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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A maravilhosa Cuba da USP, e o que deixaram de dizer...

Cuba, pelo que se vê, pelo que se ouve, pelo que se lê em certos setores do Brasil, é uma extraordinária potência desenvolvida, extremamente inovadora, com um povo feliz, sorridente, bem alimentado, sobretudo viajado e lido, com total liberdade de exercer seus direitos e privilégios, desde que dentro da revolução, claro, e com a devida autorização do lider supremo.
Uma maravilha, pelo menos para a revista de Estudos Idiotas, da USP...
Paulo Roberto de Almeida 



Revista de Estudos Atrasados
Leandro Narloch e Duda Teixeira 
Folha de São Paulo, 20/10/2011

A expressão "estudos avançados" deveria designar discussões científicas de ponta, novas interpretações históricas e atualizações a teorias consagradas. A revista "Estudos Avançados", da USP, costuma publicar artigos com esse perfil desde que foi criada, em 1987. Não é o caso do número 72, nas bancas neste mês. O "Dossiê Cuba", que compõe a maior parte da edição, apresenta estudos que são tudo, menos avançados: artigos sem nenhuma intenção científica e peças de propaganda escritas por pessoas ligadas ao governo cubano.

São ao todo 15 artigos de pesquisadores e jornalistas cubanos, e mais dois de brasileiros. Nenhum dos autores é crítico de um regime que, todos hão de concordar, desperta opiniões divergentes.

O texto mais emblemático é "A democracia em Cuba", do ensaísta Julio César Guanche.
O autor afirma que a revolução de 1959 consagrou um "novo conceito de democracia, com o intuito de garantir o acesso à vida política ativa de grandes setores da população" e defende a manutenção do que chama de "unidade revolucionária" - a proibição imposta aos cubanos de fazer reuniões e formar partidos, jornais ou sindicatos.

Um trecho de "Ciência em Cuba: uma aposta pela soberania" lembra um vídeo institucional: "Inaugurada em Havana pelo próprio presidente Fidel Castro, a entidade conhecida pela sigla CIGB [Centro de engenharia genética e biotécnica] contribuiu de maneira excepcional para colocar Cuba entre os líderes mundiais de tão importante setor". Diversos textos seguem o padrão de citar Fidel no início, mencionar a situação de Cuba antes de 1959 e descrever conquistas da revolução.

O artigo "A educação em Cuba entre 1959 e 2010" não traz discussões sobre métodos de ensino ou experiências mais ou menos eficientes. Em vez disso, o autor reproduz diversas falas de Fidel Castro, incluindo até mesmo a tautologia "é necessário mudar tudo o que deva ser mudado". Do mesmo modo, "Um olhar para a saúde pública cubana" não tem problematização ou comparação de dados, como é praxe nos artigos da revista da USP. O autor se destina apenas a destacar supostas conquistas médicas obtidas em Cuba por causa da "vontade política do governo revolucionário". Não há menção à falta de remédios ou aos subornos exigidos por médicos, queixas tão frequentes entre cubanos menos comprometidos.

Quem assina o texto sobre a saúde de Cuba é o jornalista José A. de la Osa, que ensinava censura, ou melhor, ministrava a disciplina de "política informativa" da Universidade de Havana. De acordo com ex-alunos da universidade, Osa ensinava quais eram os temas que não poderiam figurar nos jornais oficiais, como fracassos econômicos, opiniões de dissidentes e crimes chocantes.

A edição é ilustrada com fotos fornecidas pelo governo cubano. As imagens das páginas 47 e 76 são relíquias da propaganda comunista. Trata-se de reconstituições, à la Stálin, de episódios do movimento revolucionário.

Deve ser direito de qualquer pessoa manifestar a opinião que desejar, inclusive as mais ultrapassadas. Mas se essa manifestação envolve dinheiro público, então é preciso acatar opiniões divergentes e realizar apenas as tarefas para as quais os recursos se destinam. A revista "Estudos Avançados" funciona com fundos do governo federal e da USP, que por sua vez ganha 5% de todo o ICMS de São Paulo. São cerca de R$ 3 bilhões por ano pagos por empresas capitalistas e por cidadãos de todas as classes sociais, que vivem numa democracia com liberdade de pensamento. Não é justo que parte desse dinheiro ajude a mascarar a mais longa ditadura do mundo atual.

Leonardo Narloch e Duda Teixeira são jornalistas e autores do "Guia Politicamente Incorreto da América Latina" (editora LeYa).

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Itamaraty e a ditadura dos Castros: em 1993-94 e, quem sabe?, em 2003-2010

A gestão do ex-chanceler Celso Amorim sempre foi conhecida por ser ostensivamente pró-cubana, ou melhor, pró-governo comunista da ilha caribenha; pró-cubano eu também sou, pró-povo de Cuba. A gestão Amorim, em seus dois, ou três (quem sabe mais?) mandatos, foi é a favor da ditadura dos irmãos Castro, sempre, com fidelidade inquestionável. Se alguém achar que estou exagerando ou mentindo, aceito censura, quem sabe até punição...
Paulo Roberto de Almeida 



Fernanda Odilla e Rubens Valente
Folha de S.Paulo, 25/09/2011

Amorim vetou diálogo com dissidentes
A gestão do então chanceler do governo Itamar Franco (1992-1994), Celso Amorim, hoje ministro da Defesa, proibiu que a Embaixada do Brasil em Washington mantivesse contato com exilados cubanos e aumentou as grades da embaixada em Havana para impedir invasões. Além disso, expulsou quatro cubanos que invadiram o prédio - dois deles acabaram presos pela polícia do regime. É o que revelam 636 telegramas confidenciais trocados entre o Itamaraty e a Embaixada do Brasil em Havana, obtidos pela Folha após pedido de desclassificação feito ao Itamaraty e que a partir de hoje são divulgados no Folha Transparência.
Procurado pela reportagem no início da semana passada, Amorim informou na tarde de sexta-feira, pela assessoria, que “o Ministério da Defesa não comentará as informações relativas aos documentos em questão”. Em 1994, o embaixador em Washington, Paulo Tarso Flecha de Lima, pediu autorização ao Itamaraty para participar de um café da manhã em Miami com “entidades representativas da comunidade de tendência moderada”. O objetivo do grupo era “marcar a presença” à margem da Cúpula das Américas, que ocorreria em Miami.
O Itamaraty vetou o encontro, o que deixou o embaixador contrariado. Em telegrama, ele respondeu: “Na realidade, sempre fez parte da tradição do Itamaraty procurar conversar, quando possível, com todos os segmentos envolvidos em confrontos políticos em países ou regiões que, de alguma forma, são importantes para o Brasil”. Os telegramas evidenciam a baixa disposição do Itamaraty, no período 1993-1994, em manter relações com críticos da ditadura de Fidel Castro. A ponto de expulsar quatro deles da embaixada em Havana, em 1993.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Curiosidades... cubanas: seria tudo o que se deve lembrar?

Eu por vezes me pergunto: para que serve, exatamente, uma universidade?
Ora, para transmitir o saber, me responderiam, na lata, como se diz...
Bem, se é para transmitir o saber, eu me pergunto por que, exatamente, um centro, supostamente dedicado a "Estudos Avançados Multidisciplinares", precisa aproveitar o 15. aniversário de criação de um "Núcleo de Estudos Cubanos" -- que se imagina voltado não tanto para estudos realmente cubanos, e sim mais para a defesa de uma ditadura hoje indefensável -- para realizar uma exposição como a que vai relatado abaixo, sobre a "Solidariedade Internacionalista" e em torno da figura de Ché Guevara?
Não é preciso lembrar aos mais jovens -- que devem eventualmente se enternecer romanticamente com aquela famosa foto do personagem de boina preta e cabelos desgrenhados, numa simbologia próxima a desses Cristos medievais de semblante torturado, encimando a famosa frase ensinando que "hay que endurecerse..." (ops!) "... sin perder la ternura jamás" -- que o guerrilheiro heróico morreu na Bolívia em 1967, numa infeliz tentativa de produzir "quatro, cinco Vietnãs na América Latina", e que desde então, a única coisa que se tem, do personagem, é a sua exploração política pela ditadura cubana e sua exploração mercantil por milhares de fabricantes de camisetas e de buttons em volta do mundo.
Tampouco seria preciso lembrar que essa coisa de "Solidariedade Internacionalista" é uma invenção do stalinismo, para a III Internacional, que na prática significava que todos os partidos comunistas nacionais deveriam se colocar obrigatoriamente a serviço do PCUS, ou melhor dito, dos interesses nacionais da União Soviética, mais especificamente da ditadura stalinista e da figura do ditador supremo, ele sim o "Guia Genial dos Povos".
Talvez o mesmo ocorra com o "NESCUBA", servilmente colocado à disposição dos interesses da ditadura cubana na UnB.
Alguém ainda acredita na tal de "revolução cubana" e na "solidariedade internacionalista" com esse personagem que tem mais fama do que resultados?
Talvez meia dúzia de true believers, e mais os curiosos que passarem pela Biblioteca da UnB, que vão continuar sendo enganados por uma das mais eficientes máquinas de propaganda -- política e mercantil, volto a dizer -- de que já se teve notícia em toda a história.
Voltando à pergunta inicial, e sua resposta tentativa, a universidade deveria transmitir um saber real, não uma propaganda política e comercial mistificadora, enganosa, simplesmente patética.
Os jovens sabem que o personagem em questão foi, sucessivamente, presidente do Banco Central de Cuba e ministro da Indústria, e que nas duas funções foi de uma tal incompetência gerencial e administrativa -- ele sabia mais manejar armas do que um órgão de Estado -- que a única coisa que restou a Fidel foi dispensá-lo dessas funções?
Os jovens sabem que, como resultado de suas gestões incompetentes à frente dessas instituições, a situação econômica de Cuba se tornou tão grave que a ilha e seu ditador não tiveram outra via de escape do que se colocar servilmente a serviço da União Soviética, para dela receber um "mensalão" periódico -- avaliado em bilhões de dólares, pagos em troca de açúcar superfaturado -- que durou enquanto a URSS existiu?
Os jovens que estudam no NESCUBA sabem o desastre econômico e material que é a ilha de Fidel, que tinha a segunda ou terceira renda per capita da América Latina em 1959, e que hoje está relegada às últimas posições?
Esse Núcleo de Estudos Cubanos estuda de fato a situação política e econômica de Cuba, sua miséria moral no plano dos direitos elementares da população, a violação constante dos direitos humanos, a falta completa de liberdade que ali existe?
Enfim, o núcleo estuda Cuba ou serve apenas de instrumento de propaganda do regime atual?
A UnB confirma o que se pode esperar dela...
Paulo Roberto de Almeida

O Núcleo de Estudos Cubanos/NESCUBA, vinculado ao Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares/Ceam, tem a honra de convidar toda a comunidade Acadêmica
para a exposição CHE VIVE - A Solidariedade Internacionalista, em comemoração aos 15 anos de criação do NESCUBA/CEAM.
Período: 22 de novembro a 02 de dezembro
Local: Biblioteca Central - BCE da Universidade de Brasília/UnB 
Atenciosamente,
Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares/Ceam
Universidade de Brasília/UnB

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A descoberta da semana (talvez do mes, ou do ano...)

