O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Carta Internacional - revista da ABRI: chamada para artigos


Chamada de artigos – Revista Carta Internacional – ABRI

A Associação Brasileira de Relações Internacionais – ABRI informa que a Revista Carta Internacional, fundada pela Universidade de São Paulo, passa a ser a partir de 2012 uma publicação da associação, A Revista é semestral e aceita contribuições na forma de artigos científicos sobre temas da agenda internacional contemporânea. As normas de colaboração são as seguintes:
DIRETRIZES PARA AUTORES
1. Os artigos devem ser inéditos e podem ser escritos em português, espanhol ou inglês.
2. Os artigos devem conter em torno de 50 mil caracteres (incluindo espaços e notas de rodapé).
3. As notas de rodapé restringem-se a esclarecimentos adicionais ao texto;
4. Observar o sistema Chicago (autor, data), de acordo com os exemplos abaixo:
Para Artigos:
CERVO, Amado L. (2003) Política exterior e relações internacionais do Brasil: enfoque paradigmático. Revista Brasileira de Política Internacional, Vol. 46, Nº 1, 2003, p. 5-25.
Para Livros:
SARAIVA, José Flávio S. , Ed. (2003) Foreign Policy and Political Regime. Brasília: IBRI, 364 p.
Para documentos eletrônicos:
PROCÓPIO, Argemiro (2007). A hidropolítica e a internacionalização amazônica, publicado em Mundorama.net [http://mundorama.net/2007/09/13/a-hidropolitica-e-a-internacionalizacao-amazonica/]. Disponibilidade: 18/09/2007.
5. Os artigos devem vir acompanhados de: título em português e inglês / resumo e abstract / palavras-chave e key words. No caso de artigo em língua estrangeira, na língua original e em português.
6. As submissões devem ser feitas pelo e-mail carta.abri@gmail.com, em editor de textos de uso universal.
7. A publicação de qualquer contribuição está condicionada a parecer positivo de pareceristas externos e do Conselho Editorial e Consultivo da Carta Internacional.

Relatos da Imigracao Alema no Brasil, sec. XIX

Cartas e relatos do início da imigração alemã ao Brasil


É difícil imaginar como era a vida dos imigrantes que desbravaram as matas virgens da região sul do Brasil a partir de 1824. Nesse sentido, para mostrar esses momentos, o jornalista e escritor Felipe Kuhn Braun traz, em seu quarto livro, Cartas e Relatos de Imigrantes Alemães, publicação do autor, importantes testemunhos de época na forma primária e direta de cartas e relatos escritos pelos imigrantes alemães no decorrer do século XIX.

Infelizmente, a maioria das cartas que chegaram aos imigrantes não foram preservadas, ao contrário daquelas que os imigrantes enviaram para a Alemanha. Depois de dez anos de pesquisas, Braun compilou essas cartas para publicação, a fim de preservá-las para as futuras gerações. Por acreditar que só os próprios imigrantes conseguiriam relatar suas vivências com tanta exatidão, descrevendo as dificuldades e o modo de vida daquela época, Felipe decidiu-se pela publicação sistemática dessas cartas, como forma de expressar e comunicar as vivências dos imigrantes.

As primeiras cartas são dos anos iniciais do processo de colonização alemã no sul do país. São cartas trocadas pelas famílias Tatsch, Kayser, Friedrich, Gerhard, Elicker e Franzen. Nas cartas, eles escrevem sobre a saída da Alemanha, a dor e a saudade da despedida, sobre a longa e cansativa viagem de três meses, bem como sobre os falecimentos em alto mar. Também sobre a chegada no Rio de Janeiro e posteriormente no Rio Grande do Sul, sobre a hospedagem na casa da Feitoria em São Leopoldo, sobre o começo dos trabalhos na mata virgem e as dificuldades com os índios. São relatos carregados de palavras e descrições sobre sentimentos como fé e perseverança.



Na segunda parte do livro, estão publicadas cartas do segundo período da imigração, que se iniciou após o término da Revolução Farroupilha. São as cartas dos imigrantes Claeser, Ritter, Schuh e Brill. Os relatos, as narrativas e as memórias são dos imigrantes Mathias Schmitz, Friederika Müller Nienow, Maria Margaretha Schäffer, Heinrich Fauth e Heinrich Georg Bercht. 


