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sábado, 13 de fevereiro de 2021

As não-realizações do chanceler acidental - Paulo Roberto de Almeida

 Em julho de 2020, em face de pedidos de demissão que se acumulavam contra o chanceler acidental, eu já fazia um balanço mais realista de sua total incapacidade para o cargo, ao contrário da listagem que ele exigia de meus colegas de carreira, de só mencionar “realizações”, de qualquer tipo, na tentativa de se manter no cargo.

Creio que meu balanço ainda é válido, a despeito de novas “realizações” negativas do patético chanceler para o Brasil e para o Itamaraty, e pelo fato de que o seu chefe mais amado, o nefando Trump, já ter sido expelido da cadeira de presidente dos EUA, país ao qual o infeliz e entreguista chanceler acidental pretende submeter os interesses do Brasil, mesmo se descontente com a sua nova administração “globalista”,

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 13 de fevereiro de 2021


As não realizações do chanceler acidental

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2 de julho de 2020


Preocupado em ser defenestrado do cargo, em virtude de um ano e meio de absoluta ineficiência na gestão do Itamaraty — ao tornar o Brasil um país pária no mundo —, o chanceler acidental ordenou a todas as unidades do Itamaraty que produzissem uma lista sintética de realizações.

Segundo circulou por todas as chefias, o pedido do Gabinete foi para fazer “um balanço de um ano e meio de gestão, com a conclusão de acordos, a eleição para o CDH, a eleição do nosso candidato na OEA, os investimentos dos países do Golfo, o convite para integrar o novo G-7, as repatriações, a reestruturação do Mercosul, acordos automotivos, os acordos com os EUA em tecnologia e defesa, a redução de gastos com fechamento de Embaixadas e vagas no exterior, etc..

O pedido está sendo feito para todas as secretarias.”

A lista não deveria ser exaustiva, mas precisaria conter “só o que foi feito,  muito brevemente”, e finalizava por uma ordem clara: “O pedido é urgentíssimo.”

Pois bem, consciente de que o chanceler acidental reune muito mais não-realizações do que realizações, apresso-me em estabelecer a minha lista, que pode não ser do agrado do dito chanceler, mas tem a vantagem de ser muito mais fiel à realidade do que a sua listinha de invenções altamente exageradas. Vamos a ela:

 

1.          Uma crença míope de que o “make America Great Again” era um chamamento de Trump para “salvar o Ocidente”;

2.          Uma outra crença beata em que “o Brasil acima de tudo”, era realmente um ato desprendido de patriotismo e não um subterfúgio para colocar à família acima de todos;

3.          Uma terceira crença, mais equivocada ainda, de que foi escolhido para conduzir o “novo Itamaraty” pelos caminhos de Deus e da Virgem Maria, quando o que se esperava desse personagem dotado de uma angústia propriamente kirkegaardiana era apenas submissão absoluta a seus novos mestres e senhores escrupulosos quanto ao controle total de todos os seus atos;

4.          A ilusão ingênua de que todas aquelas noites mal dormidas, na redação febril de textos tresloucados de devoção às novas causas do bolsolavismo lunático — num blog wagnerianamente chamado de “Metapolítica 17: contra o globalismo” —, fossem realmente servir de suporte intelectual a grandes aventuras no campo do “espírito que anda”, quando — com a minha solitária exceção — ninguém ligou a mínima para aqueles textos gongóricos, sem qualquer coerência doutrinal, apenas surrealistas na expressão mais errática da palavra;

5.          A pretensão de ser admirado e aplaudido por frases duramente capturadas no latim, no grego, no alemão e no tupi-guarani, quando aquilo só foi objeto do ridículo, uma vez que a pretensão alegada era a de fazer uma “política externa para o povo”;

6.          A loucura totalmente antidiplomática de querer fundar sua ação à frente do Itamaraty — uma Casa multilateralista por excelência — numa santa cruzada contra o “globalismo”, esse monstro metafísico que parecia encarnar todos os males da modernidade progressista, quando a intenção real era a de proceder a um retrocesso em regra, na direção das pregações místicas de tradicionalistas como René Guénon e de fascistas como Julius Evola, intermediados pelo subsofista da Virgínia, que lhe deu cobertura e patrocínio desde a anunciada adesão a uma inexistente campanha de “salvamento do Ocidente” por um egocêntrico que só pensava em seu país;

