Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sexta-feira, 26 de julho de 2013
Sorry Francisco, povo: este é o retrato do Brasil: lama de milhoes de reais...
domingo, 10 de fevereiro de 2013
Perfeita coordenacao economica governamental: de surpresa em surpresa
No espaço de meros dois dias recolhi os mais diversos exemplos de como pode ser perfeita, detalhista, acurada, sensível, bem medida, ponderada (enfim, etc., vocês encontrem outros adjetivos positivos para colocar nas próximas três linhas), a nossa política econômica, tanto a macroeconômica (em especial a cambial), como a setorial, ou microeconômica (com destaque para a política industrial).
Acho que o Financial Times ainda não se acostumou com o nosso padrão de ordem, harmonia, sincronização, graça e beleza (enfim, tudo o que temos nos blocos de Carnaval, incluindo o Cordão da Bola Preta, e podem colocar também aí os blogs de Carnaval, que a Economist também gosta dessas ironias), que possuem nossos coordenadores governamentais, especialmente os três grandes personagens, MiniFaz, MDIC e Bacen, pelas suas siglas conhecidas do mercado.
Mais um pouco, a Standard&Poors e outras agências de rating vão elevar a nossa nota para o máximo permitido, já que as medidas governamentais avançam como se desfilassem na passarela.
Não acreditam?
Basta olhar um pouco o noticiário...
Para completar a análise, acrescento os comentários de dois analistas sem graça...
Paulo Roberto de Almeida
Pimentel: câmbio é vigilante e mira R$ 2; Mantega: mais intervenção, se necessário
ministro, que defendeu uma taxa competitiva, mas cobrou das empresas iniciativas para aumentar sua própria competitividade. “Um câmbio que destrua nossa indústria não vamos ter mais, mas também não vamos ter aquela ilusão de uma desvalorização excessiva da moeda brasileira em que todo mundo fica achando que a indústria recuperou a competitividade sem ter mudado uma máquina de lugar, sem ter criado uma tecnologia nova, um software sequer”, acrescentou Pimentel. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, também garantiu que governo não permitirá que o dólar volte a ser cotado a R$ 1,85 e intervirá no mercado caso seja necessário, assegurou. “O ideal é que não houvesse intervenção, mas isso é sonho. Agora, se houver de novo uma tendência especulativa, se o pessoal se animar, aí estaremos de novo intervindo”, disse o Mantega. Entre as medidas que o governo poderia tomar, Mantega citou a elevação do Imposto sobre Operações Financeira (IOF) nas operações de ingresso de moeda estrangeira no país e a compra de dólares no mercado. “Se houver tendência especulativa, aumentaremos a intervenção: posso comprar mais reservas e posso reconstituir os IOFs (que foram reduzidos)”, disse, acrescentando que o dólar está flutuando em uma faixa adequada.
O dólar rompeu no final de janeiro o piso de uma banda informal de R$ 2 a R$ 2,10 que vigorou durante boa parte de 2012, e o mercado interpretou esse movimento como um sinal de preocupação com a inflação. Desde então, o dólar tem ficado em torno de R$ 1,98. “O câmbio está flutuando mais ao sabor do mercado. Flutua sem causar prejuízo ao exportador, não está causando prejuízo ao importador de máquinas e equipamentos. O câmbio encontrou faixa de flutuação razoável”, avaliou Mantega.
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Bagunça geral na política econômica
Se o governo brasileiro se importasse realmente com a inflação, a meta seria muito mais baixa, como em outras economias, tanto desenvolvidas quanto em desenvolvimento. Desde 2005 houve mudanças no Brasil e no cenário externo, mas a meta de 4,5% foi mantida, sem nenhum benefício para o País. A tolerância à alta de preços jamais proporcionou à economia brasileira maior eficiência, dinamismo ou competitividade.
Além disso, as autoridades têm agido como se o alvo real fosse qualquer ponto na margem de variação. As ações são conduzidas como se um resultado final de 6,5% fosse perfeitamente aceitável. O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, chegou a classificar como desconfortável o número acumulado até janeiro - 6,15% em 12 meses. Reiterou, no entanto, a disposição de apostar numa acomodação dos preços no segundo semestre. Mero sangue-frio?