Começo na mata virgem. Fotografia  tirada por volta de 1880
Braun dá voz a personagens que ficaram esquecidos, inclusive nos estudos sobre colonização alemã, já que, da maioria desses imigrantes, não há nem fotografias antigas e nem uma grande variedade de documentos.


Georg Heinrich Ritter - cervejeiro da Linha Nova

As cartas complementam os estudos atuais sobre imigração, já que trazem pontos de vista daqueles que foram partícipes de todo esse processo. Juntamente com os escritos dos imigrantes, Braun publica fotografias antigas e desenhos da localidade berço da imigração alemã no Brasil, São Leopoldo, bem como desenhos da despedida dos imigrantes na Alemanha, da viagem para o Brasil e do início da colonização nas Picadas do interior.


Interior dos navios que trouxeram os imigrantes
A seguir, pequenas amostras de relatos escritos pelos imigrantes e publicados por Braun:

"...não deixarei de amar-vos; mesmo quando a morte fechar os meus olhos e meu corpo jazer na sepultura, minha alma não deixará de ser a alma do teu pai..."  
                                                                                                                           Peter Tatsch, em 18 de novembro de 1832



Professor imigrante de sobrenome Dewes e esposa - Picada Cará - Feliz

"..nestes seis anos desde que me despedi de ti, nenhum dia se passou sem que me lembrasse de ti. Então, adeus a ti com tua estimada esposa e filhos; Cristo, o Senhor abençoe e proteja a vós, acompanhe-vos em todos os passos até a vida eterna! Eu sou, até o túmulo, teu irmão leal, de todo o coração".
                                                                                                                                                Johann F. Friedrich, em 1832


Casa do imigrante na Feitoria, onde se instalaram provisoriamente os primeiros imigrantes
"Em vida e na morte, sim, até no túmulo, sou aquele que nunca vos tem esquecido, vosso fiel cunhado. Pelas lágrimas, tenho que terminar e, por isso, eu vos saúdo a todos milhares de vezes. Lembrem-se de mim em vossos corações e representem-me em meu lugar na igreja. Adeus, em constante paz, nunca um mal vos atinja. Eu sou vosso cunhado que vos quer de todo o coração"
                                                                                                                           Mathias Franzen em 27 de agosto de 1832.


Carl Trein - empresário do Vale do Caí, RS

"Meu bisavô ficou morando na sua terra e morreu como um homem relativamente novo, foi enterrado na sua propriedade onde na época ficava o cemitério para os evangélicos. Hoje flores ainda florescem nas sepulturas dos que lá repousam".

                                                                                                                                                                        Juliana Juchum.
Para contatar o autor ou para adquirir o livro, mande um e-mail para  felipe.braun@terra.com.br ou felipe.braun@hotmail.com.
Visite também o site 
www.imigracaoalema.com .

Fonte: o Autor, por e-mail

Crer e Perseverar - Fernando Henrique Cardoso (Estadao)

Um artigo com o qual concordo apenas em parte, mas que me parece tocar em questões reais do momento político brasileiro, escrito por alguém que sabe escrever -- o que já é uma enorme vantagem no Brasil de hoje, sobretudo quando os ignaros assaltam os meios de comunicação com sua gramática estropiada -- e que teve responsabilidades políticas ainda maiores do que os atuais detentores do poder, já que conduziu o único plano de estabilização que deu certo nos últimos sessenta anos no Brasil (na verdade, desde a introdução do cruzeiro, em 1942).
Os patrulheiros a soldo, os mercenários do poder, os AAs (adesistas anônimos) nem precisam responder com seu cortejo de injúrias e réplicas desencontradas: geralmente eles não têm nada, absolutamente nada de substantivo a acrescentar, e se refugiam nas mentiras habituais, nos ataques gratuitos, nas bobagens e idiotices costumeiras. Não vou postar, a não ser que seja algo legítimo para o debate político.
Por outro lado, já posto aqui suficientes materiais debiloides dos companheiros, lixo inútil e material contaminado pela lógica capenga que costuma caracterizar os seus sites e veículos de comunicação, apenas para expor como as bobagens mais idiotas têm curso no Brasil da ignorância consumada.
Não tenho nenhum problema em acusar certas pessoas de idiotas, embora alguns achem esta estratégia errada: não tenho culpa se idiotas existem, e se eles conseguiram até chegar ao poder. Assim é o mundo.
Paulo Roberto de Almeida 

