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quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Emb. Alexander Marschik (Austria) sobre a crise do multilateralismo, IRbr, 2/10, 15:30


Conferência do emb. Alexander Marschik (Áustria) sobre a crise do multilateralismo - IRBr, 2/10, 15:30
A Embaixada da República da Áustria em Brasília, o Instituto Rio Branco (IRBr), a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) têm o prazer de convidar para a conferência do Diretor-Geral para Assuntos Internacionais do Ministério Federal para Europa, Integração e Assuntos Exteriores da Áustria, Alexander Marschik, que discorrerá sobre "Every State First: the end of multilateral cooperation?". O embaixador Alexander Marschik, que chefia a delegação austríaca por ocasião da reunião de consultas políticas entre a Áustria e o Brasil, é mestre e doutor em Direito pela Universidade de Viena, realizou estudos especializados na Academia de Direito Internacional da Haia, na Academia de Direito Europeu do Instituto Universitário Europeu (Fiesole), e foi Visiting Scholar na Universidade de Stanford, tendo sido ainda professor de Direito Internacional na Universidade de Viena. Ocupou diferentes cargos na diplomacia austríaca e foi representante permanente da Áustria junto ao Comitê Político e de Segurança da União Europeia. A conferência, em inglês, terá lugar no Auditório João Augusto de Araújo Castro, do Instituto Rio Branco, no dia 2 de outubro de 2018, às 15h30.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Quadro eleitoral confuso no Brasil - Paulo Roberto de Almeida e Financial Times

O Financial Times se inquieta, por nós, em vista das profundas indefinições, dúvidas, angústias, preocupação, desespero, esperança, contradições, oposições, possíveis enfrentamentos e outras consequências, eventualmente benéficas, mais seguramente maléficas, que advirão de uma das eleições mais contestadas, talvez a mais difícil, já enfrentada pelo Brasil em mais de cem anos de regime republicano, pelo menos em situação relativamente democrática. Digo relativamente porque o Brasil é uma democracia de baixa qualidade, eu até diria de baixíssima qualidade, e tudo indica que, independentemente de quem seja o próximo presidente, de centro, de direita, de esquerda, mais ou menos sensato ou completamente maluco, poste ou independente, razoável ou aloprado, independentemente de quem assuma o Palácio do Planalto em 1ro de janeiro de 2019, a política brasileira, em sua essência, não mudará muito, na verdade, parece que não mudará nada, o que quer dizer que ela vai continuar piorando, pois esta é a tendência dos últimos anos, ou décadas. O Congresso, que é o núcleo central do sistema político, muito mais do que o presidente, não mudará quase nada, e oportunistas, idealistas, bandidos e honestos, corruptos e responsáveis, serão eleitos com os mesmos problemas, distorções, deformações que já existem.
Acho que não só o Financial Times, mas outros órgãos da imprensa internacional, e também da imprensa nacional, vão continuar se preocupando com o destino do Brasil. Eu, pessoalmente, estou preocupado com o que possa acontecer a partir de outubro, pois tudo o que o Brasil precisa, no contexto da atual crise econômica e política, profundas ambas, devastadoras mesmo, se nada for feito, tudo o que o Brasil precisa é, antes de mais nada, de um presidente centrado, sensato, capaz de pacificar o país, os movimentos políticos, reconciliar as atuais oposições, cicatrizar ferimentos da atual campanha, e sobretudo exibir capacidade de formular rapidamente políticas de ajuste fiscal, de reformas estruturais, capazes de fazer o Brasil retomar o caminho do crescimento sustentado, com abertura econômica, liberalização comercial, nova inserção internacional, continuidade do processo de "limpeza" do sistema político, pois a sociedade não mais suporta os mafiosos no poder. A Justiça é um outro problema, que não será fácil de resolver, pois ela é constitucionalmente autônoma e independente, ainda que fragmentada, confusa, autista, prebendalista, patrimonialista, personalista, arrogante.
O Brasil é um país dominado pelo corporativismo de baixo clero, e extorquido pelos mandarins na república, os marajás do serviço público. Também exibe capitalistas promíscuos, dispostos a qualquer combinação com os políticos no poder para obterem vantagens para si mesmos e suas empresas, indiferentes à esbórnia geral que transforma o poder político um verdadeiro balcão de negócios, sempre sujos, por definição.
Este é o meu diagnóstico da atual situação, triste, do Brasil, sem muita esperança de que a situação melhore significativamente nos próximos quatro anos. Infelizmente. Espero estar errado, mas não errarei por otimismo não fundamentado.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26 de setembro de 2018

'Financial Times' alerta para 'cenário de pesadelo' na eleição brasileira

Para publicação britânica, disputa se trata de uma das eleições mais imprevisíveis e polarizadoras da história recente
Célia Froufe, correspondente, O Estado de S.Paulo
26 Setembro 2018 | 14h20

