grande Destruição lulopetista, produziu os seus piores efeitos entre 2015 e 2017, e começa a ser superada gradualmente, embora com perspectivas ainda pessimistas quanto à realização das reformas estruturais indispensáveis para recolocar o Brasil numa trajetória de crescimento sustentado.
Apesar de termos caminhado, lentamente, penosamente, quase nos arrastando, para algumas reformas econômicas absolutamente necessárias, nossos dirigentes ainda teimam em praticar aquele velho nacionalismo estatizante esclerosado, aquele dirigismo anacrônico dispensável e aquele patrimonialismo secular que nos mantêm, todas essas deficiências, num estado de letargia indesejado, e mais do que atrasados materialmente, numa situação de retardamento mental insuportável. No plano político, nossos “representantes” insistem em continuar abusando de sua capacidade de zombar de todos os cidadãos, não apenas insistindo em praticar extorsão contra a economia nacional à luz do dia, mas também em legalizar “malfeitos” passados passando uma borracha oficial nos desvios já cometidos, além de pretender financiar sua continuidade em mandatos arrancados por meio dessas falcatruas por meio de novas extorsões pornográficas, que levam o nome de Fundo Partidário e Financiamento Público de Campanhas (ou “fundo eleitoral”).
No plano do Judiciário, contemplamos alguns pequenos avanços nos processos e condenações de meliantes de colarinho branco, embora os verdadeiros e grandes bandidos — os que dispõem do ultrajante foro privilegiado — continuem leves, livres e soltos, graças à conivência insultante de mandarins da “Justiça” e de alguns tiranetes togados, que também insistem em manter privilégios inaceitáveis em face da cidadania desprotegida e tosquiada por um Estado produtor de desigualdades legalmente instituídas. No setor da educação, continuo a observar o mesmo desastre pedagógico tradicional, agravado durante os muitos anos de vulgar gramscismo acadêmico estimulado pelo lulopetismo ignaro e delirante, a despeito de alguns poucos sinais de reforma nos métodos e procedimentos, estes até provocados pela tremenda crise fiscal deixada pela herança maldita do lulopetismo econômico, ainda assim insuficientes para superar os imensos retrocessos mentais acumulados ao longo de anos e anos de militantismo sindical próximo do corporativismo fascista.
No plano cultural, finalmente, continuamos a ser intimidados pelos progressos imbecilizantes do politicamente correto, ao mesmo tempo em que os militantes das causas afrodescendentes continuam a construir um infeliz e deletério Apartheid racial, que vai conseguir criar no Brasil algo que nunca existiu na cultura nacional (a despeito de sinais reais de preconceitos e desigualdades sociais possuindo clivagens raciais), que é a divisão fundamental da cidadania em duas categorias de indivíduos: os “negros”, e assimilados a tais, de um lado, e todos os demais cidadãos, de outro.
O ano eleitoral de 2018 se apresenta, portanto, sob auspícios os mais complicados e incertos, quanto a um desfecho provavelmente esperado pela maioria da população: a de termos um candidato não messiânico, não populista, não demagógico, simplesmente realista e sincero quanto às dificuldades que ainda nos aguardam. A massa de candidatos oportunistas que novamente nos aguarda em outubro de 2018 assusta, pela absoluta contradição entre o que é necessário e o que se nos apresenta. Existe no entanto uma maneira fácil – para um debate entre pessoas normais, razoáveis, entenda-se – de dirimir qual o melhor candidato dentre os que estão se apresentando fora do espectro tradicional dos grandes partidos: solicitar que se poste uma declaração, um manifesto, um artigo, um ensaio, um discurso, uma nota, uma carta, um escrito qualquer, mais ou menos bem estruturado, num Português aceitável, que exponha claramente os propósitos do dito candidato, suas intenções, seu programa para uma eventual presidência que venha a ganhar, no qual esse candidato diga, em suas palavras – portanto sem esses recursos a marqueteiros políticos que embelezam o discurso – e de modo sincero o que, exatamente, ele pretende fazer se chegar à presidência da República.
Por exemplo, existem questões já postas, às quais os candidatos não podem fugir: a atual crise fiscal, a reforma da Previdência, o papel do Estado na economia, novos investimentos em infraestrutura, em segurança, um novo perfil para as relações exteriores, isto é, abertura econômica, liberalização comercial, ao contrário do velho protecionismo, o que fazer com as estatais deficitárias ou falimentares, com a corrupção, todas questões que são absolutamente objetivas, e não dependem dos candidatos gostarem delas ou não, pois terão de enfrentá-las, uma vez algum deles sentado na cadeira presidencial. Para tudo isso, não bastam declarações gerais, demonstrações de “vou fazer, vou acontecer”, “eu sou o único”, etc. Vamos aguardar o início da campanha, para ver o que se apresenta.
Enquanto aguardamos o deslanchar de um novo processo, que vou acompanhar detidamente como sempre faço, coloco à disposição dos leitores interessados esta compilação de velhos e novos trabalhos sobre a interação entre a política externa e o sistema político, um dos meus focos principais de estudos e pesquisas, ao lado da história diplomática e das relações econômicas internacionais do Brasil. De minha parte pretendo seguir atentamente o processo político em curso, mas sem muitas ilusões de que possamos superar rapidamente as dificuldades da atual conjuntura. O grau de destruição causado pelos anos tenebrosos do lulopetismo, nas instituições e na economia, foi de tal ordem que vamos necessitar de um período prolongado de ajustes e reparações nas estruturas de governança e no sistema produtivo. Oxalá possa ser breve.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de janeiro de 2018

Disponível na plataforma Academia.edu, link: 
https://www.academia.edu/s/01644a871c/eleicoes-presidenciais-no-brasil-relacoes-internacionais-politica-externa-e-diplomacia-brasileira-1985-2018