Crer e perseverar

Fernando Henrique Cardoso, 
O Estado de S. Paulo, 05 de fevereiro de 2012 | 7h 01
Nas duas últimas semanas apareceram alguns artigos na mídia que ressaltam o silêncio das oposições como um risco para a democracia. É inegável que está havendo uma "despolitização" da sociedade não só no Brasil, mas em geral. O "triunfo do mercado" levou às cordas as colorações políticas. Parece que tudo se deve medir pelo crescimento do PIB. Nos países bem-afortunados, ainda que cheios de "malfeitos", não há voz que ressoe contra os governos. Nos que caem em desgraça sem terem feito a "lição de casa" - sem terem gerado um "superávit primário" -, aí sim, os governos em exercício pagam o preço. Caem porque são vistos como incapazes de assegurar o bom pagamento aos mercados. Não importa ser de coloração mais progressista ou mais conservadora. Caem sem que tenha havido um debate político-ideológico que mostre suas fraquezas eventuais, mas porque o rancor das massas gerado pelo mal-estar econômico-financeiro se abate sobre os líderes do momento.
O Brasil esteve até agora ao abrigo da tempestade que desabou sobre os mercados dos Estados Unidos e da Europa. Por mais que nossos governos errem, os decibéis das vozes oposicionistas são insuficientes para comover as multidões. Pior ainda quando essas vozes estão roucas ou preferem sussurrar. Como entramos em céu de brigadeiro a partir de 2004, tanto pela virtude do que fizemos na década anterior como pelos acertos posteriores e graças à ajuda dos chineses, fazer oposição tornou-se um ato de contrição.
Mas que importa? Também era assim no período do milagre dos anos 1970, durante o regime militar. A oposição nada podia esperar, a não ser censura, cadeia ou tortura. Não obstante, não calou. Colheu derrotas eleitorais e políticas, resistiu até que, noutra conjuntura, venceu. Hoje a situação é infinitamente mais fácil e confortável. Só que falta, o que antes sobrava, a chama de um ideal: queríamos reabrir o sistema político. Hoje o que queremos? Ganhar as eleições? Mas para quê?
Eis o enigma. Não faltam candidatos. Ainda recentemente, em conversa analítica que fiz com uma jornalista da The Economist, ressaltei que há vários, e não só no PSDB. Neste o mais conhecido e denso, José Serra, amadurecido por êxitos e derrotas, não conseguiu deixar clara em 2010 sua mensagem, embora tenha obtido 44% dos votos. O isolamento em que sua campanha ficou, dadas as dissonâncias internas do PSDB e as dificuldades para fazer alianças políticas, impediu a vitória. Se o candidato tivesse expressado com mais força as suas convicções, mesmo desconsiderando o que as pesquisas de opinião indicavam ser a demanda do eleitorado, poderia ter sensibilizado as massas.
Quem sabe por este caminho se decifre o enigma: falar à sociedade, com força e veemência, tudo o que se sente, inclusive a indignação pela corrupção, pela incompetência administrativa e, sobretudo, pelo escândalo de uma sociedade que se faz mais rica com um governo que distribui muito pouco, faz propaganda do que não concretizou inteiramente e coloca no altar os "vencedores", mesmo quando estes ganham à custa do dinheiro do povo, que paga impostos cada vez mais regressivos.
