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segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Sobre mudar de ideias - Paulo Roberto de Almeida (2008)

Um texto de 2008, mas que preserva inteiramente sua validade...
Paulo Roberto de Almeida


Sobre mudar de idéias

Paulo Roberto de Almeida

É conhecida a resposta de John Maynard Keynes dirigida a alguém que lhe questionava a postura de mudar de opinião quando suas antigas idéias já não mais se encaixavam em novas circunstâncias; a crítica se referia especificamente ao fato de ele ter mudado sua orientação em política monetária logo após a depressão instalada na seqüência da crise de 1929. O economista britânico respondeu calmamente a seu interlocutor: “When the facts change, I change my mind. What do you do, sir?
Essa frase me veio à lembrança a propósito da questão que, no início de 2008, o site The Edge (http://www.edge.org/), especializado em ciência e pesquisa, apresentou à comunidade de cientistas. A cada início de ano, desde 1998, uma questão provocadora é colocada para reflexão de grande número de pesquisadores; esta foi a deste ano: “em que você mudou de opinião e por quê?” (As contribuições recebidas pelo The Edge em reação à questão do presente ano podem ser lidas aqui: http://www.edge.org/q2008/q08_index.html; para conhecer todas as questões feitas a cada ano, a partir de 1998, ver este link: http://www.edge.org/questioncenter.html).
O site defende a ciência, mas não apresenta posições dogmáticas ou sectárias. Seus argumentos podem ser resumidos nestas três afirmações: “quando o pensamento muda as suas idéias, isto é filosofia; quando Deus muda a sua opinião, isto é fé; quando os fatos mudam as suas idéias, isto é ciência”. Para orientar as respostas da questão anual de 2008, o site renovou os seus argumentos. “A ciência é baseada em evidências. O que acontece quando os dados mudam? Em que as descobertas ou argumentos científicos mudaram a sua opinião?”

Pois bem, sem pretender me colocar entre a comunidade de cientistas contatados pelo The Edge, ofereço, a seguir, um texto que pretende contribuir com esse tipo de reflexão.

Mudei quanto aos meios de tornar a sociedade mais inclusiva e como melhor “produzir” desenvolvimento econômico e maior justiça social. Quanto aos objetivos, continuo comprometido com a idéia de fazer do Brasil um país melhor para os seus cidadãos e, sobretudo, uma sociedade mais justa para os mais humildes. Ou seja, a minha idéia básica permanece a mesma, desde que me considero um cidadão ativo e comprometido com uma determinada “causa”, em torno dos 14 ou 15 anos de idade. Apenas os meios ou instrumentos para alcançar esse objetivo central é que mudaram significativamente desde algum tempo, aproximadamente dez anos depois de tomada aquela decisão básica.

