O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Carreira Diplomatica: respondendo a questoes (todas juntas...)

[Nota preliminar: as perguntas e respostas abaixo transcritas também podem ser lidas neste arquivo unificado, aqui.]

Desde quando mantenho um site (e isso começou no século passado), mas sobretudo desde que comecei a brincar com essas coisas de blogs (e tive vários, ainda tenho, ao longo do período mais recente), tenho recebido, por meios diversos -- formulário de contato no site, demandas diretas por e-mail e, com enorme intensidade na breve era dos blogs, dezenas, centenas de perguntas na seção de comentários deste blog -- questões dos mais diversos tipos, todas ligadas à carreira diplomática, à preparação para o concurso, dicas de estudos, whatever, enfim, dezenas, centenas de consultas para atender às dúvidas, angústias e questionamentos de jovens (alguns nem tanto), sobre esses aspectos por vezes cruciais da preparação para uma vocação (embora muitos estejam mesmo buscando uma profissão, de preferência com estabilidade, ganhando bem e sem precisar trabalhar muito...). (Maldade deste escrevinhador!)

Tenho a impressão de que seu cobrasse por consulta, digamos 5 míseros reais, talvez eu não estivesse milionário, mas certamente teria aumentado a minha biblioteca em mais algumas centenas de livros, o que já seria um outro problema, mas bem mais fácil de resolver.
Acho que vou abrir um consultório diplomático, com divã, água com gás, uma máquina de expresso, e uma rede para mim, para ficar lendo enquanto as pessoas destilam suas angústias...

Sans blague! O post que reproduzo abaixo refere-se, possivelmente, ao mais consultado por gregos e goianos em busca de aconselhamento virtual com quem os consultantes acham que poderá resolver pequenas e grandes dúvidas. Mas este é apenas um entre muitos outros, que estão por aí, ou já se perderam nas camadas geológicas de meus vários blogs e nas respostas diretas aos angustiados.
Por vezes tento consolidar no meu site -- sim, tem uma seção de "psicodiplomacia" neste link -- ou neste blog, mas é difícil, por falta de tempo e porque as perguntas vão pingando, muitas vezes repetitivas.

Justamente por acreditar que minhas respostas a determinadas perguntas podem ajudar outros em situação semelhante ou similar, que tomei a liberdade de postar novamente aqui est post que me teria feito ficar rico (pelo menos em livros), se eu tivesse "cobrado ingresso de entrada".
Estou postando novamente e desde já me desculpo com todos aqueles, identificados por nomes e locais, que não gostariam de ter suas perguntas, por vezes bizarras, novamente reproduzidas aqui, e aos olhos de todos, e não como simples "notas de rodapé", como são os comentários.
Mas, se a pessoa escreve num blog aberto, preferindo esta via à consulta direta, então é porque não tem problemas com a chamada "privacy".
Creio que esta reprodução, embora longa, poderá ajudar novos consulentes.
Vou pensar em abrir um consultório...
Paulo Roberto de Almeida


Respondendo a questões de Diplomacia:

quinta-feira, 21 de maio de 2009

1112) Carreira Diplomatica: respondendo a um questionario

Carreira Diplomática: respondendo a um questionário
Paulo Roberto de Almeida (www.pralmeida.org)
Respostas a questões colocadas por graduanda em administração na UFSC.
1. Como você se sente por ter escolhido essa profissão (área de atuação)?
PRA: Bastante bem: de certa forma, a profissão me escolheu, posto que desde muito cedo comecei a viajar, primeiro pelo Brasil, depois pela América do Sul e, finalmente, ao completar 21 anos, decidi estudar na Europa, por meus próprios meios e obtendo meus próprios recursos. Foi uma escolha que me preparou para uma vida nômade e aventureira e nunca me arrependi de ter-me lançado ao mundo em fase ainda precoce e sem sequer ter terminado o segundo ano da graduação. Como minha intenção era estudar fora do Brasil, pode-se dizer que realizei meu intento. Quando regressei ao Brasil, depois de quase sete anos na Europa, eu já estava preparado, digamos assim, para tornar-me diplomata. Mas, antes, não tinha pensado: “tropecei” com a carreira, se ouso dizer. Até então, eu só queria derrubar o governo militar.
2. Como você descreveria a sua profissão?
PRA: Uma burocracia de alto nível de qualificação técnica com ampla abertura para as humanidades e o conhecimento especializado. Trata-se, simplesmente, da mais intelectualizada carreira na burocracia federal, combinando aspectos da carreira acadêmica, da pesquisa aplicada e da elaboração de decisões em ambiente altamente competitivo, tanto interna, quanto externamente. Uma elite, como se costuma dizer.
3. Qual sua formação acadêmica? Você considera que ela foi fundamental para o sucesso profissional?
PRA: Ciências Sociais, ou humanidades, no sentido lato, e acredito que ela foi fundamental no ingresso e sucesso na carreira escolhida. Desde muito cedo inclinei-me para os estudos sociais, com forte ênfase na história, na política e na economia, complementados por uma dedicação similar a geografia, antropologia, línguas e cultura refinada, de uma maneira geral. Sou basicamente um autodidata e creio que isso facilitou-me enormemente o ingresso na carreira, pois quase não necessitei de muito estudo para os exames de ingresso. Aliás, entre a decisão de fazer o concurso (direto, no meu caso) e o ingresso efetivo, decorreram pouquíssimos meses (três).
4. Quais as principais dificuldades enfrentadas para conseguir passar no concurso?
PRA: Direito e Inglês, posto que eu havia estudado amplamente todas as demais matérias, mas não Direito, e todos os meus estudos foram feitos em Francês, que eu dominava amplamente. Mas, meu Inglês era muito elementar, servindo tão somente para leituras. Acho que passei raspando nessas duas matérias, nas outras fui bem.
5. Quando você iniciou sua carreira você tinha definido alguns objetivos e metas de onde queria chegar?
PRA: Não especialmente: nunca fui carreirista, no sentido tradicional do termo, e não me preocupava em ser embaixador ou ocupar qualquer posto de distinção. O que me seduzia era a profissão em si, a mobilidade geográfica, o conhecimento de novos países, a possibilidade de estar sempre aprendendo, estudando, viajando. Sou basicamente um estudioso, um observador da realidade, um “compilador” de informações e análises e um escritor improvisado. Todo o resto me é secundário.
6. Como você integra as diversas esferas de sua vida (trabalho, família, lazer, esporte, cursos, etc.)? Está satisfeito?
PRA: Imenso sacrifício para consegui fazer tudo aquilo que tenho vontade, pela simples razão que eu tenho vontade de ler tudo, o tempo todo, em qualquer circunstância, assim como tenho vontade de viajar, de participar de atividades acadêmicas e intelectuais, tendo ao mesmo tempo de me desempenhar em funções atribuídas pela burocracia no meio de tudo isso. Ora, é praticamente impossível conciliar tantas vontades, e ainda ser um marido perfeito, um pai de família perfeito e outras coisas da vida social e relacional. Em síntese, esses outros aspectos foram de certa forma sacrificados no empenho pessoal em ler, estudar e escrever. Reconheço essas imperfeições, mas não se pode ter tudo na vida: escolhas são inevitáveis, e as minhas estão do lado da leitura, do saber e da escrita. São atividades nas quais eu me realizo plenamente. Em outros termos, ninguém consegue integrar todos os seus interesses perfeitamente, e algum aspecto (ou vários) acaba sempre sendo sacrificado; no meu caso, são horas de sono, de lazer, de simples far niente, e também certa negligência familiar, reconheço. Não pratico esportes, a não ser caminhadas moderadas, já em idade madura. Pratico leituras, com alguma intensidade, eu diria intensíssima, e sobretudo o gosto da escrita. No mais, sou um pouco eremita...
7. Quais os períodos de sua carreira que você mais gostou?
PRA: Todos, pois em todos e em cada um eu fiz aquilo que mais gosto: viajar, muito, intensamente, ler, também intensamente, escrever, observar, aprender, em toda e qualquer circunstância, mesmo em situações difíceis de abastecimento, conforto, restrições monetárias ou outras. Toda a minha carreira me trouxe algo de bom, mesmo em situações temporariamente de sacrifício. Nunca deixei de fazer aquilo que mais gosto, e que já foi descrito anteriormente.
8. Quais os períodos de sua carreira que você menos gostou?
PRA: Numa ou noutra situação, alguns postos apresentam dificuldades materiais, desconfortos psicológicos, desafios razoáveis: por pequenos momentos, chega-se a desejar voltar ao Brasil e retornar à rotina burocrática do cerrado central, onde os atrativos são menores, mas também as surpresas. De toda forma, sempre aproveitei os momentos de dificuldade para refletir e escrever, como sempre, aliás.
9. Dentro da perspectiva de sua carreira tem alguma coisa que você gostaria especialmente de evitar?
PRA: Sim, talvez eu devesse ter dedicado menos atenção aos livros e mais às pessoas, mas essas são escolhas que fazemos deliberadamente, por opções próprias, pensadas ou não. Quem tem a compulsão pela leitura e pela escrita, não consegue acalmar-se a menos de satisfazer o seu “vicio”, daí o sacrifício de outros aspectos da vida social que muita gente valoriza em primeiro lugar. Por outro lado, nunca, na carreira, fui obrigado a assumir obrigações que eu mesmo não desejasse assumir, como por exemplo trabalhar em áreas para as quais eu não me sinto talhado nem tenho a mínima vontade de experimentar: administração, por exemplo, ou cerimonial, ou talvez ainda consular. São áreas nas quais eu provavelmente me sentiria infeliz, pois o meu terreno natural são os estudos, de qualquer tipo: geográfico, político, econômico, cultura, antropológico, no sentido amplo. Todas as áreas funcionais de caráter geográfico, político ou sobretudo econômico me servem perfeitamente. Aliás, nunca me pediram para trabalhar em áreas nas quais eu não gosto, e se me pedissem eu não teria nenhuma hesitação em recusar, mesmo podendo incorrer em alguma falta funcional ou ser sancionado por isto. Sou um pouco anarquista, e não gosto de fazer o que me mandam e sim o que eu decido e gosto de fazer.
Por outro lado, jamais me pediram para escrever ou dizer algo que violentasse minha consciência, e eu não hesitaria um segundo em recusar-me terminantemente, como algumas vezes me recusei a defender determinados pontos de vista, que não eram os meus. Por outro lado, jamais enfrentei a obrigação de escrever naquele estilo clássico, ou chatérrimo, que é o diplomatês habitual, cheio de adjetivos hipócritas e de pura formalidade vazia: não tenho espírito, paciência nem disposição para esse tipo de enrolação. Costumo escrever o que penso, sem qualquer concessão a formalismos. Sobretudo, não costumo produzir bullshits, muito freqüentes nesta profissão...
10. Você tem objetivo em longo prazo na sua carreira? Você tem uma visão de futuro profissional?
PRA: Acredito que o diplomata deve servir antes à Nação do que a governos, deve defender valores, e não se subordinar a teses momentaneamente vitoriosas que por alguma eventualidade confrontem esses valores. Já escrevi algo a esse respeito, e remeto a meu trabalho: “Dez Regras Modernas de Diplomacia” (Chicago, 22 jul. 2001; São Paulo-Miami-Washington 12 ago. 2001, 6 p., n. 800; ensaio breve sobre novas regras da diplomacia; revista eletrônica Espaço Acadêmico, a. 1, n. 4, setembro de 2001; link: http://www.espacoacademico.com.br/004/04almeida.htm).
11. Você se considera realmente bom em quê? Quais são seus pontos fortes? E como você aproveita seus pontos fortes no seu trabalho?
PRA: Creio que sou capaz de fazer análises contextuais que envolvam conhecimento histórico, embasamento econômico e situação política, ou seja, tenho instrumentos analíticos e amplos conhecimentos que me permitem situar qualquer problema (ou quase) em um contexto mais amplo, e daí extrair alguns elementos de informação para a instrução de um processo decisório que tenha em conta o interesse nacional. Toda a minha vida eu estudei o Brasil e o mundo, visando tornar o primeiro melhor, num mundo que nem sempre é cooperativo. Registre-se que eu não pretendo tornar o Brasil melhor para si mesmo, ou seja, uma grande potência ou qualquer pretensão desse gênero, que encontro simplesmente ridícula. Eu pretendo tornar o Brasil melhor para os brasileiros, ponto. Contento-me apenas com isso. Minha perspectiva, a despeito de ser um funcionário de Estado, não é a do Estado. Não pretendo trabalhar no Estado, para o Estado, com o Estado: minha perspectiva é a dos indivíduos concretos, e meus objetivos são promover os indivíduos, se preciso for contra o Estado. Não tenho nenhum culto ao Estado e nem pretendo torná-lo maior ou mais poderoso, apenas mais eficiente para servir aos indivíduos, não a si mesmo. Desespera-me essas pretensões nacionalistas estatizantes, pois elas se fazem, em geral, em detrimento do bem-estar individual da maior parte dos cidadãos.
Por outro lado, não me considero patriota, no sentido corriqueiro do termo. Sou brasileiro por puro acidente geográfico, pois poderia ter nascido em qualquer outro país ou em qualquer outra época, por puro acaso. Gostaria de reiterar esse ponto, com toda a ênfase que me é permitida. Não sou dado a patriotismos, nem a chauvinismos ultrapassados e ridículos. A nacionalidade, repito, é um acidente geográfico, ou talvez seja a naturalidade, da qual decorre a primeira. Parto do pressuposto da unidade fundamental e universal da espécie humana. Sou brasileiro, como poderia ter sido esquimó, hotentote ou pigmeu, e ninguém seria responsável por esses acasos demográficos, nem mesmo meus pais, posto que ninguém “fabrica” uma pessoa com base em especificações pré-determinadas. Somos em parte o resultado da herança genética (em grande medida, talvez mais do que o indicado ou desejável, mas talvez não a parte mais decisiva de nossas personalidades); em parte o resultado do meio social e cultural no qual crescemos, e das influências que experimentamos involuntariamente em diversas etapas formativas de nosso caráter; e em parte ainda (o que espero mais substancial ou importante), somos o produto de nossa própria formação ativa, dos estudos empreendidos e dos esforços que fazemos nós mesmos para moldar nossas vidas, nosso estilo de comportamento e nossa maneira de pensar, com base em escolhas e preferências que adotamos ao longo da vida. Devemos sempre assumir responsabilidade pelo que somos, e jamais atribuir ao meio ou a qualquer herança genética determinados traços que podem eventualmente revelar-se menos funcionais para nosso desempenho profissional ou intelectual.
Meus pontos fortes, portanto, são minha capacidade analítica, meus conhecimentos acumulados e meu devotamento à causa dos indivíduos, não dos Estados, e sempre tento passar esses pontos à frente de qualquer outra consideração. Não hesito em defender meus pontos de vista, mesmo contra meus interesses imediatos, que poderiam recomendar uma acomodação com a situação presente – a lei da inércia é uma das mais disseminadas na humanidade – ou com autoridades de qualquer tipo. Não costumo fazer concessões a autoridades apenas para obter vantagens pessoais, e acho essa atitude basicamente correta (ainda que a um custo por vezes enorme no plano pessoal). Talvez seja teimosia de minha parte, mas considero isso antes uma virtude, do que um defeito. Enfim, tendo concepções fortes sobre determinados temas, me é muito mais fácil preparar e expor posições do interesse do Brasil, com base em conhecimentos previamente acumulados, o que me dispensa de longas pesquisas ou buscas em arquivos.
12. Quais são seus pontos fracos?
PRA: Devo ter (e tenho) vários, sendo os mais evidentes essa introversão habitual, essa preferência ao convívio com os livros, mais do que a convivência com pessoas, uma certa arrogância intelectual (que reconheço plenamente), derivada de leituras intensas e de uma imensa acumulação de conhecimentos e informações – que em excesso podem ser prejudiciais, dizem alguns – essa pretensão a saber mais do que os outros (o que em parte é verdade, pela simples intensidade de leituras, mas os outros não gostam que se lhes confronte os argumentos, obviamente). Por outro lado, não tenho nenhum respeito pela hierarquia ou pela autoridade, o que muitos consideram um defeito (mas não eu, dado meu anarquismo particular). Não sou de respeitar o argumento da autoridade, mas apenas a autoridade do argumento, a lógica impecável, e a decisão bem formulada, posto que empiricamente embasada, tecnicamente sólida, com menor custo-oportunidade ou a melhor relação custo-benefício. Enfim, sou um racionalista, e detesto impressionismos e subjetivismos, o que é muito fácil de encontrar em quaisquer meios. Daí choques inevitáveis com determinadas pessoas que pretendem mandar a partir de sua vontade exclusiva, não de um estudo aprofundado de situação. Enfim, ser rebelde assim deve ser um defeito...
13. O que você mais deseja na sua carreira?
PRA: Todos somos egocêntricos ou narcisistas em certa medida. Todos queremos reconhecimento e prestígio, por mais que se diga o contrário. Todos queremos ser elogiados e premiados (no meu caso não monetariamente ou em qualquer aspecto material). Assim, desejo ser reconhecido não necessariamente como um bom diplomata, mas simplesmente como um bom cidadão, alguém que cumpre seus deveres e atua conscienciosamente em benefício da maioria (que calha de ser o povo brasileiro, mas poderia ser qualquer outro, pois como disse, eu me coloco do ponto de vista dos indivíduos, não do Estado). Gostaria de ser reconhecido como estudioso, como esforçado e, sobretudo, como alguém comprometido com o bem comum. Pode ser vaidade, mas é assim que vejo minha carreira, que para mim não é uma simples carreira de Estado, mas sim uma atividade que me coloca no centro (ou pelo menos numa das agências) do Estado, ali colocado para servir a pessoas, não a instituições abstratas.
Gostaria que se dissesse de mim, em algum momento futuro: foi um funcionário dedicado, foi um homem bom, esforçado, devotado ao bem comum, sobretudo foi correto consigo mesmo e com todas as instâncias de interação social ou profissional. Praticou a honestidade intelectual e se esforçou para fazer do Brasil e do mundo lugares melhores do que aqueles que encontrou em sua etapa inicial de vida.
14. O que você pensa que acontecerá à sua carreira nos próximos dez anos?
PRA: Nada de muito relevante, posto que não sou carreirista e não faço da carreira o centro de minhas preocupações intelectuais ou sequer materiais. Estou na carreira diplomática, como poderia estar na academia ou em alguma outra atividade que tenha a ver com o estudo, o esforço intelectual, a análise e a elaboração de propostas. Sou basicamente um intelectual e a carreira para mim é secundária. Provavelmente vou me aposentar nos próximos dez anos, e aí dispor de todo o meu tempo livre para me dedicar àquilo de que mais gosto: leitura, redação, um pouco de aulas e palestras, viagens, alguns prazeres materiais (como a gastronomia, ou a gourmandise, por exemplo) e espero ter condições físicas de continuar escrevendo, ensinando e colaborando com a elevação intelectual da sociedade pelo maior tempo possível. Se me sobrar tempo gostaria de consertar algumas coisas que encontro muito erradas no Brasil, como por exemplo: a corrupção (generalizada em todas as esferas), a desonestidade intelectual nas academias, a miséria material de grande parte da população (que decorre, em minha opinião, de políticas erradas e do excesso de poderes conferidos ao Estado), enfim, tudo aquilo que sabemos errado em nosso País.
15. O que você aconselharia para alguém que estivesse iniciando na mesma área?
PRA: Seja estudioso, dedicado, honesto intelectualmente, esforçado no trabalho, um pouco (mas apenas um pouco) obediente, inovador, curioso, questionador – mas ostentando um ceticismo sadio, não uma desconfiança doentia –, tente aprender com as adversidades, trate todo mundo bem (e, para mim, da mesma forma, um porteiro e um presidente), não seja preguiçoso (embora dormir seja sumamente agradável), cultive as pessoas, mais do que os livros (o que eu mesmo não faço), seja amado e ame alguém, ou mais de um... Enfim, seja um pouco rebelde, também, pois a humanidade só avança com aqueles que contestam as situações estabelecidas, desafiam o status quo, tomam novos caminhos, propõem novas soluções a velhos problemas (alguns novos também). No meio de tudo isso, não se leve muito a sério, pois a vida é uma só – sim, sou absolutamente irreligioso – e vale a pena se divertir um pouco. Tudo o que eu falei ou escrevi acima, parece sério demais. Não se leve muito a sério, tenha tempo de se divertir, de contentar a si mesmo e os que o cercam.
Brasília, 21 de maio de 2009.
Paulo R. de Almeida

