O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Jabuticabas brasileiras: na verdade, uma floresta de jabuticabeiras...

Inacreditável Brasil. O governo pensa que somos idiotas?
Acho que sim. Ele confia na ignorância fundamental do povo brasileiro -- no que não está muito errado -- para negligenciar essas grandes negociatas que se fazem em beneficio de mafiosos e partidos mafiosos...



Reinaldo Azevedo, 24/10/2011

O Brasil tem mesmo o regime tributário dos sonhos de qualquer governo autoritário. Opera com uma das mais elevadas cargas do mundo — especialmente sobre os ombros do cidadão comum, do trabalhador, do consumidor —, dispõe, no entanto, de um sem-número de licenças para desonerar este e aquele setores, que, por óbvio, se tornam logo amigos do rei. Leiam o que informa Leila Coimbra na Folha Online. Volto em seguida.
O governo vai enviar ao Congresso Nacional nos próximos 15 dias uma MP (medida provisória) prevendo um pacote de isenção tributária para o setor de telecomunicações. O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) disse nesta segunda-feira que dentre os impostos que serão reduzidos estão o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), PIS e COFINS. O objetivo, segundo o ele, é elevar os investimentos do setor. “A isenção vai vigorar até 2016 e achamos que as empresas vão antecipar seus planos de investimento até porque o mercado está forte e demandante”.
Ele calculou que o corte poderá chegar a 25% em alguns produtos, e que dentre os itens beneficiados com a queda do PIS e Cofins estarão, rádios, modens, construção de torres, dutos, fibra ótica e outros. Já a isenção de IPI valeria para a construção de redes, estações e subestações. Bernardo disse que com a o pacote fiscal os investimentos do setor poderão voltar ao patamar atingido logo após a privatização, no fim dos anos 1990. Hoje, segundo ele, as empresas aplicam perto de R$ 17 bilhões e a meta é atingir R$25 bilhões de investimento ao ano. “O faturamento no primeiro semestre das empresas foi de mais de R$ 100 bilhões e elas devem fechar o ano com um a arrecadação recorde”, disse o ministro.
Regiões menos favorecidas
Segundo o ministro, para uma empresa se beneficiar da isenção fiscal, porém, ela terá que se comprometer a investir em regiões menos favorecidas e com cobertura de serviço menor. “O critério que vamos adotar é que a empresa que fizer o investimento no chamado filé mignon vai ter que fazer também no Norte, Nordeste, que são áreas com menor rentabilidade, mas que precisam ser atendidas”, disse.
Bernardo explicou que ainda faltam alguns ajustes na MP. O documento estava sob análise no Ministério da Fazenda e chegou a sua pasta nessa segunda-feira. Depois de concluída, a MP será encaminhada à Casa Civil. “Até segunda-feira mandamos para a Casa Civil e depois vamos despachar com a presidente. Em mais ou menos em uns 15 dias mandamos para o Congresso”, disse.
Voltei
“Ó, regiões menos favorecidas! Quantos privilégios se concedem em teu nome! E quantas injustiças se praticam!” Digam-me cá: se houvesse um plano consistente de redução da carga tributária para sobrar mais dinheiro para investimento, não seria melhor para todos? Seria. Mas o governo prefere distribuir melhorias a alguns, ad hoc, porque assim vai constituindo os seus aliados.
Como foi que Paulo Bernardo justificou o pacote de isenções? Assim: “O faturamento no primeiro semestre das empresas foi de mais de R$ 100 bilhões, e elas devem fechar o ano com um a arrecadação recorde”. Certo! Então o setor precisa de incentivos por quê? “Ah, por causa das regiões menos favorecidas…” Ah, bom…
Há nas informações acima uma questão de lógica e outra que remete a um fato histórico, sobre o qual escrevi muitas vezes. Comecemos por esta. O ministro diz querer elevar os investimentos do setor ao patamar a que chegaram nos anos posteriores à privatização: R$ 25 bilhões por ano! Ah, bom! Então aquela cascata vigarista de que a Telebras foi privatizada a preço de banana era mesmo uma… cascata vigarista, não? Na conta da privatização — que Elio Gaspari, por exemplo, continua a chamar de “privataria”, contra os fatos — , deveriam ser computados os investimentos. E a questão de lógica: atingiu-se aquele patamar sem desoneração especial.
As teles sempre constituiriam peça de resistência das campanhas eleitorais do petismo. De certo modo, eles ganharam três eleições cavalgando a pilantragem de que a privatização da Telebras tinha sido um mal para o Brasil. Foi o grande bem, como sabemos. É por isso que, no poder, eles deixaram quase tudo como estava; no que mexeram, pioraram, permitindo fusões que diminuíram a concorrência. Devem achar agora que os tucanos foram muito severos com as teles. Por isso Bernardo vai lhes conceder isenções fiscais.
Eis o capítulo final de uma farsa. Fazendo um joguinho de palavras, eu diria que os tucanos, com evento, venderam a Telebras para o bem do Brasil. Os petistas estão comprando as teles para o seu próprio bem.

Chantagistas togados...

