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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 5 de novembro de 2016

A grande ilusão do socialismo e dos socialistas: Mauricio Tragtenberg - Paulo Roberto de Almeida (2010)

Ao ler algumas recentes homenagens ao velho mestre -- que foi também o meu, que o admirava por sua independência de pensamento, suas vastas leituras -- e informações sobre a republicação de algumas de suas obras, lembro-me que produzi, muitos anos atrás, um texto sobre nossa relação intelectual que também era uma homenagem a Mauricio Tragtenberg, mas que não deixava de assinalar os elementos utópicos de seu pensamento.
Esse artigo, bem longo, se chamava "A educação de Mauricio Tragtenberg", que vou recuperar para indicar o link de sua leitura.
Alguns anos depois, com um outro discípulo do mestre, e editor da revista Espaço Acadêmico, Antonio Ozai, homenageando Tragtenberg num pequeno artigo da revista, resolvi escrever novamente sobre ele, um pequeno artigo que posso reproduzir abaixo.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 5/11/2016


A grande ilusão do socialismo e dos socialistas - Mauricio Tragtenberg

Paulo Roberto de Almeida
terça-feira, 7 de setembro de 2010

Fui aluno, talvez discípulo, mas certamente amigo de Maurício Tragtenberg, com o qual convivi em meus anos de formação acadêmica. Dele obtive a melhor inspiração de leituras e reflexões, como ocorreu com tantos outros jovens que também foram seus alunos e que com ele conviveram dos anos 1960 aos 1990, nas diversas escolas e faculdades em que ele lecionou. Como todos, eu tinha o maior respeito pelo mestre, pelas suas aulas e ensinamentos, o que não quer dizer que acatei totalmente suas ideias e concepções.
No começo, sim, tendíamos a concordar com ele, pois éramos todos socialistas, quase todos marxistas, alguns libertários, como ele, o que não era difícil no ambiente universitário daqueles tempos – talvez mesmo hoje –, ainda mais no contexto da ditadura militar vivida pelo Brasil dos anos 1960 aos 80.
Estas rememorações me vieram à mente ao ler uma resenha feita por Antonio Ozaí na Espaço Acadêmico de setembro de 2010. Destacou ele um trecho de um dos livros – o qual já tinha lido em edição anterior – agora reeditado graças aos esforços de seus seguidores, alunos, discípulos. Assim reza o trecho:

"É pela socialização dos meios de produção controlados pela classe operária organizada em suas organizações diretamente representativas, que é possível efetuar-se a passagem de uma sociedade liberal capitalista a uma sociedade planificada, evitando o capitalismo de Estado e o totalitarismo, conservando as liberdades básicas do homem."
In: Mauricio Tragtenberg: O capitalismo no século XX (2ª. ed. revisada e ampliada. São Paulo: Editora UNESP, 2010; Coleção Maurício Tragtenberg, 186p.), p.170-171.

Ao ler esse trecho, constato que nesses poucos argumentos estão resumidos, de forma muito transparente, a grande tragédia do socialismo e dos socialistas, incluindo, portanto, o próprio Mauricio Tragtenberg. Rememoro meu último encontro com ele, exatamente como ocorreu, e depois retomo o argumento substantivo.
Fui visitar Mauricio Tragtenberg em sua casa, em meados dos anos 1980, depois de longos oito anos de intervalo, ao ter voltado de minha segunda estada na Europa, e depois de ter conhecido praticamente todos os socialismos reais, aliás, os únicos existentes. Tinha também conhecido um socialismo “surreal’ na Iugoslávia, a última réstia de esperança para aqueles que, como ele, valorizavam não o socialismo burocrático, centralizado, mas a sua vertente auto-gestionária, supostamente mais benigna ou pretensamente mais “funcional” (já que seria isento dos pecados do excesso de centralismo e de burocratismo estatal).
De forma puramente factual, pude confirmar, para decepção do velho mestre, que, em qualquer da modalidades, o socialismo não funcionava como modo de produção econômica, e menos ainda como forma de organização social. O sistema simplesmente não conseguia fornecer à população bens de uso corrente (esqueçamos produtos mais sofisticados), na quantidade e na qualidade requeridas
Se formos, então, analisar seu desempenho na área política, e nessa vertente a questão crucial das liberdades, seria forçoso concluir que TODAS as experiências socialistas redundaram em fracassos absolutos, já que todas elas recorreram à mais violenta das tentativas de remodelação social conhecidas na história, e todas conduziram a sistemas autoritários, quando não totalitários, e a uma opressão ainda maior do que aquela existente nos antigos sistemas feudais ou capitalistas.