‘La ONU está agotada’
Fidel Castro

El ex presidente cubano Fidel Castro consideró hoy que la Organización de las Naciones Unidas (ONU) "está ya agotada" y debe ser cambiada por un foro verdaderamente democrático y "no un feudo imperial"

PRA: O que será que a ONU acharia do regime cubano, aos 51 anos da "revolução libertadora"? Que está tinindo de novinho? Pronto para mais 50 anos?
Paulo Roberto de Almeida

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cuba comunista: Brasil pronto a ajudar, diz Celso Amorim

A nota abaixo figura num newsletter da liderança do PT na Câmara dos Deputados (21.09.2010). Transcrevo a tal qual.
Apenas achei curioso que se maifesta, expressamente, a vontade de cooperar com o "desenvolvimento econômico da ilha comunista" (sic, como se escreve, neste caso, três vezes). Curiosa essa cooperação.
Seria para manter a economia da ilha no sistema comunista?
Seria para manter uma das últimas ditaduras totalitárias do mundo?
Isso não tem nada a ver com política externa, pois se trata apenas de "desenvolvimento econômico", ao que parece, embora também pertença ao domínio dos atos de política externa, pois um país pratica diplomacia ao oferecer cooperação a outros.
Sempre existe a escolha de fazer ou não fazer. Geralmente os Estados cooperam com outros Estados que costumam partilhar interesses, valores, princípios, objetivos prioritários.
Não sei existe tal coisa entre o Brasil e a tal de "ilha comunista", como voluntariamente descrita pelos petistas.
Creio que é uma questão de escolha. Alguns diriam até que é uma questão de caráter...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil está pronto para ajudar Cuba, diz Celso Amorim

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, afirmou ontem que o Brasil está pronto para ajudar Cuba a desenvolver pequenos e médios negócios a fim de contribuir com o desenvolvimento econômico da ilha comunista. A cooperação na área de negócios foi um dos temas discutidos por Amorim com o presidente cubano, Raúl Castro, em Havana, no sábado (18).

Amorim disse que o Brasil tem uma vasta experiência na promoção do empreendedorismo para desenvolver a economia formal. Cuba, acrescentou, precisará desse conhecimento para ajudar seu setor privado a absorver 500 mil funcionários públicos que o governo estuda demitir até março, como parte de uma estratégia para tornar sua economia mais eficiente.

A iniciativa do chanceler brasileiro foi elogiada pelo deputado Nilson Mourão (PT-AC). “É uma manifestação politicamente correta e solidária do Brasil para com Cuba. No momento em que economia cubana vive momentos difíceis, o Brasil pode e deve colaborar com suas experiências para que Cuba enfrente suas dificuldades econômicas”, disse.

Mais de 5 milhões de pessoas, ou 85% da força de trabalho cubana, trabalham para o governo, muitos dos quais em funções improdutivas. A transferência de meio milhão de trabalhadores para o setor privado é vista como a mais importante decisão política de Cuba desde que Raúl assumiu as tarefas diárias de seu irmão enfermo Fidel, em 2006, tornando-se oficialmente presidente em 2008.

sábado, 18 de setembro de 2010

Investir numa casa que desmorona: seria um bom negocio?

Certas decisões escapam à compreensão do comum dos mortais: quando as regras estão mudando, a prudência recomendaria que se aguarde a definição das novas regras para a partir daí, e apenas a partir daí, tomar as decisões que se impõem, em termos de acordos, novos investimentos, cooperação ampliada, etc.
Inclusive, quando sequer se sabe se o governo em vigor vai sobreviver às transformações anunciadas, o melhor a fazer seria esperar para ver como se poderá retirar o máximo de benefício da cooperação prometida, já com base nas novas regras, não naquelas que estão sendo mudadas.
O que se anuncia abaixo pode ser irracional, no estrito senso da maximização de resultados e se quisermos retirar o máximo de benefício dos recursos brasileiros, que afinal de contas não são infinitos, e certamente poderia ser investidos em países mais estáveis e mais transparentes.
Incompreensível, portanto, a menos que se pretenda isso mesmo: servir os interesses do regime castrista que está praticamente moribundo.
Certas pessoas adoram servir interesses de outras...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil busca investir na nova Cuba
Demétrio Weber e Christine Lages
O Globo, 18.09.2010

Na mesma semana em que o governo de Cuba anunciou um corte de pelo menos 500 mil funcionários públicos para tentar salvar a economia do país, o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim desembarcou em Havana para uma visita oficial de três dias. O chanceler, que terá encontro com o presidente Raúl Castro, entregará ao líder uma carta assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a mensagem de que o Brasil quer intensificar ainda mais a parceria econômica com a ilha.

— Há o interesse de empresários brasileiros. As modificações (em curso) vão transformar Cuba num país importante — disse, em Brasília, o assessor especial licenciado da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.

Ele destacou a alta escolaridade da população cubana, fator que pode impulsionar o impacto das reformas econômicas.

O assessor lembrou ainda que a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) abriu um escritório em Havana há dois anos.

Garcia destacou três projetos que envolvem o Brasil em Cuba: a prospecção de petróleo pela Petrobras; o plantio de soja, que recebeu assessoria técnica da Embrapa; e a reforma do porto de Mariel, nos arredores de Havana, realizada pela empresa brasileira Odebrecht, com financiamento do BNDES e do governo cubano.

— Será uma porta de entrada e saída para os Estados Unidos.

Seguramente deve ser essa a intenção do governo cubano — disse, referindo-se ao porto.

Garcia não revelou o conteúdo da carta de Lula. Quem leu a mensagem diz que ela sinaliza que o Brasil quer investir em Cuba. O texto também menciona a recente libertação de presos políticos na ilha. Ontem, o governo castrista informou que soltará nos próximos dias mais quatro dissidentes, com a condição de que sigam para a Espanha.

As novas libertações elevam para 36 o número de opositores soltos desde julho.

Amorim ficará em Havana até amanhã, de onde seguirá para Nova York. Ele substituirá o presidente Lula no discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Cubano teme poder indireto do governo castrista As reformas econômicas de Cuba são vistas com cautela pela oposição. O economista e exdiplomata de Fidel Castro Oscar Espinosa Chepe acredita que, embora o governo tenha tomado a decisão com atraso, as medidas podem alavancar a produção interna a longo prazo.

O temor, no entanto, gira em torno dos interesses indiretos do Partido Comunista. Segundo ele, apesar de os cubanos saberem que a reforma é necessária, há a preocupação de que as autoridades possam tentar controlar a sociedade, mesmo sob a iniciativa privada.

— Eles (governo) disseram que serão formadas cooperativas, mas não informaram como serão essas cooperativas. Se são como as criadas no campo, será um desastre, pois são mecanismos que garantem que pessoas ligadas ao partido controlem os camponeses — afirmou o economista cubano.

Para ele, a pretensão de aumentar o número de permissões para que os cidadãos trabalhem por conta própria é tarefa difícil, mas não impossível.

— O processo será realizado com muita dificuldade porque, lamentavelmente, o governo perdeu muito tempo para preparar as condições adequadas. Se o governo adotar políticas reais, as coisas podem funcionar. Mas temo que haja muita gente no Partido Comunista que não queira perder o poder e vai tentar manter a força de forma indireta.

É possível que os trabalhadores demitidos não sejam ligados à militância do partido.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Triste fim de Policarpo Fidel Castro: um modelito pret-a-rien...

Triste fim a desse gerontocrata totalitário: quando tem um repente de sinceridade, um vislumbre de realismo, no meio dos devaneios com que conduz o povo cubano há meio século, causa surpresa geral na galera e é obrigado a se desdizer.
Eu fico imaginando a cara, e as angústias, de meia dúzia de idiotas apoiadores aqui mesmo no Brasil, que estavam dispostos a apoiar Cuba hasta la muerte, siempre...
De repente, tendo dedicado toda uma carreira medíocre a defender o totalitarismo cubano, vem o líder supremo e "crau!", lhes retira o tapete sob os pés??!!
Isso não se faz.
Ainda bem que Fidel se desmentiu, para alívio dos stalinistas locais, para conforto dos boçais que apoiam um sistema prisional e absolutamente desumano.
Que o modelo não funciona, que ele seja disfuncional para fins de crescimento e criação de riqueza, que ele seja amoral, imoral, ilegítimo e absolutamente pornográfico do ponto de vista das liberdades democráticas, isso já se sabia há muito tempo.
Mas, se esperava que só depois da morte do patriarca ditatorial se fosse finalmente reconhecer essa verdade elementar.
Que o próprio ditador o tenha dito, isso representa uma traição à causa, sobretudo da nomenklatura que vive às expensas do povo cubano.
Pronto, voltamos à estaca zero, para conforto dos idiotas cubanófilos...
Paulo Roberto de Almeida

Cuba: Quem quer comprar?
Percival Puggina
Opinião e Notícia, 16/09/2010

E Fidel saiu-se com esta: 'O modelo cubano não funciona mais nem para nós'

Cuba é bem mais do que uma ilha em forma de lagarto, plantada no meio do Caribe. Cuba é um divisor de águas entre democratas e totalitários. Não tem erro. Saiu em defesa de Cuba, começou a falar em educação, saúde e “bloqueio” americano, deu. Não precisa dizer mais nada. O cara abriu a porta do armário e assumiu. O negócio dele é o comunismo da velha guarda. Na melhor das hipóteses, marxismo-leninismo; na pior e mais provável, stalinismo.

Pois eis que Fidel Castro decidiu conceder longa entrevista ao jornalista norte-americano Jeffrey Goldberg. Embora a pauta fosse o ambiente político do Oriente Médio e o tom belicoso das posições de Ahmadinejad, Fidel gosta de falar e outros assuntos entraram na conversa. Não li toda a matéria. Poucas coisas serão tão infrutíferas quanto conhecer a opinião de Fidel a respeito de Ahmadinejad. Convenhamos. Horas tantas, o jornalista faz uma pergunta absolutamente sem sentido e obtém por resposta algo que arrancou manchetes mundo afora. É dessas coisas que acontecem uma vez na vida de cada jornalista sortudo. A pergunta foi sobre se valia a pena exportar o sistema cubano para outros países. Pondere, leitor, o absurdo da indagação: como poderia haver interesse em exportar algo sem qualquer cotação no mercado mundial há mais de três décadas? E Fidel saiu-se com esta: “O modelo cubano não funciona mais nem para nós”. Como se percebe, há na frase sinceridade e falsidade. Sincero o reconhecimento. Falsa a sugestão de que, durante certo tempo, o sistema teria funcionado.

De todo modo, até o dia 8 de setembro, quando foi divulgada a observação do líder da revolução cubana, supunha-se que só ele, o líder da revolução cubana ainda levasse fé na própria obra. Dois dias mais tarde, diante da repercussão internacional dessa sapientíssima frase, ele voltou atrás e disse ter sido mal-interpretado. Alegou que afirmara o oposto: o que não funcionaria é o capitalismo. E assim ficamos sabendo que os países capitalistas são um desastre e os socialistas um sucesso de público e renda.