Sem comentários. O título do post diz tudo...
Estado de S.Paulo, 24/10/2011

O ministro Cézar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), recebeu comunicado oficial da Associação dos Juízes Federais (Ajufe) sobre a decisão da categoria de paralisar as atividades no dia 30 de novembro. O documento, 408/2011, entregue a Peluso na sexta-feira, destaca que os magistrados decidiram represar intimações e citações da União até um dia antes da greve.
Ofício com o mesmo teor foi encaminhado ao presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Ari Pargendler, e aos presidentes e corregedores dos 5 Tribunais Regionais Federais (TRFs) do País. Os juízes federais reforçam a posição de lutar por “direitos e prerrogativas constitucionais da magistratura, como segurança, estrutura de trabalho, saúde, previdência e política remuneratória”.
Segundo a entidade dos juízes, a concentração de atos processuais da União não envolve as ações urgentes, de concessão de benefícios previdenciários, de fornecimento de remédios pelo Serviço Único de Saúde (SUS) “bem como ações criminais que continuarão tendo suas intimações e citações realizadas diariamente sem que haja qualquer prejuízo à sociedade”.
Na carta a Peluso, eles argumentam que “conforme aprovado democraticamente em assembleia-geral ordinária, os juízes e desembargadores federais continuarão trabalhando normalmente, mas concentrarão as intimações e citações da União e suas autarquias em um único dia, 29 de novembro”.
Os juízes alegam que o Movimento de Paralisação da Magistratura Federal, durante a semana de conciliação promovida pelo Conselho Nacional de Justiça, “ocorre em defesa das sucessivas e constantes violações aos direitos e prerrogativas constitucionais”.


Addendum 25/10/2011: 
Um membro do CNJ apoia a greve dos magistrados

Por Frederico Vasconcelos, na Folha:
O juiz Fernando Tourinho Neto (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), membro do Conselho Nacional de Justiça, enviou mensagem a uma lista de discussão na internet conclamando juízes federais a represarem ações contra a União e a paralisarem os trabalhos em 30 de novembro. Tourinho assina o texto como vice-presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) e sugere que os magistrados se inspirem “na coragem e no destemor” da presidente Dilma Rousseff.
“A presidente Dilma, guerreira admirável, na época dos governos militares foi, com seus bravos companheiros, à luta, pegou em armas, para restabelecimento do Estado democrático de Direito”, diz. Sua posição colide com a do presidente do CNJ, Cezar Peluso, que considerou inadequada a manifestação. Tourinho diz que se algum processo sobre a greve for levado ao CNJ, ele não participará do julgamento.  Segundo ele, o presidente do CNJ “não poderia proibir a paralisação, justo direito de todo servidor”. Tourinho avalia que Peluso, também presidente do STF, somente alertou para consequências.
(…)

domingo, 23 de outubro de 2011

Os crimes do Japao em Nanjing, 1937 - um romance verdadeiro...


Recreating the Horrors of Nanjing




Ha Jin has a talent for first lines. Consider these, from his latest novel, “Nanjing Requiem”: “Finally Ban began to talk. For a whole evening we sat in the dining room listening to the boy.”
Jerry Bauer
Ha Jin

NANJING REQUIEM

By Ha Jin
303 pp. Pantheon Books. $26.95.
We do not know who Ban is, why he should have taken so long to speak or why his story has so compelled his as yet unknown audience. As he tells that story, we plunge abruptly into the horrors of the Japanese occupation of Nanjing, then the capital of China’s Nationalist government. It is December 1937. Ban is a Chinese teenager, a boy seized while on an errand for his American employer and forced to serve as coolie to a band of Japanese soldiers who are looting, pillaging and murdering their way across the city, with Ban a terrified witness to their atrocities.
Equally abruptly, the novel then takes us back to the previous month, to the frantic preparations for an evacuation of the government to Chongqing, following the retreating forces of Chiang Kai-shek. For the civilians who will be left behind, a safety zone is hastily organized. Madame Chiang’s piano is loaded into a truck and left for safekeeping in the institution at the heart of Ha Jin’s narrative, Jinling Women’s College.
This is fiction, but fiction that draws heavily on the historical record and in which many of the characters actually lived the events described. The narrator, Anling, a middle-aged Chinese woman, may be Ha Jin’s invention, but she serves as assistant to a well-documented real-life character, Minnie Vautrin, an American missionary from Illinois who served as acting head of Jinling College. Vautrin also figures in Iris Chang’s best-­selling account, “The Rape of Nanking,” one of the inspirations for Ha Jin’s portrait of the doomed city.
When Chiang Kai-shek abandoned Nanjing to the Japanese, a few Western nationals chose to remain. The Americans who stayed were mostly missionaries, among them the formidable Minnie Vautrin. Also present was John Rabe, the German representative of Siemens in Nanjing, a member of the Nazi party who led the extraordinary effort to set up the safety zone in which Jinling College and similar institutions became refugee camps, tenuously protected by the presence and personal courage of a tiny group of foreigners. It is to them that we largely owe the documentation of the rape, pillage, arson and murder that followed.
As a novelist, Ha Jin brings a cool, spare documentary approach to this rich trove of material. His narrative centers on Jinling, an attractively landscaped campus in the heart of the city. The college itself becomes a character, the early hope of its founders that it would be a premier seat of learning as much despoiled by the war as are the lives of those who love and labor within it. The college represents humanity and civilization, repeatedly violated and nearly destroyed.
Ha Jin begins with a fast-­moving accumulation of horrors as some 10,000 refugees cram into Jinling, which was prepared to receive around 2,500. The safety it offers is fragile: Chinese citizens are dragged off and killed by marauding Japanese troops, and young women are attacked on the campus itself. The occupants of the college struggle to find enough food, fuel and shelter for everyone in need, living in constant fear that the Japanese will overrun the place.
The Nanjing Massacre remains a highly controversial topic. Some in Japan still deny or play it down, and its re-­emergence in the 1990s as a prime example of wartime barbarity has been used by the Chinese government as it constructs a highly nationalist version of its history. But Ha Jin is more interested in nuance than polemic. He shows us the Christian Japanese officer who brings supplies for the refugees; the Nazi who saves a quarter of a million Chinese; the Chinese worker who admits that, under torture, he made a false accusation of collaboration against two Americans from the Red Cross; the Chinese doctor, consumed by self-­loathing because of his association with the Japanese, who helps Vautrin rescue Chinese prisoners.
Ha Jin also shows us how the family of Anling, the narrator, is torn apart — with a son-in-law fighting in the Nationalist army, a husband who still admires the Japan in which he once studied, an only son drawn into serving in the army of occupation because of his love for a Japanese woman.
Ha Jin also reminds us that heroism carries its own heavy price. Minnie Vautrin was to die by her own hand, burdened with guilt over those she had failed to save. This emotional turmoil is personified in the character of Yulan, a young woman who goes mad after being raped by the Japanese and accuses the missionaries of collaboration. Vautrin’s struggle to rescue Yulan doubles as a struggle for her own sanity.
The novel does contain some awkward phrasing. Ha Jin writes in his second language, English, a remarkable achievement but one that demands editorial vigilance. The reader is surprised at times to find contemporary slang in the mouths of Chinese characters speaking more than 70 years ago. Early on, for example, a Chinese man seeking shelter for his family is offered a job at the college and blurts out, “For real?”
This is the sort of misstep that can provide an unfortunate distraction in the course of an otherwise fine novel, a book that renders a subtle and powerful vision of one of the 20th century’s most monstrous interludes. The closing section, “The Grief Everlasting,” underscores Ha Jin’s message. There will be no happy ending here, and precious little healing.

