O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 4 de agosto de 2013

O Brasil e sua globalização involuntária - Gustavo Franco

O Brasil e sua globalização involuntária

29 de julho de 2013 
Autor: Gustavo H. B. Franco
pequeno normal grande
Gustavo Franco
O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) é de longe a maior das forças promotoras da globalização, pois é o que inclui os países nas redes de produção internacional, de movimentação de fatores de produção e de tecnologia. Os fluxos de IDE para o Brasil subiram de US$ 26 bilhões em 2009 para patamares superiores a US$ 65 bilhões nos anos posteriores a 2011, números que podem dar a impressão de uma vigorosa trajetória de inserção da globalização, ou de aceleração no processo de formação da capital.
Nada mais enganoso: como não temos políticas destinadas a aprofundar nossos vínculos globais – pelo contrário, há tempos praticamos políticas industriais e de comércio exterior nacionalistas ou mesmo interioranas – e a formação bruta de capital permanece estagnada, não há outra explicação para o surto de IDE que não a política monetária dos países desenvolvidos.
Não se trata de questão simples de arbitragem: nunca foi tão atrativo para as empresas multinacionais alavancarem-se para adquirir ativos ou expandir atividades no Brasil e em outras economias emergentes as quais, ainda que problemáticas, exibem melhores perspectivas de crescimento que as economias desenvolvidas. Nossas autoridades deviam mostrar gratidão a Ben Bernanke ao invés exibir da tola malcriação bem resumida pela expressão “guerra cambial” que celebrizou o nosso ministro nos círculos terceiro-mundistas.
É nesse contexto que o Banco Central publica os resultados do quarto censo quinquenal do Capital Estrangeiro no Brasil, feito para o ano-base 2010. Trata-se de extraordinário trabalho de pesquisa, realizado com grande diligência e competência, que nos revela uma surpreendente transformação para os 15 anos posteriores a 1995: um país cosmopolita e internacionalizado e que estaria a requerer políticas públicas adaptadas para esta realidade singular e estranha à ideia de um país continente e ainda hipnotizado com o mito da autossuficiência.
O censo é um questionário destinado a todas as empresas brasileiras que, na data de referência, possuíssem um mínimo de 10% de participação acionária de não residentes no capital votante, ou de 20% sobre o capital total. Obedecido este conceito, o censo de 1995 teve 6.322 respondentes. Eles foram 11.404 em 2000 e 17.605 em 2005, mas em 2010 o número se reduz para 16.844 em razão de uma alteração metodológica com vistas a melhor retirar dessa amostra o chamado investimento em carteira. Dessa maneira, também foi possível determinar com mais precisão o número de empresas receptoras de IDE, considerando as cadeias de controle: exatas 13.858 empresas recebendo US$ 587,2 bilhões em capital e mais US$ 82,8 bilhões em empréstimos intercompanhias, totalizando US$ 670 bilhões, equivalentes a 31% do PIB brasileiro.
Este é o tamanho do capital estrangeiro de natureza empresarial no Brasil, a maior parte do qual chegando depois de 1995, quando o estoque de IDE no Brasil era da ordem de US$ 40 bilhões e o número de empresas recebendo IDE podia ser estimado em cerca de 4.700. Durante os 15 anos seguintes foram cerca de 9 mil novas empresas trazendo US$ 630 bilhões – algo como 2 empresas e US$ 150 milhões a cada dia útil!
A internacionalização da economia parece ocorrer em consequência de práticas protecionistas que fazem com que o IDE ‘substitua’ comércio


