O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Politica Nuclear do Iran (13): dois artigos sobre duas realidades

A questão crucial do problema iraniano é muito simples: saber se o país vai submeter, ou não, seu programa nuclear às inspeções da AIEA, o que até agora ele não fez.
Os artigos abaixo tocam mais na questão dos atores -- Brasil, Turquia, EUA, outros países -- do que no ponto central que está em jogo.
Vão postados como contribuição ao debate, não por achar que eles representem uma exposição clara do problema central.

Empate
Rubens Ricupero
Folha de São Paulo - 30.05.2010

O poder dos EUA não pode desarmar o desafio do Irã, mas basta para neutralizar a solução Brasil-Turquia

O ACORDO DE Teerã constitui até hoje a manifestação mais expressiva do potencial e, ao mesmo tempo, dos limites existentes para a afirmação de atores médios no cenário internacional. Poderia ter sido o marco histórico de nova era; por não ter obtido o endosso inequívoco das grandes potências acabou produzindo um empate. É por isso que as reações são contraditórias e indecisas.

Após o fim da União Soviética, o "momento unipolar" dos EUA começou com êxito, sob Bush pai e a estratégia de coalizões de geometria variável para resolver desafios como o da primeira Guerra do Golfo contra Saddam Hussein.

Ao esticar o unilateralismo até a irracionalidade na invasão do Iraque, na doutrina do "Eixo do Mal" e do ataque preventivo, Bush filho estendeu demais o poder americano na hora em que a crise financeira iria desfechar-lhe golpe adicional.

Tirando as lições desse enfraquecimento, Obama se inaugurou com o elogio do multilateralismo, segundo outros, policentrismo. O anúncio foi saudado como transição para um mundo novo, mas escondia um mal-entendido de fundo.

Para os americanos, era a volta nostálgica às "coalitions of the willing" do início dos 90, as "coalizões dos voluntários" em versão livre. Os EUA admitiam precisar de ajuda, reservando-se a prerrogativa de convocar as coalizões, distribuir os papéis e conduzir as operações.

Para o Brasil e a Turquia (a Índia está satisfeita com sua parceria nuclear com os EUA e não quer pô-la em risco), o policentrismo seria a possibilidade de atores médios assumirem iniciativas autônomas em áreas como o programa nuclear iraniano, antes reservadas às potências hegemônicas.

A palavra-chave é autonomia: a possibilidade de colaborar para a paz e segurança mesmo divergindo de Washington sobre os meios. Se as negociações de Teerã tivessem sido coordenadas com os americanos, a reação dos Estados Unidos seria acolhedora, mas o Irã não teria provavelmente concordado com as exigências adicionais.

O mal-entendido de substância encontrou expressão formal de um lado na provocação triunfalista dos braços erguidos em gesto de vitória futebolística; do outro, no despeito com que Hillary Clinton não esperou secar a tinta das assinaturas do acordo para fulminá-lo com sanções meio cruas.

A ordem internacional é sempre a expressão de um poder. Hoje, contudo, como escreveu Celso Lafer, o poder está dissociado da capacidade de impor ordem legítima.

Ao invocar o risco nuclear para invadir o Iraque, o que era falso, e nada fazer no caso da Coreia do Norte, quando o risco era verdadeiro, Bush gerou as condições do impasse atual. Demonstrou ao Irã a vantagem de ter a bomba, ao mesmo tempo em que removia de cena o Iraque de Saddam, único contrapeso à afirmação regional de Teerã.

O poder dos EUA não dá para desfazer o mal feito e desarmar o desafio à ordem do programa nuclear iraniano, mas é suficiente para neutralizar a solução do Brasil e da Turquia. Lembra os empates dos seringueiros de Chico Mendes contra os pecuaristas do Acre. Como não se produz ordem nova, ninguém ganha: o poder de cada um basta apenas para anular o do outro.

O Brasil e o nó iraniano
José Flávio Sombra Saraiva *
Correio Braziliense - 30.05.2010

O Irã volta ao centro do mundo. Congelado em sua modernização, o antigo país persa abriga, há mais de 30 anos, regime duro, teocrático, em fase de desafio ao poder nuclear das grandes potências. A assinatura iraniana do TNP não parece garantia suficiente para afirmar seus objetivos pacíficos no desenvolvimento energético e médico do enriquecimento do urânio.

O Brasil se meteu no complexo quadro por meio da diplomacia de Lula, ávido por ocupação de espaços no sistema internacional transicional do início do século 21. A opinião pública nacional se divide acerca do tema. Há alarmistas que situam a movimentação brasileira como um atentado aos valores democráticos que regem a Constituição e o primado brasileiro da defesa do uso pacífico do enriquecimento do urânio. Há os que compreendem a necessidade de elevação da ação externa do Estado nacional por sobre áreas e temas internacionais próprios a um país cauto e moderado, como é o Brasil.

O fato objetivo é que o Brasil quer desatar o nó nuclear. E sabe que essa é a área mais dura da política internacional do momento. É campo minado que sobreviveu no pós-guerra fria, embora herdada dos fatores de poder do imediato pós-Segunda Guerra Mundial. É área do clube dos fortes, dos detentores de capacidade nuclear letal, seja para o bem, seja para a guerra.

Ao se envolver em tema duro das relações internacionais — bem mais complexo que a Rodada Doha, a luta contra o protecionismo econômico do Norte, ou as questões do meio ambiente, entre outros temas menos difíceis —, o Brasil colhe as dificuldades inerentes à delicada diplomacia do átomo. Três questões são centrais ao processo decisório nacional na matéria. Será matéria para os novos governantes das décadas que se avizinham.

Em primeiro lugar há o fato de que um país respeitado em assuntos de enriquecimento de urânio para fins pacíficos, como o nosso, não possa ser autorizado pelas grandes potências nucleares a agir em nome delas. A diplomacia de Amorim, tomada de surpresa diante da reação norte-americana ao acordo tripartite de Teerã (Brasil-Irã-Turquia), enfrenta nestes dias o realismo da proposta duríssima de uma nova onda de sanções contra o regime de Teerã no Conselho de Segurança da ONU. O assunto foi tratado pela secretária de Estado dos Estados Unidos como se fosse um avanço indevido. Foram falsos os elogios conferidos pelo governo Obama ao esforço turco-brasileiro no acordo de Teerã. O Brasil teria entrado em seara que não lhe pertence.

Em segundo lugar, os novos amigos das relações internacionais do Sul que o Brasil angariou nos últimos anos, como a China, parece não ter mantido, no trato com o país, a coerência esperada. Passou Pequim por cima do esforço do diálogo, aparentemente prometido ao Brasil, no engajamento de apaziguamento do nó nuclear iraniano.

A China, antiga e pragmática, tem sua maneira de construir discursos oblíquos. Toca a nós, do lado de cá, entendermos que o G2 (China-EUA) está funcionando em matérias não apenas econômicas e do meio ambiente, mas, também, e estruturalmente, no campo da segurança internacional. A China, perto do Irã, também parece não confiar no propósito iraniano de uso da tecnologia nuclear apenas para fins pacíficos. Ou não quer mais um vizinho com capacidade nuclear que mais adiante pode atrapalhar a movimentação estratégica chinesa junto aos seus satélites.

Em terceiro lugar, e finalmente, a Rússia, adocicada pelos ianques no campo da defesa territorial, como no lançamento do programa Start 2, em 8 de abril do ano corrente, agradece a decisão de Obama de encerrar a iniciativa dos escudos antimísseis na fronteira da potência nuclear oriental. Devolve os descendentes de Pedro, o Grande, a generosidade norte-americana por meio da construção do consenso em torno da punição ao Irã. A Rússia, no entanto, não abdica de manter também suas vendas militares anteriores acertadas com Teerã.

O nó não se desata. E o Brasil se meteu no meio dos interesses cruciais dos gigantes, ambiciosos na conservação do controle tecnológico do ciclo nuclear completo. É poder a ser conservado. Valeu o esforço da diplomacia nacional em seus propósitos de diálogo. Mas o mundo é bem mais complexo que o voluntarismo da política externa do Brasil no capítulo nuclear, embora em outras áreas tenha obtido avanços relevantes nos últimos anos.

* Ph. D. pela Universidade de Birmingham, Inglaterra, professor titular de Relações Internacionais da UnB e pesquisador 1 do CNPq

Os Brics e a substituicao de hegemonias - Paulo R Almeida

Meu mais recente trabalho publicado, desta vez em livro:

O Bric e a substituição de hegemonias: um exercício analítico (perspectiva histórico-diplomática sobre a emergência de um novo cenário global)

In: Renato Baumann (org.):
O Brasil e os demais BRICs: Comércio e Política
(Brasília: CEPAL-Escritório no Brasil/IPEA, 2010, 180 p.), p. 131-154.
Disponível no site pessoal (neste link)
Relação de Originais n. 2077;
Relação de Publicados n. 967.

Sumário:
1. Introdução: por que o Bric e apenas o Bric?
2. Bric: uma nova categoria conceitual ou apenas um acrônimo apelativo?
3. O Bric na ordem global: um papel relevante, ou apenas uma instância formal?
4. O Bric e a economia política da nova ordem mundial: contrastes e confrontos
5. Grandezas e misérias da substituição hegemônica: lições da História
6. Conclusão: um acrônimo talvez invertido

Transcrição de trecho, da seção 5. Grandezas e misérias da substituição hegemônica: lições da História (sem notas de rodapé)

(...)
Quanto ao segundo tema em exame, a previsão antecipada e a criação previsível do Bric, no curso de uma transformação anunciada da ordem mundial, se dão em circunstâncias relativamente inéditas no contexto mundial, comparativamente aos precedentes do gênero. Se é verdade que se está assistindo a uma transformação importante do cenário estratégico internacional, ou seja, talvez a uma mudança de características ‘geológicas’ na história mundial, então caberia uma revisão dos precedentes na matéria, pois as consequências podem ser desestabilizadoras para o chamado equilíbrio mundial.
De fato, o registro histórico não tem uma memória muito positiva das fases de declínio de grandes potências tradicionais e dos momentos de emergência de novos desafiantes na ordem mundial (regional ou global). No passado, os competidores precisavam abrir caminho a cotoveladas e empurrões, ou talvez até mais do que isso, desenvolvendo comportamentos agressivos enquanto expandiam seus interesses no exterior, geralmente pelo comércio, mas não raro pela força, o que de certa forma é ‘natural’: potências estabelecidas nunca cedem terreno voluntariamente, sobretudo em situações de ‘exclusivo colonial’ ou de luta por acesso a recursos escassos (matérias primas valiosas ou energia). Os grandes conflitos entre Estados hegemônicos, desde o nascimento da era moderna, e as guerras globais no século 20 nasceram dessas lutas pela primazia econômica, estratégica e política, de caráter regional ou mundial.

O resultado foi sempre catastrófico em termos de perdas materiais e de vidas humanas. Computando-se apenas o século 20 os números são horripilantes: o velho militarismo imperial alemão, o nascente militarismo fascista japonês e o expansionismo nazista, sem mencionar o menos “eficiente” fascismo italiano, produziram, antes e durante as guerras que eles mesmos provocaram, dezenas de milhões de mortos, contabilidade ainda aumentada por regimes totalitários que tiveram o duvidoso privilégio de eliminar os seus próprios cidadãos (aliás, nada mais do que súditos) antes e depois desses conflitos globais. Para ser preciso, os totalitarismos de tipo comunista conseguiram eliminar, em tempos de ‘paz’ ou no âmbito puramente interno, um número aferidamente maior de ‘inimigos de classe’ do que o fizeram os totalitarismos fascistas em relação aos inimigos de guerra ou ‘raças inferiores’.