A tolerância à inflação permitiu, no ano passado, conciliar a redução de juros desejada pela presidente Dilma Rousseff e a manutenção de uma política fiscal frouxa. Uma gestão mais séria das contas públicas deveria compensar o relaxamento da política monetária a partir dos meses finais de 2011, segundo explicaram, há cerca de um ano e meio, os dirigentes do BC. Essa condição jamais se realizou. O recurso a artifícios para maquiar as contas públicas no fim de 2012 foi um desdobramento dessa história. Mas esse é apenas o dado mais pitoresco.
O resultado concreto foi uma economia brasileira um tanto mais torta. O combate à inflação por meio da política monetária foi suspenso, enquanto a expansão do crédito continuou alimentando a demanda, principalmente de consumo. Essa demanda foi alimentada também por incentivos fiscais concedidos a alguns setores pelo Executivo. Esses incentivos serviram ainda para a redução temporária de alguns preços, com efeito benéfico de curtíssimo prazo nos indicadores de inflação. O desajuste entre a demanda e a capacidade de oferta da indústria nacional criou um vazamento nas contas externas. Sem o aumento da importação, o efeito inflacionário teria sido maior. A produção industrial encolheu porque as fábricas foram incapazes de competir, e o investimento diminuiu.
Sem distinguir objetivos de curto e de longo prazos, desafios conjunturais e problemas estruturais, o governo colheu inflação elevada, estagnação econômica e contas públicas mais frágeis. Ao mesmo tempo, bagunçou a política econômica e seus instrumentos. O BC deixou de combater a inflação, a política de juros foi decidida no Palácio do Planalto, deficiências estruturais foram tratadas como problemas de conjuntura e os preços foram contidos por meio de intervenções tópicas. A redução do imposto sobre os automóveis e outros bens duráveis e a contenção das tarifas de combustíveis entram nesse capítulo. A insistência da presidente em reduzir as contas de energia elétrica, a partir de agora, é uma continuação dessa trapalhada. É uma imprudência tratar o preço final da eletricidade como questão isolada, sem levar em conta os programas de investimento e os vários componentes de custos, incluída a tributação em todos os níveis.
Os danos impostos à Petrobrás são em parte explicáveis por essa confusão de objetivos e políticas, tão característica do governo atual. Mas decorrem também da subordinação da estatal aos interesses político-partidários do Palácio do Planalto, da peculiar diplomacia terceiro-mundista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da conversão da empresa em instrumento de política industrial. Em vez de cuidar de seus objetivos empresariais e especialmente do enorme desafio da exploração do pré-sal, a companhia foi forçada a atender a uma porção de outras solicitações. Os resultados são indisfarçáveis.
Mas o governo parece impermeável à maior parte dessas lições. O Ministério da Fazenda dispõe-se a adotar novos artifícios para encenar o cumprimento da meta fiscal. Tudo se passa, de fato, como se o resultado real das contas públicas fosse muito menos importante que a sua representação contábil. Sem medidas típicas de política monetária, o BC tem atuado no mercado cambial para desvalorizar o dólar, em mais uma tentativa de influenciar indiretamente a inflação. A conta será parcialmente paga, é claro, pelos setores prejudicados pela valorização do real. De vez em quando, num surto de lucidez, o governo leva em conta as consequências mais amplas de suas decisões. Exemplo disso é a disposição de rever os termos das novas concessões no setor de transportes. Mas surtos desse tipo têm sido raros e brevíssimos e a confusão do voluntarismo volta a se impor.
* JORNALISTA
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Furos na economia
Mas os fundamentos da economia do Brasil estão em deterioração. É só conferir o que a atual administração está entregando: uma sucessão de pibinhos, a inflação mais alta desde 2005, o investimento empacado, a indústria em franco esvaziamento, a Petrobrás sangrando em seu caixa, o outrora pujante setor dos biocombustíveis perdendo importância, a balança comercial passando sinais preocupantes; a percepção externa sobre o Brasil piorando aos poucos…
O galardão da presidente Dilma é a área social. As classes médias seguem aumentando. O povo nunca consumiu tanto, nunca viajou tanto. O setor de serviços está em grande expansão. Paradoxalmente, a área mais pujante da economia é o agronegócio, justamente o setor que vem sendo acusado por áreas do governo como o reduto dos ruralistas, da monocultura e da exploração do trabalhador. Apenas um reparo: há dois subsetores no agronegócio que, ao contrário dos outros, enfrentam séria crise: é o já mencionado ramo do açúcar e do álcool, em consequência do represamento dos preços dos combustíveis; e o da laranja, atacado por forte deterioração dos preços internacionais.