Isabel Hilton edits the bilingual news, environmental and analysis Web site Chinadialogue​.net. Her most recent book is “The Search for the Panchen Lama.”

Quatro licoes de (des)economia, ou seja al reves - Gregory Mankiw

Não, o autor não tomou aulas de deseconomia com o Professor Chávez, que tem seu manual al revés, mas entende do assunto. Tanto porque tem um dos manuais de economia mais lidos do planeta, e conhece os programas dos candidatos, por trabalhar para um deles...

The New York Times, October 22, 2011

Four Nations, Four Lessons



AS the economy languishes, politicians and pundits are debating what to do next. When we look around the world, it’s hard to find positive role models. But as we search for answers, it is useful to keep in mind those fates that we would like to avoid.
The recent economic histories of four nations are noteworthy: FranceGreeceJapan and Zimbabwe. Each illustrates a kind of policy mistake that could, if we are not careful, presage the future of the United States economy. Think of them as the four horsemen of the economic apocalypse.
Let’s start with Zimbabwe. If there were an award for the world’s worst economic policy, it might well have won it several times over the past decade. In particular, in 2008 and 2009, it experienced truly spectacular hyperinflation. Prices rose so fast that the central bank eventually printed 100 trillion-dollar notes for people to carry. The nation has since abandoned using its own currency, but you can still buy one of those notes as a novelty item for about $5 (American, that is).
Some may find it hard to imagine that the United States would ever go down this route. But reckless money creation is apparently a concern of Gov. Rick Perry of Texas, who is seeking the Republican nomination for president. He suggested in August that it would be “almost treasonous” if Ben S. Bernanke, chairman of the Federal Reserve, were to print too much money before the election. Mr. Perry is not alone in his concerns. Many on the right fear that the Fed’s recent policies aimed at fighting high unemployment will mainly serve to ignite excessive inflation.
Mr. Bernanke, however, is less worried about the United States turning into Zimbabwe than he is about it turning into Japan.
Those old enough to remember the 1980s will recall that Japan used to be an up-and-coming economic superpower. Many people then worried (too much, in my view) that Japan’s rapid growth was a threat to prosperity in the United States, in much the same way that many people worry today (too much, in my view) about rapid growth in China.
The concerns about Japanese hegemony came to a quick end after bubbles in the real estate and stock markets burst in the early 1990s. Since then, Japan has struggled to regain its footing. Critics of the Bank of Japan say it has been too focused on quelling phantom inflationary threats and insufficiently concerned about restoring robust economic growth.
One of those critics was Mr. Bernanke, before he became Fed chairman. Watching Japanese timidity and failures has surely made him more willing to experiment with unconventional forms of monetary policy in the aftermath of our own financial crisis.
The economists in the Obama administration are also well aware of the Japanese experience. That is one reason they are pushing for more stimulus spending to prop up the aggregate demand for goods and services.
Yet this fiscal policy comes with its own risks. The more we rely on deficit spending to keep the economy afloat, the more we risk the kind of sovereign debt crisis we have witnessed in Greece over the past year. The Standard & Poor’s downgrade of United States debt over the summer is a portent of what could lie ahead.  In the long run, we have to pay our debts — or face dire consequences.
To be sure, the bond market doesn’t seem particularly worried about the solvency of the federal government. It is still willing to lend to the United States at low rates of interest. But the same thing was true of Greece four years ago. Once the bond market starts changing its mind, the verdict can be swift, and can lead to a vicious circle of rising interest rates, increasing debt service and budget deficits, and falling confidence.
Bond markets are now giving the United States the benefit of the doubt, partly because other nations look even riskier, and partly in the belief that we will, in time, get our fiscal house in order. The big political question is how.
The nation faces a fundamental decision about priorities. To maintain current levels of taxation, we will need to substantially reduce spending on the social safety net, including Social SecurityMedicareMedicaid and the new health care program sometimes called Obamacare. Alternatively, we can preserve the current social safety net and raise taxes substantially to pay for it. Or we may choose a combination of spending cuts and tax increases. This brings us to the last of our cautionary tales: France.
Here are two facts about the French economy. First, gross domestic product per capita in France is 29 percent less than it is in the United States, in large part because the French work many fewer hours over their lifetimes than Americans do. Second, the French are taxed more than Americans. In 2009, taxes were 24 percent of G.D.P. in the United States but 42 percent in France.
Economists debate whether higher taxation in France and other European nations is the cause of the reduced work effort and incomes there. Perhaps it is something else entirely — a certain joie de vivre that escapes the nose-to-the-grindstone American culture.
We may soon be running a natural experiment to find out. If American policy makers don’t rein in entitlement spending over the next several decades, they will have little choice but to raise taxes close to European levels. We can then see whether the next generation of Americans spends less time at work earning a living and more time sipping espresso in outdoor cafes.