Dois herdeiros desses Estados totalitários integram atualmente o Bric, sem ter necessariamente passado por uma reconstrução democrática. São incertas as credenciais democráticas da Rússia e ainda mais duvidosas as da China, com certeza já saída do totalitarismo mas exibindo o que foi chamado de “autoritarismo flexível”, dominado por uma “pluto-burocracia”. Um terceiro, a Índia, amargou quase três séculos de dominação colonial e, embora constituindo um Estado democrático, suas instituições políticas apresentam quase tantos defeitos quanto as do Brasil, também plenamente democrático, mas exibindo desigualdades típicas de Estados menos desenvolvidos.

Um dos totalitarismos pode ter, aliás, contribuído, ainda que involuntariamente, para o deslanchar da mais terrível das guerras de destruição já conhecidas em toda a história da humanidade, ao ter concluído um pacto secreto com a Alemanha nazista prevendo a partilha da Polônia e, portanto, a sua própria expansão (mesmo se por motivos basicamente securitários), num dos gestos mais sórdidos de que se tem registro nos anais da diplomacia mundial. Não se tratou, por sinal, no caso da descida para a guerra mundial de 1939-1945, de uma contestação à “ordem internacional do imperialismo anglo-saxão”, como pretendem alguns ‘contestadores’ da atual ordem estabelecida, mas de um dos mais regressistas assaltos às próprias bases da civilização moderna, posto que envolvendo uma negação violenta de valores e princípios que estão no coração mesmo do que se considera constituir uma sociedade civilizada: o regime democrático, o respeito aos direitos das minorias, a tolerância religiosa e à alteridade étnica, liberdades individuais e direitos humanos de maneira geral.

Identificar as decisões criminosas tomadas pelas lideranças nazi-fascistas no limiar da Segunda Guerra como equivalentes a uma contestação anti-hegemônica, ou como um desejo de ‘desconcentrar o poder mundial’, não constitui apenas um deformação do registro histórico, mas um insulto à inteligência de toda uma geração de pesquisadores e historiadores. Aliás, um exercício de história virtual, como conduzido por historiadores profissionais, poderia indagar sobre a natureza política do mundo contemporâneo, caso esse “desafio ao imperialismo anglo-saxão” tivesse sido bem sucedido nos termos pretendidos por seus promotores, ou seja, com base na supremacia de raças superiores e na escravização de povos considerados inferiores: com toda certeza, eslavos, amarelos e mestiços tropicais não teriam nenhum espaço para sua atual emergência ‘contestadora’. Este não é, provavelmente, o cenário desejado pelos contestadores do ‘imperialismo anglo-saxão’.

Obviamente, não existem paralelos possíveis, pelo menos no terreno da prática, entre o que fizeram os derrotados desafiadores da suposta hegemonia britânico-americana do pré-guerra e o que pretenderiam fazer hoje os integrantes do Bric; nem se imagina que os promotores do conceito atual, em seus desdobramentos geopolíticos, estejam projetando qualquer nova hegemonia mundial. O que se cogita, na atualidade, talvez seja uma contestação do ‘imperialismo anglo-saxão’ (mais imaginário do que efetivo), mas apenas nos planos econômico e geopolítico, com algum suporte estratégico e preferencialmente nenhum recurso à força, seja numa confrontação militar direta, seja de algum outro tipo (embora esse cálculo sempre esteja presente no planejamento estratégico dos responsáveis pelo setor).

De toda forma, o exercício não é puramente intelectual, posto que as lideranças do Bric pretendem dar consistência prática às suas declarações políticas, de resto vazadas em cuidadosa retórica diplomática. Por exemplo, o fato de que os dirigentes dos Brics declarem seu apoio “a uma ordem mundial multipolar mais democrática e justa, baseada no império do direito internacional, na igualdade, no respeito mútuo, na cooperação, nas ações coordenadas e no processo decisório coletivo de todos os Estados”, significa, em última instância, que eles consideram que a ordem mundial atual não é suficientemente democrática ou inclusiva. As receitas para torná-la mais democrática e representativa passam, invariavelmente, por uma redistribuição do poder decisório nos principais organismos econômicos internacionais em seu próprio favor, posto que esta é uma derivação lógica do argumento de que se deve levar em conta as novas realidades econômicas que emergiram nas últimas décadas. Ou seja, se a ordem mundial atual é considerada oligárquica, sua ampliação seletiva, ainda que em favor dos Bric, conduziria a uma oligarquia um pouco mais ampla, o que é diferente de democracia.

Curiosamente, não existe, em qualquer comunicado formal do Bric, de nível ministerial ou de cúpula, nenhuma defesa da democracia política enquanto tal, assim como inexiste qualquer referência aos direitos humanos ou a outros valores que constituem um lugar comum nos comunicados do G7 tradicional. A defesa de uma ordem mais democrática se dá unicamente no plano das instituições da governança global, em especial das entidades econômicas internacionais, objeto de diversas referências nos comunicados e entrevistas de trabalho. Ou seja, essa mudança deveria ocorrer prioritariamente com a acomodação dos interesses nacionais dos Brics, embora eles também pretendam falar em nome dos países em desenvolvimento, ou servir de ponte entre estes e os países mais avançados, embora as prioridades de Brasil e Índia estejam em sua própria inclusão no Conselho de Segurança.

Em qualquer hipótese, cada um à sua maneira, os Brics aparentam ter motivos suficientes para desejar uma alteração da ordem mundial, para eles dominada por potências que no passado foram colonialistas e opressoras. Não se pode dizer que qualquer um deles, inclusive o Brasil, corresponda à configuração completa ou acabada do que se entende por uma economia capitalista avançada, que é o critério definidor por excelência dos integrantes do G7. Os dirigentes dos Brics estão convencidos de que essas potências conformaram de modo legítimo, mas que hoje dominam de modo ilegítimo, as instituições da governança mundial, econômica e política. Eles também acreditam que a nova ordem deve ser organizada de uma outra forma que não aquela conhecida no último meio século. A justificativa é que as novas instituições devem ser mais democráticas e representativas da nova ordem emergente, na qual os seus próprios países passaram a desempenhar um papel mais afirmado.

Admitindo-se que ele não seja feito unicamente em causa própria, o argumento dos Brics quanto à ‘democratização da ordem mundial’ parece inatacável, sobretudo quando se incorpora à demanda de maior participação dos países em desenvolvimento na governança mundial. Todavia, não existe um consenso geral sobre as formas de ser realizado esse objetivo, sobretudo no que se refere à principal ‘assimetria’ existente no próprio Bric, que é o pertencimento ao Conselho de Segurança da ONU. Com efeito, em relação à meta prioritária do Brasil e da Índia no tocante ao CSNU, o primeiro comunicado ministerial do Bric apenas reitera, de maneira muito cautelosa, a importância que a Rússia e a China atribuem ao “status da Índia e do Brasil nos assuntos internacionais, e [que os ministros] compreendem e apóiam as aspirações da Índia e do Brasil a desempenham um papel maior nas Nações Unidas”, o que representa um obscurecimento notável das aspirações realmente exibidas pelos dois.
(...)

Haiti: o lado dark da ocupacao; nem sempre se pode ser simpatico com todo mundo

Um dia teria de ocorrer: não se pode contentar todo mundo. Não está descartada uma situação de enfrentamento com bandidos na qual inocentes venham a morrer, como aliás ocorre nos morros cariocas, onde o Exército não tem mandato para intervir, cabendo esse serviço delicado aos PMs e batalhões especiais.
Mas no Haiti, quem faz esse trabalho é o Exército brasileiro. Soldados agredidos podem reagir além da conta, e criar assim desgaste inútil.
Neste caso, se tratava apenas de estudantes contrários à administração Préval, eleito em circunstâncias pelo menos curiosas, como sabem os conhecedores.
As forças de repressão sempre são culpadas, segundo os defensores dos direitos humanos.
Esse é o lado menos simpático das ocupações: em algum momento as paixões se exacerbam e algum evento infeliz é registrado. É o preço a pagar quando se faz baby-sitter de Estados falidos...
Paulo Roberto de Almeida

ONU investiga ação do Brasil no Haiti
Nejme Joma
Estado de S.Paulo, 30/05/2010

A Organização das Nações Unidas abriu uma investigação para determinar se houve “uso excessivo da força” por parte de uma patrulha brasileira que, na segunda-feira, depois de ter sido apedrejada por universitários, no centro de Porto Príncipe, lançou bombas de gás lacrimogêneo e efetuou disparos com balas de borracha e munição real dentro da Faculdade de Etnologia da Universidade do Haiti. O episódio foi considerado “grave” por David Wimhurst, porta-voz do representante da ONU no Haiti, Edmond Mulet.

Milhares de manifestantes ao longo da semana marcharam pedindo a renúncia do presidente René Préval e a saída das tropas da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), lideradas pelo general brasileiro Paul Cruz.

A denúncia interferiu no clima da tropa brasileira, habituada a elogios feitos à sua atuação no Haiti desde 2004. Na mesma semana, as tropas brasileiras anunciaram que uma apuração interna – prévia à investigação da ONU – concluiu que não houve excesso.

“Rechaço com veemência essas denúncias. Se isso tudo tivesse acontecido, nos afetaria tremendamente”, disse o coronel Rêgo Barros, responsável pelo Batalhão Brasileiro 1. “Disparamos, sim, e a norma nos dá permissão em casos como esse, quando há risco para a tropa ou para terceiros. Também podemos entrar na universidade fazendo o uso escalonado da força. Foi usado material não letal. Fomos corretos.”

Wimhurst, porém, disse não acreditar que um dos alunos que foi detido na operação “tenha sido tratado como um anjo”. O Exército assegura que foi feito exame de corpo de delito no estudante antes de entregá-lo à polícia. Para o porta-voz da Minustah, a conclusão prévia é a de que “os militares brasileiros não deveriam ter entrado na faculdade”. Wimhurst disse também que, no início da apuração, os militares disseram que não tinham jogado bombas, mas depois descobriu-se que 32 foram lançadas.

domingo, 30 de maio de 2010

Leitores, escritores, comentaristas, seguidores e ressentidos...

Um blog é de certa forma um diário público, o mais próximo de uma exposição pessoal de preferências, gostos, inclinações e orientações políticas que possa existir em nossos tempos de transparência quase absoluta.
A despeito de ser unilateral, ou seja, determinado unicamente pelo seu "proprietário", ele é também uma construção "coletiva", no sentido de ter seguidores, comentaristas, colaboradores voluntários e involuntários.
Tudo isso de forma aberta, livre, gratuita, quase um desmentido da famosa frase que pretende que "não existe almoço livre" no capitalismo. Os blogs parecem ser free lunchs, oferecidos por empresas absolutamente capitalistas e orientadas para o lucro e a acumulação de capital, duas expressões detestadas por certas pessoas.
Na verdade, não se trata exatamente de um free lunch, pois as facilidades que nos são concedidas são cobertas pela publicidade que Google e outras empresas do gênero recolhem no mercado, aí sim, capitalista, o de venda de produtos e serviços.