Durante minha formação intelectual, na adolescência, aderi precocemente ao socialismo e às soluções estatais no que concerne a organização econômica da sociedade. Não se tratou apenas de uma adesão intelectual, isto é, derivada de leituras e influências intelectuais típicas da época – ou seja,o grande debate comunismo versus capitalismo do final dos anos 1950 e início dos 60, com a forte predominância do marxismo entre os intelectuais e universitários em geral –, mas também de uma escolha “prática”, derivada de minha condição social e situação econômica à época: vindo de uma família pobre, tive de trabalhar desde cedo e não podia, obviamente, dispor de muitos bens – brinquedos, bicicleta, roupas caras, clubes ou restaurantes – ou de facilidades que eram oferecidas a muitos dos meus colegas de estudo: férias com viagens, cursos de língua, ou, simplesmente, TV e telefone em casa. Nada disso estava ao meu alcance, senão pelo trabalho duro e contínuo.
Lancei-me, portanto, na militância socialista desde muito cedo, com o objetivo de mudar o Brasil para o que me parecia ser a “redenção dos mais pobres”, armado de todo o arsenal de idéias que eram as daquela época: confrontação de modelos de desenvolvimento (o socialismo aparentemente crescia mais rápido do que os regimes capitalistas, e deveria, segundo Kruschev, superá-los em mais alguns anos); reforma agrária radical em benefício dos camponeses pobres (como prometiam os modelos chinês e cubano); promoção da educação das massas (e esta parecia ser a grande atração do socialismo para países como os latino-americanos); industrialização rápida (essa parecia ser a única justificativa do stalinismo); avanços científicos (o Sputnik era a prova disso); tudo isso, de acordo com o historicismo marxista, no exato sentido da história, do progresso, do avanço inelutável dos modos de produção, que prediziam que o socialismo iria fatalmente superar o capitalismo, de acordo com as análises aparentemente inatacáveis de Marx e Engels.
A opção era tanto mais aceitável em países como os latino-americanos quanto as oligarquias locais eram de fato reacionárias, opostas aos direitos trabalhistas dos “servos dos latifúndios”, ao passo que as burguesias já tinha renunciado a qualquer “projeto nacional”, preferindo aliar-se ao imperialismo na exploração das massas trabalhadoras. No plano intelectual, as ciências sociais no âmbito universitário eram inegavelmente influenciadas pelo marxismo ou por diferentes vertentes do socialismo, o que nos conduzia naturalmente a preconizar a “revolução socialista”, a tomada do poder pelo partido da vanguarda – não havia clareza quanto à identidade do partido, pois o Partidão, o PCB, já era considerado reformista, conciliador, aliado da burguesia nacional, e portanto, incapaz de conduzir a revolução à sua versão mais radical – e a construção do socialismo, após uma “breve fase” de ditadura do proletariado. O que mais nos seduzia era o modelo cubano, não aqueles soviéticos sem graça, burocratas sem alma, e tampouco os chineses, que até o momento da gloriosa Revolução Cultural permaneciam misteriosos para a maior parte dos militantes da causa.
Não preciso retomar aqui o itinerário de ascensão de “lutas populares” contra a ditadura militar no Brasil, a passagem (equivocada) à luta armada e todo o cortejo de tragédias individuais e coletivas que se abateu sobre os militantes a partir do endurecimento do regime, em 1968-69, e do recrudescimento da repressão sobre os movimentos de esquerda, não só os armados. Mesmo o Partidão, que não passou à luta armada, sofreu duramente durante os chamados “anos de chumbo”, quando os limites da legalidade – ou do simples respeito aos direitos humanos – foram rompidos pelas chamadas “forças da repressão”. Para resumir: saí do Brasil, como vários outros de minha geração (colegas de luta, inclusive), embora, no meu caso, o tenha feito em relativa legalidade, sem fuga e dotado de passaporte próprio.

Creio que comecei a mudar de opinião desde minha chegada ao meu primeiro local de “exílio voluntário”, a então República Socialista da Tchecoslováquia, recém entrada na repressão que seguiu à invasão militar soviética para liquidar a chamada “primavera de Praga”. Cheguei sem bolsa e sem visto de permanência, à diferença de alguns colegas que tinham conseguido admissão na Universidade 17 de Novembro, dedicada à “solidariedade socialista” com estudantes do Terceiro Mundo. Abrigado provisoriamente na residência universitária de Praga, chegado em pleno inverno de 1970-71, comecei a tomar contato com a burocracia socialista ao mesmo tempo em que lia o grande livro, “O Processo”, do escritor tcheco por excelência, Franz Kafka, numa tradução para o espanhol editado pela Casa de las Américas, de Cuba. O clima kafkiano era exatamente aquilo que eu via, no contato com as autoridades e na vida diária. O ambiente de penúria diária, a falta de produtos básicos, a rusticidade da vida “normal” logo me apareceram como características básicas do socialismo.
A atenta observação da realidades nesses países – eu viajei para alguns dessa área –, a constatação clara de que a mentira era uma forma de vida, a repressão burra, estúpida, contra as idéias e materiais do Ocidente me fizeram refletir sobre a natureza do socialismo. Para me informar sobre o que estava se passando no mundo, e até no próprio socialismo, eu tinha de ir ler o Le Monde na Alliance Française de Praga, um dos poucos lugares onde se podia ler revistas e jornais ocidentais. Eu ficava também observando as velhas senhoras freqüentadoras do local, damas vistosas, a despeito de suas roupas fora de moda e seu ar melancólico. Minha conclusão foi inevitável: além de todas as misérias materiais, evidentes na vida diária, o que o socialismo mais produzia eram mesquinharias morais, uma pobreza ética, um reino da mentira.
Depois de alguns meses abandonei o socialismo e viajei para o capitalismo, vindo a instalar-me em Bruxelas, na Bélgica, onde retomei os estudos de ciências sociais, começados e abandonados na USP. Continuei viajando, sempre que possível, tanto para o socialismo quanto para os países capitalistas, assim como estabeleci, para mim mesmo, um imenso programa de leituras, obviamente centradas (ainda) no marxismo, o que me converteu em um “rato de biblioteca”, voltado para um intenso estudo dos clássicos do pensamento socialista e em várias outras áreas de ciências sociais na biblioteca do Instituto de Sociologia da Universidade de Bruxelas.