Portanto, ao reler o velho mestre, nas linhas selecionadas na resenha, que acreditava que seria:

“...possível efetuar-se a passagem de uma sociedade liberal capitalista a uma sociedade planificada, evitando o capitalismo de Estado e o totalitarismo, conservando as liberdades básicas do homem

o que eu teria a dizer-lhe, novamente – e que já tinha dito diretamente a ele, em minha volta do socialismo – seria que, NÃO, infelizmente, essa passagem não é possível, pois NENHUMA sociedade planificada centralmente, no sentido socialista – ou seja, sem garantir a propriedade privada dos meios de produção – JAMAIS conseguiu preservar as liberdades básicas do homem.

Sorry, velho mestre, mas a História não esteve consigo, nesse particular, ou seja, não caminhou no sentido desejado por tantos libertários e outros sonhadores socialistas. Não se trata de falhas teóricas dos socialistas ou de incapacidade organizacional de seus movimentos de massa, e sim de impedimentos estruturais que têm a ver com as prescrições formuladas para a organização econômica da sociedade, de uma contradição primária, como diriam os “sábios” da academia soviética.
Tudo isso não me impede de saudar a enorme erudição do mestre, agradecer-lhe, sempre, as inúmeras lições intelectuais que recebi dele, as infinitas recomendações bibliográficas e de leitura, e aquele fino gosto pela ironia que era a marca registrada de Mauricio Tragtenberg.
Grato por tudo, velho mestre, mesmo estando do outro lado do processo histórico, do lado da utopia, esta era formulada com a melhor das intenções, e você foi um homem verdadeiramente digno, honesto intelectualmente, uma personalidade admirável. Minha homenagem a um educador exemplar.

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 8 de setembro de 2010)

sábado, 30 de novembro de 2013

Era uma vez um BRIC que fez tilt, e depois estilhacou - Marcos Troyjo

Marcos Troyjo
FOLHA DE S. PAULO
Sexta-feira, 29.11.13

Se países não têm boa performance, gestores mudam seu foco para outro grupo e assim por diante

Habita o futuro da economia global grande população de acrônimos. Bric, Brics, Ibas, N-11, Mist. E agora, Mint (conjunto de México, Indonésia, Nigéria e Turquia). É a novasigla elaborada por Jim O' Neill, primeiro formulador da ideia de Bric.
Por que essas siglas surgem aos montes? A aposta nos mercados de maior crescimento no futuro às vezes é jogada de marketing. Sofisticados fundos são montados por bancos de investimento quando um grupo de países está prestes a arremeter. E esses fundos ajudam na decolagem --percebida e real.
Foi o que aconteceu com o Bric a partir de 2001-2003, quando se organizaram os primeiros produtos financeiros agregando numa mesma cesta papéis desses países. Tudo isso é legítimo e faz parte do jogo.
Se países não têm boa performance, gestores mudam seu foco para outro grupo e assim por diante. Aqui, o termo forte é "mercados emergentes", e o desempenho é medido sobretudo em matéria de retorno sobre investimentos.
O "Bri" (Brasil, Rússia e Índia) de Bric tem decepcionado com crescimento baixo e imobilismo político. Excetuando-se a China, a média de crescimento recente do Mint é bem superior à do Bri. E o Mint apresenta ainda melhores perspectivas em termos de bônus demográfico.
Há também o tema da institucionalização de novos agrupamentos político-econômicos. Aqui, ao contrário do que supunham os céticos, os Brics (acrescidos de África do Sul) têm conseguido consistência. No ano que vem, em Fortaleza, realizarão sua sexta cúpula de chefes de governo.
Possuem densa agenda comum --com grupos de trabalho em áreas como saúde pública ou combate ao terrorismo. Lançam em breve o NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), com capital de US$ 50 bilhões para infraestrutura. É irreal supor que o Mint venha a percorrer processo de construção institucional semelhante ao dos Brics.
A questão mais importante, no entanto, diz respeito ao conceito de "potências emergentes". É algo mais abrangente do que o critério majoritariamente financeiro com que se abordam "mercados emergentes".
É por isso que, quando surgem novos siglas a denotar o dinamismo das nações, logo se pergunta: "Brics são coisa do passado e serão substituídos pelo Mint?".
O maior risco para os Brics não vem de um outro acrônimo da moda. O perigo é o descolamento da China como superpotência a pactuar-se mais com EUA e Europa do que seus parceiros emergentes.
Pequim e Bruxelas iniciaram conversações para acordo de comércio e investimentos. Prosseguem tratativas entre Pequim e Washington para um acordo bilateral ou algo no âmbito da Parceria Transpacífico, que envolve também outros atores de Ásia, Oceania e América do Sul.
Focalizada em objetivos maiores, a China pode utilizar a plataforma Brics de forma decorativa. Isso será ruim para o Brasil.
Saltará aos olhos nossa ingênua aposta na OMC e na Cooperação Sul-Sul. Seremos cada vez mais percebidos como potência intermediária de crescimento insatisfatório, nenhum apetite para reformas e governo disfuncional.