84 comentários:

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André disse...
Realmente muito instrutivas as dicas... e perigosas, sobretudo a quem deseja que sua vontade seja obedecida somente em função da autoridade de que é ocasionalmente revestida, e não em função do conhecimento objetivo de causa em que se baseia.
Bety Bückér disse...
achei este blog por acaso,no meio de uma pesquisa se sirvo para o serviço diplomático, sou meio autodidata e me peguei estudando história do Brasil em pleno sábado a tarde quando a maioria das mulheres brasileiras estão no cabelereiro,e como você disse meu maior defeito é - não tenho nenhum respeito pela hierarquia ou pela autoridade - não gosto muito desta estória de chefe,sub-chefe e todos os chefes acima e abaixo, isto pode ser um empecilho real, e como voce não tenho pretensões de carreira visto já estar na casa dos 50 anos, mas estou interessada em prestar concurso para a diplomacia, voce acha meu perfil por demais anarquista ?
Dalto Filho disse...
Muito bom seu blog.
Acho que minha real vocação é o serviço diplomático, apesar de cursar Medicina.
Se não for pedir muito. você poderia me informar em que pontos a carreira médica se aproxima da diplomática?!
Pretendo terminar o curso que estou fazendo diecionar meus estudos mais para área da Saúde Pública.
Parabéns pela seu percurso profissional. Há muito na sua história daquilo que almejo alançar no futuro.
Dalto,
Medicina e diplomacia possuem poucos pontos em comum. Nos exames de ingresso possivelmente nenhum, a nao ser o conhecimento de Portugues e de Ingles. Na profissao, apenas a analogia de se usar o bisturi para dissecar problemas complicados, que necessitam uma abordagem anatomica, digamos assim, mas não deve ter muito terreno comum.
Saude pública é importante eestá na agenda internacional, mas nem sempre se pode trabalhar onde se deseja. Diplomata é um generalista, nao um especialista, mas acho importante que tenhamos um perfil diversificado, incorporando engenheiros, médicos, matematicos, etc.
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Janaina disse...
Tenho 18 anos, faço direito e desde sempre sou encantada pela carreira diplomatica. Lendo o post , então, me deu mais vontade ainda. Faltam alguns anos pra eu tomar uma decisão efetiva de carreira, mas a diplomatica ganha pouco a pouco o meu coração. Vou começar a visualiza-la mais como um objetivo a seguir. Já que tenho muito caminho a trilhar.
Acho que fiquei devendo algumas respostas ou comentários aos comentários, aqui postados.
A Betty eu diria que o problema não esá em ser anarquista, pois isto não vai ser objeto de questionamento no ingresso, nem depois. A questão está em que você teria de estudar muito, agora, para poder aspirar algum sucesso nos exames de ingresso, e depois não terá nenhuma possibilidade de carreira, por causa da idade. Se trata de um fato, não de uma opinião.
Para a Janaina, eu diria que se você pretende entrar, o tempo de decisão é agora mesmo, sem esperar mais nada. A preparação é muito exigente, e você tem de comecar agora lendo todos os livros, do contrpário, se for começar a estudar apenas no final do curso de graduação, poucas chances terá, a menos que estude exatamente as matérias exigidas no concurso...
talesosorio disse...
Oi. Eu tenho 36 anos e meu sonho é ser diplomata. Pergunto se há alguma possibilidade promissora na carreira, estando eu com essa idade? Eu tenho possibilidade de chegar ao ultimo posto? Muito obrigado.
Tales Osorio,
Acredito que 36 anos seja um pouco tarde para uma carreira satisfatoria, pois voce poderia ter problemas de promocao e acabar tendo se de aposentar como Primeiro Secretario ou Conselheiro. Em todo caso, nao se trata de um impedimento absoluto, voce pode sempre tentar entrar e comecar a carreira, sabendo que poderá sofrer algum constrangimento por ter, provavelmente, chefes mais jovens do que voce.
Cordialmente,
Paulo Roberto de Almeida
Fernanda Gauss disse...
Olá, a todos que se interessam um dia se tornar um diplomata com eu também almejo,
Achei bem interessante saber um pouco mais sobre a carreira que me facina a muitos anos,minha ligação com a carreira se deu através de minha vivência na Europa aos 19 anos,antes disso aos 16 anos, já havia estabelecido convivência nos EUA, onde minha aventura pelo mundo começava.
O caso é que eu sempre fui mulher de mudanças , me acostumei com diversas culturas e conviver com instabilidades, diversas vezes na adolescência tive que conviver com a instabilidade da relação de meus pais,que me fizeram começar do zero as relações sociais em lugares diferentes.
A vivência na Europa CH, se deu por meio de uma oportunidade onde durante 2 anos, aprendi a me diciplinar, e a seguir objetivos na vida,como também a oportunidade de aprender outros idiomas,regressei de volta para o Brasil,onde atualmente passo a passo me preparo para o teste do Barro Branco, em alguns meses estarei formada em Comércio exterior, onde durante o período de ensino obtive a respostas que eu sempre procurei em minha vida, sim eu sim tenho tudo haver com relações internacionais.Espero que como eu todos tenham essa mesma certeza,isso dá um significado a vida,isso é um caminho imenso para realização de um sonho, não importa idade, classe social, credo nem cor,essa é a razão de viver.
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MarK Santto disse...
Excelente blog.
Paulo R. de Almeida,
Junto-me à turma das idades avançadas para a carreira – 29 anos. Tive o privilégio de dedicar somente aos estudos. Graduei-me Matemática e Administração. Obtive o título de mestre em Estatística e Economia. Neste momento, defendo tese de doutorado. A carreira diplomática é um atalho...
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Rafael disse...
Dr. Paulo,
Sou formado em Ciências Sociais e desde o início da faculdade venho sonhando na carreira diplomática não só por causa da prática profissional mas também pelo formação generalista e a proximidade com áreas acadêmicas. Acontece que eu nunca comecei a estudar de fato para o concurso porque me angustia a idéia de não poder dar a mim e aos meus furutos filhos a satisfação de serem criados próximos da família aqui no Rio. Por isso te pergunto sobre algo que descobri há pouco tempo: qual a possibilidade e em quanto tempo mais ou menos, o diplomata, depois do curso de formação, pode ir trabalhar num escritório de representação regional? Existe um limite de tempo para esses locais de trabalho? E qual a diferença de trabalho nesses locais para Brasília?
Muito obrigado.
Rafael,
Acho melhor voce desistir de ser diplomata. A carreira significa passar praticamente dois terços do periodo no exterior e apenas um terco no Brasil, em Brasilia. Se voce pretende ficar com a familia no Rio, melhor nem começar, pois sua carreira seria prejudicada, para nao dizer impossivel, pois precisamos ter tempo de exterior para ser promovidos.
Cordialmente,
Paulo Roberto de Almeida
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Anônimo disse...
Dr, Paulo
Belo blog e grande pessoa você mostra ser,Parabéns
Não perguntarei se tenho o perfil ou não para ser um diplomata,pois serei um.Sei que a preparação é muito exigente
tenho 23 anos.E vou começar a estudar agora, ler todos os livros que é preciso, para ter uma boa preparação. Isso durante quatro anos, que também será o tempo para me formar. Mas queria saber se nesse tempo as matérias mudam ou existe uma tradição nos livros ,ou algo do tipo, tendo risco de estudar matéria já ultapassada devido o tempo que vou me preparar.
O que esta no guia do estudante seria muito parecido nos próximos anos? ou muda muita coisa. Estudarei todos os dias, mas o que gostaria de saber é como começar , ou melhor com quais livros?
Depois de me prepara entrarei em uma escola preparatória aqui em São Paulo, para reforçar todo o aprendizado. Eum planejamento que vai levar tempo e muito esforço, Agora só preciso de uma direção rapida. O sr. poderia me aconselhar algo?
Cordialmente,
Renato Nery de Melo Oliveira
Renato,
Os exames de ingresso seguem um mesmo padrao basico, com mudancas pontuais a cada ano, com enfases diversas, dependendo dos professores e diplomatas que preparam as questoes. Mas se requer sempre o mesmo tratamento amplo das materias fundamentais que estao na base da selecao? Portugues (que precisa ser perfeito), Ingles excelente, e muito bom conhecimento de Historia Mundial e do Brasil, Economia, Geografia, Direito e bastante coisa sobre a diplomacia brasileira e suas posicoes dentro da materia relacoes internacionais.
Comece lendo os grandes classicos das ciencias sociais no Brasil e a boa literatura.
Depois faca um cursinho preparatorio, pois parece que eles se tornaram obrigatorios.
Paulo Roberto de Almeida
O QUE FAÇO COM A MINHA CABEÇA?
Caro Paulo, já que você fez o blog então vamos conversar.
Sou Ademir, Geógrafo, 28 anos, portador de deficiência física, técnico do DNIT e interessado na diplomacia.
Não sou bom de português, estudei o básico de inglês e espanhol, tenho facilidade nas demais diciplinas, menos na economia, mas posso estudar.
Sou esforçado, mesmo tendo estudado na escola pública e tendo lido o primeiro ( de capa a capa) livro as 18 anos.
Uma dúvida cruél me incomoda, seria velho demais? O fato de ter estudado pouco e na escola pública não me da base para postular uma vaga? Vou perder tempo e dinheiro?
Tenho medo de fazer uso das cotas para PNE e ser discriminado.
Tenho medo de investir, medo.... a diplomacia me parece grande, enorme para um filho de pais analfabetos.
Diga me caro Paulo, fale de suas impressões sobre mim. Diga me o que faço com a minha cabeça quando penso na diplomacia. Ajude-me a aceitar a impossibilidade dessa realização ou investir nela com toda a inteligência que tenho.
Você é um homem importante, muita gente o ler e o ouve, tem boa formação e logo tem boa carreira, diga se posso ser um aluno seu, um colega seu....
Aguardo suas decisivas considerações.
Ademir
Ademir,
Vou ser muito sincero e franco -- o que é uma redundância -- com você. Pelo que você me descreve, você não está preparado para passar no concurso. Não digo para ser diplomata, e sequer pela deficiência física, que pode representar uma dificuldade adicional, mas não representa um impedimento absoluto às vontades muito fortes.
Se você realmente sente que tem vocação para a diplomacia, se voce quer, pretende, deseja, aspira a ser diplomata, eu diria que você deveria se preparar. Sua idade -- 28, mas supondo que você só consiga entrar em dois ou três anos -- não constitui tampouco um impedimento fundamental.
Ninguém, nunca, perdeu tempo, ou se prejudicou por estudar e por perseguir os seus sonhos, desde que os procedimentos adotados sejam razoáveis em termos de dedicação aos estudos, em tempo e dinheiro.
Mas devo também registrar, pela descrição que você me faz do seu estado de despreparo, que suas chances são mínimas num concurso notoriamente muito exigente (mesmo levando-se em conta a cota para deficientes físicos, que se traduz, ao que parece, em facilidades relativas).
Pessoalmente, eu diria que você deveria estudar e se preparar, ainda que eu reconheça que você tem enormes lacunas de formação, e que pelo background familiar você se atrasou em seus estudos.
Eu também venho de uma família muito modesta, com avós analfabetos, mas tive a chance de residir ao lado de uma biblioteca infantil, onde passei toda a minha infância e primeira adolescencia lendo e estudando. Eu estava preparado, portanto, o que sinto não é o seu caso.
Mas, estude, tente uma vez, e talvez outra, para você não dizer que não tentou.
Meus melhores votos.
Paulo Roberto de Almeida
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Thiago Hansen disse...
Dr Paulo,
Tudo bem com o sr.?
Estou acompanhando seu blog e gostaria de parabeniza-lo pela iniciativa.
Gostaria da opinião do senhor sobre a possibilidade do meu ingresso na diplomacia.
Tenho 20 anos, estudo Direito e História na Universidade Estadual do Norte do Paraná. Morei alguns meses nos Estados Unidos, e de certa maneira, domino o inglês.
Estudo firme, e pelo que li no Guia de Estudos do Instituto Rio Branco, já li uma boa parte da bibliografia sugerida para História.
Entretanto, não tenho leituras profundas em economia (mais especificamente em microeconomia).
Penso em fazer mestrado na área de Direitos Humanos na USP, e somente após o término deste, ou quiçá de um doutorado, prestar a prova da Diplomacia.
O sr. considera besteira fazer pós-graduação antes do ingresso na carreira ou uma atitude correta?
Obrigado desde então,
Thiago Hansen
Thiago,
Minha opiniao é a de que voce deve tentar o exame de ingresso no Itamaraty ainda antes de concluir o curso de graduacao, para conhecer, treinar, saber onde estao seus pontos fortes e fracos. Depois, nao espere a pos para tentar novamente. Continue estudando e tentando, e faca o mestrado paralelamente.
Paulo Roberto de Almeida
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Daniel disse...
Exmº. Dr.Paulo Roberto de Almeida,
Primeiramente gostaria de prestar congratulações e respeito por vossa biografia, de fato inspiradora, acredito que para todos nós aspirantes à carreira diplomática.
Tenho 31 anos, sou odontólogo, professor auxiliar de uma Universidade pública no Rio de Janeiro e dou início, no atual momento, ao doutorado em minha área.
Entretanto, a carreira diplomática sempre me foi no mínimo instigante e exatamente pela curiosidade e pela compulsão literária, sinto-me impelido a enveredar-me por este caminho de evolução intelectual, profissional e humano. Acerca deste
último campo, me chamou muito à atenção o lado humanista da profissão, o de servir aos brasileiros, não somente ao Estado.
Tendo-se em vista as desigualdades sociais de nosso país, como a carreira diplomática pode ajudar a aliviar as claras deficiências de desenvolvimento humano em nosso país? Pelo que devemos primar em nossas carreiras para transformar crescimento do Estado, muitas vezes fomentado pela atividade diplomática, em consequente desenvolvimento humano?
Cordialmente,
Daniel G. Moscoso
Excelentes perguntas, Daniel, que eu mesmo gostaria de responder agora, se tivesse tempo e capacidade (acho que tenho alguma).
Respondendo rapidamente de forma sintética, eu diria que o papel do diplomata no desenvolvimento brasileiro é claramente acessório, pois nenhum, REPITO NENHUM, dos grandes problemas brasileiros tem a ver com o cenário internacional, ou muito superficialmente.
Todos os nossos problemas -- falta de educação de qualidade, corrupção, políticas públicas inadequadas, baixo investimento em C&T, instituições governamentais deficientes, déficit previdenciário, baixo investimento, baixa poupança, pequena abertura a comércio internacional e investimentos diretos estrangeiros -- todas essas deficiências são "made in Brazil", nossos próprios pecados, e tem de ser resolvidos aqui mesmo. Mas acredito que isso vai demorar um pouco.
O diplomata, como cidadão, pode ajudar um pouco, expondo o que fizeram de certo (e de errado) outros países, e porque alguns deram certo e outros deram errado.
Nós fizemos meio certo em muitas coisas, e muito errado em outras, como em educação, por exemplo.
Mas, isso não é algo que o diplomata possa resolver, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Vou me dedicar a responder a esse seu questionamento em algum trabalho futuro.
Obrigado por formular a questão.
João disse...
Olá Sr. Paulo.
Tenho 23 anos, sou formado em Administração Hoteleira e pretendo iniciar meus estudos para ingressar na carreira diplomática o início de 2010. Neste princípio, sinto-me um tanto confuso no que diz respeito ao que fazer, por onde começar. Como pretendo dedicar, no mínimo, os próximos dois anos de minha vida apenas aos estudos, estou a procura de um curso preparatório que responda a todas as questões as quais hoje desconheço. O Sr. poderia indicar-me algum?
Buscando informações encontrei seu blog e gostaria muito de ter a sua opinião. Dois anos, "integrais", são o suficiente? Como já disse, pretendo dedicar-me apenas a isso.
Acho que o sonho e a força de vontade são o princípio, mas infelizmente não bastam.
Aguardo suas colocações com ansiedade.
Grato.
Atenciosamente.
João Dornelles
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Anônimo disse...
Boa tarde, Sr. Paulo Almeida
Bem, tenho 17 anos. Sempre tive muita facilidade com as matérias de humanas como História,Geografia e Português. Aprendo línguas estrangeiras com extrema facilidade, sou fluente em Inglês e Francês.
Por causa dessa paixão pelo estudo das línguas e culturas, decidi prestar Letras na USP. Porém, a carreira diplomática muito tem me cativado - assim como a muitos outros.
Gostaria de saber qual curso de graduação seria o mais apropriado para obter êxito nessa carreira. Relações Internacionais, Ciências Sociais, ou até mesmo a combinação de uma dessas com Letras?
Muito obrigada pela atenção,
Caroline Gonsalves
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Caroline Gonsalves disse...
Boa tarde, Sr. Paulo Almeida.
Bem, tenho 17 anos. Sempre tive muita facilidade e gosto pelas matérias de humanas, tais como Português, História e Geografia. Línguas estrangeiras são meu grande hobby, falo francês e inglês fluentemente.
Exatamente por esse apreço pelas línguas e culturas estrangeiras, optei pelo curso de Letras na Usp no vestibular desse ano. Porém, a carreira diplomática muito tem me atraído - assim como a muitos outros.
Gostaria de saber qual o curso de graduação é o mais adequado para seguir a carreira diplomática. Seria interessante, além de ter tal graduação, ser letrada?
Muito obrigada!
Caroline Gonsalves,
Nao sei bem o qeu voce quis dizer com letrada. A unica coisa de que voce precisa para se tornar diplomata é um diploma de QUALQUER curso superior reconhecido pelo MEC. O resto é com voce, ou seja, o estudo de todas as materias que constam do edital de concurso, o que já é um imenso esforço de leitura.
Mas, voce tem tempo. Comece agora a ler e quando voce terminar a Faculdade voce ja estará pronta para ingressar na carreira.
Agora eu hesito em lhe indicar um curso. Pode ser que o de RI seja o mais adaptado para os exames de entrada, mas nao tenho certeza, pois voce precisa pensar em ter uma profissao normal, antes de se tornar diplomata, pois pode demorar o seu ingresso, tendo em vista que o concurso é muito concorrido.
Voce pode fazer direito, economia, administracao, letras, enfim, aquilo que lhe der mais prazer e oportunidades no mercado, ao mesmo tempo em que estuda as materias do concurso. Pode ser que na sua cidade exista um bom curso de RI, numa boa Faculdade, mas nao sei.
Bons estudos.
PRA
Kênia Pinheiro disse...
Boa Tarde, Sr. Paulo Almeida.
Bom, Tenho 17 anos. Sempre gostei de matérias como, História, Geografia (Geopolítica) e Português.
Línguas estrangeiras, conhecimento sobre outras culturas, assuntos políticos e econômicos é de grande atração para mim.
Eu gostaria de saber o que um profissional formado em Comércio Exterior faria como diplomata?
Não se tem tempo para cursos (fora os de aperfeiçoamento da carreira),
Esportes ou Dança?
Obrigada!
Kenia,
O profissional formado em Comércio Exterior, como qualquer outro profissional formado em qualquer outro curso de graducao reconhecido pelo MEC, faria como diplomata o que qualquer outro diplomata faz: trabalhar no MRE e nos postos no exterior, segundo funções e atribuições típicas da carreira. Ou seja, trata-se de um servidor do Estado, do serviço público federal, como vários outros, um burocrata federal, mas que tem essa particularidade de trabalhar no exterior por periodos determinados, geralmente 3 + 3 anos (em dois postos no exterior) e um periodo variável, de 2 a 3 anos, em Brasília.
Dentro da carreira existem dois cursos de aperfeiçoamento, para promoção, mas você pode fazer qualquer curso extra, fora da carreira, desde que não atrapalhe as funções profissionais: dança, pintura, linguas, mestrado e doutorado, não fazer nada...
PRA
JoãoP disse...
Caro Professor Paulo,
Escrevo-lhe porque pressinto que, com sua ajuda, eu possa obter resposta a uma pergunta sobre a carreira diplomática que me deixa, já há algum tempo, apreensivo. Vamos lá.
Para que o senhor possa compreender melhor o motivo de minha preocupação, apresento minha situação. Tenho 25 anos, nível superior completo e um forte desejo - para muitos injustificável - de ingressar no Itamaraty. Minha lucidez me indica, no entanto, que, iniciando minha preparação para o concurso neste momento, serei aprovado dentro de dois ou três anos. E tenho receio de que o ingresso na carreira com cerca de 28 anos me comprometa no que diz respeito ao meu futuro profissional.
Isto porque percebo que há, de certo modo, um limite de idade implícito para aprovação no concurso de admissão, tendo em conta que o candidato aprovado pretenda ascender de maneira satisfatória e plena na carreira. Suponho, por exemplo, que um sujeito de 35 anos que seja aprovado no concurso dificilmente alcance o ápice da carreira, em termos hierárquicos.
A questão que me atormenta é, então e por fim, a seguinte: qual idade - ou faixa etária - poderia ser apontada como tal limite?
Ademais, bajulações à parte, comento que seu espaço na rede muito me impressionou, tanto por conta da qualidade dos textos e das opinões quanto por conta da nobreza da iniciativa de divulgar aos interessados dados sobre a carreira.
Muito agradeço pela ajuda e pela atenção.
Até.
Joao P,
Acredito que se possa entrar no Itamaraty ate 32 ou 33 anos, embora a progressao possa tornar-se mais lenta a partir de agora, com tantos novos entrantes.
Eu mesmo ingresse cim 28 anos completos e tive uma trajetoria normal ate ministro de segunda classe, e poderia ter sido embaixador 5 ou 6 anos atras, embora por razoes basicamente politicas eu nao tenha sido promovido, pelas mesmas razoes que voce vê em meus escritos.
Você se comportando bem, conserva intactas as suas chances...
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Vitória S. Moreira disse...
Dr Paulo,
Tenho 17 anos e estou cursando o ensino médio. Ainda não me decidi completamente pela carreira diplomática, mas já tenho certeza de que quero fazer um curso de Relações Internacionais, por isso, tenho feito o PAS (Programa de Avaliação Seriada) da UnB, para, no futuro, poder cursar essa universidade. Tenho, porém, uma imensa vontade de estudar nos Estados Unidos e já até entrei em contato com agências que possam intermediar e me auxiliar durante o processo, inclusive já até vi uma universidade do meu agrado (University of Washington). Porém, tenho duas dúvidas: a primeira é se, por acaso, eu me decidir pela carreira diplomática, será vantajoso ter estudado fora? A segunda é a mesma dúvida, só que numa situação mais genérica: o Sr. acha que é realmente vantajoso estudar nos EUA em relação às universidades brasileiras (no curso de Relações Internacionais)?
Desde já agradeço a resposta.
Vitoria,
Sempre é bom estudar fora do Brasil, sobretudo em ingles, para voce ficar com a lingua totalmente dominada, mas eu nao recomendaria fazer todo o curso superior fora, pois voce vai precisar estudar muito mais coisas do Brasil, se pretende ingressar na carreira diplomatica. Assim, recomendo que voce estude um periodo fora, seis meses ou um ano, mas faça o essencial de seus estudos de graduação aqui no Brasil, para poder se preparar de maneira adequada, inclusive fazendo algum cursinho preparatorio.
Cordialmente,
Paulo Roberto de Almeida
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Anônimo disse...
Olá. Eu estudei na Escola Americana de Brasília e tenho o diploma técnico de tradutora intérprete. Sempre foi uma profissão que eu admirei. Sou formada em pedagogia, sou funcionária pública e tenho interesse em ser diplomata. Gostaria de saber como é o horário de trabalho dos diplomatas. Vocês trabalham no horário comercial de 8:00 às 18:00? E o horário é maleável? Vocês podem entrar às 10:00 e sair às 20:00 se quiserem? Os jantares e reuniões informais nos finais de semana para tratar de negócios são computados como horas trabalhadas ou não? Fico feliz que o senhor responda as perguntas de pessoas interessadas na carreira diplomática. Obrigada pela ajuda e consideração. Um abraço da Daniela.
