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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 22 de novembro de 2015

Partido Totalitario homenageia seus mafiosos: natural - Carlos Brickmann

COMPANHEIRO É COMPANHEIRO
Carlos Brickmann
18 /112015

Nada pode ser mais autenticamente petista: o 3° Congresso da Juventude do PT, que se iniciou na sexta, em Brasília, com presença e discurso do maior ícone petista, o ex-presidente Lula, e transmissão ao vivo pela Agência PT de Notícias.

E qual a posição oficial deste congresso oficial petista? Apoio total a José Dirceu, que já cumpriu pena por seu papel no Mensalão, que está preso preventivamente, pela acusação de receber propina, por ordem do juiz Sérgio Moro. José Dirceu é chamado, no encontro do PT, de Guerreiro da Democracia e Guerreiro do Povo Brasileiro. Os jovens petistas manifestam apoio também, em cartazes, a José Genoíno, Delúbio Soares e José Paulo Cunha, condenados à prisão por participar do Mensalão, e João Vaccari Neto, que cumpre pena de 15 anos por corrupção. Mas estes estão um degrau abaixo de Dirceu, já que não são chamados de Guerreiros da Democracia, mas apenas de Guerreiros do Povo Brasileiro.

Agora já não se trata de desvio de conduta de dirigentes partidários, à revelia do partido: o PT os apoia formalmente, embora condenados por corrupção. E o ex-presidente Lula, líder maior do PT, confirma com sua presença esta posição.

Chama a atenção, neste 3º Congresso da Juventude do PT, a discriminação contra alguns condenados, que não mereceram ser chamados de Guerreiro do Povo Brasileiro e nem são lembrados, como o deputado federal André Vargas, condenado a 14 anos por corrupção. Ou Henrique Pizzolatto, que fugiu para a Itália e, depois de longa disputa judicial, cumpre 12 anos no Presídio da Papuda.

Corrupcao: o Brasil se prepara para uma nova onda companheira - Tiago Lobao e Cristiana Castro

Um escândalo, realmente, esse novo Regime de Contratação Diferenciada, que promete ampliar ainda mais os limites da corrupção oficial.
Paulo Roberto de Almeida

RDC para infraestrutura: avanço ou retrocesso?

28 Outubro 2015 | 15h 01

Análise publicada originalmente no Estadão Noite

A Medida Provisória nº 678, de 23 de junho de 2015, que tramitava no Senado, acaba de ser aprovada pelo plenário. O texto, que aguarda agora apenas a sanção da presidente Dilma, prevê, dentre outros temas, que as obras e os serviços de engenharia relacionadas a melhorias na mobilidade urbana e à ampliação de infraestrutura logística sejam realizados por meio do RDC (Regime Diferenciado de Contratação), o que, na prática, decretará o fim das licitações para obras de infraestrutura no País.

O RDC, instituído pela Lei nº 12.462/2011, visava, originalmente, uma maior eficiência nas contratações públicas, em especial frente aos eventos esportivos que ocorreram (Copa do Mundo) e que ocorrerão em 2016 (Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro).

De acordo com o RDC, a empresa ficará responsável pela obra toda, adotando um sistema de 'contratação integrada' que englobaria do projeto básico até a entrega final. Ou seja, o empresário teria toda a responsabilidade desde a elaboração do projeto básico à construção e operação da obra.

O governo deixa de ser o responsável por detalhar o projeto, passando apenas a encomendar a obra ao particular que sairá vencedor caso ofereça o menor preço. Contudo, assim como ocorre com diversos contratos públicos atualmente, por falta de especificações, eles se tornam obras inacabadas, gerando grandes elefantes brancos.

Fato é que, embora a Lei de Licitações esteja defasada em vários pontos, pois a mesma foi editada há mais de 20 anos e em um cenário e uma realidade muito diversos do atual, a aprovação da MP para aplicação do RDC a todos os tipos de contratação de obras de infraestrutura não seria a solução mais adequada para os problemas do País. Muito pelo contrário. Tal medida acabará por atropelar as discussões do Projeto de Lei do Senado (PLS) 559 de 2013, o qual prevê a Reforma e Modernização da Lei de Licitações, atualmente em discussão na Comissão de Assuntos Econômicos, transformando a exceção (RDC) em regra.

Portanto, além de trazer uma grande insegurança jurídica, a MP poderá ainda colocar em risco a qualidade da infraestrutura brasileira, haja vista a possibilidade de realização de projetos que não atendam a real necessidade do interesse público, fortalecendo ainda mais uma prática infelizmente corriqueira no nosso país, qual seja, a 'farra dos aditivos', e demonstrando a incapacidade da administração pública em gerir.

Assim, a lógica de transferir ao privado a responsabilidade pelos projetos é um caminho muito perigoso que poderá trazer um aumento de preços, aditivos, má qualidade da gestão, das obras, mantendo ainda brechas para um aumento da corrupção.

Não há dúvidas de que é necessária uma rápida modernização da infraestrutura do País, racionalizando os procedimentos de contratação. No entanto, a MP não atenderá este fim, ao contrário, tal procedimento pode colocar em xeque a eficácia e a transparência da administração pública, trazendo retrocesso e o aumento da corrupção nas contratações, cenário este diferente do clamado atualmente pela população, que busca transparência e honestidade.

* Tiago Lobão e Cristiana Castro são, respectivamente, sócio e advogada associada do Leite, Tosto e Barros Advogados

sábado, 21 de novembro de 2015

Alianças estratégicas do narcotráfico: essas amizades herdadas e incômodas...

Diz com quem andas e te direi quem és.

 

FILHO DO TIRANETE NICOLÁS MADURO DEU O SERVIÇO PARA AUTORIDADES DOS EUA: DIOSDADO CABELLO, O PRESIDENTE DA ASSEMBLÉIA NACIONAL É O CHEFÃO DO CARTEL DO NARCOTRÁFICO.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuKC75xKgb60KCZCklBMvvlnLkBN2Qm78IfCG97KV1JyqohobYpL0vbLJ8-PO9LWBTq2lBIE2KMLfkYFvAxdAUDYn711gBlUnrpLI1Yr4yCNtLWk_Fn-H66k4weL74-G8Bn3Na9A/s1600/LULA-DILMA-DIOSDADO.jpg

Recentemente Dioscado Cabello, acusado de chefe do narcotráfico na Venezuela, esteve no Brasil em contato com  Lula e Dilma. Como presidente da Assembléia Nacional é o segundo homem na hierarquia do poder na narco-comunista ditadura venezuelana.

Na semana passada, Nicolás Maduro foi tragado por um fato capaz de agravar a crise de legitimidade de seu governo. Dois sobrinhos de sua mulher, Cilia Flores, foram presos por tentar vender 800 quilos de cocaína a um funcionário disfarçado da agência antidrogas dos Estados Unidos (DEA). Aproveitando-se do passaporte diplomático, que lhes permitia ter isenção no controle de bagagem, Efraín Antonio Flores e Franqui Francisco Flores desembarcaram na terça-feira 10 em Porto Príncipe, capital do Haiti, com 5 quilos da droga. Era uma amostra do carregamento que estava pronto para ser enviado em um jatinho aos Estados Unidos, de uma pista clandestina no norte de Honduras. Em um quarto de hotel nas imediações do aeroporto local, os venezuelanos entregaram aos agentes que se faziam passar por traficantes a mala recheada de pó com um nível de pureza próximo de 100%. Os Flores queriam impressionar e provar aos falsos clientes, com quem vinham negociando desde outubro, que podiam fornecer grandes quantidades da melhor cocaína possível. Efraín, de 29 anos, foi adotado ainda criança por Cilia ao ficar órfão de mãe e era tratado como filho por Maduro.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibAoOJrvX7ovFfaTT3vhOPOikkjZQ4Tf2uv1F7TtafuHOuqNuGMvOzV2LQvtYb4jEVn-iIi64qVD3QysfjDI7g5d7c2tf6ICYpKapGLdmBRfv-bHdk_PhqxHAn1Smj2iflBh4A9g/s1600/maduroecabello-original.jpeg

DOIS VERMES: Diosdado Cabello é militar da reserva e foi homem de confiança do finado caudilho Hugo Chávez. Hoje divide o poder com Nicolás Maduro, na foto segurando o livro vermelho que contém a essência do regime opressor e assassino que domina a Venezuela há 16anos.

 

ENFRAÍN ENTREGOU DIOSDADO

No avião da DEA que os transportou para os Estados Unidos, Efraín revelou que ele e o primo eram apenas os mensageiros e que a droga pertence ao Cartel dos Sois. Seus chefes, eles asseguraram, são Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional, e Tareck al Aissami, governador de Aragua. Os nomes desses dois líderes chavistas são recorrentes nas delações referentes ao tráfico da cocaína produzida na Colômbia, que tem na Venezuela sua principal rota de escoamento. Em janeiro, Leamsy Salazar, um ex-guarda-costas de Cabello e do presidente Hugo Chávez (morto em março de 2013), detalhou o funcionamento do cartel chavista. Salazar implicou Cabello, Al Aissami e o filho de Chávez, Hugo Colmenares, na cúpula do grupo criminoso. A prisão dos sobrinhos da primeira-dama empurrou Nicolás Maduro para o centro de uma investigação que nos últimos três anos vem corroendo a reputação do chavismo e revelou que não existe fronteira entre o regime instituído em 1999 e o narcotráfico. Maduro, cujo governo enfrentará uma difícil eleição legislativa no início de dezembro, se diz vítima de uma conspiração imperialista. Esse discurso pode funcionar para uma parcela da esquerda latino-americana, mas não na Venezuela.Um funcionário ligado à investigação contou a VEJA que os Flores esperavam apenas pelo pagamento de 100 milhões de dólares para dar a ordem de decolagem ao jatinho rumo aos Estados Unidos. Depois de misturado com outras substâncias, o carregamento poderia render o triplo desse valor no mercado americano. Mas a dupla foi surpreendida com uma ordem de prisão seguida de imediata extradição para os Estados Unidos. Na quinta-feira passada, os primos foram indiciados em um tribunal federal de Nova York por tráfico de drogas e conspiração. Pelas leis americanas, esses crimes podem ser punidos com prisão perpétua. 