Outro, mais óbvio provável candidato, graças à posição eleitoral dominante em seu Estado e ao seu estilo de fazer política, Aécio Neves, está em fase de teste: transmitirá uma mensagem que salte os muros do Congresso e chegue às ruas? Encarnará a mudança com a energia necessária e o desprendimento que é o motor da ousadia, arriscando-se a dizer verdades inconvenientes, e aparentemente custosas eleitoralmente, para que o povo sinta que existe "outro lado" e confie nele para abrir perspectivas melhores?
Refiro-me aos dois por serem os mais cogitados no momento. Não são os nomes que importam agora, mas a disposição de correr riscos e de sair da armadilha da briga partidário-eleitoral para entrar na grande cena da opinião pública e - façamos a distinção - da opinião popular. É evidente que o governo, qualquer governo, leva vantagens, principalmente desde que o lulopetismo instalou a regra de que tudo vale para manter o poder: clientelismo, propaganda abusiva, uso continuado da máquina pública, etc. Entretanto, também no regime militar o governo levava vantagens. Mas nós lutávamos não para ganhar no dia seguinte, mas para criar um horizonte de alternativas.
A elucidação do enigma requer perseverança e coragem. Eu ganhei duas eleições no primeiro turno contra Lula porque tinha uma mensagem: a da estabilização da economia com o Real e o início da distribuição de rendas. Mesmo sem propagandear, a pobreza deixou de atingir mais de 15 milhões de pessoas com a estabilização dos preços e a política de aumentos reais do salário mínimo, que começou em 1994. Não foi fácil ganhar os apoios para pôr em ação o Plano Real, precisei brigar muito. Lula ganhou porque pregou, no início no deserto, ser ele o portador da mensagem que levaria a um mundo melhor. Perseverou, rodou o Brasil, abandonou a tribuna parlamentar e, no começo, desprezou a mídia. Mostrou-se audacioso, desprendido e generoso. Se sinceramente ou não, é outra questão: a Carta aos Brasileiros está à disposição dos historiadores para que julguem. Mas o povo acreditou.
É esta a verdadeira questão da oposição, e deveria ser a preocupação dos pré-candidatos: mergulhar nos problemas do povo, falar de modo simples o que sentem e o que se pode fazer. Sem meias palavras e sem insultos. Sem falácia, com muita convicção. Politizar a cena pública para assegurar a democracia. Dizer quem é bom, ou melhor, o que é bom e o que é mau. Mas dizer nas universidades, nas organizações populares, nas associações profissionais, nas pequenas e médias cidades. Preparar nelas a mensagem - o discurso - para mais tarde falar com credibilidade na grande cena nacional.
Quem o fizer terá chances de ser o candidato da oposição e, eventualmente, ganhar as eleições. Isso independe de manobras de cúpula, simpatias e interesses menores.
Não se pense que nossa realidade será sempre o que hoje parece ser: uma sociedade conformada, legendas eleitorais disputando mordomias no dá-cá-toma-lá entre governo e congressistas e a voz do governo a tonitruar como um trovão divino, a que todos se curvam prestimosos. É só mudar a conjuntura e a cena muda, se a oposição apresentar alternativas. Mesmo que não mude, nada deve alterar nossos valores e convicções. Continuemos com eles, pois "água mole em pedra dura tanto bate até que fura". 
SOCIÓLOGO, FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Natureza Viva e livros antigos -- um autoretrato...

