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sábado, 18 de junho de 2011

Oliveira Lima: biblioteca em Washington recupera seu legado (OESP)

Transcrevo, mais abaixo, a íntegra da matéria que o Estadão publica neste sábado sobre

Oliveira Lima e seu legado

Frequentei regularmente, enquanto servia na Embaixada brasileira na capital americana, a biblioteca que leva o seu nome na Catholic University of America, lendo muitos livros do próprio escritor e vários outros. Desfrutei então da amizade de seu diretor, Thomas Cohen, e de sua bibliotecária principal, Angela Leal, a quem sou muito grato pelas gentilezas prestadas ao longo de minhas pesquisas.
Tive a chance, depois, de republicar um volume pouco conhecido de Oliveira Lima, escrito em seu primeiro posto diplomático, justamente Washington, quando ele redigiu vários artigos de imprensa, depois reunidos neste livro:

Manuel de Oliveira Lima:
Nos Estados Unidos: impressões políticas e sociais
(Brasilia: Senado federal, Conselho Editorial, 2009; 424 p.)
Ver minha introdução, "O império em ascensão (por um de seus espectadores)", neste link de meu site.

Devo dizer também que participei, recentemente, da apresentação e defesa de uma tese do Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, do Itamaraty. sobre o historiador-diplomata e sua obra, como segue:

Maria Theresa Diniz Forster:
Oliveira Lima e as Relações Exteriores do Brasil: o legado de um pioneiro e sua relevância atual para a diplomacia brasileira
(Brasília: Instituto Rio Branco, LVI Curso de Altos Estudos, 2011)

Em meu parecer, e na banca, defendi que a mesma fosse editada (com pequenas mudanças formais, pois está excelente), de preferência em formato comercial, para alcançar um público mais vasto, assim como fossem implementadas duas de suas recomendações principais, como transcrevo do trecho final de meu parecer:

"Talvez coubesse seguir a própria recomendação do autor – de que o Itamaraty crie um “Prêmio Oliveira Lima” para ser concedido à melhor monografia ou tese anual de temática histórica – aplicando-a exatamente a esta obra, que bem mereceria inaugurar tal distinção. Pode-se também sugerir o estímulo a bolsas de estudo – para diplomatas ou acadêmicos, indiferentemente – voltadas precipuamente para explorar o filão documental, bibliográfico e artístico da Biblioteca Oliveira Lima de Washington, uma vez que a riqueza dos materiais ali depositados ainda não foi sequer mapeada em toda a sua extensão, para não mencionar o próprio trabalho sobre fontes diplomáticas originais. A tese merece, sem hesitação, todos os elogios por desvendar esses aspectos do legado de Oliveira Lima."

Por fim, cabe referir ao excelente audiovisual elaborado pela mesma jornalista que fez a matéria, Laura Greenhalgh, coordenadora do caderno Sabático, do Estadão, que traz belíssimas imagens e o relato da vida de Oliveira Lima:

O legado de Oliveira Lima
O diplomata recifense doou a uma universidade norte-americana a maior biblioteca brasiliana existente fora do País. Assista ao documentário fotográfico, narrado por Laura Greenhalgh
(neste link).
Bom proveito...
Paulo Roberto de Almeida

Biblioteca em Washington recupera legado de Oliveira Lima
Laura Greenhalgh
O Estado de S.Paulo, Sábado, 18 de junho de 2011

Visita à Oliveira Lima Library, no câmpus da Universidade Católica da América, em Washington, recupera o legado do historiador brasileiro que trocou as altas rodas da diplomacia para se dedicar à maior biblioteca brasiliana fora do País

Para quem circula no mundo dos livros, e particularmente no das bibliotecas, a grife Oliveira Lima soa como algo mítico. Mas para quem não tem tanta afinidade com o meio, este sobrenome de origem portuguesa, tão comum nos cartórios brasileiros, passa discreto, sem chamar atenção.
Oliveira Lima e seu farto bigode em foto de 1924 - Oliveira Lima Library

Como discreta é a pequena placa grudada a uma porta no subsolo da biblioteca central da Universidade Católica da América, em Washington (UCA). Lê-se nela: The Oliveira Lima Library. Tocando a campainha, a porta branca de escritório se abre e, em vez de um almoxarifado, vê-se a primeira de um conjunto de quatro salas abarrotadas de livros raros e obras de arte. Quem destrava a fechadura é a única funcionária do lugar: a americana Maria Angela Leal, filha de mãe colombiana e pai cubano, formada em estudos latino-americanos na Universidade Stanford (com especialização em literatura brasileira), e que é capaz de saudar o visitante num português surpreendente. É a bibliotecária chefe, mas sem equipe a coordenar, de uma coleção brasiliana de importância comparável à do bibliófilo José Mindlin (1914-2010), doada para a USP, e mesmo à da Biblioteca Nacional, no Rio. Além de ser a única brasiliana fora do Brasil a constituir uma biblioteca em si mesma, e não parte de uma biblioteca geral - como brasilianas recolhidas às universidades Brown, Stanford ou Texas.

O legado do bibliófilo pernambucano Manoel de Oliveira Lima (1867-1928), diplomata, historiador e jornalista (foi colaborador do Estado de 1904 a 1923), é impressionante até para os padrões atuais: são 58 mil livros, perfazendo históricas conexões entre Portugal e Brasil desde os primeiros anos pós-Descobrimento, cerca de 600 obras de arte, entre pinturas, aquarelas, gravuras, mapas, esculturas, mais de 200 mil páginas de correspondência envolvendo 1.400 missivistas e ainda seis dezenas de grossos álbuns de recortes de jornais, o que já denuncia o espírito obstinado que paira por entre as estantes. Pois a formação desse acervo confunde-se com a vida de um intelectual contaminado pela paixão da leitura, que mesmo envolvido em altas missões da diplomacia, jamais abriu mão de produzir história, incendiar polêmicas políticas ou culturais de seu tempo e, fundamentalmente, colecionar livros raros. Mas como é mesmo que a brasiliana Oliveira Lima foi parar no basement de uma biblioteca americana? A resposta poderia partir deste ponto.

Encaixotando os livros. Aposentado da carreira diplomática ao fim de uma sequência desgastante de desentendimentos com o Barão do Rio Branco - de grandes amigos na carrière viraram desafetos irreconciliáveis -, Oliveira Lima resolveu um belo dia viver em Washington. Já era um nome respeitado nos círculos acadêmicos americanos, afinal foi dele o primeiro curso sobre História do Brasil ministrado nos EUA (em Harvard), o que lhe terá rendido convite posterior para um tour por 12 universidades americanas, como conferencista - itinerário que ele cumpriu de trem, acompanhado por Flora Cavalcanti de Albuquerque, sua mulher e cúmplice na bibliofilia. Pois em 1916, o grand seigneur terrible do Itamaraty decide doar, em vida, seus milhares de livros para a única universidade pontifícia de Washington, de onde foi professor. Deverá ter pesado na escolha o fato de o casamento não ter lhe dado herdeiros.

A doação foi consumada em troca de apoio logístico. Como o casal dividia o acervo em endereços que mantinha em Londres, Bruxelas e Lisboa, e como a universidade se dispunha a reunir e trasladar os milhares de livros para os EUA, o doador aceitou a proposta, impondo duas condições: 1. que sua brasiliana fosse uma instituição com identidade própria e autonomia no câmpus; 2. que ele próprio fosse contratado como o primeiro bibliotecário a chefiar a instituição. Condições atendidas, navios zarparam em 1920 da Europa carregando um acervo que prima não só pelo volume, mas pela qualidade de seus títulos. Thomas Cohen, brasilianista e stanfordiano como Maria, há 21 anos à frente da Oliveira Lima Library, comenta: "Embora o acervo focalize a história colonial brasileira e a primeira República, Oliveira Lima jamais quis que esse patrimônio seguisse para o Brasil. Expressou o desejo em testamento, preocupado com o risco de dispersão dos livros quando ele e Flora não mais vivessem".

Assim, há mais de 90 anos essa brasiliana vive no câmpus da Universidade Católica da América e seria injusto afirmar que o desejo de preservação do doador não tenha sido atendido. Foi. Mas trata-se de vida modesta demais para um patrimônio que mereceria sede própria, ampla o suficiente para tirar de caixas e arquivos abarrotados os milhares de documentos colecionados pelo bibliófilo, sem falar nas obras de arte, que poderiam formatar exposições temporárias, itinerantes, permanentes. Cohen sonha fazer da Oliveira Lima um centro de estudos brasileiros em Washington aberto a pesquisadores e ao público em geral, mas para isso busca investidores tanto no Brasil quanto nos EUA. Sabe-se que a dotação orçamentária da universidade paga despesas básicas de manutenção e pouco sobra para a compra de títulos novos que tenham a ver com as vigas mestras da brasiliana. Quanto ao patrimônio pessoal dos Oliveira Lima, deixado por Manoel e por Flora para constituir o fundo de preservação da biblioteca, se rarefez com o tempo. Afinal, eram gente de cultura, não de grande fortuna. Hoje, a preocupação de dar não só uma sede digna, mas visibilidade a esse legado, se justifica mais do que nunca: quando for totalmente digitalizada, quem poderá garantir que a Oliveira Lima Library não vá parar num depósito de livros, numa dessas warehouses inimagináveis?

Caçador de raridades. A pergunta pode parecer apocalíptica, mas está no centro do debate atual sobre o futuro das bibliotecas acadêmicas nos Estados Unidos. E, no caso específico, a situação se complica pela quantidade de obras de arte do acervo. Em seus deslocamentos pelo mundo, como diplomata, Oliveira Lima adquiria livros raros de marchands que também comercializavam pinturas, mapas ou gravuras de boa procedência. Foi de um deles, Frederic Müller, que comprou uma paisagem de Pernambuco pintada por Frans Post (1612-1680), artista holandês que veio ao Brasil na comitiva de Maurício de Nassau. Trata-se de obra de tanto valor que Cohen aceitou tirá-la do subsolo e emprestá-la à National Gallery of Art, de Washington. Lá a tela vive em melhor estado de conservação e segurança, ao lado de mestres como Vermeer e Rembrandt.

Outros itens atingem esse patamar de importância, como a tela de Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830) retratando o Largo do Machado, no Rio; o único busto em bronze de d. Pedro I, moldado pelo escultor Marc Ferrez (1788-1850); a única cópia colorida existente de Rerum per Octenium in Brasilia, de Gaspar Barleus (1584-1648), obra sobre os oito anos de administração de Nassau no Brasil, ilustrada com aquarelas de Frans Post; o primeiro livro em francês sobre o País, do franciscano Andre Thevet (1502-1590) - La Singularité de la France Anthartique (circa 1556); belos retratos a óleo de d. João VI, personagem de alentada biografia escrita por Oliveira Lima; enfim, livros raros e obras de arte vão se entrelaçando de forma a moldar o universo intelectual de um homem saído de Pernambuco para crescer nos salões da Europa, sem perder de vista seu país de origem: a onda abolicionista, a transição do regime monárquico para o republicano, o Brasil no concerto das nações, o palco da Primeira Guerra Mundial... O sociólogo Gilberto Freyre, de quem Oliveira Lima foi grande amigo e com quem se correspondeu pela vida afora, dizia que ele tinha "um quadro mental lusitano, com certas gaucheries". E que sofria da incontinência da pena. Afinal, como explicar esse intelectual que trocou a fogueira das vaidades da diplomacia - sendo ele próprio muito vaidoso - para se dedicar ao mundo introspectivo dos livros e da arte?

Um quixote gordo. Oliveira Lima nasceu em Pernambuco, filho de um negociante português que fez fortuna no comércio do açúcar. Quando estava com 6 anos, o pai decidiu voltar a Portugal com a família e lá se foi o garoto, de olho comprido no que ficou para trás. Tanto que fundou em Lisboa, aos 15, uma revista chamada Correio do Brasil. Com 21, o então aluno de Teófilo Braga se formou na Academia Superior de Letras e passou a colaborar na Revista de Portugal, dirigida por Eça de Queirós. É nesse ponto que decide voltar à terra natal para ingressar no serviço diplomático.

Casou-se com Flora, filha de senhor de engenho em Cachoeirinha (PE), e passou a ocupar postos de representação a partir de 1890: primeiro em Lisboa, depois Berlim, Washington (sob o comando do diplomata Salvador de Mendonça, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, a ABL), Londres (onde assistiria aos funerais da rainha Victoria), Tóquio (quando mergulhou em estudos sociológicos sobre os japoneses), Caracas (depois de driblar ordens de Rio Branco de seguir para Lima), Estocolmo e Bruxelas (quando chegou a ministro plenipotenciário da embaixada).

Nesse trânsito de vida, além de acumular livros, reservava tempo para escrever em média 15 cartas por dia (daí o total de 200 mil arquivadas na biblioteca). Entre seus missivistas, de Machado de Assis a Gilberto Freyre, se encontra a nata das letras luso-brasileiras, fora intelectuais europeus e americanos, como o geólogo e bibliófilo John Casper Brenner, que doaria uma brasiliana de 1.600 volumes para a Universidade Stanford, na Califórnia. Analisando-se essas cartas (e muito há para ser analisado), emergem os confrontos políticos e embates intelectuais em que Oliveira Lima se meteu, a ponto de Freyre o chamar de "Quixote Gordo". Há, por exemplo, a longa correspondência com Joaquim Nabuco, em que se vê de início um jovem republicano a trocar farpas com o abolicionista célebre, exilado por defender a monarquia. Acompanhando a correspondência entre ambos por mais tempo, percebe-se como trocam de posição: mais tarde Nabuco defenderia a República e Oliveira Lima a atacaria, criticando as oligarquias no poder.

Ao tomar posse na ABL, em 1902, na cadeira 39, proferiu um discurso oceânico exaltando a figura do historiador Francisco Varnhagen (1816-1878), mas aproveitou para ajustar contas com a diplomacia brasileira ("deixou de ser arte para virar uma profissão"). Não faltaram alfinetadas ao chanceler Rio Branco. Um dos pontos de divergência entre ambos era a anexação do Acre, alvo do inconformismo de Oliveira Lima. Considerava o País grande (e mal administrado) demais para ganhar outro naco territorial. Não houve acordo entre Quixote Gordo e Juca Paranhos - este, filho do Visconde de Rio Branco, figurão do império.

Entre patranhas e artimanhas do Itamaraty - foi tachado de monarquista ao criticar republicanos e germanófilo por defender a neutralidade brasileira na Primeira Guerra Mundial -, Oliveira Lima preferiu aposentar-se da diplomacia para se dedicar ao jornalismo, à crítica literária e, acima de tudo, aos livros que colecionou e escreveu.

As missões de representação renderam várias obras, como Nos EUA (1899), No Japão (1914), Na Argentina (1919). Além da biografia de d. João VI, deixou outras obras históricas, como Memórias Sobre o Descobrimento do Brasil e História Diplomática do Brasil, alguns títulos escritos originalmente em francês, como Machado de Assis et Son Oeuvre Littéraire ou Sept Ans de Republique au Brésil, e ainda teve tempo de escrever suas Memórias, obra editada nos anos 30 por Flora, já viúva, e Gilberto Freyre.