Entenda-se o velho. Aos 84 anos ele já não pode mais voltar atrás. Vendeu a alma a Mefisto e os ponteiros de seu relógio quebraram. Quando fez uma primeira experiência com a sinceridade, deu-se mal. Coisa como para nunca mais. Era preciso retroceder e apelar para o “fui mal entendido”. Está bem, Fidel. Foste mal entendido. Mas ainda que tivesses sido bem entendido, andaste bem longe do problema de teu país. Neste último meio século, as dificuldades da antiga Pérola do Caribe, que transformaste num presídio, bem antes de serem econômicas, são políticas! Mais do que a ineficácia de uma economia estatizada, o que faz dó em Cuba é o totalitarismo. É a asfixia de todas as liberdades. São as prisões por delito de opinião. São os julgamentos políticos em rito sumaríssimo. É o paredón. É o aviltamento dos direitos humanos (quem disse que eles se restringem a educação e saúde?). É a perseguição aos homossexuais. São os linchamentos morais. É haver um espião do governo em cada quarteirão de cada cidade do país. É a dissimulação como forma de convívio social. É a falta de algo a que se possa chamar de vida privada. É terem os estrangeiros, em Cuba, direitos que são negados aos cubanos. É serem os cubanos cidadãos de segunda categoria em seu próprio país.

Há meio século – contam-se aí duas gerações – Cuba está submetida aos devaneios totalitários de um fanático que, para maior dos pesares, agrupou adeptos mundo afora. Esses adeptos atuaram na mais inverossímil e resistente montagem publicitária que o mundo já viu, em tudo superior à soviética, que desabou 21 anos atrás. Pois não bastasse a ressonância universal do fracasso, o mundo se encanta quando Fidel declara que o sistema econômico cubano não funciona mais. Mas o problema de Cuba é outro e ele está longe de reconhecer.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cuba: la isla-prision, todavia sin libertades...

CUBA
La libertad despues de la "Primavera Negra"
Reporteres Sin Fronteras, 7/9/2010

"Salida definitiva". Esta es la expresión recogida textualmente en los pasaportes de los periodistas cubanos excarcelados a cambio de un exilio forzado, a lo largo de los meses de julio y agosto de 2010. Fueron 27 en ser arrestados por sus opiniones durante la ola represiva de la Primavera Negra de marzo de 2003, para ser condenados a penas de entre 14 y 27 años de cárcel. Todavía quedaban 19 cuando tuvo lugar la sucesión dinástica oficial entre los hermanos Castro en febrero de 2008. Ahora son seis, además de cuatro compañeros encarcelados más tarde, los que esperan salir de prisión. Y probablemente del país.

¿Una "liberación"? No es exactamente el término que usarían los periodistas entrevistados en este vídeo grabado en Madrid los pasados 19 y 20 de agosto, al llegar tres de ellos. "Seré libre cuando mi país sea libre", insiste en particular Ricardo González Alfonso, fundador de la revista De Cuba y corresponsal de Reporteros sin Fronteras. Ver el vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=uTRe4uXyN1g

http://www.youtube.com/watch?v=I6v1CDsTvas

El exilio forzado de estos periodistas independientes no refleja la "apertura" esperada por parte de las autoridades de La Habana. No obstante, nos alegramos de que estos hombres, cuyo único fallo constituyó en querer producir información fuera del control del Estado, puedan por fin empezar una nueva vida. Aplaudimos los esfuerzos del gobierno español y de la Iglesia cubana en su favor. Finalmente, pedimos que se levante el embargo absurdo impuesto a la isla desde 1962 por Estados Unidos, con el fin de obligar el régimen castrista a mantener sus compromisos internacionales.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Back to the past: Cuban style...

Cuba: Raúl Castro Viaja Al Pasado
Carlos Alberto Montaner
Firmas Press, August 27, 2010

Raúl Castro, lentamente, sin prisa, ha emprendido un viaje al pasado. Quiere regresar al 13 de marzo de 1968. El trayecto, cree, puede tomarle varios años. Ésa será su reforma económica y su tímido modo de arreglar el desbarajuste heredado. En esa fecha, su hermano Fidel, en medio de un arrebato colectivista desaconsejado por casi todo el mundo, y especialmente por el vicepresidente Carlos Rafael Rodríguez, un viejo comunista que exhibía ciertos vestigios de prudencia, confiscó y estatizó casi 60,000 microempresas que todavía estaban en manos privadas, dado que las grandes y medianas ya habían sido engullidas en los primeros dos años de dictadura. A ese empobrecedor disparate Fidel le llamó “una ofensiva revolucionaria”.

Con un estalinista chasquido de sus dedos, el Comandante acabó con los pequeños restaurantes, las empresas familiares, los talleres que reparaban toda clase de objetos, los sastres y costureras, los barberos, los electricistas, fontaneros, carpinteros y el resto de los artesanos y técnicos especializados que aliviaban un poco los horrores del sector público de la economía, ya muy afectado por la torpeza burocrática, la escasez y la inflación. A los pocos meses el purgatorio comunista se había convertido en un verdadero infierno: casi nada se podía arreglar o reemplazar. La decadencia material del país se aceleró hasta llegar a lo que es hoy día: un país en ruinas que parece haber sido bombardeado por algún enemigo inclemente.

¿Por qué Fidel cometió una estupidez de ese calibre? Al margen del poder político, que siempre entra en sus cálculos, y de su patológica necesidad de controlarlo todo, lo hizo por razones morales. “No queremos –dijo—que los hombres sigan el instinto del egoísmo de la individualidad, la vida del lobo, la vida de la bestia…”. Para Fidel, el cubano emprendedor que deseaba abrirse paso y luchar por mejorar la calidad de su vida y la de su familia era un canalla insolidario, un tipo al que había que reeducar hasta transformarlo en el “hombre nuevo”, o al que había que erradicar a sangre y fuego porque no cabía en la sociedad maravillosa de revolucionarios desinteresados y angelicales que él estaba creando.

Fue una época de frustraciones y radicalismos. En octubre de 1967 moría Ernesto Che Guevara en Bolivia y con él las supercherías del “foquismo”, suceso que provocó en Cuba una declaración oficial de duelo que incluyó el cierre permanente de todos los cabarets y salas de fiesta. Divertirse no era propio de revolucionarios. En enero de 1968 Fidel arrasaba con unos cuantos marxistas críticos que habían surgido en el partido comunista a los que llamó “microfracción” antes de encarcelarlos. En marzo lanzó la mencionada “ofensiva revolucionaria” contra los microempresarios. En agosto apoyó la invasión soviética a Checoslovaquia. Estaba desatado. Era el “Año del guerrillero heroico”. Todavía no se había inventado el Prozac.

Hoy casi todo el mundo en Cuba, incluido Raúl, reconoce que aquellos espasmos ultracomunistas de Fidel aumentaron exponencialmente el desastre económico que ha experimentado ese pobre país. Pero de lo que muchos revolucionarios no han podido librarse, incluido Raúl, es de la censura moral al espíritu emprendedor. Saben que es necesario restaurar la propiedad privada para que el país funcione, pero no ven esa transformación como algo positivo, sino como una concesión vergonzante que no los hace felices. Siguen siendo gentes convencidas de que el guevarismo, teóricamente, es una forma superior de conducta, aunque en la práctica resulte inaplicable e inútil por la maldita naturaleza humana.

Por eso va a fracasar la reforma de Raúl Castro. Porque trufa los cambios con toda clase de cautelas, limitaciones y castigos. No cree en la libertad. No concede cambios convencido de lo que hace y arrepentido por lo que hizo. Accede a regañadientes, como con asco, forzado por la catástrofe que han provocado. Sólo está buscando forjar un tenue tejido empresarial capitalista para salvar su dictadura comunista de partido único. Cree que, si lo logra, podrá organizar la transmisión de la autoridad sin ceder un ápice de poder político. No entiende que aquel aparato que ellos eliminaron de un tajo había surgido espontáneamente a lo largo de siglos como consecuencia del libre mercado y del tanteo y error. Ese clima no se puede recrear por decreto con medidas de ingeniería social. Así no se puede viajar al pasado.

domingo, 8 de agosto de 2010

A Mumia: o retorno

Não creio que os cubanos estejam se divertindo com este remake. Já não diria que eles temem ficar no sol por 5 ou 6hs ouvindo discursos inúteis, mas quando eles pensavam que já estavam livres de um dos hermanos, e prontos para entrar numa nova era, eis que a múmia retorna para infernizar as suas vidas...
Paulo Roberto de Almeida

Fidel Castro warns of nuclear risk in 1st speech to Cuban parliament in 4 years
By Will Weissert
The Washington Post, Sunday, August 8, 2010

Fidel Castro's first government appearance since 2006 raises questions about how much of a leadership role he is ready to reassume.

HAVANA -- A lively and healthy-looking Fidel Castro appealed to President Obama to stave off global nuclear war in an emphatic address to the Cuban parliament Saturday that marked his first official government appearance since emergency surgery four years ago.

Castro, who turns 84 in a week, arrived on the arm of a subordinate who steadied him as he walked. The nearly 600 lawmakers present sprang to their feet and applauded as he took the podium, grinning broadly and waving. "Long live Fidel!" they chanted.

Castro has been warning in opinion columns for months that the United States and Israel will launch a nuclear attack on Iran and that Washington could also target North Korea -- predicting Armageddon-like devastation.

"Eight weeks ago, I thought that the imminent danger of war didn't have a possible solution. So dramatic was the problem that I didn't see another way out," Castro told the National Assembly. "I am sure that it won't be like that and, instead . . . one man will make the decision alone, the president of the United States."

His address, along with a spate of recent appearances after a four-year absence from public view, is likely to raise more questions about how much of a leadership role he is ready to reassume.

The speech lasted barely 11 minutes -- possibly a record for the man who became famous for his hours-long discourses during his 49 years in power.

He took a seat after his speech and was briefly approached by his wife, Delia Soto del Valle. In the past, the couple rarely appeared in public together, but Soto has been seen with Castro more frequently of late.

It was Castro's first appearance in parliament or at a government act since shortly before a health crisis in July 2006 that forced him to cede power to his younger brother Raúl -- first temporarily and then permanently.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Negocios e diplomacia - Carlos Alberto Sardenberg

Negócios são negócios... para os outros
Carlos Alberto Sardenberg
O Estado de S. Paulo, 19/07/2010

O governo cubano está trocando presos políticos por vantagens econômicas concedidas pela União Europeia. Ou a União Europeia está comprando a liberdade de meia centena de dissidentes. Trata-se de uma diplomacia realista, que negocia com ditadores para obter resultados na área dos direitos humanos.


O presidente Lula poderia ter feito isso, não é mesmo? Toda vez que é cobrado pelas suas boas relações com ditadores, o presidente responde que não pode interferir em assuntos internos de outros países e que "negócios são negócios". É o que dizem e fazem praticamente todos os chefes de governo de países importantes.

Mas há uma diferença entre ser realista, de um lado, e mostrar-se indiferente ou mesmo dar apoio a ditaduras, de outro. Governantes que têm efetivo compromisso com a democracia e os direitos humanos tentam combinar essa atitude de princípios com uma diplomacia realista. Como? Condenando uma ditadura numa votação nas Nações Unidas ou fazendo pressão pública pela libertação de prisioneiros, enquanto, ao mesmo tempo, se mantém um comércio que beneficia diretamente a população daquele país.

A União Europeia e a Espanha, em especial, que mantém boas relações com o regime de Fidel Castro há muitos anos, fazem isso no limite quando negociam a libertação de prisioneiros políticos. O primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, recorre a suas boas relações dentro da esquerda internacional para conseguir alguma abertura em Cuba.

O presidente Lula poderia fazer mais do que negociar a libertação de alguns prisioneiros. Reparem nas condições, em tese: Lula é amigão de Fidel e de Raúl Castro, tem entre seus colaboradores pessoas que se asilaram e treinaram guerrilha em Cuba, mantendo laços afetivos com os dirigentes da ilha, e ocupa um lugar importante na história da esquerda latino-americana.