O descontentamento começou a espalhar-se numa área até recentemente tida como aliada do governo: o dos empresários. As empresas enfrentam custos crescentes, especialmente de mão de obra, e já não podem contar com o rendimento financeiro para compensar o baixo retorno operacional. É o que explica tantos balanços bem mais fracos do que os apresentados em outros anos. O empresário não se anima a investir porque entende que deixou de ganhar dinheiro – não importando aqui o quanto isso é verdadeiro. Ele só não demite mais porque a situação de pleno emprego tornou mais difícil a contratação de pessoal.
Os cala-bocas da hora não vêm surtindo o efeito desejado. A tão festejada desoneração dos encargos sociais é pouco mais do que uma insignificância. As renúncias fiscais (isenção ou redução de impostos) não podem mais ser mantidas; estão sendo gradativamente revogadas. A desvalorização cambial (alta do dólar) que veio para dar mais competitividade ao setor produtivo, está em parte sendo revertida pelo Banco Central e, em parte, comida pela inflação à proporção de 6% ao ano. E o BNDES não é uma solução para todos porque só contempla os previamente destinados a serem campeões em sua área.
A presidente Dilma parece ter-se convencido de que não pode mais tratar o setor privado a pão e água e que precisa abrir as licitações de projetos de infraestrutura e energia. Mas essa mudança vem um pouco tarde e deverá demorar muito mais a maturar e a dar frutos.
A desenvoltura da inflação preocupa. Se continuar com o discurso de que não é preciso agir porque, logo adiante, a inflação cederá por simples imperativo estatístico, o Banco Central corre o risco de perder ainda mais credibilidade. Já não conduz as expectativas, passou a percepção de que só reage com autorização superior e aceitou passivamente demais à deterioração das contas públicas. Agora pode defrontar-se com a força da inércia inflacionária. Mais ainda, corre o risco de ter de puxar os juros de volta para cima apenas às vésperas das eleições.
CONFIRA
Acima, uma relação de 12 produtos ou serviços consumidos no carnaval e a carga tributária incidente sobre cada um deles.
sábado, 1 de dezembro de 2012
Republica Jabuticabal da Improvisacao: a bagunca continua...
Abaixo, apenas dois exemplos.
Paulo Roberto de Almeida
Usina de trapalhadas
O conselho de administração da Eletrobrás, controlada pela União, decidiu aceitar as condições ditadas pelo governo, com perspectiva de grandes perdas. Acionistas minoritários, no entanto, mobilizam-se contra a posição majoritária. A indenização oferecida é bem menor, segundo os críticos, do que os custos de amortização ainda pendentes. Neste ano, a empresa perdeu cerca de dois terços do valor de mercado. A maior parte da redução ocorreu depois do anúncio, em setembro, da proposta de renovação das concessões.
Até o procedimento escolhido pelo governo para sacramentar os novos contratos e a redução da conta de luz é contestável. Nenhuma insegurança jurídica decorre da Medida Provisória (MP) 579, disse o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia. Errado, mais uma vez.
A edição de uma MP para redefinir a política energética já é uma aberração. Pela Constituição, MPs são admissíveis em casos de "relevância e urgência". Ninguém contesta a relevância de uma política para o setor elétrico, mas o critério de urgência é inaplicável. Ao traçar diretrizes para um importante ramo da infraestrutura como objeto de decisão urgente o governo apenas confirma sua incompetência administrativa. O recurso a uma MP, nesse caso, denuncia improvisação, evidencia mais uma vez um pendor para o autoritarismo e justifica todas as dúvidas quanto à segurança legal dos investimentos e outros negócios realizados no Brasil.
O Brasil precisa com urgência de mais seriedade e mais competência administrativa na política de infraestrutura, mas esse problema não pode ser resolvido por meio de MPs (neste caso, por meio de duas, porque uma segunda, com correções, foi publicada na sexta-feira). O governo já proporcionaria um alento aos cidadãos se pelo menos reconhecesse as próprias trapalhadas e se esforçasse para definir com clareza seus objetivos e instrumentos.
Se falassem menos em Estado forte e planejassem mais, as autoridades evitariam, entre outros vexames, o de ver construído um parque eólico de geração elétrica, na Bahia, sem o correspondente sistema de transmissão. Nenhuma falha desse tipo se corrige com MPs fora de hora.