Do site da revista Veja

Bandidos petralhas do povo petista: os guerreiros da corrupcao desenfreada

Inacreditáveis petralhas: eles ainda não se constrangem de homenagear ladrões, corruptos, bandidos de alto coturno...
Paulo Roberto de Almeida 

Fotos estilizadas de petistas que tiveram os nomes envolvidos nos escândalos do mensalão e da Petrobrás, como o ex-ministro José Dirceu, Vaccari e seu antecessor Delúbio Soares, o ex-presidente do partido José Genoino e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, enfeitavam a quadra onde Lula discursou nesta sexta-feira, 20, durante o 3º Congresso da Juventude do PT, em Brasília, com a frase “guerreiros do povo brasileiro”. Além de Vaccari, Dirceu está preso em Curitiba.
Cobrado pelos jovens por sua aliança com o PMDB, o ex-presidente reiterou que o “ideal” seria que a Presidência, os 27 governadores, os 513 deputados federais e os 81 senadores fossem da esquerda ou “de um partido só”.
(O Estado de S. Paulo, 21/11/2015)

Pasadena arranjada: alguem ainda tinha alguma duvida disso?

Foi um grande negocio, quase totalmente bem sucedido, não fosse pelo primeiro delator anônimo da Petrobras. 
Paulo Roberto de Almeida 

 

21 de Novembro de 2015

http://www.diariodopoder.com.br/noticia.php?i=44595697298

 

Depoimento compromete Dilma com Pasadena

Caiu como uma bomba, no Tribunal de Contas da União, o depoimento que compromete a presidente Dilma com a compra superfaturada da refinaria americana de Pasadena, que provocou prejuízos de US$ 800 milhões (ou R$ 3 bilhões) ao Brasil. O conselho de administração da Petrobras, presidido por Dilma, analisou e aprovou o negócio um dia após ser fechado, segundo contou Aghostilde Mônaco de Carvalho, funcionário da Petrobras, que depôs sob acordo de delação premiada. 

 

Presidente no comando

A pressa na aprovação da compra de Pasadena pelo conselho de administração coloca Dilma como um dos responsáveis pelo negócio.

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Espanto no TCU

O depoimento de Aghostilde foi lido pelo ministro Vital do Rêgo, relator da tomada de Contas Especial na Petrobras. Causou estupefação.

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Ela sabe que é grave

Dilma tem tanto medo do assunto que, no início do escândalo, ela até divulgou nota culpando “parecer falho” de Nestor Cerveró pelo negócio.

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Delação premiada

Aghostilde assessorava Nestor Cerveró, na diretoria Internacional da Petrobras, e prestou depoimento ao Ministério Público Federal.

 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A Amante da Republica e a republiquetazinha dos salafrarios, gastando por conta - Carlos Newton

Em Domingo, 15 de Novembro de 2015 13:14,
GASTOS DO CARTÃO CORPORATIVO DE ROSE ENFIM SERÃO REVELADOS
Carlos Newton
 
Está chegando ao final um dos maiores mistérios da República. Os autos do Mandado de Segurança 20895, impetrado pelo repórter Thiago Herdy e por O Globo já estão conclusos desde 27 de março, na mesa do ministro Napoleão Nunes Maia Filho, do Superior Tribunal de Justiça, para que mande cumprir o acórdão da 1ª Seção da corte, que autorizou o acesso aos dados do cartão corporativo do governo federal usado pela ex-chefe da representação da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha. O tribunal acolheu pedido feito pela rede de jornais Infoglobo e pelo jornalista Thiago Herdy Lana para terem acesso aos gastos, com as discriminações de tipo, data, valor das transações e CNPJ/razão social.
TÓRRIDA PAIXÃO
Como se sabe, desde a década de 1990, quando se conheceram no Sindicato dos Bancários de São Paulo, numa reunião conduzida pelo dirigente sindical João Vaccari Neto, Rosemary era concubina do então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2003, ao assumir o poder, Lula trouxe a companheira para perto de si, nomeando-a para o importante cargo de chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo. E o romance prosseguiu, com o presidente usufruindo da companhia de Rose em 32 viagens internacionais que tiveram a ausência da primeira-dama. Tudo continua bem, até que novembro de 2012, já no governo Dilma Rousseff, Rose acabou envolvida na Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que investigou venda de pareceres técnicos para liberação de obras favorecendo empresas privadas, foi imediatamente demitida e está respondendo a processo.
DILMA USOU ROSE
Desde 2013, já rolava na Justiça o mandado de segurança apresentado pelo repórter Thiago Herdy e pelo O Globo para quebrar o sigilo dos gastos do cartão de Rose, sob argumento de que o acesso a documentos administrativos tem status de direito fundamental, consagrado na Constituição Federal e em legislação infraconstitucional. Em 2014, quando cresceu no PT o movimento “Volta, Lula”, para que o ex-presidente Lula fosse candidato, Dilma Rousseff resistiu e não quis abrir mão da candidatura. Lula insistiu e ela então lançou sobre a mesa a cartada decisiva, ameaçando divulgar os absurdos gastos de Rose no cartão corporativo da Presidência, que se tornariam um escândalo capaz de destruir a campanha eleitoral do PT, Lula foi obrigado a recuar.
DIREITO LÍQUIDO E CERTO
Para o relator do caso no STJ, ministro Napoleão Nunes Maia Filho, a recusa de fornecer os documentos e as informações a respeito dos gastos efetuados com o cartão corporativo, com o detalhamento solicitado, constitui violação ilegal do direito líquido e certo da empresa e do jornalista de terem acesso à informação de interesse coletivo, assegurado pela Constituição e regulamentado pela Lei 12.527/11 (Lei de Acesso à Informação). “Inexiste justificativa para manter em sigilo as informações solicitadas, pois não se evidencia que a publicidade de tais questões atente contra a segurança do presidente e vice-presidente da República ou de suas famílias, e nem isso ficou evidenciado nas informações da Secretaria de Comunicação”, afirmou em seu parecer. “A divulgação dessas informações seguramente contribui para evitar episódios lesivos e prejudicantes; também nessa matéria tem aplicação a parêmia consagrada pela secular sabedoria do povo, segundo a qual é melhor prevenir do que remediar”, concluiu o ministro, que vai mandar cumprir a sentença do STJ.
O PT VAI ÀS COMPRAS
Segundo o jornalista Cláudio Humberto, do site Diário do Poder, nos governos petistas de Lula e Dilma, de 2003 a 2015, os gastos com cartões corporativos já somaram R$ 615 milhões, o que significa mais de R$ 51 milhões por ano, enquanto em 2002, último ano do governo FHC, a conta dos cartões foi de R$ 3 milhões. Cerca de 95% dessas despesas são “secretas”, por decisão do então presidente Lula, que alegou “segurança do Estado”, após o escândalo de ministros usando essa forma de pagamento em gastos extravagantes, como pagar tapiocas, resorts de luxo, jantares, cabelereira, aluguel de carro, etc. Humberto diz que a anarquia chegou ao ponto de um alto funcionário do Ministério das Comunicações quitar duas mesas de sinuca usando o cartão, enquanto em São Bernardo, seguranças da família do então presidente Lula pagavam equipamentos de musculação com cartão corporativo e compraram R$ 55 mil em material de construção para a filha dele, Lurian. Quando o sigilo for quebrado, esta nação vai estremecer.
Será divertido, podem esperar.

Latin America and International Relations: invitation for a collective book

Latin America in the Third World, an edited volume
by Thomas Field
Your network editor has reposted this from H-Announce. The byline reflects the original authorship.

Type: Call for Papers
Date: December 15, 2015
Subject Fields:  American History / Studies, Diplomacy and International Relations, Latin American and Caribbean History / Studies, Political History / Studies, World History / Studies
Call for Papers

Latin America in the Third World

Editors: Thomas Field (Embry-Riddle College of Security and Intelligence), Stella Krepp (University of Bern), and Vanni Pettinà (Colegio de México)

Over the past few years, there has been a growing scholarly interest in the Cold War in the Global South.  This has given rise to a number of works on the nonaligned movement, the overlapping trajectories of decolonization and the Cold War, and the rise and fall of the Third World project during the 1960s and 70s.  Unfortunately, Latin America has largely escaped the attention of scholars interested in the larger Third World, despite the region's substantive participation in the nonaligned movement.  Throughout the Cold War, Latin American countries maintained ties with the Second World, and many o fthe region's regimes and popular movements identified with the Third World experience.

This edited volume will bring together emerging and established scholars whose work highlights a diverse range of strategies used by Latin American governments and political movements to forge ties with Communst bloc countries, with the nonaligned movement, and with one another.

We invite chapter abstracts regarding any aspect of the preceding paragraphs.  While we expect many of the contributions to be country-specific, potential themes include tricontinentalism, decolonization, anti-imperialism, and competing concepts of development, modernization, and natural resource sovereignty.  We welcome chapter abstracts dealing with political issues (high and low), political economy, society, labor, and culture.  We are not averse to abstracts dealing with US - Latin American relations, but we especially welcome submissions that explore Latin American agency, move beyond bilateral diplomacy, and make use of Latin American primary sources.

While contributions are sought for all Latin American countries participating in the Third World project, we are particularly interested in including chapter addressing how smaller countries conceived of their participation in the nonaligned movement.  Contributions are therefore sought for Central America, the Caribbean (including Puerto Rican political parties), Bolivia, Peru, Panama, Ecuardo, Uruguay, Colombia, and Venezuela.  These are in addition to the more obvious actors such as Argentina, Brazil, Cuba, Chile, and Mexico.

The deadline for abstracts is December 15, 2015.  Proposals should include a title, one-page outline, and one-page CV with a list of publications.  Following the acceptance of proposals in early January 2016, authors will receive editorial guidelines for submission of draft chapters (7,000 to 10,000 words) by December 1, 2016.

Proposal abstracts should be emailed to Thomas Field (thomas.field@erau.edu), Stella Krepp (stella.krepp@hist.unibe.ch), and Vanni Pettinà (vpettina@colmex.mx).

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A Igreja Catolica e o capitalismo: duas posicoes em debate


As duas posições são de um lado, as minhas, e de outro as de um leitor deste blog, que não preciso identificar pelo nome, pois o que interessa, na verdade, é o debate de ideias, o confronto de posições, não quem expressa os argumentos.
Então vamos a ele.
Nesta quarta-feira, 18/11/2015, como sempre faço quando encontro um excerto interessante de algum livro escrutinado pelo serviço de extratos de livros DelanceyPlace, postei um trecho de uma biografia do homem mais rico do mundo na passagem da Idade Média para a era moderna, Jacob Fugger:

O homem mais rico do mundo, Jacob Fugger - livro de Greg Steinmetz 

 http://www.diplomatizzando.blogspot.com.br/2015/11/o-homem-mais-rico-do-mundo-jacob-fugger.html

O que eu disse na introdução à transcrição do excerto  que causou tanto frisson num leitor manifestamente defensor da Igreja Católica?
Isto (e transcrevo primeiro o que eu disse):

"A Igreja Católica sempre teve essa inacreditável capacidade de pecar fragorosamente contra as principais leis da economia, pecados mortais, não simples pecados veniais, talvez atrasando o surgimento do capitalismo na Europa em um ou dois séculos.
Meu argumento é certamente impressionista, mas a Igreja continua a ser altamente expressionista contra a economia de mercado, contra o lucro, contra qualquer coisa que cheire a dinheiro.
Isso, mesmo sendo detentora de um banco (falido por roubo, corrupção e incompetência) e de imensos, gigantescos, incomensuráveis ativos materiais e muitos outros intangíveis.
O atual papa, por exemplo, é um peronista econômico, ou seja, um aloprado em matéria de economia. No resto ele é até bonzinho, reformista, e um bom sujeito, mas se os pobres dependessem dele para ficarem ricos, estão perdidos: é um grande destruidor de riquezas..."