Minha “mudança de idéias” derivou, portanto, não apenas de um atento estudo dos processos sociais, em perspectiva histórica, mas igualmente de uma observação atenta da realidade, com destaque para os “socialismos realmente existentes”. Não era possível lutar por um regime como aqueles, no Brasil, e o novo ideal seria buscado na direção das social-democracias européias, ou seja, do socialismo reformista. Eu ainda mudaria substantivamente de idéias nesse mesmo terreno, sobretudo no que se refere às formas de organização econômica da sociedade, afastando-me gradualmente do estatismo ainda exacerbado no socialismo reformista (com a melhor das intenções, cabe sublinhar).
Quanto às razões dessa mudança, elas estão inteiramente na linha aquilo que o The Edge apresenta como argumento para o pensamento científico: “quando os fatos mudam as suas idéias, isto é ciência”. Os fatos são as observações diretas, tiradas de minha experiência nos diversos socialismos que pude conhecer, assim como o mesmo exercício conduzido nos vários capitalismos realmente existentes que fui conhecendo em minhas viagens, para países desenvolvidos e “subdesenvolvidos”, sem qualquer tipo de preconceito contra os fatos coletados. Tudo isso foi colocado na perspectiva da história, uma convivência constante, fiel e extremamente benéfica para a correta avaliação das realidades contemporâneas, retirada de um imenso cabedal de leituras, de todos os tipos. Acredito ter lido a quase totalidade da literatura marxista conhecida, assim como busquei todas as outras opiniões e argumentos em estudos especializados de todas as linhas filosóficas e políticas.
Atualmente não me considero nem socialista, nem liberal (no sentido inglês da expressão), tão simplesmente um cidadão bem informado, um estudioso que se pauta por um extremo rigor na avaliação das fontes e que prima, antes de mais nada, pela honestidade intelectual e pela racionalidade plena, em todos os seus sentidos. Minhas opiniões podem ser encontradas nos muitos livros e artigos que publiquei, assim como nos textos que divulgo no meu site ou nos meus blogs. Elas poderiam ser resumidas, como segue, retomando aqui uma inserção informativa nos meus blogs: “Minhas preocupações cidadãs voltam-se para os objetivos do desenvolvimento nacional, do progresso social e da inserção internacional do Brasil. Entendo que quatro das condições básicas para que tais objetivos sejam atingidos podem ser resumidas como segue: uma macroeconomia estável, uma microeconomia competitiva, uma alta qualidade dos recursos humanos e a abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros.”
Acredito que pautei minha carreira acadêmica e profissional pelos princípios da honestidade intelectual e pela busca do bem comum. Por isso, mudei de idéias. Acho que vou continuar mudando, sempre quando isso for o resultado de dados objetivos e de argumentos racionais. Isto é ciência. Basta-me isso...

[Brasília, 14.02.2008; revisão: 25.06.2008]

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A frase da semana: hierarquia e debate de ideias - Luiz Alberto Figueiredo Machado

A hierarquia não exclui o debate de ideias. Queremos um Itamaraty arejado e aberto a novos conceitos, mas o debate de ideias não substitui a obediência à institucionalidade.

Luiz Alberto Figueiredo Machado
Chanceler brasileiro, 29/08/2013

PS: Eu também gosto do debate de ideias, e ideias não se submetem a qualquer hierarquia...
Paulo Roberto de Almeida 

domingo, 5 de junho de 2011

Sobre critica e sobre atitudes: entre posturas e ideias: um anonimo comenta meu blog

Transcrevo e respondo.