N. Gregory Mankiw is a professor of economics at Harvard. He is advising Mitt Romney, the former governor of Massachusetts, in the campaign for the Republican presidential nomination.

sábado, 22 de outubro de 2011

Cumprimentos aos argentinos; pesames aos argentinos...

Como diria um filósofo, as consequências sempre vêm depois...
Brilhante, não é mesmo?
Pois é, os argentinos estão de parabéns por realizar as sétimas (se não estou enganado) eleições presidenciais democráticas desde o fim da última ditadura (e foram várias, quase tantas quanto os regimes democráticos) e por escolher em total liberdade seus presidentes. Nem sempre os resultados foram brilhantes, ou as transições pacíficas, mas é preferível ter líderes incompetentes, alguns até desonestos, do que ditadores eficientes.
Ao mesmo tempo, tenho de dar meus pêsames aos argentinos: parece que ainda não encontraram um caminho estável de crescimento com desenvolvimento social, ou seja, baixa inflação, sem manipulação cambial, com bom comportamento das contas públicas e abertura ao comércio e investimentos.
Desejo, sinceramente, que eles se recuperem no plano econômico (o que vem ocorrendo, mas gerando várias distorções que vão se manifestar no futuro) e sobretudo no plano político.
Em face dos nossos políticos e políticas, talvez não tenhamos nenhuma lição a dar aos argentinos, mas sempre podemos aprender com o que eles fizeram de errado, como manipular a inflação e recorrer ao protecionismo.
Paulo Roberto de Almeida

II Guerra Mundial: cinco livros sobre o seu início - Wall Street Journal

O WSJ sempre publica os "five best books on..."
Sempre bom...


Five Best: The Beginnings Of World War II

The Life of Neville Chamberlain
By Keith Feiling (1946)
Since the late 1930s, Neville Chamberlain has had a bad press as the man whose misjudgment of Hitler and hesitation to re-arm hastened the outbreak of World War II. Yet Keith Feiling, the first to write a full biography of Chamberlain after the war, painted a more sympathetic and realistic portrait of a British prime minister who hated war and had a single-minded belief that he was the man who could save the peace. Ironically, Chamberlain's sudden decision in March 1939 to guarantee Polish sovereignty created conditions that made war more likely than ever. Feiling shows a man tortured by a situation from which he could not escape; Chamberlain resigned in May 1940 and died six months later. The last years of his life were ones of high drama for a most undramatic man.
The Origins of the Second World War
By A.J.P. Taylor (1961)
Probably the most controversial book ever written on the roots of World War II. A.J.P. Taylor (1909-90) deliberately set out to challenge the idea that Hitler was a monster bent on war at all costs. Taylor saw Hitler as yet another German imperialist like Bismarck. Like many of his generation, Taylor blamed the German army, with its roots in Prussian militarism, for the crises of both world wars; he did not understand radical nationalism. He never grasped the terrible imperatives of modern ideology and had no place in his argument for the fate of the Jews. For all these misjudgments, there is one significant and enduring merit to Taylor's book: He was the first postwar historian to acknowledge that it was Britain and France who declared war, and to ask why—stimulating a search for British and French motives that has resulted in a more complete understanding of that terrible time.
Getty Images
Neville Chamberlain.
Hitler Strikes Poland
By Alexander Rossino (2003)
Alexander Rossino's grim account of the German invasion of Poland and of the horrors perpetrated almost immediately by the German armed forces and security units shows how fully Hitler's war, even in its earliest days in 1939, differed from previous European wars. Brutal ethnic tension in the Polish-German borderlands created a febrile atmosphere in the months before the war. Poles reacted to German invasion by perpetrating atrocities of their own against Polish Germans, and the German invaders were no less savage. Rossino offers a detailed, blow-by-blow account of how resentful German nationalism was used to justify the slaughter of Polish intellectuals, the Polish national elite and Polish Jews, well before the death camps were established. Much of the work was done by Hitler's Einsatzgruppen, security squads assigned not to fight but to murder suspected enemies of the new German Reich. Within days of the invasion, the Germans were already engaged in what came to be known in 1945 as crimes against humanity.
Berlin Diary
By William Shirer (1941)
Among the most vivid English-language accounts of the final days of European peace and the beginning of war is journalist William Shirer's diary, first published in 1941. As a reporter based in Europe in the 1930s, Shirer was a close observer of conditions in the Third Reich and a strong critic of Nazism. A few days before the German invasion of Poland, he went to Danzig to meet Poles there and found them determined to fight at all costs. Shirer was back in Berlin when the invasion began. The outbreak of World War I had been marked by excited, war-fever euphoria, but now Germans knew what a European conflict might entail. Shirer walked in Berlin's autumn sun and found "on the faces of the people astonishment, depression." His diary is a reminder that it is politicians, not the people, who make war.
The Triumph of the Dark
By Zara Steiner (2010)
Every now and again, a book comes along that merits being called "definitive." Zara Steiner's "The Triumph of the Dark" is the most thorough, wide-ranging and carefully argued narrative available on the tumultuous decade that ended in world war. Every historian of the period will stand in Steiner's debt. Not everyone will agree with some of her arguments. Steiner is particularly tough on Neville Chamberlain, taking him to task for being so blinded by anticommunism that he failed to appreciate how a British-French-Soviet alliance in the 1930s might have stopped Hitler's military expansion. That was Churchill's view too, so she is in good company. Whether Stalin would have signed up, of course, remains open to question. But reading Steiner on the subject at least provides the comforts of contemplating an alternative storyline, one in which the dark does not triumph.
—Mr. Overy is the author of "1939: Countdown to War," now out in paperback.