Pois bem, um blog é, portanto, o reflexo de nossas preferências pessoais, como dizia acima. Se ele agrada certo número de pessoas, ele tem sucesso e "adquire" bom volume de seguidores. Alguns começam a comentar e as relações se firmam e se expandem, até com certa cumplicidade com relação a análises e avaliações.
Obviamente, não se pode contentar a todos e por vezes chegam comentários críticos, opostos ao que vai aqui postado, ou até irônicos, quando não condenatórios. Faz parte do jogo e sempre devemos aceitar comentários de boa fé, pois eles refletem o que pensam as pessoas, mesmo contrariamente à filosofia pessoal e aos princípios do "administrador" do blog.
Nem sempre todo mundo é de boa fé, mas isso também é do jogo.
Existem pessoas, por exemplo, que gostariam de encontrar aqui o que elas mesmas pensam sobre o mundo e a política, e quando isso não ocorre (o que deve ser frequente, pois estou consciente de não representar, em absoluta, a "média" do pensamento universitário brasileiro), elas tomam a iniciativa de passar uma lição de moral ao "postador" principal, que sou eu mesmo.
Enfim, tudo isso é esperado. Patético é quando essas pessoas se revoltam, não contra o fato em si, podendo então analisá-lo em seu mérito próprio, mas contra o "mensageiro", neste caso eu mesmo. Atirar contra o mensageiro é o exercício mais fútil que pessoas sem argumentos praticam, em toda irracionalidade. Por muito menos, os mongóis desmantelaram o império persa, depois que o rei persa matou seus mensageiros.
Não contentes de encontrar aqui algo que contraria suas posições políticas e ideológicas, as pessoas contrariadas, ou ressentidas, querem "ensinar" ao mensageiro algo que ele recusa, por razões pessoais ou filosóficas.
Se não são acolhidos como esperam, elas se põem raivosas, como certo personagem obscuro que me escreveu o seguinte, e eu destaco com tudo o que ele tem direito, em negrito e em itálico:

A cada dia tenho mais certeza da sua falta de preparo para escrever sobre qualquer coisa.

O que eu poderia dizer a respeito disso?
Creio que nada, apenas dois conselhos:

1) Pessoas que se julgam superiormente dotadas, deveriam, em lugar de ficar seguindo os blogs de terceiros, fazer os seus próprios blogs. Eu lhes desejo, antecipadamente, sucesso na empreitada. Concorrência sempre é bom e eu sou partidário da competição aberta.
2) Pessoas bem mais preparadas do que eu para escrever algo de inteligente, deveriam fazê-lo, em lugar de ficar mandando comentários irados em blogs de pessoas tão despreparadas para fazê-lo como eu mesmo. Por que perder tempo batendo em cachorro morto, não é mesmo?

Mas eu sempre aprendo, em todas as situações e circunstâncias, pois estou sempre retirando uma lição útil de todos os episódios da vida.
O que me escreveu o cidadão acima -- não identificado (talvez contrariando seu desejo de publicidade pessoal), não apenas essa frase, mas outros comentários que ele porventura gostaria que eu publicasse, para inflar o seu ego e demonstrar amplamente sua vastíssima capacidade analítica -- me serve para preparar um outro trabalho, de uma série que eu pretendia apenas singela, dedicada a banalidades ortográficas, como os meus mini-tratados (sobre as reticências, as exclamações, as interrogações, as entrelinhas...). Enfim, puro divertissement...
Mas, com base no que o personagem obscuro me escreveu, vou fazer, não sei se nessa série ou em outra, um mini-tratado da mediocridade.
Creio que o indivíduo em questão se verá fielmente retratado...

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 31 de maio de 2010)

A maldicao dos recursos naturais: desperdicio, corrupcao

Um boletim recente da OMC, trazendo uma análise empírica do uso de recursos adicionais advindos de um recurso natural, confirma uma velha alegacão da economia prática: a de que abundância de renda, derivada de um produto natural disponível e valorizado nos mercados internacionais, pode ser, em lugar de um elemento positivo de desenvolvimento, uma verdadeira maldição, induzindo comportamentos rentistas, aumentando a corrupção, destruindo a (pouca) ineficiência de sistemas pouco institucionalizados, enfim, prejudicando, em lugar de ajudar, o desenvolvimento de um país.
Esses argumentos podem ser facilmente comprovados em certos países, extraordinariamente ricos em petróleo, por exemplo, e no entanto inacreditavelmente corruptos, desiguais, quase dominados por grupos políticos próximos do gangsterismo organizado. Que o digam nigerianos, venezuelanos, angolanos, entre muitos outros exemplos. Nem sempre é assim: dependendo da educação do país, pode ser extremamente positivo, como demonstrado pelo caso do petróleo na Noruega.
Mas nem todo país pode ser uma Noruega, certamente não o Brasil, como poderá provar, para nossa maior infelicidade, os recursos do pré-sal, que o governo pretende justamente utilizar como moeda política. Espero estar errado, mas as chances de dar errado são muitas.


RECHERCHE ET ANALYSE
The political resource curse
Boletim OMC, May 28, 2010

Is the discovery of natural resources necessarily a good thing? Examining data from Brazil, this column finds that a 10% windfall in government revenues leads to a 12 percentage point increase in corruption and a 3 percentage point reduction in the probability that politicians have a degree. The chance that an incumbent is reelected raises by over 4 percentage points. 

Suppose new oil is discovered in a country, or more funds are transferred to a locality from a higher level of government. Are these windfalls of resources unambiguously beneficial to society?
This is a key question in the study of a variety of issues in macroeconomics and development economics, such as intergovernmental relations, transfers to lagging regions like the EU’s Structural Funds, and international aid to developing countries.
Until a few years ago, the only reason for a negative answer to this question would have been provided by the “Dutch disease literature.” A natural resource windfall can lead to a decline in income via a market mechanism, notably an appreciation of the real exchange rate that renders existing industries uncompetitive. In the last few years, a growing literature and much anecdotal evidence has argued that a windfall of natural resources can have further adverse effects through the political process and the interaction among interest groups, leading for instance to increased rent-seeking (see Tornell and Lane, 1999, Velasco 1999) or even to civil war (see Ross 2006, Besley and Persson 2008, Caselli and Coleman 2008).
In a recent Vox column, Caselli and Michaels (2010) argue that oil discoveries in Brazilian municipalities have a positive impact on public good spending, but little or no effect on the quality of public good provision. They also provide indirect evidence that this might be due to rent-seeking and corruption. Litschig (2008), instead, shows the positive side of windfall government revenues. Exploiting the sharp variation of federal transfers to municipalities at the population thresholds established by the Brazilian constitution, he finds that an increase in funds increases spending on public education and improves literacy rates.
I. The resource-political institutions link
In a recent CEPR working paper (Brollo et al. 2010), we focus on the existence of a “political resource curse,” that is, the possibility that windfall government revenues worsen the functioning of institutions by reducing the degree of political accountability and deteriorating the quality of elected officials. We tackle this political resource curse with both theory and data.
The theory studies the electoral competition between an incumbent and a set of challengers, all with different political abilities and different opportunity costs of entering politics. The incumbent faces a trade-off between using public resources for personal gains (corruption) and maximising the probability of reelection. Our model highlights three specific channels of operation of windfall government revenues through such a political process. First, an increase in resources available to a government leads to an increase in corruption of the incumbent (a moral hazard effect).
This happens because, with a larger budget size, the incumbent has more room to grab political rents without disappointing rational but imperfectly informed voters. Second, a larger budget induces a decline in the average ability of the pool of individuals entering politics (a selection effect). This is a byproduct of the first result (that rents increase with budget size) and of the assumption that political rents tend to be more valuable for low-ability candidates (who have fewer outside alternatives). Third, there is an interaction between these two effects that further increases the adverse consequences of a windfall of revenues on political corruption: an incumbent facing less able opponents can marginally grab more rents without hurting his or her reelection prospects.
We thus take these predictions to the data using a random sample of Brazilian municipalities. The obvious problem in testing the effects of government revenues is, as always, how to identify exogenous changes, that is, changes that are not completely driven by unobservable factors determining both the level of public resources and the outcome of interest. Indeed, one can think of a number of reasons why local government revenues might be correlated with both corruption and the quality of politicians. For instance, corrupt politicians might have a comparative advantage in obtaining higher transfers from other levels of government; or poorer areas might select low-quality politicians and, at the same time, receive higher transfers for redistribution purposes.
To address this empirical problem, we combine three different datasets. The first contains information on a programme of federal transfers to municipal governments, determined in a discontinuous fashion by population size; the second consists of data on a programme of random audits on local governments, with detailed reports on corruption charges; the third provides biographical and electoral information on the incumbent mayors and their opponents in municipal elections. We exploit a key feature of the federal transfers programme that all municipalities in the same state and in a given population bracket should receive the same amount of transfers. As a result, the comparison of municipalities just below and just above each population threshold provides a clean source of exogenous variation in the amount of money received by Brazilian municipalities. This “regression discontinuity” setup allows us to study the impact of a change in revenues on both the corruption of the incumbent mayor (as measured by the random audit programme in the spirit of previous work by Ferraz and Finan 2008) and the composition of the pool of opponents (as captured by their years of schooling and private sector occupation).
The empirical findings accord well with the implications of the theory. An (exogenous) increase in federal transfers to the municipality by 10%:
• Raises the incidence of a broad measure of corruption by 12 percentage points (about 17% with respect to the average incidence);
• Increases a more restrictive measure of corruption, including only severe violation episodes, by 10.1 percentage points (about 24%);
• Worsens the quality of the political candidates challenging the incumbent, decreasing the fraction of opponents with at least a college degree by 3 percentage points (about 7%).
As a result, the incumbent who receives higher transfers experiences a raise in his probability of reelection by 4.1 percentage points (about 7%). We therefore detect evidence of a political resource curse in terms of increased corruption and worsened quality of politicians.
II. Conclusions
These findings have important policy implications. Lagging regions or countries often receive additional funds from higher levels of government or from international organisations, to make up for their underdevelopment. But since a common cause of economic backwardness is precisely the poor functioning of government institutions, the risk that these additional resources could be counterproductive cannot be neglected. Our results, however, are not inconsistent with higher transfers to municipalities increasing the quantity and quality of public services provided to the local population. For example, as discussed above, Litschig (2008) finds that an exogenous increase in funds to Brazilian local governments raises educational outcomes. Nevertheless, our evidence suggests that these specific benefits are accompanied by a general deterioration in the functioning of local government institutions.

Fernanda Brollo (Assistant Professor, University of Alicante), Tommaso Nannicini (Assistant Professor of Economics) Roberto Perotti (Professor of Economics) Guido Tabellini (Professor of Economics), Bocconi University

Programa nuclear do Brasil - Le Monde tem duvidas...

Le programme nucléaire du Brésil suscite des doutes
Natalie Nougayrède - New York Envoyée spéciale
Le Monde, 30 mai 2010

L'Agence internationale pour l'énergie nucléaire (AIEA) a mis en place une structure d'évaluation

Après avoir voulu prendre l'initiative sur le dossier nucléaire iranien, la diplomatie brésilienne traverse une phase difficile. L'accord négocié le 16 mai à Téhéran à propos d'un transfert d'uranium iranien vers la Turquie continue d'essuyer les critiques des Etats-Unis. Jeudi 27mai, la secrétaire d'Etat américaine Hillary Clinton a assuré à son homologue brésilien, Celso Amorim, que " faire gagner du temps à l'Iran, (...) rend le monde plus dangereux et non moins " dangereux.