Essa invasão de capital estrangeiro produtivo no Brasil não encontra precedente e coloca em questão as definições habituais de abertura e inserção externa, eis que representa um envolvimento muito mais profundo com a economia global do que os diminutos graus de abertura comercial do Brasil poderiam sugerir. Certamente temos aqui um curioso, mas não inusitado paradoxo: a internacionalização da economia parece ocorrer em consequência de práticas protecionistas que fazem com que o IDE “substitua” comércio, tal como no caso clássico da Europa do pós-guerra. É o nacionalismo, via substituição de importações, que sai pela culatra.
Para o ano de 2010, o leitor terá ouvido que o fluxo de IDE naquele ano alcançou US$ 48,5 bilhões, ou seja, representou uma injeção de capital de aproximadamente R$ 85,3 bilhões em empresas com sede no Brasil. Com esse acréscimo, o conjunto das 13.858 empresas do censo fechou o ano com um patrimônio total de R$ 974 bilhões, dos quais R$ 819 bilhões (84%) de titularidade de não residentes. Essas empresas tinham ativos de R$ 2,4 trilhões e faturamento de R$ 1,6 trilhão, respectivamente 65% e 42% do PIB, e eram responsáveis por 38% das exportações totais do País e 43% das importações em 2010.
Em 2010, as 13.858 empresas do censo empregavam 2,3 milhões de pessoas, representando apenas 2,4% da população ocupada, como tem se observado nos censos anteriores. Com base na relação entre valor bruto da produção e valor adicionado, é possível estimar que o valor adicionado produzido pelas empresas do censo contribua para o PIB brasileiro com cerca de um quarto de seu valor. Parece óbvio, portanto, que existem dramáticas diferenças de produtividade entre essas empresas e o restante do País: para 2010, enquanto um trabalhador de uma das empresas do censo gerava R$ 397 mil de valor adicionado em média, para o restante da população ocupada o número era de R$ 31 mil, ou menos de um décimo.
Contrastes semelhantes se observam no terreno do comércio exterior: enquanto um trabalhador ocupado em uma empresa do censo produzia cerca de US$ 38 mil em exportações, outro em outras empresas brasileiras produzia US$ 2,4 mil em exportações em média. As exportações brasileiras representavam 6,5% do PIB em 1995, subiram a 14,7% em 2005 e caíram a 10,5% em 2010. As empresas do censo exportavam 16% de seu faturamento em 1995, chegaram a 22% em 2005 e caíram a 17% em 2010, porcentuais bem maiores que os observados para outras empresas brasileiras e provavelmente determinantes para o coeficiente de abertura comercial do País.
Os contrastes entre empresas do censo e as outras empresas brasileiras são fáceis de se exagerar, pois seria preciso “descontar” outros fatores que podem explicar alta produtividade e propensão ao comércio, como tamanho, concentração, formalização do trabalho, entre outros. Mas, mesmo com esse benefício concedido à dúvida, é difícil evitar a impressão de que as empresas com conexões relevantes com a economia globalizada têm sido a locomotiva de crescimento e para o comércio exterior do país na primeira década e meia depois do Plano Real, mesmo sem terem sido objeto de nenhuma política pública específica. De muitas maneiras, a globalização é como a internet: as possibilidades são infinitas, sobretudo se as autoridades encaram o assunto com o espírito aberto e sem o cabotinismo ideológico dos últimos anos.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 28/07/2013

7
Os artigos assinados não traduzem a opinião do Instituto Millenium. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate sobre os valores defendidos pelo Instituto e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

    Ainda não há comentários

Nome
 (Requerido)
E-mail
 (Não será publicado)
Comentário:
  characters available
  Por que a pergunta?