Daniela,
Suas perguntas s'ao fora do comum, mas vamos lá.
1) Horario oficial de trabalho na Secretaria de Estado: de 9hs a 13hs, e de 15hs a 19hs, mas dependendo da área de trabalho, pode se sair mais tarde (e entrar mais tarde também): geralmente nos Gabinetes isso ocorre.
Temos muito trabalho (e viagens) em fins de semana, assim que a carga total de trabalho pode ser bem mais pesada do que o de um funcionário de outros setores (acabo de voltar da China, para onde viajei num sábado, 28.11.2009, demorei para me recompor com a diferença de 11hs; e voltei ontem, cansadíssimo).
Não existe NENHUMA hora extra computada por jantares, recepções ou viagens em fins de semana: só ganhamos o salário, ponto, todo o resto não é pago.
Ou seja, trabalhamos muito mais que funcionários "normais" e ganhamos proporcionalmente menos, posto que simplesmente não existe esse conceito de horas extras ou compensações por viagens e tempo gasto em atividades diplomáticas extra-horário de trabalho. Existe certa tolerância, por isso mesmo, quando se chega as 10hs ou 11hs na manha seguinte a uma dada atividade extra na noite anterior.
Espero ter satisfeito sua curiosidade.
Paulo Roberto de Almeida
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margareth morais disse...
Dr.Paulo, sua informações me são muito oportunas. Tenho interesse na carreira diplomática e gostaria de saber quais seriam exatamente as atribuições de um 3° secretário (primeiro nível de carreira). Se puder esclarecer, agradeço.
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Anônimo disse...
Olá. Primeiramente eu gostaria de agradecer por você ter respondido a minha pergunta. Eu tenho mais algumas dúvidas.
Você havia me dito que os diplomatas têm muito trabalho (e viagens) nos finais da semana. E quantos finais de semana por mês você têm que trabalhar? Quantas vezes por mês você viaja para fora do Brasil?
As remoções são direcionadas para postos separados entre as categorias A, B e C e D. O diplomata pode escolher o local para onde deseja ir morar? Se o diplomata quiser trabalhar em Sydney, na Australia, ele pode fazer essa escolha?
Imagino que você esteja na Conferência de Copenhague em inúmeras reuniões com autoridades estrangeiras. Sei que seu tempo é precioso, mas quando tiver um tempinho agradeço se responder minhas perguntas. Admiro a sua carreira diplomática e tenho curiosidade sobre o dia a dia dos diplomatas. Atenciosamente Daniela.
Daniela,
Sinto muito. Estou com minha central de respostas temporariamente desativada, por excesso de trabalho, e excesso de perguntas.
Tente de novo em janeiro. Pode ser que eu tenha conseguido terminar minhas obrigacoes...
Paulo Roberto de Almeida
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Dionathan disse...
Prazer!!!
Moro em Santa Cruz do Sul uma cidades de porte médio do interior do Rio Grande do Sul, tenho 15 anos.
Estou interessado em fazer a graduação em Relações Internacionais em uma universidade federal possilvelmente a UFRGS ou UFSM, contudo, sou proveniente de escola pública e de certo modo noto que grande parte das admissões nesses concursos os alunos são provenintes de escolas particulares como por exemplo o Itamaraty...
O fato de eu provir de escola pública é algum tipo de impencilho?
Há também tenho outra dúvida, o serviço militar(não me refiro ao alistamento) é obrigatório para passar no concurso? Quanto tempo?
E apenas mais uma dúvida que condições físicas de saúde são essas que o Itamaraty exige?
Certo de vosa compreensão aguardo as respotas...
Obrigado
Obs.: Adorei seeu blog
Dionathan disse...
Prazer!!!
Sou de Santa Cruz do Sul uma cidade de médio porte do interior do Rio Grande do Sul, vou fazer 16 anos em abril.
Tenho interesse na área diplomática e pretendo cursar Relações Internacionais numa universidade federal...
Tenho algumas dúvidas que se não pedir demais gostaria que o senhor respondesse:
* O fato de eu provir de escola pública me prejudica de alguma forma?
* Tenho ter serviço militar obrigatoriamente (não me refiro ao alistamento ao serviço propriamente dito)?
* Que condições de saúde são essas que o Itamaraty se refere?
Certo de vossa compreensão aguardo as respostas.
Obigado
Obs.: Adorei seu blog
Domingo, Janeiro 03, 2010 1:25:00 PM
Dionathan,
Nenhuma escola publica representa um impedimento absoluto ao que você pretende ser mais tarde na vida, em termos de carreira acadêmica ou trajetória profissional nos mercados.
Mas, claro, você precisa ter perfeita consciência de que o ensino numa escola pública apresenta deficiências enormes, que você terá de suprir por seus próprios meios estudando de forma autodidata.
Aliás, você pode ter certeza também que o ensino numa escola privada não é de muito melhor qualidade. Os professores, com muito poucas exceções (que são as escolas privadas de altíssimo nivel, e portanto muito caras, e situadas apenas nas grandes capitais) não são muito melhores do que aqueles que ensinam nas escolas públicas, pois a mediocrização do ensino no Brasil é geral, atingindo inclusive as universidades.
Você pode escolher um curso de RI para se preparar depois para o concurso da carreira diplomática, mas sinceramente eu não recomendo. Acho esses cursos muito fracos e não preparam para uma profissão "normal", o que quer dizer tradicionais no mercado (direito, administração, economia, etc).
Recomendaria a você, em qualquer hipótese, fazendo ou não curso de RI ou outro, se preparar por conta própria, lendo e estudando todas as matérias do concurso do Rio Branco de maneira autônoma e individual.
Estude muito, pois você vai precisar ter um excelente nível de conhecimentos se pretende se tornar um diplomata.
Boa sorte nos estudos, felicidades em sua vida pessoal.
Paulo Roberto de Almeida
Louise disse...
Chegamos ao ano de 2010 e acredito que o futuro da diplomacia e das relações internacionais no Brasil se modificou desde o texto ''As relações internacionais como oportunidade profissional'' onde o senhor responde a todas as duvidas dos jovens que pretendem cursar RI.
Pois bem, tenho 17 anos e esse ano pretendo prestar para uma faculdade pública (USP ou UNB) em busca da formação em RI, mas focada para a diplomacia. É o que tomo como ambição para o meu futuro desde os 15 anos. Sempre fui auto ditada e não tenho dificuldades em relação a estudo e leitura, muito pelo contrário, tomo isso como um hobbie. Minha principal preocupação é na verdade o tempo médio que levaria para a minha formação intelectual a nivel de concorrer a uma vaga no Itamaraty ( e o tempo que eventualmente não haveria ''mercado'' para mim ) e se esse ramo, o da diplomacia, tras ainda algum tipo de preconceito em relação a mulher em papeis de poder.
Se puder tirar minhas duvidas, agradeço desde já.
Louise.
Louise,
Você já tem um nome, por assim dizer, internacional, e talvez isso facilite o seu ingresso na diplomacia. Meus cumprimentos por manter esse objetivo desde os 15 anos, ou seja, há dois anos, e se percebo bem, você vai continuar se preparando de forma intensa durante todo o seu curso de graduação em RI. Meus parabéns e eu diria que você deve fazer isso mesmo. Não confie em seus professores, que muitas vezes são preguiçosos, e continue autodidata. Faça um programa de leitura e de estudos dirigidos, calcado no Guia de Estudos e leia três vezes mais do que a lista ali recomendada, pois você vai precisar de toda leitura para ingressar logo na primeira vez.
Pelo que eu vejo de seu Português ainda falho, você vai precisar se aperfeiçoar seriamente em várias matérias. O tempo médio não existe, pois algumas pessoas passam o tempo vendo bobagens na TV e outras aproveitam para estudar: você escolhe o tempo de formação, mas se quiser ter sucesso comece a ler desde já, e treine muita redação também, pois é necessário.
Quando você entrar, já estará em tempo de uma mulher ser chanceler, ou seja, ser ministra das relações exteriores. Aliás, já estaria em tempo, mas a política brasileira ainda é muito machista... Creio que o Itamaraty já não tem muito preconceito nesse terreno, embora possa haver alguma condescendência e talvez mesmo um pouco de demagogia a esse respeito.
Boa sorte nos estudos.
Paulo Roberto de Almeida
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Anônimo disse...
Olá!
Sou Matheus, tenho 22 anos, terminarei a faculdade de Ciências Contábeis em 2011. Por enquanto não falo outro idioma além do português, mas pretendo iniciar curso de inglês e francês depois de concluir a faculdade e, mais adiante, aprender espanhol(por motivos pessoais não posso fazê-los ao mesmo tempo). Gostaria de parabenizá-lo pela sua trajetória e pelo seu blog. Minha dúvida: é necessário falar, compreender, escrever e ler os três idiomas em nível avançado para ingressar na carreira diplomática?
Codialmente,
Matheus F.
Matheus,
É preciso saber Ingles muito bem, mas muuuuiiito bem, e uma outra lingua, Frnces, Espanhol (ou outras, veja os editais) razoavelmente bem...
Paulo Roberto de Almeida
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Anônimo disse...
Boa tarde,
Primeiramente gostaria de dar parabéns pelo seu ótimo e esclarecedor blog.
Gostaria de lhe perguntar se eu teria condições de concorrer a uma vaga no IRB com estas qualificações: tenho 30 anos, sou bacharel em ciência política, morei 4 anos no exterior mas não possuo qualquer certificado de proeficiência apesar de falar e escrever em inglês e alemâo. Tenho alguma chance?
Desde já lhe sou grato pela atenção.
Chiarel
jose disse...
Prezado Paulo Roberto de Almeida
Meu nome é José ,sou servidor público(RFB) e professor de História da rede pública de ensino.Cursei Ciências Sociais na UFAM,mas não concluí a graduação.Atualmente, sou estudante de Filosofia(UNISUL),francês e inglês,e,desde os 14 anos(isso já faz algum tempo), aspirava seguir a carreira diplomática.Por diversas razões tive que adiar tal objetivo.
Porém,de uns tempos para cá,o desejo voltou,e de forma intensa,quase que vocacional;um sentimento forte,ardente,uma convicção de que "é isso!".Logo deparei-me com uma concreta realidade:o desafio.O problema é que o tempo passou.Hoje tenho 35 anos,considerado velho para os padrões de admissão.Confesso que o fator TEMPO é o que menos importa para mim,pois o que me move não é um desejo de promoção,reconhecimento ou escalada dentro da estrutura da carreira,mas a experiência e a satisfação da realização de uma meta,um objetivo e algo que realmente me dá prazer:o diálogo,o debate,a reflexão crítica e aprofundada dos temas de relevância para o país,respirar o mesmo ar e beber na mesma fonte de tantos intelectuais e que ,pela simples razão de estarmos juntos,seria tremendamente satisfatório para mim.Reconheço a longa estrada e peço algumas orientações acerca da melhor estratégia para atravessá-la.Estou me programando para o concurso de 2015,estudando como autodidata,fazendo cursos das matérias específicas e guardando recursos para um período de estudos no exterior.Confesso que ao ler alguns comentários sobre a questão da idade fiquei um pouco apreensivo.Gostaria de saber sua opinião sobre esta questão (Idade-vou estar com 40 anos em 2015) e sugestões sobre estratégias para admissão no concurso.
Reitero minha admiração pelo homem e pensador Paulo Roberto de Almeida.
Com perdao da expressao, dois coelhos de uma vez so (estou viajando no exterior e sem tempo ou conexoes para responder adequadamente),
Primeiro o Chiarel,
Nao é preciso ter certificado nenhum de nenhuma língua, apenas o diploma universitario. As linguas se precisa apenas saber, ingles muito bem, uma outra razoavelmente bem. Voce tem chance, desde que saiba muito bem o resto do programa, o que não é facil.
Boa sorte nos estudos.
Agora o José.
Nao entendo porque apenas em 2015: isso é falta de confiança em si mesmo. Acho que você deveria estudar intensamente para tentar entrar antes, se possivel no ano que vem, fazendo cursinho e se preparando adequadamente, a menos que voce nao tenha diploma de graduacao.
Acho que 40 anos inviabiliza uma carreira "normal", mas se seu objetivo é apenas entrar, então vá em frente, entre e seja feliz.
Paulo Roberto de Almeida
Prezado José,
eu peço desculpas pela minha intervenção em sua conversa com o mestre Paulo Roberto, contudo, foi impossível não me comover com seus comentários. Eu gostaria de lhe dar algumas sugestões:
1) - pegue o edital do concurso no site do MRE o link é este http://sistemas.mre.gov.br/kitweb/datafiles/IRBr/pt-br/file/Edital_abertura_CACD_2010_publicado_no_DOU(1).pdf
2 ) - faça um cronograma com metas de leitura diária, semanal, mensal e semestral.
2 ) - Faça o fichamento dos livros (pode ser em fichas cartonadas ou no computador mesmo, não importa)
3 ) - Tire uma hora diariamente para reler os fichamentos.
4 ) - Não sei o tempo que dispõe, mas seja obssessivo, leia compulsivamente.
5 ) - Não veja mais televisão.
6 ) - Largue a família e amigos (durante um tempo apenas)
7) - E não tenha medo daqueles que tem doutoramento ou pós-doutoramento. Por um único motivo: eles tem doutoramento em um assunto específico e não em todos que caem na prova, portanto, as chances são quase isonômicas.
Por exemplo, você pode concorrer com pessoas com doutoramento em linguística; que estudou na Sorbonne; que estudou inglês nos EUA e assim por diante. Se esta mesma pessoa não dominar Direito e Economia, ela não passa.
Isto significa, que as chances são iguais para todos, pois ninguém tem domínio absoluto de todas as disciplinas que caem nesta prova.
8) - Valorize o seu conhecimento e não se importe com a idade, até por que a atual gestão do Itamaraty nos mostra que muita coisa pode mudar no futuro em relação à carreira. [Só não sei se digo felizmente ou infelizmente]
Comece a estudar "ontem", pois se sente que tem vocação verá que valerá a pena.
9 ) - Só faça um preparatório como o curso Clio e outros quando tiver lido bastante, pois do contrário, apenas jogará dinheiro fora.
Um conselho: Só não se iluda achando que na carreira todos são intelectuais como o mestre Paulo Roberto.
Quem derá que fosse assim !
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Marília C. Ferreira disse...
Sr. Paulo R. de Almeida,
Muito oportuno este blog. Admiro sua dedicação e destreza em responder a cada uma das dúvidas aqui apresentadas.
Divido duas paixões: a pesquisa e a diplomacia. É possível conciliar os dois?
Eis a minha atual situação: ingressei no curso de RI, mas me transferi para História. Não me arrependo de ter "nadado contra a corrente" de expectativas a meu respeito, a História me permite uma visão abrangente não apenas da formação da nossa Nação, como também do mundo. Além do mais, foi ali que descobri a paixão pela pesquisa: tenho dois projetos, um a ser submetido esse ano ao Probic, que já possui aprovação da coordenação do curso (aprovação em expectativas, devo dizer) e outro que pretendo desenvolver após o retorno às RI. Além das pesquisas, me propus a escrever e publicar artigos acadêmicos; um já foi submetido, inclusive, ao Congresso Acadêmico da Defesa Nacional. Admito: sou aprendiz ainda, mas com capacidade de progredir sem maiores dificuldades. Tais planos de desenvolvimento de pesquisas e publicações de artigos são o resultado daquilo que sinto prazer em fazer: estudar, ler, pesquisar e escrever. E não tenho o intuito de dedicar minha vida à algo que não me traria tal satisfação. Como o Sr. é o primeiro diplomata com quem tenho contato, é possível, pois, desenvolver pesquisas e estudos na área diplomática e da política externa em geral, paralelamente ao ingresso à carreira em si?
E, como tantos, também me preocupei com o fator 'idade'. Finalizarei a graduação em História com 24 anos e RI com 25, no mais tardar, 26 anos. Porém devo dizer que no momento me dedico a acentuar meus pontos fortes na área de humanas, enquanto que, noções de Economia e Direito, deixarei para que o curso de RI me complemente.
Obrigada.
Atenciosamente,
Marília C. Ferreira
Marilia,
É possível, sim, conciliar, diplomacia e pesquisa e o exemplo mais evidente disso é o historiado Evaldo Cabral de Mello, possivelmente o maior historiador ativo do Brasil, que, aliás, nunca foi acadêmico, mas sempre fez pesquisa, enquanto diplomata. Eu mesmo faço a mesma coisa e não me arrependo, mas sempre há certo stress pessoal e funcional, talvez familiar, pois a carreira é muito exigente em termos de trabalhos, recepções, etc.
Por outro lado, você está na idade perfeita para se preparar e entrar...
Vá em frente.
Paulo Roberto de Almeida
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Wilson disse...
Muito obrigado por fazer um blog excelente como esse, que me fez refletir sobre a carreira diplomática (a qual pretendo seguir).
Meu nome é Wilson, tenho 15 anos e, há pouco mais de um ano, tenho interesse em cursar direito e, ao fim deste, diplomacia. Tenho procurado dicas em inúmeros sites sobre como tornar-se um diplomata, porém nenhum foi tão satisfatório como este. Gostaria, se não for muito abuso, que o senhor pudesse me passar algumas dicas sobre o curso, como estudar etc.
Agradeço desde já.
Henrique disse...
Sr. Paulo R. de Almeida,
Me identifiquei muito com o Sr. Sempre disponível para responder todas as perguntas.
Estou me preparando para prestar o concurso. Já fiz muitas pesquisas sobre a carreira, entretanto, ainda não encontrei ninguém que me esclarecesse sobre a frequencia das mudanças de residência. Quais os critérios utilizados para decidir quem irá para qual posto? O diplomata tem algum controle sobre isso? É possível ele não ir? Qual o nível de estabilidade que ele pode obter em cada cidade? Pergunto isso pois possuo dependentes e não seria interessante pra eles viver cada ano em uma parte do mundo, mas manter uma certa "permanência" em cada local.
Desde já agradeço, um forte abraço.
Henrique,
Não vou responder a suas questões, por duas razões muito simples.
1) Se você deseja ser diplomata, deveria saber que não é para ficar parado no mesmo lugar muito tempo. Ou você aceita o fato de ser nômade, ou nunca será um bom diplomata.
2) Concentre-se primeiro na tarefa de entrar na carreira, depois você se preocupa com o que vem depois.
Paulo R. de Almeida
Luana disse...
Há tempos leio tanto o seu blog como a página oficial,para mim é referência obrigatória,já fiz em 2006 uma prova do CACD,da bibliografia básica muitos livros principalmente na área de história já tinha lido, a verdade que só eu fiz para analisar o meu desempenho,não tinha muito tempo nem dinheiro para pagar um curso preparatório,enfim depois do resultado,começei a me convencer que necessitava de um mestrado,mas como eu queria estudar na Inglaterra só havia um jeito, bolsas de estudos,acabei sendo convencida de ir na França e visitar as universidades,ganhei a passagem fui nas férias, confesso que queria Inglaterra,pesquisei sobre universidades francesas na área de mestrado em turismo Sorbonne, Poitiers e Avignon, chegando na França fui convencida pelo departamento internacional da universidade de Avignon de fazer mestrado em desenvolvimento cultural por se adequar mais ao meu perfil (embora eu seja formada em turismo),eu realmente gostei da grade curricular do curso e tive uma péssima impressão da Université Paris I (Sorbonne)...Depois dessa viagem fiquei mais seis meses no Brasil e arquitetando um plano: ou conseguir bolsa ou trabalhar em um navio de cruzeiros para então pagar o curso de francês e depois o mestrado,a verdade é que passei dois anos viajando pelo mundo,voltei para o Brasil julho passado, a experiência que mais influenciou para almejar uma carreira diplomática (e ainda influencia) foi em 2004 ter sido escolhida como líder juvenil pela Unesco Chair Institute da Universidade de Connecticut em um programa para líderes juvenis na área de direitos humanos, com direito a conferência na universidade e visita a ONU.O que me passa na cabeça é que creio que tenho capacidade de passar no exame do CACD ( mas por comodismo não dei o melhor de mim),mas agora estou com 27 anos me mudando para a europa,com planos de realmente fazer meu mestrado e voltar e tentar o Itamaraty,creio que possa desenvolver uma técnica de estudo que me possibilite este efeito estudando lá e só vindo para o Brasil para fazer o exame (espero que ...bom que no atual governo os números de vagas não diminua), sinceramente a minha dúvida é mais pela idade ,digamos que se houver exames ano que vem vou ingressar com 28,29 anos...neste caso não deveria olhar também com bons olhos as agências da Onu como possibilidade? (Sim eu estou confusa não quero mais trabalhar em nada direcionado ao turismo estou saturada).
Agradeço todas as informações passadas!
Luana,
Vá para a Europa, faça seu mestrado e ao mesmo tempo estude para o concurso e prepare-se adequadamente para o ingresso na carreira. Eu ingressei na carreira com 28 anos completos, e acho que ate os 32 ou 33 ainda é aceitável em termos de carreira.
Não pense que você vai conseguir uma excelente posição em agências da ONU logo de início: aquilo é um dinossauro burocrático, com todas as deformações do apadrinhamento e da proteção.
Você pode, inclusive, tentar fazer o concurso no meio do mestrado, e se passar, abandona o mestrado e continua no Brasil.
Estude e divirta-se na Europa...
Paulo Roberto de Almeida
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Anônimo disse...
Ola Dr. Paulo,
Tenho 27 anos, inglês fluente - morei 3 anos no Canadá, espanhol avançado, estou estudando francês e sou bacharel em Geografia. Começei a minha preparação para o CACD e gostaria de saber até que idade eu poderia tentar ingressar tendo plenas condições de sucesso carreira. Obrigada,
Camille
Camille,
Creio que voce pode ter uma carreira normal entrando até os 35 anos, mas isso vai depender muito do fluxo da carreira nos proximos anos, ou duas decadas, pois as regras podem sempre variar um pouco, como expulsorias, etc.
Paulo R Almeida
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Marcela disse...
Dr. Paulo,
há alguns anos venho acompanhando o seu blog(ou melhor, os seus blogs), pois o desejo de seguir a carreira diplomática volta e meia aparece.
Tenho 22 anos e estou terminando meus estudos na Faculdade de Direito, mas acredito que minha paixão por "ajudar as pessoas e o mundo" só será suprimida se eu me tornar diplomata.
No entanto, minha única e maior angústia é apenas uma: como conciliar a carreira diplomática com a vida familiar? É possível manter um casamento sem que o outro cônjuge tenha que abdicar da carreira dele para seguir comigo nas missões internacionais?No meu caso, meu namorado é advogado e almeja fazer um concurso público futuramente.Acredito que isso facilite, estou correta?
E a criação dos filhos?
Por fim, pela experiência do senhor, como é a vida de uma mulher nessa profissão?
Obrigado, desde já, pela paciência e gentileza em responder meus questionamentos.
Marcela
Marcela disse...
Dr. Paulo,
há alguns anos venho acompanhando o seu blog(ou melhor, os seus blogs), pois o desejo de seguir a carreira diplomática volta e meia aparece.
Tenho 22 anos e estou terminando meus estudos na Faculdade de Direito, mas acredito que minha paixão por "ajudar as pessoas e o mundo" só será suprimida se eu me tornar diplomata.
No entanto, minha única e maior angústia é apenas uma: como conciliar a carreira diplomática com a vida familiar? É possível manter um casamento sem que o outro cônjuge tenha que abdicar da carreira dele para seguir comigo nas missões internacionais?No meu caso, meu namorado é advogado e almeja fazer um concurso público futuramente.Acredito que isso facilite, estou correta?
E a criação dos filhos?
Por fim, pela experiência do senhor, como é a vida de uma mulher nessa profissão?
Obrigado, desde já, pela paciência e gentileza em responder meus questionamentos.
Marcela
Marcela,
Grato pelo contato. Eu sempre recebo os comentarios nos blogs ou no site, mas nem sempre tenho tempo de responder. Agora, por exemplo, estou em viagem pela China.
Mas vejamos se posso ajuda-la.