Sobre políticas públicas e sobre ideias e atitudes (a deste blogueiro em especial)

Um crítico anônimo -- mas que suspeito ser um colega um pouco incomodado com ideias, mas na verdade preocupado apenas com posturas pessoais, as minhas, quero dizer -- comenta, em tom altamente depreciativo (pois todo o seu comentário se foca no meio, eu, não na mensagem em si), a atitude habitual de meu blog, sempre cética, para não dizer negativamente crítica, em relação às políticas governamentais em geral, das quais sou, não hesito em dizer, um atento observador e um comentarista impiedoso, por julgá-las inapropriadas e inadequadas às necessidades atuais e próximo-futuras do Brasil e de sua sociedade. Nunca escondi isso, e não hesito em reafirmá-lo.
Como sou absolutamente transparente com relação a minhas ideias e posturas, e como estou sempre aberto a um bom debate, vou transcrever aqui, in totum, esse comentário critico -- aliás, bastante longo e detalhado, extremamente inteligente, mas falho no que indico a seguir -- para, em primeiro lugar, retirar do anonimato, stricto et lato sensii, tanto por ser uma "nota de rodapé" a um post meu, sobre um artigo da Economist (neste link), como por ter sido postada por um Anônimo, que obviamente repudia o debate aberto e não pretende se expor com suas próprias credenciais e não ousa debater ideias no campo aberto.
Ele prefere esconder-se no anonimato, o que respeito (por julgar que certas pessoas não ousariam dizer em público o que dizem en cachette), mas já escrevi aqui, abertamente, o que penso a respeito de pessoas que se escondem atrás do anonimato e não têm coragem de dizer o que pensam, ou se dizem o que pensam não pretendem revelar quem são, o que julgo uma atitude covarde, na medida em que essas pessoas sempre podem adaptar seus discursos, e (pior) suas posturas, ao tipo de público ao qual se dirigem, não tendo a hombridade de defender o que realmente pensam de forma aberta e honesta.
Como eu não hesito, nunca hesitei, em dizer o que penso, a qualquer público em qualquer lugar, em qualquer tempo, não tenho nenhum problema em transcrever críticas que me são feitas, para em seguida tentar dialogar em bases racionais, o que sempre faço quando se me oferecem oportunidades. Vamos pos transcrever o que disse meu crítico, para que eu depois comente seus argumentos e afirmações.

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Uma bolha economica chamada Brasil - The Economist...":

Não lhe dá preguiça estar há oito anos distribuindo prognósticos fatalistas sobre o governo? O que em 2003 pareciam divergências de fundo se tornou, em 2011, apenas um indisfarçável ódio que há muito perdeu qualquer base na realidade? Onde está a ditadura? Onde o polvo vermelho, que supostamente controla uma imprensa que semana sim, outra também, revela podres dos mais importantes membros do governo? Onde a economia em frangalhos? Onde o desastre?

Será que a elite brasileira ficará os próximos oito anos reduzida a esse papel ridículo de velho do Restelo, relógio parado aguardando eternamente que a realidade corresponda a suas previsões apocalípticas? E se nunca acontecer? Que papel a história reserva para os profetas do desastre?

Mais especificamente, a Economist faz um diagnóstico bastante equilibrado de sucessos, problemas e desafios. Mas, na mente já viciada dos nossos letrados, tudo o que contraria seu secreto desejo de implosão iminente da economia brasileira - desejo que, realizado, satisfaria sua fantasia de ver o inimigo vermelho de 1917 derrotado - é descontado.

É triste porque algumas de nossas melhores mentes há muito abandonaram o debate adulto, reduzidas a pretensas análises que apenas dão curso a seus desejos de demonização e derrota de um dos poucos projeto políticos com raízes reais na história brasileira, e que conta com o apoio de segmentos expressivos da população. São, é claro, os segmentos errados. As massas ignaras. O povão. Esses ex-famélicos que acreditam ter voz na condução do país porque adquiriram fogão e geladeira.

Cada notícia de nova iniciativa, apoiada ritualmente pela população nas eleições com base nos resultados, é violentamente deplorada pelos antigos monopolistas dos aeroportos com base em seus declarados nobres princípios. Quase ouço ao fundo o seu bordão: Perdoe-os porque eles não sabem o que fazem.

Esse fatalismo todo, claro, é contraprodutivo. Quando o desastre não vier, todos acreditarão - ainda que não confessem - ter sido um mérito do governo Dilma evitá-lo. E aí serão mais quatro anos de imprecações e complexas análises demonstrando que, agora sim, o fim está próximo
.