Com exceção dos cigarros, creio que sou eu:

Jonathan Wolstenholme,
Natureza Morta com Livros Antigos
Hoje, trocamos a pluma pelo computador, mas ainda escrevo bastante nos meus Moleskines, o médio e o pequeno. Aliás, tenho de transcrever minhas últimas produções manuscritas.
Paulo Roberto de Almeida
Paris, 5 de fevereiro de 2012

Tragedia educacional brasileira: a farsa do computador a 100 dolares

Em 2005 ou 2006, quando eu trabalhava no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, o guru da internet e promotor do programa "One Laptop Per Child", Nicholas Negroponte, visitou o presidente Lula e vendeu-lhe a ideia -- atrativa, mas equivocada -- do programa "um computador por criança", como a receita maravilha capaz de resolver de vez todos os problemas da educação brasileira.
O presidente ignorante, mas sempre adepto do stalinismo industrial, entusiasmou-se pela ideia, assim tão simples -- vejam vocês, não precisa mais nada, basta distribuir um computador a 100 dólares para cada criança e tudo estará resolvido -- e mandou fazer imediatamente. Os boçais que assessoram o presidente, na tal de inclusão digital -- outra bobagem monumental, que serve para dar cargos e dinheiro a companheiros analfabetos e a capitalistas espertos -- começaram imediatamente a se movimentar para fazer o tal de computador a 100 dólares.
Asi no más, sem qualquer estudo técnico de factibilidade, sem qualquer avaliação econômica, os companheiros decidiram premiar os capitalistas nacionais e encomendar algumas centenas de milhares de computadores a 100 dólares, para teste (depois seriam milhões, um para cada criança, claro).
Tentei argumentar, desde o início, que isso não iria JAMAIS resolver os problemas da educação brasileira, que isso era uma ilusão, que tecnologia, era apenas um instrumento, uma ferramenta, nunca a solução para problemas sistêmicos e estruturais, que estavam vinculados ao ensino, em si, não a simples métodos de aprendizagem.
De fato, me opus, frontalmente a esse programa, que achava – sempre achei e ainda acho – pernicioso para o ensino no Brasil, suscetível apenas de criar cargos, despesas, benesses para os burocratas no poder, e uma chuva de dinheiro para os capitalistas espertos.
Argumentei que o problema da educação brasileira não estava no hardware, nas ferramentas, e sim no software, no conteúdo, e isso nem mesmo o soft dos programas do tal de computador a 100 dólares, e sim o soft do professor, o simples conhecimento honesto, direto, das matérias, para transmitir aos alunos.
Argumentei ainda – e isso ainda antes de o programa ser deslanchado – que os capitalistas espertos diriam que não poderiam fazer o tal computador a 100 dólares, mas que poderiam fazê-lo a 200 dólares, desde que devidamente agraciados com isenções fiscais, proteção tarifaria, subsídios públicos, financiamento generoso, promessa de compra de tantos milhares, enfim, um programa inteiro para satisfazer capitalistas espertos, e que, no final, o computador iria sair a 300 dólares, mas que aí o Estado já se tinha comprometido a comprar tantos milhares (centenas de milhares) e que tudo isso iria sair muito caro.
[Nota sobre a matéria: Vejam o que ela diz: "Parte dos 150 mil laptops comprados pelo governo por R$ 82, 5 milhões está subaproveitada." Ou seja, cada computador custou mais de 300 dólares, ou bem mais de 500 reais...]