7.          Uma deformação caolha dos sentimentos patrióticos de muitos brasileiros, em especial os militares,  transformado em uma defesa de um nacionalismo rastaquera, que limitou o relacionamento antigamente universalista da diplomacia brasileira a uma pequena tribo de outros populistas nacionalistas que também só pensavam limitadamente em seus próprios países, não em qualquer aliança mundial da nova direita;

8.          Uma investida estúpida contra uma inexistente “China maoísta” — superada desde quatro décadas —, seguindo uma outra estúpida concepção de que o gigante asiático queria exportar o regime comunista, não todas as manufaturas produzidas pela maior locomotiva econômica do planeta, e principal compradora de nossas maiores exportações;

9.          Uma vergonhosa diplomacia de submissão automática aos projetos eleitoreiros de Trump — no tocante ao Irã, à China, à Israel e Venezuela— , conformando grave violação de preceitos constitucionais de “independência nacional” e de “não intervenção nos assuntos internos de outros Estados”, no limite da traição aos interesses nacionais e, na prática, levando ao completo isolamento do Brasil na região e no mundo;

10.       Uma absolutamente ridícula postura “anticlimatista”, junto com o antiministro do 1/2 ambiente, que tornou o Brasil um alvo fácil de comentários jocosos nas reuniões do setor, e de desprezo depreciativo por parte da comunidade científica engajada na agenda da sustentabilidade;

11.       Zombarias ainda mais jocosas por parte de sucessores dos perpetradores alemães e de vítimas judaicas do Holocausto quando tentou “provar”, contra as mais comezinhas evidências históricas, que o Nazismo era “de esquerda”, da mesma espécie que o odiado comunismo (que como se sabe encontra-se ativo e dinâmico, materializado inclusive no “comunavirus” dos maoístas chineses);

12.       Uma revolução hierárquica e gerencial no Itamaraty, materializada no afastamento brutal de postos de chefia de experientes embaixadores, colocados sob as ordens de ministros de segunda classe , conformando aquela situação esquizofrênica que os militares chamam de “coronéis mandando em generais”;

13.       Uma outra traição ainda mais grave, escabrosa mesmo, aos princípios e normas que regem o funcionamento do Serviço Exterior, tendente a contratar para cargos de responsabilidade no Itamaraty pessoas de fora do quadro de servidores públicos admitidos por concurso, apenas para contemplar um ou outro fanático da mesma seita dos tradicionalistas, mas — o que é muito pior — totalmente identificados com o serviço a uma potência estrangeira;

14.       No plano institucional e das interações com os meios acadêmicos e instituições de pesquisa, o chanceler conseguiu realizar o abastardamento completo do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais e da própria Fundação Alexandre de Gusmão, pela interrupção de qualquer cooperação com a comunidade acadêmica, de publicações relevantes nessa área e pelos convites exclusivamente feitos a personalidades da tribo ideológica dos antiglobalistas, pessoas de perfil medíocre e sem qualquer expressão na produção de qualidade do setor.

15.           Por fim, mas não menos grave, o total descomprometimento com temas relevantes da agenda externa do país em nome da adesão a mistificações ideológicas que se revelam objetivamente prejudiciais aos interesses nacionais concretos do Brasil.

 

Estas são, resumidamente, as não-realizações do patético chanceler acidental, o diplomata mais inepto e submisso a desígnios estranhos aos interesses nacionais e aos padrões tradicionais de trabalho do Itamaraty que jamais se sentou na cadeira de Rio Branco, para vergonha da quase totalidade do corpo profissional da Casa. A maioria dos diplomatas encontra-se de fato indignada com as aberrações fabricadas em 18 meses de diplomacia esquizofrênica, apenas que intimidada pelos arroubos autoritários do pior chanceler em quase dois séculos de nossa história de serviço exterior de qualidade.