Quixote Gordo fez a alegria dos chargistas com seu corpanzil de pernas afinadas e barriga proeminente, embora a obesidade lhe tenha causado inúmeros problemas de saúde. Na foto da página ao lado, em que aparece com a cúpula da Universidade Católica da América, quatro anos depois da chegada dos livros à biblioteca, se vê como estava magro, rosto abatido e flácido, olhar melancólico. Trabalhou na sua brasiliana até morrer, quando foi substituído por Flora (que mais tarde contrataria o historiador português Mauricio Cardozo, ex-aluno de Gilberto Freyre, 45 anos depois substituído pelo brasilianista Richard Morse, e por fim substituído por um de seus alunos, Thomas Cohen). A residência do casal em Columbia Heights, não distante da universidade, foi vendida após a morte de Flora e o produto da transação também ficou para a biblioteca. Oliveira Lima não quis outras glórias. Da lápide de seu túmulo no Cemitério Mont Olivet, na capital americana, nem seu nome consta. Apenas o epitáfio: "Aqui jaz um amigo dos livros".

Veja também:
Diálogos e atritos em torno do Brasil
Em debate, o peso do acúmulo de papéis

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Diálogos e atritos em torno do Brasil
Antonio Arnoni Prado
O Estado de S.Paulo, 18 de junho de 2011

As relações entre Oliveira Lima, Nabuco e Sérgio Buarque

Quando se iniciou na crítica, ainda adolescente, à frente do Correio do Brasil - revista que fundou em Lisboa com apenas 15 anos de idade -, Oliveira Lima talvez pensasse em fazer dessa modesta incursão editorial uma afirmação acadêmica do aluno aplicado que ele sempre foi. Ou, mesmo, em amenizar a distância da pátria com uma razão de trabalho que o reintegrasse à cultura do país de origem, de que tanto se ressentia.

Como é natural, não escapou - nesses esboços precoces - à indefinição de critérios e ao arroubo dos juízos críticos, que nem sempre correspondiam à verdade dos fatos e dos temas analisados. É um desses arroubos que o aproxima de Joaquim Nabuco no dia 14 de outubro de 1882, quando este último, então correspondente do Jornal do Commercio na Inglaterra, decide enviar ao jovem diretor do Correio uma carta de agradecimento por haver recebido da revista uma singela nota biográfica.

Na carta, depois de agradecer a simpática deferência e em particular o privilégio do retrato que a encimava, Nabuco nos dá bem a medida do que foram aqueles escritos arrebatados do rapazinho Lima em Portugal. Num primeiro momento, por registrar a surpresa de haver sido biografado por um menino ainda em botão, que desabrochava "encantado pelo sol da pátria". E em seguida por tentar desfazer o tom excessivamente idealizado do artigo, fazendo ver ao rapaz que - bem ao contrário do que o seu texto sugeria - nada havia de desterro em sua recente expatriação para Londres. "O meu desterro em Londres não é voluntário" - escreve Nabuco, por certo aludindo ao fato de que, mesmo depois de haver lançado com André Rebouças a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, não conseguira eleger-se para o primeiro distrito da Corte. "Se se pode chamar de desterro, acrescenta, ele me foi imposto por circunstâncias inteiramente alheias à minha vontade", o que nem de longe permitia afirmar, como fazia o Correio, que ele estivesse na Europa representando para a escravidão "o papel de Victor Hugo para o Segundo Império nem o de Luiz Zorilla para com a monarquia dos Bourbons". Muito ao contrário, Nabuco explica, estava ali simplesmente tratando de ganhar a vida como "um emigrado que deixara o Brasil por discordar da escravidão que o infestava".

Mais tarde, já na carreira diplomática como primeiro secretário da Legação Brasileira em Washington, sob as ordens de Salvador de Mendonça, e tendo acabado de publicar, além dos Aspectos da Literatura Colonial Brasileira, uma série de artigos que apareceram na Nouvelle Revue sob o título de Sept Ans de Republique au Brésil, Lima discordará de Nabuco em relação aos acontecimentos que se seguiram à deposição de Pedro II.

É do próprio Nabuco, em carta de 28 de novembro de 1896, a impressão de um Oliveira Lima cheio de esperanças no regime que se instalara no Brasil em novembro de 1889. "Infelizmente - escreve então ao ex-crítico do Correio do Brasil -, o seu espírito sofre do mal oposto ao que me atacou, o seu otimismo é tão doentio como o meu pessimismo, ainda que a sua doença seja mais alegre e divertida do que a minha." É que, naquela altura, a República significava para Nabuco uma espécie de anuência nacional prestes a precipitar o Brasil na irremediável decadência das repúblicas hispano-americanas, coisa contra a qual - a seu ver - só a Monarquia, de que era então um dos paladinos ilustres, poderia evitar.

Ardor ideológico. O reparo de Nabuco vinha também como resposta tardia ao tom restritivo com que, anos antes, Oliveira Lima comentara pelas páginas do Correio do Brasil o livro O Abolicionismo, que o autor de Minha Formação publicara em Londres, em 1883. Naquele texto, apesar de reconhecer em Nabuco o estilo simples e enérgico que o consagrou, Lima considerava que o ardor ideológico o impedia de perceber a verdade, levando-o a alguns exageros incontornáveis, como por exemplo o de afirmar que a Igreja brasileira nada fizera em favor da Abolição e o de dizer que a lei Rio Branco revelara defeitos e pouco espírito humanitário, quando de fato - contra-argumenta - se tratava de um diplomata sincero e verdadeiramente abolicionista, na real significação da palavra.

A verdade é que essa controvérsia isolada entre o então editor do Correio do Brasil e o célebre monarquista exilado na Europa representou, na trajetória de Oliveira Lima, uma espécie de revelação premonitória que a resposta retardada de Nabuco vinha agora confirmar. De um lado, pela transformação das convicções políticas em jogo, que acabarão depois se invertendo: Nabuco passando-se para as hostes republicanas, cujo regime defenderá com brilho na esfera internacional e em particular nos Estados Unidos, onde seria inclusive nosso primeiro embaixador; Oliveira Lima convertendo-se aos quadros da Monarquia, em razão da qual acabaria se indispondo com o governo republicano, que passará por cima de sua inestimável contribuição diplomática e o abandonará à própria sorte, até a decisão de exilar-se nos Estados Unidos, onde passará o resto da vida e acabará sepultado. E, de outro, pelo percurso intelectual voltado para o cosmopolitismo da belle époque (os salões, os espetáculos, as salas de conferência) e o fascínio pela oratória institucional, temperado pela nota inventiva da historiografia de Oliveira Martins, que o estimulava a ver na história dos homens e de sua cultura um exercício de "ressurreição artisticamente construída".

Compreende-se, assim, que, ao imaginar, na base de sua crítica madura, a construção hermenêutica de um panteão nacional inspirado nos modelos consagrados pela tradição lusitana, o método de Oliveira Lima, mais do que descrever, analisar e avaliar a produção dos escritores brasileiros dentro do seu próprio sistema literário, o que fará é convertê-los num segmento secundário do sistema de origem, suprimindo na própria fonte não apenas a autenticidade dos temas e dos processos não codificados, como também a representatividade da comunicação efetiva dos autores com o seu público, para não falar da representatividade da própria língua, cuja expressão e pesquisa quase nunca mereceram dele um registro que se livrasse da mera notação de exotismo ou do excessivo pendor nativista, como o demonstram, por exemplo, as suas análises sobre Gregório de Matos e José de Alencar.

Referências. Isso sem falar que o Machado de Assis, visto por ele, só é grande quando transformado num discípulo dos clássicos da língua - um Vieira, um Almeida Garrett, a quem Machado teria o mérito de nivelar-se pela "simplicidade do estilo" e pela "perspectiva inteiramente nova e original". É justamente essa a referência hermenêutica do panteão concebido por Oliveira Lima, pois é dele que irradiam as virtudes estético-literárias hauridas nos "espíritos superiores da imaginação e do pensamento", tomados como verdadeira tábua de princípios a fundamentar o universo de sua crítica. Além de Machado de Assis, lá estão - alinhados num mesmo patamar - Rui Barbosa, Olavo Bilac, Euclides da Cunha, Coelho Neto, Salvador de Mendonça - todos eles, para o autor do D. João VI no Brasil, espíritos em que de algum modo reverbera a vocação do primeiro Joaquim Nabuco, cujo "sentimento brasileiro" se destacava por haver sido polido na imaginação europeia.

Um bom modo de avaliar o seu legado é compreender como se amplia a distância entre as tarefas dos "espíritos construtores" - que Oliveira Lima foi buscar em Oliveira Martins para traduzir a grandeza moral dos nossos "homens representativos" (um João Ribeiro, um Euclides da Cunha, um José Veríssimo) - e a ação antipassadista dos modernistas fora da ordem, inspirado na qual um crítico como Sérgio Buarque de Holanda, por exemplo, romperia em 1926 com o tradicionalismo da falsa vanguarda. Se aos primeiros, valorizados na crítica de Oliveira Lima pela aliança entre "grandeza moral e a imaginação cintilante", cabia zelar pela "expansão dinâmica da inteligência brasileira e pela integridade clássica do vernáculo", aos segundos tocava desviar aquele dinamismo para a pesquisa da expressão original da língua rústica e das nossas falas populares em estado puro.

Sabemos hoje até onde a crítica de Sérgio nos levou a duvidar de que mesmo antes da nossa independência política - como queria Oliveira Lima - já dispúnhamos de uma expressão literária nacional, por mais civilizadora que aparentasse ser. Hoje é possível dizer que, à medida que veio ampliando, a partir de Raízes do Brasil, o alcance de suas análises, mais se aprofundaram as convicções com que, na evolução de seu método, Sérgio descartou do nosso horizonte as tarefas "do crítico restaurador" que projetava nos acontecimentos do passado uma espécie de sentimento cultural de nostalgia, interessado em rastrear no tempo a figuração dos mitos da nossa identidade literária. Daí o empenho, na crítica de Sérgio, não apenas pelas assimetrias culturais que se expandiam com o novo século, mas sobretudo pelo espírito de resistência e ruptura frente aos fatores responsáveis pelo atraso que nos submetiam desde a colônia.

ANTONIO ARNONI PRADO, PROFESSOR DE LITERATURA NA UNICAMP, É AUTOR, ENTRE OUTROS, DE ITINERÁRIO DE UMA FALSA VANGUARDA (EDITORA 34, 2010) E DOIS LETRADOS E O BRASIL NAÇÃO - A CRÍTICA DE OLIVEIRA LIMA E SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA, A SAIR NO SEGUNDO SEMESTRE

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Em debate, o peso do acúmulo de papéis
Raquel Cozer
O Estado de S.Paulo, 18 de junho de 2011

Depositária do acervo bibliográfico e documental do Brasil, a Biblioteca Nacional voltou a comandar as políticas do livro e da leitura - reacendendo a discussão sobre os melhores rumos de suas funções.

O anúncio foi feito com pompa em São Paulo, onde desembarcou, na última quarta-feira, o presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Galeno Amorim. Instaurou-se o Circuito Nacional de Feiras de Livros, projeto de estímulo a festivais do gênero "que já nasce com 75 eventos até dezembro em todo território nacional", como reafirmou depois a FBN por e-mail. Por enquanto, o circuito fez apenas catalogar feiras já existentes, mas o número parece cair bem. "A ideia é dobrar a quantidade até 2014", afirmou Galeno, já de volta ao Rio, no dia seguinte, por telefone ao Sabático.

Galeno gosta de números. Com menos de seis meses na presidência da instituição, ainda precisa checar com assessores um ou outro cômputo que passará a reiterar em entrevistas, mas a tendência é que logo discorra sobre eles com o desembaraço com que hoje cita dados do mercado e de políticas do livro. E números na Fundação Biblioteca Nacional andam ainda mais assíduos desde que, em janeiro, com a divulgação de seu nome à presidência, veio também a público a informação de que a FBN passaria a comandar a Diretoria de Livro, Leitura e Literatura, antes vinculada à Secretaria de Articulação Institucional do MinC. Com isso, em vez de seguir dividindo com a DLLL a coordenação das políticas de livro e leitura implantadas no País, a Fundação aglutinou todo o trabalho.

A decisão culminou, meses depois, com o pedido de demissão de José Castilho Marques Neto. O presidente da Editora Unesp atuava desde 2006 como secretário executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura, o conjunto de projetos que norteia as ações públicas na área. Exercia o cargo representando a sociedade civil, sem receber recursos do governo. Ao deixar o PNLL, enviou à ministra da Cultura, Ana de Hollanda, carta crítica à "concentração de toda a gestão da política de leitura na Fundação Biblioteca Nacional". Destacou: 1. que a decisão contrariava o trabalho encaminhado pelo governo anterior (lentamente, cabe dizer) para a criação de um instituto ou uma secretaria de fomento à leitura; e 2. que a alteração transferia todo o poder decisório nesse debate para o governo, já que o secretário executivo agora responde ao presidente da FBN.

Castilho e Galeno são reconhecidos pelo empenho com a causa do livro no Brasil. O primeiro, que já foi diretor da Biblioteca Mário de Andrade, acaba de ser eleito à presidência da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (Abeu). O segundo foi secretário de Cultura de Ribeirão Preto quando Antonio Palocci era prefeito, tendo criado a feira de livros local. Castilho substituiu Galeno na coordenação do PNLL em 2006 - naquela ocasião, na primeira queda de Palocci, seu afilhado político também saiu do governo, deixando o plano em suspenso. Com as participações de Galeno e Castilho, o PNLL afirmou-se como modelo para implantação de bibliotecas públicas.

A demissão de Castilho repercutiu na discussão sobre a imagem de fragilidade da ministra, mas outro debate ligado ao imbróglio manteve-se restrito a círculos fechados. E refere-se mais especificamente à instituição Biblioteca Nacional. Deveria a depositária do patrimônio bibliográfico e documental do País, responsável por preservar a memória e representar o Brasil perante outras bibliotecas nacionais do mundo, imiscuir-se em políticas que envolvem também interesses do mercado, como o incentivo à produção editorial e a organização de feiras?

Mandos e desmandos dos governos sobre essa questão nas últimas décadas ajudaram a emperrar iniciativas de cada gestão da FBN. Um exemplo é o programa de bolsas para tradução de literatura brasileira no exterior. O instrumento de difusão foi implantado quando Affonso Romano de Sant’Anna presidia a FBN (1990-96) e se tornou irregular nos anos seguintes. Em 2010, a essa altura do ano, 20 bolsas já haviam sido concedidas - no total, foram 68. Este ano, ainda não houve edital, só a promessa do primeiro para breve. Com a homenagem ao Brasil na Feira de Frankfurt 2013, Galeno já se comprometeu a ampliar o programa, mas agentes que trabalham com literatura brasileira no exterior questionam a demora.

Aníbal Bragança, professor da Universidade Federal Fluminense e estudioso da história do fomento à leitura no Brasil, diz que a sujeição dessas políticas à FBN "tem sido há muito questionada". "Entende-se que deva existir um órgão do governo responsável pelas políticas do livro e leitura, e que a Biblioteca Nacional deva dedicar-se à missão de preservação do patrimônio e acessibilidade para pesquisadores". Estudioso do mercado editorial, o antropólogo Felipe Lindoso pensa da mesma forma, mas, assim como Bragança, diz confiar na experiência de Galeno.