A grande farsa da reforma politica - Demetrio Magnoli

Da arte de iludir

2 de agosto de 2013 
Autor: Demétrio Magnoli
pequeno normal grande
Demétrio Magnoli - Instituto Millenium
Todos eles leram “O leopardo”, de Lampedusa. “Se queremos que as coisas permaneçam como sempre foram, elas terão que mudar” — o célebre conselho de Tancredi Falconeri a Don Fabrizio provavelmente não foi enunciado explicitamente na reunião de Dilma Rousseff com os líderes do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), mas uns e outros sabiam que era disso que se tratava. A presidente declarou-se simpática à proposta de reforma política, mas não chegou a anunciar um apoio público, algo que “não interessa” ao movimento, segundo o juiz Márlon Reis. O patrocínio oficial ficou, assim, fora dos autos.
Nas ruas, em junho, gritaram-se as palavras “educação” e “saúde”, não “reforma política”. Contudo, o governo concluiu, razoavelmente, que o sistema político em vigor tornou-se insuportável — e resolveu agir antes que uma nova onda de manifestações se organize sob a bandeira de “Fora Dilma”. Os ensaios sucessivos da constituinte exclusiva, uma flagrante inconstitucionalidade, e do plebiscito, uma tentativa quixotesca de cassar as prerrogativas do Congresso (o que se traduz, hoje, na prática, como prerrogativas do PMDB) evidenciaram o desespero que invadiu o Planalto. É sobre esse pano de fundo que surgiu, como derradeira boia de salvação, a iniciativa do MCCE. Tancredi está entre nós.
Antes das manifestações de junho, só o PT tinha uma proposta completa de reforma política. Nos sonhos petistas, o anárquico e corrompido sistema atual evoluiria em direção a algo mais consistente — e ainda mais impermeável à vontade dos cidadãos. O financiamento público de campanha concluiria o processo de estatização dos partidos políticos, que se tornariam virtualmente imunes ao escrutínio popular. O voto em lista fechada concentraria o poder nas mãos das cúpulas partidárias, rompendo os tênues vínculos ainda existentes entre os eleitores e seus representantes. No fim, surgiria uma partidocracia cortada segundo os interesses exclusivos do partido dotado da máquina eleitoral mais eficiente.
O projeto petista, que já esbarrava na resistência do restante da elite política, tornou-se inviável depois do transbordamento das insatisfações populares. No lugar dele, o Planalto inclina-se em direção ao artefato lampedusiano produzido no forno do MCCE. O primeiro componente da proposta, sobre o financiamento de campanha, é um tímido aceno às ruas. O segundo, sobre o sistema eleitoral, é uma versão levemente modificada do projeto petista do voto em listas fechadas. Os autores da proposta têm bons motivos para temer que lhes colem o rótulo de companheiros de viagem do governo.
O sistema eleitoral atual é uma triste caricatura de democracia representativa


Dentro da ideia do financiamento público de campanha pulsa um coração totalitário. Sob a sua lógica, os partidos se libertariam por completo da necessidade de persuadir as pessoas a financiá-los. Pela mesma lógica, eu seria compelido a pagar as campanhas de figuras arcaicas restauradas pelo lulopetismo (Sarney, Calheiros, Collor, Maluf), de pastores fanáticos que sonham incendiar bruxas (Feliciano), de oportunistas sem freios atraídos pelas luzes do poder (Kassab, Afif), de saudosistas confessos do regime militar (Bolsonaro) e de stalinistas conservados em formol que adoram ditaduras de esquerda (quase todos os candidatos do PT, do PCdoB e do PSOL). O MCCE rejeitou essa ideia macabra, associando sensatamente o financiamento de campanha à capacidade dos partidos de exercer influência sobre cidadãos livres. Entretanto, curvando-se aos interesses gerais da elite política, a proposta não toca nas vacas sagradas do sistema em vigor: o Fundo Partidário e o tempo de televisão cinicamente qualificado como gratuito.
O sistema eleitoral atual é uma triste caricatura de democracia representativa. Soterrados sob listas intermináveis de candidatos apresentados por dezenas de siglas partidárias e ludibriados pelo truque imoral das coligações proporcionais, os eleitores operam como engrenagens da máquina de reprodução de uma elite política bárbara, hostil ao interesse público. A alternativa petista do voto em listas fechadas corrompe a representação de um modo diverso, mas não menos doentio, conferindo aos chefes dos partidos o poder extraordinário de esculpir a composição do parlamento.
A proposta do MCCE envolve a alternativa petista num celofane ilusório, sem modificar o seu cerne. Os partidos seriam obrigados a realizar prévias internas fiscalizadas pela Justiça Eleitoral para selecionar seus candidatos, o que configura uma interferência antidemocrática na vida partidária. Numa primeira etapa, os eleitores votariam apenas nos partidos. Depois, na etapa derradeira, votariam em nomes constantes de listas com duas vezes mais candidatos que as vagas obtidas na etapa anterior. A valsa complexa conserva o poder de decisão essencialmente com os dirigentes dos partidos, mas distribui alguns doces aos eleitores. O Planalto e o PT entenderam o sentido da obra — que, por isso mesmo, deve ser descrita como “apartidária”.
Uma ruptura democrática seria a adoção do sistema de voto distrital misto. Nos Estados Unidos e na França, a disputa entre apenas um candidato de cada partido em circunscrições eleitorais delimitadas transfere o poder de decisão para os eleitores e provoca nítidas polarizações ideológicas. Sob a sua lógica, os partidos são estimulados a lançar candidatos capazes de sobreviver ao escrutínio direto do público. E, ao contrário do que argumentam os arautos do voto proporcional exclusivo, os candidatos não podem se apresentar como “deputados-vereadores”, pois a dinâmica da disputa majoritária os compele a associar seus nomes às posições doutrinárias de seus partidos.
O MCCE, porém, parece avesso à ideia de uma mudança genuína. “Precisamos do apoio de todas as forças políticas na hora da aprovação no Congresso”, explicou Márlon Reis, o Tancredi disponível na esteira da tempestade de junho.
Fonte: O Globo, 01/08/2013