Postado por Anônimo no blog Diplomatizzando em Domingo, Junho 05, 2011 7:07:00 AM

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Comento agora [Paulo Roberto de Almeida]:

Observe-se, em primeiro lugar, que meu crítico anônimo não se dirige exatamente ao tema em debate, que eram as políticas econômicas do governo brasileiro -- que ele apenas comenta para dizer que o artigo da Economist era equilibrado e bem argumentado --, mas se preocupa em criticar minha atitude pessoal e a postura deste blog em especial, que ele julga totalmente defasada em relação às maravilhas e sucessos exibidas pelo governo atual, achando que eu faço uma crítica despeitada, de retaguarda e frustrada, em relação ao que ele considera serem resultados positivos do atual governo.
Se ele acha que um instrumento de comunicação deva ser uma ferramenta laudatória, assertiva e positiva em relação ao que acha certo, nada mais simples do que abrir um post -- é de graça -- para fazer exatamente o que acha certo, apoiar o governo, e com isso recolher os aplausos de que seria merecedor das esferas de poder. É seu inteiro direito, e tem muita gente que faz isso, e se dá bem na vida, consegue verbas, empregos, promoções, cargos, honrarias e outras prebendas geralmente associadas a quem apoia o poder, qualquer poder.
Não creio, pessoalmente, que seja uma atitude decente, pois quem realmente ama seu país, seu povo, e pretende sempre ver melhorias, não hesita, antes de aplaudir o que acha certo, criticar o que vê de errado. Se existem coisas boas -- e qualquer governo é eleito com essa obrigação primeira de fazer o bem, supostamente, para a maioria -- não é necessário aplaudir, basta não criticar, pois políticos são eleitos para fazer exatamente o bem para os cidadãos.
A atitude mais correta, e a mais honesta intelectualmente, é justamente a de criticar o que existe de errado, para tentar se corrigir políticas equivocadas e esperar que os argumentos sejam consistentes o suficiente para justificar uma correção de rota.
Se o crítico anônimo achar que eu estou defendendo os privilégios de minorias -- banqueiros, capitalistas, marajás do serviço público -- ele deveria dizer, e apontar onde viu isso. Se ele apenas discorda de minha atitude geral em face de políticas econômicas, ele também deveria dizer: que prefere, por exemplo, políticas públicas nas quais o essencial de bens e serviços é guiado, fornecido, orientado pelo Estado, em lugar do setor privado, como eu defendo, pois estão aí, provavelmente, nossas diferenças fundamentais, justamente, o que não hesito em nenhum momento em apontar, e criticar, na atitude geral do governo e dos que o apoiam.

Registre-se que o Anônimo em questão passa todo o seu comentário ocupado apenas em criticar "elites" e a minha atitude em particular, em lugar de se deter no que é realmente importante, o que revela, antes de mais, um velho vício dos incomodados: quando não tiver argumentos para responder, atire no mensageiro. Ou seja, mate, ou elimine, o veiculador de ideias incomodas, que tudo o mais ficará bem, o governo apenas contando com um bando de áulicos apoiadores, e nenhum crítico para lhe incomodar, dizendo que está gastando dinheiro inutilmente, ou com as novas elites arrivistas -- as máfias sindicais e partidárias que sempre denuncio aqui -- ou, ainda mais, as velhas elites de sempre, industriais e banqueiros que vivem de dinheiro público.
O Anônimo comentarista parece ter raiva, ou despeito, por minha atitude, pois pretende, em lugar de discutir coisas realmente importantes, depreciar meu trabalho de crítico, sempre voltado para políticas e medidas concretas, coisas da vida real, não da academia ou do mundinho de corte.

Todo este blog está centrado em ideias e políticas, como dito em epígrafe. Se o crítico anônimo não sabe disso deveria ler o que vai na janelinha introdutória antes de dirigir seus comentários a mim. Eu sou apenas um escrevinhador, um mero observador cético da realidade; passo metade do meu tempo a transcrever matérias da imprensa -- que na maior parte dos casos se referem a fatos, não a opiniões -- e na outra metade transcrevo, sim, opiniões, em geral com as quais não concordo, o que me oferece justamente a oportunidade de criticar ideias e posturas que acho equivocadas (e aqui entra a parte de subjetivismo de meu blog, que reconheço plenamente). Se fosse para transcrever opiniões concordantes, este blog se tornaria aborrecidamente repetitivo, e creio que não teria o número de seguidores que tem hoje, entre eles o meu crítico Anônimo (que já detectei, pelo estilo, de comentários anônimos anteriores).