E o que me escreve um leitor atento, que confessa estar decepcionado comigo, me equipara a Carta Capital e disse que vai abandonar este blog? Isto:

Caro PRA,
Afirmar haver a Igreja Católica 'talvez' atrasado o capitalismo na Europa em 'um ou dois séculos' não é um argumento 'impressionista', mas sim duplamente leviano:
. pela infantilidade da assertiva em si mesma;
. e pela impossibilidade de demonstração histórica séria de tal acontecimento.
Como leitor assíduo de seu blog, decepcionei-me ao ler uma colocação dessa espécie, não me surpreendendo, entretanto, com o nível dos comentaristas atraídos por tal postagem.
Pelo que vejo, esse blog assemelhou-se àqueles mantidos nos sites da Carta Capital e da Agência Carta Maior.
De hoje em diante, procurarei leitura mais saudável.
Cordialmente.

[Leitor que se foi..., supostamente]

Bem, vamos ao debate, agora.
Sinto decepcionar outra vez esse leitor, e talvez muitos outros mais -- o que não me preocupa muito, pois debate de ideias servem justamente para que cada um exponha suas posições -- mas vou recrudescer na minha afirmação sobre o papel essencialmente negativo da Igreja Católica na questão da economia, do desenvolvimento econômico, do surgimento e expansão do capitalismo.
A Igreja Católica fez um imenso bem à humanidade, durante séculos e séculos, ao preservar a cultura, a civilização, os valores cristãos (que são todos muito bons, comparativamente a outros, de outras religiões) e ao cuidar dos pobres e dos miseráveis por meio de suas obras caridosas e muitas coisas mais. Tudo isso não impediu certos papas de serem devassos, de cuidarem mais dos bens materiais do que dos valores espirituais e de terem incitado à violência contra heréticos (ou considerados tais) e infiéis, numa missão evangelizadora por vezes agressiva, estúpida e altamente danosa para certos povos. Todas as suas boas contribuições à cultura, à defesa da dignidade humana e da mulher tampouco impediram a Igreja Católica, sobretudo sua versão ultra-montana e carola, de ser uma barreira por vezes formidável ao desenvolvimento do espírito científico (que o digam Galileu, Copérnico, Giordano Bruno, Teilhard de Chardin e tantos outros).
Indo especificamente ao caso da economia, permito-me ressaltar o papel essencialmente negativo da Igreja Católica na acumulação de riquezas, no desenvolvimento dos negócios, no livre funcionamento dos mercados e na promoção da prosperidade dos mais pobres.
A própria biografia do Fugger demonstra isso, pelo lado do comércio de dinheiro, ou seja, empréstimos usurários ou próximos disso. O próprio papa Francisco não cessa de falar contra os mercados e contra a "sede de lucros". Tudo isso é essencialmente negativo, sobretudo para os mais pobres.
Em parte é ignorância econômica, o que se compreende do lado dos preconceitos ancestrais na história da humanidade; mas ao persistirem os preconceitos por tanto tempo, isso já se torna estupidez consumada, e eu não tenho nenhum problema em acusar o papa Francisco de estupidez econômica crassa, e de preconceito infantil contra o capitalismo e contra os mercados.
Por tudo isso, ouso dizer, mesmo correndo o risco de ser impressionista, mas não temendo sê-lo, que a Igreja Católica não atrasou o desenvolvimento do capitalismo em apenas um ou dois séculos, mas provavelmente muito mais, até hoje aliás, com suas posições alopradas em matérias econômicas.

Ao leitor frustrado com minhas posições, eu diria o seguinte.
Ser infantil ou não nessas minhas posições é meu direito, como é meu direito achar que esse leitor está mais preocupado com a reputação da Igreja do que com os fatos históricos.
Ser duplamente leviano é também um direito meu, mas tampouco o leitor me trouxe argumentos que fossem contrários às minhas posições -- ele só fez acusações contra mim, segundo aquele velho costume de atirar contra o mensageiro, em lugar de debater a mensagem -- e menos ainda trouxe argumentos em favor de suas posições, que seriam supostamente a de que a Igreja não apenas não atrasou o capitalismo, como ela contribuiu tremendamente para o seu desenvolvimento.
Pode até ser, mas se ele não avançar fundamentações empíricas a esse tipo de posição, suas acusações ou defesas não valem absolutamente nada.
Minhas posições estavam apoiadas nesse livro de história, de biografia do banqueiro Fugger, que teve de fazer contorsionismos para manter uma atividade altamente capitalista em face da hostilidade de certos homens da Igreja (que nada mais faziam senão refletir as posições retrógradas da Igreja em matéria econômica).
Quanto a dizer que meu blog está ficando parecido com Carta Capital e Agência Carta Maior, é simplesmente ridículo, mas eu acrescento mais uma coisa a esse respeito.
Como acadêmico não religioso e não fundamentalista, eu leio absolutamente de tudo, inclusive esses dois sites, constatando, na maior parte das vezes como eles são, pela ordem: 1) estúpidos; 2) de má-fé; 3) desonestos "subintelequitualmente". Mas nem por isso tenho problemas em lê-los, uma vez que eles refletem exatamente o que pensam os subinteliquituais da esquerda, e milhares, talvez a maioria, dos acadêmicos gramscianos (que nunca leram Gramsci) de nossas universidades.

Um último desejo: que o leitor expresse, uma última vez, antes de abandonar definitivamente este blog, seus argumentos em favor das "consequências econômicas da Igreja Católica".
Meu argumento é de que essas consequências foram essencialmente prejudiciais ao desenvolvimento econômico e à expansão do capitalismo, historicamente e mesmo agora. Basta considerar, por exemplo, as posições expressas na encíclica do papa peronista sobre o meio ambiente, que não falha em atribuir os desequilíbrios ecológicos e ambientais ao mercado, o que não é apenas ingênuo, mas estúpido. Ainda que certos capitalistas possam causar danos ao meio ambiente, é o livre jogo de preços, num mercado que expresse claramente a raridade relativa de bens escassos, e que precifique tudo isso, que vai contribuir para o equilíbrio ambiental, bem mais do que medidas regulatórias de governos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de novembro de 2015

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O homem mais rico do mundo, Jacob Fugger - livro de Greg Steinmetz

A Igreja Católica sempre teve essa inacreditável capacidade de pecar fragorosamente contra as principais leis da economia, pecados mortais, não simples pecados veniais, talvez atrasando o surgimento do capitalismo na Europa em um ou dois séculos.
Meu argumento é certamente impressionista, mas a Igreja continua a ser altamente expressionista contra a economia de mercado, contra o lucro, contra qualquer coisa que cheire a dinheiro.
Isso, mesmo sendo detentora de um banco (falido por roubo, corrupção e incompetência) e de imensos, gigantescos, incomensuráveis ativos materiais e muitos outros intangíveis.
O atual papa, por exemplo, é um peronista econômico, ou seja, um aloprado em matéria de economia. No resto ele é até bonzinho, reformista, e um bom sujeito, mas se os pobres dependessem dele para ficarem ricos, estão perdidos: é um grande destruidor de riquezas...
Paulo Roberto de Almeida 
Today's selection -- from The Richest Man Who Ever Lived by Greg Steinmetz. For centuries, lending (or usury) stood as one of the worst sins in Christianity, proscribed in such biblical texts as Luke 6:35, "Lend and expect nothing in return." The sin was defined as either lending at all or charging interest rates that were too high, but in any event, the practical effect was that the business of lending was left to those of the Jewish faith. That is, until the business became too profitable to ignore, and Renaissance-era families in Venice and Florence elbowed their way in, side-stepping the theological problem by using other names for interest such as penalties, processing fees, gifts and loss charges. [Note that this is the same issue Islamic bankers struggle with today]. In a monumental historical milestone, the matter was ultimately settled by the German Jacob Fugger, the wealthiest man of his era, and his actions set the stage for the modern era of capitalism:

"Change came in Germany a century later. Anxious to catch the Italians and lured by interest rates as high as 43 percent, German cities cleared the field of incumbents. Augsburg expelled its Jews in 1438 and used the gravestones from the Jewish cemetery to build a new city hall. A textile trader named Hans Meuthing became the first Augsburger to try finance on a major scale. He made a large loan to Archduke Sigmund of Tyrol, which was backed, just like Fugger's later loan to the duke, by the output of the Schwaz silver mine. Others jumped in, replacing Jewish lenders on transactions, large and small. The German satirist Sebastian Brant noted the development in his best-selling Ship of Fools (1494): 'You borrow ten, eleven's due. They're more usurious than the Jew. Their business now the Jews may lose, for it is done by Christian Jews.' Fugger took lending further than anyone, but even he, like the Italians, used dodges to mask interest. He took silver instead of cash for the Tyrolean activities, making the loan repayments look more like purchases than loans.

"The Nuremberg circle [who were competitors to Fugger and the Augsbergians] smartly targeted moneylending as a way to contain Fugger and the new economy he was helping to create. They knew there was no quicker way to stop him than by turning off the cash spigot. ... Fugger had to respond. With his support, Augsburg schoolmaster Sebastian Illsung wrote a defense of lending by focusing on the narrow subject of the Augsburg Contract -- the legal agreement Fugger signed with depositors that promised them 5 percent. Illsung argued the contract was valid if the lender, like the borrower, risked bankruptcy. Then a young theologian named Johannes Eck caught Fugger's eye by echoing Illsung's arguments in a university lecture. Fugger asked Eck to write a dissertation on the Augsburg Contract and enter a debate -- a public showdown with scholars as judges -- to validate it.