Comeco dizendo que voce nao deve "suprimir" a sua paixao, pelo menos esse tipo de paixao, e sim promove-la em quaisquer circunstancias, sendo diplomata ou nao...
No plano da familia, a carreira impoe, sim, alguns constrangimentos, a menos que ambos sejam diplomatas e possam conciliar obrigacoes de carreira com os deveres familiares.
Veja o meu caso: minha mulher, antes de ser minha mulher, era economista, trabalhando no Itamaraty, em projeto temporario. Nos casamos e logo fui removido para o exterior, ela ainda gravida. É evidente que ela teve de abandonar sua carreira de economista, pois que acabamos ficando seis anos no exterior, filho pequeno etc. Torno-se historiadora, mas tambem teve a carreira interrompida todas as vezes em que fui removido e partimos ao exterior. Dependendo do conjuge, pode ser stressante ou mesmo frustrante, mas tem alguns que aproveitam para fazer aquilo que realmente desejam fazer: hobbies artisticos, literarios, simples turismo cultural, etc.
Quanto aos filhos, nao se preocupe, eles sao muito mais fortes e flexiveis do que se imagina. Meu filho fala sete linguas, com as constantes mudancas de escola que teve de fazer. Creio que os filhos se beneficiam enormemente desse nomadismo.
Em qualquer coisa, alias, tudo depende do espirito das pessoas, como elas organizam sua vida, como recebem as mudancas, como se adaptam aos lugares, as pessoas, as linguas.
No nosso caso, sempre foi tudo muito bem, a despeito de postos de sacrificio e de problemas eventuais.
Acredito que seus temores nao sao justificados, mas se voce se tornar diplomata, seu marido seria obrigado a pedir licenca para acompanha-la. Estando no servico publico federal, isso nao é problema: é concedido automaticamente, ainda que sem vencimentos. Mas o salario no exterior dá amplamente para viver bem, desde que não se cometam loucuras residenciais ou de mordomias...
Cordialmente.
----------------
Paulo Roberto Almeida
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Anônimo disse...
Paulo, tirando a parte do incentivo,no sentido puro da palavra, o que você teria a dizer para alguém que,pelo que se ouve, se acha ligeiramente incapaz de passar num concurso como esse.
Amo geografia,história línguas mas eu ainda acho que me falta algo.
Ultimo Anônimo,
Se a pessoa se sente incapaz, mas tem vontade, tempo e condicoes (digamos, menos de 30 anos) para tentar, entao eu diria que, se a vontade é efetiva, ela deveria tentar se tornar capaz, o que se consegue simplesmente estudando.
O concurso é reconhecidamente difícil, mas não se trata de algo impossível ou sobrehumano. Nada que muito estudo não consiga resolver.
Portanto, eu recomendaria estudo, pois isso serve para qualquer coisa na vida.
Pode até não resultar em um diplomata, mas certamente vai resultar em uma pessoa melhor preparada para muita coisa na vida.
Paulo Roberto de Almeida
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Anônimo disse...
Paulo Roberto, venho já há algum tempo seguindo seu site e blog, com respectivas publicações e comentários dos leitores.
Confesso que fico admirado com suas dicas acerca da carreira diplomática, tirando quase todas as dúvidas de quem tem algum interesse em seguir a carreira.
Vamos ao meu caso em específico: Fiquei muitos anos sem estudar, pois acabei dedicando minha vida ao serviço público, deixando de lado meu crescimento pessoal.
Embora tardiamente, dei início a um curso de inglês (já estou no nível avançado). Tenho 33 anos, e darei início ao curso de Administração na UFRGS agora em agosto. Ao longo destes cinco anos, pretendo concluir o inglês, reforçar meu espanhol, e dar início a um curso de francês.
Meus planos são de prestar o concurso para diplomacia, tão logo termine a faculdade. Sei que serei um pouco velho aos 38 anos, mas estou pronto para enfrentar esse desafio.
Tenho algumas dúvidas:
1) Gostaria de saber até que nível de ascenção funcional tenho condições de chegar, começando com a idade de 38 anos.
2) Outra dúvida é em relação ao subsídio inicial, de aproximadamente R$12.400,00, se há mais algum valor a ser adicionado como auxílio moradia, etc...
3) Durante o Mestrado no Instituto Rio Branco, o servidor tem direito a todas as vantagens do cargo, ou é tratado como um estudante?
Minha dúvida, é pelo fato de que sou casado e tenho uma filha, mas minha esposa apoia meus planos de dedicar grande parte do meu tempo no aprendizado de idiomas, na graduação, na leitura prévia de todas as obras indicadas e do que for preciso para isso.
Nos encontramos daqui a cinco anos no Itamaraty. Pode ter certeza disso.
Grande abraço!
Mendes
Mendes,
1) Gostaria de saber até que nível de ascenção funcional tenho condições de chegar, começando com a idade de 38 anos.
Ascensao é com s, não com ç. Acho que voce entrando com 38 nao passaria de Primeiro Secretario antes de entrar no Quadro Especial, e provavelmente se aposentaria nessa condição. Acho muito tarde para fazer uma carreira satisfatoria.
2) Outra dúvida é em relação ao subsídio inicial, de aproximadamente R$12.400,00, se há mais algum valor a ser adicionado como auxílio moradia, etc...
Nao tem outro subsido a nao ser o familiar e transporte, talvez alimentacao, pequenos. Moradia nao creio que se consiga, pois existem muitos diplomatas para os imoveis disponiveis agora. Voce teria de alugar no mercado, o que em Brasilia significa precos mais altos. Se sua esposa trabalhar sria mais facil, do contrario vai viver apertado, porque escolas privadas tambem sao caras em Brasilia.
3) Durante o Mestrado no Instituto Rio Branco, o servidor tem direito a todas as vantagens do cargo, ou é tratado como um estudante?
Ja entra como Terceiro Secretario, mas hierarquia existe e a disciplina tambem. Vai ser tratado como Terceiro Secretario, com algum paternalismo associado.
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Anônimo disse...
Bom dia Paulo Roberto.
Continuando, talvez seria tarde para uma carreira satisfatória, mas melhor do que uma carreira medíocre em uma estatal que não valoriza seus funcionários, que é minha situação atual.
Desculpe, mas tenho mais duas dúvidas:
Então o funcionário pode trabalhar até que idade sem pensar em aposentadoria, para que possa usufruir de toda a ascensão na carreira?
O que significa "entrar no Quadro Especial? Depois de entrar, não há mais crescimento na carreira?
Atenciosamente
Mendes
Mendes,
O Quadro Especial, vulgarmente chamado canil, é o "encosto" para onde vão os diplomatas que ultrapassaram certa idade em sua categoria. Nao me interessei nunca por questoes administrativas, mas creio que deve ser 45 para Terceiro, 48 para Segundo e 50 para Primeiro Secretario, depois 55 para Conselheiro, 60 para Ministro de Segunda e 65 para Ministro de Primeira (Embaixador), ainda que a aposentadoria compulsoria seja aos 70 anos, conforme a Constituição.
Depois de entrar no QE pode haver progressao, mas muito lenta e depende de vagas.
Enfim, acho que voce nao deve se preocupar com essas coisas e sim em estudar para entrar.
Mas nao pense que o Itamaraty seja muito diferente de uma estatal. Se trata de uma espécie de Vaticano, uma Santa Casa, se voce quiser...com todos os atributos do genero...
Paulo Roberto de Almeida
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Anônimo disse...
Paulo Roberto,
Realmente, o que me incomoda de verdade nas estatais é a progressão não por merecimento, mas sim exclusivamente por questões políticas. Pessoas completamente despreparadas e sem formação alguma acabam sendo chefes de administradores.
Isso acontece nos Correios, na Petrobrás, no Banco do Brasil, entre inúmeras fundações, autarquias, Sociedades Anônimas, etc.
Ao menos, parece que na carreira diplomática há menos política envolvida.
Agradeço pelo esclarecimento às minhas dúvidas.
Darei continuidade aos meus estudos...
Grande abraço!
Mendes
Ilusao achar que na carreira diplomatica decisoes quanto a promocao, remocao, designação para funções são isentas de vieses politicos e até pessoais.
Pessoas são humanas, ao que parece, em qualquer lugar, época e circunstância...
Paulo Roberto de Almeida
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Anônimo disse...
Boa noite Paulo.
Sempre me interessei pela carreira diplomática.
No entanto, após formar-me em direito, talvez por uma necessidade imediata, estudei para as carreiras jurídicas. Desde 2004 sou procurador federal.
Embora estável no serviço público e com uma boa remuneração, sinto que falta algo para minha realização profissional , talvez porque gosto muito de línguas, política, história e economia.
Vendo o seu blog, pensei em tentar novamente realizar esse sonho. Porém, embora com inglês avançado e já tendo lido alguns livros da bibliografia básica do concurso por prazer (como história e os livros obrigatórios de português) estou com 34 anos.
Acha que ainda há tempo de tentar e ter uma carreira completa?
Obrigado pela atenção.
Alexandre.
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Anônimo disse...
Prezado Paulo,
Sou analista judiciário há cinco anos, tempo esse suficiente para que eu percebesse que não me realizaria profissionalmente na área jurídica.
Diante disso, passei a buscar informações sobre outras carreiras e me deparei com o seu blog.
Desde então, cresce em mim o interesse pela carreira diplomática.
Meu inglês é básico e acabei de completar 31 anos de idade; entretanto, tenho um bom conhecimento da língua portuguesa, facilidade na redação e interpretação de textos, aproximadamente quatro horas de tempo livre para estudo por dia, possibilidade de arcar com os custos de um bom cursinho e viagens ao exterior para aprimoramento de línguas estrangeiras.
Ainda há tempo de perseguir essa carreira? Se sim, qual deveria ser o primeiro passo nos meus estudos?
Desde já muito agradecida.
Valéria
Valeria, Alexandre,
31 anos ainda está bem, mas 34 já está quase no limite para uma carreira bem sucedida, pois a progressão é lenta e não se pode esperar cumprir todas as etapas intermediarias ate o pico da carreira, ministro de primeira ou embaixador.
Deve-se comecar pelo habitual: ver o Guia de Estudos, mapear as fortalezas e fraquezas e comecar a estudar seriamente, eventualmente investindo em cursinho, mas os colegas sempre serao bem mais jovens...
Paulo Roberto de Almeida
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Maura disse...
Então, quem já passou dos 50, melhor não aspirar à diplomacia? Um 3º secretário faz exatamente o quê? Obrigada.
Maura,
Quem ja passou dos cinquenta não tem nenhuma chance de progredir na carreira diplomatica por imposicao de limites de idade em cada classe. Nem vale a pena tentar.
Quanto ao que faz um terceiro, um segundo ou qualquer outro diplomata, voce leia o que ja escrevi em meu site: www.pralmeida.org
Paulo Roberto de Almeida
=Nathany Miguel disse...
Primeiramente, tenho 19 anos e irei agora para o 4º semestre de Relações Internacionais numa universidade particular com bolsa integral do Prouni – estudei Fundamental em escola pública e o Médio em particular com bolsa integral. Considero muito fraco o ensino, e é gritante a necessidade de uma graduação clássica para ingressar em RI, de qualquer forma devo concluir o curso. Meu inglês está razoável e já planejei viajar nas férias de julho do ano que vem para Liverpool pela universidade para aperfeiçoa-lo.
Aos 16 anos ganhei uma viagem à Brasilia no Concurso de pesquisa cientifica promovido pelo IBECC/UNESCO/CNPq na área de História, sou apaixonada por pesquisa, mas infelizmente não posso me dedicar totalmente, já que não posso deixar de trabalhar (trabalho desde os 15, tempo integral).
O fato é que estou em dúvida se após a graduação me dedico no Concurso ou inicio um mestrado, ou até mesmo viajo para fora. Sei das minhas limitações quanto ao tempo de dedicação de estudo posto que trabalho em período integral, mas sou extremamente dedica, autodidata, leio muito (não só por necessidade acadêmica, mas por prazer, literatura me consome), professores já me indicaram tentar uma graduação tradicional numa universidade pública (CS, Economia, etc.), outros me incentivam terminar RI e decidir depois.
Se puder, gostaria de dicas para o meu caso.
*seu currículo é de provocar suspiros em nós, aspirantes.
Nathany,
Meu curriculo, com 19 anos, nao devia ser muito diferente do seu, talvez até pior, pois nunca tive bolsa, e trabalhei desde muito cedo na vida, desde muuuiiiito cedo.
Pelo menos, em minha epoca, a escola publica ainda era risonha e franca, ou seja, de boa qualidade. Infelizmente, sei que NINGUEM, que estude apenas em escola publica, hoje, tem qualquer chance, provavelmente nenhuma, de ter alguma chance na vida, justamente, a não ser que a pessoa seja como eu sempre fui: um rato de biblioteca. Aprendi a ler na tardia idade de 7 anos, mas nunca parei de ler, em toda a minha vida, assim que pude ingressar na carreira de modo relativamente tranquilo, mas isso um pouco mais tarde, apenas com 27 anos. So comecei a construir curriculo depois disso.
Entendo que voce vai ter muitas dificuldades, mas se voce acredita e tem vontade, vá em frente: durma pouco, leia no onibus (se der), leia o tempo todo e tenha uma formação autodidata, como eu tive. Hoje em dia se pode formar na internet, uma chance que eu nao tive, por simplesmente nao existir.
Nao tenho dicas especiais para voce, a nao ser ler o tempo tido, e anotar, se possivel, o que ler, mas se nao der, apenas leia.
Você conseguirá, pois ainda tem dois ou tres anos pela frente...
Boa sorte nos estudos.
Paulo Roberto de Almeida
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paulo disse...
Olá, meu nome é Paulo e moro em Natal/RN. Tenho umas dúvidas acerca do concurso para MRE / terceiro - secretario. Tomo remédios controlados( antipsicóticos) mas mesmo assim gostaria de fazer o concurso para Diplomacia. Há algum impedimento? Ou posso participar do concurso sem nehuma preocupação? Tenho que me inscrever como deficiente na hora da inscrição do concurso?
Paulo,
Nao existe nenhum impedimento a que voce faça o concurso tomando remédios, inclusive porque ninguém sabe disso no momento da inscrição.
Nao sei se o que você tem pode ser classificado como deficiência, caso no qual você teria essa inscrição especial e talvez alguma facilidade que eu tampouco sei dizer qual seria.
Acredito que voce deva consultar o proprio Instituto Rio Branco sobre isso. Creio que deficiência é mais de tipo motora, ou física, do que algum disfunção de comportamento que não afete o raciocínio e a intelegibilidade.
Paulo Roberto de Almeida
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Danielli disse...
Olá doutor Paulo Roberto, como vai?
Sou advogada, tenho 27 anos, pós graduada em direito civil. Apesar de atuar na área em que me especializei, há algum tempo venho acalentando a idéia de tentar o concurso da diplomacia. Venho de uma família pobre do interior, mas sempre tive interesse em estudar. Cresci frequentando a biblioteca municipal, lendo os clássicos, amando a história mundial e do Brasil, a geografia, a gramática, a literatura. Interesso-me profundamente pelos assuntos ligados à política internacional, e sempre me atualizo com jornais e revistas. Meu tema de monografia na graduação, inclusive, foi uma análise sobre o protocolo de Quioto e o aquecimento global, pois sempre gostei de direito internacional, especialmente os debates ligados ao ramo ambiental.
Penso ter alguma condição de, ao menos, pensar em fazer a prova da diplomacia. Contudo, possuo um inglês elementar, consigo ler alguns textos mas escrevo pouco. O mesmo com o italiano. Mas confesso não saber espanhol e francês.
Com toda a sua experiência, especialmente como professor, o senhor acha que tenho condições de fazer essa prova futuramente?
Desculpe tomar seu tempo, sei que é precioso. Mas é que seu comentário tem para mim grande valia. Será através dele que decidirei o caminho a traçar. Obrigada.
Danielli,
Não tenho certeza de ter respondido a esta sua mensagem pessoal, pois estava viajando e terminando trabalhos. Se não fiz, faço-o agora.
Se você tem muitas e boas leituras, a despeito de não ter tido um ambiente familiar dos mais favoráveis a uma boa formação, como a maior parte dos candidatos (que são, presumivelmente, de classe média e alta), você já tem um bom começo, pois a carga de leituras, as referências culturais acumuladas ao longo da vida são importantes numa prova de redação.
Mas, você antes precisa passar no teste inicial, que é uma coleção enfadonha de interpretações subjetivas e outros tantos dados objetivos, que só se adquire lendo os textos "certos", aqueles selecionados na bibliografia oficial (antigamente era diferente, a criatividade pessoal, a capacidade de raciocínio eram mais valorizados, agora virou uma coisa mecânica). Você precisaria aperfeiçoar tremendamente o seu inglês, o que não é difícil, basta dedicação, algumas horas por semana, se possível 1h por dia. Teria de ter outra língua, de preferência espanhol, o que tampouco é dificil.
Fazendo isso, voce tem e deve fazer a prova ja no ano que vem, para testar seus conhecimentos. Talvez não entre imediatamente, mas saberá o que tem de aperfeiçoar.
Paulo R Almeida
Deíse disse...
Olá, estudo Direito em uma universidade estadual. Apesar de sempre gostar do curso de Relações Internacionais, por ter passado imediatamente no curso de Direito resolvi cursá-lo.
Porém, tendo em vista não desistir de um 'sonho' antigo, agora, no meio do ano, prestei Relações Internacionais e passei, em uma faculdade federal(de outro estado)que está iniciando o curso agora(eles estão no segundo ano de curso, quarta turma).
Gostaria de saber qual seria uma melhor opção pra mim no momento, para que no futuro eu tenha mais chances de iniciar a carreira diplomática.
Agradeço desde já a ajuda.
Deise,
Os cursos de relações internacionais costumam ser fraquinhos e não levar a grandes perspectivas no mercado de trabalho, pela indefinição geral de curriculos e especializações. Você não pode partir do pressuposto de que se tornará diplomata em seguida. Muitos diplomatas tem as formações as mais diversas.
Eu recomendaria que você fique em Direito, como profissão, e se dedique paralelamente e seriamente aos estudos para ingressar na diplomacia.
Paulo Roberto de Almeida
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Bruna disse...
Olá. Como vai? Tenho 22 anos e estou no último semestre do curso de Direito. Tenho muito interesse na área diplomática. Adoro Direito Internacional. Sempre fui apaixonada por inglês e sempre tive muita facilidade com o português. Porém, quanto a história e geografia, só tenho o background do que estudei no Ensino Médio, que foi muito bem feito. Estudei numa escola exigente e dei o meu melhor. Quanto a Economia e Ciências Políticas, tenho uma base muito superficial. Quanto a francês e espanhol, nunca estudei essas matérias. Pretendo passar em outro concurso antes de estudar para o Instituto Rio Branco,pois devido especialmente à minha falta de conhecimento nessas últimas matérias, penso que levará algum tempo até a minha aprovação no concurso para admissão à carreira diplomática.
O que o senhor acha ?
Bruna,
Eu acho que se voce tem intencao de passar no concurso do Itamaraty, independentemente de se sentir ou nao preparada para ingressar agora, você deveria se inscrever e fazer as provas, as que passar, e até onde der. Será uma maneira de já ir se familiarizando com o estilo de questoes demandadas em provas desse tipo, experiencia para saber administrar o tempo, constatar quais suas fortalezas e fraquezas, alem dessas agora percebidas ou intuidas, ou seja, eu acho que voce nao perde nada em ir tentando sempre quando puder. Estude muito agora para o proximo concurso, que abre no comeco de 2011, e tente sua chance.
Boa sorte nos estudos.
Paulo R. Almeida
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Gabriela disse...
Olá, estou no 2º ano do Ensino Médio e já me decidi por seguir a carreira diplomática. Faço cursos de inglês, espanhol e francês e sempre tive maior facilidade para a área de humanas. Porém estou em dúvida entre os cursos de RI ou Direito, ambos na USP. Qual seria o mais recomendado para o CACD?
Obrigada, e parabéns pelo seu trabalho!
Gabriela,
O mais indicado, com certeza, é o curso de RI, o que não quer dizer que seja o melhor, seja intrinsecamente, em termos de qualidades e méritos próprios, seja em termos de mercados e oportunidades de trabalho.
Um curso mais tradicional como o de Direito talvez ofereça maiores oportunidades de trabalho, até que você consiga entrar no MRE. O concurso do Itamaraty é muito exigente.
Claro, se voce comecar a estudar desde já, e estudar por sua própria conta, sem esperar nada de faculdades e cursinhos, você já estará bem mais preparada para esse concurso.
Boa sorte nos estudos.
Paulo R Almeida
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Bruno disse...
Dr. Paulo Roberto,
Tenho algumas dúvidas sobre a carreira da diplomacia, entretanto gostaria antes de descrever um pouco o meu perfil para o senhor.
Tenho 21 anos e estou entrando no 4º ano de Direito da Universidade Federal da Paraíba. Não obstante faltarem apenas 4 semestres para eu me formar, a cada dia que passa acho o Direito mais e mais entediante. Por mais que à época de prestar o vestibular a idéia de ser advogado parecesse muito empolgante, hoje em dia não consigo me imaginar passando o resto da vida meramente decorando artigos de códigos e repetindo mecanicamente conceitos doutrinários arbitrários e puramente retóricos. Exceto por Filosofia do Direito (a única disciplina jurídica que realmente desperta algum interesse em mim), desde que entrei na universidade meu grande prazer acadêmico tem sido unicamente estudar Economia por conta própria – tenho uma grande base de micro e teoria dos jogos, sendo o meu maior foco atualmente em institutional economics.
Acredito que tenho uma forte vocação acadêmica: além de teoria econômica, leio muito lógica, fenomenologia, filosofia da ciência em geral e epistemologia das ciências sociais; e sempre gostei de estudar novas línguas estrangeiras, sobretudo para ter acesso a bibliografias mais diversificadas (leio em inglês, alemão e holandês). Contudo, o ambiente universitário da minha cidade e adjacências não é nada propício para se fazer pesquisa nas áreas que me atraem (aqui só tem desconstrucionistas, adeptos da hermenêutica filosófica e sociólogos no estilo frankfurtiano, pessoas perto das quais considero exercer a advocacia um mal menor).
Levando em consideração os posts que pude ler do senhor neste blog acerca de sua carreira, sinto-me tentado a acreditar que a diplomacia seria uma boa alternativa para mim na medida em que não apenas me permitiria seguir meu lado acadêmico sem instabilidades econômicas como também me estimularia ao máximo a desenvolvê-lo e ainda aplicá-lo cotidianamente no exercício da profissão.
Tendo explicado esse meu background, pergunto ao senhor:
- O CACD é realmente tão inacessível quanto parece e todos dizem que ele é?
- É utópico acreditar que, se eu me concentrar na matéria do concurso pelos próximos 2 anos, passarei no exame tão logo eu termine a faculdade?
Embora eu acredite que seja possível passar em qualquer concurso com a quantidade certa de tempo e dedicação, não gostaria de ser um estorvo para meus pais por anos a fio para conseguir realizar esse objetivo, somente vivendo de mesadas e produzindo apenas sonhos.
É quase um dilema do prisioneiro: se eu priorizar os estudos diplomáticos e não for aprovado no concurso, dificilmente terei condições técnicas de advogar em área alguma após a graduação; se eu priorizar os estudos jurídicos, aí é que dificilmente serei aprovado mesmo. Por conta disso, acabo ficando nesse “chove, não molha” e não me motivo para investir a sério em nenhuma das duas coisas.
Por último, tenho ainda mais uma dúvida, a qual não tenho certeza se o senhor poderá me esclarecer. Em um eventual Mestrado em Diplomacia, alguma coisa do meu conhecimento em teoria dos jogos (que é basicamente matemática pura combinada com axiomas de Economia para modelar escolhas e comportamento estratégico) poderia ser aproveitada? Ou a carreira no Itamaraty só permitiria abordagens mais "clássicas"?
Muito obrigado desde já.