Argumentei ainda, encore et toujours, que esses computadores, se jamais fabricados a 300 dólares ou mais, seriam distribuídos sem critério a crianças – algumas milhares para teste, mas que depois políticos iriam reclamar e a benesse seria estendida a outras tantas dezenas de milhares – e que eles seriam usados para joguinhos e outras atividades lúdicas, mas jamais para educação – já que os professores estavam excluídos do processo – e que depois iriam se deteriorar nas casas e escolas dos alunos, por falta de software, por falta de interesse, por falta de tudo, e que seria um empreendimento inútil, portanto, mas altamente custoso.
Argumentei extensiva e intensamente contra esse tal de programa maluco, até o ponto da exaustão, provocando raiva e desprazer em meus companheiros de trabalho, militares que deviam acreditar nas benesses do capitalismo dirigista brasileiro, nesse stalinismo industrial que sempre caracterizou o Brasil, um stalinismo para os ricos, jamais para os pobres.
Sem argumentos para responder aos meus argumentos, eles responderam que o presidente tinha ordenado, e que tínhamos de cumprir. Argumentei em retorno que o presidente estava ABSOLUTA E RELATIVAMENTE ERRADO, e que tínhamos de fazê-lo ver que esse programa era uma ilusão absoluta, que jamais iria resolver os problemas da educação brasileira, necessitada de soluções mais simples e mais custosas – formação de professores, basicamente – e não de uma ferramenta que seria mal utilizada e perdida no caos total que era (e é) a educação brasileira, dominada pelas “saúvas freireanas” que são os funcionários do MEC, todos esses pedagogos e pedagogos absolutamente deformados pelas idiotices desse vendedor de ilusões que foi Paulo Freire.
Não preciso dizer que meus argumentos jamais foram aceitos, e que os companheiros prosseguiram com seu inútil, dispendioso, equivocado programa para premiar capitalistas espertos e companheiros mal intencionados (atrás apenas dos programas que o presidente mandava fazer, sem qualquer respaldo em estudos técnicos).
Um dia, um sistema de controle da racionalidade dos programas governamentais – que poderia ser o TCU – deveria fazer uma contabilidade de todas as bobagens cometidas ao longo do reino dos companheiros, de todo o custo imenso para a sociedade de programas equivocados, de todas essas bobagens cometidas contra o interesse público e o desenvolvimento nacional, alguns até sem aferição qualitativa ou qualitativa adequada.
Como aferir, por exemplo, o custo, absoluto e relativo, ou seja, o custo-oportunidade qualitativo, de programas idiotas como estudos afro-brasileiros e portunhol (sim, portunhol) obrigatórios no básico, de estudos de sociologia e filosofia obrigatórios no médio (um programa para marxistas desempregados), de todas as inutilidades “sociais” criadas por militantes ignaros e oportunistas espertos? A cifra deve montar a milhões, senão a bilhões de reais – quando computamos os programas para os capitalistas espertos – e os resultados são pífios magros, senão inexistentes.
Quero crer que este é mais um dos programas inúteis, custosos, totalmente equivocados. Quem paga o prejuízo?
Os companheiros idiotas que o conceberam, o presidente ignaro que mandou fazer, os capitalistas espertos que se oferecem para cumprir continuam por aí, sugando o dinheiro de todos nós e se apresentando como amigos da “inclusão social”. Idiotas completos é o que são.
Paulo Roberto de Almeida