O presidente da FBN afirma que uma prioridade é plantar as bases de um "organizado sistema de livro e leitura". Dentro da Fundação? "Não", afirma. "Será outra instituição". Quanto tempo isso leva não se sabe. Castilho, que segue de longe a movimentação, acha estranho. "A partir do momento em que tudo se concentra, funcionários, departamentos, tudo dentro de determinada estrutura, a tendência é a inércia. Vai tirar tudo de um lugar para pôr em outro? Espero estar equivocado, mas me parece contra a lógica e a história das estruturas de governo." "Havia uma duplicidade que não fazia sentido", justifica Galeno, "como duas áreas, uma em Brasília e outra no Rio, com mesmo nome, Coordenação Geral do Livro e Leitura".

Não poucos veem um projeto político pessoal na iniciativa de Galeno de atrair para seu comando políticas públicas bem vistas no País. Há pouco, circulou no PT de Ribeirão Preto que ele teria disponibilizado o nome para pré-candidatura às eleições locais em 2012. Isso foi antes da segunda queda de Palocci, cujo nome passou então a ser aventado. "Tenho atuado em todos os lados da política pública do livro e da leitura, dentro e fora do governo, há 20 anos. E também há 20 anos alguém diz que vou tentar cargo eletivo na minha cidade, e isso nunca ocorreu", diz Galeno, que teve cerca de 16 mil votos na candidatura a deputado estadual em 2010.

Idas e vindas. Monteiro Lobato, ainda nos anos 20, foi um dos primeiros defensores de um instituto público para fomento ao livro e à leitura no Brasil. O Instituto Nacional do Livro saiu do papel em 1937. "Depois de quase 70 anos há pouco, se há, para se comemorar", anotou Aníbal Bragança em estudo de 2007. Apesar de vitórias no apoio às bibliotecas públicas e no serviço de publicações - este dirigido até 1944 por Sérgio Buarque de Hollanda -, o INL atravessaria décadas com mais infortúnios que sucessos, chegando enfraquecido ao fim da ditadura militar.

Num dos capítulos do recém-lançado Ler o Mundo (Global), Affonso Romano de Sant’Anna recorda o momento em que assumiu a FBN: "Em 1990, o recém-instalado governo Collor iniciou uma reforma (a que outros também chamam de desmonte) de várias instituições federais. O País assistia atônito e siderado ao que estava acontecendo". Foi dentro desse "desmonte" que a Biblioteca Nacional recebeu o prefixo Fundação, passando a agregar o INL. "No lugar do INL, o governo mandava instalar um precaríssimo Departamento Nacional do Livro nos quadros da FBN, com apenas três ou quatro funcionários." A gestão de Sant’Anna atravessou bem sucedida seis anos e seis ministros da Cultura.

Em 2003, nomeado secretário do Livro e da Leitura, Waly Salomão quis recriar o instituto. Sua morte, meses depois, interrompeu o projeto, mas estava plantada a semente de uma divisão: parte das políticas ficou na FBN, parte migrou para Brasília. O que Galeno frisa para explicar a volta de toda a política à FBN é justamente a divisão feita por Collor entre Fundação Biblioteca Nacional e a Biblioteca Nacional em si. Ele planeja inclusive comemorar, em breve, a "maioridade" da FBN, que completará 21 anos, embora a casa ainda celebre em 2011 efeméride nobre, os 200 anos da abertura do acervo ao público. "Com a ‘refundação’ da Fundação, que é o que está ocorrendo, a FBN passa de novo a ser a ponta de lança da política do livro, leitura e bibliotecas. E aí há que matar três leões de manhã e três tigres à tarde, e de noite espantar os lobos", afirma Sant’Anna.

Portugal. A pouca atenção que o assunto recebe no Brasil difere do desconforto que se viu em Portugal quando, em 1992, o país viveu situação similar. Maria Leonor Machado Sousa, então presidente da Biblioteca Nacional portuguesa, lembra-se de quando soube que a instituição agregaria as políticas do Instituto Português do Livro e Leitura: "Toda gente de bom senso estava contra, mas o secretário quis assim". Intelectuais entregaram ao governo um abaixo-assinado, e o assunto foi parar nos jornais. "Não fazia sentido. A Biblioteca Nacional tem de estar voltada ao passado, para preservar a cultura do País, e o Instituto do Livro, ao futuro, para desenvolver o leitor e o livro."

O protesto não surtiu efeito. Foi preciso mudar o governo para, em 1997, as instituições serem separadas. O atual presidente da BN portuguesa, Jorge Couto, considera aquela junção mal sucedida: "Mantiveram-se instituições estanques, não houve transversalidade nem intercomunicabilidade". Ele próprio corre o risco - ou corria, antes de o Partido Socialista ser derrotado nas últimas eleições pelo Partido Social Democrata - de passar pela experiência. Com a crise em Portugal, o governo que se encerra na próxima terça havia optado por voltar a unir as instituições, para cortar gastos. "Parece-me que o novo governo tem dúvidas quanto à bondade da solução. O assunto encontra-se em aberto e somente nos próximos tempos haverá uma decisão final."

Professor de História do Brasil na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Couto lembra uma coincidência entre as bibliotecas dos dois países - ambas foram criadas por dom João VI. A de Portugal surgiu como Real Biblioteca Pública da Corte em 1796; a do Brasil teve como origem 60 mil itens da Real Biblioteca da Ajuda, cujo acervo chegou a partir de 1810. Hoje com mais de 9 milhões de itens, entre livros, mapas e outros documentos - o dobro do volume de material da BN portuguesa -, a Biblioteca Nacional brasileira é a oitava do gênero no mundo, segundo a Unesco.

Galeno tem uma infinidade de planos para a Biblioteca Nacional, incluindo exposições que "atraiam mais o público" e o desenvolvimento da Biblioteca Nacional Digital. Entre as questões da BN que merecem atenção está a segurança. Há pouco, o jornal O Globo revelou o furto de duas primeiras edições da revista em quadrinhos nacional O Tico-Tico, de 1905 - ocorreu no ano passado, após um investimento milionário para evitar problemas do tipo. Outra questão é a saturação da sede da biblioteca, no centro do Rio, e a necessidade de reformas no prédio anexo, no cais do porto. No ano passado, o BNDES anunciou repasse de R$ 31,7 milhões para recuperação dos prédios e manutenção do acervo. Acontece que as obras só começam no fim deste ano, com previsão de término para 28 meses depois, Apenas em 2010, a BN recebeu 97 mil obras referentes a Depósito Legal, o recebimento de dois exemplares de cada publicação produzida em território nacional. Até as obras estarem concluídas, serão mais 200 mil volumes.

Quer jogar na tela do computador? Pague duas vezes o preco dos EUA...

Explicação de um especialista do setor sobre a razão de os jogos video serem tão pouco disseminados no Brasil, a despeito de um mercado potencial dos maiores do mundo:

James Portnow, directeur du studio américain Rainmaker Games évoque avec étonnement le prix prohibitif des jeux vidéo : "Les jeux sortis aux USA il y a six mois sont vendus officiellement pour 250 reals, soit environ 140 dollars (98 euros). Toutes les consoles que j'ai vues étaient vendues une fois et demie voire deux fois plus cher qu'aux Etats-Unis." En effet, en 2009, les taxes atteignaient 233 % du prix d'importation pour un jeu : un prix tel que 85 % de la population ne peut se permettre cette dépense.

Isto vale para qualquer outra coisa, também.
Quando é que os brasileiros vão se convencer que eles estão sendo espoliados, pela ordem:
1) por um Estado extrator, espoliativo, predatório (acrescentem outros adjetivos...)
2) por comerciantes gananciosos que pretendem fazer lucro excessivo
3) por um mercado pouco competitivo, sujeito a cartéis e monopólios
4) por todos esses fatores reunidos e vários outros mais que me dispenso de citar aqui?????

Enfim, quem quiser ler esta matéria do Le Monde, siga o link:

Le Brésil, nouvel eldorado du jeu vidéo ?

Civilizacao Maia: coloquio e exposicao sobre seu desaparecimento (Paris)

O Le Monde Magazine deste final de semana trata de um colóquio e de uma exposição grandiosa no Quai Branli, em Paris, dedicados ao misterioso desaparecimento da civilização Maia, aos quais eu provavelmente não vou poder ver ou assistir. Muitas perguntas ainda sem respostas sobre um dos mais impressionantes desaparecimentos (por duas vezes) de uma das mais bem organizadas civilizações complexas, desde a antiguidade até quase a chegada dos espanhois na América central; o que temos são algumas respostas parciais, interessantes.
Sobre o assunto do colapso das civilizações, permito-me recomendar o livro de Jared Diamond, chamado Colapso, precisamente.
Paulo Roberto de Almeida

"Le Monde Magazine" : Mayas, autodestruction d'une civilisation
Stéphane Foucart
LE MONDE Week-end MAGAZINE, 17.06.11
Tikal, une des plus grandes cités mayas de la période classique, a perdu 90 % de sa population en moins de deux générations, au IXe siècle. RD Hansen/Fares

GUATEMALA, ENVOYÉ SPÉCIAL - Des pyramides gigantesques perdues dans la forêt pluviale ; des temples oubliés envahis par la végétation ; d'imposants blocs de calcaire renversés par les racines d'arbres centenaires. Les images d'Epinal de cités majestueuses reprises par la jungle et la nature sauvage en ont fait l'une des plus captivantes énigmes archéologiques. Pourquoi, vers 850 de notre ère, la civilisation maya classique a-t-elle sombré ? A quelle catastrophe ou quel enchaînement d'événements peut bien tenir ce qui nous semble la fin d'un monde ? En quelques décennies, les dynasties s'éteignent, des centaines de cités-Etats se vident de leur population, des régions habitées pendant un millénaire voient leurs habitants partir pour ne plus revenir. Le pourquoi et le comment de cet effondrement seront au cœur d'un colloque international organisé au Musée du quai Branly les 1er et 2 juillet, dans la foulée de l'exposition "Mayas, de l'aube au crépuscule".

Il faudra cependant plus d'un colloque pour trancher ces questions. Elles hantent les chercheurs depuis presque un siècle, sans qu'aucun consensus ne se dégage. Bien sûr, certaines théories n'ont plus guère de partisans : épidémies fulgurantes, "invasions barbares", tremblements de terre en série… Toutes les causes simples et exogènes sont désormais écartées de manière quasi certaine. Reste une combinaison de facteurs régulièrement invoqués : sécheresses en cascade, remise en cause du statut des rois, récurrence de conflits meurtriers entre les principales cités-Etats qui se partagent, via de complexes systèmes d'allégeance, la grande région centrée sur l'actuel Guatemala.

Chaque cité semble avoir vécu une agonie particulière. Ici, la guerre a été prépondérante. Là, une forte baisse des rendements agricoles a peut-être primé. Ailleurs encore, le détournement de voies commerciales a pu avoir son importance… "Mais le problème, à se dire qu'un grand nombre de facteurs régionaux ont ainsi été impliqués, c'est que nous avons quand même bien affaire à un effondrement généralisé, rappelle Dominique Michelet (CNRS, université Paris-I), qui a dirigé pendant une décennie les fouilles de Rio Bec, au Mexique. Toutes les cités-Etats des basses terres s'effondrent dans un laps de temps assez court. Il faut tenir compte du caractère global de ce phénomène." Manquerait donc au moins une pièce au puzzle.

Pour Richard Hansen (université de l'Idaho), "un effondrement est toujours causé par plusieurs facteurs". "Mais la particularité d'un tel effondrement est que la population, une fois qu'elle a quitté les centres urbains, n'y revient pas, ajoute l'archéologue américain. Cette absence de toute réinstallation ne peut être le fait que d'une dégradation de l'environnement : les gens ne reviennent pas simplement parce qu'ils ne le peuvent pas. Aujourd'hui, si personne ne retourne vivre à Tchernobyl, c'est parce que l'environnement ne le permet pas."

Ler a íntegra da matéria neste link de meu blog de textos, ou no site do próprio jornal.

Pausa para... vida de cachorro (de restaurante)

Não se pode dizer que esses cachorros sejam mal alimentados:

http://www.youtube.com/watch_popup?v=EVwlMVYqMu4&vq=medium#t=125

A ignorancia historica e o politicamente correto - David McCullough

O politicamente correto é uma praga que começou na sociedade americana, dominou rapidamente toda a academia, e está se espalhando pelo mundo com uma velocidade impressionante.
Ele tem o poder de censurar os mais ousados e promover a ignorância accross the board...

THE WEEKEND INTERVIEW: David McCullough
Don't Know Much About History
By BRIAN BOLDUC
The Wall Street Journal, JUNE 18, 2011

The popular historian David McCullough says textbooks have become 'so politically correct as to be comic.' Meanwhile, the likes of Thomas Edison get little attention.

Boston - 'We're raising young people who are, by and large, historically illiterate," David McCullough tells me on a recent afternoon in a quiet meeting room at the Boston Public Library. Having lectured at more than 100 colleges and universities over the past 25 years, he says, "I know how much these young people—even at the most esteemed institutions of higher learning—don't know." Slowly, he shakes his head in dismay. "It's shocking."

He's right. This week, the Department of Education released the 2010 National Assessment of Educational Progress, which found that only 12% of high-school seniors have a firm grasp of our nation's history. And consider: Just 2% of those students understand the significance of Brown v. Board of Education.

Mr. McCullough began worrying about the history gap some 20 years ago, when a college sophomore approached him after an appearance at "a very good university in the Midwest." She thanked him for coming and admitted, "Until I heard your talk this morning, I never realized the original 13 colonies were all on the East Coast." Remembering the incident, Mr. McCullough's snow-white eyebrows curl in pain. "I thought, 'What have we been doing so wrong that this obviously bright young woman could get this far and not know that?'"

Answer: We've been teaching history poorly. And Mr. McCullough wants us to amend our ways.

The 77-year-old author has been doing his part—he's written nine books over the last four decades, including his most recent, "The Greater Journey: Americans in Paris," a story of young Americans who studied in a culturally dominant France in the 19th century to perfect their talents. He's won two Pulitzer Prizes, two National Book Awards and the Presidential Medal of Freedom, the nation's highest civilian award.

"History is a source of strength," he says. "It sets higher standards for all of us." But helping to ensure that the next generation measures up, he says, will be a daunting task.

One problem is personnel. "People who come out of college with a degree in education and not a degree in a subject are severely handicapped in their capacity to teach effectively," Mr. McCullough argues. "Because they're often assigned to teach subjects about which they know little or nothing." The great teachers love what they're teaching, he says, and "you can't love something you don't know anymore than you can love someone you don't know."

Another problem is method. "History is often taught in categories—women's history, African American history, environmental history—so that many of the students have no sense of chronology. They have no idea what followed what."

What's more, many textbooks have become "so politically correct as to be comic. Very minor characters that are currently fashionable are given considerable space, whereas people of major consequence farther back"—such as, say, Thomas Edison—"are given very little space or none at all."

Mr. McCullough's eyebrows leap at his final point: "And they're so badly written. They're boring! Historians are never required to write for people other than historians." Yet he also adds quickly, "Most of them are doing excellent work. I draw on their excellent work. I admire some of them more than anybody I know. But, by and large, they haven't learned to write very well."