Paulo R. de Almeida deixou um novo comentário sobre a sua postagem "1112) Carreira Diplomatica: respondendo a um quest...":

Bruno,
O CACD é difícil, mas não inacessível, tanto que TODAS as vagas abertas tem sido preenchidas nos últimos anos, o que nem sempre era o caso nos concursos passados, com vagas sobrando (pois os exames de entrada eram mais rigorosos e a seleção pessoal de uma banca impiedosa cortava muita gente boa, por achar que não tinham vocação para a diplomacia).
Hoje ficou muito mecanico, com aquelas perguntas previsiveis que as pessoas que fizeram os cursinhos preparatorios acertam quase todas. Sobra o conhecimento perfeito de Português, literatura inclusive, o domínio do Ingles, e uma boa redação em algumas areas setoriais, como fatores decisivos.
Se voce se concentrar na MECANICA do concurso nos proximos dois anos e tiver uma boa cultura geral, como voce tem, voce passa, mas tem de ter os macetes do concurso, que geralmente um cursinho dá.
Acho que você deveria estudar para a advocacia, que é o que lhe vai dar dinheiro enquanto voce nao passar, e se preparar ao mesmo tempo para o concurso do IRBr.
Esqueça por enquanto o curso do Rio branco, esqueça a carreira e o que vai fazer nos dois, e se concentre unicamente no concurso. Depois você se preocupa com o que é secundário por enquanto.
Nem no Rio Branco, nem na carreira você vai precisar, infelizmente, de teoria dos jogos: eles estão muito aquém disso.
Repito: forme-se advogado, estude para o concurso. Você ainda é muito jovem, e pode entrar tranquilamente com 24 ou 28 anos.
Paulo Roberto de Almeida

Postado por Paulo R. de Almeida no blog Diplomatizzando... em Sexta-feira, Novembro 05, 2010 3:44:00 AM

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Brasil: uma gigantesca bolha em formacao...