sábado, 27 de agosto de 2011

A ilusao da infraestrutura - Richard W. Fulmer

The Infrastructure Delusion
Richard W. Fulmer
The FreeMan: ideas on liberty, August 15, 2011

Red tape to nowhere

Infrastructure does not an economy make. Highways and railroads, airports and seaports, communications towers and fiber optics cables are essential for the flow of commerce, but it is the people, goods, and information moving over and through this infrastructure that are the heart of an economy. Overinvestment in roads, bridges, and airports means underinvestment in the productive base that is an economy's life blood.Government spending means more than just an outlay of dollars; it means consuming scarce resources that cannot then be used for other things. Such spending does not increase production, it simply shifts resources into areas where they would not otherwise have gone.

As described in William J. Bernstein's book The Birth of Plenty: How the Prosperity of the Modern World Was Created , France's minister of finances under Louis XIV from 1665 to 1683, Jean-Baptiste Colbert , worked tirelessly to expand commerce by improving his country's roads and canals. Unfortunately, trade was hindered by more than potholes — a complex system of internal tariffs was throttling commerce. Colbert tried to dismantle the tariffs but was only partially successful. After his death, “all fiscal restraint was lost. By the end of Louis XIV's reign three decades later, the State had doubled the tolls on the roads and rivers it controlled, and the nation that had once been Europe's breadbasket … was bled white….” Bad regulations trumped good roads.

Prometheus Bound (in Red Tape)

During the Great Depression, Franklin Roosevelt initiated massive public-works programs to improve the nation's infrastructure in hopes of putting people back to work and jumpstarting the economy. The construction efforts were staggering. According to Conrad Black :

The government hired about 60 percent of the unemployed in public-works and conservation projects that planted a billion trees, saved the whooping crane, modernized rural America, and built such diverse projects as the Cathedral of Learning in Pittsburgh, the Montana state capitol, much of the Chicago lakefront, New York City's Lincoln Tunnel and Triborough Bridge, the Tennessee Valley Authority, and the heroic aircraft carriers Enterprise and Yorktown. They also built or renovated 2,500 hospitals, 45,000 schools, 13,000 parks and playgrounds, 7,800 bridges, 700,000 miles of roads, and a thousand airfields.

Yet these extraordinary accomplishments were not enough to pull the nation out of the Depression. Neither were the millions of jobs generated by this monumental work.

Not only did the work direct resources away from the private sector but, worse, Roosevelt unleashed a regulatory blizzard on the nation's private sector, significantly increasing the risk of doing business in the country. Higher personal, corporate, excise, and estate taxes; wage and price controls; production restrictions; antitrust lawsuits; and constant experimentation provided few incentives for companies to expand. As in Louis XIV's France, an improved infrastructure could not revive commerce in the face of stifling government regulations.