Unlike Mr. McCullough. His new book possesses the same vitality that won his biography of John Adams critical and popular acclaim. And "The Greater Journey" was an even more elaborate tapestry to sew. "In writing conventional history or biography, the plot and the characters are pretty well set for you," Mr. McCullough says. "But with this, I put in or left out as I wished."

Luckily, he is judicious in his choice of characters, and he weaves together their seemingly disconnected lives seamlessly. In Mr. McCullough's Paris, Samuel F. B. Morse, the future inventor of the telegraph, tries his hand at painting, scooching on a scaffold in the Louvre as he makes copies of famous portraits. Outside, his friend, the novelist James Fenimore Cooper, braves a cholera epidemic to visit Morse at the museum every day.

Across the Seine River, Oliver Wendell Holmes, a student at the École de Médecine, watches surgeons dissect cadavers—a procedure that was banned in Massachusetts until 1831. Meanwhile, Charles Sumner, who would become a powerful senator from the Bay State, attends lectures at the Sorbonne, where he notices blacks seated among whites. Soon, he realizes "the distance between free blacks and whites among us is derived from education, and does not exist in the nature of things." To diminish that distance, Sumner dedicates his life to abolition. Through these vignettes—and many more—Mr. McCullough highlights these Americans' ambition to excel.

Mr. McCullough learned to write from a series of great teachers, most notably Thornton Wilder, the Pulitzer Prize winning playwright and novelist who was also a resident scholar at Yale, where Mr. McCullough graduated in 1951. To this day, he remembers Wilder's teaching that a good writer preserves "an air of freedom" in his prose, so that the reader won't know how a story will end—even if he's reading a history book.

"You know that the Brooklyn Bridge exists," Mr. McCullough explains, referring to one of his former subjects. "I've got to get you so involved in the story of how it was done that you begin to wonder, 'Oh my God! Are they ever going to be able to do this?'" Thus, via his writing style, he hopes to impart a lesson of history: "There's no such thing as a foreseeable future."

Wilder's example, he believes, provides another lesson. "Teachers are the most important people in our society. They need far more pay, obviously, but they need more encouragement. They need more respect. They need more appreciation from all of us. And we shouldn't do anything to hinder them or to make their job harder."

Despite his indictment of what's wrong with our teaching of history, Mr. McCullough maintains a cheerful demeanor as we talk. His dress is simple: a sedate blue blazer with grey slacks and a dark plaid tie—a tribute to his Scotch-Irish heritage. Yet this plain costume doesn't detract from the former off-Broadway actor's performance: His face does all the talking.

It's not their fault our children are ignorant, he says animatedly. "It's our fault," he says, pointing to his chest. "I mean the parents and grandparents of the oncoming generation. We have to talk about history, talk about the books we love, the biographies and histories." He continues, "We should all take our children to historic places. Go to Gettysburg. Go to the Capitol."

And teach history, he says—while tapping three fingers on the table between us—with "the lab technique." In other words, "give the student a problem to work on."

"If I were teaching a class," he says, "I would tell my students, 'I want you to do a documentary on the building at the corner of Fifth Avenue and 42nd Street. Or I want to you to interview Farmer Jones or former sergeant Fred or whatever." He adds, "I have been feeling increasingly that history ought to be understood and taught to be considerably more than just politics and the military."

What about textbooks? "I'd take one of those textbooks. I'd clip off all the numbers on the pages. I'd pull out three pages here, two pages there, five pages here—all the way through. I'd put them aside, mix them all up, and give them to you and three other students and say, 'Put it back in order and tell me what's missing.'" You'd know that book inside and out.

Mr. McCullough advises us to concentrate on grade school. "Grade school children, as we all know, can learn a foreign language in a flash," he says. "They can learn anything in a flash. The brain at that stage in life is like a sponge. And one of the ways they get it is through art: drawing, making things out of clay, constructing models, and dramatic productions. If you play the part of Abigail Adams or Johnny Appleseed in a fourth-grade play, you're never going to forget it as long as you live."

"We're too concentrated on having our children learn the answers," he summarizes. "I would teach them how to ask questions—because that's how you learn."

Fittingly, Mr. McCullough says he got the idea for "The Greater Journey" by asking a question. One day he was stuck in traffic near Sheridan Circle in Washington, D.C. In the center of the circle stood the statue of "good ol' Phil Sheridan," a Union general in the Civil War, "with the requisite pigeon on his head."

Staring at the statue, Mr. McCullough wondered: "How many people that go around this circle every day have any idea who that is?" (My guess: Nobody.) As he was mulling this over, George Gershwin's "Rhapsody in Blue" came on the radio, and a realization rushed over him: America's artists and musicians were too little appreciated. "The Gershwin side of American accomplishment"—and here Mr. McCullough looks me straight in the eye—"is too seldom given credit."

Thanks to Mr. McCullough, our ledger of historical appreciation is a bit more balanced.

Mr. Bolduc is a fellow at the National Review Institute.

A economia deles triunfou...

Recebi, agora, um video do Instituto Von Mises (ou seja, da escola austríaca), contestando argumentos do economista americano Robert Reich, da esquerda liberal, como se diz nos EUA, ou seja, defendendo posições anticapitalista, anunciando, como seria de se esperar, as catástrofes habituais a partir da presente crise nos EUA.
Enfim, parece que seu último livro foi traduzido e publicado no Brasil, e os professores keynesianos, como também existem por aqui, andam recomendando para que os alunos o leiam.
Nada de muito diferente do que se faz há muitos anos com Celso Furtado, os cepalianos em geral e os anticapitalistas em particular...
Este é o video:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=mXm4j2ORYcg#at=12

Não creio que ele contribua em alguma medida para diminuir o quantum de irrealismo (ou de irrealidade) que existe nas aulas de economia do Brasil.
Esse é apenas o resultado de um longo desenvolvimento intelectual (para pior, quero dizer).

Terminei de ler, há dois dias, este livro sobre a famosa controvérsia entre planejamento e liberalismo na economia brasileira:

Instituto Roberto Simonsen, Cadernos 1
As raízes do Pensamento Industrial Brasileiro: 60 anos do Instituto Roberto Simonsen
(São Paulo: Conselhos Superiores da FIESP, 2010)

O livro retraça todos os documentos relevantes do famoso debate, entre 1944 e 1945, que opôs o economista Eugenio Gudin ao industrialista Roberto Simonsen.
A despeito do fato de Gudin ter vencido intelectualmente -- e suas teses sobre a produtividade, as vantagens comparativas e o papel do Estado --, quem ganhou, na prática, foi Simonsen.

Todas as teses de Gudin foram recusadas não apenas pela academia brasileira (com poucas exceções) e sobretudo pelas lideranças políticas, e todas as "teses" de Simonsen foram não só acolhidas na academia como, em especial, postas em prática pelo Estado brasileiro, ao longo desses últimos 60 anos. Nesse sentido, Simonsen foi um vencedor.

Talvez seja por isso que o Brasil cresceu, à base de injeções estatais e com muitos subsídios públicos e proteção estatal às indústrias nacionais (e estrangeiras aqui instaladas), mas não se desenvolveu o suficiente para ingressar no clube dos países avançados, como a Coréia do Sul, por exemplo.
Tem gente que acha que fizemos tudo certo, e que fomos vítimas da exploração estrangeira, ou das perversidades naturais do capitalismo, felizmente refreado pela ação estatal, sábia como sempre.
Não partilho, obviamente, dessa visão, mas procuro ler todos os argumentos, a favor ou contra as políticas públicas que determinam se vamos crescer muito ou pouco, certo ou por vias deformadas.
Por isso li esse livro.
Recomendo que leiam também.
Transcrevo abaixo o sumário, retirando as notas um pouco desconexas que fiz pelo meio...


Livro I (17)
As raízes do pensamento industrial brasileiro: seminário comemorativo aos 60 anos do Instituto Roberto Simonsen
Exposições (19), Sérgio Amaral (20); Carlos Henrique Cardim (26); Antonio Delfim Netto (52); Maria Hermínia Brandão Tavares de Almeida (67); José Ricardo Roriz Coelho (70), Comentários de Ant. Delfim Netto (75)

Livro II (89)
A controvérsia do planejamento na economia brasileira: coletânea da polêmica Simonsen x Gudin, desencadeada com as primeiras propostas formais de planejamento da economia brasileira ao final do Estado Novo
90, Introdução, Carlos von Doellinger
92, Ambiente Histórico
106 O debate
110 Roberto Cochrane Simonsen (1889-1948)
112 Eugenio Gudin (1886-1986)

114 A planificação da Economia brasileira
Roberto Simonsen: Parecer apresentado ao Conselho de Política Industrial e Comercial, em 16 de agosto de 1944
116 Enriquecimento ilusório
118 A situação brasileira vista pelos técnicos americanos
122 Ainda a situação brasileira
125 Problemas do pós-guerra
126 Padrões de vida
127 A renda nacional
129 A planificação econômica
131 Duas questões básicas
133 Conclusões

142 Rumos de politica econômica
Eugenio Gudin: Relatório apresentado à Comissão de Planejamento Economico sobre o documento “A Planificação da Economia Brasileira”
Parte I
161 1 – Renda nacional
166 2 Donde surgiu a mística do plano
191 3 As esferas de ação do Estado e da economia privada
200 4 O sentido de nosso planejamento
Parte II
204 1 O problema monetário
209 2 O equilíbrio econômico
222 3 Comércio exterior
242 4 Industrialização e produtividade
267 Conclusões

278 O planejamento da economia brasileira
Roberto Simonsen – réplica ao Sr. Eugenio Gudin, na Comissão de Planejamento Econômico
279 A evolução econômica
(...) [23 seções]
356 As conclusões do Sr. Gudin

363 A Comissao de Planejamento Economico
363 Anexos
Cópia da correspondência trocada entre o Sr. Oswaldo Gomes da Costa Miranda, diretor do Serviço de Estatística da Previdência e Trabalho, e o Sr. Eugenio Gudin

374 Carta à Comissão de Planejamento
Eugenio Gudin: Carta sobre a réplica do Dr. Roberto Simonsen
377 I Renda nacional
386 II Planejamento e intervencionismo do Estado
389 III Guerra à Industria Nacional
392 Quanto ao Mais
398 Anexo

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Esse debate foi reeditado também pelo Ipea, mas sendo o Ipea atual o que é, eles fizeram "estudos" amplamente favoráveis às posições de Simonsen, em favor do planejamento e da intervenção estatal, obviamente.

AUTORIA: Simonsen, Roberto Cochrane, 1889-1948
TÍTULO: A Controvérsia do planejamento na economia brasileira / Roberto C. Simonsen, Eugênio Gudin ; [introdução de Carlos Von Doellinger ; apresentação da terceira edição por João Paulo dos Reis Velloso].
EDIÇÃO: 3. ed.
IMPRENTA: Brasília : IPEA, 2010.
DESCRIÇÃO FÍSICA: 196 p.
ISBN: 9788578110444
Resumo: Parecer, relatório e réplicas redigidos por Roberto Simonsen e Eugênio Gudin em debate sobre o tema planejamento na primeira metade do século XX. A controvérsia entre desenvolvimentismo, representado por Simonsen, e liberalismo, Gudin, é explicitada em posicionamentos divergentes sobre planificação da economia brasileira e industrialização.
Alcance temporal: 1932-1944
NOTAS: No verso da folha-de-rosto : "Coletânea da polêmica Simonsen x Gudin, desencadeada com as primeiras propostas formais de planejamento da economia brasileira ao final do Estado Novo."
Incl. ref.

TÍTULO: Desenvolvimento : o debate pioneiro de 1944-1945 / ensaios e comentários de Aloísio Teixeira, Gilberto Maringoni, Denise Lobato Gentil.
IMPRENTA: Brasília : IPEA, 2010.
DESCRIÇÃO FÍSICA: 130 p.
ISBN: 9788578110412
Resumo: Ensaios e comentários sobre o debate econômico entre duas correntes do pensamento, desenvolvimentismo e liberalismo, protagonizadas por Roberto Simonsen e Eugênio Gudin no governo Getúlio Vargas, 1944-1945. A primeira parte da obra confronta Simonsen e Gudin e evidencia o reflexo do posicionamento destes dois pensadores nas décadas posteriores ao debate. A segunda parte apresenta os personagens a partir de suas influências teóricas, idéias e realizações.
Alcance temporal: 1944-1945

Um profundo problema psicologico: Lula freudiano...

Não é só freudiano, talvez seja mais o senso comum, tipo complexo de inferioridade.
Em todo caso é demencial, e profundamente revelador do que assistimos nos últimos oito ou dez anos. Na verdade, acho que começa muito antes, na infância, mas foi adquirindo tonalidades mais graves na idade adulta, chegando à exacerbação durante os anos passados no cerrado central.
Levados ao extremo, personalidades como essas podem ser perigosas.
Não digo que vão sair por aí, assassinando pessoas, pelo menos não na realidade, apenas virtualmente. Elas precisam "matar" pessoas mais bem sucedidas, para se mostrar superiores, vencedoras.
Mas, antes de matar pessoas, essas pessoas são capazes de assassinar um país inteiro, pelas suas políticas inconsequentes, não necessariamente genocidárias, mas certamente suicidárias: elas podem compromenter o futuro do país durante anos e anos à frente...
Paulo Roberto de Almeida

FHC diz que Lula deve ter “algum problema psicológico”
Folha Online, 17/06/2011

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que completa 80 anos neste sábado (18), afirmou em entrevista ao jornal “Correio Braziliense” que não sente mágoa do também ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que se dá bem com o petista quando se encontram. Mas, segundo o tucano, a relação entre os dois não é mais civilizada porque Lula “tem dificuldade em fazer gestos” com ele.

Lula não se manifestou a respeito do aniversário de 80 anos de FHC, que ganhou um site especial para a ocasião e recebeu, inclusive, uma carta elogiosa da presidente Dilma Rousseff.

Ao jornal, o tucano afirmou que não acha estranho a falta de comunicação com o rival político. “Ele nunca me ligou por aniversário algum. O Lula e eu, quando estamos juntos, nos damos bem. Agora, ele deve ter algum problema psicológico, tem dificuldade em fazer gestos comigo.”

Ele garantiu não estar magoado, mas lamentou a situação. “Não é que me doa. Mas, do ponto de vista do Brasil, ex-presidente é bom que tenha uma relação civilizada. Infelizmente, não pude ter uma relação mais civilizada com o Lula”, disse.

Para FHC, porém, a manifestação de Dilma sobre seus 80 anos não é uma demonstração de que ela deseja brigar com seu antecessor e aliado. “Acho que ela entendeu que era melhor a distensão do que um clima crispado. Mas acho que para aí. Não acho que ela queira brigar com Lula.”

Na entrevista, o ex-presidente também afirmou que a guerra entre o PSDB e o PT –a quem chamou de “rei da infâmia”– é falsa e baseia-se essencialmente na disputa pelo poder. Para ele, vários dos projetos de governo das duas legendas são parecidos, tanto do ponto de vista empresarial quanto o social.

“O que discrepa [entre os dois partidos]? O PT mantém uma certa visão de partido, Estado e sociedade que é diferente do PSDB. O PT ainda acredita que o melhor para o país é que um partido, eles, ocupe o Estado e que o Estado mude a sociedade. O PSDB não vai nessa direção. É mais republicano, no sentido de separar mais”, disse o tucano.