Un autre facteur place le Brésil en position délicate: son propre programme nucléaire comporte des zones d'ombre. C'est pour cette raison que l'Agence internationale de l'énergie atomique (AIEA), l'organisme de vérification de l'ONU, a discrètement mis en place, en mai, une équipe spéciale chargée d'évaluer les activités nucléaires du géant d'Amérique latine. Cela n'a pas été annoncé publiquement.

L'AIEA, dont le directeur, Yukiya Amano, s'est rendu en mars au Brésil, est frustrée de voir que ses inspecteurs ne peuvent accéder à l'intégralité des activités d'enrichissement d'uranium menées par ce pays. Le secret sur une partie de ses centrifugeuses (les appareils permettant d'enrichir) est justifié par le Brésil pour des raisons de compétition commerciale. Sans tout à fait convaincre ses interlocuteurs.

A la fin des années 1980, le Brésil, sorti de la dictature,avait renoncé à un programme nucléaire militaire dont l'existence a été reconnue en 1990. Le Brésil et l'Argentine avaient ensuite passé un accord sur le contrôle de leurs matériaux nucléaires respectifs. Le Brésil, qui nourrit de grandes ambitions dans le nucléaire civil, tient un discours en faveur de l'abolition de l'arme suprême dans le monde,réitérant cette position lors de la conférence d'examen du traité de non-prolifération (TNP), en mai, à New York.

Rôle de l'armée
Cacherait-il le développement d'un programme nucléaire militaire? Les avis des diplomates étrangers sont partagés.En marge de la conférence du TNP, les motivations du Brésil dans son approche du dossier iranien ont été amplement débattues. En défendant le droit de l'Iran à enrichir de l'uranium en dépit de l'opacité de son programme, Brasilia pourrait, selon certains, se ménager la possibilité d'accéder un jour au " seuil " nucléaire, c'est-à-dire la maîtrise de toutes les technologies liées à la bombe atomique, mais sans aller jusqu'à la fabriquer. Le rôle important joué par l'armée - singulièrement la marine - dans le programme nucléaire brésilien renforce ces interrogations.

D'autres sources considèrent que le Brésil n'est pas un pays" à risque " car il a fourni suffisamment de garanties et n'a jamais évoqué la possession de la bombe comme un élément décisif de puissance pour son propre compte. Mais en s'emparant de la question iranienne, le Brésil a attiré sur lui, non sans risque, une attention nouvelle.

Banco Central e inflacao: esquentando os tambores do debate eleitoral

Curiosa situação esta em que nos encontramos. A candidata oficial do governo à sua própria sucessão tornou-se uma acérrima defensora do Banco Central e de sua política de defesa do real e de combate à inflação. Parece que ela é uma economista ortodoxa desde criancinha, não fazendo outra coisa senão repetir o mantra dos mercados financeiros: o Banco Central deve ser operacionalmente independente e ele sabe o que faz...
Já o candidato da oposição ataca o BC e diz que ele não é a Santa Sé.
Bem, isso já alimenta um belo debate.
Permito-me postar aqui dois artigos ligeiramente diferentes quanto à ênfase no combate à inflação...
Paulo Roberto de Almeida

A Santa Sé também erra
José Márcio Camargo
O ESTADO DE S. PAULO, Sábado, Maio 29, 2010

A discussão em torno da autonomia operacional do Banco Central (BC) ganhou as manchetes dos jornais nas últimas semanas. Essa é uma questão importante para a estabilidade da economia e é muito positivo que, apesar de técnico e árido, o tema esteja no centro do debate neste início da campanha eleitoral.

Desde o início do governo Fernando Henrique o BC tem autonomia de fato. Suas decisões são tomadas por seus diretores, supostamente com base em análises técnicas sobre a trajetória da inflação, sem interferência direta do presidente da República. Nos primeiros anos após a estabilização em 1994, que tinha como principal suporte a âncora cambial, as discussões se concentravam na manutenção de uma taxa de câmbio constante. Após a flexibilização da taxa de câmbio e a adoção do regime de metas para inflação em 1999, o debate se deslocou para o valor da taxa de juros real. Apenas uma vez, nessa transição da âncora cambial para o regime de câmbio flutuante, o presidente da República interferiu diretamente na atuação do BC.

A ideia de que os bancos centrais devem tomar suas decisões de política monetária de forma autônoma, sem interferências, não se baseia em uma suposta infalibilidade de seus diretores. Afinal, os bancos centrais erram e seus erros podem ser bastante custosos para a sociedade. A origem da atual crise, por exemplo, foi a decisão do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), de manter taxas de juros reais negativas, por um longo período de tempo, no início dos anos 2000. Como resultado, os bancos passaram a tomar risco excessivo para manter seus lucros, os consumidores se endividaram além do que podiam suportar e se desenvolveu uma bolha no mercado imobiliário americano que, quando furou, levou ao aumento da inadimplência, falências bancárias e ao colapso do mercado de crédito, que gerou a recessão do final de 2008 e início de 2009.

Apesar da falibilidade dos BCs, existe alguma evidência empírica mostrando que países que têm bancos centrais realmente autônomos (que tomam suas decisões de política monetária com base em análises técnicas, sem interferência política) tendem a ter taxas de inflação menores do que os que não os têm. Isso porque a autonomia do banco central gera uma estrutura de incentivos mais propícia à estabilidade monetária do que uma situação na qual as decisões do BC são dependentes de aprovação do presidente da República.

A razão é simples. O Poder Executivo, com aprovação do Congresso, define o Orçamento da União, ou seja, a carga tributária e o total dos gastos do governo. Como consequência, o presidente da República tem uma enorme influência sobre a decisão de o governo adotar ou não uma política fiscal que mantenha os gastos em níveis compatíveis com as receitas governamentais. Se os gastos forem maiores que as receitas, o governo terá déficit fiscal, e vice-versa. Déficits fiscais podem ser financiados de duas formas: pela emissão de moeda, que somente o BC pode fazer, ou pela venda de títulos públicos.

O custo de financiar os déficits fiscais com a venda de títulos da dívida é a taxa de juros que o governo paga para vender esses títulos aos poupadores. E, em linhas gerais, a taxa de juros aumenta com o tamanho da dívida pública e, portanto, com o déficit fiscal, o que reduz o crescimento. Por outro lado, o custo de financiar os déficits públicos via emissão de moeda é um aumento da inflação no futuro. Nesse caso, o aumento do gasto público tende a gerar mais crescimento no presente ao custo de maior inflação no futuro.

Um presidente que consiga controlar a política fiscal e a política monetária terá todo o incentivo para financiar os aumentos de gastos via emissão de moeda, principalmente nos períodos imediatamente anteriores às eleições. Por outro lado, no caso em que o banco central toma suas decisões de forma autônoma, pelo menos teoricamente, seus diretores terão o incentivo a fazê-lo levando em consideração suas análises das condições dos mercados de bens e serviços e das expectativas para a inflação.

Incentivos corretos não garantem decisões corretas, mas aumentam a probabilidade de que isso aconteça. Se o presidente do BC é hierarquicamente dependente do presidente da República e suas decisões têm que ser submetidas e aprovadas por ele, a probabilidade de que os interesses políticos se sobreponham às necessidades técnicas de manter a inflação baixa se torna muito elevada. O resultado é mais inflação. Afinal, ninguém é infalível, nem mesmo o presidente da República, apesar de alguns acreditarem no contrário. Aliás, até mesmo a Santa Sé erra, como poderiam testemunhar as vítimas da inquisição.

É professor do Departamento de Economia da PUC/RIO e economista da OPUS gestão de recursos

===================

O Banco Central erra, mas...
Maílson da Nóbrega
Revista Veja, edição 2167 / 2 de junho de 2010

"É assim que funciona. O BC mira o ‘balanço de riscos’. Quando o risco é de inflação, aumenta a taxa de juros; se é de crescimento, diminui"

Compostos de seres humanos, os bancos centrais erram. O americano Federal Reserve cometeu equívocos famosos. Errou após o colapso da bolsa em 1929, contribuindo para a Grande Depressão. Errou durante a Guerra do Vietnã, provocando forte inflação. Diz-se que causou a crise de 2007-2008 ao manter a taxa de juros baixa por muito tempo.

É difícil antecipar com segurança esse tipo de erro, mesmo porque os acertos dos bancos centrais são muito maiores. Por exemplo, antes da crise muitos apontavam o suposto erro do Fed, mas isso nunca foi pacífico. Economistas de renome sustentam que outras causas seriam as responsáveis maiores pelo desastre.

Recentemente, o ex-governador José Serra fez duras críticas ao Banco Central. "Não baixar os juros num contexto em que não tinha inflação simplesmente foi um erro." Assim, o presidente da República "tem de fazer sentir sua posição" se houver "erros calamitosos". A autonomia do BC deveria ser exercida "dentro de certos parâmetros".

Ora, é assim que funciona. O BC mira o "balanço de riscos". Quando o risco é de inflação, aumenta a taxa de juros; se é de crescimento, diminui. O Fed deve, por lei, promover a estabilidade de preços e o crescimento, mas não busca um objetivo em detrimento do outro. Também adota o princípio do "balanço de riscos".

A autonomia operacional de um banco central se funda na ideia de que a estabilidade dos preços é um bem público essencial para o crescimento, para os avanços sociais e para a estabilidade política. Isso implica recrutar gente altamente qualificada, capaz de acertar ao máximo a identificação daqueles riscos.

A autonomia do BC ainda é uma criança se comparada à do Fed (1913). Esse status começou a ser construído nos anos 1980, com medidas que incluíram o fim de suas funções de desenvolvimento, incompatíveis com as de autoridade monetária. A autonomia se firmou com a criação do Comitê de Política Monetária, o Copom (1996).

O BC dispõe de amplas informações e experiência para evitar erros. O acervo de boas decisões já é vasto. Técnicos bem treinados se dedicam à tarefa de assessorar os membros do Copom. O bom nível de transparência e previsibilidade é reconhecido aqui e no exterior. Claro, o BC não é uma unanimidade, nem isso é desejável.

O controle político do BC, sugerido por Serra, não existe em outros países. Nas democracias, o chefe do governo está limitado por normas e práticas – as instituições – que inibem a ação voluntarista. O êxito da democracia e da economia de mercado deriva da criação de inibidores institucionais à ação discricionária e imprevisível dos governantes.

Se o presidente pode "fazer sentir sua posição", a autonomia do BC inexiste. E se for ele o equivocado? O potencial de erros diminui com o nível de qualificação profissional da diretoria. Se o BC puder receber ordens, somente os pouco qualificados aceitarão o convite. Os agentes de mercado se sentirão inseguros. O BC perderá a capacidade de coordenar expectativas. O custo de combater a inflação será mais alto.

Serra disse que os diretores do BC não são eleitos. Esse é um velho ponto. Quem não foi escolhido pelo povo tem legitimidade para decidir sobre a taxa de juros? Onde a autonomia do banco central é legal, a legitimidade deriva da delegação de autoridade, concedida pelos que foram eleitos. O objetivo é manter o banco à margem de interesses políticos imediatos, preservando um bem valorizado pela sociedade.