Capitalistas promiscuos: uma parte do custo da corrupcao...

Vejam a materia abaixo, aparentemente anódina e supostamente favorável a um capitalista empreendedor -- parece redundância, mas no Brasil não é -- como é esse famoso bilionário que só faz crescer sua fortuna, em empreendimentos diversos.
Este post deve ser lido em conjunção com o anterior, sobre o custo da corrupção no Brasil.
Acredito, sincera e fundamentadamente, se ouso dizer, que esse tipo de "notícia" também faz parte do custo da corrupção no Brasil. Primeiro, pelo lado da "ajuda" pública, geralmente fruto de lobbies ativos e da corrupção natural dos políticos. Segundo, pelo dinheiro que depois vem irrigar o caixa dos partidos e o bolso dos mesmos políticos.
Tudo isso representa um custo direto e indireto para a economia e os brasileiros (que são os que pagam por produtos mais caros e não tem os serviços públicos correspondentes aos seus impostos). Diretamente porque os bens poderiam ser mais baratos e de melhor qualidade, se as coisas funcionassem em bases de mercados livres, o que não é o caso no Brasil. Indiretamente por que os brasileiros sustentam um dos Estados mais caros do mundo, um que extrai dois quintos da renda de cada um e devolve talvez miseráveis percentuais sob a forma de serviços públicos, o resto sendo canalizado para o próprio sistema estatal (políticos, membros do judiciário, burocratas, professores, em graus diversos de "coleta") e para "empreendedores" como o que é retratado abaixo.
A corrupção terá vida longa no Brasil. Infelizmente.
Paulo Roberto de Almeida


Eike quer se associar a fabricante de iPads
Chico de Gois
O Globo, 22/10/2011
O presidente do grupo EBX, Eike Batista, reuniu-se ontem com a presidente Dilma Rousseff e com os ministros do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, para dizer que tem interesse em participar do empreendimento da taiwanesa Foxconn, que pretende produzir tablets da Apple no Brasil. Porém, segundo Eike, faltam concluir estudos para saber se é viável ou não associar-se à empresa, um investimento que poderia chegar a US$4 bilhões.
Em abril, durante visita da presidente Dilma Rousseff à China, a Foxconn, maior fabricante de eletroeletrônicos do mundo, anunciou que pretende investir US$12 bilhões no Brasil nos próximos anos, em várias unidades de produção, criando dez mil empregos.
Mercadante disse que o governo, neste momento, está formando a parceria de capital brasileiro para que haja transferência de tecnologia. Para viabilizar a nova fábrica — cujo local de instalação ainda não está definido — é necessário ter também sócios tecnológicos. Mercadante afirmou que a Positivo e a SempToshiba estão interessadas na empreitada. A EBX seria o sócio estratégico.
— O Terry Gou (presidente da Foxconn) é um grande empresário, como eu também, e existiu uma empatia que é sempre muito importante. Estamos estudando. Acho que participar e trazer essa tecnologia para o Brasil é algo que o grupo faz sempre e queremos participar deste empreendimento também — disse Eike, informando que já esteve reunido com Gou.
Embora ainda não tenha claro quanto precisaria investir para se associar à Foxconn, Eike afirmou que as três fases do projeto poderiam custar US$4 bilhões.
— Mas estamos elaborando ainda. Esses números não temos em detalhe — observou.
Se decidir participar, a EBX seria a sócia nacional do empreendimento.
— Acho que esse negócio de tecnologia é bom que se faça transferência, como é o objetivo deste projeto, e que com capital brasileiro, no fundo, passa a ser patrimônio brasileiro. Eike disse que o negócio interessa porque o Brasil tem potencial enquanto mercado, justamente num momento em que as economias da Europa e dos Estados Unidos patinam.