Bolhas, por definição, são ativos, de qualquer tipo -- tulipas, casas, ações, whatever -- que alcançam um preço de mercado incompatível com as possibilidades reais de retorno. O que não quer que esses ativos não possam ter esses retornos esperados no curto prazo, pois novos compradores pagarão o que eles esperam que o ativo valha, naquele mercado, num futuro determinado. Ou seja, bolhas são alimentadas por otimismo sem fundamento, ou até estimuladas por especuladores, que saberão retirar-se no momento certo, deixando a batata quente nas mãos dos investidores ingênuos, que vão amargar as agruras da queda quando um número suficientemente razoável de pessoas perceber que aquele ativo não vale tanto assim. Começa, portanto, o estouro da manada, que significa o estouro da bolha.
Por mais que certos dirigentes políticos ignaros ou irresponsáveis acusem as "forças cegas do mercado" ou os "especuladores financeiros" de criarem essas bolhas -- o que só é parcialmente verdade -- o fato é que os maiores "bolheiros", ou fabricantes de bolhas, são os próprios governos, que alimentam as ilusões das pessoas quanto a um crescimento qualquer em algum mercado, ou criam as condições para que as bolhas se formem (deixando os juros muito baixos, por exemplo, ou estimulando artificialmente uma determinada demanda acima da capacidade da economia de atendê-la, como quando se expande exageradamente o crédito, digamos assim).
Os EUA fizeram isso, no setor imobiliário. O Brasil segue o mesmo caminho, e só não foi ainda criada uma bolha gigantesca em torno do programa "Minha Casa, Minha Vida" por causa da própria incapacidade do governo em licenciar rapidamente um grande número de construções ou financiar um alto volume de aquisições imobiliárias. Se não fosse a incapacidade gerencial, já estaríamos numa bolha imobiliária. Mas tem também a bolha do crédito fácil sendo criada, que vai estourar em algum momento, assim que o endividamento e a inadimplência crescerem o suficiente para provocar um movimento de retração a partir da alta dos juros (exatamente como ocorreu nos EUA).
Uma outra bolha da qual pouco se fala é a do petróleo do pré-sal, onde o governo cometeu todo tipo de barbaridade financeira e administrativa que é possível cometer. Vai estourar....

Este artigo abaixo, do El País, trata em parte dessa bolha em formação. Não concordo com todos os argumentos do autor, e discordo um pouco de sua análise, mas acredito que ele coloca os problemas como eles existem.
À la lecture, citoyens...
Paulo Roberto de Almeida

Jorge Altamira
El País, 06/10/2010
La petrolera brasileña, Petrobrás, acaba de realizar una emisión de acciones por 67 mil millones de dólares, lo cual lleva el valor de su capital a 220 mil millones, apenas por debajo de la que ocupa el primer lugar en el ranking internacional, la norteamericana Exxon. Esta suscripción de capital ha convertido a la Bolsa de Sao Paulo en la segunda más transada del mundo, detrás de la Hong Kong. Lula, que se hizo presente en la subasta de las acciones, se felicitó delante de los inversores por haberse convertido de un cuco del capitalismo en “el honrado partícipe del momento más auspicioso del capitalismo mundial” (La Nación, 25.9). Los valores morales del presidente brasileño han ido retrocediendo a medida que el valor bursátil de las empresas ha ido subiendo.
 ¿Significa esta operación de Petrobrás que Brasil marcha a velocidad de crucero a integrarse a las llamadas economías desarrolladas? Es lo que cree la candidata de Lula, Dilma Roussef, que acaba de decirle al Financial Times (6.9), que “el petróleo es el ‘pasaporte’ de su país para alcanzar un status mundial”. Aunque la operación refuerza, en realidad, la condición de Brasil como exportador de materias primas, el gobierno brasileño ha prometido que las inversiones físicas que deberá realizar la petrolera serán encargadas a la industria nacional, o sea que es presentada como un aspecto de la industrialización. El contraste, al menos, con lo ocurrido con la argentina YPF, que había logrado el autoabastecimiento energético cuando Petrobrás debía importar el 90% del combustible, es absolutamente abismal.
 Bien mirado, sin embargo, la capitalización de Petrobrás representa, antes que nada, una renuncia de Brasil al ejercicio soberano de sus nuevos descubrimientos petroleros, más allá de una barrera de sal que se encuentra a partir de los dos mil metros de profundidad. Hace dos años, Lula había asegurado que las nuevas reservas iban a dar lugar a la creación de una empresa exclusivamente estatal, que se haría cargo de licitar los permisos de explotación a cambio de una regalía. La semana pasada, en cambio, Brasil entregó esas reservas a Petrobrás a cambio de nuevas acciones en la compañía. El resultado es que el estado brasileño aumentó su participación en Petrobrás al 48% - el 52% restante en manos privadas, fundamentalmente fondos de inversión de los Estados Unidos. El estado ha cedido la certificación de las reservas a un grupo con mayoría privada, y el cobro de regalías es suplantado por los dividendos que decida Petrobrás sobre las ganancias declaradas. Petrobrás queda a cargo de la operación de los yacimientos descubiertos, aunque con una participación exterior de capital que puede llegar al 70%. Petrobrás no solamente deberá compartir las ganancias con sus socios sino que estos harán valer esta condición para asegurarse la provisión de los servicios tecnológicos – que son los más rentables del negocio petrolero. Hay que hacer la salvedad, sin embargo, que los servicios tecnológicos de Petrobrás se encuentran entre los más reputados del mundo. Conclusión: el estado ha cedido soberanía a los pulpos privados internacionales y se ha convertido en un cobrador de los dividendos que se dispongan.
 Como las reservas petroleras cedidas por Brasil fueron valuadas en 42 mil millones de dólares, una valuación incierta, realizada por auditores de Petrobrás, que está basada en cálculos de extracción similares a los que provocaron el catastrófico derrame del Golfo de México; la ampliación de capital en dinero quedó reducida así a 25 mil millones de dólares. Muchos inversores con acciones de Petrobrás han suscripto la ampliación para evitar que se desvaloricen sus tenencias. El plan de inversión requerido para la extracción submarina, en cinco años, es de 224.000 millones de dólares. Esta exigencia de endeudamiento explica la baja cotización de la acción, que “ha caído un cuarto este año, la peor actuación de una petrolera integrada de petróleo y gas globalmente. Se vende a descuento respecto a sus pares”. Petrobrás está pagando a sus accionistas mayoritarios un precio alto por un acceso a los yacimientos de aguas profundos técnicamente muy difícil (Financial Times, 24.9). El “socio mayoritario” es el Estado, que ha recibido por las reservas un precio que, se juzga, es un 25% mayor al que corresponde.
 El atractivo principal de la operación reposa en las ultra bajas tasas de interés que deben pagar los inversores para suscribir esta ampliación de capital, debido a la emisión de moneda de los bancos centrales para rescatar a bancos y empresas. En el caso de los capitales locales, fueron generosamente subsidiados por el Banco de Desarrollo de Brasil; o sea que no hay capital nuevo, estrictamente, sino un desvío de los capitales públicos o financieros internacionales. Los inversores apuestan a una suba de la cotización de las acciones y, por sobre todo, a la certeza de que el Banco de Desarrollo tiene el dinero suficiente para salir a comprarlas en caso de una caída. Se trata de una inversión subsidiada y con seguro contra default. Es un capital volátil. Se trata de una apuesta especulativa a la suba del precio del petróleo, con mayores garantías que las que ofrece un contrato de compra futura del combustible.
 El costo de extracción de los nuevos pozos se ha estimado en unos 35 dólares el barril, siete veces por encima de un pozo saudita La rentabilidad de la explotación dependerá de un precio estable del barril por encima de los 100 dólares. La inversión financiera en Petrobrás es, sin embargo, muy lucrativa, porque la ampliación de capital reduce el peso de sus deudas con relación al patrimonio, y porque da margen para contraer deudas en forma masiva, lo cual eleva el rendimiento de la acción (que es el capital). Es atractiva también porque supone una tendencia firme a la devaluación del dólar y al consiguiente aumento de los precios de las materias primas, Sin embargo, una suba de tasas de interés (provocada por la devaluación del dólar), o una caída del precio del petróleo (que sería consecuencia de una mayor recesión industrial) pondría a todo este negocio en una situación de bancarrota. La Bolsa de Sao Paulo ha pasado a ser una super timba. Una fuga de capitales de aquí arrastraría a la economía brasileña al abismo.
 La consecuencia inmediata de la entrada de dinero extranjero para participar de la ampliación del capital de Petrobrás, ha sido una mayor valorización de la moneda brasileña, el real. El perjuicio que esto ocasiona al comercio exterior de Brasil es manifiesto, en especial el relacionado con la industria. La valorización del real produce asimismo una valorización de los valores bancarios e inmobiliarios y una acentuación, por lo tanto, de la especulación en estos rubros. El afán de privilegiar a Petrobrás frente a sus competidoras extranjeras, ha provocado una acentuación del endeudamiento extranjero de Brasil y de la especulación financiera. Es así que el ministro de Economía de Brasil salió a denunciar “una guerra monetaria” contra el país, que su propio gobierno ha promovido con esta operación adornada como industrial, pero esencialmente financiera. Sin la devaluación del dólar no habría “guerra monetaria”, pero en tal caso tampoco hubieran reunido el dinero para financiar la ampliación de la petrolera.
 Lula les ha dejado a los brasileños una bomba de tiempo. No es casual que su pollita electoral haya comenzado a hablar de ‘austeridad’ en plena campaña.

Um retrato de nossos universitarios (preguiçosos, e presunçosos)...

Recebido poucos minutos atrás:

On Nov 5, 2010, at 3:09 AM, Cxxxxx Jxxxxx wrote:

Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.

Nome: Cxxxxx Jxxxxx
Cidade: Xxxxxx xx Xxxxx
Estado: Ceará
Email: xxxxxxxx@gmail.com
Assunto: Sem assunto


Mensagem: Olá, eu li recentemente um texto que você escreveu sobre o governo lula, muito interessante, porém não tem informações referentes ao ano atual. Quero lhe pedir um favor: pode enviar para o meu email informações referentes as \'Mudanças e Continuidades\' do governo lula em relação ao governo Fernando henrique cardoso? È um trabalho que a faculdade está me propondo, queria sua opnião atraves de tópicos, pode ser bem objetivo que já ajudará. Desde já obrigado por qualquer decisão.


Minha resposta:

   Sinto muito meu caro Xxxxxx. Nao costumo fazer trabalhos escolares para ninguem. O que eu escrevo e divulgo, está a disposicao. Quem usar, alias, deveria ter a honestidade intelectual de citar a fonte dos dados ou a autoria intelectual dos argumentos.
    Mas, voce está querendo que eu trabalhe para voce, o que alem de vergonhoso, é de uma cara de pau inacreditavel. Nao consigo acreditar que um universitario solicite a outra pessoa que faça o trabalho em seu lugar...
------------------------------
Paulo Roberto Almeida

Sem mais comentários...

Estimulos economicos, estimulos inflacionarios

No Brasil, como nos EUA, os "ativistas" econômicos sempre acham que "um pouco de inflação" pode fazer bem ao crescimento, ao "estimular a demanda" e portanto gerar emprego.
O Federal Reserve vai emitir mais 600 bilhões de dólares para "estimular a economia".
Fazendo pela via inflacionária, vai atingir os mais pobres. Fazendo pela via tributária, vai justamente retirar os recursos que as pessoas usariam para consumir, ou para poupar e investir.
Por que os governos simplesmente não criam um ambiente de não intervenção, no qual as próprias pessoas tomam suas decisões em total liberdade?

Milton Friedman vs. the Fed

The Nobel laureate would never have endorsed increasing inflation to stimulate the economy.

The Wall Street Journal, NOVEMBER 4, 2010
 
Would the late Milton Friedman have endorsed the Federal Reserve's plan to make large-scale purchases of long-term Treasury bonds? The idea here is to pump more money into and thus jump-start the economy, reducing unemployment. Some people, including this newspaper's David Wessel in a column last week, believe the great Nobel laureate would favor this inflationary program. I am certain he would not.
Friedman's main message for central banks was to maintain a monetary rule that kept the growth of the money supply constant. (...)

[o resto só para assinantes...]

"Erradicando a pobreza": uma pequena correcao...

A presidenta eleita -- ela prefere, parece, ser chamada de presidenta -- prometeu, em seus itens programáticos, "erradicar a pobreza".
Escrevi isto aqui, num trabalho de análise tópica de suas promessas de campanha:

Uau! Excusez du peu, como diriam os franceses. Não se trata nem de diminuir a miséria ou eliminar a pobreza extrema, mas simplesmente “erradicar a pobreza”. E isso em 4 anos! Bem, quem sou para contestar a presidente? Acho que os EUA, uma das nações mais avançadas do planeta, mas que ainda tem muitos pobres, vão pedir a receita da solução milagre...
(In: As promessas da candidata eleita: breve avaliação)

Agora sabemos como ela pretende "erradicar a pobreza": aumentando o Bolsa-Família.
Ora, que me perdõe a presidenta, mas isso não significa, nem de longe, "erradicar a pobreza". Isso é apenas transferência de renda, da classe média para os pobres, para que eles possam consumir o que desejarem. Se e quando retirarem os benefícios, eles voltam a ser pobres, igualzinho a antes, talvez até pior, pois assim como não acredito que havia 45 ou 50 milhões de pessoas morrendo de fome antes da generalização do BF, acredito que eles descuraram de estratégias de inserção produtiva para se municiarem por seus próprios meios.
Erradicar a pobreza significa eliminar as fontes da pobreza, o que só se consegue com educação, capacitação profissional e emprego, capaz de garantir renda por meios póprios.
Sinto muito leitores, mas repassar o meu, o seu, o nosso dinheiro para que outros possam consumir não é erradicar a pobreza. Se trata apenas de fazer caridade com o bolso alheio.
Paulo Roberto de Almeida

Dilma planeja reajustar valor do Bolsa-Família
Agência Estado, 3/11/2010

BRASÍLIA - A presidente eleita Dilma Rousseff (PT) afirmou, em entrevista à TV Brasil, que uma de suas primeiras preocupações, assim que assumir o governo, em janeiro, será aumentar o valor do Bolsa-Família.

Na entrevista, Dilma disse, porém, que não dispõe ainda das contas para saber se o reajuste do benefício tornará necessário revisar o Orçamento da União para 2011, já enviado pelo Palácio do Planalto ao Congresso.

'Eu pretendo ver isso com mais detalhe', disse a futura presidente, segundo a Agência Brasil, enfatizando que quer reajustar os benefícios. 'O Orçamento é uma peça que está sempre num quadro no qual você opera. É possível conseguir que haja mais recursos para aquilo, dependendo de suas prioridades. Eu tenho o objetivo de reajustar e garantir os recursos (do Bolsa-Família) para que eles não tenham perdas inflacionárias e tenham ganho real.'

Entre 2003, quando o programa foi iniciado, e 2010, o governo desembolsou R$ 60,2 bilhões no atendimento a populações mais pobres, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza. O benefício médio, nestes quase sete anos, foi de R$ 96,00 - valor que representou um acréscimo de 47% na renda de aproximadamente 50 milhões de pessoas. Praticamente metade delas vive no Nordeste.

A presidente eleita disse ainda, na entrevista, que pretende fazer da erradicação da pobreza uma meta central de seu governo. ' É uma questão de concepção. Na concepção do projeto que eu represento, e do qual obviamente o presidente Lula é um dos grandes líderes, o crescimento econômico não pode ser desvinculado da melhoria das condições de vida da população.'

Prosseguiu afirmando, segundo a Agência Brasil, que a questão social não é um adereço na mão, não é um anexo de seu programa nem de seu governo. 'Eu vou tornar essa meta de erradicação como uma meta central.'