LONDRES - A pouco mais de uma semana para as eleições 2018, o jornal britânico de economia Financial Times apresenta um raio X dos principais candidatos, salientando que eles estão pulverizados da esquerda até a extrema direita. "Para os mercados, dizem alguns analistas, (a eleição) está se transformando em um 'cenário de pesadelo' - a esquerda contra a extrema direita - e poderia condenar o Brasil a mais quatro anos de lutas políticas terríveis", trouxe o diário.
Salientando que se trata de uma das eleições mais imprevisíveis e polarizadoras da história recente da maior economia da América Latina, a publicação enfatiza que os investidores estão cada vez mais preocupados que os eleitores possam eleger um presidente que não esteja disposto ou seja incapaz de implementar reformas econômicas necessárias, mas politicamente difíceis, para consertar os desequilíbrios fiscais.
Depois de ser esfaqueado em um comício de campanha no início deste mês, Jair Bolsonaro, nacionalista de extrema direita e líder do primeiro turno da eleição presidencial do Brasil em 7 de outubro, tem empunhado seus dedos em fotos postadas nas redes sociais. "Eu nunca me senti melhor na minha vida", disse ele em um vídeo no Twitter na semana passada. Ele encerrou sua transmissão na mídia social com um grito lembrando "até a vitória!", de Che Guevara.
Enquanto isso, o esquerdista Fernando Haddad, o candidato substituto do Partido dos Trabalhadores, do popular ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, subiu nas últimas pesquisas, com menos de duas semanas da votação no primeiro turno. Atrás deles estão o candidato veterano de centro-esquerda Ciro Gomes, o favorito do mercado, Geraldo Alckmin, e a ambientalista Marina Silva.
"A seguir estão os principais candidatos presidenciais, segundo pesquisas recentes, que na próxima semana enfrentarão 147 milhões de eleitores - muitos dos quais estão desencantados com o status quo político do Brasil", diz a publicação. 
O primeiro apresentado pelo FT é Bolsonaro, descrito como um ex-capitão do Exército que se comprometeu a manter uma agenda econômica liberal. Ele recrutou o banqueiro que estudou na Universidade de Chicago, Paulo Guedes, para administrar seu portfólio econômico. O candidato do PSL prometeu reprimir a criminalidade, conforme o periódico, e sua mensagem anticorrupção ecoa a ascensão dos movimentos populistas nos EUA e na Europa. "Mas seu estilo político faz Donald Trump parecer gentil. Ele já elogiou o ex-presidente peruano Alberto Fujimori, que virou soldados contra o Congresso e o Judiciário. Especialistas já disseram no passado que ele era muito radical para vencer, mas as pesquisas recentes indicam o contrário", aponta reportagem.
Haddad foi escolhido pelo PT depois que Lula foi desqualificado de concorrer. Advogado, economista e filósofo, herdou uma parte considerável da popularidade de Lula, que liderou as pesquisas até ser impedido de participar da eleição. Mas o ex-prefeito de São Paulo, conforme a publicação, também pode ser prejudicado por sua associação com Lula, que foi condenado no começo do ano por corrupção e cumpre pena de 12 anos de prisão. "Haddad é visto como um conservador fiscal e busca seduzir os eleitores de centro - e, ao mesmo tempo, afastar as suspeitas dos membros radicais de seu próprio partido."
Ciro Gomes, veterano candidato de centro-esquerda do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e ex-governador, apela aos eleitores que estão desiludidos com toda a roubalheira, que atribuem aos 13 anos de governo do PT no governo de Lula da Silva e de sua sucessora Dilma Rousseff, que sofreu impeachment em 2016 por supostamente esconder um problema do déficit fiscal do Brasil.
Gomes é visto como um centrista em questões macroeconômicas, conforme o veículo britânico, mas indicou que poderia se alinhar à esquerda em outras políticas, como a ampliação dos gastos públicos. Um político do nordeste, do Estado do Ceará, ele ocupou cargos no Congresso e no Senado, mudando de partidos ao longo de sua carreira.
Geraldo Alckmin, ex-anestesiologista e favorito dos investidores, até agora não conseguiu ganhar força com os eleitores. Analistas dizem que o ex-governador de São Paulo parece estar prestes a fracassar em sua segunda tentativa à Presidência do Brasil. O FT recorda que muitos observadores dizem que sua incapacidade de ganhar terreno se deve à falta de carisma, juntamente com a desilusão dos eleitores com os políticos do establishment, após uma série de escândalos de corrupção envolvendo a maioria dos grandes partidos - incluindo o próprio PSDB.
Marina Silva, ambientalista de centro-esquerda, disputa a Presidência pela terceira vez (Rede). O jornal salienta que a evangélica ganhou 22 milhões de votos há quatro anos, mas não conseguiu causar um impacto tão grande entre os eleitores desta vez, de acordo com pesquisas recentes. Embora Marina - que começou sua carreira política na década de 1980 trabalhando ao lado do ativista assassinado Chico Mendes - tenha mais seguidores no Twitter do que a sensação de mídia social do Brasil, Bolsonaro, ela tem sido incapaz de capitalizar esse poder e também está lutando com pouco tempo de campanha na televisão. 