Trocando nada por coisa nenhuma
domingo, 5 de fevereiro de 2012

Dilma Rousseff atrapalhou o programa "Um Computador por Aluno" apresentado pelo ex-presidente. A reportagem está no Estadão de ontem.
O projeto Um Computador por Aluno, apresentado com o costumeiro entusiasmo, (Vejam como sou dadivoso! deve ter pensado ele) - acabou virando sucata. Não só o projeto, mas muitos computadores que estão empilhados, quebrados e avariados.
Exemplos (péssimos exemplos):
Escola Basílio da Gama (Tiradentes-MG) - a internet não funciona, faltam armários e carteiras - avaliação encomendada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).
Santa Cecília do Pavão(PR) - Falta infraestrutura, não há capacitação adequada, e os professores "sentem a inovação como ameaça", palavras que estão no texto do relatório. Ameaça?!?  

Ao ser questionado sobre o desperdício, Aloizio Mercadante, que acabou de se transformar em ministro, entra em campo dizendo "Vamos mergulhar na reflexão". Anunciou a distribuição de tablets até o final de 2012. Pronto, está resolvido o problema.

Dilma trava programa de laptops de Lula

Relatório encomendado pela SAE avalia que situação do projeto Um Computador por Aluno ‘é caótica’

04 de fevereiro de 2012 | 20h 54
Marta Salomon, de O Estado de S. Paulo
Lançado com entusiasmo pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o projeto Um Computador por Aluno (UCA) praticamente foi abandonado na transição para o governo Dilma Rousseff. Parte dos 150 mil laptops comprados pelo governo por R$ 82, 5 milhões está subaproveitada. Há também registro de alto índice de laptops quebrados e avariados.
Dos 600 mil computadores oferecidos em 2010 a governadores e prefeitos, que supostamente dariam continuidade ao programa, pouco mais da metade foi comprada. O prazo da oferta venceu no final do ano passado e não houve nova licitação.
Na Escola Basílio da Gama, em Tiradentes (MG), os laptops do projeto continuavam encaixotados porque a internet não funciona e faltam armários e carteiras, relata avaliação encomendada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).
Em Santa Cecília do Pavão, no Paraná, outro dos cinco municípios alvo do projeto, a situação é "caótica", segundo o relatório ao qual o Estado teve acesso. Por falta de infraestrutura e sem capacitação adequada, os professores "sentem a inovação como ameaça", diz o texto do relatório, debatido reservadamente no governo.
"Vamos mergulhar na reflexão", reagiu o ministro da Educação, Aloizio Mercadante ao ser questionado sobre o destino do UCA. Na quinta-feira, o ministro anunciou da distribuição de tablets aos quase 600 mil professores do ensino médio, até o final de 2012.
"Começar pelo professor é mais seguro", repetiu o ministro Mercadante, marcando discretamente a mudança de rumo do programa de inclusão digital nas escolas.
Conclusão
Até aqui, o programa vem se comportando de forma errática, sugere o relatório encomendado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos num contrato de R$ 1,7 milhão com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O trabalho investigou com profundidade o impacto da segunda fase do projeto de distribuição de laptops a 10.500 alunos de todas as escolas municipais e estaduais de cinco municípios pequenos em Estados diferentes.
"O desenho do projeto subestimou as dificuldades de apropriação da tecnologia pelos professores do ensino fundamental e médio em comunidades relativamente carentes, o que levou a um subaproveitamento do UCA em sala de aula", resume o relatório final da SAE de mais de 200 páginas.
Depois de um ano de implementação do projeto, os pesquisadores concluíram que cerca de 20% dos professores não usam o laptop distribuído pelo governo; 22% declararam não ter passado por nenhum tipo de capacitação.
"Muitos se sentiram humilhados e desmotivados", diz o relatório final do trabalho coordenado por Lena Lavinas, convidada por Mercadante para um debate, junto com outros técnicos, para avaliar o destino do projeto UCA. "Vamos espancar o projeto até a nona casa decimal", adiantou o ministro, repetindo a senha usada na administração Dilma Rousseff para preparar ações do governo.
Dificuldades
Problemas na capacitação dos professores foram mais agudos no município de São João da Ponta, no Pará. Lá, segundo o relatório, professores e diretores teriam manifestado decepção e desencanto.
"Os alunos, com a posse e o domínio sobre os equipamentos, usando-os a seu bel prazer, parecem revestidos de um poder que, somado à pouca capacitação dos professores e à falta de estrutura das escolas, confunde o processo ensino-aprendizagem, assombra e inibe a ação e a autoridade dos professores e diretores", analisa o relatório.
A avaliação não menospreza os aspectos positivos da distribuição de laptops. Parte dos alunos descobriu a informática por meio do UCA e a maioria aprova a inovação. "É impossível não se comover com o deslumbramento dos jovens e de alguns adultos, que se sentem definitivamente parte de um mundo novo, o mundo da era digital", relatam os pesquisadores sobre o uso dos laptops do UCA na praça central de São João da Ponta.
"Não há dúvida de que houve um processo de aprendizado sobre a inclusão digital, porém com custos elevados e efeitos aquém do esperado", resume.
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Comentário final PRA: O governo gasta mais de 82 milhões para comprar de maneira totalmente caótica 150 mil laptops, que permanecem subaproveitados, e depois gasta mais 2 milhões apenas para avaliar a burrice que fez? Eu já sabia desde o início que não iria dar certo.
Quanto a essa balela de inclusão digital, isso é besteirol de companheiro para justificar emprego público para não fazer nada e ainda custar mais alguns milhões para a sociedade.
Inclusão digital é ter computador barato para todo mundo -- o que poderia ocorrer se não houve uma tributação de 40% ou mais na cadeia setorial, e se não houvesse carteis na oferta de conexão, para que tudo custasse barato. Sendo barato o povo compra, e ele mesmo se inclui digitamente, sozinho, sem precisar de um bando de companheiros idiotas para lhe dizer como precisa se incluir digitalmente.
A estupidez dos companheiros, e a desonestidade econômica, são proverbiais.

Siria-Russia-China united: o que faria o Brasil, se estivesse no CSNU?