19

Big Brother NSA is watching you, and it is not 1984 novel - ForeignPolicy

Meet the NSA's New Data Centers: Russia, China, and Venezuela
Here's something the National Security Agency probably isn't happy to find in Edward Snowden's latest revelation about its activities: The surprising locations of the servers that make up the program X-KEYSCORE, which, according to one leaked agency presentation, has the ability to vacuum up nearly every move a user makes on the Internet.
Those locations reportedly include China, Ecuador, Russia, Sudan, and Venezuela. In short, the NSA has managed to either place or gain access to servers in a collection of countries that are deeply hostile to the United States. Put another way, computer technicians in every one of those countries are probably combing through their systems right now to figure out ways to boot out the NSA.
The image at the top of this post comes from Wednesday's Guardianstory on X-KEYSCORE, which includes a set of slides described as internal NSA training material. The slide in question says that the program includes roughly 150 sites around the world and spans some 700 servers. The Guardian's coverage does not make entirely clear how the program works, but the report seems to outline a system that perches on top of communications infrastructure and sucks up streams of data that the X-KEYSCORE system then sifts into a searchable format. According to the Guardian, the volume of collected information is so large that content is stored on the system for three to five days before being deleted, and metadata stays on the system for 30 days. The picture that emerges is of NSA analysts running searches against a continuous data stream.[[BREAK]]
It doesn't take much imagination to figure out how Chinese officials might feel about the NSA operating a mass-collection system inside its borders. "The Prismgate affair is itself just like a prism that reveals the true face and hypocritical conduct regarding Internet," Defense Ministry spokesman Col. Yang Yujun said earlier this month. "To, on the one hand, abuse one's advantages in information technology for selfish ends, while on the other hand, making baseless accusations against other countries, shows double standards that will be of no help for peace and security in cyberspace." Now the Chinese can add the X-KEYSCORE allegations to their long list of complaints.
Edward Snowden once claimed that while sitting at his desk he had the ability to "wiretap anyone, from you or your accountant, to a federal judge or even the president, if I had a personal email." The X-KEYSCORE revelations appear to at least partially validate that statement -- and the Russian government's decision earlier this month to invest in typewriters in response to the NSA leaks. And it's not just that the NSA is able to collect vast quantities of information -- it's apparently able to do so in almost every corner of the globe. Consider this sampling of countries in which the NSA has an X-KEYSCORE presence: Mexico, Colombia, Brazil, Egypt, Algeria, Nigeria, Spain, France, Germany, Turkey, Pakistan, India, Japan, and even Myanmar.
As for those red dots ringing Antarctica? Why the NSA would have "sites" in the South Pole is anyone's guess.