Liga das Nações: conferencia internacional - Lisboa, setembro 2019

by Aurora Almada e Santos
Call for Papers
Lisbon, 19-20 September 2019
Intergovernmental organizations – understood as multilateral institutions created by sovereign states, with their own permanent structures and charged with the long-term pursuit of common goals – are tools for promoting the peaceful resolution of conflicts and facilitating cooperation. By establishing permanent dialogue between governments and trying to promote cooperative relations between peoples at a global level, intergovernmental organizations are a fundamental new element of global politics in the contemporary era. The genealogy and nature of intergovernmental organizations has therefore been the subject of highly relevant political controversy as well as significant debate in academia.
Established in January 1920, at the end of the First World War, the League of Nations was the first permanent multilateral organization set up to maintain peace and collective security, aiming at promoting a new stable and prosperous international order. Although it was meant to be in principle a global organization, European states de facto were the central core of founding members. After a decade, it became increasingly clear that the League’s performance in addressing major conflicts did not live up to the expectations of guarantying the collective security of member states. Resolutions and sanctions were ineffective against increasingly violent conflicts. In the functional areas, regarding minority rights and in the oversight of the role of imperial powers in mandate territories, the League of Nations created an important precedent but also showed important limitations.
With the suspension of the activities of the League of Nations with the beginning of the Second World War and its subsequent replacement came the idea of a total failure of the League of Nations. But current studies have pointed in new directions in the analysis of the knowledge of the organization. This rehabilitation of the importance of the critical study of the League of Nations has led to new and different readings of its various facets. It is, nevertheless, important to pursue these new approaches not only from an institutional perspective, but also by a more multidimensional and comparative analysis that does greater justice to the rich and important history of the organization. The tools of International History, Global and Transnational History, History of Ideas, Comparative History, Social History, Labour History, History of Communications, History of Health, History of Migration and others allow us to consider the presence and the role of the League of Nations in various scales and spaces, as well as its relationship with a diversity of actors and themes.
The relevance of the League of Nations is also justified by how topical and important many of the issues with which it struggled still are. The growing globalization and mobility of the contemporary era, voluntary or not, generates global problems and norms with enormous national and local impact. It has been in and through intergovernmental organizations that global regimes have been defined in a variety of areas – human rights, drug trafficking, terrorism and refugees. This brings us to the controversial but arguably indispensable role of multilateral organizations in international governance, as standards-makers and managers of the problems and challenges of contemporary societies which require a global response.
To promote the debate between those who study the League of Nations and connected topics we will organize an interdisciplinary conference to be held in Lisbon on 19 and 20 September 2019.
The keynote speakers are:
- Erez Manela (Harvard University) 
- Mark Mazower (Columbia University) – to be confirmed 
- Nicolas Werth (CNRS) 
- Patricia Clavin (University of Oxford) 
- Patrick Finney (Aberystwyth University) 
- Philippe Rygiel (École Normale Supérieure - Lyon) 
- William Mulligan (University College Dublin) 

Proposals for 20-minute presentations on issues related to the League of Nations will be accepted, including but not limited to the following topics:
- The genealogy of the concept of intergovernmental organizations; 
- Concepts and methodologies for the study of intergovernmental organizations; 
- History of intergovernmental organizations; 
- The Paris peace talks, the Peace Treaties and the creation of the League of Nations; 
- Institutional structure and dynamics of the League of Nations; 
- The League of Nations and the relationship with its member states; 
- The League of Nations and international civil service; 
- The League of Nations and international peace and security; 
- The League of Nations and the rights of minorities and refugees; 
- The League of Nations, empires and international mandates; 
- The League of Nations, social issues and the International Labour Organization (ILO); 
- The League of Nations and technical areas; 
- The League of Nations and non-state actors; 
- The League of Nations and other international organizations; 
- The League of Nations, international law and justice; 
- The transition from the League of Nations to the United Nations (UN). 

Abstracts of presentations (300 words) and biographical notes (250 words) should be sent in English or French or Portuguese to: sdnconferencialisboa@gmail.com

Deadline for submission of abstracts: 31 October 2018

Date of notification of acceptance: 15 December 2018.
N.B. Submissions can be made in English, French or Portuguese. However, to facilitate debate the organizers encourage participants to use English in their oral presentation.
A publication of some of the papers presented at the conference is a future aim.
The registration will have a fee of 25 EUR. 

Organizing Committee
Aurora Almada e Santos (IHC – NOVA FCSH) 
Cristina Rodrigues (IHC – NOVA FCSH) 
Bruno Cardoso Reis (ISCTE-IUL) 
João Paulo Avelãs Nunes (CEIS20 – Universidade de Coimbra) 
Pedro Aires Oliveira (IHC – NOVA FCSH) 
Yvette Santos (IHC – NOVA FCSH)

Scientific Committee
Álvaro Garrido (CEIS20 – Universidade de Coimbra) 
Aurora Almada e Santos (IHC – NOVA FCSH) 
Bruno Cardoso Reis (ISCTE-IUL) 
Cristina Rodrigues (IHC – NOVA FCSH) 
Erez Manela (Harvard University) 
Fernando Tavares Pimenta (IPRI – NOVA FCSH) 
Filipe Ribeiro Meneses (Maynooth University) 
Hipolito de la Torre Gómez (UNED) 
Luís Nuno Rodrigues (ISCTE-IUL) 
Maria Manuela Tavares Ribeiro (CEIS20 – Universidade de Coimbra) 
Mark Mazower (Columbia University) 
Nicolas Werth (CNRS) 
Patricia Clavin (University of Oxford) 
Patrick Finney (Aberystwyth University) 
Pedro Aires Oliveira (IHC – NOVA FCSH) 
Philippe Rygiel (École Normale Supérieure - Lyon) 
William Mulligan (University College Dublin) 
Yvette Santos (IHC – NOVA FCSH)

Institutional Sponsorship 

Diplomatic Institute / Portuguese Ministry for Foreign Affairs 

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Como reformar a economia, independentemente do presidente - livro: Affonso Celso Pastore, Mario Mesquita (orgs.)