Estatisticas deformadas: numero de presos nos EUA

A matéria abaixo é viciosa, mas eu a transcrevo ainda assim.
Ela coloca no mesmo plano os EUA e outros países quanto ao número de encarcerados, sem sequer se interrogar sobre a natureza dos crimes ou o funcionamento do sistema judicial e a chamada "due defense", que existe nos EUA e é praticamente desconhecida na maior parte dos demais países.
Enfim, não é das coisas mais inteligentes já postadas aqui, e talvez seja mesmo uma das mais estúpidas, mas sempre podemos ficar um pouco mais inteligentes vendo coisas estúpidas...

Thanks to War on Drugs, U.S. is World's #1 Jailer

This is a post to recognize the 40th anniversary of the day in 1971 that President Nixon declared that the U.S. government would start waging a "War on Drugs" war on peaceful Americans who chose to use intoxicants not approved of by the U.S. government (HT: Don B.).

Q: Which repressive country puts the most people in jail for violating government laws?

A. Iran
B. Saudi Arabia
C. Libya
D. Egypt
E. United States of America

Well, it's not even close..............

World Rank, 2010- Country - Prisoners per 100,000 Population
#1 - U.S.A. - 743
37 - Tunisia - 297
52 - Turkmenistan - 224
53 - Iran - 223
61 - Libya - 200
61 - Mexico - 200
69 - Colombia - 180
70 - Saudi Arabia - 178
92 - Bahrain - 149
116 - China - 120
126 - Venezuela - 114
137 - Iraq - 101
140 - Ethiopia - 98
150 - Egypt - 89
156 - Yemen - 83
185 - Syria - 58
187 - Afghanistan - 56
198 - Sudan - 45
198 - Pakistan - 45

The table above shows how the 2010 U.S. prison incarceration rate (prisoners per 100,000 population) compares to some of the roughest countries in the world. The full list of 216 countries is here, the countries above were selected as some of the world's most repressive regimes (Iran, Saudi Arabia and Libya), some of the world's least economically free countries (Venezuela, Turkmenistan, Sudan, Afghanistan, according to the Heritage Foundation), and some countries with the biggest narco-terrorism problems (Colombia and Mexico).

But none of them even come close to the incarceration rate of the World's #1 Jailer - the United States, largely because of the "War on Drugs" war against peaceful Americans using intoxicants currently not approved of by the U.S. government (see chart below).

Note that in the full list of countries, neighboring Canada ranks #124 (117 prisoners per 100,000), and countries with liberalized drug laws like Portugal rank #128 (112 per 100,000) and Netherlands ranks #145 (94 per 100,000).

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A saga dos documentos secretos (1): justificativas

Marina Silva é boliviana! Eu sabia! Ou: A marcha dos primitivos insensatos
Reinaldo Azevedo, 17/06/2011

Não dá! Só mesmo encarando a coisa com algum humor. Eu começo a achar que a gente fez mesmo uma grossa sacanagem com a Bolívia ao ficar com o Acre. Vamos ter de devolver!!! Marina Silva para presidente da Bolívia! Será uma revolução. Ela vai mandar destruir as plantações de coca para que a selva ocupe o seu lugar.

Que coisa! Vejam o que afirmou hoje a presidente Dilma Rousseff, em São Paulo, sobre o sigilo dos documentos:
“É público e notório que eu era favor de abrir todos os documentos. No entanto, durante o processo houve uma posição do Ministério da Defesa e do Ministério das Relações Exteriores, Teve a ponderação da Defesa e do Itamaraty de que a gente toleraria a classificação de ultrassecreto para documentos cujo acesso possa ocasionar ameaça à soberania nacional, integridade do território nacional e grave risco às relações internacionais do país. Para alguém não abrir [os documentos] depois dos 25 anos, há de ter uma justificativa e um fundamento. Agora, no que se refere a direitos humanos, não existe nenhum caso que possa ser ultrassecreto”.

Voltei [Reinaldo Azevedo]
Estamos nas mãos de primitivos. Caramba! Os historiadores bolivianos, paraguaios e uruguaios vão ficar excitadíssimos. Que diabo o Brasil deve ter feito na consolidação de suas fronteiras??? Nada menos do que a presidente da República está afirmando que a divulgação de documentos colocaria em risco a integridade do nosso território.

Custa dizer simplesmente que é favorável ao sigilo eterno em alguns casos e ponto final? O resultado seria o mesmo e não levantaria suspeitas desnecessárias. Ah, mas Dilma não quer passar por reacionária, conservadora sei lá o quê. Em suma, não quer o ônus de governar, é isso. Então prefere fazer declarações temerárias. Qualquer país que tenha tido algum litígio fronteiriço com o Brasil no passado, a esta altura, está assanhadíssimo. Evo já nos bateu a carteira no caso da refinaria da Petrobras… Imaginem depois de toda essa conversa mole.

Nem vem, o Acre é nosso!!! Já se a Marina quiser se declarar boliviana… Brincadeirinha, ex-senadora! Conto com a senhora para a revolução da produtividade agrícola brasileira. Consta que a senhora tem uma fórmula mágica que reduz brutalmente a área plantada, mas aumenta barbaramente a produção. Parece que, sozinha, a senhora alcançou o que toda a Embrapa não conseguiu. Por que daríamos isso de mão beijada aos bolivianos?

Quanto a Dilma… Uma das tags deste blog é “Bobagens de Lula”. Mais uma, e crio a “Bobagens de Dilma”. Esse “apedeutismo” político o Grande Apedeuta não cometeria.

Programa Espacial: mais um fracasso a ser "comemorado"...

O PT, o PDT, partidos aliados e o próprio governo atual têm muito a comemorar, o atraso, o fracasso, a derrota, quero dizer.
Mais de dez anos atrás, todas essas forças se coligaram para sabotar a assinatura do acordo de salvaguardas tecnológicas entre o Brasil e os Estados Unidos, que iria permitir o lançamento de foguetes dotados de tecnologia americana, carregando satélites para o espaço a partir da base de Alcântara. Diziam que era contra a soberania brasileira, pois não permitia o conhecimento dos equipamentos americanos, que se opunha à transferência de tecnologia, que impedia a transferência do dinheiro ganho com os lançamentos comerciais para o programa espacial brasileiro e uma série de outros crimes anti-nacionais.
Disseram que recusariam o acordo americano, para fazer um melhor, com a Ucrânia, sem os constrangimentos tecnológicos do anterior, com a transferência tão requisitada, preservando integralmente a "soberania nacional".
Pois bem, dez anos depois, o que existe, ou melhor, o que não existe é o que está ai abaixo descrito, ou seja, um fracasso completo, tudo isso em função da incompetência ideológica e prática do governo atual. Não creio que venha a mudar. Mas vão continuar gastando dinheiro.
Paulo Roberto de Almeida

Disputa política na base e falta de verba paralisam programa espacial brasileiro
O Estado de São Paulo, 16/06/2011

Aliados desde a gestão Lula, PSB e PT duelam nos bastidores do MCT, hoje comandado pelo petista Aloizio Mercadante, e meta de lançar um foguete ao espaço, que já consumiu R$ 218 milhões, agora ficará para 2015.
A disputa política envolvendo dirigentes do PT e do PSB e a recusa do governo Dilma em colocar mais dinheiro na empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), uma sociedade com o governo da Ucrânia, paralisam o programa espacial brasileiro. Criada em 2007 para desenvolver e lançar o foguete Cyclone 4 da base de Alcântara (MA), a ACS, que era um feudo do PSB, não paga os fornecedores desde abril e só tem dinheiro para as "despesas administrativas" até o fim do ano.

O diretor-geral interino Reinaldo José de Melo disse, em carta enviada no dia 27 de maio ao ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), que a falta de dinheiro poderá acarretar "consequências imprevisíveis". Sem mais recursos, segundo ele, "não será mais possível realizar outros pagamentos destinados ao desenvolvimento do Projeto Cyclone 4, o que fará com que o ritmo dos trabalhados sofra uma diminuição drástica".

Além das divergências envolvendo dois partidos da base do governo, o programa vem sendo tocado sem nenhuma transparência. Criado após a tragédia da explosão da base de lançamento e a morte de 21 pessoas em Alcântara, em 2003, o projeto prevê uma parceria internacional orçada em R$1 bilhão, metade do investimento para cada país e lucros rateados no futuro como lançamento comercial de satélites para o espaço. O problema é que o Brasil já repassou R$ 218 milhões, enquanto a Ucrânia pôs bem menos, R$ 98 milhões.

A promessa inicial era lançar o foguete em 2010. Agora, o discurso oficial é 2013. Internamente, a aposta é que, se ocorrer, será só a partir de 2015. A presidente Dilma mandou auditar o projeto e, para não repassar mais dinheiro, Mercadante cortou os R$ 50 milhões previstos no orçamento da ACS para 2011. Por ser binacional, a empresa não presta contas a órgãos como Tribunal de Contas da União (TCU) e Controladoria-Geral da União (CGU). Em 2010, por exemplo, fechou um contrato sem licitação de R$ 546 milhões com as construtoras Camargo Corrêa e Odebrecht.

Os R$ 50 milhões cortados do Orçamento da União foram o assunto de uma reunião ontem entre o diretor-geral Reinaldo José de Melo e o secretário executivo do ministério, Luiz Antonio Elias. Uma planilha financeira da empresa do dia 18 de maio obtida pelo Estado mostra que a ACS não conseguiu honrar todos os seus compromissos de contratos entre março e abril e o dinheiro que sobrou - R$ 38 milhões - serve apenas para pagar as dívidas pendentes daquele período e despesas como folha de pagamento, até o fim do ano.

Feudo do PSB - O risco de o projeto fracassar tem componentes políticos nacionais e internacionais, que se agravaram desde o começo do ano. A ACS era um feudo do PSB na gestão do ex-presidente Lula, assim como o MCT. A direção e os principais cargos da empresa binacional eram ocupados por filiados ao partido.

Ex-ministro e vice-presidente do PSB, Roberto Amaral era o diretor-geral da ACS até março. Deixou o cargo com a chegada dos petistas, mas conseguiu manter interinamente um aliado no lugar dele, Reinaldo José de Melo, que era diretor de suprimentos da empresa. Uma parte dos funcionários de cargo de confiança filiados ao PSB saiu com Amaral. Agora do lado de fora, o vice-presidente da legenda critica a postura do governo e ataca o corte de dinheiro.

"Não se brinca de fazer programa espacial. Ou se tem ou não se tem", disse Amaral, numa audiência pública na Câmara anteontem. Ele perdeu a direção do projeto, mas ganhou vaga nos conselhos de administração da Itaipu Binacional e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES). Aliado de Roberto Amaral, Melo foi colega de Dilma na militância armada durante a ditadura militar.

Além dos problemas políticos internos, o Brasil tem se incomodado com a demora do governo ucraniano em cumprir sua parte de fazer o aporte de 50% dos recursos. Segundo dados enviados ao MCT, a Ucrânia repassou apenas 19% do que deveria. Recentemente, o governo daquele país obteve aval de seu Parlamento para contrair empréstimos para bancar o programa. Disse ao Brasil que faria isso este mês. Agora, segundo informou ontem a ACS, a promessa é para setembro.

'Há dificuldades orçamentárias e financeiras', diz ACS - A Alcântara Cyclone Space (ACS) disse ao Estado que vem enfrentando dificuldades financeiras para tocar o projeto espacial. "Há dificuldades orçamentárias e financeiras dos dois países (Brasil e Ucrânia) na liberação de recursos para a integralização do capital aprovado pelas partes."

A empresa afirmou que, diante disso, tem renegociado o pagamento dos contratos das obras. "A ACS está negociando o cronograma físico-financeiro com as construtoras de forma a se adequar às disponibilidades orçamentárias e financeiras e aos prazos e recursos disponíveis com o objetivo de cumprir o tratado."

Segundo a ACS, "as dificuldades de caixa têm origem na intensificação dos trabalhos das obras em Alcântara devido ao encerramento do período de chuvas na região e o consequente aumento do ritmo dos trabalhos das empresas". E disse crer na liberação de
recursos pelo governo brasileiro em julho. A parte da Ucrânia "está prevista para setembro".

Por sua assessoria, o ministro Aloizio Mercadante informou que pretende liberar recursos até fim deste mês ou começo de julho e mantém a previsão de iniciar as operações daqui a dois anos.

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Especialistas defendem programa espacial como política de Estado
Agência Câmara, 16/06/2011

O programa espacial foi debatido em audiência da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.
O Programa Espacial Brasileiro precisa tornar-se uma política de Estado e deixar de sofrer com as oscilações políticas do País e os ciclos ruins da economia, que acabam provocando os cortes orçamentários que minam sua eficácia e atrasam em muito a consecução das metas traçadas.

Esse foi o consenso que uniu os palestrantes da audiência pública promovida na terça-feira (14) pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática para discutir o tema. O ex-ministro da Ciência e Tecnologia Roberto Amaral foi incisivo no alerta de que "os atrasos no programa afetam a soberania nacional e o futuro do País".

Ele lamentou que o caráter estratégico do programa não seja reconhecido pelo governo, a começar pela ausência de um órgão efetivamente capaz de coordená-lo. "A Agência Espacial Brasileira (AEB), com sua atual estrutura deficiente, não desempenha esse papel", afirmou.

Falta de pessoal - O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara, revelou que o Brasil deverá lançar um satélite por ano entre 2012 e 2020 - contra uma média recente de um a cada quatro anos. Ele explicou que o foco do programa é permitir a agregação de valor às condições naturais vantajosas das quais o País desfruta.

O presidente da AEB, Marco Antonio Raupp, destacou que o programa tem um papel importante para a solução de grandes problemas nacionais, em áreas como a agricultura, a energia, a vigilância das fronteiras, entre outras.

Raupp descreveu um quadro preocupante a respeito da falta de pessoal. O Inpe conta com apenas 1.150 técnicos (contra 1.700 na década de 80), enquanto o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) tem tão somente 1 mil (contra 2.500). "É muito pouco, comparado, por exemplo, à Índia, país emergente e membro dos Brics, como o Brasil, que soma 16 mil." Segundo ele, o número de técnicos vem diminuindo porque as contratações pararam desde o final da década de 80, e muitos, desde então, se aposentaram ou buscaram empregos mais rentáveis.

Fim de uma geração - O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia, Fernando Morais Santos, disse que o programa espacial é uma "tragédia de desinteresse e omissão", e que os servidores estão desmotivados e com baixa autoestima. "São quase todos velhinhos que estão lá desde o início do programa, e hoje conversam com técnicos jovens de outros países, como a China, que então nem eram nascidos", contou Morais Santos.

O diretor-geral do DCTA, tenente-brigadeiro-do-ar Ailton dos Santos Pohlmann, advertiu para a urgência de concursos públicos para contratar uma nova geração de técnicos, enquanto há tempo para que possam conviver com os atuais, a grande maioria já bem próxima da aposentadoria.

O risco, bastante grave, disse Pohlmann, é de uma interrupção no processo histórico de acumulação de conhecimento tecnológico, com o fim de uma geração sem o surgimento de uma nova. "Estamos perdendo pessoal numa velocidade cada vez maior; até 2020, todos estarão fora", previu.