Acredito que meu crítico Anônimo seja um entusiasta das políticas estatais e estatizantes -- o que deduzo pela sua frase sobre os "monopolistas de aeroportos -- o que constitui, precisamente, o lado mais visível e predominante das políticas públicas em vigor atualmente no Brasil.
Como eu não sou, nunca fui, de me pautar por consensos e unanimidades, eu me permito manter a mesma postura cética e crítica de sempre, mesmo de quando eu era um jovem marxista -- mas não religioso -- e apoiador dessas mesmas políticas que o meu crítico Anônimo parece defender ainda hoje, coisas dos anos 1950, vocês sabem, o consenso de meio século atras. Ele não parece perceber que nenhuma dessas políticas funcionou -- do contrário o Brasil seria, hoje, uma grande potência desenvolvida -- e que justamente o governo, por incompetente, inepto e incapaz de "deliver", se resigna hoje -- sob os olhares raivosos dos companheiros frustrados -- em entregar os aeroportos para os "monopolistas privatistas" já que ele próprio é incapaz de fazer uma reforminha sequer sem que se pague o dobro por superfaturamento, corrupção e incompetência manifesta, justamente. Ele não percebe que as ideias, não as posturas, são justamente as que se confrontam atrás de medidas, e que as ideias gerais que ele defende foram as derrotadas, como se constata na prática.

Como eu suspeito que meu crítico Anônimo esteja muito satisfeito com este governo, ele se apressa em criticar minha atitude, como se eu, um modesto blogueiro e escrevinhador sem qualquer poder em qualquer governo, sem cargos e sem audiência, tivesse a mínima importância para o governo ou para quem quer que seja. Talvez por que ele se julgue devedor de favores e prebendas deste governo, e fica incomodado de ver um colega que não se dobra a unanimidades -- deixo de lado a frase de Nelson Rodrigues sobre esse tipo de atitude -- e que prefere a critica honesta à passividade bovina.
O que ele provavelmente detesta é a independência de pensamento, e a insistência na crítica, como se esta fosse sinônimo de falta de patriotismo ou traição à pátria.
Pois se ele pensa assim, eu vou logo confirmando que é isso mesmo.
Não sou um patriota, não sou um nacionalista, não sou sequer um cidadão bem comportado. Sou um anarquista por princípio, não um do velho estilo, mas um contestador de ideias, um cético do que vem de cima, um examinador cuidadoso do mérito e dos fundamentos de qualquer proposta, de qualquer medida, de qualquer política.
Não sou daqueles, nunca fui, que se enrola numa bandeira e se contenta em dizer: certo ou errado é o meu país, ou como diriam alguns, é uma merda, mas é nossa...
Não, eu nunca faria isto: sou daqueles que não exibem nenhuma subserviência mental a poderosos, nenhuma sujeição ao poder, nenhuma adesão de princípio a quem quer que seja. Entre a pátria e os cidadãos, eu fico com estes, entre a razão de Estado e a simples razão, eu fico com esta, entre a fidelidade a certos princípios e a adesão ao poder do momento eu fico com aqueles, mesmo a custa de um isolamento temporário, mesmo à custa de um alto preço a pagar pela independência de pensamento.

Acho que meu crítico precisa se convencer que ele precisa discutir ideias, não posturas individuais, que ele precisa se dirigir ao fundamento das coisas, não a forma pela qual elas são veiculadas e defendidas.
Entre posturas e ideias, eu sempre ficarei com estas, pois acredito que elas sejam um pouco mais permanentes do que as atitudes -- geralmente volúveis -- dos homens.
Em governos passados, aposto como meu crítico -- se ele é sincero em seus argumentos -- calou-se em lugar de manifestar sua oposição. Se ele hoje critica minhas ideias, por não se coadunarem com as posturas e medidas do presente, o problema é dele, não meu: eu sempre serei fiel a certas ideias, antes do que a posturas momentâneas.