Livro indica saídas para retomada da economia

Intelectuais e economistas, entre eles o ex-presidente do BC, Affonso Pastore, estão entre os autores; obra será lançada nesta terça-feira, 25, em São Paulo

O Estado de S.Paulo 
A menos de duas semanas das eleições, um grupo de 15 intelectuais e economistas – entre eles o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore e o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita – lançam um livro que reúne sugestões para colocar a economia do País em uma nova rota de crescimento. Com propostas “liberais, mas não partidárias”, nas palavras de Pastore, o livro ‘Como Escapar da Armadilha do Lento Crescimento’ não pretende fazer um “lobby por ideias”, mas reaquecer a discussão em torno de temas como contas públicas, reforma da Previdência, produtividade e privatização de bancos.
 “Há questões (importantes para o crescimento) como a abertura econômica, que, se você falar na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), vão para cima de você. Mas queremos discutir esses temas com base em dados”, diz Pastore, que também é colunista do Estado. “Fizemos uma análise sobre o porquê de o País não crescer para (poder ser usada por) quem quer que ganhe a eleição”, acrescenta. 
Segundo Pastore, apesar de o Brasil não viver uma crise aguda como a do início dos anos 2000, quando a inflação superou 12% ao ano e o risco país bateu a casa dos 2.400 pontos (hoje está em 260 pontos), a solução para o impasse atual é mais complexa – daí a necessidade de um debate amplo em torno dela. 
“Antes, o governo apenas precisava se comprometer com a meta de superávit primário. O que era simples de cumprir: não havia o gasto que se tem hoje e havia a possibilidade de aumentar receita, o que não é possível agora”, acrescenta Pastore, coordenador do livro. 
Um dos capítulos da obra, assinado por Mario Mesquita e Pedro Schneider, mostra que a proposta final do governo de Michel Temer para a reforma da Previdência seria capaz de fazer apenas 25% do ajuste necessário para equilibrar as contas públicas. Diante desse cenário, entre as sugestões dos autores para que o teto dos gastos seja cumprido estão o fim da desoneração da folha de pagamentos e uma reforma no abono salarial (benefício social que funciona como uma espécie de 14.º salário para trabalhadores que recebem até dois salários mínimos por mês).
Com oito capítulos, o livro de 600 páginas começou a ser escrito no início deste ano. Além de Pastore, Mesquita Schneider, ele traz textos de autoria de Alexandre Schwartsman, Ana Carla Abrão Costa, Bernard Appy, Caio Carbone, Jairo Saddi, Klenio Barbosa, Paulo Tafner, Pedro da Motta Veiga, Marcelo Gazzano, Marcos Lisboa, Sandra Polónia Rios e Sérgio Lazzarini. 
A obra, em formato digital, será lançada nesta terça-feira, 25, a partir das 16h, no Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP), em São Paulo, com apresentações das propostas.
 
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Opinioes sobre o processo eleitoral e um convite a razao - Paulo Roberto de Almeida e Paulo Hartung

Opiniões sobre o processo eleitoral e um convite à razão

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de setembro de 2018
 [Objetivo: considerações sobre o momento eleitoral; finalidade: convite à razão]


Com a aproximação do primeiro turno das eleições, e preocupado como muitos brasileiros bem informados com a crescente polarização do processo eleitoral, produzi, nas últimas semanas e dias recentes, uma série de pequenos textos oferecendo opiniões pessoais e considerações sobre a importância do pleito para algumas grandes definições para o nosso futuro imediato, em meio a uma crise sem precedentes em nossa história, e na perspectiva de uma radicalização indesejável do cenário político em torno das candidaturas mais salientes, podendo desembocar num acirramento ainda maior do clima político-ideológico, sem que se possa excluir, a priori, consequências ainda mais nefastas no plano dos embates entre grupos, movimentos e partidos opostos.
Reuni aqui alguns desses textos, oferecendo outros à consulta em meu próprio blog, uma vez que eles foram objeto de divulgação anterior; todos eles fazem parte da primeira parte do título deste texto: “opiniões sobre o processo eleitoral”. O “convite à razão” refere-se à recente entrevista dada pelo governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, ao jornalista Geraldo Samor, que me pareceu um primor de equilíbrio e de sensatez; ela vai transcrita ao final, por se tratar de texto relativamente longo. Minha opinião, a esse respeito, é a de que ele próprio deveria ser o objeto dessa reunião dos “centristas” em torno de uma candidatura única, uma vez que os candidatos já em liça não parecem pretender renunciar em favor de qualquer um dos demais; ele seria, então, o único representante do bloco centrista, perspectiva que me parece extremamente difícil. 