High-Speed Rail to Nowhere

Today, Barack Obama is touting high-speed rail and other infrastructure improvements as keys to economic renewal. But if massive infrastructure investments were not enough to turn the economy around in the 1930s, they are far less likely to do so today. Because Roosevelt was starting from a lower base, his improvements would have had a far greater impact on the economy of his day than would similar work done now. Furthermore, the lighter regulatory burden in the 1930s meant that there were projects then that truly were “shovel ready.” Today, environmental impact studies, possible archeological finds, and nuisance lawsuits may stall construction for years or halt it completely.

The real roadblock to economic growth is the burgeoning regulatory burden that President Obama, like Roosevelt before him, has placed on business. According to a study by James Gattuso and Diane Katz, “[T]he Obama Administration imposed 75 new major regulations from January 2009 to mid-FY 2011, with annual costs of $38 billion.” Hundreds of additional regulations will pour forth from Obamacare, Dodd-Frank, and proposed EPA greenhouse gas restrictions. All this is on top of an already monumental regulatory burden imposed by government. According to a Small Business Administration report (pdf), the cost of regulatory compliance was over $1.75 trillion in 2008 alone.

Goods, people, and information will not flow freely across a nation, regardless of the quality and extent of its infrastructure, if taxes and regulations block their flow. Trade perished in France as Colbert's improved roads and canals were made all but useless by high internal tariffs. Some 700,000 miles of new and rebuilt roads were not enough to move commerce past the regulatory roadblocks that Roosevelt erected. President Obama's proposed high-speed trains will not pull the country over the mountain of regulations that has been created in the decades since the Great Depression and that Obama has raised to new heights. A bridge wrapped in red tape is truly a bridge to nowhere.

Published by the Foundation for Economic Education.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

China: o longo começo de uma queda inevitavel - David Pilling

De fato, 26 dinastias chinesas já ruíram. O mandarinato da atual tirania comunista também vai ter um fim, em algum momento do futuro próximo. Como e quando isso vai ocorrer, não sabemos como exatamente, mas vai ocorrer.
Paulo Roberto de Almeida

What could bring down China’s rulers?
By David Pilling
Financial Times, February 24 2011

Sooner or later, all dynasties, even Chinese ones, come to an end. The Qin dynasty, which marked the start of imperial China in 221BC, lasted but 15 years. The Han, Tang, Song, Ming and Qing dynasties were far more enduring. But even they came and went. The same will happen to the latest dynastic incarnation – the People’s Republic of China, which has held for 62 years.

No one knows when, or how, the Communist party will lose power. China’s burgeoning wealth and growing international clout contain little obvious portent of imminent crisis. By the standards of its tumultuous and tragic history, China is having its best run in hundreds of years. But the Communist party itself – forever jumping at shadows – remains ultra-vigilant to the slightest hint of opposition. Its jitteriness was on full display this week in its heavy-handed crackdown on human rights lawyers and on last Saturday’s sub-Tahrir “Jasmine revolution”. In a previous column, I argued that the events in Egypt – and now Libya – did not resonate much in China. That was partially borne out by the scant response to an online call for a protest in cities across China. My colleague said the gathering outside a McDonald’s in Beijing – of all the places to start a Mickey Mouse revolution – was more like a meeting of the Foreign Correspondents’ Club, so heavily did journalists outnumber protesters.

But the state’s reaction – thuggish and out-of-proportion – makes me wonder. If there is really no appetite for rebellion in China, what is there to be so afraid of? More than 100 lawyers and activists have had their freedom curtailed, according to human rights groups. Jason Ng, a Beijing-based blogger, compared the authorities to “ants in a hot wok”. He reported that Renren.com, a social networking site, designated the word “tomorrow” sensitive the day before the aborted “revolution”. On the big day itself, “today” was treated as suspect. Now the call has gone up for weekly protests.

What could go wrong for the Communist party? Its legitimacy, at least in the past 30 years, stems almost entirely from its spectacular economic performance. That makes a faltering economy, and the social unrest that might follow, by far its biggest concern. With 10 per cent growth, you would have thought it could relax. But there are underlying concerns. One is inflation. The consumer price index, which rose 4.9 per cent in January, has stayed stubbornly above its 4 per cent target. Although the pace moderated last month, a persistent rise in food prices is a big concern in a country where food makes up 30 per cent of an average household’s spending.