"Fugger was taking a risk. The Augsburg Contract mayor may not have been legal under church law. But it was in wide use and Fugger needed it to raise money. If Eck lost the debate and the judges declared the contract usurious, Fugger's depositors would refuse to give him money. This would be lethal. It was one thing to operate in a gray area. It was another to engage in a practice specifically ruled heretical. Fugger must have felt extremely confident because he sought nothing short of a Scopes trial, a winner-take-all smackdown pitting dogma against modernity, but with money instead of monkeys at the center. He had at least one precedent on his side. After theologians squared off over the subject of annuities -- the interest-earning pension schemes that cities sold to raise money -- the pope had sanctioned them. Maybe Pope Leo, who had replaced the 'Warrior Pope' Julius II earlier that year, would do the same with the Augsburg Contract. There was also the fact that Leo was a member of the Medici banking family. Legalization would serve his personal interests. Even better was that Leo himself was a borrower of Fugger's. It goes without saying that Leo would be favorably inclined towards someone who gave him money.

Johann Maier von Eck
"Eck taught at the University of Ingolstadt. He later became notorious for reporting Luther's heresies to Rome and prompting his excommunication. He could advance his career if he won but faced ridicule if he lost. When Eck finished his paper, he submitted it to the university and asked it to host the contest. ... Fugger and Eck turned to Italy where, thanks to Venice and Florence, the universities were open-minded about lending. They found a willing participant in the University of Bologna, Europe's oldest university and among its most prestigious. Thomas Becket, Erasmus, Copernicus and Mirandola had studied there. On his way to Bologna, Eck passed through Augsburg. Fugger assigned him a translator and other assistants. Another Augsburger, the Dominican priest Johannes Fabri, made his own way to Bologna to argue the other side. For all we know, Fugger may have picked Fabri. It was a way of fixing the outcome. But Fabri appears to have been his own man.

Johann Fabri
"On July 12, 1515, Eck and Fabri met at St. Petronius, the city's mammoth fourteenth-century basilica. The doors opened at four in the afternoon. Eager for a good show, students and professors came to watch and walked past an enormous painting of a hideous, two-mouthed Lucifer -- a reminder of what awaited heretics -- as they took their seats in the pews. Organizers engineered these things to entertain. They allowed heckling and encouraged cheering. Eck and Fabri went at it for five hours. Eck avoided scriptural references and focused on intent. Only evil intentions could make a transaction usurious, he declared. A lender committed usury if he aimed to harm the borrower. But he acted legally if he had a legitimate business interest. When his turn came, Fabri rehashed the old arguments; Aristotle, Aquinas and the rest. Eck thought he crushed Fabri. Three professors in the audience agreed with him. But the judges saw merits on both sides. They refused to call a winner and the contest ended in an unsatisfying draw.

"Fugger might have been disappointed, but he could take comfort. The judges had refused to call the Augsburg Contract heretical. Eck and Fabri had presented a cut-and-dried case of charging interest on loaned money, and had given the judges a perfect chance to confirm Luke 6:35. But the judges refused to make a call, a call that could have put Fugger out of business. That was tacit approval. What's more, Fugger's letter to Pope Leo had gotten through and made an impact. Leo ignored the question about debate venues but, in a decree issued that same year, Leo went to the heart of the matter and signed a papal bull that, in direct contradiction of Aristotle and other ancient commentators, acknowledged the legitimacy of charging interest. 'Usury means nothing else than gain or profit drawn from such a thing that is by its nature sterile, a profit that is acquired without labor, cost or risk.' It didn't matter that money wasn't like a cow and provided no milk. Labor, cost and risk were enough to make it unsterile and make interest charges lawful. This was a thunderclap. Usury was a sin. But what defined usury? According to the new doctrine of the church, usury was no longer strictly about what Jesus said about charging interest. It was about charging interest without labor, cost or risk. And what loan didn't involve one of the three? As long as a loan passed that easy test, the lender was off the hook. Fugger's lobbying had paid off in spectacular fashion. He and others were now free to charge borrowers and pay depositors interest with the full blessing of the church. Leo's decree, issued in conjunction with the Fifth Lateran Council, was a breakthrough for capitalism. Debt financing accelerated. The modern economy was under way."
The Richest Man Who Ever Lived: The Life and Times of Jacob Fugger
Author: Greg Steinmetz
Publisher: Simon & Schuster
Copyright 2015 by Greg Steinmetz
Pages xiii-xvi


Quando o maior capitalista contrata o maior neobolchevique...

O Brasil é um país surpreendente, mas talvez nem tanto.
Vejam a notícia abaixo, por exemplo: trata-se, simplesmente, daquele que tinha a pretensão de ser o maior capitalista do Brasil, de se tornar o homem mais rico desta republiqueta de corruptos, e que portanto agiu da forma promíscua como sempre agem capitalistas gananciosos, comprando políticos, partidos, agentes do Estado, corrompendo tudo e a todos.
Só podia contratar o maior corrupto do partido totalitário, não é mesmo?
Afinal de contas, ambos estão no mesmo ramo de atividade: corromper instituições para obter ganhos pessoais.
Pensando bem, não há nada surpreendente nisso.
Só estranho que esse homem ainda não esteja na cadeia...
Paulo Roberto de Almeida

Eike Batista contratou empresa de Dirceu para intermediar negócio na Bolívia

Em depoimento à CPI do BNDES o empresário disse que contratou a empresa do ex-ministro da Casa Civil em 2008. Eike também negou ter negócios com o empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula investigado pela Lava Jato
Luis Macedo/Agência Câmara
Em depoimento na CPI do BNDES, Eike Batista disse que contratou empresa de Dirceu em 2008
O empresário Eike Batista disse, em depoimento à CPI do BNDES, que contratou os serviços de consultoria do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, em 2008, para intermediar a construção de uma siderúrgica na Bolívia. Ao responder pergunta do deputado Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP), Batista admitiu que contratou Dirceu para negociar com o governo de Evo Morales a instalação da siderúrgica. “Como acontece depois de todos os movimentos revolucionários, tudo o que é estrangeiro ou investimento anterior é considerado coisas de multinacionais. Então eu queria que eles fossem menos radicais”, explicou.
O empresário disse, porém, não se lembrar do valor do contrato com José Dirceu e ficou de repassar a informação à CPI. Ele garantiu, ainda, que a construção da siderúrgica não foi adiante.

Banco Central invadido pela policia! (calma pessoal, nao foi aqui); nao se respeita mais nada...

Ah, essa Argentina surpreendente: não existem mais instituições sagradas, se é verdade que algum dia existiram. Mas registre-se que quem invadiu o BC argentino foi a polícia de Buenos Aires, do prefeito opositor ao kirchnerismo e candidato (provavelmente vencedor) das eleições de domingo, em segundo turno.
Parece que, independentemente dessa invasão (que ela possa produzir outros efeitos em outros lugares), o novo presidente pretende introduzir mudanças significativas não apenas na política econômica esquizofrênica seguida nos últimos anos (não só lá, recordemos), mas também na política externa aloprada (ops, esse termo é suspeito) adotada pelos mesmos malucos do poder.
Parece que vem mais mudanças por ai, e o Brasil vai estar involucrado, como dizem por lá...
Paulo Roberto de Almeida

Argentina corrupción

Allanan Banco Central de Argentina por denuncia contra su titular por fraude

BUENOS AIRES (ARGENTINA) 17/11/2015. EFE/David Fernández
Vista de la sede del Banco Central de Argentina en Buenos Aires, donde la policía metropolitana allanó la sede por una denuncia contra el presidente de la autoridad monetaria, Alejandro Vanoli, por presunto fraude.
Infolatam/Efe
Buenos Aires, 17 de noviembre de 2015
Las claves
  • Bonadío investiga una denuncia presentada contra Vanoli y el resto del directorio del Banco Central por presunta defraudación pública en la venta del denominado "dólar futuro".
La policía metropolitana de Buenos Aires allanó la sede del Banco Central de Argentina por una denuncia contra el presidente de la autoridad monetaria, Alejandro Vanoli, por presunto fraude, confirmaron fuentes judiciales.La orden de allanamiento fue librada por el juez Claudio Bonadío, quien dispuso que el procedimiento sea realizado por la policía metropolitana, cuerpo de seguridad de la capital, que depende del gobierno encabezado por el candidato presidencial opositor, Mauricio Macri. Bonadío investiga una denuncia presentada contra Vanoli y el resto del directorio del Banco Central por presunta defraudación pública en la venta del denominado “dólar futuro”.
La investigación se inició por una denuncia presentada el pasado 30 de octubre por los diputados opositores Federico Pinedo, de Propuesta Republicana (Pro) y Mario Negri, de la Unión Cívica Radical.
El miércoles pasado, el fiscal que interviene en la causa, Eduardo Taiano, solicitó la imputación de Vanoli, acusado por los parlamentarios opositores de vaciar las arcas del Banco Central a través de la firma de contratos de dólar a futuro pendientes de ejecución.
Según los denunciantes, mediante estas operaciones la autoridad monetaria habría vendido los dólares a un precio que ronda los 10,65 pesos por unidad, por debajo del precio establecido en la Bolsa de Nueva York para este tipo de contratos (alrededor de 14 pesos por unidad).
Mediante estos contratos a futuro, el Banco Central se compromete a entregar dólares a 10,65 pesos por unidad al 31 de marzo próximo, frente a una cotización oficial actual de 9,64 pesos.
Si para marzo la cotización oficial está por encima del precio establecido en los contratos, el Banco Central debe entregarlos a ese valor pactado, con una millonaria pérdida para la entidad en caso de que el valor de la divisa en el mercado oficial alcance para entonces en torno a los 14 pesos por unidad.
El fiscal había pedido además al juez recoger pruebas, como informes al Banco Central, con el fin de averiguar desde cuándo se están operando estas ventas y con qué condiciones, entre otros documentos que podrían aportar información necesaria para la instrucción.
Bonadío dijo a una emisora local que el Banco Central, este martes, en horas de la mañana, hizo una presentación ante su juzgado por esta causa, cuando el magistrado ya había librado la orden de allanamiento.
El juez precisó a radio La Red que el jueves y el viernes pasado tomó declaración testimonial a Martín Redrado y Alfonso Prat Gay, expresidentes del Banco Central y actualmente dirigentes de oposición.
Redrado y Prat Gay “expusieron las razones técnicas que sostenían, según ellos, esta denuncia e indicaron determinados sectores del organigrama del Banco Central donde se encontraría documentación que era necesario analizar para determinar los extremos de la denuncia”, sostuvo el juez.
“Si se planteara que en realidad se vendió contratos de manera indiscriminada en un dólar que en realidad se sabía no podía resistir la ecuación económico, podría haber una defraudación a la administración pública”, sostuvo Bonadío, quien subrayó que para ese tipo de delito se prevé una pena de “mínimo de 6 años” de prisión.
El magistrado dijo que requirió a las autoridades del Mercado de Futuros de la ciudad argentina de Rosario, donde se operan los contratos de dólar futuro, para que presten declaración testimonial y aporten documentación.
El juez dijo que no tiene previsto citar a declarar a Vanoli hasta que no concluya con el análisis pericial de la documentación del caso.
La investigación al Banco Central coincide con la campaña en Argentina para la segunda vuelta presidencial del próximo domingo y en la que uno de los principales temas de discusión es qué hará el próximo Gobierno con el complejo mercado cambiario local, en momentos en que las reservas monetarias han tocado su mínimo en nueve años.