Acrescente-se a isso o prestígio que o presidente acumulou no mundo todo, onde foi recebido como representante perfeito da esquerda democrática e responsável, e se pode perguntar: Quem teria tantas condições para, por exemplo, fazer uma ponte entre o governo Obama e os irmãos Castro?

É evidente que Barack Obama e Hillary Clinton sabem, primeiro, que Cuba não tem mais importância nenhuma no cenário internacional. Para os Estados Unidos, é um estorvo local, um problema eleitoral na Flórida, e a ampla maioria dos líderes cubano-americanos apoia uma diplomacia que colabore para uma abertura pacífica e ordenada. Finalmente, sabem todos que o embargo econômico não leva a esse resultado.

Mas, é claro, é preciso combinar com os Castros. Não se avança sem uma contrapartida dos cubanos, sem uma disposição para iniciar ou simplesmente sinalizar algum tipo de abertura. Ninguém está esperando que Raúl Castro renuncie e chame o pessoal de Miami. Mas todos esperam algum sinal que não seja o reforço da ditadura.

Lula, sobretudo quando ainda era considerado o cara, foi a um dado momento o único líder importante que tinha, ao mesmo tempo, a confiança de Washington e de Havana. Mas para que exercesse o papel de mediador, Lula e seu pessoal aqui precisariam, primeiro, aceitar que o regime cubano é uma ditadura anacrônica e que deveria caminhar para a democratização.

Está claro que não acreditam. Lula apoiou enfaticamente a ditadura cubana em um de seus piores momentos, quando um preso político estava morrendo numa greve de fome. Votou a favor de Cuba em diversos cenários internacionais. E deixou claro, em seguidos pronunciamentos, que a culpa de tudo está no embargo americano e que os Estados Unidos não têm direito de pedir nada ao regime castrista.

Mostrou-se um aliado de Cuba, do mesmo modo como se mostrou em relação ao Irã.

E nem vantagem comercial obteve. Até hoje, apesar do embargo, Cuba importa mais produtos dos Estados Unidos do que do Brasil. E o Irã tem entre seus principais parceiros comerciais a Alemanha e a França, cujos governos apoiaram as sanções econômicas ao país.

China. E por falar em diplomacia, desta vez na política Sul-Sul, o governo Lula tem apresentado como um dos resultados importantes a "parceria estratégica" com a China. E, de fato, as exportações brasileiras para a China aumentaram de maneira exponencial nos últimos anos.

Mas todos os países que têm minérios e alimentos elevaram espetacularmente suas exportações para a China. Para ficar apenas na América Latina, a China é o principal destino das exportações chilenas e peruanas e o segundo mais importante para Argentina e Uruguai.

No outro lado do comércio, Chile e Peru importam, em primeiro lugar, dos Estados Unidos; em segundo, da China; e apenas em terceiro, do Brasil. A Argentina importa mais do Brasil, mas em segundo lugar já aparece a China, crescendo. O Uruguai importa, primeiro, da Argentina e, em segundo, da China.

Em todas essas parcerias, a China importa minérios e alimentos e exporta manufaturados e bens de capital. Em todos os países da região, os chineses estão investindo naquelas áreas em que são mais carentes, como terras para a produção de comida, minas (e portos associados) e petróleo. Por exemplo, emprestam dinheiro para a Petrobrás (e para a venezuelana PDVSA) em troca de garantia de fornecimento de petróleo.

Aliás, eis aí um verdadeiro problema de diplomacia econômica para o Brasil: o avanço chinês aqui no nosso lado do mundo.

Mas a China é também a principal parceira do Irã, dos Estados Unidos e da Europa. Eis um caso de realismo e de diplomacia de resultados estratégicos... da China.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Cuba: uma ditadura ordinaria, proxima do final

Apenas a conivência de países "amigos" -- talvez como a Espanha de Zapatero e de Moratinos --, de alguns outros na região, bem como a política repressiva do regime, junto com o apoio maciço -- em termos de dinheiro, petróleo e outros recursos -- de algum outro regime espúrio na região -- que também pretenderia criar uma ditadura ao estilo cubano no país -- podem explicar, hoje, a sobrevivência de um regime tão abjeto, tão anacrônico, tão fora de qualquer realidade regional ou mesmo mundial minimamente aceitável, como a ditadura castrista em Cuba.
É até possível que todos esses apoios e, obviamente, a repressão policial, do tipo mais irracional possível, ainda garantam alguma sobrevivência a um regime claramente decadente, cuja razão de existência deixou há muito de existir e cuja legitimidade já não existe há muito tempo.
Apenas pessoas desprovidas de qualquer senso moral podem, hoje, sustentar um regime ditatorial como o cubano. Aqui mesmo no Brasil, pretensos intelectuais -- na verdade pessoas que há muito alugaram suas consciências para causas indefensáveis, como o totalitarismo cubano de corte stalinista-soviético -- ainda emprestam um abjeto apoio a esse regime condenado pela História e pela consciência moral da humanidade.
Abaixo, o depoimento de um cubano recentemente libertado, depois de sete anos nas prisões castristas.
Paulo Roberto de Almeida

Op-Ed Contributor
Out of Prison, Still Not Free
By RICARDO GONZÁLEZ ALFONSO
The New York Times, July 16, 2010

Madrid - I NEVER imagined I would be born at the age of 60, at an altitude of several thousand feet above the Atlantic. That isn’t gibberish; it’s what I felt when I was released from jail in Cuba and exiled to Spain last Monday.

My debut as a prisoner of conscience came early in 2003, a period subsequently characterized by the world’s press as the Black Spring. I was just one of 75 Cubans imprisoned for our belief that freedom is an achievable miracle and not a crime against the state.

They say prison is a school, and it’s true. I did my best to be a good student and kept back my tears. I succeeded so well that my prison companions still think me a brave man.

Within a few months I could find my way pretty well around the labyrinths of shipwrecked souls. I learned the secrets and legends of killers for hire, crimes of passion, traffickers in illicit powdery substances, would-be emigrants whose clandestine departures had been no secret to the state — even thieves who’d share their teaspoon of sugar on days of hunger.

Zoology was one class we had every day. I learned to live with rats, and even came, on certain nights of our tropical winter (which is winter, nevertheless) to stare at them with an urgency not unlike what people call appetite. I was a solitary friend to the deft spiders that sometimes freed me from the torturous buzzings and blood-shedding bites that accompanied my insomnia.

I became well versed in cosmic solitude and silence. I remember being in a cell no wider than a man with outstretched arms. I also grew familiar with fetid overcrowding and unceasing clamor. Months of unending darkness, months of eternal light.

I was only an auditor in certain courses, in which I learned that some prisoners were specializing in self-injury as a crude solution to their despair. I was witness to mutilated hands and other wounds as mortal or venial as sins. A man cut off his own penis and testicles in a desperate attempt to become a woman. Others, more radical and exhausted by perpetual existential tumult, turned to various methods of suicide, all of them extremely effective.

A large part of the program of study consisted in the defense of one’s rights. There was no theoretical option, only the very Cuban practice of the hunger strike. I carried one out for 16 days, until part of my will felt satisfied with my victory. That long and voluntary fast vindicated the enforced daily fast of imprisonment.

As in any school, there were periods of leisure. Packs of cigarettes were wagered on the outcome of chess matches, card games or soccer contests. I knew sellers and buyers of recreational drugs who were very good at evading or bribing both prison guards and informer inmates.

There was no lack of expertise in armed aggression. Pitiful, decaying knives that were nevertheless sharp-edged and skillfully wielded left trails of blood and rage behind them. (But I never signed up for that class.)

I’ve always had an aptitude for subjects that have to do with dreams, and I dreamed of my wife and children with such fervor that I know they felt my caresses as they lay asleep.

I was almost an exemplary student, and received only one failing grade: in hatred. Despite certain zones of memory, I bear no rancor against my jailers.

And now, after this senescent birth of mine, I’m contemplating the future with all the hope of the newly unveiled. Ever the optimist, I even dream of returning to a Cuba where freedom is not an impossible illusion. I know that, in the next 60 years, I won’t have to be reborn again.

Ricardo González Alfonso is a journalist. This article was translated by Esther Allen from the Spanish.

A version of this op-ed appeared in print on July 19, 2010, on page A21 of the New York edition.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Uma ditadura ordinaria e suas chantagens habituais...

Sei que tem gente que lê este blog e se morde de raiva quando eu trato de certos assuntos, ou de certas pessoas, ou de certos países, e uso as palavras certas para designar as coisas certas: ditaduras são ditaduras, patifes e fraudadores são patifes e fraudadores, idiotas, quaisquer que sejam suas intenções, são idiotas, e assim por diante.
Não adianta me ofender, fazer comentários irônicos a respeito de meus posts, sobretudo de meus comentários, me denunciar frente a não sei quais autoridades, que eu não me intimido: sempre chamarei as coisas pelo seu nome correto. O que aliás, está ao alcance de qualquer pessoa sensata fazer, sobretudo as bem informadas...
Acho que, pior que meus comentários, aos olhos e ouvidos de certas pessoas, são as demonstrações repetidas de má-fé, de jactância, de desonestidade intelectual, de fraude política, e de simples mentiras de certos personagens, quaisquer que sejam eles.
Engraçadinhos, abster-se...
Paulo Roberto de Almeida

A moeda de troca de Cuba
Editorial - O Estado de S.Paulo
14 de julho de 2010

Na quarta-feira passada, no mesmo dia em que o governo cubano anunciou a decisão de libertar 52 presos políticos ao longo dos próximos 4 meses, o ex-ditador Fidel Castro, que em 2008 transferiu o poder para o irmão Raúl, fez-se fotografar visitando o principal centro de pesquisas científicas de Havana. Foi a sua primeira aparição pública em 4 anos fora da residência onde costuma receber dignitários estrangeiros, como o bom amigo Lula da Silva.

Na última segunda-feira, no mesmo dia em que o primeiro grupo de libertos embarcou para a Espanha, a TV cubana levou ao ar uma entrevista gravada com Fidel -- a primeira em 4 anos, também. É improvável que se trate de coincidência, embora não estejam claros os nexos entre o súbito reaparecimento do "comandante" e a soltura dos prisioneiros. Nem na ida ao centro científico nem na entrevista, ele disse qualquer coisa relacionada com o acordo firmado entre o seu irmão, o cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, e o governo espanhol para a libertação das vítimas remanescentes da chamada "Primavera Negra" de 2003.

À época, a repressão castrista se abateu sobre 75 supostos "conspiradores aliados aos Estados Unidos". Em processos sumários e a portas fechadas, eles foram condenados a até 28 anos de cadeia. Naturalmente, não tiveram acesso a advogados ou às provas que os incriminariam. Com o passar do tempo e sob pressão dos apenas tolerados movimentos de defesa dos direitos humanos no país, a começar das Damas de Branco, que reúnem mães, mulheres e filhas dos encarcerados, uma vintena deles, muitos com graves problemas de saúde, foi solta.

Em fevereiro, o preso Orlando Zapata Tamayo morreu depois de 85 dias de greve de fome. O presidente Lula estava lá confraternizando com os seus algozes e cometeu a infâmia de culpá-lo pela tragédia. Seguiu-se outro protesto, dessa vez por um cubano em liberdade -- valha o que valer o termo sob o tacão do regime de partido único. O dissidente Guillermo Fariñas só voltou a se alimentar depois de 135 dias quando, aproveitando-se da visita do chanceler espanhol Miguel Ángel Moratinos, Raúl Castro comunicou a libertação dos 52 da "Primavera Negra". Segundo cálculos conservadores, continuam trancafiados, por motivos políticos, 115 cubanos.