The government has brought inflation under control before. It is taking aggressive action again, raising interest rates three times since October. But inflation could be stubborn. Labour shortages, partly due to demographics, threaten accelerated wage rises. The head of one company complained, with a touch of hyperbole, that “workers are God now”.

Another inflationary threat comes from ballooning money supply. Despite recent efforts to rein in lending, M2, which includes money in circulation and bank deposits, has risen more than 50 per cent in two years. Banks have been shovelling out credit, increasing off-balance sheet lending as a way around tighter controls. A slowing economy could expose non-performing loans. The building binge has moved decisively inland. Like dozens of other cities, Zhengzhou, capital of the poor inland province of Henan, is alive with cranes. A recent elevator ride inside one of its sleekest towers revealed a near-total absence of occupants. On most floors, the elevator shaft was blocked with wooden boards.

Much credit is going to infrastructure. A high-speed rail link has opened between Zhengzhou and Xi’an, in Shaanxi province, cutting the six-hour journey to two. But the sleek train ejects its passengers 18km outside Xi’an itself. The assumption is that Xi’an will spread out towards the station. If it does, China’s planners will be hailed as geniuses. But if growth slows, such Pharaonic projects might look a tad ambitious. The dismissal of the railway minister on suspicion of “severe disciplinary violations” does not look good.

The Communist party is hypersensitive to the problems that could arise if credit-fuelled growth stalled. The so-called “Wen Jiabao put” – the assumption that the government will ensure high growth until the political transition in 2012 – is likely to hold. Growth at 10 per cent covers numerous sins. But even at this pace, it cannot hide the concomitant social ills: land confiscations that are vital to state finances, corruption and a yawning wealth gap.

One woman in Chongqing complained that the ideal of taxation – “kill the rich, nurture the poor” – had been abandoned by a state that was spoiling its wealthy progeny. An academic said: “I believe more and more people realise this economic success cannot be sustained.” If that is true – even with the economy growing at full pelt – imagine what might happen in a slowdown.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Uma ditadura ordinaria e suas chantagens habituais...

Sei que tem gente que lê este blog e se morde de raiva quando eu trato de certos assuntos, ou de certas pessoas, ou de certos países, e uso as palavras certas para designar as coisas certas: ditaduras são ditaduras, patifes e fraudadores são patifes e fraudadores, idiotas, quaisquer que sejam suas intenções, são idiotas, e assim por diante.
Não adianta me ofender, fazer comentários irônicos a respeito de meus posts, sobretudo de meus comentários, me denunciar frente a não sei quais autoridades, que eu não me intimido: sempre chamarei as coisas pelo seu nome correto. O que aliás, está ao alcance de qualquer pessoa sensata fazer, sobretudo as bem informadas...
Acho que, pior que meus comentários, aos olhos e ouvidos de certas pessoas, são as demonstrações repetidas de má-fé, de jactância, de desonestidade intelectual, de fraude política, e de simples mentiras de certos personagens, quaisquer que sejam eles.
Engraçadinhos, abster-se...
Paulo Roberto de Almeida

A moeda de troca de Cuba
Editorial - O Estado de S.Paulo
14 de julho de 2010

Na quarta-feira passada, no mesmo dia em que o governo cubano anunciou a decisão de libertar 52 presos políticos ao longo dos próximos 4 meses, o ex-ditador Fidel Castro, que em 2008 transferiu o poder para o irmão Raúl, fez-se fotografar visitando o principal centro de pesquisas científicas de Havana. Foi a sua primeira aparição pública em 4 anos fora da residência onde costuma receber dignitários estrangeiros, como o bom amigo Lula da Silva.

Na última segunda-feira, no mesmo dia em que o primeiro grupo de libertos embarcou para a Espanha, a TV cubana levou ao ar uma entrevista gravada com Fidel -- a primeira em 4 anos, também. É improvável que se trate de coincidência, embora não estejam claros os nexos entre o súbito reaparecimento do "comandante" e a soltura dos prisioneiros. Nem na ida ao centro científico nem na entrevista, ele disse qualquer coisa relacionada com o acordo firmado entre o seu irmão, o cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, e o governo espanhol para a libertação das vítimas remanescentes da chamada "Primavera Negra" de 2003.