Mulheres. A conversa incluiu ainda temas como reformas política e tributária, às quais promete dar 'uma prioridade grande', mas adequando os prazos ao Congresso, e que poderá ampliar a presença de mulheres em sua equipe. Mas isso não significa, advertiu, que pretenda criar cotas nessa questão. 'Tenho todo interesse em ocupar os quadros ministeriais com muito mais mulheres, mas também não vou fazer regime de cotas. Se as mulheres forem maioria, é porque foram competentes.'

Industriais protegidos e cartelizados adoram o governo

O industrial que escreve abaixo é um homem que ficou rico graças aos favores dos governos, dos diversos governos que vem se sucedendo desde a era Vargas. A receita é simples: garanta compras governamentais gordas (ou seja, dinheiro farto do governo), garanta proteção contra a concorrência estrangeira (via tarifas altas e outras formas de cerceamento das importações), garanta mercado exclusivo (permitindo práticas anti-correnciais e claramente cartelísticas).
Tudo isso permitiu que ele cobrasse o que quisesse de seus consumidores compulsórios no Brasil e ficasse assim rico. Este governo, ou qualquer governo que lhe tivesse garantido tudo isso, estaria ótimo para ele. Aliás, as políticas não mudaram quase nada no Brasil, com uma pequena abertura comercial nos anos 1990, que logo reverteu. Temos sempre mais do mesmo.
Isso explica, por exemplo, o alto custo do investimento no Brasil, e isso não vale só para os grandes capitalistas apenas.
Até mesmo o pobre, que constroi sua casinha em regime de mutirão com os amigos nos fins de semana, transfere renda para o "Doutor Ermírio", pois tem de pagar o preço do cimento que ele estabeleceu (com a ajuda do governo, claro, que ainda cobra impostos pesados em cima). Em conclusão, a casinha dos nossos pobres acaba saindo mais cara que as casas de classe média nos EUA. Graças ao "Doutor Ermírio".
Essa gente ainda tem a coragem de se enrolar na bandeira e cantar as loas do patriotismo.
Como diria alguém, creio que Samuel Johnson, o patriotismo é o último refúgio dos canalhas...
Paulo Roberto de Almeida 

O Cavalo Manco e o Puro Sangue
Antonio Ermírio de Moraes

Os trabalhadores tem muito a aprender, mas não podemos negar que apontaram a seta do governo na direção de deixar de ser colônia extrativista. Isto já surtiu efeito no enfrentamento da última crise mundial, se o país estivesse com o modelo econômico anterior teria quebrado, isto foi dito por todos os segmentos da mídia (fora do contexto partidário) antes do processo da campanha política. Se o governo não tivesse aberto agressivamente novos mercados com economias emergentes os efeitos seriam devastadores, isto é sério, e só aconteceu porque a direção foi mudada, as bases econômicas do governo FHC foram aproveitadas até um certo ponto, mas se não mudasse a estratégia, o Brasil teria quebrado como ocorreu nas outras crises.
A aposta no mercado exterior emergente e no mercado interno, via inclusão social, é reconhecido no mundo inteiro como uma grande sacada deste governo que salvou o país de um grande desastre.
O interessante é que foi apenas uma questão de auto estima, por incrível que pareça, o governo Lula adotou a estratégia nacionalista dos governos militares e deu certo. O que aflige o pessoal que governou nas décadas passadas é que o novo posicionamento foi ideológico, deu certo, o país se protegeu e cresceu. A fome, a miséria, as desigualdades não seriam resolvidos em oito anos, basta um pouquinho de bom senso pra enxergar isto.
A priorização no resgate dos pobres via programas de renda mínima e estímulo ao micro-crédito, o aumento em "dólar" de mais de 300% no salário mínimo, entre outras medidas, foram fundamentais para reduzir as desigualdades, irrigar de forma bem pulverizada a economia com dinheiro que gera emprego e germinou o ciclo virtuoso da economia.
Com o aproveitamento e o aperfeiçoamento das bases econômicas bastou a decisão política de acreditar que podemos sonhar em deixar de ser colônia extrativista.
Ainda estamos longe, não temos estradas, portos, aeroportos, escolaridade, sistema de saúde, centros de pesquisa, universidades qualificadas, mas para que possamos ter um dia todas estas coisas é preciso que tomemos a decisão política de apostar no Brasil, no trabalhador do Brasil, no empreendedor brasileiro, na distribuição de renda via salários dignos, no ciclo virtuoso do bom capitalismo, e esta decisão foi tomada neste governo.
Nesta decisão de política nacionalista, deflagrou-se um programa de investimento maciço em infraestrutura de longo prazo, que só vai repercutir em oito ou dez anos, visando viabilizar o desenvolvimento do país (reindustrialização nacional, agrobusiness, infraestrutura, geração de energia, etc), o programa de aceleração do crescimento, PAC, representando mais uma vez a aposta no Brasil, deu certo, o iluminado Lula novamente pontuou onde os tucanos falharam.
Quando a crise do primeiro mundo chegou o ciclo virtuoso se tornara auto-sustentável.
O capital produtivo já havia apostado no Brasil e o país já se mostrava como uma decisão acertada. 
Em todas estas frentes estratégicas, o governo anterior apostou que as multinacionais tomariam nossas frentes produtivas sem interferência do estado, via privatização, etc, e gerariam novos empregos porque os trabalhadores venderiam sua mão-de-obra barato e os recursos naturais estariam a sua mercê para extrair e produzir fartos lucros. 
Ledo engano, as multis são fiéis às suas origens, seu compromisso é de envio dos fartos lucros para as matrizes. 
Esta decisão estratégica errada estava transformando o país em quintal extrativista do mundo, deixando os industriais locais à margem do processo, com a maioria da população condenada ao sub desenvolvimento enquanto uma minoria fazia compras nos shoppings de New York e Londres.
O mundo desenvolvido antes de ser o que é passou por decisões estratégicas de governo, as coisas não acontecem sozinhas. Esta foi a direção errada do governo anterior, acreditar que o lobo seria o melhor guardião do galinheiro e não apostar na capacidade do empreendedor e do trabalhador brasileiro.
Os trabalhadores tem muito a aprender e isto ficou evidente nos poucos anos de poder, mas os neocapitalistas de visão curta estiveram no poder a vida inteira e já mostraram muito bem o modelo de sociedade que desejam. 
Prefiro levar meu cavalo manco para a fonte do que seguir de puro-sangue pro deserto.

Antonio Ermírio de Moraes - Empresário

Politica externa: continuidade assegurada...

Talvez não pelos bons motivos, mas cada um tem o direito de dizer o que pensa (ou se não pensa, aquilo que lhe parece conveniente, em função da tal de "correlação de forças").
Talvez o ministro da Defesa (mas parece mais do Ataque) esteja apenas tentando se posicionar como um anti-imperialista de carteirinha, para ficar parecido com outras vozes altissonantes do governo atual, para se credenciar na continuidade, ou talvez até um alto posto na novíssima República ao feminino (que poderia até escolher uma mulher para a Defesa, como foi Bachelet, no Chile, mas isso não creio).

Curiosa sua afirmação sobre Cuba: "país pobre". Pobre? Cuba tinha a segunda ou terceira maior renda per capita da América Latina até 1959. Se ficou pobre depois disso não deve ter sido apenas pelo embargo americano, inclusive porque os outros países sempre puderam comerciar normalmente com Cuba -- a ilha permaneceu no GATT, apesar de ter saído do FMI, durante todo esse período --  e ela desfrutou do "mensalão" soviético durante mais de três décadas. Isso inclusive lhe permitiu investir na saúde e educação, que se tornaram piores agora, mas que já foram satisfatórios justamente porque a ilha podia "concentrar recursos" nessas duas únicas justificativas de uma férrea ditadura. Se a ilha ficou pobre, foi por sua própria culpa. Nos últimos anos ela vem sendo sustentada pelo "mensalão" bolivariano, na forma de generosos subsídios do coronel amigo (e sucessor presumido) de Fidel.

Curioso também que o anti-imperialismo primário ainda seja uma credencial em certas áreas.
Paulo Roberto de Almeida

Jobim faz duras críticas aos Estados Unidos

GLAUBER GONÇALVES - Agência Estado
03 de novembro de 2010 | 21h 29

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, fez duras críticas aos Estados Unidos hoje, no Rio. Em tom áspero, ele afirmou que o Brasil não aceita discutir assuntos relativos à soberania do Atlântico enquanto os norte-americanos não aderirem à convenção da ONU sobre o direito do mar, que estabelece regras para exploração de recursos em águas nacionais. Jobim também condenou veementemente a expansão das fronteiras de atuação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e atacou o embargo dos Estados Unidos a Cuba.
"Os direitos do Brasil aos fundos marinhos até 350 milhas do litoral, onde está nosso pré-sal, decorre da convenção. Ou seja, só é possível conversar com um país que respeite essa regra", disse durante a 7ª Conferência de Segurança Internacional do Forte de Copacabana, no Rio. "Não pensamos em nenhum momento em termos soberanias compartilhadas. Que soberania os Estados Unidos querem compartilhar? Apenas as nossas ou as deles também?", questionou.
Jobim também se disse contrário a alianças militares entre a América do Sul e os Estados Unidos. "Nossa visão é a de que podemos ter relações com os EUA, mas a defesa da América do Sul só quem faz é a América do Sul", disse o ministro. Segundo ele, o Brasil não deve se aliar a forças militares que não possam ser por ele comandadas. "Os EUA não participam das forças humanitárias da ONU porque não admitem ser comandados por outros exércitos. Não podemos aceitar esse tipo de assimetria", declarou.
O ministro mostrou contrariedade à expansão da área de atuação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar da qual os Estados Unidos fazem parte. "Aprovou-se uma nova estratégia em que o teatro de operações da Otan passou a ser o mundo todo, em locais em que se possam ferir os interesses dos países membros. Isso significa que teríamos dois organismos internacionais: a ONU e a agora Otan, que também estaria se arrogando a isso. Mas nós somos contra", disse.
Na avaliação de Jobim, as relações entre os países signatários do Tratado Sobre a Não-Proliferação de Armas Nucleares também é assimétrica e penaliza aqueles que buscam gerar energia nuclear. Para ele, não há problemas no interesse da Venezuela em dominar essa tecnologia. "A Venezuela sentiu o problema da sua base de energia elétrica ser hidrelétrica e teve inclusive que fazer racionamento", disse. "A Venezuela fez tal qual o Brasil. E nós aplaudimos", complementou sobre o país vizinho, considerado um problema no continente pelos EUA.
As críticas de Jobim aos norte-americanos ainda abordaram a relação do país com Cuba. "Qual foi o resultado do embargo a Cuba? Produziram um país orgulhoso, pobre e com ódio dos EUA", disse.
Para o ministro, os riscos à segurança da América do Sul e os conflitos do futuro estarão relacionados à água, minerais e alimentos. "Isso a América do Sul tem. Temos aqui o aquífero Guarani, a Amazônia, somos os maiores produtores de grãos e de proteína animal do mundo", enumerou. "Temos que nos preparar para isso", advertiu sobre possíveis ameaças futuras. 

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Historiadores e jornalistas: uma relacao delicada

JORNALISTAS & HISTORIADORES
Uma guerra sobre a história do Brasil
Por Ana Clara Brant
Obsrevatório da Imprensa, 2/11/2010
Reproduzido do Correio Braziliense, 28/10/2010; título original "Em livros de sucesso, historiadores e jornalistas travam guerra sobre o país"