Em geral, a contrapartida da delegação de poder é a prestação de contas ao Parlamento. No Brasil, a autonomia do BC costuma ser questionada, mas a instituição não tem obrigação de prestar contas ao Legislativo. Melhor seria colocar em lei a autonomia e o comparecimento regular ao Congresso. De quebra, isso lembraria aos nossos políticos o papel que lhes cabe na manutenção da estabilidade. Em vez de críticos, partícipes.

Serra é um grande líder político, culto e experiente. Parece imaginar que, na Presidência, consertaria um "erro calamitoso" do BC sem que isso significasse "virar a mesa". Creio que não cometeria a temeridade. Falariam mais alto o bom senso e o peso do cargo. Ele não confundiria ousadia com irresponsabilidade.

Educacao no Brasil: salarios e desempenho dos professores

Mudar os professores ou mudar de professores
Artigo • Gustavo Ioschpe
Revista Veja, edição 2167 - 2 de junho de 2010

"A partir da década de 90, ocorreu um aumento substancial de salário nas regiões mais pobres do Brasil, mas não houve melhoria na qualidade do ensino"

Durante muito tempo, quando se falava dos problemas da educação no Brasil, havia uma resposta pronta e definitiva: é preciso aumentar o salário dos professores. Com salário baixo como seria o dos professores, não se poderiam exigir motivação e comprometimento. Nos anos recentes, essa teoria foi seriamente erodida por uma avalanche de fatos que mostram que o problema do professor brasileiro não é de motivação, mas de preparo, coisa que salário não muda.

Pesquisa da Unesco com amos-tra representativa dos nossos professores, publicada no livro O Perfil dos Professores Brasileiros, revela que apenas 12% se dizem insatisfeitos com a carreira. Quase a metade do total (48%), aliás, estava mais satisfeita no momento da pesquisa do que no início de sua carreira. Só 11% dos entrevistados gostariam de dedicar-se a outra profissão no futuro próximo. O segundo prego no caixão dos dinheiristas foi a própria experiência brasileira: a partir da década de 90, ocorreu um aumento substancial de salário nas regiões mais pobres do país através do Fundef, porém não houve melhoria na qualidade da educação. De fato, ela piorou: o Saeb, teste do MEC para aferir a qualidade do ensino básico, mostra que em 2007 estávamos pior do que em 1995. A experiência brasileira em nada difere daquilo que é observado no resto do mundo, aliás: há literalmente centenas de estudos medindo o impacto do salário dos professores sobre o aprendizado dos alunos, e a grande maioria não encontra relação significativa entre essas variáveis.

A inexistência da relação entre salário e aprendizagem, porém, não prejudicou os defensores da causa. Pelo contrário, agora eles vêm com hipótese ainda mais ambiciosa (e cara): os aumentos dados até hoje não surtiram efeito porque são mixurucas; para que deem o resultado esperado, precisam dobrar ou triplicar. Assim, a carreira de professor seria atraente e fisgaria estudantes que hoje pensam em ser médicos ou advogados. A lógica subjacente a essa visão é que os professores em exercício são tão despreparados e intelectualmente deficientes que não há muito que se possa esperar deles. Seria preciso fundar uma nova carreira, com novos candidatos, de outro gabarito. A bíblia dos proponentes dessa teoria é um estudo da consultoria McKinsey que mostra que nos sistemas educacionais de alta performance os professores recebem salário acima da média, tornando a carreira atraente para os melhores alunos.

Sou bastante cético em relação a essa lógica, por vários motivos. Em primeiro lugar, porque não há base empírica sólida. Consultoria não faz ciência; seus estudos não precisam passar pelo crivo da análise de árbitros-experts anônimos, como na publicação de artigos científicos. O estudo em questão sofre de um erro conceitual grave: não é possível determinar nenhuma relação de causa e efeito observando-se apenas aqueles que dão certo. É como se um antropólogo passasse dois anos estudando os hábitos dos 100 empresários mais exitosos do Brasil e concluísse que, para chegar lá, é preciso assistir a jogos de futebol aos domingos, pois a grande maioria dos empresários faz isso. O problema é que os peões das suas fábricas também o fazem, mas você só poderia descobrir que esse hábito é totalmente irrelevante se estudasse uma amostra aleatória de pessoas que representasse a totalidade da população. Quando isso é feito, nota-se que entre os países que mais gastam em educação, e que pagam os maiores salários aos professores, estão tanto países nórdicos de grande sucesso quan-to países da África Subsaariana que têm os piores índices de aprendizagem. Meu segundo problema com essa ideia é histórico: as grandes conquistas da humanidade, desde a existência da capacidade de linguagem até a criação da democracia, se deram através de processos evolutivos, e não revolucionários. São pouquíssimas as revoluções que deixaram saldo mais positivo. Em educação, não é diferente: os países que deram grandes saltos educacionais fizeram o feijão com arroz, de maneira tenaz, obstinada e contínua.

O terceiro obstáculo a essa ideia é conceitual: assim como não acredito que haja alunos que não podem aprender, não creio que haja professores que não podem ensinar. É claro que as pessoas têm habilidades diferentes e que a genética apresenta algumas barreiras intransponíveis, de modo que nem todo aluno ou professor pode ser um Einstein em sua área. Mas fazer o básico, transmitindo conhecimentos de forma eficiente e sistemática, desenvolvendo a capacidade de raciocínio e a curiosidade de seus alunos, está ao alcance de todo professor bem-intencionado. Basta que ele obtenha o preparo necessário.

Por fim, uma duplicação ou triplicação do salário dos professores brasileiros é simplesmente inexequível, dada a realidade fiscal brasileira. Hoje, segundo os dados mais recentes da OCDE, o Brasil gasta praticamente 70% de seu orçamento educacional apenas com a folha salarial. O artigo 212 da Constituição estipula que estados e municípios precisam gastar pelo menos 25% de sua receita com educação. Ora, 70% de 25% é 17,5%. Dobrar o salário de professores implicaria destinar 35% de toda a arrecadação de estados e municípios somente ao pagamento desses funcionários. Triplicar seus salários significaria consumir 52,5% de todo o orçamento. Não vejo como seria possível fazer isso sem quebrar as finanças do país ou solapar totalmente a oferta de outros serviços indispensáveis, como saúde, segurança, transporte.

Se essa fosse apenas uma questão acadêmica, seria só um desperdício de tempo. Mas não é: 3,5 milhões de alunos estão cursando a 1ª série atualmente; perder mais um ano em discussões estéreis significa forçar todo esse contingente a carregar para o resto da vida as marcas de uma educação deficiente.

Centenas de estudos, feitos ao longo de décadas, indicam que existem muitos caminhos baratos ou gratuitos para melhorar a aprendizagem das nossas crianças: a prescrição e correção de dever de casa, a utilização de testes constantes para medir a aprendizagem e corrigir erros, o uso de bons livros didáticos, o conhecimento aprofundado do professor sobre a matéria que ensina, a abolição de tarefas mecânicas, como a cópia de material do quadro-negro, propiciando utilização eficiente do tempo de sala de aula, e tantos outros. A existência dessas alternativas nos impõe a obrigação de tentá-las, antes de partir para soluções caras e incertas.

É uma discussão que me lembra uma passagem do escritor Amós Oz. Conta ele que sua avó sempre lhe dizia: "Não sei por que houve tantos séculos de brigas e perseguições entre judeus e cristãos. Nossa única diferença é que uns acreditam que o Messias já veio à Terra e os outros acreditam que ainda virá. Então basta apenas esperar que o Messias chegue para perguntar-lhe: você está vindo pela primeira vez ou pela segunda? Até lá, vivamos em paz". Poderíamos sugerir a mesma trégua para a discussão educacional: vamos começar com as soluções baratas e simples. Se elas não funcionarem, e somente se elas não funcionarem, é que passaremos a considerar as propostas mirabolantes e caras.

Politica Nuclear do Iran (12): o que era acordo virou "porta de entrada"

Pronto, acho que é final de uma discussão semântica (aliás, besta, se me permitem os participantes do triálogo) em torno do suposto acordo em torno do programa nuclear iraniano.
Muitos, a começar por pessoas responsáveis, defenderam o "acordo" dizendo que ele representava a paz, a vitória da diplomacia, o bloqueio a novas sanções, até mesmo a "desnecessidade" da guerra, seja lá o que isso queira dizer.
Bem, agora parece que o famoso acordo virou apenas uma "porta de entrada" para um possível entendimento.
Bem, não precisaríamos estar assistindo a toda essa patética discussão com subs de subs se os países mantivessem um tratamento objetivo da questão.

Para os que não acompanham o noticiário, ver o despacho da correspondente do Estadão em Washington, Patrícia Campos Mello, "Desmentido dos EUA irrita Itamaraty" (30.05.2010) neste link.

Sorry, nao deu para mascar tudo; nao sei o que fizeram com o resto...

Parece que os bolivianos não estão conseguindo mascar todas as folhas de coca que estão sendo produzidas com finalidades puramente domésticas, curativas, alimentares, religiosas, whatever, segundo o governo do vizinho país.
Parece que vão criar um programa para mascar mais rápido, ou introduzir a coca na merenda escolar.
Em todo caso, o governo não sabe o que estão fazendo com o excedente. Acho que a Polícia Federal do Brasil sabe. Curioso é que parece um ataque à dignidade e à soberania da Bolívia dizer que esse excedente está vindo para o Brasil...

PF avaliza visão de Serra sobre Bolívia
Itamaraty enviou relatório à Câmara que revela crescimento na produção de cocaína sob a gestão de Morales

JOSIAS DE SOUZA
DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 30.05.2010

Aumento é resultado de política que combate o tráfico, mas valoriza a produção da folha de coca, afirma ministério

Documentos oficiais produzidos pelo governo durante a gestão do presidente Lula reforçam a acusação de José Serra (PSDB) contra o governo da Bolívia.
O pré-candidato acusou o governo boliviano, na última quarta-feira, de ser "cúmplice" dos traficantes que enviam cocaína para o Brasil. Em reação, a rival petista Dilma Rousseff disse que Serra "demoniza" a Bolívia.
Dados colecionados pelo governo, porém, avalizam a versão do tucano.
Sob condição de anonimato, uma autoridade da Divisão de Controle de Produtos Químicos da Polícia Federal falou à Folha que, segundo relatórios oficiais da PF, 80% da cocaína distribuída no país vem da Bolívia -a maior parte na forma de "pasta". O refino é feito no Brasil.
Para a PF, a evolução do tráfico revela que há "leniência" do país vizinho. Serra usara uma expressão análoga: "corpo mole".
A PF atribui o fenômeno a aspectos culturais, pois o cultivo da folha de coca é legal na Bolívia. O produto é usado de rituais indígenas à produção de medicamentos. Seu excedente abastece o tráfico.