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Decisão sobre royalties deve abrir nova disputa
Parlamentares de municípios não produtores de petróleo já pensam em como derrotar o governo nesse tema
30 de novembro de 2012A estratégia do governo para anunciar sua "solução" para o impasse sobre a divisão da compensação financeira paga pelas petroleiras foi a mesma do embate do novo Código Florestal. Naquele caso, o governo sofreu duas derrotas no Congresso e buscou uma brecha para impor sua vontade sem submeter ao crivo dos parlamentares.
A decisão foi tomada no último dia, o anúncio feito por um conjunto de ministros e a solução foi a edição de uma MP tentando "corrigir" o que o Planalto entende como equívocos do Congresso. Escalados para anunciar a posição da presidente, os ministros Edison Lobão (Minas e Energia), Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Aloizio Mercadante (Educação) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais) destacaram que o objetivo do veto parcial é evitar que a questão gere uma guerra nos tribunais. "Não há desapreço pelo Congresso, mas a defesa dos princípios constitucionais que asseguram contratos firmados até esta lei", diz Lobão. "Estamos fazendo o aperfeiçoamento da lei", completa.
Queda brusca
Um dos motivos que levou ao veto é que uma nova distribuição que mexesse em áreas licitadas levaria municípios e estados produtores, principalmente Rio e Espírito Santo, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Sem o veto, os recursos de royalties dos estados produtores cairiam dos atuais 26,25% para 20% em 2013 e os dos municípios de 26,25% para 15% no próximo ano e para 4% em 2020.
Outro motivo é que o texto aprovado pelo Congresso previa divisão de 101% de royalties a partir de 2017, uma "inconsistência material", segundo Mercadante.
O governo preservou os porcentuais aprovados pelo Congresso em relação ao modelo de partilha, fixando em 15% a alíquota dos royalties que deve ser pago pelas petroleiras e aumentando a parcela de recursos que irá para os cofres dos não produtores. Para atender, em parte, o desejo dos parlamentares, o governo enviará uma MP adotando os porcentuais fixados por eles para as novas áreas que forem licitadas pelo antigo modelo de concessão. Estará ainda na MP a vinculação dos recursos das novas áreas de forma exclusiva para a educação, não podendo ser usado para cumprir exigência de investimento no setor.
Com essas regras, os recursos para os não produtores vão demorar a chegar. O governo prevê que isso ocorra a partir de 2014, mas parlamentares acham que repasses significativos só ocorrerão após 2020. Este é o problema que levará o Congresso novamente a enfrentar o Planalto. "Vamos tentar reverter isso por todos os caminhos", adianta o vice-líder do PMDB, Marcelo Castro (PI), um dos principais articuladores dos não produtores.
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Da arte de improvisar politicas (semi)publicas - Sergio Fausto
Sinto muito mas não consigo fingir que estou acreditando.
Tenho absoluta certeza de que eles não sabem o que estão fazendo.
Ou se sabem, pretendem nos enganar o tempo todo.
Eu tenho uma teimosia: não gosto de me deixar enganar.
Não gosto que me chamem de idiota.
Mas acho que o governo brasileiro pensa (talvez ele tenha certeza) de que o povo brasileiro é formado em sua grande maioria por um bando de idiotas...
Talvez...
Paulo Roberto de Almeida
Remendos e puxadinhos
O remendo mais ostensivo talvez seja a contenção dos preços da gasolina e de outros derivados de petróleo por vários anos. Isso ajuda a frear a alta do índice de inflação, sem eliminar, no entanto, as pressões mais importantes, em geral associadas ao excesso de gasto público e à rápida expansão do crédito. A distorção já seria perigosa se essa política apenas mascarasse os números da inflação. Mas o truque produziu outras consequências: afetou a receita da Petrobrás, desajustou a relação entre os preços da gasolina e do etanol, desestimulou o investimento na produção de álcool e forçou o aumento da importação de combustíveis.
Menos visíveis para a maior parte das pessoas são os remendos ou puxadinhos destinados a ajeitar as contas públicas. Neste ano, o governo deve mais uma vez compensar a falha no cumprimento da meta fiscal com um expediente previsto em lei, mas nem por isso saudável: tentará cobrir a diferença entre o programado e o realizado com o valor investido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Dificuldades de receita em períodos de crise são normais, mas igualmente normal deve ser o esforço do governo para ajustar seus gastos à escassez de recursos. Em países com melhor administração, o Tesouro realiza uma economia extra em tempos de bonança para gastar nas fases de dificuldades. O Brasil continua longe desse padrão, até porque o orçamento é cada vez mais rígido. Em vez de enfrentar o problema, o Executivo recorre ao desconto da meta fiscal e infla a receita com doses extras de dividendos de estatais.