Desde que os livros de história do Brasil, principalmente os elaborados por jornalistas, começaram a bombar, críticas do meio acadêmico vieram à tona. Alguns historiadores são contrários ao fato de profissionais de imprensa não terem uma formação adequada para ingressar nesse nicho historiográfico.
"Penso que qualquer pessoa pode escrever livros de história, mas se esse livro será de boa qualidade, aí é outra história. No geral, parte da comunidade acadêmica é bastante resistente a isso. Compreende-se essa resistência porque pesquisadores passam anos fazendo seus trabalhos com grande cuidado e rigor científico, levantando documentos em arquivos, lendo livros em bibliotecas, escrevendo artigos, teses e livros. De repente, ele vê um livro de história repleto de informações equivocadas enchendo os bolsos de jornalistas best sellers", defende o historiador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) André Raboni.
Leia capítulo de 1822 (em PDF).
Para Laurentino Gomes, o jornalista não pode ser um franco atirador e precisa, antes de tudo, de orientação adequada quando for tratar de um assunto. Mas isso não o impede de realizar um bom trabalho, mesmo não tendo o diploma de um historiador. "No caso do 1822, por exemplo, tenho a orientação de um dos maiores intelectuais e historiadores brasileiros que é o embaixador Alberto da Costa e Silva. O meu trabalho é jornalístico, porém a consistência da investigação é quase acadêmica. O jornalista pode, tem o direito e a prerrogativa da profissão, se envolver com qualquer assunto, ainda mais se for de interesse público. Mas ele precisa de orientação e fontes adequadas para dar consistência ao trabalho de apuração", enfatiza. Laurentino agora prepara seu próximo livro, que é 1889, sobre a proclamação da República.
Há casos de historiadores que concordam com Laurentino e não veem problemas no fato de jornalistas enveredarem por esse caminho. Para a doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) Mary Del Priore, autora, ao lado do escritor Renato Venâncio, de um dos livros mais vendidos no país atualmente, Uma breve história do Brasil (Editora Planeta), existe uma interação e um diálogo amistoso, no qual uns aprendem com os outros e que, inclusive, já prefaciou obras de muitos escritores/jornalistas.
"Vários jornalistas vêm contribuindo para o entendimento da sociedade brasileira contemporânea. Nós, historiadores, também temos muito o que aprender com os jornalistas. A narrativa que eles produzem é mais ágil e mais fácil de ler do que a nossa. Quanto mais gente escrevendo e lendo sobre história, melhor. O importante é que haja história para todos: quem quiser trabalhos mais musculosos, leia ensaios ou teses universitárias. Quem quiser se distrair, aprendendo sobre o nosso passado, não faltam manuais. E as biografias são deliciosas leituras que ajudam na compreensão fácil de épocas inteiras de nossa história", opina.
O professor de História Contemporânea da UnB Estevão Martins revela que um complementa o trabalho do outro, e esse tipo de discussão acaba sendo desnecessária. "Não significa que um jornalista se transformou em historiador. Ele está escrevendo um romance, um livro-reportagem. E ninguém está livre de cometer erros, independente do ofício que exerça. Às vezes, uma tese muito bem feita não consegue atingir o público que um livro como esse consegue. Não tira o mérito nem de um e nem de outro. Na minha opinião, somos aliados e não precisamos ficar com ciúmes besta. Todos ganham com isso", expressa.
*** "O colégio foi uma experiência traumática"
Entrevista com Eduardo Bueno, escritor, tradutor, jornalista e editor. Escreveu mais de 20 livros, a maioria deles sobre História do Brasil:
Você percebe que há um interesse maior por parte do leitor, que antes não tinha pelo assunto? Por que esse grande interesse?Eduardo Bueno – O crescente interesse pela história é um fenômeno mundial, de maneira nenhuma restrito ao Brasil. E não se trata apenas da história propriamente dita, mas de diversos gêneros que dialogam com o passado, como biografias, textos memorialistas, relatos de viagem, romances de época etc. Pode soar contraditório, mas as pessoas parecem desejar cada vez mais a presença do passado. Não, elas não querem mais datas para decorar, nomes para lembrar. Querem sentir esse passado, vislumbrar as paisagens, encontrar os personagens, sentir o sabor e o cheiro dos tempos que já se foram, nem que seja para entender os tempos que virão – ou, quem sabe, para escapar deles... Aliado a isso tudo, existe uma indústria editorial cada vez mais dinâmica e atenta aos desejos dos leitores. Criam-se áreas específicas de mercado e, no Brasil, com certeza estamos vivendo a expansão do nicho historiográfico.
Você acredita que tenha uma grande participação nesse contexto? Que seja o principal responsável por essa "popularização"?E.B. – Comecei a perceber que existia uma espécie de "demanda reprimida" por textos desse estilo desde os tempos em que atuei como editor, no início dos anos 80. Lancei, justamente, cartas e relatos de viagens do século 16 (Diários de Colombo, Cabeza de Vaca, Cortez, Pero Vaz de Caminha, Bartolomeu de las Casas e até Marco Polo pela editora L&PM). Foi um sucesso imediato e, para época, bastante inusitado, não apenas pelo tema, mas principalmente por serem textos de domínio público que, ainda assim, chegaram às listas de mais vendidos. As biografias históricas de Fernando Moraes já faziam sucesso, as de Jorge Caldeira também; o último, inclusive, viria a lançar uma História do Brasil em CD-ROM, algo bastante avançado para a época. Mas essas publicações não pareciam ser suficientes para suprir a procura. Com a proximidade das comemorações dos 500 anos do Brasil, percebi que era chegada a hora de escrever livros sobre história – e achei que era o momento certo para investir no chamado período "colonial" do Brasil, que me parecia aprisionado dentro da sala de aula. E, sim, acho que se pode dizer que foi o estrondoso sucesso da coleção Terra Brasilis – com mais de seiscentos mil exemplares vendidos – a gênese do surto editorial que hoje presenciamos. Não apenas a coleção, mas também Brasil: uma história, o livro que agora relanço, me parecem ter sido os óbvios protagonistas desse processo. E eles não apenas abriram espaço para novos títulos, como também ocasionaram o surgimento de revistas especializadas em história.
Sempre gostou de história do Brasil? Mesmo quando era estudante, na escola?E.B. – O colégio foi uma experiência traumática, quase devastadora para mim. Sentia um tédio avassalador. E lamento informar que, de certo modo, isso se repete com minhas três filhas, que não têm paciência para a escola, embora tenha certeza de que estejam bem encaminhadas na vida. Apesar disso tudo, sempre achei que ia escrever sobre história – só não imaginava que seria a do Brasil e muito menos que fosse fazer tanto sucesso.
"Recebi elogios de Hobsbawm e Kenneth Maxwell"Por que decidiu investir nesse nicho?E.B. – Por dois motivos. Primeiro, porque história era um assunto de que eu gostava, especialmente depois de ler, aos 15 anos de idade, Enterrem meu Coração na Curva do Rio, de Dee Brown, um livro maravilhoso que conta a história trágica dos indígenas norte-americanos e que me deu a nítida percepção de que os primórdios do Brasil deveriam ter sido bem mais dinâmicos, movimentados e sangrentos do que faziam supor aquelas aulas insuportáveis. Segundo, como já expliquei, pela minha experiência no mercado editorial, sentia que havia uma demanda reprimida por livros de história no país, escritos em linguagem jornalística. Ou seja, livros de divulgação, desvinculados de certas peias acadêmicas. Quando se aproximaram os 500 anos do Brasil, percebi que aquele seria o meu gancho.
O que acha de alguns historiadores que criticam o fato de jornalistas escreverem sobre história?E.B. – Acho que cada vez mais essa vem se tornando uma discussão desnecessária e tola. No caso particular dos meus livros, coincidentemente ou não, aqueles que perceberam de imediato o significado e o propósito do meu trabalho foram justamente os historiadores que sempre admirei e cuja opinião me interessava. Eles instantaneamente identificaram a óbvia diferença entre uma obra de divulgação – que é o que eu faço – e uma investigação historiográfica – que é o que possibilita o meu trabalho. Desde o início, creio ter obtido a compreensão e o respeito de profissionais renomados, todos eles grandes investigadores historiográficos, entre os quais posso citar Nicolau Sevcenko, Max Justo Guedes, Joaquim Romero Magalhães, Lilia Schwarcz e, é claro, a minha querida amiga Mary Del Priore. Mas o fato é que, a seguir, para minha surpresa e enorme orgulho, acabei recebendo elogios também de Eric Hobsbawm e Kenneth Maxwell. Acho que está de bom tamanho, não? Creio que isso enfraquece – virtualmente pulveriza – a opinião retrógrada de alguns historiadores de menor tirocínio que continuam achando que jornalistas não devem, não sabem ou não "podem" escrever sobre história.
"O passado não precisa ser um fardo"Já teve algum problema sério nesse sentido? Alguém criticar sobre algum dado histórico errado ou algo do gênero?E.B. – Que eu me lembre, não. Com certeza, cometi alguns deslizes, mas julgo que foram todos menores, aliás típicos de jornalista, acho eu. A edição original de A Viagem do Descobrimento, por exemplo, teve 23 erros, depois corrigidos; e 21 deles foram de conversão de pesos e medidas – de léguas para quilômetros, de quintais para quilos etc. Acontece que fiz todos os cálculos de cabeça e, gênio da matemática como sempre fui, errei todos... De qualquer modo, todos meus primeiros livros tiveram historiadores como consultores técnicos – Ronaldo Vainfas na coleção Terra Brasilis e Mary del Priori em Brasil: uma história. Sou grato a ambos, mas atualmente acredito que não preciso mais de consultoria alguma.
O que os livros feitos pelos jornalistas diferem das obras dos historiadores? Acredita que é uma forma leve e divertida de aprender sobre a história do Brasil?E.B. – Como já falei, o que os jornalistas produzem, em geral, são obras de divulgação. Não se tratam de investigações historiográficas originais. Salvo exceções, não fazem pesquisa de arquivo – não vão às "fontes primárias", no jargão dos historiadores. Meu trabalho, em especial, sempre foi pautado pelas ferramentas que a minha profissão original proporciona: escrevo livros com um trato jornalístico no texto e um olhar de editor no produto final. E essa é uma tarefa do jornalista: como comunicador, tornar um tipo de produção em geral inacessível ao grande público em algo mais palpável. Nesse sentido, dotar o texto histórico de uma narrativa mais fluída – inclusive com a aplicação de técnicas literárias a um texto de não-ficção – é, por que não, uma maneira mais leve e divertida de se ler sobre História do Brasil (sem o compromisso chato de estudá-la ou aprender com ela). Afinal, o passado não precisa ser um fardo, ele também pode ser entretenimento, diversão. Acho que essa é uma forma muito mais libertária de encarar a questão – embora certeza não seja, e muito menos deva ser, a única.
"O ponto alto de minha carreira são os livros sobre o Grêmio"E você pretende continuar nesse caminho? Escrever mais sobre a história do Brasil?E.B. – Sim. Na verdade, tenho inúmeros projetos, tantos que chega a ser difícil saber qual deles sairá primeiro. Estou terminando um livro sobre a história da Caixa Econômica Federal. Em 2001, o presidente Fernando Henrique Cardoso solicitou que eu escrevesse sobre os 140 anos daquela instituição. O atual governo encomendou outra edição atualizada, para os 150 anos, que estou finalizando agora. Mas é claro que, além de vários projetos de encomenda e livros institucionais que tenho feito, tenho planos de continuar escrevendo livros para o mercado. Pretendo retomar a Coleção Terra Brasilis, cujo próximo volume deverá tratar mesmo do episódio que ficou conhecido como "França Antártica", quando os franceses tentaram colonizar o Rio de Janeiro, entre 1555 a 1567. Creio que em 2011 ele haverá de estar nas livrarias. Mas, muito possivelmente, não pela mesma editora que publicou os primeiros quatro volumes da série.
Quantos livros exatamente sobre esse tema você já escreveu?E.B. – Escrevi mais de 25 livros, a maioria sobre História do Brasil, embora cerca de 15 deles tenham sido obras institucionais ou de encomenda que não chegaram às livrarias. Por exemplo, escrevi, a convite da CNI, uma história da indústria no Brasil, chamada Produto Nacional; na sequência, também em parceria com minha mulher, a poeta Paula Teitelbaum, fizemos a história da indústria no Rio Grande do Sul, sob o título Indústria de Ponta. Para a Caixa federal, além da história da instituição, escrevi a história da avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, e para a Embratel, a história da avenida Presidente Vargas. Fiz, por encomenda da Anvisa, uma história da propaganda de medicamentos no Brasil, chamada Vendendo Saúde e, para a mesma instituição, escrevi a história da vigilância sanitária, chamado À sua saúde. Além disso, já editei mais de três dezenas de volumes ligados à história. Mas, claro, o ponto alto de minha carreira são os três livros que escrevi sobre a história de meu glorioso time, o Grêmio. Com certeza, são minhas obras mais sérias, equilibradas, ponderadas e profundas, cuja frase de abertura de uma delas já diz tudo: "Futebol-arte é coisa de veado..."
*** "Minha contribuição para a história do Brasil é de linguagem"
Entrevista com Laurentino Gomes, jornalista e autor dos livros 1808 e 1822.
Há um interesse maior pelos livros de história?Laurentino Gomes – O interesse mudou totalmente. História virou um tema popular no Brasil e isso se reflete na lista dos livros mais vendidos. Isso tem a ver não só com uma mudança no mercado editorial, com livros em uma linguagem mais acessível para um leitor não especializado, geralmente escritos por jornalistas, mas também há uma busca por explicações para um Brasil de hoje. As pessoas estão olhando para o passado para entender porque o Brasil é um país tão complicado de construir, de organizar e de pactuar soluções rumo ao futuro.
Há um uso instrumental da historia. E acho que é um uso correto. A história serve para isso mesmo. Ninguém estuda história só para ter informações sobre personagens e acontecimentos pitorescos do passado. O objetivo é outro. É entender as nossas raízes, de onde viemos, como é que chegamos até aqui e para onde nos vamos. E preparar as pessoas para construir o futuro. Uma sociedade que não estuda história não consegue compreender a si própria. Acho que essa é a grande transformação. Mas isso é produto de uma grande novidade na história do Brasil que é um exercício continuado de democracia, são 25 anos de democracia. E acho que a gente alimentou algumas ilusões a respeito do Brasil recentemente, de que era muito fácil resolver tudo. Acredito que as pessoas estão meio chocadas com a persistência da corrupção, da desigualdade social, da criminalidade, da ineficiência do serviço público. E ficam se perguntando: por que somos assim? E aí a história ajuda a responder esse tipo de questão.
Você acredita que ajudou a popularizar esse tipo de leitura?L.G. – Acho que sim. Isso é um motivo de muito orgulho. É uma contribuição. Tenho percorrido o Brasil, dando aulas, palestras, bate papo com leitores, participando de feiras literária. Tenho ouvido com muita frequência: "Eu não gostava de história e passei a gostar por sua causa." Ou, às vezes, até crianças e adolescentes dizendo que por minha causa decidiram virar historiadores, ou jornalistas. Então acho que aí baixa um senso de missão muito forte porque o livro transforma a vida de uma pessoa.
E acho que não é verdade que o brasileiro não gosta de ler por natureza. Especialmente que ele não gosta da história. Mas ele quer uma leitura acessível, que ele consiga compreender, que não seja banal, que não fique apenas no caricato, no pitoresco. Acho que esse é o grande desafio do jornalista: atingir um público mais amplo sem banalizar o conteúdo. Esse é o desafio do jornalista em qualquer área. Como você tornar o relevante em atraente, como transformar uma matéria sobre reforma tributária, medicina, história do Brasil em algo sedutor para um público mais leigo. Acho que o jornalista bem-sucedido consegue enfrentar esse desafiou e vencê-lo. Então o que eu faço nos meus livros é aplicar o que eu aprendi nos meus 30 anos como repórter e editor de jornal e revista. E ser muito acessível na linguagem, facilitar a vida do leitor em favor de uma compreensão. Resumindo: a minha contribuição para a história do Brasil é de linguagem. Não faço pesquisa acadêmica em fontes primárias; o que faço é usar uma linguagem acessível para ampliar o conhecimento nessa área de história do Brasil.
"O jornalista precisa orientação para dar consistência ao trabalho"Você sempre gostou de história?L.G. – Desde criança, gostava muito mais de ciências sociais e humanas do que exatas. Minhas notas sempre foram melhores em português, história, geografia do que física, matemática. E esse interesse me levou para o jornalismo. Trabalhei na Veja, Abril, Estadão; mas eu diria que não existe muita diferença entre o trabalho de jornalista e do historiador. A diferença está na profundidade e na dimensão do tempo. O jornalista escreve história a sangue quente todos os dias, quando cobre uma eleição, um buraco de rua, um acidente, um jogo de futebol. O jornalista está testemunhando e narrando a história acontecendo diante dos seus olhos. O historiador tem uma perspectiva de mais de longo prazo. Muitas vezes, o próprio jornal, a revista, se tornam história no futuro. Hoje, estudar as páginas da Gazeta do Rio de Janeiro, do Correio Braziliense do Hipolito José da Costa, é um documento precioso para os historiadores. Esses jornalistas estavam fazendo história quando ela estava acontecendo, 200 anos atrás. Os dois usam uma ferramenta básica e fundamental, que é a reportagem. De investigar e de tentar chegar o mais próximo da verdade dos acontecimentos. Embora essa verdade absoluta seja inatingível, por uma questão até filosófica, mas a reportagem e a investigação nas fontes permitem a gente chegar o mais próximo possível. Então nesse sentido, o trabalho do jornalista e do historiador é muito parecido.
Chegou a receber críticas pelo fato de não ter a formação de historiador?L.G. – Não, felizmente não. Nunca recebi. No começo, às vezes apareciam alguns blogs. Mas muito pelo contrário, e é uma coisa que me deixa muito feliz: nunca, nenhum historiador me fez uma crítica estrutural, tipo essa informação está errada, não é exatamente assim. Ao contrário; recebi resenhas muito favoráveis de historiadores que respeito muito, como a Mary Del Priore, o Jean Marcel França, da Unesp, Tome Elias Saliba, da USP.
Uma coisa importante: jornalista não pode ser um franco-atirador. Ele precisa de orientação adequada quando vai tratar de um assunto. Por isso que a gente recorre às fontes, faz as entrevistas. E no meu caso, do 1822, eu tenho a orientação de um dos maiores intelectuais e historiadores brasileiros, que é o embaixador Alberto da Costa e Silva. O meu trabalho é jornalístico, mas a consistência da investigação é quase acadêmica. O Alberto viu o projeto do livro, analisou a bibliografia, depois leu, anotou e comentou cada um dos capítulos. E isso foi fundamental pra consistência do livro.
O jornalista pode, tem o direito e a prerrogativa da profissão, se envolver com qualquer assunto, ainda mais se for de interesse público. Mas ele precisa de orientação, fontes adequadas para dar consistência ao trabalho de apuração.
"Desafio da educação é associar o ensino ao prazer de aprender"Como surgiu a vontade de escrever sobre história do Brasil?L.G. – Um foi puxando o outro. O 1808 surgiu por esses bons acasos da vida. Eu era editor da Veja e a revista tinha a intenção de fazer uma série especial sobre história do Brasil e eu fiquei encarregado da equipe que ia investigar a presença da corte do Dom João VI no Rio de Janeiro. Aí, o projeto foi cancelado. Fiquei chateado, num primeiro momento, e segui em frente por minha própria conta. Fazer um livro-reportagem, ao invés de uma reportagem sobre o assunto. E aí aconteceu uma grande surpresa: o livro virou um best seller. Nunca imaginei que pudesse acontecer. Sempre dizem que para fazer sucesso no Brasil nesse ramo, você tem que escrever sobre esoterismo, auto-ajuda ou literatura barata. História do Brasil, nem pensar. E, de repente, o livro vendeu mais de 600 mil exemplares no Brasil e em Portugal, ganhou um monte de prêmios e então eu animei. Primeiro porque iria sair da minha rotina nas redações. Saí da Editora Abril em maio de 2008 e passei a me dedicar aos livros. A consequência obvia do 1808 era escrever o 1822. Porque é quase impossível se entender a independência do Brasil sem estudar o que aconteceu antes, essa grande transformação da colônia portuguesa em função da presença da corte de Dom João VI nos trópicos. Então isso me levou ao 1822.
E já me levou ao meu terceiro livro, que estou pesquisando agora e que é a terceira data-ícone do século 19 na construção do Brasil – 1889, ano da proclamação da República. É o livro que eu espero lançar daqui a três anos.
Essa linguagem mais leve e direta é um dos ingrediente desse sucesso?L.G. – Esse é o desafio do jornalista: oferecer técnicas que se aprendem ao longo do exercício da profissão. Você usar muitas histórias humanas, misturar dados pitorescos, engraçados, com uma análise mais profunda, ter uma linguagem provocativa na capa. Por exemplo, no 1808 foi "Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história do Brasil". É uma linguagem que provoca a atenção do leitor. Eu acho que o jornalista tem essa técnica. Quando a gente faz uma manchete do jornal, uma capa de revista, estamos o tempo todo tentando disputar a atenção do leitor.
Então, são técnicas de comunicação que eu estou aplicando à área de História do Brasil. E isso é uma grande novidade. Porque antes, os livros acadêmicos tinham uma linguagem excessivamente técnica, repleta de jargões próprios da academia e usavam nas capas linguagem muito neutra. O conteúdo muitas vezes é muito bom, muito profundo, mas não consegue chamar a atenção de um público mais amplo. E eu acho que aí é uma virtude do jornalista. Sempre conseguir uma audiência maior para determinados assuntos. O jornalista serve como um divulgador da ciência em geral. Por isso acredito que não há uma competição entre jornalista e historiadores. Nós nos complementamos.
O jornalista tem uma coisa que geralmente o historiador não tem. O uso de linguagem didática, acessível para um público mais amplo. A gente tem um acesso a uma audiência maior. Então, essas duas coisas se complementam. O jornalista pode ser um ótimo divulgador dos historiadores. É o que eu tenho procurado fazer. Não banalizo o trabalho deles e não misturo ficção com não ficção. Não procuro preencher lacunas por conhecimento histórico com romance, literatura. Tudo que eu faço é não ficção. De maneira que isso confere uma grande legitimidade ao meu trabalho. Aliás, esse trabalho de divulgação cientifica é relativamente novo no Brasil.
Estou fazendo, na área de história do Brasil, o que o dr. Dráuzio Varella faz em medicina, o Marcelo Gleiser em astronomia. Eu acho que é um campo maravilhoso. Torço para que em outras áreas de conhecimento, alguma hora chegue um divulgador na área de matemática, física, biologia, porque isso vai facilitar a vida dos nosso professores e estudantes – eles têm que ensinar essas coisas hoje de uma forma muito técnica, muito árida. Imagina uma criança tendo que aprender história do Brasil só decorando data, nome, números, sem entender exatamente o que se passou. Então, acho que esses livros ajudam a chamar a atenção para que essas disciplinas sejam estudadas com prazer. Isso é o grande desafio da educação do Brasil. Como associar o ensino ao prazer de aprender, de ler. Acho que a divulgação científica segue nesse caminho.
"Guerra da independência não teve nada de pacífica"Houve surpresas na sua pesquisa do 1822?
L.G. – História é sempre alvo de manipulação, de construção posterior em cima dos fatos verdadeiros. Por exemplo, o quadro do Pedro Américo, sobre o Grito do Ipiranga. Nada do que está ali é verdadeiro. Dom Pedro não estava vestido como príncipe; estava vestido como tropeiro. Não estava em um cavalo alazão; estava em cima de uma mula de carga, que era o jeito correto de subir a Serra do Mar. Os dragões da independência ainda nem existiam. Eram tropeiros, fazendeiros, sertanejos do Vale do Paraíba, e Dom Pedro estava com dor de barriga na hora do grito do Ipiranga. Tinha comido uma coisa estragada em Santos. O que não torna essa cena da independência menos importante do que ela é. Mas ela é mais brasileira, mais simples, mais bucólica e mais próxima do verdadeiro. Não é aquele quadro épico do Pedro Américo. Isso me chamou a atenção. Mas por que ele fez aquilo? É um quadro que Dom Pedro II encomenda para celebrar um feito da monarquia. Então, o quadro não se propõe a ser uma foto jornalística. Ele é uma alegoria, uma celebração e por isso usa elementos épicos.
Outro aspecto que me chamou a atenção foi de que existe um mito de que a independência do Brasil foi um processo pacífico. Que foi resultado de uma negociação entre Dom João e Dom Pedro. Não é verdade isso. Morreu muita gente durante a guerra da independência, que durou um ano e meio. A minha estimativa é de que morreram, pelo menos, 5 mil pessoas. O que é bastante gente. Mas por que passa essa imagem de que foi pacífica? Porque o imperador Pedro I, que assumiu a coroa, é um integrador, um agente de pacificação, de tentar organizar esse território vasto, diverso, muito complexo, de muitos escravos e muitas diversidade étnicas e culturais. Então esse agente pacificador passa essa imagem de que o processo foi pacífico. Quando na verdade não foi. Essas coisas me surpreenderam bastante.