Deputado critica falta de atenção do ministro - O deputado Ribamar Alves (PSB-MA), ex-presidente da Frente Parlamentar do Programa Espacial, pôs em dúvida o futuro do programa sob a gestão do ministro Aloizio Mercadante à frente da pasta da Ciência e Tecnologia. O deputado queixou-se de até hoje não ter conseguido sequer uma audiência com o ministro, apesar de tentar incansavelmente desde o início do ano.

Já o deputado Carlinhos Almeida (PT-SP), autor do requerimento da audiência desta terça-feira da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, ponderou que o ministro Mercadante está avaliando com cuidado a situação do programa e, em breve, deverá apresentar uma proposta para reestruturá-lo. Almeida destacou a importância da urgente contratação de uma nova geração de técnicos na área espacial, para garantir a continuidade do programa.

Visitas - A comissão acatou proposta do deputado Sibá Machado (PT-AC) para uma visita ao DCTA, ao Inpe e à base de Alcântara, no Maranhão. Além disso, Machado revelou estar em contato com uma série de entidades ligadas à área espacial, as quais deverão entregar, por volta do fim de junho, uma proposta concreta de novo arcabouço legal para apoiar o programa.

O deputado Arolde de Oliveira (DEM-RJ) sustentou que tornar o Orçamento da União impositivo, de execução obrigatória, é a solução tanto para o programa espacial como para outros problemas nacionais.

Tragedia educacional brasileira: continuidade garantida

Alguém acredita que o Plano Nacional de Educação vai conseguir reduzir os índices alarmantes de mediocridade da educação brasileira, ou que 7% ou 10% do PIB investidos no setor vão mesmo contribuir para melhorar, pelo menos 1%, a má qualidade atual do ensino brasileiro?
Acho que os planos do governo ficam aquém das necessidades do setor.
Paulo Roberto de Almeida

Ministro defende investimento de 7% do PIB em educação; entidades pedem 10%
Agência Câmara, 16/06/2011

Fernando Haddad disse que o governo está "aberto ao diálogo".
O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira (15) que a meta de ampliação do investimento público em educação de 5% para 7% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2020 é "lógica". A declaração foi dada em um auditório lotado de professores e representantes de entidades civis que pedem a aplicação no setor de pelo menos 10% do PIB em dez anos.

A meta está prevista na proposta do governo, em tramitação na Câmara, que estabelece o Plano Nacional de Educação (PNE - PL 8035/10). O projeto já recebeu quase 3 mil emendas de deputados - muitas delas preveem o aumento das verbas para a área.

De acordo com Haddad, o valor levou em consideração as promessas de campanha da presidente Dilma Rousseff e os recursos necessários para que as metas previstas no projeto sejam atendidas. Segundo ele, a mudança representaria anualmente R$ 80 bilhões a mais para o setor.

O ministro também argumentou que o aumento de 2% em dez anos corresponde à ampliação do investimento público feito na área nos últimos anos. Segundo ele, foram destinados à educação, em média, 0,2% do PIB a mais por ano nos últimos cinco anos.

Haddad disse, porém, que o governo está disposto a negociar novos valores. A proposta que estabelece o PNE prevê 20 metas com temas diversos, além do financiamento do setor, como educação básica e superior, ensino especial, índices de qualidade e remuneração dos professores. "Agora é fazer conta. Temos verificar se as metas serão modificadas para mais e qual o impacto financeiro disso. Estamos à disposição para dialogar sobre um plano exequível", disse Haddad.

O debate com o ministro da Educação foi organizado pela comissão especial destinada a analisar a proposta do PNE. O prazo para emendas à proposta do governo já foi encerrado. Contudo, caso o relator, deputado Angelo Vanhoni (PT-PR), apresente um substitutivo a texto, o prazo será reaberto. A expectativa é que Vanhoni apresente seu parecer até o próximo mês de agosto.

Metas tímidas - Deputados presentes à reunião classificaram de tímidas as metas previstas na proposta do PNE. Além da meta de investimentos públicos, criticada por Ivan Valente (Psol-SP) e Fátima Bezerra (PT-RN), os deputados destacaram outros pontos que, segundo eles, ainda podem ser "mais ousados". Fátima Bezerra, presidente da Comissão de Educação e Cultura, defendeu a ampliação de 33% para 40% da meta de atendimento dos jovens de 18 a 24 anos no ensino superior.

A deputada, que apresentou cerca de 400 das quase 3 mil emendas à proposta, também sugeriu a equivalência entre os salários dos professores e aqueles dos outros profissionais de nível de escolaridade equivalente. O projeto do governo prevê apenas a "aproximação" dessas remunerações.

Ensino profissional - Uma das metas consideradas "pouco ousadas" na reunião foi a previsão de duplicação das matrículas da educação profissional técnica de nível médio até 2020. Fernando Haddad, porém, admitiu que esse número foi subestimado e pode ser revisto.

Para o deputado Artur Bruno (PT-CE), o ensino profissional foi desvalorizado durante anos e precisa de um investimento maior que aquele recebido pelos outros níveis de ensino. "O resultado das políticas equivocadas dos governos anteriores é que hoje vemos um apagão de mão de obra qualificada no País", disse.

Segundo Haddad, a meta de duplicação das matrículas do ensino profissional médio deve já em 2014. A aceleração, de acordo com o ministro, deve-se ao Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), instituído por um projeto de lei em tramitação na Câmara (PL 1209/11). O programa estabelece oferta de bolsas para estudantes, garantia de financiamento na rede privada de ensino e expansão das vagas em escolas públicas.

Ministro extraordinario para assuntos ordinarios: ganhando uma aposta contra mim mesmo...

No dia 22 de maio último eu postava o que vai abaixo, e dava dois meses para um desenlace fatal.
Ou seja, em 22 de julho de 2011, o ministro em questão já deveria ter pulado fora do governo, ou ter sido defenestrado, à escolha de quem decide.
Acho que ganhei, não é mesmo?
Mas nem sempre pelas boas formas: eu me surpreendi (e continuo achando altamente ofensivo para a dignidade de qualquer sociedade normal) que um funcionário envolvido em atos questionáveis seja "despedido" com "honras de chefe de Estado", o que só se vê em democracias ordinárias...
O mais curioso é que o governo não aprende: continua defendendo o segredo nos assuntos públicos, o que não é apenas inconstitucional, como altamente imoral.
O governo também continua defendendo o segredo eternos em papéis do Estado, o que também é inconstitucional, ilegal e altamente imoral.
Qual o governo decente que seria capaz de exibir tais posições impunemente?
Obviamente um que dispõe de um congresso servil e totalmente dependente dos favores do governo.
Paulo Roberto de Almeida

DOMINGO, 22 DE MAIO DE 2011
Dois meses para o ministro cair, estaria bem assim?

Acho dois meses, muito tempo, pois em qualquer democracia respeitável, digna desse nome, o próprio envolvido em falcatruas, fraudes, mentiras, roubos e atos venais, já teria apresentado sua renúncia de imediato, ou sido despedido também de imediato pelo chefe de Estado (que não o fez) ou pelo chefe de governo (que parece que é ele mesmo).
Em qualquer regime parlamentar normal, ele já teria sido convocado (não convidado, convocado), para se explicar no banco dos acusados, e teria sido submetido a uma inquirição em regra.
Em qualquer regime político normal, o parlamento já teria agido para obter esclarecimentos.
Em qualquer país normal, as autoridades financeiras, de corregedoria, policiais e até associações classistas (no caso, a OAB), já teriam pedido um inquérito policial.
No Brasil, obviamente, nada disso acontece, pois venais existem em todas as partes.
Esse é o Brasil...
Só para concluir: o título deste post, ao que parece, não tem nada a ver com a realidade. Só uma aposta pessoal, ou seja, contra mim mesmo. Sendo assim, em 22 de julho de 2011, o ministro em questão estará fora do governo. Vou marcar na minha agenda, e voltarei ao contato naquela data.
Paulo Roberto de Almeida

CASO FRANCENILDO
Palocci levou dossiê pessoalmente, diz ex-diretor da Globo
Opinião e Notícia, 22/05/2011

Em 2009, Palocci foi inocentado de ter quebrado sigilo bancário, e a culpa recaiu sobre seu assessor de imprensa e o presidente da Caixa
O atual ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, levou pessoalmente o dossiê do caso Francenildo à família Marinho, informou o ex-diretor editorial da Globo, Paulo Nogueira.

“Foi o Palocci quem passou para nós o dossiê calunioso. Palocci foi quem fez chegar a nós, na redação da Época, informações que supostamente desqualificariam um caseiro de Brasília que dissera que ele frequentava uma mansão pouco recomendável quando ele era ministro da Fazenda”, explica Nogueira.

Em 2009, Palocci foi inocentado de ter quebrado o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Na ocasião, os dados da conta do caseiro foram publicados na revista Época, e revelavam até que ele recebia depósitos no valor de R$ 24 mil de seu pai biológico, que tentava encerrar uma ação de reconhecimento de paternidade.

Com a absolvição de Palocci, a culpa recaiu sobre dois outros réus: seu assessor de imprensa, Marcelo Netto, e o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso.

Paulo Nogueira, no entanto, afirma que Época não se envolveu nessa operação totalmente ciente da fraude. “Imaginávamos, ao publicar a história, que de fato tinham sido feitos depósitos na conta do caseiro. Logo ficou claro que não. Também ficou clara em pouco tempo a desfaçatez de Palocci ao dizer que não fizera o que fez”.

Quando um reles criminoso interefere em relacoes bilaterais de dois paises "irmaos"...

O caso Battisti continuará a contaminar as relações bilaterais Brasil-Itália e até as relações do Brasil com a UE, previsivelmente, graças às trapalhadas que acumulamos nos últimos tempos. Não está excluida, tampouco, a hipótese da Itália recorrer à justiça internacional, a corte da Haia, mas suponho que o Brasil não aceitará o que deixará a Itália ainda mais frustrada. Acredito que o tema tem o dom no prejudicar o relacionamento bilateral e até a credibilidade internacional do Brasil.
O que fazem os homens atuarem conforme seus instintos e não conforme a lei?
Paulo Roberto de Almeida

Itália pede a Brasil que comissão bilateral avalie caso Batistti
Reuters Brasil, sexta-feira, 17 de junho de 2011

ROMA (Reuters) - A embaixada italiana em Brasília pediu formalmente às autoridades brasileiras a ativação de uma comissão permanente de conciliação para analisar a decisão do Brasil de não extraditar o ex-militante Cesare Batistti, afirmou o Ministério das Relações Exteriores italiano em comunicado nesta sexta-feira.
"Por instruções do ministro do Exterior, Franco Frattini, a embaixada italiana em Brasília requisitou formalmente às autoridades brasileiras a ativação da comissão permanente de conciliação, conforme previsto pela Convenção entre a Itália e o Brasil de 1954, e expressou a intenção de se referir a tal comissão sobre a não-extradição de Cesare Batistti", disse o comunicado.
A chancelaria italiana destacou que "a Itália está determinada a dar todos os passos necessários para buscar o reexame da decisão de negar a extradição de Cesare Battisti".
Em 8 de junho o Supremo Tribunal Federal decidiu manter a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de não extraditar para a Itália o ex-militante de esquerda condenado por assassinatos cometidos na década de 1970, e ordenou sua libertação imediata.
O governo italiano insiste que, ao libertar Batistti, o Brasil violou as normas previstas em um tratado de extradição firmado entre os dois países. Em protesto, Frattini decidiu chamar de volta temporariamente o embaixador italiano em Brasília para consultas.
A comissão de conciliação tem quatro meses para se manifestar sobre o caso. Caso as conclusões da comissão sejam rejeitadas, abre-se caminho para que a Itália recorra ao Tribunal de Haia, o tribunal da Organização das Nações Unidas (ONU) que estabelece a eventual responsabilidade dos Estados por violação do direito internacional.

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Duas visoes sobre o Plano Real e o governo FHC: um tucano e um petista

Vocês podem escolher qual a melhor, ou qual a mais fiel à realidade:

FHC: parabéns e obrigado!
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Folha de S.Paulo, Sexta-feira, Junho 17, 2011

A posição de Lula diante do Plano Real é inaceitável em uma sociedade guiada pela verdade dos fatos

EM CARTA enviada ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a presidente Dilma Rousseff reconhece -de forma clara e inequívoca- a paternidade do Plano Real, que devolveu à economia brasileira a estabilidade e o crescimento.
Foram quase 20 anos em que estivemos condenados à mediocridade e à estagnação da renda, principalmente dos mais pobres. Com o Plano Real, esse passado vergonhoso foi superado e voltamos ao grupo de nações emergentes com futuro.
O que seria considerada uma observação apenas formal em sua carta de congratulações pela passagem do aniversário de 80 anos de FHC, esse reconhecimento passou a ter uma grande relevância política.
Com razão, pois o ex-presidente Lula passou os oito anos de seu mandato renegando a importância de FHC e do Plano Real na construção da sociedade brasileira de hoje.
Além disso, Lula sempre espalhou aos quatro ventos a tese de que os anos FHC tinham deixado uma "herança maldita" a seus sucessores. O reconhecimento de Dilma do papel de FHC na estabilização e na política brasileira tornou as bravatas de Lula algo do passado. Espero que, a partir de agora, nem seu autor tenha coragem de voltar a elas.
Quero aproveitar este momento em que o papel de FHC na construção da nova economia brasileira voltou ao debate público para dividir com o leitor da Folha um trabalho sobre a evolução dos salários no Brasil, nos últimos 20 anos, feito por Fabio Ramos, economista da Quest Investimentos.
Os dados que constam do gráfico falam por si só e mostram como a posição de Lula em relação ao Plano Real é inaceitável em uma sociedade guiada pela verdade dos fatos -não pela história forjada por seus dirigentes.
Os dados representam uma estimativa do total da remuneração do trabalho no Brasil, calculados em reais e já descontados os efeitos da inflação, entre 1992 e o primeiro trimestre de 2011. Chamo a atenção do leitor para os seguintes pontos principais:
1) Entre 1993, quando Fernando Henrique assumiu o Ministério da Fazenda no governo de Itamar Franco, e 1997, já presidente da República, o total de salários pagos passou de R$ 600 bilhões para R$ 1,1 trilhão, com aumento de 83% no período, o que equivale a um crescimento anual de mais de 12%;
2) Apenas no segundo mandato de Lula (2007-2010) é que os salários superam o nível de R$ 1,1 trilhão verificado entre 1993 e 2002 e começam a crescer a uma taxa anual de pouco mais de 5%;
3) O aumento dos salários reais nos quatro anos do chamado Lula-2 foi, entretanto, menos da metade do verificado no período de implantação do Plano Real;
4) Ou seja, a contribuição da estabilidade alcançada pela ação de FHC nos salários dos trabalhadores brasileiros foi o dobro da proporcionada pelos quatro anos de crescimento verificado no segundo mandato de Lula. Os dados históricos aqui apresentados não permitem que a farsa da "herança maldita" se sustente por mais tempo.
O trabalho feito por Ramos mostra, de forma cristalina, como a inflação elevada confiscava a renda real do trabalhador antes da ação decisiva de FHC.
A presidente Dilma apenas reconhece -com anos de atraso- isso.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 68, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso). Escreve às sextas-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.