ITAMARATY
Num documento endereçado à Comissão de Relações Exteriores da Câmara, em 2007, o Itamaraty disse que, "entre 2005 e 2006, a área de produção de folha de coca na Bolívia cresceu de 24.400 para 27.500 hectares".
Também informa que, sob o governo de Evo Morales, adotou-se tanto uma política de combate ao narcotráfico quanto de "valorização" da folha de coca.
Segundo o Itamaraty, uma delegação de brasileiros e chilenos foi à Bolívia, em junho de 2007, para reunião com autoridades locais. "Sem resultado", diz o texto.
Sob Lula, realizou-se um esforço para reativar, sem sucesso, as comissões mistas antidrogas Brasil-Bolívia.
Em setembro de 2008, o Itamaraty enviou à Câmara uma atualização do relatório assinado pelo chanceler Celso Amorim. No tópico sobre drogas, ele afirma que a ONU "divulgou relatório que indica aumento na produção de coca na Bolívia pelo quinto ano consecutivo".
Em outubro de 2008, Morales expulsou da Bolívia cerca de 20 agentes do departamento antidrogas dos EUA que ajudavam no combate ao tráfico. O pretexto foi a acusação de que a DEA (agência americana antidrogas) realizava espionagem.
A Bolívia firmaria, dois meses depois, um acordo com o Brasil, segundo o qual a PF passaria a atuar na Bolívia no combate ao tráfico de cocaína e armas. Diz a PF que o acordo esbarra até hoje em entraves financeiros. La Paz deseja que Brasília arque com os custos.

=================

Para os que não acompanharam o início da polêmica, eis o que os governistas falaram do candidato José Serra em relação às suas declarações sobre a Bolívia:

Para Dilma, fala de Serra "demoniza" a Bolívia
Tucano reage, defende ação para frear contrabando e critica "trololó"

GRACILIANO ROCHA
ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO (RS)
Folha de S.Paulo28 de maio de 2010

Petista diz que tucano foi "atabalhoado'; Serra afirma que preocupação com as drogas não pode ficar apenas no discurso

A pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, acusou o rival José Serra (PSDB) de "demonizar" a Bolívia e agir de "forma atabalhoada" ao acusar o governo do país de ser "cúmplice" do tráfico de cocaína para o Brasil.
Pouco depois, Serra voltou a defender que a diplomacia brasileira pressione o governo Evo Morales a coibir o narcotráfico e insinuou que a preocupação da petista com o crack é só discurso para "comover pessoas" na TV.
A troca de farpas ocorreu em Gramado (115 km de Porto Alegre), onde os dois discursaram no Congresso Brasileiro de Secretarias Municipais de Saúde. Quando Serra chegou, Dilma já havia deixado o evento uma hora antes.
"Não é possível, de forma atabalhoada, a gente sair dizendo que um governo é isso ou aquilo. Não se faz isso em relações internacionais. Não é papel de estadista ou de quem quer ser um estadista", disse Dilma em entrevista.
A petista disse que Evo representou um avanço político por trazer estabilidade política à Bolívia, defendeu a política externa brasileira e fez críticas veladas às declarações de Serra sobre o vizinho, feitas anteontem, mas sem citá-lo nominalmente.
"Não podemos desprezar nossos vizinhos e olhar com soberba para países diferentes de nós. Essa é a política imperialista que leva à guerra, leva ao conflito, leva ao desprezo", afirmou Dilma.

TROLOLÓ
Questionado, Serra declarou não ter pedido "nenhuma intervenção" na Bolívia, e sim ação do país para reprimir o tráfico. "Essa preocupação [com as drogas] não pode ser só de discurso, de programa de televisão para comover as pessoas", disse.
"A maior parte da cocaína que entra no Brasil vem da Bolívia. Vocês já ouviram falar de algum controle do governo boliviano sobre esse contrabando?", questionou.
A referência foi ao comercial de TV do PT, estrelado por Dilma prometendo combater o crack. "É importante ter ação diplomática forte e pública para frear esse contrabando [de cocaína]. Do contrário, é trololó", disse.

Banqueiros centrais e construcao europeia: coloquio

Sou assinante de uma lista de difusão em História Política do século XX e acabo de receber um convite para um colóquio a que gostaria de comparecer, mas que não terei condições de ir. Em todo caso,fica o registro, para os nomes e temas.
Por acaso estou lendo o livro de Liaquat Ahamed (que deveria ter sido convidado para falar sobre o período de entre-guerras), Lords of Finance, sobre os banqueiros centrais dos EUA (Benjamin Strong), da Grã-Bretanha (Montagu Norman), da Alemanha (Hjalmar Schacht) e da França (Émile Moreau) na fase mais crucial da expansão do capitalismo na era moderna, entre a belle époque e a débâcle de 1929 e a crise dos anos 1930. Recomendo o livro, que já deve ter sido traduzido e está sendo publicado no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

COLLOQUE
Les banquiers centraux dans la construction européenne
Sanem (Gand Duché du Luxembourg)
4 juin 2010

La journée d’études « Les banquiers centraux dans la construction européenne » se propose d’étudier les banquiers centraux et les banques centrales telles qu’ils s’insèrent dans et exercent une influence sur les institutions européennes. Tout au long du XXe siècle, les Européens ont voulu retrouver la stabilité monétaire mythique du XIXe siècle. De cette recherche, les banquiers centraux ont tiré un statut et un rôle nouveaux, plus important, alors que l’Europe, finissant par s’organiser, a mis très progressivement en marche une union monétaire. Il est aujourd’hui utile de s’interroger sur ces banquiers centraux et sur leur rôle dans l’intégration européenne. Quelle est leur influence sur la mise en place de l’Euro ?

En abordant cette problématique, cette journée d’étude tâchera de répondre à certaines questions : comment les gouvernements choisissent-ils ou révoquent-ils un gouverneur ? La violence des débats sur la nomination du premier gouverneur de la Banque centrale européenne, qui a donné lieu à une solution hybride Wim Duisenberg, a dû promettre qu’il laisserait la place à Jean-Claude Trichet en cours de mandat montre l’enjeu que représente la désignation d’un gouverneur. Existe-t-il une « idéologie » des banquiers centraux ? Existe-t-il des valeurs communes aux banquiers centraux ou les divergences sont-elles plus importantes que les convergences ? Quelles sont les évolutions depuis 1919 ?

Il s’agit ainsi de savoir dans quelle mesure l’exercice du « métier » de banquier central forge une culture commune, malgré les différences nationales, dans le cadre d’un espace économique européen en construction permanente au cours du XXe siècle. Cet espace exerce une influence sur les banquiers centraux et les banques centrales. Cette influence est cependant croisée : les banquiers centraux agissent en retour sur l’émergence de cet espace et la manière dont est abordée la problématique monétaire.

Les banques centrales et les banquiers centraux seront analysés en tant que réseau en relation avec les grandes problématiques européennes. Existe-t-il une identité « monétaire » européenne ? L’Europe doit-elle être organisée ou libérale ? De nouvelles institutions doivent-elles être créées ou doit-on d’abord attendre une plus grande harmonisation des économies ? In fine, cette journée d’étude devra se pencher sur une dernière question : pourquoi l’euro ? Une monnaie unique n’était en aucun cas la seule possibilité. Depuis 1919, les Européens ont cherché la stabilité monétaire. Pour l’atteindre, ils auraient aussi pu choisir la coopération financière entre État ou le fonctionnement libre des mécanismes du marché des changes. Au début des années 1990, Barry Eichengreen pensait que l’euro était le résultat politique de la mise en place du marché unique prévu par l’Acte unique : une instabilité monétaire aurait pu susciter un mécontentement contre les institutions européennes. Les banquiers centraux étaient-ils en accord avec ce constat ?

Accueil (10h) - Marianne Backes (CVCE)
Introduction (10h15-10h45) - Olivier Feiertag (Université de Rouen) et Frédéric Clavert (CVCE)

Les banquiers centraux dans l’entre-deux-guerres / Central bankers in the interwar period (11h-12h30) -
Présidence et discussion : Piet Clement (BRI / BIS)

Frédéric Clavert (CVCE) – La fondation de la Banque des règlements internationaux / The creation of the Bank for international Settlements

Ileana Racianu (Université de Genève) – Le Gouverneur Burillianu et la prolongation de la mission de la Banque de France : l’indépendance de la Banque Nationale de Roumanie en question / The Governor Burillianu and the prolongation of the Banque de France’s mission: the independence of Roumania’s national bank in question

Les banquiers centraux dans la construction européenne depuis 1945 / Central bankers and the European integration since 1945 - Première partie
Présidence et discussion : Laurence Badel (Université de Strasbourg) (14h-15h45)

Elena Danescu (CVCE) – Le comité Werner : nouvelles archives / The Werner committe : new documents

Emmanuel Mourlon-Druol (Institut Universitaire Européen) – Les banquiers centraux de l'échec du plan Werner à la création du SME (1974-1979) / Central bankers from the Werner Plan failure to the creation of the EMS (1974-1979)

Vincent Duchaussoy (Mission historique de la Banque de France) – La Banque de France et la contrainte européenne en France (1979-1983) / The Banque de France and the European constraint in France (1979-1983)

Seconde partie - Présidence et discussion : Olivier Feiertag (Université de Rouen) (16h00-17h30)

Hanspeter K. Scheller (Anciennement de la Banque centrale européenne) - Le Comité des Gouverneurs et l'unification monétaire européenne/The Committee of Governors and European monetary unification

Robert Raymond (Ancien directeur général de l’Institut monétaire européen)

Sanem (Gand Duché du Luxembourg) (Château de Sanem, L-4992)
Frédéric Clavert (email)
Château de Sanem
L-4992 Sanem

Arquivos do final da era sovietica podem mudar a historia

Existem concepções muito otimistas sobre o final da era soviética, em grande parte entretidas pelos próprios ocidentais, que constroem uma história basicamente leniente em relação a Mikhail Gorbatchev e seus assessores, em fases cruciais da Perestrojka e da fase agônica da finada União Soviética. As revelações de arquivos copiados sem autorização podem mudar a interprestação que se tem sobre o papel "democrático" de Gorbatchev, bem como sobre o modo de funcionamento do Partido Comunista.
Um reparo em relação ao que diz Claire Berlinski, neste seu artigo do City Journal: os diários de Anatoly Chernyaev, um dos mais importantes assessores de Gorbatchev, já foram traduzidos e estão sendoi publicados no quadro do projeto Cold War History, do Woodrow Wilson International Center for Scholars.
Eu mesmo já publiquei um artigo referindo-me a estas fontes, que são importantes. Os dados desse artigo vão referidos ao final, para não atrapalhar a leitura deste importante artigo.
Paulo Roberto de Almeida

A Hidden History of Evil
Claire Berlinski
City Journal, vol. 20. n. 2, Spring 2010

Why doesn’t anyone care about the unread Soviet archives?
Though Mikhail Gorbachev is lionized in the West, the untranslated archives suggest a much darker figure.

In the world’s collective consciousness, the word “Nazi” is synonymous with evil. It is widely understood that the Nazis’ ideology—nationalism, anti-Semitism, the autarkic ethnic state, the Führer principle—led directly to the furnaces of Auschwitz. It is not nearly as well understood that Communism led just as inexorably, everywhere on the globe where it was applied, to starvation, torture, and slave-labor camps. Nor is it widely acknowledged that Communism was responsible for the deaths of some 150 million human beings during the twentieth century. The world remains inexplicably indifferent and uncurious about the deadliest ideology in history.

For evidence of this indifference, consider the unread Soviet archives. Pavel Stroilov, a Russian exile in London, has on his computer 50,000 unpublished, untranslated, top-secret Kremlin documents, mostly dating from the close of the Cold War. He stole them in 2003 and fled Russia. Within living memory, they would have been worth millions to the CIA; they surely tell a story about Communism and its collapse that the world needs to know. Yet he can’t get anyone to house them in a reputable library, publish them, or fund their translation. In fact, he can’t get anyone to take much interest in them at all.

