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sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Mini-reflexao sobre o momento político brasileiro - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre o atual momento político brasileiro (aparentemente de polarização entre bolsonaristas isolados de um lado, e todos os anti-bolsonaristas de outro):

A suposição implícita ao apoio ao candidato Bolsonaro é a de que, ademais de representar rejeição a tudo isso que está aí (inclusive o desprezo popular pelo consenso anti-Bolsonaro de intelectuais e jornalistas), ele também seja capaz de superar o CAOS político, econômico e MORAL no qual se debate hoje o Brasil.

Trata-se uma tremenda suposição otimista, tendo-se em conta as qualidades implícitas e a capacidade política desse candidato em face, justamente, dos enormes desafios que esse mesmo CAOS coloca não somente a um hipotético super-estadista (que seria preciso para resolver todos os atuais problemas e os de médio prazo), mas a qualquer ser humano.

Minha profecia pessimista quanto ao que virá no quadriênio 2019-2022: o Brasil, pela INCAPACIDADE demonstrada por seu sistema político inepto e corrupto, pela mediocridade absoluta de suas supostas elites (integrada por capitalistas promíscuos, por mandarins arrogantes e centrados em seus privilégios de Ancien Régime e por esses mesmos políticos autistas), por essa incapacidade de reformar-se a si próprio e de empreender as tremendas reformas de que o país necessita para retomar um processo sustentado de crescimento econômico, com transformação produtiva e distribuição social de seus benefícios, o Brasil, repito, continuará a chafurdar no pântano de sua própria decadência e mediocridade, na letargia de seu atraso mental (que é o de suas supostas “elites”, inclusive as criminosas que o governaram desde o início do milênio), na irrelevância da nação para fins de governança global, no ridículo de apresentar-se como a “oitava maior economia mundial”, continuando a ser o que sempre foi: um inveterado introvertido, um protecionista orgulhoso de se-lo, um nacionalista rastaquera, um eterno patrimonialista inconsciente de se-lo. Enfim, até agora, um projeto fracassado de nação, que, invertendo o ciclo toynbeano, conseguiu decair antes de ascender ao pico de suas possibilidades. A anomia social, a divisão política (e mental, pela ação de gangues políticas criminosas), a fragmentação partidária, o estatismo esquizofrênico de seus empresários, a degeneração “subintelequitual” de seus acadêmicos gramscianos (gente que nunca leu Gramsci, nem Marx, nem nada), a arrogância de seus mandarins, a baixa educação política (ou a medíocre educação tout court) da maior parte da população, tudo isso nos leva a uma mediocridade continuada pelo futuro previsível.
Estarei sendo muito pessimista?
Não creio: outros povos, muitas nações antes de nós, entraram num declínio irresistível sem jamais terem sido invadidos por bárbaros, sem terem sido destruídos em algum conflito militar, sem qualquer catástrofe natural.
Nós somos nossos próprios algozes, manada de lemingues caminhando inconscientemente para o abismo (que nem precisa ser muito profundo: basta ser o pântano no qual já estamos).
Só posso desejar boa decadência a todos nós...
Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 10/08/2018

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