Uma conferencia mundial islamica para condenar a jihad? - Omar El Seoud

Gosto sempre de ler cartas e comentários de leitores pois, mais do que os próprios artigos de colunistas, de personalidades, ou os próprios editoriais dos grandes jornais, são extremamente reveladores do que anda pela cabeça do povo.
Trata-se de um exercício necessário para acompanhar a realidade real, se me permitem a redundância, da psicologia coletiva, pois artigos e editoriais só revelam o que pensam seus autores, uma minoria minorantíssima, se me permitem esta outra barbaridade.
Este acadêmico da USP, por exemplo, acha que seria possível reunir uma conferência islâmica mundial para simplesmente condenar a (má) jihad. Haveria uma boa? Ele acha que jihad não significa necessariamente luta armada.
Acho que os desacordos começam por aí, e acredito que essa tal de conferência mundial não seja humanamente, ou islamicamente, possível, e se por acaso for convocada, terminará na acrimônia (sobre a dominação do Ocidente, por exemplo), e sem conclusões factíveis de serem implementadas no mundo a que ela se destinaria, supostamente o mundo muçulmano, tão diverso quanto o mundo do cristianismo (com correntes muito opostas entre si, e que no passado também se massacraram mutuamente).
Em todo caso, reproduzo aqui sua carta, suprimindo seu e-mail, mas antecipo que essa conferência não será feita, e se algum dia for realizada (parcialmente, não universalmente), não trará resultados.
Paulo Roberto de Almeida

Cartas ao jornal O Estado de S.Paulo, 18 Novembro 2015 | 02h 55
MASSACRE EM PARIS
Não basta condenar o terror
Os líderes religiosos muçulmanos, sunitas e xiitas, têm a missão urgente de convocar uma conferência islâmica mundial para definir alguns conceitos religiosos, entre os quais se destaca o de jihad. Em falso nome deste, foram recentemente massacrados civis no Líbano, explodidos turistas em pleno voo no Egito e metralhados inocentes em Paris. A conferência deve dar definição clara de jihad e detalhar, inequivocamente, as condições em que um muçulmano deve participar e como fazer isso, uma vez que jihad não significa, necessariamente, luta armada. Em seguida, deve levar esses esclarecimentos, com vigor, aos quatro cantos do mundo. Tal caminho de combate ao fanatismo pseudorreligioso levará tempo para dar frutos. Mas no fim dará certo, pois a História nos ensinou que a razão, e não a repressão, acaba sempre vencendo. É dessa jihad, sim, que nós precisamos!
OMAR EL SEOUD
xxxxxxxxx@gmail.com
São Paulo

Robert Skidelsky e o retorno de Oswald Spengler sobre o declinio do Ocidente

Sociólogos em geral, e Skidelsky pode ser considerado um, amam essas analogias históricas e esse retorno de interpretações passadas. Independentemente das falsas analogias históricas, sempre se aprende alguma coisa com gente inteligente.
Paulo Roberto de Almeida

The Decline Of The West Revisited

Robert Skidelsky
Robert Skidelsky
The terrorist slaughter in Paris has once again brought into sharp relief the storm clouds gathering over the twenty-first century, dimming the bright promise for Europe and the West that the fall of communism opened up. Given dangers that seemingly grow by the day, it is worth pondering what we may be in for.
Though prophecy is delusive, an agreed point of departure should be falling expectations. As Ipsos MORI’s Social Research Institute reports: “The assumption of an automatically better future for the next generation is gone in much of the West.”
In 1918, Oswald Spengler published The Decline of the West. Today the word “decline” is taboo. Our politicians shun it in favor of “challenges,” while our economists talk of “secular stagnation.” The language changes, but the belief that Western civilization is living on borrowed time (and money) is the same.
Why should this be? Conventional wisdom regards it simply as a reaction to stagnant living standards. But a more compelling reason, which has seeped into the public’s understanding, is the West’s failure, following the fall of the Soviet Union, to establish a secure international environment for the perpetuation of its values and way of life.
The most urgent example of this failure is the eruption of Islamist terrorism. On its own, terrorism is hardly an existential threat. What is catastrophic is the collapse of state structures in many of the countries from which the terrorists come.
The Islamic world contains 1.6 billion people, or 23% of the world’s population. A hundred years ago it was one of the world’s most peaceful regions; today it is the most violent. This is not the “peripheral” trouble that Francis Fukuyama envisioned in his 1989 manifesto “The End of History.” Through the massive influx of refugees, the disorder in the Middle East strikes at the heart of Europe.
This movement of peoples has little to do with the “clash of civilizations” foreseen by Samuel Huntington. The more mundane truth is that there have never been any stable successors to the defunct Ottoman, British, and French empires that used to keep the peace in the Islamic world. This is largely, though not entirely, the fault of the European colonialists who, in the death throes of their own empires, created artificial states ripening for dissolution.
Their American successors have hardly done better. I recently watched the film “Charlie Wilson’s War,” which relates how the United States came to arm the Mujahideen fighting the Soviets in Afghanistan. At the end of the film, as America’s erstwhile clients turn into the Taliban, Wilson, the American politician who got them the money, is quoted as saying “We won a great victory, but fouled up the end game.”
This “fouling up” is a continuous thread running through American military interventions since the Vietnam War. The US deploys overwhelming firepower, either directly or by arming opposition groups, shatters local governmental structures, and then pulls out, leaving the country in shambles.
It is unlikely that US policymaking reflects the grip of some ideal view of the world, in which getting rid of dictators is the same thing as creating democracies. Rather, the belief in ideal outcomes is a necessary myth to cover an unwillingness to use force persistently and intelligently enough to achieve a desired result.
However much military hardware a superpower owns, decay of the will to use it is the same thing as a decay of effective power. After a time, it ceases to overawe.
That’s why Robert Kagan’s 2003 neo-conservative proposition, “Americans are from Mars, Europeans from Venus,” offered such a misleading guide. True enough, the European Union has gone farther down the pacifist road than the US. It is the weak nerve center of a flabby semi-state, with almost defenseless frontiers, where humanitarian rhetoric masks spinelessness. But America’s sporadic, erratic, and largely ineffective deployment of power is hardly of Martian quality.
The decline of the West is juxtaposed with the rise of the East, notably China. (It is hard to tell whether Russia is rising or falling; either way, it is disturbing.) Fitting a rising power into a decaying international system has rarely occurred peacefully. Perhaps superior Western and Chinese statesmanship will avert a major war; but this, in historical terms, would be a bonus.
The increasing fragility of the international political order is diminishing the global economy’s prospects. This is the slowest recovery from a major slump on record. The reasons for this are complex, but part of the explanation must be the weakness of the rebound in international trade. In the past, trade expansion has been the world’s main growth engine. But it now lags behind the recovery of output (which is itself modest), because the kind of global political order hospitable to globalization is disappearing.
One symptom of this has been the failure after 14 years to conclude the Doha Round of trade negotiations. Trade and monetary agreements are still reached, but they increasingly take the form of regional and bilateral deals, rather than multilateral arrangements, thereby serving broader geopolitical goals. The US-led Trans-Pacific Partnership, for example, is directed against China; and China’s New Silk Road initiative is a reaction to its exclusion from the 12-country TPP.
Perhaps these regional bargains will prove to be a step toward wider free trade. But I doubt it. A world divided into political blocs will become a world of trade blocs, sustained by protectionism and currency manipulation.
And yet, even as trade relations become increasingly politicized, our leaders continue to urge us to gear up to meet the “challenges of globalization,” and few question the benefits of cost-cutting through automation. In both cases, politicians are trying to force adaptation on reluctant populations who crave security. This strategy is not only desperate; it is also delusive, for it seems obvious that, if the planet is to remain habitable, competition in economic growth must give way to competition in quality of life.
In short, we are far from having developed a reliable set of precepts and policies to guide us toward a safer future. Small wonder, then, that Western populations look ahead with foreboding.
© Project Syndicate

Uma entrevista sobre o liberalismo e o mundo realmente existente - Paulo Roberto de Almeida

Transcrevo novamente minha entrevista ao IBRI-RBPI, tal como recebida recentemente por um desses envios "sorpresisticos" (como diria alguma mente privilegiada) a partir do vigilante trabalho editorial.
Está neste link: http://ibri-rbpi.org/2015/09/30/transformacoes-da-ordem-economica-mundial-do-final-do-seculo-19-a-segunda-guerra-mundial-entrevista-com-paulo-roberto-de-almeida/
Paulo Roberto de Almeida





Transformações da ordem econômica mundial, do final do século 19 à Segunda Guerra Mundial – Entrevista com Paulo R. de Almeida

Entre o final do século XIX e a metade do século XX, a economia mundial foi estruturalmente modificada. O modelo capitalista consolidou-se e, posteriormente, evoluiu, ganhando feições modernas e fundando a sociedade de consumo de massa. As inovações tecnológicas, que chegavam a literalmente assustar, e as inovações organizacionais resultaram em um aumento inédito (e inimaginável) da produtividade. O padrão ouro, pilar da estabilidade da ordem econômica mundial do século XIX, foi definitivamente abandonado, o que produziu grande volatilidade e insegurança. Em 1944, no entanto, surgiu o sistema Bretton Woods, em reação àquela instabilidade estrutural. Assim, foram estabelecidas instituições que, até hoje, ajudam a moldar a ordem financeiro-comercial: o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Acordo Geral de Tarifa e Comércio (GATT, na sigla em inglês). Por fim, nesse período, os Estado Unidos se consolidaram como a maior economia do planeta, rompendo com séculos de predomínio europeu. Paradoxalmente, no entanto, muitas características da ordem econômica mundial não se alteraram.
Essas e outras mudanças e contradições são analisadas no artigo Transformações da ordem econômica mundial, do final do século 19 à Segunda Guerra Mundial, publicado na mais recente edição da Revista Brasileira de Relações Internacionais. O diplomata Paulo Roberto de Almeira, autor do artigo, concedeu entrevista a Daniel Costa Gomes, membro da equipe editorial da RBPI e mestrando em Relações Internacionais na Universidade de Brasília – UnB.
Paulo Roberto de Almeida é Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas (1984), mestre em Planejamento Econômico e Economia Internacional pelo Colégio dos Países em Desenvolvimento da Universidade de Estado de Antuérpia (1976), formou-se em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas (1974). Defendeu tese de história diplomática no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores (1997). Diplomata de carreira desde 1977, exerceu diversos cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores e em embaixadas e delegações do Brasil no exterior. Desde 2004 é professor no Programa de Mestrado e Doutorado em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub). É autor de  mais de uma dezena de livros individuais, organizou diversas outras obras, participou de dezenas de livros coletivos e assinou centenas de artigos em revistas especializadas.