Mas o governo, além de se conformar com finanças cada vez menos flexíveis, agrava o problema com a reedição de práticas reconhecidamente perigosas e banidas no fim dos anos 80. Em 2009, o Tesouro transferiu recursos ao BNDES para o Programa de Sustentação de Investimentos (PSI). O governo podia justificar a iniciativa como parte da política anticrise. Essa ajuda seria temporária, mas o prazo foi prorrogado várias vezes e o programa continua em vigor.
A transformação de ações provisórias e emergenciais em linhas de política econômica tem sido uma característica da gestão federal. Isso ocorreu por mais de um motivo no caso do desconto do IPI concedido a alguns setores da indústria. A renovação do incentivo foi abertamente justificada com duas considerações. Manter o imposto reduzido prolongaria o estímulo ao consumo e evitaria um reajuste de preços dos automóveis e de outros produtos. Este segundo objetivo nunca foi segredo.
Da mesma forma, o governo atribui claramente duas funções à pretendida redução das contas de eletricidade no próximo ano - reduzir os custos industriais e manter controlado o índice de inflação. Se o truque funcionar, o Banco Central poderá mais facilmente manter reduzida a taxa básica de juros, uma das fixações da presidente Dilma Rousseff. Com tudo isso, as possibilidades de crescimento econômico igual ou superior a 4% por vários anos, a partir de 2o13, permanecem escassas, assim como as perspectivas de um aumento substancial da taxa de investimento. A insistência na improvisação combina mal com os grandes itens da agenda econômica de 2013.
* DIRETOR EXECUTIVO DO iFHC, É MEMBRO DO GACINT-USP
E-MAIL: SFAUSTO40@HOTMAIL.COM
domingo, 25 de março de 2012
Politica industrial esquizofrenica, politica economica improvisada
Incentivos do governo às empresas somam R$ 97,8 bilhões em seis anos
Lu Aiko Otta e Adriana Fernandes
O Estado de S. Paulo, 24 de março de 2012
A cifra é o dobro do que o governo pretende gastar no PAC ao longo deste ano
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Republica Federativa da Improvisacao; ou Republica Improvisada do Brasil (ou Whatever works...)
Esse é o mote da maior parte dos administradores, federais, estaduais, municipais.
Mas administradores é uma palavra muito exigente; improvisadores é mais adequada...
Paulo Roberto de Almeida
Descuidos bilionários
sábado, 4 de junho de 2011
Brasil Sem Miseria: um plano improvisado - Editorial OESP
Editorial - O Estado de S.Paulo
04 de junho de 2011
A presidente Dilma Rousseff é uma pessoa séria, assim como são sérios os seus compromissos com a mudança do sombrio panorama social brasileiro. O País se orgulha de ser uma das 10 maiores economias do mundo e, ao mesmo tempo, tolera a perpetuação da extrema pobreza em escala incompatível com o seu grau de desenvolvimento. Era, portanto, para também serem levadas a sério as informações de que, cumprindo o que a então candidata prometera na campanha eleitoral, o novo governo preparava, em regime de prioridade, um programa articulado de resgate, em 4 anos, dos 16,2 milhões de pessoas cuja renda familiar per capita não ultrapassa R$ 70, conforme a "nota de corte" estabelecida com base nos dados do último Censo do IBGE.
Mas não pode ser considerado sério, nos termos em que foi apresentado, o programa Brasil Sem Miséria. Ficou claro que o seu lançamento, quinta-feira - numa solenidade em que a presidente se viu obrigada a proclamar que não é "refém do medo", ao lado de um desenxabido ministro Antonio Palocci, responsável pela crise que assusta o Planalto -, foi uma precipitação. No esforço por mostrar que o governo governa e que a presidente preside, não se deixando travar pelo escândalo que expôs a fortuna do seu braço direito, o titular da sua Casa Civil, incluiu-se a apresentação do plano de combate à miséria entre as aparições públicas de Dilma, destinadas a exibir, ao longo da semana, um quadro de normalidade política e eficiência administrativa no Executivo.