O fato é que o chanceler acidental envergonha o Itamaraty, o governo e o Brasil. Está mais do que na hora de colocar um ponto final à mediocridade operacional e à indigência intelectual de sua desastrosa gestão.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2 de julho de 2020

quinta-feira, 28 de março de 2013

Brics: una sombra pronto seras?

Sem tango, claro...

Retratos dos Brics

28 de março de 2013 | 2h 08
Editorial O Estado de S.Paulo
 
Se quiserem ter mais influência no cenário mundial, os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) precisam, para começo de conversa, organizar com mais eficiência as reuniões de seus dirigentes. O "chá de cadeira" que o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, aplicou à presidente Dilma Rousseff é mais um efeito da desorganização desses países, que almejam ser um grupo de defesa de seus interesses comuns, mas até agora não conseguiram ser mais do que uma mera sigla.
Sem ter nada de concreto a apresentar passados cinco anos de sua primeira reunião de cúpula e vendo frustradas as expectativas dominantes no encontro anterior, de que se tornariam mais relevantes no cenário mundial depois da crise, os Brics ainda procuram algo tangível para se justificar. Na reunião na cidade de Durban, encerrada na quarta-feira, limitaram-se a anunciar a criação de um fundo de reserva que socorrerá seus integrantes em caso de crise de liquidez.
O volume de recursos teoricamente mobilizados para esse fundo - um acordo de reserva de contingência, ou CRA, na sigla em inglês - impressiona. Seu patrimônio inicial é de US$ 100 bilhões. Nenhum dos participantes, porém, terá de transferir dinheiro de suas reservas. Trata-se, na verdade, de um compromisso de que, se um dos membros tiver problemas nas contas externas, os demais colocarão recursos à sua disposição.
Um anúncio desse tipo certamente evitou que a reunião de Durban ficasse marcada como uma espécie de fim de festa dos Brics. Até o início do ano passado, esses países eram apontados como os de maior resistência à crise, mas hoje sentem seus efeitos. A velocidade de crescimento se reduziu em todos, e em particular no Brasil, que cresceu apenas 0,9% em 2012.
Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que os Brics liderarão o crescimento mundial. "Vamos continuar crescendo, temos um dinamismo maior, temos de aproveitar melhor nossos mercados e nosso comércio", disse. Se o Brasil repetir neste ano o desempenho dos dois anos anteriores, pouco contribuirá para isso.
Para justificar as reuniões do grupo, seus dirigentes tentaram implementar a ideia de criação de um banco de desenvolvimento próprio, o "Banco dos Brics", para apoiar os investimentos nos países em desenvolvimento. Proposta pela Índia no início do ano passado, a criação desse banco vem sendo discutida desde então por representantes dos cinco países.
"Fizemos proposta para que o Banco dos Brics seja constituído em 2014", disse o ministro Guido Mantega. Não parece provável, porém, que os cinco países consigam superar suas divergências em tão pouco tempo.
Além da data de início das operações, as divergências incluem, entre outras questões, o local onde o banco se instalará, o sistema de escolha de sua diretoria e como serão selecionados os países aptos a receber seus financiamentos. O que está certo é que o capital do banco deverá ser fornecido pelos países do Brics, mas muitos deles enfrentam problemas internos que limitam sua capacidade de capitalizar a nova instituição. A Rússia, por exemplo, resiste à proposta de aporte inicial de US$ 10 bilhões de cada país, por considerá-la insuficiente.
A constituição do banco seria um avanço importante dos Brics e contribuiria para consolidar o grupo. Mas as questões que dividem os cinco países a respeito dessa instituição são apenas parte de suas muitas divergências. Em foros internacionais, como a ONU e a OMC, esses países têm assumido posições até conflitantes. Uma simples sigla está longe de ser suficientemente forte para levá-los a superar esses conflitos.
Apesar da descortesia do anfitrião, à qual respondeu retirando-se do local onde se reuniria com ele, a presidente Dilma Rousseff parece ter ficado satisfeita com os resultados do encontro de Durban. Segundo ela, o anúncio do fundo de contingência e a decisão de criar o Banco dos Brics foram "realizações" do Brasil, isto é, de seu governo. É bem possível que sejam, pois, como outras "realizações" de seu governo, também estas continuam no papel.