(A) Minhas opiniões pessoais sobre o processo eleitoral: 
Sou minoria, tenho plena consciência disso, e pretendo continuar minoria, por absoluta fidelidade a certos valores, princípios e posturas políticas e econômicas, devidamente declaradas aqui mesmo, neste espaço.
Pretendo apenas deixar clara esta minha reflexão preventiva, às vésperas de um desastre anunciado, catástrofe decidida democraticamente pela maioria da população brasileira, na completa abstenção, inépcia e corrupção das pretensas elites brasileiras, que, mais uma vez, nestes quase 200 de Estado nacional, se revelam novamente incompetentes na tarefa de construção de uma nação digna e próspera.
Não culpo o povo pelo desastre já previsto. Culpo sim as elites, entre as quais me incluo, por mais este fracasso como sociedade.
Bye-bye Brasil: nos vemos novamente em mais quatro anos, quando aliás estaremos “comemorando” patéticos duzentos anos de má construção da nação, pela mediocridade absoluta dessas elites às quais pertenço.

1) “Por que votarei em João Amoedo?”
(Brasília, 3312; 3 agosto 2018, 4 p.) Digressão sobre um Brasil melhor. Blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/08/por-que-votarei-em-joao-amoedo-paulo.html).

2) Mini-reflexão sobre o atual momento político brasileiro” 
(Brasília, 3318; 10 agosto 2018, 2 p.) Considerações pessimistas sobre a mediocridade que parece predominar no cenário político. Blog Diplomatizzando (https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/08/mini-reflexao-sobre-o-momento-politico.html).

3) “Minha postura político-eleitoral”
(Brasília, 3327; 10 setembro 2018, 3 p.) Desmentido, pela terceira vez, de que eu possa trabalhar ou apoiar o candidato da direita nas eleições de outubro de 2018, ou de que vá servir a um governo dessa linha; com acréscimo em 24/09/2018. Blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/09/nao-sou-eleitor-de-bolsonaro-nem-vou.html).

4) Apelo para um voto realmente útil, benéfico e necessário”
(Brasília, 3328; 16 setembro 2018, 2 p.) Considerações sobre um processo de reagrupamento centrista, o único capaz de tornar o atual processo eleitoral brasileiro menos propenso a uma concentração nos extremos, o que seria prejudicial à superação da fragmentação atual do cenário político. Postagem no blog Diplomatizzando(https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/09/apelo-para-um-voto-realmente-util.html).

5) “Mini-reflexão às vésperas de um desastre”
(Brasília, 3335; 25 setembro 1 p.) Pessimismo num alerta preventivo em face de mais quatro anos de mediocridade. Postado no blog Diplomatizzando  (https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/09/mini-reflexao-as-vesperas-do-desastre.html).

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(B) Um convite à razão: entrevista com o governador Paulo Hartung
Minha introdução a esta entrevista magnífica. Trata-se de leitura absolutamente imperdível: uma grande entrevista, de um grande político (de um pequeno estado), um grande ser humano.
Quem fará o gesto não apenas magnânimo, mas simplesmente inteligente, e absolutamente necessário, de tomar a iniciativa de sentar, conversar e se dispor ao sacrifício absolutamente imprescindível de renunciar às suas ambições pessoais, mesquinhas, de pequena política, para pensar no destino do Brasil e dos brasileiros?
A incapacidade de esses quatro ou cinco candidatos centristas de se concertarem entre si para formar uma coalizão dos “bons”, nos deixará, e ao Brasil, entregues a um dos polos, ambos inadequados e indesejados na situação atual do país. Se tal conferência dos “razoáveis” não for conduzida rapidamente, os brasileiros se dividirão nos dois polos atualmente melhor posicionados. Isto será um desastre para o país, com toda a ênfase que eu posso emprestar à palavra DESASTRE. 
Será a confirmação definitiva de que nossas pretensas “elites” são efetivamente ineptas, inconscientes e declaradamente estúpidas. Elas próprias estarão decretando a falência da construção de uma nação razoável, e estarão convidando outras elites, os quadros de classe média bem formados, a deixarem definitivamente o Brasil, como muitos já estão fazendo. Quando um país perde os seus melhores quadros, como já aconteceu na Venezuela, ela já está convidando oportunistas criminosos a tomarem conta do Estado. 
A Grande Guerra (1914-18) arruinou absolutamente a Europa e o mundo: os grandes problemas atuais ainda derivam de seus efeitos deletérios, sobretudo em termos de ideias (fascismo, comunismo, dirigismo, etc.). Ela não teria acontecido se os líderes (imperadores e um presidente) tivessem conversado mais uns com os outros do que terem ouvido seus generais, que prometiam uma guerra curta e vitoriosa. Pois eu proclamo a necessidade de os quatro ou cinco candidatos de centro de se reunirem numa conferência política pré-guerra (eleições) para decidirem sobre o destino maior do Brasil, que não será resolvido por um dos dois polos. Leiam a entrevista do Paulo Hartung e tenham esse gesto magnânimo e inteligente. Do contrário teremos uma Grande Guerra no Brasil e todos os seus efeitos devastadores (fascismo, comunismo, dirigismo, etc.).
Não terá sido por falta de aviso de minha parte. 
De um leitor da História.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de setembro de 2018