Terá Fidel desejado fazer, com as suas aparições, uma advertência velada contra o que deve considerar concessões excessivas do irmão? Ou, com a sua mera presença pública, indicar que, apesar delas, nada mudará essencialmente na ilha? O fato de, na entrevista televisada, ele ter falado em "risco de guerra" no Oriente Médio, que culminaria com um ataque nuclear dos Estados Unidos e Israel ao Irã, pode ser interpretado como uma forma de sabotar qualquer nova iniciativa de reaproximação entre Washington e Havana, a partir da soltura dos presos.

Ninguém conhece melhor do que ele os perversos benefícios do bloqueio econômico americano para a sobrevivência da ditadura. O boicote, por sinal, não impede que os americanos vendam alimentos a Cuba, pagos à vista: só isso já faz dos EUA o quinto maior parceiro comercial do país. Para o castrismo, pior é o definhamento das transações com a União Europeia, em protesto contra a onda repressora da primavera de 2003 e como pressão para o fim dos encarceramentos políticos na ilha.

Essa a razão essencial da atual "magnanimidade" do regime. De há muito que em Cuba os chamados prisioneiros de consciência são usados como moeda de troca para manter respirando a agonizante economia local. Não há, por isso, motivos para acreditar que a abertura seletiva dos cárceres castristas prenuncia uma abertura política, com imprensa livre, Judiciário independente e direito de ir e vir.

A nota de rodapé no episódio foi a ridícula tentativa do assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, de atribuir ao governo brasileiro a paternidade do acordo. Embora o próprio presidente tenha dito que não estava a par dos entendimentos, o seu assessor internacional disse que o chefe fez "gestões discretas" para a soltura dos presos. Com a sutileza de sempre, acusou os espanhóis de "pegar carona" nas conversações. "A bola caiu no pé deles e eles chutaram para dentro", inventou.

Retrato de uma ditadura ordinaria - Eduardo ????

Um Eduardo "alguma coisa" -- sinto muito, mas tem muita gente que escreve aqui sem se identificar, talvez por constrangimento e relutância com seus próprios argumentos, vergonha por defender ditaduras, falta de coragem para assumir seus próprios pontos de vista, e defender uma opinião pessoal, enfim, vocês escolhem o motivo -- escreveu no post anterior, o que segue (e que destaco pois se trata de uma postura muito comum no Brasil de hoje):

Eduardo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Retrato de uma ditadura ordinaria - Yoani Sanchez":

Como tem poucos comentários nesse blog, resolvi ajudar.
Acho sua visão sobre o Brasil e o mundo completamente equivocada.
Deveria saber que a tal blogueira cubana é uma farsante. Leia a entrevista que ela deu ao jornalista francês Salim Lamrani:
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=128182&id_secao=7
Sinceramente, não tenho saudade do tempo em que a diplomacia brasileira tirava os sapatos para entrar nos EUA.
Como cidadão brasileiro, tenho orgulho do que os diplomatas brasileiros vem fazendo atualmente pelo mundo.


Ele pretende me ajudar, pois minha visão do Brasil e do mundo seria, como ele escreve, "completamente equivocada".

Como esse Eduardo "alguma coisa" não diz exatamente em que minha visão do mundo seria equivocada, sua opinião vale tanto quanto uma completamente contrária, ou seja, nada.
Suponho que ele tenha uma visão do mundo completamente acertada, adequada, correta, o que não se pode comprovar, pois ele é incapaz de escrever coisa com coisa, preferindo esconder-se num "nome + qualquer coisa".
Mas, sendo um leitor do "Vermelho" dá para saber um pouco do que ele pensa.

Trata-se de um órfão do socialismo, um aliado das piores ditaduras do planeta, um nostálgico de regimes fechados, nos quais o Estado manda e o indíviduo obedece.
Pessoas assim me dão pena, pois elas não tem nenhum constrangimento em conviver com a mentira, em aceitar fraudes, em admitir desonestidade intelectual.
Pessoas assim deveriam aceitar viver sem internet, com vigilância policial, sem acesso a revistas e jornais decentes, enfim, submeter-se a uma ditadura ordinária.
Pessoas assim também devem aceitar um regime de penúria, em que todos os serviços são organizados e distribuídos pelo Estado.
Pessoas assim apreciam ser enganadas, em obedecer cegamente consignas das autoridades de segurança, em conformar-se com a mediocridade intelectual e o conformismo.

O Eduardo "qualquer coisa" deveria abrir um blog para esparramar suas opiniões pelo mundo.
Ele deve se sentir tremendamente desconfortável com um blog que expressa opiniões pessoais que não são as que ele gostaria de ler.
Acho que ele se sentiria bem em Cuba, ainda que muito dificilmente ele conseguiria ter um blog por lá. Enfim, ele e seus amigos do "Vermelho" devem achar isso normal.
Mas, tudo é uma questão de escolha.
A minha todo mundo sabe qual é: sou contra ditaduras ordinárias...

Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 13 de julho de 2010

Retrato de uma ditadura ordinaria - Yoani Sanchez

Guillermo Fariñas: a luta contra a morte
Yoani Sánchez
O Estado de S.Paulo, 13.07.2010

O ar-condicionado ronronava às minhas costas, enquanto o cheiro de sala de cirurgia grudava na roupa verde que recebi ao entrar. Sobre a cama, o corpo enfraquecido de Guillermo Fariñas expunha as consequências de 134 dias sem ingerir alimentos sólidos e líquidos.

Permaneci um bom tempo olhando para os tubos que levam ao interior de suas veias o soro que o mantém vivo e os antibióticos para combater múltiplas infecções. Faz apenas dois dias que Coco - apelido recebido por Fariñas dos amigos - anunciou a interrupção de sua greve de fome para proporcionar o tempo necessário para que se cumpra a libertação dos presos políticos. O primeiro gole de água que deu depois de tanto tempo provocou em seu ressecado esôfago a sensação de uma língua de fogo que o queimava por dentro.
Com as sequelas produzidas por um período tão longo de inanição, voltar a beber e a comer não é garantia de sobrevivência para este psicólogo e jornalista independente. Sua saúde se encontra num estado limítrofe de deterioração, como consequência de outras 22 greves de fome anteriores. Ninguém pode saber ao certo se Fariñas chegará, num futuro próximo, a apertar a mão dos prisioneiros que, com sua determinação, ajudou a libertar. Um coágulo instalou-se perto de sua jugular, as bactérias e os germes infectam seu sangue e um intestino atrofiado, pela falta de uso, mal consegue conter a flora que é derramada em seu abdômen. O herói da batalha pela libertação de 52 dissidentes e opositores terá dificuldade para vencer a luta contra a morte. O homem que desafiou um governo que nunca foi caracterizado pela clemência terá pela frente um caminho difícil para vencer suas debilidades físicas.
Justo na primeira madrugada depois de anunciar a suspensão da greve de fome, a família de Fariñas permitiu que eu cuidasse dele na sala de terapia intensiva do hospital de Santa Clara. Voltei para casa triste e cansada, rodeada de anúncios otimistas sobre os presos que deixavam o cárcere, mas imbuída da convicção pessoal de que, para Fariñas, a cruzada pela vida acaba de começar. Ainda assim, me pergunto como foi possível que nos tenham cortado todos os caminhos da ação cívica, até nos deixarem apenas com nossos corpos para ser usados como estandarte, cartaz, escudo. Quando um país se torna palco de tais greves de fome, é hora de se perguntar que outras vias restam aos inconformados e quem teriam sido os responsáveis por inibir os mecanismos de expressão dos cidadãos, e por quê.
Ainda que as grandes manchetes divaguem agora sobre o trabalho de mediação do chanceler Miguel Ángel Moratinos e a negociação entre a Igreja Católica e o governo cubano, todos sabemos quem são os verdadeiros protagonistas destas lutas.
Cidadãos como as Damas de Branco, pessoas simples como Fariñas e gente sofrida como o próprio Orlando Zapata Tamayo, conseguiram que Raúl Castro começasse a destrancar as celas.
Sem o empurrão proporcionado por eles, os sete anos de detenção suportados por aqueles que foram detidos durante a Primavera Negra de 2003 poderiam ter se convertido numa década ou até em meio século de condenação. No entanto, um homem decidiu fechar o estômago à bênção da comida para conseguir que eles voltassem a caminhar pelas ruas de seu país e a abraçar suas famílias. Quem o vê de perto comprova que se trata de um cidadão magro e comum, que um dia vestiu um uniforme militar como soldado de Cuba combatendo em Angola.
A mesma força de vontade que o levou a caminhar 13 km em terras africanas com uma bala cravada nas costas permitiu a ele manter até poucos dias atrás sua recusa em se alimentar. O terreno onde se deu o persistente protesto foi seu próprio corpo que é, afinal, o único espaço que lhe restou para protestar.

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
É DISSIDENTE CUBANA E EDITORA DO BLOG "GENERACIÓN Y"

Para baixo: oportunismo diplomatico (com a desgraca alheia)

Da coluna de Dora Kramer, no Estadão desta terça-feira, 13 de julho de 2010:

Outra freguesia
Se é verdade que o Brasil participou das gestões pela libertação de 52 dos 167 presos políticos de Cuba, como diz o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, se é fato que o Brasil preparou o terreno para uma operação na qual a Espanha só teve participação de última hora, como insinua o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia, seria natural que também oferecesse refúgio aos dissidentes.

Como já fizeram Espanha e Chile. Até agora o Brasil nada disse além de ironizar a atuação dos espanhóis por intermédio de Garcia, que só faltou chamá-los de oportunistas. "A bola caiu no pé deles e eles chutaram para dentro", observou o fidalgo assessor.

Fidel Castro: sugestão de pronunciamento

Fidel Castro: sugestão de pronunciamento
Paulo Roberto de Almeida
(apenas um intermediário...)

Fidel Castro apareceu: asi no más, sem anunciar previamente a ninguém, resolveu conceder uma entrevista televisionada, imediatamente repercutida por todos os meios de comunicação do mundo: a CNN, imparcial, explicou que era sua primeira aparição “pública” em mais de um ano, e que ele exercitou seu esporte favorito, atacar os Estados Unidos. Sim, Fidel Castro responsabilizou os EUA pelo ataque com míssil que afundou o barco de patrulha da Coréia do Sul, provocando a morte de 46 marinheiros. Claro, os EUA, segundo o comandante (alguns dividem esta palavra), tinham interesse em sabotar o processo de paz entre as duas Coréias, continuar com o clima de guerra e assim assegurar a continuidade de sua presença na região. O imperialismo não recua diante de nada para conseguir seus intentos malévolos. Bem, tem gente que até aceita essa hipótese, mas eu não preciso dizer quem é...