Acho que já escrevi demais -- como sempre faço --, mas meu blog está sempre aberto ao debate de ideias.
Concluo apenas dizendo que agradeço, sinceramente, ao meu crítico, por me dar mais esta oportunidade de expor minha postura. Mas confesso que gostaria de estar debatendo políticas, em toda a extensão e profundidade requeridas, não atitudes ou posturas, minhas ou as de meu crítico (se ele tem ideias a defender). Sempre se ganha mais, no debate público, indo a fundo nas justitificativas que fundamentam determinadas políticas, sem nenhuma importância para quem as propõe ou defende. O que vale, finalmente, é o resultado objetivo dessas políticas, não que elas tenham sido propostas, defendidas, implementadas (ou criticadas) por fulaninho ou sicraninho. Como digo sempre, o mais importante são as ideias, não quem as defende.
Vale!
Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 5 de junho de 2011)

PS.: O que eu disse, finalmente, de tão horrível, que irritou tão profundamente meu crítico anônimo?
Nada de extradordinário, na verdade, apenas uma ressalva ao clima de euforia que existe em certas esferas, e introduzindo o artigo da Economist, exatamente isto aqui:
"A economia brasileira vem crescendo, de fato, mas nem sempre de forma saudável. Excesso de crédito público, maquiagens contábeis do governo para esconder empréstimos do Tesouro ao BNDES, juros aumentando, enorme custo fiscal das reservas internacionais, baixa competitividade da indústria por causa do custo Brasil, falta de mão-de-obra e baixa capacitação profissional."
Até a próxima crítica...

domingo, 1 de agosto de 2010

Sobre blogs, sobre conteudo e sobre formas: o meio nao é a mensagem

Um blog não é exatamente uma revista de divulgação científica. Ele é um instrumento de divulgação e debate de ideias, eventualmente de informações também.
Boa parte dos blogs são anônimos, o que para mim denota um sério desvio de personalidade.
Em todo caso, este blog debate ideias, e acredito que o faz de modo honesto, expondo primeiro as posições de quem quer que seja e depois emitindo uma opinião, geralmente fundamentada, por vezes, reconheço, em linguagem contundente, pois sua função é exatamente esta: chamar a atenção para certas ideias, boas ou más, e acredito que ele consegue, tanto é verdade que recebo muitos comentários, nem todos publicáveis.

Também publico informações, simples matérias de imprensa, geralmente precedidas de poucos comentários pessoais meus, emitindo minha opinião sobre o assunto.

Surpreende-me, portanto, que a MAIOR PARTE dos comentários se dirija não às ideias expressas, mas à forma usada nessa expressão, quando não à personalidade ou à situação do emitente, no caso eu mesmo.
Creio que as pessoas tem alguma obsessão com a personalidade do emitente, e se esquecem, ou não conseguem, debater as ideias em si.

Considero que esse tipo de atitude é também, de certa forma, um desvio de personalidade. As pessoas se revelam incapazes de se concentrar no objeto central, e se contentam em focar no periférico.
Seria como se, num concurso de tiro, as pessoas se esforçassem para escapar do alvo, atirando a esmo, apenas para justificar uma eventual incapacidade de acertar no centro do alvo.

Surpreende-me também que as pessoas pretendam vincular este meu blog, expressão de uma personalidade livre, absolutamente independente, a uma qualquer condição pessoal ou profissional, o que revela uma incapacidade de separar ideias de situações de vida. Alguns sociólogos, ou psicólogos, chamariam isso de "personalidade autoritária", ou seja, achar que um cidadão qualquer não tem direito a ter ideias proprias, independente de sua condição social ou profissional. Ser livre, justamente, é poder emitir uma opinião, sem estar cingido por qualquer autoridade que seja. Que os outros se sintam obrigados a defender ideias de outros, de seu patrão, eventualmente, isso é problema deles, uma servidão voluntária que eu não considero aceitável num mundo de liberdade. Não costumo ser escravo de ninguém, vivo ou morto, autoridade ou não. Ponto.

A despeito de uma forma por vezes contudente, meu blog está destinado, como expresso no banner de entrada, a discutir IDEIAS.
Minha seção de comentários também traz a mesma advertência: focar no tema do post, apenas isso. Acho que não é pedir muito.
Acho que as pessoas esquecem, ou não conseguem...
Não adianta atirar no mensageiro, pois a mensagem está lá, e continua lá.

Apreciaria que as pessoas retivessem estas pequenas recomendações...

Paulo Roberto de Almeida