Custo das corrupcao no Brasil: 2.3% do PIB (mais ou menos...) - revista Veja

Difícil medir a corrupção, não é? Afinal de contas, corruptos se apropriam dos recursos públicos (e não só dinheiro) por diversos meios, em todas as oportunidades disponíveis.
E não é só moeda sonante desviada para uma conta pessoal: geralmente é o uso indevido de recursos do patrimônio público, como transportes, diárias, bens diversos...
A revista Veja tenta estimar quanto se rouba no Brasil. 
Chegou ao valor de R$ 82 bilhões, e eu acho que é mais do que isso.
Com base no que observo todos os dias, enquanto funcionário público federal, estimo que deve ser muito mais do que isso, a começar por salários excessivamente elevados para uma produtividade vergonhosamente baixa.
Se fossemos estimar, por exemplo, o valor do trabalho (homem/hora) do funcionário público, comparativamente a tarefas equivalentes no setor privado, ou seja, se formos estimar o trabalho funcionalmente equivalente em um e outro setor, chegaríamos à conclusão de que o serviço público tem um custo DUAS VEZES mais elevado (talvez mais) do que se o mesmo serviço fosse prestado em bases de mercado.
Estou, sim, acusando o serviço público de ser perdulário com os recursos da população, inclusive os meus próprios, claro, que também pago impostos que considero excessivos para serviços públicos literalmente vagabundos de que dispomos como educação, saneamento, saúde e outros bens coletivos.
Portanto, o valor estimado por VEJA é apenas uma parte do problema, aquela monetizável, com base no orçamento. Eu estou estimando o CUSTO REAL, TOTAL da corrupção, que é também uma corrupção moral, uma indignidade ética, um comportamento desonesto da maior parte dos brasileiros.
Não estou, portanto, isentando cada um de nós pelo ambiente de lassitude moral que existe no Brasil.
Somos em grande parte responsáveis pelos ladrões que existem no serviço público. Tenho plena consciência disso, e acho que vai demorar um pouco para que isso seja corrigido.
Enfim, termino com o masoquismo complacente, e vamos para a matéria da Veja.
Paulo Roberto de Almeida


O custo da corrupção no Brasil: R$ 82 bilhões por ano
Revista Veja, 22/10/2011
Nos últimos dez anos, segundo estimativas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), foram desviados dos cofres brasileiros R$ 720 bilhões. No mesmo período, a Controladoria-Geral da União fez auditorias em 15.000 contratos da União com estados, municípios e ONGs, tendo encontrado irregularidades em 80% deles. Nesses contratos, a CGU flagrou desvios de R$ 7 bilhões - ou seja, a cada R$ 100 roubados, apenas R$ l é descoberto. Desses R$ 7 bilhões, o governo conseguiu recuperar pouco mais de R$ 500 milhões, o que equivale a 7 centavos revistos para cada R$ 100 reais roubados. Uma pedra de gelo na ponta de um iceberg. Com o dinheiro que escoa a cada ano para a corrupção, que corresponde a 2,3% de todas as riquezas produzidas no país, seria possível erradicar a miséria, elevar a renda per capita em R$ 443 reais e reduzir a taxa de juros.
(…)
As principais causas da corrupção são velhas conhecidas: instituições frágeis, hipertrofia do estado, burocracia e impunidade. O governo federal emprega 90.000 pessoas em cargos de confiança. Nos Estados Unidos, há 9.051. Na Grã-Bretanha, cerca de 300. “Isso faz com que os servidores trabalhem para partidos, e não para o povo, prejudicando severamente a eficiência do estado”, diz Cláudio Weber Abramo, diretor da Transparência Brasil.

Há no Brasil 120 milhões de pessoas vivendo exclusivamente de vencimentos recebidos da União, estados ou municípios. A legislação tributária mais injusta e confusa do mundo é o fertilizante que faz brotar uma rede de corruptos em órgãos como a Receita Federal e o INSS. A impunidade reina nos crimes contra a administração pública. Uma análise de processos por corrupção feita pela CGU mostrou que a probabilidade de um funcionário corrupto ser condenado é de menos de 5%. A possibilidade de cumprir pena de prisão é quase zero. A máquina burocrática cresce mais do que o PIB, asfixiando a livre-iniciativa. A corrupção se disfarça de desperdício e se reproduz nos labirintos da burocracia e nas insondáveis trilhas da selva tributária brasileira.

Quer dirigir em Shanghai? Pague US$ 8.000 primeiro

Se você quiser ter um carro em Shanghai, e dirigir na cidade (o que parece uma obviedade, não é?), pode até comprar um por mais ou menos 10 mil dólares, mas vai ter de pagar um pouco, digamos um pouco bastante (US$ 8.438), para ter a sua licença, ou placa, whatever...
Realismo socialista? Não. Apenas redistribuição dos espaços disponíveis num sentido totalmente capitalista. Assim deveria ser, num mundo racional. Nem sempre é assim, porém, pois políticos adoram fazer demagogia, transformando a vida de todos numa situação de menor bem-estar relativo.
Paulo Roberto de Almeida 



Car plate prices near all-time high


By Jin Jing
Shanghai Daily. 23/10/2011
CAR plate prices in Shanghai increased in October with the lowest successful bid close to the all-time high set nearly four years ago.

Although the number of bidders dropped from a month earlier, the average price of a license plate climbed to 54,008 yuan (US$8,438), 1,386 yuan more than in September, according to auction organizer Shanghai Commodity International Co.

The lowest price rose 1,600 yuan to 53,800 yuan. 

Car plate prices have increased every month this year. The average price this month was the third highest on record -- only the 56,042 yuan in December 2007 and 54,317 yuan in November that year have been higher.

About 9,000 car plates were available for auction this month, down 500 from September. 

The number of bidders in October fell below 20,000 for the first time this year. About 19,415 people participated in the auction, down 2,853 from September. 

"Many potential buyers changed their minds after seeing the price hit a 45-month high last month," said Li Jing, a dealer at the city's trading market.

Li also said prices still went up because many bidders who failed to get a plate in previous auctions had one final chance before their bidding qualification expired.