Then there’s Soviet dissident Vladimir Bukovsky, who once spent 12 years in the USSR’s prisons, labor camps, and psikhushkas—political psychiatric hospitals—after being convicted of copying anti-Soviet literature. He, too, possesses a massive collection of stolen and smuggled papers from the archives of the Central Committee of the Communist Party, which, as he writes, “contain the beginnings and the ends of all the tragedies of our bloodstained century.” These documents are available online at bukovsky-archives.net, but most are not translated. They are unorganized; there are no summaries; there is no search or index function. “I offer them free of charge to the most influential newspapers and journals in the world, but nobody wants to print them,” Bukovsky writes. “Editors shrug indifferently: So what? Who cares?”

The originals of most of Stroilov’s documents remain in the Kremlin archives, where, like most of the Soviet Union’s top-secret documents from the post-Stalin era, they remain classified. They include, Stroilov says, transcripts of nearly every conversation between Gorbachev and his foreign counterparts—hundreds of them, a near-complete diplomatic record of the era, available nowhere else. There are notes from the Politburo taken by Georgy Shakhnazarov, an aide of Gorbachev’s, and by Politburo member Vadim Medvedev. There is the diary of Anatoly Chernyaev—Gorbachev’s principal aide and deputy chief of the body formerly known as the Comintern—which dates from 1972 to the collapse of the regime. There are reports, dating from the 1960s, by Vadim Zagladin, deputy chief of the Central Committee’s International Department until 1987 and then Gorbachev’s advisor until 1991. Zagladin was both envoy and spy, charged with gathering secrets, spreading disinformation, and advancing Soviet influence.

When Gorbachev and his aides were ousted from the Kremlin, they took unauthorized copies of these documents with them. The documents were scanned and stored in the archives of the Gorbachev Foundation, one of the first independent think tanks in modern Russia, where a handful of friendly and vetted researchers were given limited access to them. Then, in 1999, the foundation opened a small part of the archive to independent researchers, including Stroilov. The key parts of the collection remained restricted; documents could be copied only with the written permission of the author, and Gorbachev refused to authorize any copies whatsoever. But there was a flaw in the foundation’s security, Stroilov explained to me. When things went wrong with the computers, as often they did, he was able to watch the network administrator typing the password that gave access to the foundation’s network. Slowly and secretly, Stroilov copied the archive and sent it to secure locations around the world.

When I first heard about Stroilov’s documents, I wondered if they were forgeries. But in 2006, having assessed the documents with the cooperation of prominent Soviet dissidents and Cold War spies, British judges concluded that Stroilov was credible and granted his asylum request. The Gorbachev Foundation itself has since acknowledged the documents’ authenticity.

Bukovsky’s story is similar. In 1992, President Boris Yeltsin’s government invited him to testify at the Constitutional Court of Russia in a case concerning the constitutionality of the Communist Party. The Russian State Archives granted Bukovsky access to its documents to prepare his testimony. Using a handheld scanner, he copied thousands of documents and smuggled them to the West.

The Russian state cannot sue Stroilov or Bukovsky for breach of copyright, since the material was created by the Communist Party and the Soviet Union, neither of which now exists. Had he remained in Russia, however, Stroilov believes that he could have been prosecuted for disclosure of state secrets or treason. The military historian Igor Sutyagin is now serving 15 years in a hard-labor camp for the crime of collecting newspaper clippings and other open-source materials and sending them to a British consulting firm. The danger that Stroilov and Bukovsky faced was real and grave; they both assumed, one imagines, that the world would take notice of what they had risked so much to acquire.

Stroilov claims that his documents “tell a completely new story about the end of the Cold War. The ‘commonly accepted’ version of history of that period consists of myths almost entirely. These documents are capable of ruining each of those myths.” Is this so? I couldn’t say. I don’t read Russian. Of Stroilov’s documents, I have seen only the few that have been translated into English. Certainly, they shouldn’t be taken at face value; they were, after all, written by Communists. But the possibility that Stroilov is right should surely compel keen curiosity.

For instance, the documents cast Gorbachev in a far darker light than the one in which he is generally regarded. In one document, he laughs with the Politburo about the USSR’s downing of Korean Airlines flight 007 in 1983—a crime that was not only monstrous but brought the world very near to nuclear Armageddon. These minutes from a Politburo meeting on October 4, 1989, are similarly disturbing:

Lukyanov reports that the real number of casualties on Tiananmen Square was 3,000.

Gorbachev: We must be realists. They, like us, have to defend themselves. Three thousands . . . So what?

And a transcript of Gorbachev’s conversation with Hans-Jochen Vogel, the leader of West Germany’s Social Democratic Party, shows Gorbachev defending Soviet troops’ April 9, 1989, massacre of peaceful protesters in Tbilisi.

Stroilov’s documents also contain transcripts of Gorbachev’s discussions with many Middle Eastern leaders. These suggest interesting connections between Soviet policy and contemporary trends in Russian foreign policy. Here is a fragment from a conversation reported to have taken place with Syrian president Hafez al-Assad on April 28, 1990:

H. ASSAD. To put pressure on Israel, Baghdad would need to get closer to Damascus, because Iraq has no common borders with Israel. . . .

M. S. GORBACHEV. I think so, too. . . .

H. ASSAD. Israel’s approach is different, because the Judaic religion itself states: the land of Israel spreads from Nile to Euphrates and its return is a divine predestination.

M. S. GORBACHEV. But this is racism, combined with Messianism!

H. ASSAD. This is the most dangerous form of racism.

One doesn’t need to be a fantasist to wonder whether these discussions might be relevant to our understanding of contemporary Russian policy in a region of some enduring strategic significance.

There are other ways in which the story that Stroilov’s and Bukovsky’s papers tell isn’t over. They suggest, for example, that the architects of the European integration project, as well as many of today’s senior leaders in the European Union, were far too close to the USSR for comfort. This raises important questions about the nature of contemporary Europe—questions that might be asked when Americans consider Europe as a model for social policy, or when they seek European diplomatic cooperation on key issues of national security.

According to Zagladin’s reports, for example, Kenneth Coates, who from 1989 to 1998 was a British member of the European Parliament, approached Zagladin on January 9, 1990, to discuss what amounted to a gradual merger of the European Parliament and the Supreme Soviet. Coates, says Zagladin, explained that “creating an infrastructure of cooperation between the two parliament[s] would help . . . to isolate the rightists in the European Parliament (and in Europe), those who are interested in the USSR’s collapse.” Coates served as chair of the European Parliament’s Subcommittee on Human Rights from 1992 to 1994. How did it come to pass that Europe was taking advice about human rights from a man who had apparently wished to “isolate” those interested in the USSR’s collapse and sought to extend Soviet influence in Europe?

Or consider a report on Francisco Fernández Ordóñez, who led Spain’s integration into the European Community as its foreign minister. On March 3, 1989, according to these documents, he explained to Gorbachev that “the success of perestroika means only one thing—the success of the socialist revolution in contemporary conditions. And that is exactly what the reactionaries don’t accept.” Eighteen months later, Ordóñez told Gorbachev: “I feel intellectual disgust when I have to read, for example, passages in the documents of ‘G7’ where the problems of democracy, freedom of human personality and ideology of market economy are set on the same level. As a socialist, I cannot accept such an equation.” Perhaps most shockingly, the Eastern European press has reported that Stroilov’s documents suggest that François Mitterrand was maneuvering with Gorbachev to ensure that Germany would unite as a neutral, socialist entity under a Franco-Soviet condominium.

Zagladin’s records also note that the former leader of the British Labour Party, Neil Kinnock, approached Gorbachev—unauthorized, while Kinnock was leader of the opposition—through a secret envoy to discuss the possibility of halting the United Kingdom’s Trident nuclear-missile program. The minutes of the meeting between Gorbachev and the envoy, MP Stuart Holland, read as follows:

In [Holland’s] opinion, Soviet Union should be very interested in liquidation of “Tridents” because, apart from other things, the West—meaning the US, Britain and France—would have a serious advantage over the Soviet Union after the completion of START treaty. That advantage will need to be eliminated. . . . At the same time Holland noted that, of course, we can seriously think about realisation of that idea only if the Labour comes to power. He said Thatcher . . . would never agree to any reduction of nuclear armaments.

Kinnock was vice president of the European Commission from 1999 to 2004, and his wife, Glenys, is now Britain’s minister for Europe. Gerard Batten, a member of the UK Independence Party, has noted the significance of the episode. “If the report given to Mr. Gorbachev is true, it means that Lord Kinnock approached one of Britain’s enemies in order to seek approval regarding his party’s defense policy and, had he been elected, Britain’s defense policy,” Batten said to the European Parliament in 2009. “If this report is true, then Lord Kinnock would be guilty of treason.”

Similarly, Baroness Catherine Ashton, who is now the European Union’s foreign minister, was treasurer of Britain’s Campaign for Nuclear Disarmament from 1980 to 1982. The papers offer evidence that this organization received “unidentified income” from the Soviet Union in the 1980s. Stroilov’s papers suggest as well that the government of the current Spanish EU commissioner for economic and monetary affairs, Joaquín Almunia, enthusiastically supported the Soviet project of gradually unifying Germany and Europe into a socialist “common European home” and strongly opposed the independence of the Baltic states and then of Ukraine.

Perhaps it doesn’t surprise you to read that prominent European politicians held these views. But why doesn’t it? It is impossible to imagine that figures who had enjoyed such close ties to the Nazi Party—or, for that matter, to the Ku Klux Klan or to South Africa’s apartheid regime—would enjoy top positions in Europe today. The rules are different, apparently, for Communist fellow travelers. “We now have the EU unelected socialist party running Europe,” Stroilov said to me. “Bet the KGB can’t believe it.”

And what of Zagladin’s description of his dealings with our own current vice president in 1979?

Unofficially, [Senator Joseph] Biden and [Senator Richard] Lugar said that, in the end of the day, they were not so much concerned with having a problem of this or that citizen solved as with showing to the American public that they do care for “human rights.” . . . In other words, the collocutors directly admitted that what is happening is a kind of a show, that they absolutely do not care for the fate of most so-called dissidents.

Remarkably, the world has shown little interest in the unread Soviet archives. That paragraph about Biden is a good example. Stroilov and Bukovsky coauthored a piece about it for the online magazine FrontPage on October 10, 2008; it passed without remark. Americans considered the episode so uninteresting that even Biden’s political opponents didn’t try to turn it into political capital. Imagine, if you can, what it must feel like to have spent the prime of your life in a Soviet psychiatric hospital, to know that Joe Biden is now vice president of the United States, and to know that no one gives a damn.

Bukovsky’s book about the story that these documents tell, Jugement à Moscou, has been published in French, Russian, and a few other Slavic languages, but not in English. Random House bought the manuscript and, in Bukovsky’s words, tried “to force me to rewrite the whole book from the liberal left political perspective.” Bukovsky replied that “due to certain peculiarities of my biography I am allergic to political censorship.” The contract was canceled, the book was never published in English, and no other publisher has shown interest in it. Neither has anyone wanted to publish EUSSR, a pamphlet by Stroilov and Bukovsky about the Soviet roots of European integration. In 2004, a very small British publisher did print an abbreviated version of the pamphlet; it, too, passed unnoticed.