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Paulo Hartung: união dos reformistas exige o 'primeiro passo'
Governador fala em 'ambiente péssimo' e defende agenda em torno de ideias
Geraldo Samor
Brazil Journal, 22/09/2018 às 12h58

VITÓRIA — Quando assumiu o Governo do Espírito Santo em janeiro de 2015, Paulo Hartung teve que renegociar o orçamento daquele ano com o Legislativo, que o aprovara meses antes. O novo orçamento cortou R$ 1,3 bilhão da receita que estava superestimada.
Não só a Assembleia aprovou a alteração, como o Ministério Público, a Justiça estadual e o Tribunal de Contas também aceitaram reduzir seus orçamentos.

No fim daquele ano, a receita do Estado bateu exatamente com a receita prevista, e Hartung nunca atrasou pagamentos a servidores ou fornecedores. 
Em seguida, o Governador enfrentou o que alguns de seus assessores chamam de ‘as sete pragas do Egito’: a queda no preço do petróleo, o desastre ambiental que levou à paralisação da Samarco, que movimenta 5% do PIB capixaba; a maior seca da história do Estado; uma greve na Polícia Militar, e, para completar, a descoberta de que o Governador estava com um câncer (do qual ele já se curou).

Logo no início do mandato, o governador conseguiu aprovar a 'PEC da Impessoalidade’, removendo logomarcas das propagandas do Estado e acabando com a foto oficial do governador nas repartições públicas.

Hartung é um homem público exemplar numa era de descrédito profundo com a classe política; uma voz de ponderação num ambiente marcado pelo entrincheiramento e tribalização; e um gestor com todas as contas em dia — numa época em que a maioria dos estados está quebrada.  

Por tudo isso, o Brazil Journal procurou o governador para falar sobre a eleição e o futuro do País.

O senhor vê espaço para um acordo que leve a uma candidatura única de centro nos próximos dias, ou o país está condenado a um segundo turno entre dois candidatos cujo maior mérito é ser o anti-outro? 
Espaço nós temos, porque as eleições no mundo inteiro vem sendo decididas em cima da hora. Qual o problema que eu vejo? Quem vai dar o primeiro passo. E todos também acham que a convergência deve ser em torno do seu nome. O fato é que nós temos eleições polarizadas entre os extremos, mas se a gente somar os extremos não chega a 60%. Ou seja, esse campo que eu chamo de reformista, que é onde eu me encontro, estão uns 40% do eleitorado brasileiro. Se este campo sair da fragmentação em que se encontra – uma fragmentação brutal, com cinco candidaturas – e conseguir alguma unidade, ele está disputando o segundo turno, o que seria ideal até para qualificar o debate, que está muito raso. 

Se os candidatos não fizerem isso, é possível que o eleitor faça por eles. Talvez esteja faltando um curto-circuito, uma fagulha que possa provocar isso. Seguramente esse curto-circuito não será uma facada nem tiro, e sim uma percepção da população de que não é com mais populismo e com mais demagogia que vamos enfrentar este momento difícil que o País está vivendo. 

O Brasil está totalmente quebrado, com suas contas desorganizadas. Está perdendo espaço num mundo integrado que – sim, tem problemas – mas também tem enormes oportunidades, e nós estamos perdendo essa janela. Se o eleitor perceber isso, pode ser a fagulha que está faltando. 

Em quem o senhor vai votar?
Eu já decidi. Eu vou votar num candidato que flerte com essa agenda reformista, na qual eu acredito, e que esteja, ali nos últimos três ou quatro dias, em condições de disputar o segundo turno. Eu acho que não está na hora da gente ficar com grupinho, facção, partidarismo. Está na hora da gente tentar dar rumo ao País, porque o povo brasileiro não merece viver esse sofrimento que está vivendo.

Um acordo entre os candidatos nesta reta final seria um fato histórico e, em última análise, daria o status de 'estadistas' aos envolvidos. É muito difícil para um político colocar o País acima da sua ambição pessoal?
Acho que não. O problema é que o sistema político do Brasil fez água. Está literalmente destruído. Um partido é uma parte do pensamento da sociedade, mas o que está aí não tem nada a ver com a busca do pensamento da sociedade, é a busca ao tesouro do fundo partidário e do tempo de televisão para fazer negociação. Os partidos estão no vinagre. A nossa estrutura eleitoral já era ultrapassada desde a Constituição de 1988. 

Falta o sentido do interesse público a esses agentes? Eu não diria isso. Talvez se um dos candidatos tomasse a atitude de desistir da candidatura, poderia ser um dominó. Vários seguiriam o mesmo caminho e eu acho que eles ganhariam muito respeito da sociedade se assim praticassem. Não é falta de espírito público, o que está faltando é o primeiro passo, a primeira atitude a ser tomada nesse processo eleitoral, porque algumas candidaturas não conseguiram decolar. Então, se eles dessem esse passo seria importante. 