Sorte do Itamaraty que o Brasil não mais está no Conselho de Segurança das Nações Unidas, pois os companheiros no poder, soberanistas à outrance, poderiam se vincular aos argumentos da Rússia de que qualquer tentativa de regime change é indesejável, inconveniente, impossível, mesmo à custa do massacre de manifestantes civis, e isto por quase um ano inteiro, e à base de bombardeios de tanques e artilharia, além de snipers do governo, para justamente matar, indiscriminadamente, quaisquer civis que se aventurem pelas ruas, que não seja em favor do governo.
No Brasil, não só os companheiros aliados do partido Bath -- que concluiu um gentil acordo de "cooperação" com o PT -- mas também mercenários da imprensa, gente paga para defender todas as causas indefensáveis (a dos cubanos, a dos sírios, a dos norte-coreanos, como o "Correio do Brasil", por exemplo, um jornal a soldo, ou Carta Maior, um site mentiroso como poucos), mas gente graúda, também, companheiros bem situados nas correias e engrenagens de transmissão do poder, provavelmente fariam com que um voto brasileiro fosse em favor da tal de "responsabilidade ao proteger", um eufemismo para deixar de proteger populações civis, perfeitamente massacráveis pelos poderes aliados dos companheiros. Assim é, se lhes parece...
Paulo Roberto de Almeida

Russia, China veto U.N. resolution on Syria


Jason DeCrow/AP - Portuguese representative Jose Filipe Moraes Cabral, left, and South African representative Baso Sangqu, right, glance at Russian representative Vitaly Churkin, center, as they vote in support of a draft resolution backing an Arab League call for Syrian President Bashar Assad to step down.

UNITED NATIONS — Russia and China on Saturday vetoed a U.N. resolution condemningSyria’s violent repression of anti-government demonstrators, effectively quashing efforts to isolate President Bashar al-Assad’s government as it intensifies a nearly year-long crackdown.
The veto dealt a blow to attempts by the United States and its European partners to rally behind an Arab League plan that would require Assad to yield power and make way for a democratically elected unity government. The vote followed weeks of negotiations in which diplomats had significantly watered down the resolution in a bid to win broad support.
Gallery
Video
Amateur video streamed live on Wednesday showed a burned out tank and destroyed armored personnel carrier on the streets of Rastan in Homs. A group of men, some of them brandishing their guns, stood on the destroyed personnel carrier. (Feb. 1)
Amateur video streamed live on Wednesday showed a burned out tank and destroyed armored personnel carrier on the streets of Rastan in Homs. A group of men, some of them brandishing their guns, stood on the destroyed personnel carrier. (Feb. 1)
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“The United States is disgusted” by the Russian and Chinese vetoes, Susan E. Rice, the U.S. ambassador to the United Nations, said after the vote. “A couple of members of this council remain steadfast in their willingness to sell out the Syrian people and shield a craven tyrant.”
Russia’s U.N. envoy, Vitaly I. Churkin, countered that the United States and its partners had undermined the prospects for a deal, saying they had promoted a strategy aimed at “regime change” by backing the opposition’s pursuit of power and fueling “armed methods of struggle.”
The rift left the diplomatic process in disarray, with Arab League delegates vowing to press ahead with their plan for a political transition in Syria, while Russia announced that officials would travel Tuesday to Damascus, where they will meet with Assad and try to push a competing plan to bring the Syrian government and the opposition together for direct talks.
But some Syria experts were worried that it was already too late for diplomatic solutions. “Things are slipping out of control on the ground so much that I’m not sure that [the resolution] could have stopped the killing,” said Andrew Tabler, a Middle East expert at the Washington Institute for Near East Policy.
The U.N. deadlock came a day after Syrian authorities moved to crush resistance in the town of Homs, killing scores of civilians on the 30th anniversary of the massacre in Hama. Estimates of those killed late Friday varied widely, but the assault seemed to be the strongest attempt yet by the government to put down the protests. Although casualties have been heavy for months, Syrian forces have largely abstained from the use of heavier weaponry. Activists now worry that the attack heralds a new and more aggressive strategy on the part of Assad’s government.
On Saturday, crowds gathered in Homs for the first funerals of the dead, with tens of thousands shown in video footage massing around coffins and shrouds decked with flowers. An opposition spokesman said that after the funerals, people were waiting eagerly to hear the results of the U.N. vote.
“We were hoping they would change their opinion,” said the spokesman, who uses the nom de guerre Abu Rami. “Unfortunately they used their veto. The people here are not so much disappointed. We will rely on Allah, the holy God, and after Allah, we will rely on the Free Syrian Army.”
The 13 to 2 Security Council vote capped weeks of tumultuous negotiations that pitted the United States, the European Union and the Arab League against Russia, Syria’s most powerful remaining protector in the 15-member council.