Stroilov has a long list of complaints about journalists who have initially shown interest in the documents, only to tell him later that their editors have declared the story insignificant. In advance of Gorbachev’s visit to Germany for the celebration of the 20th anniversary of the fall of the Berlin Wall, Stroilov says, he offered the German press the documents depicting Gorbachev unflatteringly. There were no takers. In France, news about the documents showing Mitterrand’s and Gorbachev’s plans to turn Germany into a dependent socialist state prompted a few murmurs of curiosity, nothing more. Bukovsky’s vast collection about Soviet sponsorship of terrorism, Palestinian and otherwise, remains largely unpublished.

Stroilov says that he and Bukovsky approached Jonathan Brent of Yale University Press, which is leading a publishing project on the history of the Cold War. He claims that initially Brent was enthusiastic and asked him to write a book, based on the documents, about the first Gulf War. Stroilov says that he wrote the first six chapters, sent them off, and never heard from Brent again, despite sending him e-mail after e-mail. “I can only speculate what so much frightened him in that book,” Stroilov wrote to me.

I’ve also asked Brent and received no reply. This doesn’t mean anything; people are busy. I am less inclined to believe in complex attempts to suppress the truth than I am in indifference and preoccupation with other things. Stroilov sees in these events “a kind of a taboo, the vague common understanding in the Establishment that it is better to let sleeping dogs lie, not to throw stones in a house of glass, and not to mention a rope in the house of a hanged man.” I suspect it is something even more disturbing: no one much cares.

“I know the time will come,” Stroilov says, “when the world has to look at those documents very carefully. We just cannot escape this. We have no way forward until we face the truth about what happened to us in the twentieth century. Even now, no matter how hard we try to ignore history, all these questions come back to us time and again.”

The questions come back time and again, it is true, but few remember that they have been asked before, and few remember what the answer looked like. No one talks much about the victims of Communism. No one erects memorials to the throngs of people murdered by the Soviet state. (In his widely ignored book, A Century of Violence in Soviet Russia, Alexander Yakovlev, the architect of perestroika under Gorbachev, puts the number at 30 to 35 million.)

Indeed, many still subscribe to the essential tenets of Communist ideology. Politicians, academics, students, even the occasional autodidact taxi driver still stand opposed to private property. Many remain enthralled by schemes for central economic planning. Stalin, according to polls, is one of Russia’s most popular historical figures. No small number of young people in Istanbul, where I live, proudly describe themselves as Communists; I have met such people around the world, from Seattle to Calcutta.

We rightly insisted upon total denazification; we rightly excoriate those who now attempt to revive the Nazis’ ideology. But the world exhibits a perilous failure to acknowledge the monstrous history of Communism. These documents should be translated. They should be housed in a reputable library, properly cataloged, and carefully assessed by scholars. Above all, they should be well-known to a public that seems to have forgotten what the Soviet Union was really about. If they contain what Stroilov and Bukovsky say—and all the evidence I’ve seen suggests that they do—this is the obligation of anyone who gives a damn about history, foreign policy, and the scores of millions dead.

Claire Berlinski, a contributing editor of City Journal, is an American journalist who lives in Istanbul. She is the author of There Is No Alternative: Why Margaret Thatcher Matters.

City Journal
A quarterly magazine of urban affairs, published by the Manhattan Institute, edited by Brian C. Anderson.

===============

Artigo de Paulo Roberto de Almeida:
Outro mundo possível: alternativas históricas da Alemanha, antes e depois do muro de Berlim
Revista Espaço Acadêmico (ano 9, n. 102, Novembro 2009, ISSN: 1519-6196, p. 25-39);
Revista digital Espaço da Sophia (ano 3, n. 32, novembro 2009; ISSN: 1981-318X);
Publicado em quatro partes, sob o titulo genérico de “Muro de Berlim, 20 anos depois”, Via Política (1. “Berlim e Alemanha no centro da história contemporânea”, 3.11.09; 2. “Guerra Fria: Berlim de volta ao centro da história contemporânea”, 11.11.09; 3. “O que poderia ter ocorrido com Berlim e com a Alemanha, e que não ocorreu?”, 23.11.09; 4. “O que poderá ocorrer com a nova Alemanha, e que ainda não ocorreu?”, 30.11.2009).
Relação de Originais n. 2048.

The Trilemma of Civilization - Dani Rodrik

Greek Lessons for the World Economy
Dani Rodrik
Project Syndicate, May 11, 2010

CAMBRIDGE – The $140 billion support package that the Greek government has finally received from its European Union partners and the International Monetary Fund gives it the breathing space needed to undertake the difficult job of putting its finances in order. The package may or may not prevent Spain and Portugal from becoming undone in a similar fashion, or indeed even head off an eventual Greek default. Whatever the outcome, it is clear that the Greek debacle has given the EU a black eye.

Deep down, the crisis is yet another manifestation of what I call “the political trilemma of the world economy”: economic globalization, political democracy, and the nation-state are mutually irreconcilable. We can have at most two at one time. Democracy is compatible with national sovereignty only if we restrict globalization. If we push for globalization while retaining the nation-state, we must jettison democracy. And if we want democracy along with globalization, we must shove the nation-state aside and strive for greater international governance.

The history of the world economy shows the trilemma at work. The first era of globalization, which lasted until 1914, was a success as long as economic and monetary policies remained insulated from domestic political pressures. These policies could then be entirely subjugated to the demands of the gold standard and free capital mobility. But once the political franchise was enlarged, the working class got organized, and mass politics became the norm, domestic economic objectives began to compete with (and overwhelm) external rules and constraints.

The classic case is Britain’s short-lived return to gold in the interwar period. The attempt to reconstitute the pre-World War I model of globalization collapsed in 1931, when domestic politics forced the British government to choose domestic reflation over the gold standard.

The architects of the Bretton Woods regime kept this lesson in mind when they redesigned the world’s monetary system in 1944. They understood that democratic countries would need the space to conduct independent monetary and fiscal policies. So they contemplated only a “thin” globalization, with capital flows restricted largely to long-term lending and borrowing. John Maynard Keynes, who wrote the rules along with Harry Dexter White, viewed capital controls not as a temporary expedient but as a permanent feature of the global economy.

The Bretton Woods regime collapsed in the 1970’s as a result of the inability or unwillingness – it is not entirely clear which – of leading governments to manage the growing tide of capital flows.

The third path identified by the trilemma is to do away with national sovereignty altogether. In this case, economic integration can be married with democracy through political union among states. The loss in national sovereignty is then compensated by the “internationalization” of democratic politics. Think of this as a global version of federalism.

The United States, for example, created a unified national market once its federal government wrested sufficient political control from individual states. This was far from a smooth process, as the American Civil War amply demonstrates.

The EU’s difficulties stem from the fact that the global financial crisis caught Europe midway through a similar process. European leaders always understood that economic union needs to have a political leg to stand on. Even though some, such as the British, wished to give the Union as little power as possible, the force of the argument was with those who pressed for political integration alongside economic integration. Still, the European political project fell far short of the economic one.

Greece benefited from a common currency, unified capital markets, and free trade with other EU member states. But it does not have automatic access to a European lender of last resort. Its citizens do not receive unemployment checks from Brussels the way that, say, Californians do from Washington, DC, when California experiences a recession. Nor, given linguistic and cultural barriers, can unemployed Greeks move just as easily across the border to a more prosperous European state. And Greek banks and firms lose their creditworthiness alongside their government if markets perceive the latter to be insolvent.

The German and French governments, for their part, have had little say over Greece’s budget policies. They could not stop the Greek government from borrowing (indirectly) from the European Central Bank (ECB) as long as credit rating agencies deemed Greek debt creditworthy. If Greece chooses default, they cannot enforce their banks’ claims on Greek borrowers or seize Greek assets. Nor can they prevent Greece from leaving the eurozone.

What all this means is that the financial crisis has turned out to be a lot deeper and its resolution considerably messier than necessary. The French and German governments have grudgingly come up with a major loan package, but only after considerable delay and with the IMF standing at their side. The ECB has lowered the threshold of creditworthiness that Greek government securities must meet in order to allow continued Greek borrowing.

The success of the rescue is far from assured, in view of the magnitude of belt-tightening that it calls for and the hostility that it has aroused on the part of Greek workers. When push comes to shove, domestic politics trumps foreign creditors.

The crisis has revealed how demanding globalization’s political prerequisites are. It shows how much European institutions must still evolve to underpin a healthy single market. The choice that the EU faces is the same in other parts of the world: either integrate politically, or ease up on economic unification.

Before the crisis, Europe looked like the most likely candidate to make a successful transition to the first equilibrium – greater political unification. Now its economic project lies in tatters while the leadership needed to rekindle political integration is nowhere to be seen.

The best that can be said is that Europe will no longer be able to delay making the choice that the Greek affair has laid bare. If you are an optimist, you might even conclude that Europe will therefore ultimately emerge stronger.

Copyright: Project Syndicate, 2010.
www.project-syndicate.org
For a podcast of this commentary in English, please use this link.
You might also like to read more from Dani Rodrik or return to our home page.

sábado, 29 de maio de 2010

Assessor da Presidencia nega problemas com a Argentina

Não se esperava outra coisa...

Brasil minimiza divergencias comerciales con Argentina y niega represalias
Leila Yatim
EFE – 28/05/2010

El asesor de la Presidencia brasileña para Asuntos Internacionales, Marco Aurelio García, minimizó hoy las divergencias comerciales con Argentina y negó que el Gobierno de Brasil pretenda tomar represalias si se restringe la importación de alimentos en ese país.

“No hay clima para represalias. La pelea entre Brasil y Argentina sólo tiene consistencia en el fútbol”, afirmó el asesor de Lula en declaraciones a periodistas en Río de Janeiro después de participar en la apertura del Foro Brasil-Unión Europea.

García agregó que Lula tuvo el pasado lunes una “calurosa reunión” en Buenos Aires con la presidenta argentina, Cristina Fernández, durante las celebraciones del Bicentenario de la independencia de es país.

“Si mañana tienen un nuevo encuentro, evidentemente abordarán ese asunto pero sin ningún ánimo de represalia”, agregó al referirse al viaje que hará Fernández el viernes a Río de Janeiro para participar, junto con Lula y otros mandatarios, en el III Foro de la Alianza de las Civilizaciones.

El funcionario también minimizó las declaraciones de la víspera del secretario de Comercio del Ministerio de Desarrollo, Industria y Comercio de Brasil, Welber Barral, quien advirtió que el Gobierno brasileño puede responder con acciones similares a las posibles medidas de Argentina para restringir la importación de alimentos.

“El principio del Gobierno brasileño en sus relaciones internacionales es la reciprocidad. Brasil también tiene un mecanismo electrónico de control de importaciones”, dijo Barral al ser consultado sobre las medidas que Argentina podría adoptar, que oficialmente no han sido anunciadas.

Según versiones de presa, el Gobierno de Argentina estudia restringir el ingreso en su país de alimentos que compitan con la producción local, incluyendo los procedentes de sus socios del Mercosur (Brasil, Paraguay y Uruguay).

El asesor de Lula dijo que Argentina puede retrasar la concesión de algunas licencias de importación, pero eso “no configura una guerrilla y mucho menos una guerra de posiciones”.

“Países que tienen una relación como la que tenemos Argentina y Brasil difícilmente van a enfrentar una crisis por esa situación. Por eso no hay ninguna preocupación”, aseguró.

Acesso em: 28/05/2010.