Prefiro me dedicar a outro exercício: sugestões de cartas, ou pronunciamentos. Já fiz dois, dirigidos a seu irmão, Raul Castro, mas parece que ele não me atendeu. Sequer deve ter lido, e se leu não pretende, obviamente, seguir meus conselhos. Na última recomendação, eu sugeria a Raul Castro a ser menos Ceausescu e mais Gorbatchev, mas parece que ele não tem intenção de mudar de comportamento (tendo em vista, aliás, que Gorby perdeu seu emprego em pouco tempo, e os irmãos Castro pretendem continuar eternamente no poder, não se sabe bem como...).
Não seja por isso, eu (e vários outros companheiros) sou brasileiro e não desisto nunca. Mesmo que minhas recomendações não sejam seguidas, que eu seja uma nulidade no jogo do poder mundial – no máximo eu poderia me habilitar a disputar concursos mundiais de pingue-pongue e de mahajong – vou ainda assim fazer minha sugestão, desta vez dirigida ao próprio Fidel, já que ele parece em forma outra vez. Eu sugiro que ele faça um pronunciamento ao povo cubano, nestes termos.

Pronunciamento televisionado de Fidel Castro ao povo cubano (no único canal oficial existente, embora a CNN também possa retransmitir e os cubanos vão ver com suas antenas clandestinas)

Pueblo de Cuba, hermanos, compañeros, ciudadanos...

Estamos próximos de mais um 26 de Julho, nossa data máxima, a que comemora o início da revolução popular contra a ditadura de um caudilho do imperialismo, o coronel Fulgencio Batista.
Naquele 26 de julho de 1953, eu e meus companheiros fizemos o assalto ao quartel de Moncada, dando início com isso à nossa luta contra um regime ditatorial e submisso ao imperialismo ianque. Não fomos felizes naquele primeiro assalto, ao contrário: os mercenários da ditadura conseguiram debelar o nosso intento e acabamos na prisão. No julgamento que me condenou pouco depois eu disse aquelas palavras que ficaram na memória do nosso povo: “a História me absolverá”.
De fato, ela me absolveu, assim como fui beneficiado com uma anistia do próprio ditador, e pude me refugiar no México e dar início à luta uma segunda vez. Quase fomos derrotados novamente: dos companheiros que desembarcaram do pequeno bote Granma, hoje o glorioso título de nosso único jornal, poucos se salvaram para buscar refúgio na Sierra Maestra e dali continuar a luta de guerrilhas até a derrota final das forças da ditadura.
Vivemos então dias majestosos e inesquecíveis: pela primeira vez em sua história multissecular, Cuba, que tinha sido colônia espanhola até quase o alvorecer do século 20, e que depois virou uma colônia americana por quase sessenta anos, podia colocar-se de pé e começar a construir seu destino soberanamente. As promessas eram de libertação da ditadura, da dominação imperialista, do analfabetismo, justiça e liberdade para todos, a começar pelos campesinos e pelo povo pobre. Fomos saudados entusiasticamente em nosso desfile triunfal pelas ruas de Santiago e de Havana, todos estavam conosco, e os que se opunham buscaram o exílio ou se aliaram ao imperialismo para tentar derrotar-nos.
Fomos bem sucedidos na primeira tentativa de insurreição contra o poder popular, na invasão dos vermes de Miami, mercenários a soldo da CIA e esbirros da ditadura derrotada. Naquele mesmo momento, Cuba dava início à construção do socialismo, tarefa que tem nos ocupado pelos últimos cinquenta anos.

Pois bem, caros cidadãos de Cuba, o que eu tenho a dizer hoje a vocês é tão histórico quanto meu pronunciamento de abril de 1961, quando anunciei que Cuba era socialista, que estávamos fazendo a opção pelo marxismo-leninismo e que essa decisão era irrevocável. Muitos não concordaram, e o ritmo de saídas acelerou-se em poucas semanas. Todos os que não concordaram com a nossa opção se foram de nossa ilha e pudemos assim construir o socialismo com os que permaneceram.
Durante todo esse tempo, fomos sabotados pelo imperialismo – que manteve um duro embargo contra nossa economia – e não tivemos a compreensão de todos, mas persistimos em nosso ideal. Naquela oportunidade, o socialismo ocupava quase dois terços das terras emersas e grande parte da população mundial. Parecia destinado a enterrar o capitalismo, como vaticinou uma vez um líder da União Soviética, nosso principal aliado e financiador até seu pouco glorioso desaparecimento, vinte anos atrás. Pensávamos que estávamos no sentido da História, e nisso, posso agora confessar, nos enganamos redondamente.
O socialismo foi um sonho, um sonho nobre, em favor do qual tivemos de praticar algumas injustiças – fuzilamentos, restrições à liberdade dos burgueses, controle dos meios de comunicação e dos movimentos políticos e sindicais – mas que eram considerados incômodos passageiros, até atingirmos a situação ideal: um sistema igualitário, o homem novo, a abundância e um futuro radioso para todos.
Vejo agora, caros cidadãos, que nos enganamos terrivelmente, eu me enganei, e continuei enganando vocês durante muito tempo, quanto a que poderíamos conseguir realizar aquilo que pretendíamos, aquilo que tínhamos lido nos livros do marxismo-leninismo, e que nos prometiam um futuro brilhante na via do socialismo.
Não é verdade: o sistema não funciona. E não funciona por um motivo muito simples, independentemente da falta de liberdade e do monopólio político no partido: faltam estímulos às pessoas para produzir e se enriquecerem. Como decretamos a propriedade coletiva dos meios de produção – e de tudo o que fosse patrimônio nacional, inclusive as habitações individuais das famílias cubanas – ninguém mais se sentia responsável pelo aumento da produção, pela criação de riquezas, pela acumulação de novos meios de produção. Todos queriam trabalhar o menos possível e esperar que o Estado, esse monstro insaciável, lhes desse tudo aquilo que necessitavam para viver. Muitos se acomodaram na mediocridade, mas os mais empreendedores foram embora, simplesmente foram buscar em outras terras os meios de enriquecer que lhes faltavam em Cuba.
Os companheiros chineses se aperceberam disso muito rapidamente, mas aquele ditador asiático que respondia pelo nome de Mao Tsé-tung não fez nenhuma reforma prática enquanto ocupou o poder. Todos sabem, hoje – embora os companheiros do Partido Comunista Chinês não o confessem de público – que as loucuras econômicas de Mao foram responsáveis pela morte direta ou indireta de milhões de chineses, sem mencionar o sofrimento adicional trazido pela Revolução Cultural, que simplesmente destruiu as universidades chinesas. Os companheiros chineses se aplicaram nos últimos 30 anos a construir um capitalismo de Estado, e nisso eles tiveram sucesso. Não creio que possamos fazer o mesmo em Cuba.

Caros irmãos, cidadãos,
A situação de penúria, de sofrimento, de falta de liberdade em nossa ilha já alcançou limites insuportáveis, até mesmo para mim, que gozo de uma condição relativamente privilegiada. Não tenho mais aonde ir, nenhum país me estende convites, só me restaram uns poucos ditadores espalhados pelo mundo, alguns em situação ainda pior do que a nossa. Por isso minha decisão irrevocável, agora tomada, só pode ser uma.
A partir de agora, Cuba volta a ser uma república democrática. O Partido Comunista anuncia que não mais detém o controle absoluto do Estado e do país. Serão organizadas eleições livres, todos poderão participar, de acordo com sua vontade organizada em partidos autônomos do Estado, e os eleitos comporão uma Assembléia Constituinte que decidirá soberanamente sobre o nosso futuro, fazendo tabula rasa dos últimos cinquenta anos. Os cubanos decidirão o que querem ser e como vão organizar a economia. Vocês são livres para se manifestarem e se organizarem como desejarem.
Eu devia isto a vocês, e só tenho um pedido a fazer: deixem-me morrer com dignidade em minha terra, sem ter de ir para algum exílio indesejado. Não quero para mim aquilo que obriguei outros a adotar: o caminho do exílio e da reconstrução de suas vidas. Eu não tenho mais vida para construir, apenas um nome para preservar na História. E não quero entrar para a História como esses outros ditadores que depois são vilipendiados nos livros. Qualquer que seja o julgamento da História, gostaria de terminar desta maneira: como o líder máximo que resolveu, ainda que tardiamente, desfazer todos os erros que cometeu ao longo da vida, e pedir sinceramente perdão pelos sofrimentos que causei.
Cidadãos de Cuba, levantem-se, vocês estão livres. Que a História os proteja!

Fidel Castro Ruz (com uma pequena ajuda de um escriba intrometido).
(13.07.2010)

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Cartas anteriores:
Carta aberta a Raul Castro sobre Cuba e o socialismo
Via Política (17.08.2009).

Nova carta a Raul Castro: seja um pouco mais Gorby e menos Ceausescu
Via Política (16.11.2009).

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Cuba: liberacao de prisioneiros politicos

Uma ditadura ordinária, em lugar de simplesmente liberar prisioneiros de conciência e simples opositores políticos -- algo que não existe em democracias -- os obriga a escolher o exílio, uma opção que pode não ser a mais conveniente para a família, mas que por vezes significa sair de um purgatório econômico e de um inferno político...
Mas ainda assim o governo faz chantagem com esses prisioneiros, como revela Paulo Paranaguá num chat com cubanos (mais abaixo).
Paulo Roberto de Almeida

Des prisonniers politiques regroupés à La Havane avant leur exil
Le Monde avec Reuters, 12.07.2010

Rassemblement des "Dames en blanc", collectif d'épouses et de proches de prisonniers politiques cubains, dimanche 11 juillet à La Havane.

Les autorités cubaines ont rassemblé, dimanche 11 juillet à La Havane, des prisonniers politiques et leurs familles dans le cadre de la libération graduelle de cinquante-deux dissidents négociée avec l'Eglise catholique, a annoncé Elizardo Sanchez, chef de la Commission cubaine pour les droits de l'homme. Ce premier groupe pourrait embarquer à bord d'un vol pour Madrid dès lundi. Aucune confirmation n'a pu être obtenue tant auprès du gouvernement que de l'Eglise.

Un premier groupe arrivera mardi à Madrid
Un premier groupe d'ex-prisonniers politiques cubains, libérés par le régime de La Havane, arrivera mardi par un vol régulier à Madrid, a indiqué lundi le ministère des affaires étrangères espagnol.

"Nous ne savons pas encore exactement combien" d'ex-détenus seront du voyage sur un total de 17 prisonniers libérés ces dernières heures par Cuba, a indiqué le ministère, précisant qu'ils devraient prendre un vol lundi en soirée depuis La Havane pour atterrir mardi dans la journée à Madrid.

Le clergé catholique cubain a annoncé samedi que dix-sept des cinquante-deux prisonniers concernés par l'accord seraient rapidement libérés, les autres devant attendre les prochains mois. Prisonniers et membres de leurs familles sont regroupés dans des lieux distincts. Les premiers doivent notamment accomplir toutes les formalités migratoires et les examens médicaux nécessaires à leur sortie du territoire, et ne devraient pas voir leurs proches avant leur embarquement vers l'exil.

LIBÉRATION HISTORIQUE
L'annonce de ces libérations, mercredi dernier, a été précédée d'une rencontre entre le président cubain, Raul Castro, et le cardinal Jaime Ortega, le 19 mai dernier. En visite à La Havane la semaine dernière, le chef de la diplomatie espagnole, Miguel Angel Moratinos, a accepté que les prisonniers gagnent l'Espagne s'ils souhaitent quitter l'île.

D'après Laura Pollan, qui préside le collectif des Damas de Blanco, "Dames en blanc", rassemblement d'épouses et de proches de prisonniers politiques, vingt-six d'entre eux au moins ont été invités à se rendre en Espagne et vingt ont accepté. On ignore, a-t-elle ajouté, si ceux qui ont exprimé l'intention de rester à Cuba seront libérés ou non.