O que se viu, porém, foi uma simples colagem, ao que tudo indica improvisada, de projetos que parecem ser um mix das iniciativas do governo Lula no campo social, lembrando o ajuntamento de projetos a que ele deu o pomposo nome de Programa de Aceleração do Crescimento. E essa é ainda uma hipótese benigna. Pior será se se vier a saber que a crise não forçou o lançamento do Sem Miséria antes da hora, no estado em que estivesse, mas que ele é isso mesmo, ou seja, o produto de um trabalho que chegou, sim, ao seu término e espelha o que a equipe da presidente tem a oferecer na matéria. Porque, se este for o caso, o resultado será uma oportunidade perdida de obter o apoio da sociedade a uma causa que deve prevalecer sobre antagonismos políticos.
O governo anunciou que investirá no programa R$ 20 bilhões por ano, mas não alardeou, evidentemente, que desse total R$ 16 bilhões já são gastos com o Bolsa-Família. Completando o vexame, não definiu de onde sairão os R$ 4 bilhões restantes. Só isso mais do que basta para se considerar o plano um mero factoide, uma descosturada carregação para ajudar a presidente a desfilar boa aparência política. Nada contra, em princípio, à ideia de agregar 800 mil famílias aos 12,9 milhões que formam atualmente a clientela desse programa de transferência de renda. Mas a distância entre a intenção e os meios faz duvidar da viabilidade da meta - que está longe, aliás, da eliminação da miséria.
O ceticismo se justifica ainda mais em relação ao desejo do governo de instalar cursos de qualificação profissional, em parceria com Estados e municípios, destinados a abrir portas de saída a membros da clientela do Bolsa-Família. Essas parcerias só funcionam, quando funcionam, se o Tesouro arca com a fatura - e isso, como se sabe, são sempre outros 500. Da lista de intenções do Planalto faz parte ainda a criação de uma Bolsa Verde de R$ 300 por trimestre para cerca de 70 mil famílias que vivem em áreas de floresta. Trata-se de um programa de preservação ambiental anunciado por Lula em 2009. Há, ainda, uma ajuda de R$ 2.400, a ser paga em 4 parcelas ao longo de 2 anos a até 100 mil famílias de lavradores.
No evento de quinta-feira, a presidente afirmou: "Não vamos mais esperar que os pobres corram atrás do Estado brasileiro. O Estado brasileiro deve correr atrás da miséria e dos pobres deste país". Ou seja, o programa terá de localizar os 16,2 milhões de brasileiros visados. Por sua própria condição socioeconômica, vivem à margem ou, quando muito, na periferia das instituições que canalizam as políticas públicas na frente social. Resta saber se o governo tem preparo para completar essa corrida a tempo.
terça-feira, 15 de junho de 2010
El Itamaraty no Improvisa?!? Sempre achei que improvisava
Quando ela é transformada em recurso único, sem qualquer planejamento, aí a coisa fica preta (ops, acho que não se pode empregar essa palavra agora...).
Paulo Roberto de Almeida
''Itamaraty no improvisa''
Sergio Amaral
O Estado de São Paulo, 12 de junho de 2010
Por que razão o Brasil decidiu envolver-se num conflito tão complexo e explosivo como o programa nuclear iraniano, numa região tão longe de nós, ao lado de um parceiro tão distante dos valores e dos interesses da sociedade brasileira? Essa é a pergunta que muitos se fazem neste momento e para a qual a diplomacia brasileira ainda não deu uma resposta convincente.
A Turquia até pode ter as suas razões para se solidarizar com o Irã e aceitar o isolamento no Conselho de Segurança da ONU. No momento em que o Egito parece retrair-se da liderança que tradicionalmente exerceu no mundo islâmico, seria até compreensível que a Turquia buscasse aproveitar a oportunidade para ampliar a sua influência na região.
No caso do Brasil, a aventura do Irã é incompreensível, sobretudo quando persistem vários contenciosos perto de nós, em relação aos quais não tentamos ou não logramos, aí, sim, mediar um entendimento. Os exemplos são vários, como a disputa sobre as "papeleras" entre o Uruguai e a Argentina; a virtual paralisia do Mercosul, como resultado das sucessivas medidas protecionistas da Argentina; e um retrocesso na integração sul-americana, pela falta de uma visão compartilhada entre os países da região e, especialmente, em decorrência dos desentendimentos entre vários de nossos vizinhos.