1) Como apontado no artigo, o liberalismo clássico não existe mais desde a década de 1930. O Estado ganhou papel mais ativo na sociedade, e as relações sociais passaram a ser amplamente regulamentadas. Apesar disso, movimentos políticos, como os libertários nos Estados Unidos, defendem a volta daquele modelo. O que você acha disso?
Paulo Roberto de Almeida: Sendo breve, eu diria que não existe a menor chance disso acontecer, ou seja, um volta ao “modelo” liberal, que não era modelo, e que de fato não existia. Mas cabe elaborar um pouco mais a esse respeito, recolocando esse suposto “modelo” em seu contexto histórico. Existem aqui duas questões de natureza diferente: o mundo real e o mundo das ideias. O primeiro tem a ver com processos e eventos concretos, fatos objetivos, ocorrendo no mundo das relações sociais efetivamente existentes: a produção, a comercialização, fluxos e estoques de poupança, de investimentos, moedas, etc. O segundo se refere a um conjunto de concepções sobre esse mundo, que podem ser aplicadas ex-ante “por engenheiros sociais”, ou seja, para planejar e mudar a forma como as comunidades humanas gostariam ou poderiam organizar aquelas relações, ou implementadas a posteriori, ou seja, o que e como fazer em face de eventos ou fatos objetivos que fogem ao processo normal de desenvolvimento das mesmas relações, e que exigem respostas da comunidade, tomadas com base em certas ideias, pequenas, modestas, ou grandiosas, verdadeiramente transformadoras. Quanto mais pretensiosas essas ideias, maiores os desastres que podem esperar seus propositores e suas vítimas.
O capitalismo, tal como conhecido historicamente, pertence, obviamente, bem mais ao mundo real do que ao mundo das ideias, mesmo quando ideólogos e filósofos sociais buscaram teorizar ou explicar o “sistema”, desde o Iluminismo até a atualidade. O fato é que nenhum cérebro genial “planejou” o capitalismo: ele foi sendo implantado aos poucos, como resultados de processos “naturais” de desenvolvimento econômico e social, sem qualquer central coordenadora de suas “boas” ou “más” variantes. Diferente é o status do socialismo e das concepções coletivistas e de dirigismo econômico, aplicadas tanto nos casos dos fascismos europeus do entre-guerras – como o fascismo mussoliniano ou o nazismo hitlerista – quanto na experiência mais longeva do socialismo de tipo soviético. O dirigismo também existiu na forma mais amena do planejamento indicativo de diversos países europeus na segunda metade do século 20. Aqui estamos falando de ideias que tentaram guiar o mundo real, sempre com falhas e limitações intrínsecas, ou mesmo produzindo alguns desastres incomensuráveis.
O liberalismo clássico, que na verdade nunca existiu, de fato, correspondeu, no campo do mundo real, ao chamado período do capitalismo laissez-faire, a Belle Époque, grosso modo do último terço do século 19 até a Primeira Guerra, e no campo das ideias, ao pensamento liberal de corte essencialmente britânico (escocês ou inglês), com umas poucas derivações continentais (Benjamin Constant ou Alexis de Tocqueville, na França, por exemplo, ou Wilhelm von Humboldt, na Prússia). Se ele de fato existiu, no terreno do mundo real e no das ideias, ele veio a termo bem antes de 1930, e pode ter sido “enterrado”, pelo menos temporariamente, pelos eventos momentosos da Grande Guerra e, depois, pelas crises do entre-guerras, sobretudo pela Grande Depressão. Termina aí um suposto liberalismo, muito pouco liberal, e muito menos clássico; foram apenas experimentos locais de liberalização política e de relativa liberdade econômica que correspondem ao triunfo temporário das concepções burguesas do mundo.
O neoliberalismo, que se ensaiou no terreno das ideias a partir das primeiras reuniões da Sociedade do Mont Pelérin (com Friedrich Hayek), no final dos anos 1940, só conseguiu ter um tênue ressurgimento muitos anos depois, quando da ascensão de líderes políticos conservadores, como Margaret Thatcher, no Reino Unido, em 1979, e Ronald Reagan, nos EUA, em 1980. Na periferia do sistema, nunca chegou a existir qualquer neoliberalismo consistente, embora tenham ocorrido, no México, no Chile, e alguns outros (poucos) países, tímidos processos de reformas econômicas tendentes a limitar os excessos do nacionalismo doentio e do estatismo esquizofrênico em uso e abuso nos anos da grande euforia keynesiana, do final dos anos 1940 ao final dos 70.
Mais recentemente, tomaram pequeno impulso grupos liberais ou libertários, e alguns “anarco-capitalistas”, que representam uma tentativa de “revival” de antigas ideias liberais, ou libertárias, mas que provavelmente não vão prevalecer, no momento presente, ou, provavelmente, em qualquer tempo do futuro previsível. Os fenômenos são quase inteiramente políticos, ou seja, de círculos intelectuais, e dispõem de pouco apoio dos verdadeiros capitalistas, estes sempre ocupados em obter algum tipo de entendimento com as burocracias governamentais, com a máquina estatal. Ou seja, os ideais liberais, ou libertários, se desenvolvem um pouco à margem dos processos reais de organização econômica e social.
Depois desta contextualização histórica sobre o itinerário das ideias e processos econômicos no último século, cabe responder à pergunta especificamente formulada sobre as chances que teria, historicamente ou praticamente, uma volta a um modelo liberal de capitalismo que teria existindo mais de um século atrás. Meu argumento, como já referido, é que esse liberalismo, na verdade, nunca existiu, de fato, ou seja, como expressão de tendências “naturais” do sistema capitalista nessa etapa de seu desenvolvimento histórico. Respondendo rapidamente à primeira pergunta, portanto, pode-se confirmar que o liberalismo “clássico”, se já não existia antes, não tem a mais mínima chance de retornar agora, e não tem qualquer perspectiva futura em termos de governança econômica ou de organização do Estado. Ele permanece uma ideia.
Não é que ele não tenha nenhuma chance teórica de voltar a conquistar corações e mentes de acadêmicos, ou mesmo de algumas (pequenas) frações da opinião pública, pois sempre existirão ideólogos liberais que conseguirão fazer passar a sua mensagem de liberdades econômicas a espectros mais amplos de algumas sociedades. É que a complexidade do mundo moderno, o agigantamento da burocracia, a dimensão já alcançada por um sem número de programas estatais, ou públicos, nos mais variados setores da vida social (e individual) tornam irrisórias essas chances de revival liberal no futuro previsível. Será muito difícil, senão impossível fazer o Estado recuar para as dimensões e a importância econômica que ele tinha um século atrás. Seria como se tivéssemos de colocar o gênio para dentro da garrafa outra vez, ou, como já afirmou uma mente privilegiada, de “enfiar a pasta para dentro do dentifrício novamente”.
O fato de que grupos liberais, libertários, façam campanha ou agitem bandeiras proclamando a necessidade de se reduzir o papel e o peso do Estado na vida não só econômica, mas simplesmente cotidiana, não significa que essa reversão seja factível ou sequer imaginável. Já nem se está falando dos anarco-capitalistas, dos libertários, que desejam uma ausência completa do Estado, pois eles são como os anarquistas do século 19: um punhado de sonhadores, um número muito reduzido de militantes utópicos. Os liberais verdadeiros, aqueles que desejam apenas medidas racionais para uma maior amplitude das liberdades econômicas na organização social contemporânea, não devem esperar qualquer avanço notável em favor ou no sentido de sua pregação bastante sensata e altamente razoável. O liberalismo não desapareceu, e não desaparecerá, mas suas chances de se tornar hegemônico – o que ele nunca foi – continuam e continuarão bastante reduzidas.
As razões podem ser resumidas assim: as sociedades contemporâneas dispondo de economias avançadas, com um grau razoável de prosperidade e de bem-estar para a maioria da população, ainda não enfrentaram crises fiscais verdadeiras para reverter a natureza ainda essencialmente keynesiana de suas políticas econômicas; tampouco elas conheceram rupturas severas de seus modelos previdenciários e assistencialistas, que as obrigassem a desenhar e implementar sistemas alternativos de seguridade social, que represente uma diminuição do tamanho e do custo do Estado benefactor. Os países e economias socialistas desapareceram praticamente por completo – e o que restou são apenas aberrações aguardando os taxidermistas – mas eles nunca foram modelo de nada, a não ser para mentes alucinadas das academias. Quanto aos países emergentes e nações em desenvolvimento, eles ainda estão construindo seus sistemas de assistência social e de seguridade inclusiva para desistir no meio do caminho. Nos dois casos, países desenvolvidos e em desenvolvimento, políticos demagogos, mandarins privilegiados, burocracias poderosas, excessivamente poderosas, impediriam qualquer reversão no processo de construção de um Estado babá, que aliás está em expansão contínua.
Voltando a ser breve, eu apenas apelo ao realismo ou ao bom senso: não se pode esperar a volta do liberalismo, nos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar. Não há nenhum risco dessa coisa acontecer novamente, inclusive porque já não acontecia antes. O Estado sempre foi poderoso, desde os tempos do absolutismo; ele só tinha um papel econômico relativamente reduzido por razões próprias ao processo de construção das modernas sociedades urbanas e à organização do modo de produção capitalista. O gênio já tinha saído da garrafa, talvez antes mesmo da Primeira Guerra Mundial; depois, então, ele nunca mais deixou de se espalhar por cada poro da sociedade. Esse é o mundo real, mas também está nos corações e mentes, ou seja, o culto desmedido do Estado. Se olharmos o povo brasileiro, por exemplo, existe uma evidente comprovação dessa tese: por mais que ele sofra nas mãos do Estado – de um Estado semifascista como o que aqui existe – o povo brasileiro ama o Estado, quer mais Estado, suplica por políticas estatais, tanto quanto os capitalistas estão sempre pedindo “políticas setoriais” aos ministros e burocratas de Brasília. Portanto, não esperem nenhum recuo por enquanto.