Il s'agit de la plus importante libération de dissidents à Cuba depuis 1998, quand cent un prisonniers politiques avaient été graciés à l'occasion de la venue du pape Jean Paul II dans l'île. A l'issue de ce processus de libérations, Cuba devrait compter une centaine de prisonniers politiques, selon la dissidence.

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Cuba: "Les prisonniers politiques sont traités comme des otages"
Le Monde online, 12.07.2010

L'opposant cubain Guillermo Farinas a mis un terme jeudi 8 juillet à 135 jours de grève de la faim après l'annonce des libérations prochaines de 52 détenus politiques.

FC : Etes-vous d'accord avec Hector Palacios, cet ancien prisonnier politique pour qui la libération de 52 opposants constitue "l'avancée la plus sérieuse de ces cinquante dernières années" ?

La déclaration du dissident Palacios montre l'immense espoir suscité par l'annonce de la libération de 52 prisonniers politiques. Mais elle semble aussi un peu exagérée, ou du moins prématurée, puisque nous attendons toujours que ces libérations soient effectuées. Surtout, nous souhaiterions qu'elles ne soient pas des mesures d'exil forcé pour tous les prisonniers bénéficiaires.

Gé : Ces libérations marquent-elles un tournant ou sont-elles de la poudre aux yeux ?

Pour quelqu'un qui est en prison, en sortir n'est certainement pas de la poudre aux yeux… La plupart des prisonniers politiques dont il est question maintenant sont en prison depuis sept ans. D'autres, qu'il n'est pas question de libérer pour l'instant, sont détenus depuis bien plus longtemps.

Pour un régime qui criminalise l'opinion dissidente et toutes formes d'opposition, évidemment, reconnaître qu'il y a des prisonniers politiques est un geste qui n'est pas indifférent. Mais la forme que prennent ces élargissements, au bout d'une négociation laborieuse, a quelque chose de gênant.

On a l'impression que les prisonniers politiques sont des otages d'un régime, qu'on négocie selon les convenances diplomatiques ou médiatiques.

Loumi : Quels sont concrètement les changements à Cuba depuis que Raul Castro a succédé à Fidel ?

Il y a eu des changements dans le domaine socio-économique. Par exemple, les coiffeurs peuvent maintenant s'établir à leur propre compte au lieu d'être des fonctionnaires de l'Etat. Autre exemple : des terres non cultivées seraient remises à des paysans pour pallier les immenses carences de Cuba sur le plan alimentaire. Mais tout cela se fait à un rythme extrêmement lent, en contradiction avec les urgences qu'impose une crise économique et sociale sans solution en vue.

Julie : La population soutient-elle le régime castriste ?

Il est certain que le régime dispose de soutiens. Mais avec un parti unique, des médias complètement contrôlés par le pouvoir, l'impossibilité de débattre librement depuis un demi-siècle, il est difficile de savoir si ces soutiens-là sont vraiment librement consentis.

PM2 : La démocratie est-elle possible avec les Castro au pouvoir ?

Un régime de pouvoir personnel peut-il se réformer ? Il est difficile pour les deux frères Castro de contredire toute leur trajectoire. La difficulté du moment est là : comment changer tout en gardant en place la même équipe depuis un demi-siècle ?

pipol : A votre avis combien de temps le régime castriste peut-il encore tenir ?

Il est toujours difficile de faire des pronostics, avec des délais. Tous ceux qui ont annoncé la chute prochaine du régime depuis cinquante ans ont montré l'inanité de cet exercice.

Arno : Si ce n'est plus les Castro, qui alors ? Sait-on qui pourrait leur succéder ?

Raul Castro a accentué le caractère militaire du régime cubain. On peut estimer que ce sont les officiers supérieurs qui constituent aujourd'hui le premier cercle du pouvoir. Le Parti communiste, parti unique, est aujourd'hui une formation virtuelle, incapable de se réunir en congrès depuis une décennie. Et donc incapable de peser sur les événements, et même d'être un cadre de délibération sur les réformes nécessaires.

Il est donc difficile d'identifier des successeurs ou des héritiers possibles. Il faut se rappeler que le régime a systématiquement mis au placard tous les quadras ou quinquas qui apparaissaient dans le paysage et auxquels on attribuait des velléités réformatrices. Dans ces conditions, personne ne sort du bois.

Mag : Quel est le rôle des Etats-Unis dans l'évolution récente (durcissement ou assouplissement) du régime cubain ?

Obama a assoupli l'embargo américain. Il a autorisé l'envoi de sommes plus importantes de la part des familles cubaines résidant aux Etats-Unis à leurs proches dans l'île. Il favorise les voyages des Cubano-Américains vers Cuba. Au Congrès, la commission aux relations extérieures s'est déjà prononcée pour permettre à tous les Américains d'aller à Cuba.

Ce flux de touristes donnerait davantage d'oxygène à une économie qui en a bien besoin. Mais Washington attend de la part de La Havane des signes d'ouverture.

ITR : La levée (partielle) de l'embargo américain semble donc positive… Pourquoi ne pas l'avoir fait plus tôt ?

Parce qu'aux Etats-Unis, la ligne dure à l'égard de La Havane a encore ses partisans. De la même façon qu'à Cuba, le régime, et notamment ses secteurs les plus conservateurs, a toujours utilisé l'embargo comme le meilleur des alibis politiques.

Jean-Baptiste : Comment évolue l'opinion des Cubains exilés à Miami ou ailleurs ?

Obama a été soutenu par une majorité des électeurs d'origine cubaine de Floride, Etat qui a été décisif pour sa victoire électorale. Auparavant, ces Américains d'origine cubaine étaient nettement favorables aux républicains. L'exil historique, que les mauvaises langues appellent "exil hystérique", a longtemps pesé sur la politique de Washington. Cette politique répondait davantage à des considérations intérieures qu'à des considérations diplomatiques.

Mais le rajeunissement et la diversification de la communauté latino de Floride a changé la donne. Et aujourd'hui, à côté du lobby pro-embargo, il y a un immense et très actif lobby contre l'embargo, dans lequel on trouve les producteurs américains qui exportent des denrées alimentaires vers Cuba et, bien entendu, les voyagistes.

Pol : A votre avis, Cuba peut-il évoluer en douceur ? C'est-à-dire garder le "meilleur" (éducation, santé…) et gagner en liberté d'expression, en richesse par habitant, etc. Ou est-ce impossible ?

Je ne sais pas si on peut chiffrer le poids des partisans de la politique du pire. Mais je crois que la plupart des Cubains, aussi bien ceux qui habitent dans l'île que ceux de la diaspora, souhaitent une évolution pacifique, en douceur, sans "casse sociale".

jh : Vous semblez sceptique sur les libérations annoncées... Pourtant, il n'y aura jamais eu aussi peu de prisonniers politiques. Pourquoi ne pas faire crédit à Raul Castro de sa volonté de réformer le régime ?

Pour l'instant, l'annonce tarde beaucoup à se concrétiser, et les libérations ont l'air de s'accompagner d'une expatriation obligatoire pour les prisonniers libérés et leur famille. Le crédit d'un régime est fonction de son passé : cinquante ans, c'est beaucoup.

Virgin : L'Union européenne pèse-t-elle sur les évolutions du régime ?

Je crains que le poids de l'Europe à Cuba ne soit plutôt marginal. L'essentiel pour La Havane, ce sont les relations avec les Etats-Unis et avec l'Amérique latine.

Mag : Existe-t-il réellement un axe Caracas-La Havane, ou est-ce simplement une manœuvre de leadership régional du Vénézuélien Hugo Chavez ? Y a-t-il vraiment convergence entre les deux pays ?

Il y a une vraie alliance, ça, c'est sûr. Cuba en tire un bénéfice économique essentiel : sans le pétrole vénézuélien, l'économie cubaine s'effondre. Chavez en tire un bénéfice politique et idéologique indéniable. Mais les différences entre les trajectoires des deux directions politiques sont suffisamment importantes pour qu'on soit sceptique sur leurs réelles convergences.

pipol : Quels sont actuellement les plus grands soutiens extérieurs du régime ?

Les pays communistes ou ex-communistes comme la Russie ou la Chine ont relancé leurs liens avec Cuba. D'autres pays comme le Brésil investissent à Cuba et aident le gouvernement sur le plan diplomatique.

Je ne crois pas que ce soit pour autant forcément une aide au maintien du régime tel qu'il est. Je crois que la diversification des relations diplomatiques de La Havane contribue à augmenter ses marges de manœuvre et donc ses possibilités d'entreprendre des réformes.

Lima : Comment expliquer la longévité du régime castriste là où tant d'autres régimes similaires ont sombré ? C'est bien parce qu'il fonctionne en partie, non ?

Plus que l'adhésion politique, je crois qu'il faut prendre en compte la nature répressive du régime. Sans la peur, pour ne pas dire la terreur, répandue dès les premières années de l'arrivée de Fidel Castro au pouvoir, jamais il n'y aurait eu un tel contrôle social sur la population.

Cuba reste le seul régime autoritaire en Amérique latine, alors que les militaires se sont retirés du pouvoir dans les pays de la région. Le nouveau contexte régional, très éloigné de la guerre froide, favorise une évolution de Cuba qui rapprochera l'île des opinions prédominantes en Amérique latine.

Chat modéré par François Béguin

sábado, 19 de junho de 2010

Cuba: a liberdade de dizer não...

Essa liberdade, só quem tem, em Cuba, é o governo. Os cidadãos têm apenas a liberdade de receber um "não" do governo a cada uma destas demandas elementares.

Nota: Normalmente não transcreveria este tipo de post neste blog, pois não acho graça nenhuma em ficar repisando o que se sabe. Este blog não se destina a fazer propaganda, nem contra, nem a favor. Ele pretende apenas e tão somente debater ideias, discutir políticas, tratar de conceitos e propostas de políticas públicas. Mas, como de vez em quando, um gaiato resolve me ofender, num sentido que qualquer um pode imaginar de que tipo seja, vou postar este tipo de material aqui, apenas para deixar ainda mais furiosos esses inacreditáveis (e inaceitáveis) amigos de ditaduras...
Paulo Roberto de Almeida

(recebido pela internet, mas não preciso dizer de onde ou de quem)