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E agora a posição oficial do PT, lída pelo seu líder na Câmara.
Você pode escolher qual a melhor:

Líder mostra diferença entre PT e PSDB e afirma que governo FHC foi antinacional e elitista
Informes Liderança do PT na CD, Qui, 16 de Junho de 2011 13:21

lider pteixeira1_D1O líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), em discurso na tribuna da Câmara, deixou claras as diferenças entre o projeto vitorioso do PT e aliados, implementado desde 2003, e do governo de FHC (1995-2002), que quebrou o País três vezes. Segundo o líder, o governo Fernando Henrique Cardoso tomou um caminho equivocado para o País, privatizando parte importante do patrimônio nacional, como a Companhia Vale do Rio Doce, "vendida na bacia das almas", como parte de uma estratégia de abertura "que destruiu parte das empresas nacionais".

As considerações do líder petista foram feitas a propósito de comentários feitos pelo líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP) a respeito de carta que a presidenta Dilma mandou a FHC, alusiva ao 80º aniversário do ex-presidente tucano. "Eu também o cumprimento pelos 80 anos, mas quero deixar claras as nossas divergências", frisou Teixeira. O líder tucano deu a entender que não há mais divergências com o PT, em razão de algumas medidas tomadas pelo governo Dilma, mas foi desautorizado pelo líder do PT.

Teixeira lembrou que as divergências de fundo com o PSDB e seus aliados não foram superadas. "Nós continuamos dizendo que o governo FHC foi antinacional; foi um governo antipopular; representante das forças conservadoras do País e dos interesses do grande capital e não do interesse do povo brasileiro", ressaltou Teixeira.

SUBSERVIÊNCIA - O líder petista observou que o projeto antinacional do PSDB levou o país a problemas seríssimos cuja solução foi encaminhada com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de 2003. Um exemplo foi a abertura desenfreada ao capital estrangeiro. Teixeira contrapôs como exemplo a Coreia do Sul, que nos anos de 1980 tinha o mesmo patamar de riquezas do Brasil e, trinta anos depois, chegou a um PIB per capita de US$ 30 mil. O motivo, explicou, é que os coreanos não empreenderam uma abertura irresponsável como fez FHC.

"Os coreanos fizeram uma abertura seletiva, fortaleceram as grandes empresas nacionais, como a Hyundai, a Samsung e outras. Copiaram, copiaram e copiaram e hoje estão em uma sociedade do conhecimento. O que fez o Governo FHC? Privatizou as grandes empresas nacionais, desnacionalizou grande parte delas, fez uma abertura violenta que destruiu parte do nosso parque industrial, aprovou uma lei de propriedade intelectual além do que a Organização Mundial de Comércio propunha, a chamada TRIPS Plus", observou o líder.

Paulo Teixeira disse que, graças ao modelo do PSDB, o Brasil enfrenta hoje problemas para chegar a uma sociedade do conhecimento. Ele mencionou como exemplos positivos a Índia e a China, que fizeram uma transição para que pudessem absorver conhecimento e dar um salto tecnológico, formando uma indústria nacional de ponta. Esses países não aceitaram as imposições dos países industrializados no tocante a leis de propriedade intelectual, como fez, de forma subserviente, o governo tucano de FHC.

DESIGUALDADES - O líder do PT lembrou que, no governo FHC, aumentaram as desigualdades sociais no Brasil e o projeto de nação foi comprometido. "Se ali tivéssemos tomado um outro caminho, teríamos hoje um grau de desenvolvimento maior. Tanto que o Presidente Lula fez uma grande transição do modelo neoliberal para um modelo de construção de um projeto nacional de país e de nação", assinalou Teixeira.

O líder reconheceu a contribuição que FHC deu para a estabilização econômica, mas ressalvou que foi no governo Lula que houve a estabilização com crescimento, inclusão social e distribuição de renda, modelo que vem tendo continuidade com o governo da presidenta Dilma.

Ele lembrou que, hoje, combate-se a inflação com medidas diferenciadas das adotadas por FHC. "Controle de inflação não representa comprometimento do crescimento e aumento da dívida pública; o controle da inflação tem que ser combinado com o crescimento econômico, e foi esse o compromisso da presidenta Dilma Rousseff. É por isso que o Brasil cresce. É por isso que o Brasil gera empregos. Nós crescemos com o controle das contas públicas", disse o líder do PT.

MAROLINHA - Apontou também que, no governo FHC, a dívida pública aumentou de forma exponencial, enquanto que, no de Lula, diminuiu, em relação ao PIB. E mais: mesmo com crise mundial eclodida em 2008, a maior do capitalismo desde 1929, o Brasil não ficou exposto, graças às medidas de proteção da economia nacional adotadas desde 2003. "Foi uma marolinha, como disse Lula, e nós tivemos condição de voltar a crescer e a ser uma economia vibrante, uma economia que cresce, que inclui e é baseada no mercado interno de massas".

Em contraste, disse, na época de FHC o Brasil, por não ter se preparado, entrava em crise ao menor sinal de instabilidade nas economias externas. "Enquanto o Governo FHC acreditava que o mercado externo resolveria tudo, o País sofreu com a crise da Ásia, do México e todas as outras crises", recordou Paulo Teixeira.

O líder disse que o governo Dilma dá continuidade e aprofunda o projeto iniciado em 2003 com Lula. Citou como ações importantes o programa de erradicação da miséria, o incremento da formação técnico-profissional, entre outros.

Reformando um pais do BRICS: nao, nao é o Brasil... (infelizmente)

Mutatis mutandis, o que diz o presidente russo sobre seu país, e o programa de reformas que ele promete empreender, poderia ser aplicado ao Brasil. Infelizmente, aqui sequer se cogita de um debate sobre as reformas necessárias a um crescimento mais sustentado e sustentável. O assunto simplesmente não está na pauta dos congressistas, não está na agenda do Executivo, não está sequer na ordem do dia para a maior parte dos brasileiros.
Os congressistas, como é sabido, pretendem apenas (melhor dito, exigem) maiores nacos do orçamento, para seus projetos provinciais (paroquiais seria o termo mais preciso), e querem continuamente cargos e prebendas estatais, para alimentar suas burras (eu disse burras no sentido antigo, mas podem tomar como quiserem) e suas ambições por mais riqueza e poder.
O Executivo quer ter sucesso no desempenho das funções, como é óbvio, mas o partido principal de sustentação do poder quer mais cargos, mais dinheiro, mais monopólio sobre a vida pública (e até a privada) e quer moldar o país à sua imagem e semelhança (que é de um socialismo esclerosado).
Quanto à opinião pública, bem, esta não existe simplesmente. Ou temos várias...
Os "jornalões" -- como dizem aqueles que pretendem controlar a mídia -- reproduzem o que pensam seus proprietários, que é a imagem de um capitalismo moderado, mas também com muito ativismo estatal, pois ninguém aqui pensa realmente numa sociedade livre, liberal e aberta.
Os empresários procuram as soluções que podem estar ao alcance: cansaram de lutar contra os tributos altos, e aí se dedicam a seus esportes preferidos: sobreviver num ambiente hostil, pedir uma ajuda subsidiada ao BNDES, implorar com a associação de classe por mais proteção, ou então desistir e vender para um sócio estrangeiro ou se expatriar para a China ou outros lugares.
As pessoas comuns, bem, estas querem consumir, obviamente, e se possível obter um emprego público, que é onde se pode ganhar bem com esforço moderado, tendo, sobretudo, estabilidade, tranquilidade e uma pensão supostamente garantida.
Este é o Brasil, se ouso dizer, um país mais socialista que a China, mais dirigista que a Rússia, quase tão bagunçado quanto a Índia, com políticos tão ou mais corruptos que a Itália e o Japão, e que importa todos os maus hábitos americanos, sobretudo esse horrível de entrar no cinema com barris de pipocas e baldes de refrigerantes...
Não creio que estejamos prontos para reformar o que quer que seja no futuro previsível, any time soon, e tampouco acho que o presidente russo vai conseguir implementar seu grande projeto de um capitalismo virtuoso, e não mais mafioso, na Rússia. Mas ele pelo menos expor publicamente quais eram suas intenções. Se elas são puramente eleitorais, os cidadãos russos vão constatar depois, e de toda forma poderão trocar de presidente nas eleicões seguintes.
Por aqui, vamos ficando na mesmice de sempre...
Paulo Roberto de Almeida

Medvedev launches pro-reform manifesto
By Catherine Belton, Charles Clover and Neil Buckley in St Petersburg
Financial Times, June 17 2011

Dmitry Medvedev: ‘We need to get out of old habits.’ Russia’s president, speaks during the opening address of the St Petersburg International Economic Forum (SPIEF)

Dmitry Medvedev set out a strong pro-reform economic manifesto on Friday, calling for an end to an era of state domination over the Russian economy and for an acceleration of privatisations including the sale of controlling stakes in big state companies.

In a speech that observers said appeared to set out a platform for his re-election as Russian president, Mr Medvedev warned against opting for stability over policies that he said would limit excessive state interference in the economy and boost private investment. This was the only way of ensuring the competitiveness of the Russian economy, he said.

“We need to get out of old habits. It is not right to rely only on stable gradual growth. Behind this notorious stability could lie the next stagnation,” the Russian president told an auditorium packed with hundreds of foreign and Russian business leaders gathered for the annual St Petersburg economic forum.

The potential of strengthening the state’s role in the economy “has been exhausted”, he said. “Such an economic model leads to . . . knee jerk steps that decide only one question: how to preserve what exists.” He added: “We are not building state capitalism.”

The comments appeared to a direct swipe at the politics of Vladimir Putin, his predecessor who now serves as prime minister but still operates as Russia’s paramount leader after tightening the state’s grip over the economy during his two terms in power. Neither of the two leaders have ruled out running for president in elections in 2012.

Calling for private enterprise to dominate the Russian economy, Mr Medvedev said the government’s current privatisation programme was “too modest”. He called on the government to expand by August 1 current plans for a $32bn sell off of minority stakes in state companies to include the sale of controlling holdings.

The domination of state-controlled companies has led to “low entrepreneurial activity and investment activity” which is threatening “the loss of the Russian economy’s competitiveness”.

“Such an economic model poses a danger for the country’s future. This is not my choice,” he said.

“My choice is different. Private entrepreneurship and private investment should dominate the Russian economy . . . My choice is a policy that would ensure the maximum opportunity for economic activity for millions of citizens . . . defended by law and by the entire might of the state.”

“My choice is the formation of an economy of a high quality of life over the decades to come.”

Arkady Dvorkovich, the president’s most senior economic adviser, later told reporters that the expanded privatisation plans could also include the sale of a controlling stake in Rosneft, the national oil champion that became the country’s top oil producer through its controversial takeover during Mr Putin’s presidency of Yukos, the oil major belonging to jailed oil tycoon Mikhail Khodorkovsky.

The Russian president said he was also calling for steps that would strengthen an attempt to clamp down on corruption by allowing officials suspected of corruption to be fired for this even if the crime could not be proved in court.

“We need to push out those who spit on the law” including “investigators who turn unjustified criminal probes into instruments for raiding” business, he said.

Mr Medvedev also said that he would continue a push to improve the court system and called for a transfer of greater decision-making power from federal authorities in Moscow to regional and municipal governments.

“If everything only begins to work only on a signal from the Kremlin then it means the system is not capable of surviving . . . and should be seriously changed.”

The Russian president said his programme for modernising the country should be realised “independently of who holds what office in the next few years. I am personally responsible for this as the president of the country.”

But observers said the president appeared to be setting out a platform for re-election. “As a former politician, I saw all the signs of a man who is getting ready to run for office again,” Lord Peter Mandelson, the former European commissioner and UK politician, told the Financial Times.

Copyright The Financial Times Limited 2011.

Seria possivel viver sem governo? A Belgica diz que sim...

Seria o sonho dos anarquistas?
Não, apenas a incapacidade de "belgicanos" de se entenderem: suas tribos de flamengos e valões não conseguem montar um governo.
Melhor assim: deve dar menos despesas...

BÉLGICA SEM GOVERNO E ECONOMIA INDO DE VENTO EM POPA!
Coluna de Cesar Maia, 17/06/2011

1. A Bélgica completou um ano de impasse político que levou o país a ficar sem governo – um governo provisório está no controle do país desde junho de 2010. O impasse ocorreu por causa de disputas de poder entre representantes das comunidades de língua francesa e flamenga, que já vinham causando divergências entre os dois lados há décadas. Os dois partidos vencedores da última eleição geral não conseguiram superar suas divergências a respeito de uma reforma constitucional. O primeiro-ministro interino, Yves Leterme, renunciou em abril de 2010, mas ainda está indo ao trabalho.

2. Enquanto isto, no dia-a-dia, o país continua funcionando bem. Sua economia está crescendo, as exportações estão em alta, o investimento estrangeiro continua, a presidência do país da União Europeia em 2010 foi considerada um sucesso e a Bélgica também contribuiu para a operação da Otan na Líbia. Isto ocorre em parte pelo fato de que os governantes provisórios e seus funcionários públicos são gerentes eficientes, mas também pelo fato de que muitos poderes já foram devolvidos para os governos regionais e comunidades linguísticas da Bélgica.

3. Uma página na internet fez a contagem regressiva para o dia em que o país bateu o recorde, deixando até o Iraque em segundo lugar - o país precisou de 289 dias para ter um governo, em 2009. O site agora traz a frase: "Sim, belgas, nós conseguimos!".

4. Tecnicamente, isto pode durar até a próxima eleição federal, em 2014. Uma nova eleição geral pode ser convocada ainda este ano, a partir de setembro ou até em 2012, coincidindo com as eleições locais. Outra possibilidade é que o Parlamento comece a exercer mais iniciativa e o governo provisório assuma novos poderes. Com isso, este governo provisório pode durar outro ano.

Reforma da educacao no Brasil: propostas consistentes (Castro, Oliveira, Schwartsman)

O Plano Nacional de Educação, que está sendo debatido pelo Congresso, deve ser muito pior do que uma lista de Papai Noel: ele deve ser o sonho de todo sindicalista da educação, prometendo melhorias salariais imediatas e aperfeiçoamento gradual dos professores apenas (quando der, claro).
Eu teria sido muito mais radical do que o que propõem os autores abaixo, todos respeitáveis especialistas e que sugerem apenas medidas factíveis, que poderiam ser aplicadas se tivéssemos outro governo e outro congresso. Acho que nem isso será considerado ou tem mínimas chances de ser sequer discutido.
Eu adotaria, por exemplo, novas regras para contratação de professores, criando uma categoria (não uma carreira) à parte da atual carreira, sem estabilidade, mas com bons salários e vinculados ao desempenho dos alunos. Os "velhos" poderiam aderir à nova, mas mesmo na velha passariam a receber por desempenho, acabando com a maldita isonomia.
Enquanto isso não acontecer, a educação não vai melhorar.
Paulo ROberto de Almeida

PNE É LISTA DE PAPAI NOEL
CLAUDIO DE MOURA CASTRO, J. B. ARAUJO E OLIVEIRA e SIMON SCHWARTZMAN
Folha de São Paulo, 16 de junho de 2011

O Congresso deverá aprovar o terceiro Plano Nacional de Educação (PNE) até novembro. A proposta do Executivo poderá sofrer emendas, mas dificilmente será alterada sua essência. Os dois planos anteriores oscilaram entre utopias e inconsequências. Não se espera nada diferente agora. O plano atual é uma versão mitigada do mesmo.

