Infelizmente, a maioria das cartas que chegaram aos imigrantes não foram preservadas, ao contrário daquelas que os imigrantes enviaram para a Alemanha. Depois de dez anos de pesquisas, Braun compilou essas cartas para publicação, a fim de preservá-las para as futuras gerações. Por acreditar que só os próprios imigrantes conseguiriam relatar suas vivências com tanta exatidão, descrevendo as dificuldades e o modo de vida daquela época, Felipe decidiu-se pela publicação sistemática dessas cartas, como forma de expressar e comunicar as vivências dos imigrantes.
As primeiras cartas são dos anos iniciais do processo de colonização alemã no sul do país. São cartas trocadas pelas famílias Tatsch, Kayser, Friedrich, Gerhard, Elicker e Franzen. Nas cartas, eles escrevem sobre a saída da Alemanha, a dor e a saudade da despedida, sobre a longa e cansativa viagem de três meses, bem como sobre os falecimentos em alto mar. Também sobre a chegada no Rio de Janeiro e posteriormente no Rio Grande do Sul, sobre a hospedagem na casa da Feitoria em São Leopoldo, sobre o começo dos trabalhos na mata virgem e as dificuldades com os índios. São relatos carregados de palavras e descrições sobre sentimentos como fé e perseverança.
Na segunda parte do livro, estão publicadas cartas do segundo período da imigração, que se iniciou após o término da Revolução Farroupilha. São as cartas dos imigrantes Claeser, Ritter, Schuh e Brill. Os relatos, as narrativas e as memórias são dos imigrantes Mathias Schmitz, Friederika Müller Nienow, Maria Margaretha Schäffer, Heinrich Fauth e Heinrich Georg Bercht.
Começo na mata virgem. Fotografia tirada por volta de 1880
Braun dá voz a personagens que ficaram esquecidos, inclusive nos estudos sobre colonização alemã, já que, da maioria desses imigrantes, não há nem fotografias antigas e nem uma grande variedade de documentos.
Georg Heinrich Ritter - cervejeiro da Linha Nova
As cartas complementam os estudos atuais sobre imigração, já que trazem pontos de vista daqueles que foram partícipes de todo esse processo. Juntamente com os escritos dos imigrantes, Braun publica fotografias antigas e desenhos da localidade berço da imigração alemã no Brasil, São Leopoldo, bem como desenhos da despedida dos imigrantes na Alemanha, da viagem para o Brasil e do início da colonização nas Picadas do interior.
Interior dos navios que trouxeram os imigrantes
A seguir, pequenas amostras de relatos escritos pelos imigrantes e publicados por Braun:
"...não deixarei de amar-vos; mesmo quando a morte fechar os meus olhos e meu corpo jazer na sepultura, minha alma não deixará de ser a alma do teu pai..."
Peter Tatsch, em 18 de novembro de 1832
Professor imigrante de sobrenome Dewes e esposa - Picada Cará - Feliz
"..nestes seis anos desde que me despedi de ti, nenhum dia se passou sem que me lembrasse de ti. Então, adeus a ti com tua estimada esposa e filhos; Cristo, o Senhor abençoe e proteja a vós, acompanhe-vos em todos os passos até a vida eterna! Eu sou, até o túmulo, teu irmão leal, de todo o coração".
Johann F. Friedrich, em 1832
Casa do imigrante na Feitoria, onde se instalaram provisoriamente os primeiros imigrantes
"Em vida e na morte, sim, até no túmulo, sou aquele que nunca vos tem esquecido, vosso fiel cunhado. Pelas lágrimas, tenho que terminar e, por isso, eu vos saúdo a todos milhares de vezes. Lembrem-se de mim em vossos corações e representem-me em meu lugar na igreja. Adeus, em constante paz, nunca um mal vos atinja. Eu sou vosso cunhado que vos quer de todo o coração"
Mathias Franzen em 27 de agosto de 1832.
Carl Trein - empresário do Vale do Caí, RS
"Meu bisavô ficou morando na sua terra e morreu como um homem relativamente novo, foi enterrado na sua propriedade onde na época ficava o cemitério para os evangélicos. Hoje flores ainda florescem nas sepulturas dos que lá repousam".
Juliana Juchum.
Visite também o site www.imigracaoalema.com .
Fonte: o Autor, por e-mail
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