O senhor fez parte de um grupo que defendeu a entrada de 'outsiders' na disputa eleitoral deste ano. Conversou com Luciano Huck, Joaquim Barbosa, sobre isso. Qual era sua visão naquele momento? 
Eu conversei com muita gente, com o Luciano, que é uma agradável surpresa. Eu não conhecia o Luciano. É uma pessoa sensível, preparada, com uma boa reflexão de Brasil. O ministro Joaquim já conhecia e admirava há muito anos. É uma relação mais antiga. Conversei muito com o Bernardinho, outra figura que trabalha o conceito de liderança. Citei três nomes, mas podia citar 30. Eles tiveram muito entusiasmo para entrar na vida pública, foram para perto, conhecer essa bagunça da estrutura política e partidária do País e acabaram recuando. E tem razões de sobra para recuar, porque o sistema que está aí é avesso à inovação, ele bloqueia a inovação. É um muro de contenção para não deixar o processo de alternância de lideranças ser processado no nosso país. 
Na minha visão, esta era uma eleição boa para um outsider disputar. Um outsider que tenha uma visão da economia, que tenha uma boa sensibilidade social… Nosso país é muito desigual, não dá para você ter uma visão apenas da economia, você tem que ter uma visão de como você cria e estrutura o reino da oportunidade para todos. Eu acho que era um momento interessante para um outsider porque quebraria o monopólio desses extremos. 

Desde o início eu achava que viriam os extremos. Só os extremos conseguem falar a uma nação desesperançosa. No mundo inteiro foi assim. Na hora que colapsa, são os extremos que conseguem dialogar com a sociedade colapsada – e a sociedade brasileira está literalmente colapsada. E eu achava que entrando ali uma pessoa fora do jogo da política não viria com esse desgaste das estruturas políticas e teria a capacidade de falar e ser ouvido.
Se os candidatos de centro não se unirem ou nenhum deles passar para o segundo turno, ainda assim o centro político vai ter que conversar com os dois extremos que passarem. O senhor acha que essa conversa tem que ser ao redor de quê? 
Eu acho que o que deve presidir a nossa ação no primeiro ou no segundo turno, der o que der – e eu estou torcendo para que algum candidato com a agenda correta vá para o segundo turno – é programa. Toda vez que as forças políticas – até as forças razoáveis do nosso país – flertaram com esse negócio de cargo, de ocupação em governo, fizeram bobagem. Agora, recentemente, fizeram mais uma. Não é isso que tem que estar em disputa. 

O que tem que estar em disputa é o programa que nós vamos implementar. Como a gente tira esse país da crise fiscal, como reorganiza a Previdência, quando a gente sabe que estamos vivendo mais e não pode ter um país com idade mínima? Como a gente tira os privilégios da área previdenciária? Vamos ser o país dos privilégios e dos privilegiados a vida inteira? Temos que quebrar isso. Como faz? Como é que a gente conserta as contas públicas? Como é que a gente dá competitividade à nossa economia frente a um mundo que tem a economia globalizada? Como a gente integra a economia brasileira nas grandes cadeias internacionais de produção, de consumo e assim por diante? Esse é o nosso desafio. Eu estou focado nisso. Se a gente tomar o caminho certo, a gente dá jeito no país. Se a gente continuar flertando com o caminho fácil, que é o caminho da demagogia, do populismo, vamos continuar vendo nosso país perdendo espaço no mundo e nossa população vivendo cada vez pior. 

O senhor disse que vai votar no candidato reformista que estiver mais bem colocado às vésperas da eleição. Hoje, no debate político, mesmo as pessoas que votam em candidatos reformistas tem muitas reservas quanto aos outros candidatos. O senhor diria que este é o momento de focar no que é comum, em vez de focar nas diferenças?
Acho que sim, até porque essas diferenças são minúsculas quando comparadas com as posições que estão no extremo da política brasileira e liderando as pesquisas. Aí é meu sentido prático – e eu sou uma pessoa muito prática. Eu acho que a gente precisa ter uma noção do quadro que nós estamos vivendo e do perigo que nós temos, que é um perigo objetivo. Não é criar pânico nas pessoas. 

O país nesses últimos anos fez tudo errado. Queimou o que tinha, queimou o que não tinha. Se o País não acerta o passo, ele não suporta mais quatro anos de aventura, de inexperiência administrativa, de testar coisas que já deram errado no mundo inteiro e repete aqui no Brasil de novo. Não tem espaço para uma 'nova matriz econômica'. Não adianta ir para o governo com a cabeça de que governo pode tudo, faz e acontece. Não é isso. Nós sabemos que não é isso. Precisamos sair do caminho fácil da demagogia e seguir o caminho certo das reformas que precisamos enfrentar. 

Vai ter sacrifício. Tem que falar abertamente para a população. A vida é assim. Você planta, você cuida e daqui a pouco está colhendo. Neste mandato, estou colhendo resultados na educação. As pessoas falavam: "educação, fazendo tudo certo, em 10 anos você começa a colher resultado". Não é verdade. Fizemos o certo, buscamos as boas experiências educacionais no Brasil: de Pernambuco, de Sobral, implantamos o 'Pacto pela Aprendizagem' aqui para cuidar do ensino infantil e fundamental, pegamos uma experiência do Instituto Unibanco, que também é uma intervenção importante na escola de ensino médio, de tempo parcial… e agora colhemos aí a melhor nota do Ideb… E o que é mais importante que a nota: uma evolução positiva dentro de toda a rede capixaba. 