2) Você menciona, no artigo, que o pós-Primeira Guerra foi caracterizado pelo forte intervencionismo estatal na economia. Após a Segunda Guerra Mundial, no entanto, o resultado foi completamente diverso, com a adoção do multilateralismo econômico. Como explicar resultados tão distintos, em tão curto espaço de tempo, em face de praticamente os mesmos países?
Paulo Roberto de Almeida: O forte intervencionismo estatal na economia começou no próprio bojo e em razão da Primeira Guerra, e não apenas na organização da produção industrial voltada para a guerra, mas também em função de todos os mecanismos financeiros e monetários que conduziram à uma quase completa subordinação da economia às razões da política até então conhecida na história da humanidade, processos que foram exacerbados nos casos dos fascismos europeus, e levados a um delírio extremo no caso do bolchevismo. Vozes liberais como as de Ludwig von Mises ou de Friedrich Hayek caíram num vazio “ensurdecedor”, ao mesmo tempo em que ascendiam as doutrinas econômicas de corte intervencionista, mesmo na versão mais moderada do keynesianismo aplicado.
O fato de que no segundo pós-guerra se tenha caminhado, no plano das relações econômicas internacionais, para a ordem multilateral simbolizada pelas instituições de Bretton Woods e pelo Gatt não quer dizer que se tenha abandonado o intervencionismo estatal na economia, que aliás não se opõe ao primeiro fenômeno, e que pode até ter sido o contrário do pretendido. Quase todos os países avançados aderiram, por certo, ao multilateralismo econômico e continuaram, ou aprofundaram, formas diversas de intervencionismo estatal, seja na forma mais light do contratualismo de inspiração rooseveltiana, seja na versão bem mais dirigista do socialismo europeu (com diversos países conduzindo processos extensivos de nacionalizações e de estatização, com experimentos de planejamento indicativo que traduziam a mesma intenção).
Os resultados, portanto, não são distintos, e não são contraditórios, pois o fato de se trabalhar num ambiente internacional mais aberto aos intercâmbios os mais diversos – comércio, investimentos, abertura econômica, de modo geral – não impediu governos de estenderem a regulação estatal a setores cada vez mais “privados” da vida social, em saúde, educação, planejamento familiar, sempre num sentido “redistributivo” – ou seja, para corrigir “desigualdades sociais” – e geralmente intrusivo na vida pessoal. Mesmo nos países que souberam proteger as liberdades individuais – afastando o temor do Big Brother orwelliano, que no entanto existia plenamente na União Soviética e na China comunista, por exemplo –, a atuação do Estado se fez mais visível e praticamente avassaladora, ainda que estando presente de uma forma não opressiva, como ocorria nos casos “clássicos” de ditaduras comunistas. Mas até mesmo esses regimes opressivos terminaram por aderir ao multilateralismo, embora nunca extirpassem os aspectos mais intrusivos do controle estatal sobre seus cidadãos. No caso ainda mais exemplar dos países em desenvolvimento, em princípio capitalistas e aderentes formais à ordem econômica de Bretton Woods, o papel do Estado foi igualmente determinante, quando não dominante, em quase todas as áreas relevantes de organização econômica. Continua a ser, de certo modo, inclusive porque vários deles, depois de breves e/ou tempestuosos ensaios com experimentos “neoliberais”, voltaram, pela via eleitoral, ao populismo estatizante e demagógico dos velhos tempos de keynesianismo improvisado.
A pequena reversão do estatismo exacerbado registrado nesses países no período recente e até os processos mais consistentes de desestatização e de maior abertura econômica – como aliás ocorre atualmente na China – não foram capazes de diminuir o peso do Estado na vida econômica, como aliás evidenciado nas estatísticas fiscais de todos os países no último meio século: basta observar a carga fiscal nos países da OCDE, para constatar o progresso constante do ogro estatal em praticamente todos os países, independentemente dos progressos do multilateralismo e da globalização desde os anos 1990. Em síntese, não cabe equacionar o multilateralismo da ordem de Bretton Woods com o fim do intervencionismo econômico – embora ele tenha eliminado os aspectos mais discriminatórios dos regimes comerciais precedentes, assim como dos sistemas de pagamentos – pois este continuou sob novas roupagens e em novas formas. O dirigismo rústico dos sistemas coletivistas do entre-guerras cedeu lugar ao Estado de bem-estar social, que logo estabeleceu outros requerimentos em termos de “extração fiscal” e de “redistribuição” pelo alto, não pela via dos mercados.

3) Antes da Grande Recessão, de 2008, muitos analistas apontavam que o fim da Guerra Fria levou à emergência de uma nova era liberal. Nesse sentido, a virada entre os séculos XX/XXI era comparada à virada entre os séculos XIX/XX. Você acredita que o paralelo é válido?
Paulo Roberto de Almeida: Analistas superficiais – como jornalistas econômicos, historiadores apressados e sociólogos mal preparados – adoram ver paralelos históricos ou analogias formais entre processos separados por décadas, ou por séculos inteiros. Daí imagens frequentemente invocadas de um “novo equilíbrio de poderes” – ao final da Guerra Fria, como se estivéssemos na belle Époque – ou as demandas por um “novo Bretton Woods”, em face da enorme desordem financeira trazida pelas crises da economia internacional, nos anos 1990 e a partir de 2008. A ideia de que houve uma “nova era liberal” no final da Guerra Fria não corresponde absolutamente aos processos históricos efetivamente havidos. A Guerra Fria não tem tanto a ver com a terceira onda de globalização – iniciada, por sinal, antes de seu término “oficial”, ainda nos anos 1980, quando a China se abre aos capitalistas estrangeiros – quanto a abertura econômica ocorrida no último quinto do século 20 tem a ver, fundamentalmente, com o esgotamento e a subsequente implosão prática do modo socialista de produção enquanto alternativa credível ao modo capitalista de organização econômica e social.
Esse “modo capitalista” – que certamente não é uno, unificado ou  uniforme, e que sequer é capitalista em toda a sua extensão, sendo mais exatamente um sistema de mercado baseado em certas regras comuns – não é necessariamente liberal (como prova o caso da China), ou tampouco menos intervencionista do que os modelos keynesianos exacerbados em vigora na maior parte da Europa continental, na América Latina e em vários outros cantos do planeta. O capitalismo é um processo “irracional”, incontrolado e incontrolável, assumindo formas diversas ao longo dos séculos, e que não depende da democracia liberal para frutificar e se consolidar; ele pode ocorrer sob os regimes políticos os mais diversos, inclusive ditaduras abertas. É certo, porém, como dizia Milton Friedman em Capitalism and Freedom (1962), que a liberdade de mercados é uma condição necessária – embora não suficiente – das democracias. O capitalismo facilita a vida das democracias, e certamente a aproxima do polo liberal de organização social e política, mas ele não pode, por suas próprias forças moldar todo um sistema, o que ultrapassa em muito a sua “missão histórica”: ele veio ao mundo para produzir mercadorias, não para distribuir bondades políticas, e menos ainda para corresponder a construções teóricas generosas e libertárias como podem ser os regimes liberais.
Não acredito em paralelos históricos ou em analogias superficiais, ainda que alguns processos possam ter similaridades formais, uma vez que os atores fundamentais – que são os Estados nacionais, que estão conosco há quatro séculos, e que prometem perdurar por vários séculos mais – permanecem os mesmos, e os mecanismos de ação – dissuasão, cooperação, intimidação, persuasão, dominação – também permanecem substancialmente os mesmos desde Westfália. O fato de existir essa grande coisa que se chama ONU – que De Gaulle chamava de “grand machin” – não muda muito nas equações de base do sistema internacional, que continua a ser interestatal e soberanista.
O que poderia haver de paralelo entre o final do século 19 e o início do 21? Pouca coisa, se alguma. Os Estados, num e noutro caso, continuam a ser decisivos na vida política e econômica do mundo, agora ainda mais do que antes, inclusive porque eles ganharam um poder absoluto de emissão irresponsável de moeda, provocando os mesmos males que já tinham provocado na Primeira Guerra Mundial e mais além, ou agravando outros: inflação, déficits orçamentários, desequilíbrios fiscais, regulação intrusiva, endividamento excessivo, movimentos cambiais erráticos e outros males que ainda estão por vir. Seria ilusão, contudo, acreditar que vamos retornar a um padrão ouro, a uma intervenção mínima dos Estados na vida econômica, ou às liberdades econômicas – livre fluxo de capitais e de pessoas, comércio relativamente desimpedido ou protecionismo moderado – que existiam antes da Primeira Guerra.
Sequer no plano político o cenário pode ser colocado em paralelo: a despeito de continuarem a existir, grosso modo, as mesmas grandes potências, a globalização atual se vê fragmentada em quase duas centenas de soberanias distintas e independentes. As guerras deixaram de ser globais, por certo, mas a mortandade continua numa escala ainda respeitável, ainda que espalhada por centenas de conflitos civis, étnicos, religiosos e no aumento da criminalidade transnacional e do terrorismo fundamentalista. O mundo é provavelmente melhor, no cômputo global, do que um século atrás – longevidade, níveis de bem estar, acesso a bens e serviços culturais, epidemias de fome que podem não ser tão mortíferas quanto no passado, etc. – mas ele continua tão excitante, ou tão perigoso, quanto antes…