Alguns buscaram ver na iniciativa do Brasil o objetivo de exportar mais, para um mercado que pode apresentar oportunidades para alguns setores da economia brasileira. As estatísticas, no entanto, mostram que, em 2009, as vendas para o Irã representaram apenas 0,80% do total de nossas exportações. Assim, ainda que dobrássemos as exportações, elas continuariam a ser pouco significativas.
Outros mencionaram o argumento político. Ao se apresentar como mediador de um conflito de dimensão mundial, o Brasil estar-se-ia credenciando a um protagonismo global. O fracasso da tentativa de mediação, em decorrência da aprovação de novas sanções contra o Irã, por uma expressiva maioria, de 12 a 2 votos no Conselho de Segurança, mostrou, no entanto, de duas, uma: ou a ingenuidade dos formuladores da política externa ou a falta de informação sobre a postura dos principais atores (como a China). Qualquer dessas hipóteses seria uma falha grave para uma diplomacia competente.
Se o Brasil nada ganhou com o acordo negociado com o Irã, tem muito a perder. Em primeiro lugar, a credibilidade. Quando os diplomatas de minha geração ingressaram no Itamaraty, em meados dos anos 70, ouviam de seus colegas latino-americanos, com um misto de admiração e respeito, o comentário: "Itamaraty no improvisa." Hoje, essa não parece ser a marca da diplomacia brasileira. Em Honduras, sob a indução do venezuelano Hugo Chávez, envolvemo-nos num imbróglio ao abrigar, sem se ter configurado o asilo, um presidente deposto que pregava a insurreição de um terraço da Embaixada do Brasil. Em seguida, no Oriente Médio, a oferta para mediar a crise Israel-Palestina, um dos mais antigos e desafiadores conflitos do mundo contemporâneo, foi rejeitada por ambos. Para não dizer que não alcançou nenhum resultado, logrou unir governo e oposição em Israel contra nós. Por fim, no Irã, colocamo-nos, a contracorrente da comunidade internacional, na esdrúxula posição de fiadores das boas intenções de um governo que se notabilizou por um déficit democrático e por recorrentes violações dos direitos humanos, desta vez, na contramão dos valores da sociedade brasileira.
Tem mais. Muito poderemos perder ao nos associarmos a um país que busca, segundo os fortes indícios coletados pela Agência Internacional de Energia Atômica, a fabricação de artefatos nucleares. Há anos estamos desenvolvendo, legitimamente, o ciclo do combustível nuclear, para utilização pacífica. A comunidade internacional, depois de ter buscado em vão reforçar a inspeção sobre o programa brasileiro, acabou cedendo à evidência de que o Brasil não apresenta nenhum risco de proliferação de armas nucleares. É difícil antecipar se a anuência tácita ao programa nuclear brasileiro será mantida, após o empenho demonstrado pelo Brasil em dar cobertura a um programa que, por um conjunto de evidências, tem intenções militares. Sem falar das possíveis repercussões para outro de nossos interesses legítimos, como é o acesso a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
No momento em que os olhares da comunidade internacional se voltam, com admiração, para a emergência da China, econômica antes, política em seguida, é interessante registrar a evolução notável de sua diplomacia. Aos poucos, a China foi abandonando a visão de um conflito irreconciliável nas relações entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, na linha da retórica do Grupo dos 77, em favor da defesa de uma harmonia entre os povos, na melhor tradição confuciana. Nos foros internacionais, pauta-se pela discrição, frequentemente pela ambiguidade. Sabe que ainda não chegou o momento de assumir a liderança que sua dimensão e sua crescente influência econômica inevitavelmente proporcionarão. Esquiva-se do protagonismo e do ativismo diplomático, exceto quando algum dos seus interesses estratégicos estiver em jogo. Assim, sem alarde, foi aos poucos equacionando alguns de seus desafios mais sérios, como a questão do Tibete, o conflito de Taiwan e mesmo as críticas, em boa medida justificadas, às restrições aos direitos humanos.
Em contraste com a moderação chinesa, a diplomacia brasileira, nos últimos anos, tem associado a exuberância na retórica com a parcimônia nos resultados. Mais do que isso, como diriam hoje nossos amigos latino americanos, "Itamaraty, si, improvisa".
DIPLOMATA, FOI EMBAIXADOR EM LONDRES E PARIS