The bidding qualification offers car owners three opportunities to bid within six months.

"Owners of mid-to-high end vehicles, which have sold well this year, are also not so price sensitive," Li added.

Shanghai is the only city nationwide that offers the car plate through an auction system in an attempt to limit vehicles on the roads. 

Demand for plates has been strong this year after the city government placed restrictions on out-of-town plates as part of traffic control efforts.

Brics: pequeno debate sobre seu papel mundial - Paulo R. Almeida e Alexander Zhebit

Registro aqui, em primeiro lugar, o comentário de Alexander Zhebit a meu artigo sobre o papel dos Brics na atual conjuntura mundial de crise -- neste artigo de Mundorama --, fazendo-o seguir de meus próprios comentários-resposta.
Quem desejar se associar ao debate, sinta-se livre para enviar-me comentários neste post, aos quais darei o devido destaque, em função de argumentos substantivos.
Grato ao Alexander pela atenção demonstrada, mas como se verifica pela minha resposta, ainda não sou capaz de aderir à essência de sua posição.
Paulo Roberto de Almeida

Uma resposta to “Os Brics na nova conjuntura de crise econômica mundial, por Paulo Roberto de Almeida”

Alexander Zhebit        11/10/2011 às 11:31 am
Parabenizando o autor pelo ensaio conceitual e profundo e concordando com muitas teses dele, gostaria de ressaltar que a plataforma ideacional da aproximação dos BRICS não é econômica, embora a ideia da correlação entre os BRICS se origine do estudo econômico da Goldman Sachs, mas é axiológica. BRICS, uma rede transgovernamental de governança ad hoc, persegue principalmente o objetivo alternativo da reconstrução da ordem internacional que entrou em obsolência. O fato de acolher no seu grupo a África do Sul, incompatível com os outros BRIC em termos econômicos e populacionais, mas muito útil no sentido de representatidade de alter mundo, demonstra esta sua ânsia de alteratividade em nível mundial. É indiscutível que a proposta de prestar assistência financeira à Europa, descartada logo em seguida, teve uma intenção propagandística, o que em si não desmente a capacidade acrescida de auxílios financeiros pelos BRICS, devido à elevação da cota de participação e do peso de votação dos BRICS no FMI.


Comentário-resposta de Paulo Roberto de Almeida:


Agradeço ao Alexander Zhebit pelo seu comentário e como é de meu estilo -- sem qualquer floreio verbal ou hipocrisias relacionais -- vou direto ao assunto central, que se prende não às concordâncias entre ambos, mas ao ponto que nos separa.
Alexander pretende que a "plataforma ideacional dos BRICS não é econômica (...), mas é axiológica". Esta plataforma, segundo ele, "persegue principalmente o objetivo alternativo da reconstrução da ordem internacional que entrou em obsolência" (sic). Os Brics, nessa concepção, demonstram "ânsia de alteratividade em nível mundial" (sic, novamente, mas por razões substantivas).
Enfim, deixo de lado essa questão de ajudar ou não os caloteiros de fato (Grécia) e de intenção (Portugal e talvez outros) de uma Europa arrastada pela crise que ela própria criou -- e que para mim tem pouco a ver com a crise original americana -- pois esse ponto é absolutamente irrelevante para o ponto central que pretendo discutir, o que faço a partir de agora.


A questão relevante, expressa tanto na criação dos Brics e nos argumentos de certos acadêmicos, como talvez seja o caso de Zhebit, é o fato de os Brics representarem, supostamente, um modelo alternativo, uma contestação da ordem global, uma proposta de um mundo diferente, do que o existente atualmente, feito pelas potências que emergiram economicamente no meio século que decorreu desde a Segunda Guerra (algumas ascendentes, outras declinantes). 
Seria essa tal de "alteratividade em nível mundial", para construir uma "nova ordem", substituindo a velha, que teria entrado em obsolescência. Isso corresponde, em termos um pouco mais elegantes e refinados, ao que vêem fazendo os tais alternativos, o pessoal do "outro mundo possível", com sua recusa da globalização capitalista e suas demandas por um mundo menos desigual e imperfeito, mais solidário, não assimétrico, justo e humano.
Bem, se não for isso que Alexander Zhebit pretende, desde já me desculpo pela má interpretação de suas palavras, mas o fundo da questão é que ele pretende que os Brics representem uma proposta nova, supostamente melhor do que a que está aí (que aliás não foi proposta por nenhum comitê acadêmico, nem por algum diretório do poder mundial, mas que simplesmente surgiu, em decorrência de movimentos reais, nos campos militar, econômico, tecnológico, financeiro, etc.).


Meu problema com os sonhadores acadêmicos -- e desde já me desculpo pela designação, mas ela corresponde ao que imagino ser verdade, ou seja, acadêmicos passam seus conceitos e vontades acima e além da realidade dos fatos -- e também com os proponentes e sustentadores dos Brics é essa capacidade que eles têm de enganar a si próprios e de pretender, no mesmo movimento, enganar aos outros.
Como sou um realista-idealista -- depois explico o que seria isso -- fico na modesta racionalidade dos fatos, nos elementos materiais e nas expressões de poder real, de capacidade material e de determinação dos movimentos efetivos do mundo real, que constato visualmente e por leituras do que ocorre no mundo, e deixo essas elaborações mentais de lado, por mais elegantes e mais atrativas que elas possam ser.