À época, a repressão castrista se abateu sobre 75 supostos "conspiradores aliados aos Estados Unidos". Em processos sumários e a portas fechadas, eles foram condenados a até 28 anos de cadeia. Naturalmente, não tiveram acesso a advogados ou às provas que os incriminariam. Com o passar do tempo e sob pressão dos apenas tolerados movimentos de defesa dos direitos humanos no país, a começar das Damas de Branco, que reúnem mães, mulheres e filhas dos encarcerados, uma vintena deles, muitos com graves problemas de saúde, foi solta.

Em fevereiro, o preso Orlando Zapata Tamayo morreu depois de 85 dias de greve de fome. O presidente Lula estava lá confraternizando com os seus algozes e cometeu a infâmia de culpá-lo pela tragédia. Seguiu-se outro protesto, dessa vez por um cubano em liberdade -- valha o que valer o termo sob o tacão do regime de partido único. O dissidente Guillermo Fariñas só voltou a se alimentar depois de 135 dias quando, aproveitando-se da visita do chanceler espanhol Miguel Ángel Moratinos, Raúl Castro comunicou a libertação dos 52 da "Primavera Negra". Segundo cálculos conservadores, continuam trancafiados, por motivos políticos, 115 cubanos.

Terá Fidel desejado fazer, com as suas aparições, uma advertência velada contra o que deve considerar concessões excessivas do irmão? Ou, com a sua mera presença pública, indicar que, apesar delas, nada mudará essencialmente na ilha? O fato de, na entrevista televisada, ele ter falado em "risco de guerra" no Oriente Médio, que culminaria com um ataque nuclear dos Estados Unidos e Israel ao Irã, pode ser interpretado como uma forma de sabotar qualquer nova iniciativa de reaproximação entre Washington e Havana, a partir da soltura dos presos.

Ninguém conhece melhor do que ele os perversos benefícios do bloqueio econômico americano para a sobrevivência da ditadura. O boicote, por sinal, não impede que os americanos vendam alimentos a Cuba, pagos à vista: só isso já faz dos EUA o quinto maior parceiro comercial do país. Para o castrismo, pior é o definhamento das transações com a União Europeia, em protesto contra a onda repressora da primavera de 2003 e como pressão para o fim dos encarceramentos políticos na ilha.

Essa a razão essencial da atual "magnanimidade" do regime. De há muito que em Cuba os chamados prisioneiros de consciência são usados como moeda de troca para manter respirando a agonizante economia local. Não há, por isso, motivos para acreditar que a abertura seletiva dos cárceres castristas prenuncia uma abertura política, com imprensa livre, Judiciário independente e direito de ir e vir.

A nota de rodapé no episódio foi a ridícula tentativa do assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, de atribuir ao governo brasileiro a paternidade do acordo. Embora o próprio presidente tenha dito que não estava a par dos entendimentos, o seu assessor internacional disse que o chefe fez "gestões discretas" para a soltura dos presos. Com a sutileza de sempre, acusou os espanhóis de "pegar carona" nas conversações. "A bola caiu no pé deles e eles chutaram para dentro", inventou.

sábado, 1 de maio de 2010

Maravilhas da garantia de emprego sob o socialismo

Está começando a cair mais um dos mais renitentes mitos em torno do socialismo: o do emprego assegurado (ainda que em condições de baixíssima produtividade, como era sabido).
Pois em Cuba, tão defendida por certos "intelequituais" de gabinete no Brasil e na AL, essa garantia não mais existe: ela desaparece, à medida em que desmorona o socialismo cubano. Parece que o descontentamento vai aumentar...

Cuba debe despedir a un millón de empleados estatales
El País – 01/05/10.