En la Cuba comunista se prohibe:
1- Viajar al exterior sin permiso del gobierno. Aunque se cuente con una visa aprobada y los pasajes de avión, únicamente se puede abandonar Cuba con un salvoconducto oficial (la conocida Tarjeta Blanca) cuyo proceso de obtención puede tomar años y en muchos casos nunca ser otorgada. Los trabajadores vinculados a la salud, aquellos de los ministerios del estado, de las fuerzas armadas, o los deportistas de alto rendimiento, entre otros, deberán esper ar al menos 5 años, pero en la mayoría de los casos nunca recibirán el dichoso permiso.
2- Viajar al exterior por motivo de trabajo con esposa y/o hijos (con excepción de algunos altos funcionarios oficiales.
3- Cambiar de trabajo sin permiso del gobierno.
4- Cambiar de domicilio. Las permutas obligan a someterse a decenas de regulaciones.
5- Publicar cualquier cosa sin permiso del gobierno.
6- Poseer una computadora personal, un fax o una antena parabólica.
7- Acceso a Internet. La Internet está estrechamente controlada y vigilada por la seguridad del estado. Sólo el 1.7 % de la población tiene acceso a internet.
8- Mandar a sus hijos a un colegio privado o religioso. Todas las escuelas son del estado comunista.
9- Practicar cualquier culto religioso sin penalizaciones. Los adultos pueden ser despedidos de sus trabajos; a los niños se les puede expulsar de la escuela.
10- Pertenecer a cualquier organización independiente de carácter nacional o internacional, con excepción de las gubernamentales (Partido Comunista, Unión de Jóvenes Comunistas, Comités de Defensa de la Revolución, etc.).
11- Ver o escuchar emisoras de radio y televisión privadas o independientes. Todos los medios de difusión son propiedad estatal y están dirigidos por el gobierno. Los cubanos escuchan o ven ilegalmente la Voz de las Américas, Radio y TV Martí, etc.
12- Leer libros, revistas o periódicos, con excepción de aquellos aprobados/publicados por el gobierno (todos los libros, revista o periódicos son publicados por el gobierno ). No existe prensa independiente autorizada. Leer '1984' o 'Rebelión en la Granja' de George Orwell es tan subversivo como tener una revista Sputnik o Novedades de Moscú del período de la Perestroika.
13-Recibir publicaciones del extranjero o de visitantes (punible con cárcel según la Ley 88).
14- Comunicarse libremente con periodistas extranjeros.
15- Visitar o quedarse en hoteles, restaurantes, playas, y complejos para turistas (de donde están excluídos los cubanos).
16- Aceptar regalos o donaciones de visitantes extranjeros.
17- Buscar empleo en compañías extranjeras establecidas en la isla sin la aprobación del gobierno.
18- Poseer negocios propios (propiedad privada). Aunque algunos negocios muy pequeños han sido aprobados por el gobierno han sido sometidos a impuestos y regulaciones asfixiantes.
19- Ganar más de la tarifa establecida por el gobierno para todos los empleos: 7-12 dólares al mes para la mayoría de los trabajos, 15-20 dólares al mes para los profesionales, como médicos y funcionarios del gobierno.
20- Vender cualquier pertenencia personal, servicios, productos alimenticios preparados en casa o artesanía casera sin la aprobación del gobierno.
21- Pescar en las costas o subirse a un bote sin permiso del gobierno.
22- Pertenecer a un sindicato independiente (sólo hay uno: el gobierno controla los sindicatos y ningún contrato, individual ni colectivo está permitido; tampoco huelgas o protestas).
23- Organizar cualquier equipo deportivo, actividades deportivas y actuaciones artísticas sin permiso del gobierno.
24- Reclamar cualquier premio monetario, o tratar de actuar en el extranjero.
25- Escoger un médico o un hospital. Todos los asigna el gobierno.
26- Buscar ayuda médica fuera de Cuba.
27- Contratar a un abogado, a no ser que esté aprobado por el gobierno.
28- Negarse a participar en manifestaciones o demostraciones masivas organizadas por el Partido Comunista. La negativa a participar en concentraciones como las del 1ro de mayo o del 26 de julio, implica el ser categorizado como desafecto al régimen y quedar expuesto a las consecuencias que se derivan.
29- Negarse a participar en el trabajo 'voluntario' para adultos y niños.
30- Negarse a votar en elecciones con un partido único y candidatos nominados por el gobierno... (Fidel Castro no es 'elegido' por voto directo. Su nombre nunca aparece en las boletas).
31- Aspirar a un cargo público a no ser aquellos escogidos a dedo por el Partido Comunista.
32- Criticar o simplemente cuestionar las leyes represivas del régimen, o cualquier comentario o decisión de dirigentes, o del máximo líder.
33- Transportar productos alimenticios para consumo personal o familiar de una provincia a otra. Las maletas de los viajeros son continuamente revisadas por la policía en los trenes, omnibus, carros particulares, bicicletas y cualquier medio de transporte, en busca de viandas, azúcar, café o carne, entre otros. Productos que son confiscados y sus portadores son procesados judicialmente por tal 'delito'.
34- Matar una vaca. Los campesinos propietarios de ganado vacuno no pueden sacrificar sus propias reses para consumo y mucho menos para vender la carne. Este delito grave se sanciona con cinco años de cárcel.
35- Comprar o vender inmuebles y terrenos. Los 'propietarios' de las casas no pueden venderlas y únicamente las permutas, es decir, las cambian, (entre casas similares) con muchas regulaciones, se permiten. Aunque menos del 6% de las tierras agrícolas quedan en manos de campesinos (el resto fue expropiada en la primera década de la revolución) los 'propietarios' tampoco pueden vender sus terrenos.
36- Importar al país los siguientes equipos eléctricos: freezer, acondicionadores de aire, cocinas y hornillas, incluyendo resistencias; hornos y microwaves, calentadores de agua, duchas, freidoras, planchas y tostadoras de pan.
37- Regresar a vivir al país después de haber emigrado. Los que un día deciden visitar a sus familiares en Cuba necesitan visa-permiso para volver a la tierra que los vió nacer y deberán obtener un pasaporte cubano (aunque ya tengan otra nacionalidad oficialmente reconocida). El proceso cuesta más de 450 dólares, sin incluir pasajes y otros gastos. Cuando el permiso de entrada es denegado, el dinero queda en manos del gobierno cubano.
38- Visitar fuera de Cuba a un 'desertor' miembro de la familia. Cuando un cubano 'deserta' en el exterior en trabajos que el gobierno considera 'misiones oficiales' (deporte, ciencia, arte, etc) los familiares deberán esperar al menos cinco años hasta que el gobierno decida si pueden viajar. Los padres, hijos o hermanos no podrán visitar a su ser querido aunque cuenten con visa y pasaje del país en que reside su familiar 'desertor'.
39- Conservar las propiedades cuando alguien emigra o es capturado en el intento. Cuando un cubano recibe el permiso de salida, su balsa es interceptada en altamar o es repatriado, usualmente sus 'propiedades' (casa, televisor, muebles, ropa, etc) son confiscadas. En caso de los repatriados o interceptados en el mar, tambien se verán imposibilitados de volver a trabajar, perderán la libreta de racionamiento (medio por el que obtienen derecho a pagar una paupérrima porción de los alimentos que necesitan), enfrentarán actos de repudio y/o penas judiciales.
40- Escoger libremente la carrera que se desea estudiar. Un graduado del 12mo grado, independientemente de sus índices académicos y la disponibilidad de plazas, no puede seleccionar la carrera que prefiere estudiar. En el proceso de selección, para las universidades (todas en manos del estado comunista) priman factores ideológicos asociados al grado de incondicionalidad de los jóvenes y a las 'necesidades de la revolución' en ese momento.
41- Invitar a un extranjero a pasar una noche en su casa. Si los vigilantes CDR (Comités de Defensa de la Revolución, es decir, espías de sus vecinos) advierten y denuncian que un extranjero esta pernoctando en la casa de un cubano, se inician investigaciones que generalmente terminan en multas o en el caso de los reincidentes, en la expropiación de la vivienda.
42- Negarse a participar en las Milicias de Tropas Territoriales, CDRs, Brigadas de Respuesta Rápida y cualquier organización represiva del régimen. La negativa es interpretada como una clara muestra de desafecto revolucionario y conlleva castigo.
43- Comprar leche en establecimientos regulados (bodegas) para niños mayores de siete años. Sólo los niños hasta siete años pueden en Cuba a recibir el derecho a pagar una cuota de leche, a partir de esa edad la venta de leche se elimina y sus padres sólo podrán adquirir la leche en el mercado negro, lo que implica una clara violación de la ley.
44- Vivir en libertad y con derechos humanos. Sobrevivir como un ser humano.
45- Decir ABAJO FIDEL... O MUERA FIDEL!!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Cuba: um edificio aprodrecido, ruindo aos poucos...

(infelimente, muito lentamente).
Na finada União Soviética, acontecia a mesma coisa: quando as metas de produção não eram preenchidas, o ministro era demitido. Isso não resolvia nada, obviamente, quanto à produção, mas dava a impressão, ou a ilusão, de que providências estavam sendo tomadas.
E tudo continuava como antes.
O que acontece com pessoas supostamente bem informadas que continuam a agir dessa forma.
Por que elas não constatam, simplesmente, que o sistema não funciona e mudam totalmente seu modo de (não) funcionamento?
Assim fizeram os chineses, e preservaram um Estado comunista, numa economia perfeitamente capitalista, talvez mais capitalista do que a brasileira (não estou brincando).
Vai lá saber...
Paulo Roberto de Almeida

Cuba dismisses transportation, sugar ministers
By WILL WEISSERT
The Associated Press
Washington Post, Monday, May 3, 2010; 11:13 PM

HAVANA -- President Raul Castro has fired Cuba's transportation minister for professional mistakes and replaced the head of the Sugar Ministry after he admitted incompetence, the latest in a growing series of leadership shake-ups.

A statement read during the nightly newscast Monday said Jorge Luis Sierra was removed as transportation minister, a role he got in February 2009. Sierra also forfeited his post as a vice president of the Council of Ministers, a governing body that serves as Cuba's Cabinet - although its vice presidents are not considered vice presidents of the country.

Army Gen. Antonio Enrique Luzon replaced Sierra on the council, among many military leaders to be promoted within the government. Raul Castro served as defense minister for nearly five decades before taking over as president - first temporarily, then permanently - after his older brother, Fidel, underwent intestinal surgery in 2006.

The new Transportation Minister is Cesar Ignacio Arocha.

Sierra lost his jobs due to "errors committed while in the act of carrying out his duties," the statement said, but no further details was given. A government spokeswoman said she could not add anything.

Sugar Minister Luis Manuel Avila also was dismissed, but the newscast said that "he asked for his removal, recognizing the deficiencies in his work." Orlando Selso was named to the post.

On March 23, Cuba replaced Attorney General Juan Escalona Reguera, who fought under Fidel and Raul Castro in the rebel army that toppled dictator Fulgencio Batista on New Year's Day 1959. Health problems were cited as the reason.

That move came less than two weeks after the government abruptly dismissed another veteran revolutionary, Rogelio Acevedo, who had overseen its airlines and airports and as a teenager fought alongside the Castros and Ernesto "Che" Guevara.

No formal reason was given for Acevedo's removal, but an opinion piece posted on a state Internet site by a prominent Cuban academic referred to rumors that Acevedo has been under house arrest for corruption. Cuban-American exile websites in the U.S. have said a large amount of cash was found hidden at Acevedo's house and he is suspected of operating a private airline, among other things. The government has not commented on the allegations.

Monday's changes also come following the death of Roberto Baudrand, a top Chilean executive working in Cuba. He was found dead in his Havana apartment last month after being detained by Cuban authorities investigating his company, which is owned by a businessman who was a close friend of Fidel Castro.

Cuba's government said that Baudrand died of a lack of oxygen and that unidentified drugs and alcohol were found in his blood. It did not say whether the death was considered a suicide.

Baudrand, 59, was general manager of Alimentos Rio Zaza SA and served as liaison in Cuba for Max Marambio, the former head bodyguard of Chilean socialist President Salvador Allende, who was toppled in a 1973 military coup. The company makes "Tropical Island" brand juices and other food products sold in Cuban hard-currency stores catering to tourists and other foreigners.

Rio Zaza is jointly owned by Cuba's government and Marambio, but has been shuttered as part of an investigation by Cuba's government. Fidel Castro has not commented on the case, even though he and Marambio have been friends for decades.