O PNE foi elaborado em processo participativo, que culminou em um grande Encontro Nacional de Educação. Sindicatos, associações e ONGs foram chamadas a se pronunciar. Resultou numa enorme lista de Papai Noel, posteriormente resumida na proposta elaborada pelo Ministério da Educação.

Mas o Ministério não tem escolas de nível básico, tampouco instrumentos para convencer prefeitos a gastar o prescrito ou operar de modo diferente. O mesmo acontece com os Estados. No caso de universidades federais, elas são autônomas. A realidade é que não se muda a sociedade, ou a educação, com planos grandiosos e metas genéricas. Mais dinheiro não implica melhores resultados. São necessárias políticas consistentes e persistência na implementação.

Nos anos 90, o Brasil universalizou o ensino fundamental; desde então, continua a expandir a educação na pré-escola e no ensino médio. Mas ainda persiste em grande escala o analfabetismo escolar e funcional, e o abandono escolar entre adolescentes não se reduz.

A melhoria dos resultados do Pisa, em 2009, é boa notícia, porque nossa qualidade estava estacionada há décadas. Mas é pouco, pois 55% dos jovens de 15 anos nas séries apropriadas ainda não sabem o mínimo requerido de linguagem, e 73% desconhecem o patamar básico em matemática. Formamos muito poucos com alto nível de desempenho; com isso, comprometemos a competitividade do país.

Não é fácil sair dessa situação. A experiência internacional indica caminhos que precisam ser trilhados. Alguns deles são:

1 – Mudar o sistema de gestão das escolas públicas: mais autonomia e responsabilidade pelos resultados; novas formas de parceria público-privada e veto à influência político-partidária na designação de gestores e professores nas secretarias de Educação;

2 – Definir com clareza conteúdos dos currículos nos diversos níveis de ensino e alinhar os materiais pedagógicos e sistemas de avaliação;

3 – Exigir que todas as crianças sejam alfabetizadas no primeiro ano do ensino fundamental, valendo-se de metodologias e materiais pedagógicos testados;

4 – Rever o sistema de formação e carreira de professores, que devem dominar os conteúdos como condição de ingresso, passar por período probatório de prática supervisionada e por processo de certificação;

5 – Facilitar e estimular o acesso de profissionais de nível superior e de estudantes de pós-graduação ao magistério;

6 – Permitir que o ensino médio se diferencie na pluralidade de opções acadêmicas e profissionais e que o Enem se transforme em um conjunto de certificações correspondentes ao leque de opções;

7 – Eliminar o ensino médio no período noturno;

8 – Mudar o atual sistema de educação de jovens e adultos para um leque de certificações distintas, sobretudo de natureza profissional.

Sabe-se que a execução de medidas como essas irá depender da clara definição das responsabilidades dos três níveis de governo. Isso, mais a revisão de vários aspectos da Lei de Diretrizes e Bases, pode ser objeto de lei. Ainda caberia à esfera federal estimular iniciativas de reforma bem conduzidas. Dessa forma, sim, teremos uma perspectiva para melhorar a educação.

Aos favoraveis aos plebiscitos de criacao de novos estados...

Seria bom que eles já tomassem conhecimento que eles, os cidadãos de seus novos estados, e os próprios, já nascem com dívidas e com déficits, e que todos vão pagar caro pela manutenção de seus estados.
O que não quer dizer que já não paguem pelos velhos estados e pelas estruturas atuais. Isso é certo.
Mas, conhecendo o Brasil e seus políticos, é de se esperar que os cálculos do Ipea sejam modestos, e que meçam apenas os gastos obrigatórios, dos poderes constituídos.
Quem vai impedir as novas saúvas públicas de criarem novos, milhares, cargos em comissão, TV estadual, radio estadual, creches estaduais (estou sendo otimista, claro)?
Por isso eu digo: a situação fiscal no Brasil caminha para um abismo de impostos e dívidas...
Paulo Roberto de Almeida

Custo de novos estados no Brasil (Boueri)

Custos de funcionamento das unidades federativas brasileiras e suas implicações sobre a criação de novos estados por Rogério Boueri, publicado pelo IPEA. "Este trabalho procurou estimar os custos em termos de gastos públicos estaduais da formação de novos estados na federação brasileira. As estimativas apontam para um valor de R$832 milhões anuais, associados apenas ao custo fixo de manutenção de um estado no Brasil. Foi também estimado que cada habitante acresce R$564,69 ao gasto público estadual..." http://bit.ly/l22dSe

Divirtam-se, ou melhor, angustiem-se, desesperem, chorem...

iCloud: uma gigantesca nuvem musical (Economist)

USA internet: Apple ascendant
FROM THE ECONOMIST INTELLIGENCE UNIT
June 13th 2011

With the major record labels on its side, Apple's dominance of the digital music industry looks set to last.

Apple is not in the business of disappointing its fans, but more than a few have felt somewhat let down by the company's latest offering. Before last week's launch of iCloud, hopes were that Apple would unveil a subscription-based deal akin to Spotify's existing European service, which provides unlimited streaming of all labels' catalogues for a fixed monthly fee. Instead, fans got a service geared towards ensuring Apple's devices can access a user's music library from the cloud via downloads, not streaming. It appears a lot less ambitious.

But while iCloud may appear less innovative than earlier Apple offerings, the Cupertino-based company has undoubtedly shifted the ground in the music industry and created a platform that has the blessing of the record labels—something neither Google nor Amazon were able to do. Unlike its rivals' offerings, iCloud does not require customers to upload their music to the cloud. Instead, the service can automatically scan a user's music collection and match it to the iTunes store, which contains more than 18m tracks (users can upload tracks not available in the store). Known as iCloud Match, this feature will be available for an annual subscription fee of US$25 from this autumn (minus iCloud Match the service is free but limited to tracks bought from iTunes). Without the approval of the record labels, iCloud Match would not have been possible.

Yet the decision to allow all existing tracks to be included in Apple's new service has raised concerns about music piracy. Many observers have suggested the service could provide an amnesty for those who have previously engaged in illegal file-sharing activity. Conversely, some customers may worry that by handing over details of their listening habits and music collections they are being lured into a trap by Apple and the music industry. Clearly, this is the kind of information the Recording Industry Association of America (RIAA) would love to get its hands on if it was compelled to pursue further legal action. Apple, however, has insisted it will not provide specific details of users' libraries to the record labels—only aggregate information about total download volumes. More importantly, the fact the major labels have agreed the terms of the deal with Apple suggests they are ready to forget about the past and focus on the future.

Money for nothing?
That future looks promising. In his keynote speech at Apple's recent Worldwide Developer Conference, chief executive Steve Jobs noted that the era of the personal computer is coming to an end. The future, he reckons, will be all about mobile devices. That means the iPhone and iPad if Mr Jobs continues to get his way. With iCloud intended to run over these devices, the record labels are undoubtedly happy to ride on the back of Apple's current success and expected growth in this market. The four major labels have already secured an advance of around US$150m from Apple and will take a 58% share of subscription revenues from iCloud (music publishers will take 12% and Apple will keep the remaining 30%), giving them a substantial boost.

Clearly, if Apple remains dominant in the mobile devices market, then the record labels look set to benefit, and with little exertion on their own part. A survey conducted last year by market-research company NPD indicated that around 25% of iTunes users were interested in a cloud-based service, and that around half of those would be willing to pay US$10 a month for an unlimited streaming service supporting multiple devices.

With the record labels on board, Apple might soon be able to deliver the more ambitious music service that many were hoping to see launched last week. And if today's iCloud can deliver the user experience for which Apple is renowned, then a lot more people will be accustomed to paying for such a subscription service when Apple and the record labels feel ready to provide it. No doubt, Google and Amazon will be trying to get back into the game somehow, but for now iCloud looks by far the biggest and whitest musical cloud in the sky.

Novo Codigo Florestal do Brasil: muito barulho, sem dados...

Um artigo que esclarece as reais dimensões da questão:

Novo Código Florestal: uma guerra de números e de interpretações
Osvaldo Ferreira Valente*
portal EcoDebate, em 31/05/2011

Nesse período de discussão do novo Código Florestal, temos convivido com um festival de números e de interpretações dos seus significados; uma verdadeira guerra entre ambientalistas, de um lado, e ruralistas, do outro, já que infelizmente tem sido assim entendida, quando não deveria passar de divergências. E as divergências são próprias da democracia. Quando um grupo tenta impor sua vontade, seja de que lado for, ele manifesta comportamento ditatorial.
Como a discussão enveredou, também, para o lado da paixão e da emoção, os números perderam os parâmetros reais e passaram a flutuar de acordo com os interesses e as necessidades momentâneas de justificar posições e/ou de defender trincheiras. E tudo acabou virando um grande novelo de dúvidas e incertezas, que a sociedade não conseguiu conscientemente desfiar. As tentativas de entrar no jogo foram prejudicadas pelos palpites, boatos e informações desencontradas, tanto de um lado quanto do outro.
Feita esta introdução, vou desenvolver este artigo usando dados do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), da estrutura do Ministério do Meio Ambiente. O SFB publicou, em 2010, a obra intitulada “Florestas do Brasil”, com 152 páginas, muito bem ilustrada e com riqueza de informações sobre os nossos Biomas e as florestas naturais neles existentes (obra disponível em www.florestal.gov.br). Resolvi trabalhar um pouco com as informações ali existentes e compus um resumo para analisar aqui, que está no quadro abaixo. São, portanto, informações oficiais, de um órgão público ligado ao principal agente ambiental brasileiro.

O primeiro número que chama a nossa atenção é a porcentagem de florestas naturais existentes no país. Se depois de tantos anos de destruição desenfreada, conforme propalado constantemente, o Brasil ainda tem 59,8% de seu território coberto por florestas naturais, eu acho que continuamos muito bem na foto mundial. Ou deveríamos ter 70/80%, transformando nosso país em santuário natural da humanidade? Bem, tudo no mundo é relativo e cada um tem o direito de defender posições, mesmo que radicais, mas só não pode impô-las à sociedade. Se alguém acha que devemos ter mais do que temos, à luz dos números do SFB, deve defender sua posição com base em tal realidade e não na suposição de que já destruímos tudo. Abrindo um parêntese, e para não ficar em cima do muro, eu não acredito ser viável nenhuma proposta que venha a tornar intocável muito mais do que 50% do nosso território, numa composição entre Biomas, resguardando suas peculiaridades ambientais e suas necessidades socioeconômicas. E os 50% só alcançáveis porque eu aceito que a Amazônia merece um tratamento especial, com índice maior de proteção.
Quando passamos a analisar as situações dos Biomas, vale lembrar, inicialmente, que pela parafernália da legislação atual, eles deveriam ter as seguintes porcentagens de florestas naturais, como reserva legal: 80% na Amazônia, 35% no Cerrado e 20% nos outros quatro. Se imaginarmos, agora: 1) que todas as propriedades rurais brasileiras passem, em pouco tempo e como temem os ambientalistas, a se enquadrarem, por desmembramento, em pequenas (até quatro módulos fiscais), de acordo com a proposta do novo Código e, por isso, possam considerar a soma de APPs com reservas legais; e 2) que mesmo tendo tais possibilidades, elas estão proibidas, pelo novo texto aprovado na Câmara, de desmatar o que já existe. Chegaremos, então, à conclusão que já temos garantidos os 59,8% atuais de florestas naturais. Mas como muitas pequenas propriedades, mesmo que resultantes de desmembramentos, ainda terão que recompor parte de suas faixas ciliares e se adequarem, também, às exigências dos Biomas Cerrado e Pampa, que estão com percentuais menores do que os exigidos (Quadro 1), a tendência, portanto, é de futuro aumento das florestas naturais.
Aí estão os números oficiais, analisados sob os conceitos do antigo Código Florestal e do novo texto em andamento. Gostaria que pessoas contrárias às reformas viessem analisar estes dados dentro de suas visões e diversas da minha. Estou pronto para uma discussão em torno deles. As pessoas poderão até mesmo contestar os dados apresentados, apontando os erros ao SFB. Há na mídia a reprodução de dados muito diferentes, saídos não sei de que fontes. Talvez procedentes de meras especulações, do ouvir dizer etc.
Gostaria, finalmente, de deixar algumas dúvidas referentes a afirmações que tenho visto em artigos, depoimentos, manifestos, notas técnicas e outras formas de manifestação, sobre o seguinte:
1) Quanto à necessidade de recompor apenas 15 metros de área ciliar de cada lado de curso d’água de até 10 metros de largura (mas se já houver 30 metros, eles terão que ser mantidos). Não entendo, portanto, quando vejo muitas afirmações de que isso irá provocar desmatamento, pois o que vejo é o possível aumento das áreas florestadas. Ou estou errado? Onde está o meu erro? Quais as fontes que têm fornecido os números de 22 e até de 70 milhões de hectares que serão desmatados com a aplicação das novas regras propostas para as áreas ciliares?
2) Quanto à soma de APPS com reserva legal. O texto em andamento prescreve manter a situação atual consolidada, mas proíbe cortar florestas já existentes, ou seja, se uma pequena propriedade, no Cerrado, ao somar o que tem protegido encontrar mais do que 35%, mesmo assim estará proibida de cortar a floreta natural existente. Ou não é isso que está escrito lá? Onde tal princípio irá aumentar o desmatamento?
3) Se trabalharmos os dados do quadro, de maneira a deixar a Amazônia com 80% de área protegida e a Mata Atlântica com 20%, corrigirmos o déficit do Cerrado e do Pampa e conservarmos os valores para a Caatinga e o Pantanal, teremos 487,9 milhões de hectares, representando 57,3% do nosso território. Se, além disso, optarmos por conservar os atuais 26,8% da Mata Atlântica, chegaremos a 58,2% do território brasileiro. Precisamos de mais do que isso? Já não estaremos dando um ótimo exemplo para o mundo? Quais as justificativas reais para querermos mais do que 58/59%, isentas de emoção ou de viés apenas ambiental?
4) Por fim, há uma imagem estrangeira, principalmente na Europa, resultante de informações passadas por pessoas e organizações brasileiras ou aqui radicadas, de que o país está tomado por plantações de eucalipto. Aproveitando a publicação do SFB, ela traz, também, a informação de que as floretas plantadas ocupam apenas 0,8% do território nacional. De onde vem, então, a falsa percepção levada ao estrangeiro?
Este artigo é uma tentativa de trazer a discussão para os números reais, pois sinto que não tem havido esse interesse. Temos ficado num certo mundo virtual, exigindo (não propondo) a implantação de um modelo ambiental perfeito, que é um sonho difícil de ser sonhado. O mundo real é o mundo do possível e a conservação ambiental tem outros apelos fora das exigências legais, pois já existem muitas tecnologias de uso racional disponíveis e um corpo de profissionais competentes para novos desenvolvimentos e inovações.

* Engenheiro florestal, professor titular, aposentado, da Universidade Federal de Viçosa e especialista em hidrologia e manejo de pequenas bacias hidrográficas.