Pois bem, qual é o meu problema com os Brics, com o conceito e com a realidade?
Eu começaria por dizer que os Brics não existem, embora isso possa parecer exagerado, e correndo o risco de que me tomem por maluco. Mas corro o risco e reincido no argumento.
Os Brics não existem, por mais reuniões de alto nível e de coordenação ministerial que tenham feito e por mais esforços que façam para afirmar sua realidade.
Em primeiro lugar se trata de uma construção artificial, feita por um analista de banco de investimentos, para justificar direcionamento de capitais e oportunidades de ganhos, com base em algumas constatações simplórias: tamanho, crescimento, influência crescente em determinados mercados, etc.
Pois foi com base nesse tipo de argumento instrumental, que responsáveis políticos de dois dos Brics -- Rússia e Brasil -- decidiram, por motivos os mais diversos, mas por vezes coincidentes, e certamente oportunistas do ponto de vista político-diplomático, decidiram transformar essa construção mental em realidade diplomática. Que seja: os homens, mormente os políticos, têm todo o direito de transformar sonhos e vontades em realidades, e de proclamar objetivos conjuntos na busca de realização de seus objetivos reais.
E quais são esses objetivos reais? Obviamente aumentar o seu poder, relativo e absoluto, tanto interna, quanto externamente. Ponto, parágrafo.
Os Brics, individualmente ou coletivamente, só pretendem isso, só sonham com isso, são dominados por essa ideia obsessiva: aumentar seu poder, ponto.
E o que se opõe a esse objetivo?
Nada, a não ser sua própria falta de capacidade.
O que fazer então?
Bem, o caminho mais lógico é crescer, inovar, aumentar seu poder financeiro, fazer investimentos em outros países, propor respostas a problemas comuns, oferecer soluções a determinados dramas planetários, enfim, se fazer forte, grande e belo, e como tal admirado por todos, suscetível de despertar invejas, ter a pretensão de ver outros imitando-o e desejando se aproximar de si, para aproveitar um pouco de todas essas bondades e felicidades.
Afinal de contas, ninguém quer ser um fracasso, objeto de desprezo, negligenciado, não é mesmo.
Como qualquer ser humano narcisista, os Brics querem ser admirados, mas também querem ter o poder de influenciar os outros.


Essa é a minha versão -- realista crua -- dessa tal de "alteridade" proclamada por alguns analistas. O que fazer com ela? Nada, pois versões de acadêmicos têm menos importância, para mim, do que a verdade dos fatos.
A verdade dos fatos é que os Brics gostariam de diminuir o poder dos atuais poderosos para aumentar o seu próprio. Tem sentido isso? Pode ter, sobretudo se não significar uma ação puramente negativa, de diminuição compulsória do poder de outrem, e sim positiva, de aumentar o seu próprio poder, em conjunção com a prosperidade conjunta, numa perfeita interdependência econômica global. Esse seria o mundo ideal.
Mas nem sempre funciona assim, pois os poderosos do momento detêm certas regras normativas e bloqueiam um processo de redistribuição do poder mundial.
Certo, mas a solução, então, é crescer e oferecer suas propostas, que precisariam ser melhores do que as existentes, para vê-las então serem aceitas pelo conjunto de participantes da ordem mundial. 


E o que têm os Brics a oferecer de melhor para a ordem mundial?
Um mundo mais feliz, e gentil, mais pacífico, mais próspero, mais respeitador dos valores democráticos, dos direitos humanos, com maior aceleração da criação de riqueza e mecanismos consensuais para sua distribuição, um mundo mais educado, mais limpo, menos poluído, mais seguro, sem bandidos, sem proliferadores, ou violadores dos direitos humanos, enfim um mundo mais perfeito do que o atualmente existente?


Se os acadêmicos, e os patrocinadores dos Brics me provarem que é isso que ambos pretendem, que essa "nova ordem", essa alteridade prometida, esse "outro mundo possível" que ele prometem ou anunciam é melhor do que o atualmente existente, então eu estou de acordo com a tal de proposta axiomática, e passarei a achar que os Brics, essa última novidade no supermercado da História, é uma maravilha, um emplastro glorioso que merece ser promovido, propagandeado e sustentado -- academicamente e politicamente -- e vou então dar a mão à palmatória e só escreverei coisas boas a respeito dos Brics.


A julgar, porém, por certas votações e propostas de resoluções no Conselho de Segurança da ONU, eu só posso chegar à conclusão de que o mundo dos Brics não é tão perfeito assim, que em face de certos problemas reais eles preferem a recusa, a inação, a omissão, em lugar de assumir certas responsabilidades, que eles são por um mundo de perfeita aceitação da soberania absoluta das nações (ou melhor, dos Estados), em oposição aos direitos dos individuos, dos cidadãos, dos simples direitos humanos.
Enfim, o mundo é cruel e arbitrário, todos sabemos, embora algumas situações sejam mais cruéis e arbitrárias do que outras: massacres de civis, por exemplo.
Meu critério é o do indivíduo, não do Estado, e é isso, acho, que me separa da maior parte desses analistas de Brics, que acham que a proposta deles é melhor do que a atualmente existente.
Sinto muito discordar, mas ainda não acho que o mundo dos Brics é melhor do que o atualmente existente.
Sempre quando os analistas e proponentes me PROVAREM que o mundo dos Brics é capaz de garantir tudo aquilo de bondades, que eu descrevi cinco parágrafos acima, estou pronto a revisar minhas concepções e apoiar as propostas dos Brics. Até lá, fico com a modesta racionalidade de meus argumentos.
Grato a todos pela atenção,
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 22/102011