4) Entre o final do século XIX e meados do século XX, houve um intenso processo de tentativa e erro. Nesses processos, várias alternativas políticas e econômicas foram testadas. Para você, quais são as principais lições desse período de grandes ensaios?
Paulo Roberto de Almeida: Excelente pergunta, mas que não pode ser respondida de modo simplista, ou de forma ideológica. Aqui também é preciso estabelecer as distinções necessárias entre, de um lado, processos reais no bojo de um itinerário “natural” da história econômica do sistema capitalista, e, de outro, as ideias e as concepções que justamente estiveram por trás dos grandes experimentos de “engenharia social”, que foram todos de natureza política. Por exemplo, a noção de uma sucessão de “grandes ensaios”, de processos de “tentativa e erro”, não pertence ao reino das possibilidades históricas previsíveis, pois ela pressupõe a conformação de uma formação social submetida à ação voluntária de atores sociais determinados a implementar esses experimentos, o que geralmente não é o caso, pelo menos não no ambiente natural das democracias de mercado, que são as experiências mais permanentes na história humana dos últimos cinco séculos. É certo que grandes revoluções sociais – a francesa do século 18, a bolchevique e a maoísta do século 20, não esquecendo as convulsões sociais que levaram aos fascismos do entre-guerras – não foram planejadas, mas as mudanças impostas à economia e à vida social e econômica na sequência de cada uma delas foram planejadas e implementadas sem que os “erros” fossem esperados: estes resultaram da “lei” das consequências involuntárias.
Regimes absolutistas, ditaduras abertas, tiranias comunistas e fascistas surgiram e desapareceram enquanto experimentos de “ensaio e erro”, uma vez que violavam certas “leis econômicas” da organização social, ou contrariavam a aspiração natural dos seres humanos a maior autonomia, à liberdade individual, à iniciativa privada e à defesa da propriedade. O fato de a democracia inglesa ter se mostrado durável desde 1688, ou de a grande nação americana ter preservado até a atualidade os traços fundamentais estabelecidos um século depois pelos “pais fundadores” deve-se provavelmente ao fato de não terem essas duas formações políticas embarcado em processos tentativos de “ensaio e erro”, e sim respeitado algumas regras simples do jogo democrático e da ordem econômica.
Todas as “grandes” experiências contemporâneas nessa vertente – os fascismos europeus do entre-guerras e suas derivações periféricas, a escravidão bolchevique e o monstruoso delírio maoísta, com seus milhões de mortos – foram todas legítimos empreendimentos de “engenharia social”, o que não ocorreu com as democracias de mercado, independentemente de suas crises econômicas e de seus problemas sociais. No pós-guerra, as inflações latino-americanas, as sucessivas trocas de moedas, no bojo de catastróficos programas de “engenharia econômica” tentativamente de estabilização, as crises intermitentes derrubando presidentes e trocando ditadores também pertencem ao mesmo universo dos ensaios de “tentativas e erros”, sobretudo no campo econômico.
O itinerário da União Soviética é exemplar nesse sentido: socialismo de guerra e seu cortejo de fome e miséria; Nova Política Econômica, e sua pequena janela de liberdade para pequenos mercados capitalistas; estatização extensiva e lançamento dos planos quinquenais; coletivização da agricultura, seguido de nova onda de fome e de uma enorme mortandade provocada; socialismo num só país e industrialização à base de trabalho “escravo”; estatização completa da economia e consolidação de uma divisão entre a produção civil e a militar; esgotamento do planejamento centralizado e ensaios parciais de mecanismos de mercado; esgotamento completo do “modo socialista de produção” e implosão final do sistema. O itinerário maoísta é ainda mais pavoroso, com milhões de mortos sacrificados nos diversos experimentos de engenharia social no espaço de uma única geração: repressão contra capitalistas e grandes agricultores, seguida de uma coletivização antinatural para os padrões sociais chineses; grande salto para a frente, com fome e canibalismo e milhões de mortos; revolução cultural, com outros milhares de mortos e a destruição completa do sistema educacional; no total, dezenas de milhões de sacrificados aos grandes ensaios maoístas, com o rebaixamento completo da economia chinesa ao longo desse processo.
Especificamente no período limitado à primeira metade do século 20, é verdade que ocorreram outros tantos “ensaios”, ou “alternativas de políticas econômicas”, mas as que corresponderam mais exatamente a “tentativas e erros” foram quase todas, se não todas elas, experimentos de engenharia social conduzidas por regimes autoritários. As democracias de mercado que atravessaram diferentes políticas econômicas ao longo do período, geralmente não o fizeram como tentativa e erro, a não ser involuntariamente. O que elas fizeram, na maior parte dos casos, foi tentar adaptar-se às novas circunstâncias criadas pelos processos econômicos, pelas dinâmicas dos ciclos de negócios, quando não pelos cataclismos políticos representados pelos enfrentamentos com as potências militarizadas e agressivas.
A maior parte dos mecanismos de intervenção estatal na vida econômica foi introduzida quando da Grande Guerra, e apenas parcialmente revertida na sequência, o que certamente criou uma primeira “cultura intervencionista” que ressurgiria em outras circunstâncias. As medidas econômicas, corretas ou equivocadas, adotadas por sua vez no entre-guerras, em especial no seguimento da crise de 1929 e da Grande Depressão iniciada em 1931 – protecionismo, manipulações cambiais, desvalorizações maciças, controles de capitais, bilateralismo comercial, intercâmbios recíprocos de compensação –, também corresponderam mais a respostas (ainda que improvisadas) do que a supostos “grandes ensaios” de economia política alternativa. Estes ficaram inteiramente no terreno das ideias, geralmente com consequências catastróficas.
O grande experimento “capitalista” que entra na categoria da história das ideias foi certamente o conjunto de prescrições de políticas econômica mais tarde enfeixadas sob o rótulo de keynesianismo, mas muitas dessas medidas estavam sendo seguidas ou implementadas de modo instintivo, antes mesmo que elas se convertessem numa espécie de corpo teórico de “receitas” de política econômica a partir da publicação da Teoria Geral (1936). Não é seguro que o mundo capitalista tenha sido “salvo” pelo keynesianismo aplicado, assim como não é seguro que ele tenha construído as bases das três décadas de prosperidade e de grande crescimento econômico do segundo pós-guerra, embora certa historiografia econômica aprecie preservar esse mito.
É certo, no entanto, que as faculdades de economia aderiram rapidamente às novas tábuas da lei, e passaram a cultivar o receituário keynesiano (inclusive de forma passavelmente acrítica), mas isso se deu, provavelmente, mais por preguiça conceitual do que por suas supostas virtudes no terreno da prática econômica efetiva. Governos, como se sabe, costumam se guiar mais pela fria realidade das contas nacionais e dos orçamentos, do emprego e das reservas monetárias, do que por doutrinas econômicas produzidas nos gabinetes universitários. Eles também são geralmente infensos (ainda bem) aos ideólogos da academia, mesmo se os líderes políticos sempre tenham presente, em suas mentes e na formulação dos discursos, as ideias de algum economista morto, como dizia o próprio Keynes.
Em todo caso, o keynesianismo foi acumulando o seu pequeno (ou grande) lote de contradições teóricas e de impasses práticos, até literalmente implodir na famosa estagflação dos anos 1970, quando suas bases foram sendo minadas tanto pelos fracassos registrados quanto pelos avanços teóricos e práticos do neoliberalismo de corte austríaco. Este, no entanto, nunca foi dominante, ou ideologicamente hegemônico, pois, a despeito de ter conquistado alguns (poucos) corações e mentes no cenário político e em algumas (poucas) academias, ele jamais conseguiu estabelecer sólidas bases no campo teórico ou conquistar grandes espaços para si nas políticas públicas, permanecendo sempre marginal e relativamente incompleto na panóplia de políticas públicas efetivamente aplicadas (que sempre estiveram inevitavelmente congeladas no universo teórico e prático do keynesianismo).
Quais as lições, finalmente, que podem ser extraídas das grandes turbulências econômicas da primeira metade do século 20, com seu cortejo de desastres políticos e militares, seu desfilar de milhões de mortos e suas enormes transformações nas políticas econômicas de quase todos os países? Elas são muitas, mas foi preciso aguardar a “saída da servidão”, que foi a implosão final da grande alternativa ao capitalismo, representada pelos experimentos coletivistas, para realmente confirmar o maior ensinamento prático que se pode extrair do espetáculo de “aprendizes de feiticeiro” que constituíram esses experimentos no espaço de três gerações. Esse ensinamento diz que mercados, em geral, costumam ser mais “inteligentes” do que burocratas governamentais para criar renda e riquezas sociais, sendo também mais efetivos na distribuição racional dessas mesmas riquezas do que governos bem intencionados. O grande erro do socialismo, como já ensinava Mises desde 1919, não foi, finalmente, ter construído um regime de opressão, de escravidão econômica, de fraudes políticas e de degenerescência moral; foi o fato de ter ignorado os mecanismos de mercado, e a sinalização da raridade relativa pela ação livre dos preços, como requerimentos básicos de um sistema sustentável, e racional, de produção e de distribuição de bens e serviços.
Esta é, sem dúvida, a maior lição do período, que aliás tinha sido consolidada no magnum opus de Friedrich Hayek, O Caminho da Servidão (1944). O ensinamento, contudo, não parece ter sido absorvido pelas duas gerações seguintes, sequer pela atual, pois a maior parte dos líderes políticos e dos responsáveis econômicos continua a seguir a trilha do dirigismo econômico, do intervencionismo estatal na vida econômica, da manipulação de moedas e orçamentos, provocando o espocar constante e regular de desequilíbrios fiscais e de crises financeiras. Aqui não estamos mais no itinerário “natural” do capitalismo, mas no desenvolvimento pouco natural das doutrinas políticas e das concepções econômicas, com certa atração distributivista dos políticos e a adesão inconsciente das massas às aparentes facilidades do Estado-babá.
De modo geral, todas as experiências coletivistas – fascistas ou socialistas – foram um fracasso completo, algumas com um custo humano inacreditável, ademais do custo mais permanente que se manifestou de modo indireto nas orientações dirigistas das políticas econômicas, estas parcialmente compatíveis com a dominação ideológica keynesianismo aplicado. O socialismo pode ter sido derrotado, mais na prática do que na teoria – que continuou seu pequeno caminho de irracionalidades nas academias, indiferentes ao mundo real – mas o capitalismo de Estado segue seu itinerário de realizações – na China, por exemplo – e de contradições – na maior parte da periferia capitalista, dentro da qual os países da América Latina. Ele não parece perto de ser aposentado, ou de ser compulsoriamente enviado ao museu dos dinossauros econômicos, e pode ainda dispor de um belo futuro pela frente.
Volto, portanto, ao meu argumento inicial: a despeito de terem sido superados os experimentos mais nefastos de dirigismo econômico e de “engenharia social”, em vigor na primeira metade do século 20, não parece haver nenhum risco de volta triunfal do liberalismo, ou sequer de um retorno parcial de suas prescrições de maior liberdade econômica e de completa liberdade individual. Por outro lado, e como constatação final, uma outra grande lição não parece ter sido aprendida ou absorvida de modo completo: a de que qualquer medida de distribuição social dos benefícios do crescimento econômico necessita começar pelo reforço dos processos de produção e de inovação tecnológica, sem os quais o distributivismo passa a incidir bem mais sobre os estoques de riqueza já criada ou acumulada do que sobre os novos fluxos de criação de renda e riqueza por meio do estímulo à atividade produtiva. Em conclusão, o liberalismo ainda tem uma longa batalha a travar contra o socialismo, mesmo nas formas amenas deste último. Como diriam alguns, a luta continua…

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Paulo Roberto de Almeida, Ministério das Relações Exteriores, Brasília, DF, Brasil (pralmeida@me.com)
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ALMEIDA, Paulo Roberto de. Transformações da ordem econômica mundial, do final do século 19 à Segunda Guerra Mundial. Rev. bras. polít. int. [online]. 2015, vol.58, n.1 [cited  2015-10-02], pp. 127-141 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292015000100127&lng=en&nrm=iso&gt;. ISSN 1983-3121.  http://dx.doi.org/10.1590/0034-7329201500107.