La Habana – Un trabajador cubano dormita sobre una carretilla… Otro, sentado en un pedrusco, se limpia las uñas con un alambre. Sólo un tercero da unos golpes de cincel en un murete, tampoco demasiados. La escena es de ayer mismo, y esta brigada estatal que trabaja a las afueras de La Habana es representativa de lo que sucede en todo el país; en la Cuba socialista uno puede comer en una cafetería de 10 mesas atendida por 20 empleados, hay empresas con tantos inspectores y vigilantes como obreros y la plantilla nacional de dirigentes supera las 380.000 personas, casi un 9% de los trabajadores estatales.

Raúl Castro lo admitió hace tiempo: los salarios no alcanzan. Obviamente, ganar el equivalente a 15 euros al mes no estimula la productividad, pero el problema de las plantillas infladas no es menos grave. El 4 de abril, el presidente cubano reconoció que en el sector estatal sobran un millón de puestos de trabajo. Una barbaridad; esto representa uno de cada cuatro cubanos que trabaja para el Estado.

Si durante medio siglo el pleno empleo ficticio fue un emblema de la revolución, como la educación y la salud, hoy lastra la economía y entrampa la salida de la crisis. Con 11,2 millones de habitantes y una fuerza laboral de 4,9 millones de personas -de las que más de cuatro millones trabajan en el sector estatal-, Cuba se encuentra en una encrucijada. Un millón de trabajadores sobrantes es un grave problema político, pero hacer esta reconversión es de necesidad imperiosa, advierten los economistas.

El Gobierno ha adelantado que las soluciones del pasado no son una opción. Antes, a los trabajadores cesantes se les enviaba a casa con una prolongada garantía salarial o se les ofrecía la posibilidad de estudiar, cobrando el sueldo completo. Eso se acabó.

Salvador Mesa, el secretario general de la Central de Trabajadores de Cuba, el sindicato único, afirmó que la “reubicación” se hará “con orden” y que “nadie quedará abandonado”. El país, dijo, “no dispondrá de fórmulas mágicas, los puestos de trabajo tenemos que crearlos en los municipios, como en la agricultura y la construcción”. Precisamente, este es uno de los problemas. “Mucha gente no quiere reconvertirse de oficinista en campesino o albañil. ¿Qué van a hacer?”, expone un sociólogo.

“Si se quiere desinflar esas plantillas en las que casi todo el aire lo ha puesto la política paternalista del Estado, habrá que permitir que los que pierdan sus improductivos puestos laborales puedan hacer cualquier actividad que no sea delictiva”, opinó recientemente el escritor Guillermo Rodríguez Rivera. “Hacerlos abandonar sus empleos para echarles encima el mar de prohibiciones que existen para realizar cualquier trabajo, mandaría directamente a esa masa a delinquir”, afirmó, en un artículo publicado en la página web de la Unión Nacional de Escritores y Artistas de Cuba.

La salida, según la mayoría de los analistas, es de cajón: el Gobierno debe extender la iniciativa privada y fomentar cooperativas y pymes en los sectores que el Estado es incapaz de administrar con eficiencia. Para Rivera, las “nuevas empresas empezarían a ser una alternativa laboral, a cuyos empleos podrían aspirar muchos cubanos”.

Mordido por la realidad, el Gobierno realiza algunos tímidos experimentos en esta línea. En varios municipios de La Habana se ha entregado la gestión de las peluquerías a los trabajadores, que han de pagar un impuesto mensual de unos 34 euros al mes. También, a modo de experiencia piloto, se ha permitido a un pequeño grupo de taxistas que exploten por cuenta propia el vehículo del Estado a cambio de un impuesto, ocupándose ellos del mantenimiento.

“El reordenamiento laboral” de un millón de trabajadores es un reto descomunal, y “lo hecho hasta ahora es irrisorio”, asegura un economista. Además, dice, está “la desconfianza”.

“El primer objetivo es el resurgir de estas formas de producción y no crearle obstáculos que más bien parecen pretender su fracaso”, afirma Rivera, que pide “confiar en la probada diligencia del cubano para llevar adelante una empresa que de veras le importe”. Han pasado cuatro décadas desde que, en 1968, Fidel Castro acabó por decreto con la mayoría de los negocios privados. Ahora, en este 51º Primero de Mayo de la Revolución, son vistos por muchos como la salvación.