Você tem que plantar, cuidar para poder colher. 

O que o senhor diria para as pessoas que estão desanimadas com a perspectiva de um segundo turno Bolsonaro X Haddad?
Escolha um candidato com a boa agenda, com bons propósitos, vota nesse candidato, e arranja mais uns 10 votos, para ver se tem algum bom candidato lá no segundo turno criando opção [risos]. Eu estou brincando aqui, mas vou falar sério: eu acredito na política. As pessoas falam assim: "com esse Congresso não se governa o País". Não é verdade! Governa. Tem que ir lá. Esse é o Congresso que o povo brasileiro colocou? Quem vai interagir com o Congresso tem que ir lá conversar, dialogar, explicar porque nós precisamos mudar uma lei. Por que essa lei do jeito que está escrita está prejudicando a competitividade das empresas brasileiras. 

Eu acredito na política como ferramenta civilizatória. Eu acho que nós humanos quando descobrimos a política ficamos mais humanos. Esse é o sentido. A política – estou falando da política com P maiúsculo – pega uma situação de conflito paralisante e transforma aquilo ali numa ação renovadora. Esse é o papel da política. Quando eu falo que a política brasileira precisa ser transformada, estou falando das instituições que o homem criou e precisam ser atualizadas. Mas a política como ferramenta tem uma potência enorme. 

O que vier aí, no primeiro e no segundo, dá para tratar com a política. Com o diálogo, procurando caminho e assim por diante. A minha palavra não é de desespero, não. Eu estou operando nessa realidade. É uma realidade adversa? É claro que é. O solo que nós estamos pisando nessa eleição é movediço, fruto de tudo o que o país viveu, somado ao que a democracia está vivendo de problemas. 

Quem está botando esses dois candidatos na frente? Qual o sentimento? 
Tem de tudo. Tem um sentimento de decepção, misturado com raiva de tudo que vem acontecendo no Brasil. O sentimento da população é de chutar o pau da barraca, não tendo a paciência de pensar na cabeça de quem vai cair a danada dessa barraca. 

Eu não vou tirar a razão da população. Passar por tudo isso aí que nós passamos e continuamos passando, assistir o que a gente assiste na televisão toda noite – desvios, maus feitos – a reação da população é natural. Agora, nós, que temos um papel de liderança, temos que saber direcionar essa energia para um caminho que seja positivo para o Brasil.

Momentos como esse produziram, na caminhada civilizatória, resultados muito ruins. Eu sou um leitor inveterado de história e sei que ambientes péssimos como esse muitas vezes produziram caminhos políticos que são verdadeiros descaminhos. A gente precisa estar atento, dialogando muito, conversando muito. E volto a dizer: acho que a gente tem que fazer um esforço final de colocar o nosso pensamento no segundo turno ou dar um tamanho a ele para que, em qualquer circunstância, ele possa sentar à mesa para dialogar o futuro do país. E dialogar não em termos de pessoas e funções, mas dialogar em termos de ideias. É um diálogo programático para o País, coisa que nós ainda não estamos acostumados a fazer.
O que motivou a sua decisão de não buscar a reeleição este ano?
Primeiro, uma carreira muito longa. Foram oito eleições que eu disputei: já fui deputado estadual, federal, senador, prefeito da capital, três vezes governador, três vezes eleito em primeiro turno, sempre com muito apoio e carinho da população. Eu confesso aqui, pela primeira vez, que eu já vinha pensando que eu tinha que parar em algum momento. Essa coisa tem que saber a hora de entrar e a hora de parar. Muito mais bonito que o milésimo gol do Pelé foi ele saber a hora de parar. Precisa ficar um gostinho de 'quero mais', de saudade. Não pode esperar que você chegue a um final ruim, melancólico; sempre tentei desviar disso, vou ser muito franco. 

Evidente que o ambiente da política também não é o melhor, nem no mundo, muito menos no Brasil, que eu acho que é o pior ambiente que eu acompanho mundo afora: soma a crise da democracia representativa, o sombreamento que está vivendo a política, com os problemas de recessão econômica, as famílias empobrecendo e a crise ética. 

Eu sempre pensei que tinha uma hora para parar e soma-se a isso essa crise da política. Eu tomo muito cuidado para falar disso porque eu fico preocupado em não passar uma mensagem errada para os jovens, que eu quero que entrem na política. Eu sou um formador de quadros, em todo lugar que eu fui eu tive a preocupação de formar quadros. Mas isso pesou também na minha decisão. 

Mas não vou deixar de fazer política. Aqui eu dou um recado bom para a juventude: eu vou morrer militando na política. Eu vou morrer escrevendo artigos, dando palestras, defendendo boas teses, boas ideias. Eu vou lutar a vida inteira para melhorar nosso País, para que ele deixe de ser o eterno país do futuro que não se realiza. Se a gente realizar o potencial do Brasil, nós vamos devolver a esperança aos nossos jovens, que é uma coisa que me preocupa muito. A juventude brasileira está descrente de tudo, e com razão. Nós precisamos injetar esperança nos jovens.

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