Detroit, a socialista - Alexandre Borges

O Partido Democrata faliu Detroit

ALEXANDRE BORGES *
O que todos os prefeitos de Detroit desde 1962 têm em comum? Jerome Cavanagh, Roman Gribbs, Coleman Young, Dennis Archer, Kwame Kilpatrick, Kenneth Cockrel, Jr. e o atual Dave Bing são todos do mesmo partido que, depois de 51 anos seguidos, conseguiu falir um dos ícones da história americana.
Em 1960, Detroit tinha a mais alta renda per capita do país e hoje tem a mais baixa. Repetindo: até a última administração republicana, Detroit tinha a mais alta renda per capita dos EUA e, depois de meio século de feitiçarias de esquerda, tem a mais baixa. Tente discutir com esse dado ou culpar o capitalismo por isso.
A falência de Detroit está longe de ser surpresa para qualquer analista atento e honesto, mas é emblemática. A bancarrota da “motor city” coloca mais fogo no debate que quer a comparação direta entre os resultados obtidos pelos modelos oferecidos pelos dois grandes partidos do país. Estes modelos são aplicados também nos dois maiores estados dos EUA, o socialista na Califórnia e o de livre mercado no Texas, como num enorme teste de laboratório. E esta comparação não é apenas um debate econômico, é a versão revista e atualizada da Guerra Fria, só que agora em pleno território americano.
Não se deixe enganar: antes de avaliar a situação da economia americana atual, separe primeiro os estados “azuis” (democratas) e “vermelhos” (republicanos) e veja o que está dando certo e o que não está. Ver Barack Obama se vangloriar de dados da economia inflados pelos resultados dos estados “vermelhos” como o Texas, administrado por republicanos desde 1995 e que gerou 1/3 dos novos empregos do país na última década, é simplesmente ultrajante.
A maior cidade do Michigan foi enviada sem escalas para níveis de pobreza raros no mundo ocidental, o que pode ser comprovado em números divulgados recentemente pelo The Wall Street Journal:
- 47% dos adultos da cidade são considerados analfabetos funcionais (contra 20% da média do país)
- Apenas um terço das ambulâncias está em condições de sair da garagem
- 40% dos postes de luz das ruas estão apagados
- O tempo médio de resposta de um policial a um chamada ao 911 é de 58 minutos (média nacional: 11 minutos)
- Um terço das edificações da cidade está abandonado (78 mil prédios fantasmas)
- 210 dos 317 parques públicos estão fechados.
- 2/3 da população deixou a cidade desde os anos 60
- Menos de 5% dos carros do país são montados hoje na cidade
A cidade, onde as armas legais foram praticamente banidas como manda o manual esquerdista, é tão violenta que é impossível andar com segurança pelas ruas, você é logo aconselhado a pegar táxi. As escolas estão entre as piores do país, os serviços públicos mais básicos são negligenciados e tudo que envolve a prefeitura, como a licença para abrir um novo negócio, é um inferno burocrático terceiro-mundista, típico de qualquer lugar administrado por socialistas. Como definiu o jornal britânico “The Telegraph”, uma cidade assassinada por mau-caratismo e estupidez”.
Em Detroit, os prefeitos gastavam dinheiro público como “drunk sailors” e mergulhavam a administração municipal em escândalos de corrupção, subornos e clientelismo diretamente associados à expansão do governo. Kwame Kilpatrick, prefeito de 2002 a 2008, chegou a ser preso depois de condenado na justiça por mais de 25 crimes ligados à sua gestão.
Os sindicatos tiraram completamente a competitividade da cidade, mergulhando a economia local no caos. Enquanto torpedeavam qualquer tentativa da indústria automobilística de se modernizar, outras cidades atraíam as novas plantas e os empregos fugiram, assim como os investimentos. E o declínio da indústria da cidade era respondido pelos sindicatos com mais greves que exigiam ainda mais aumentos, proteções, regulações e subsídios, tudo com apoio explícito dos prefeitos democratas.
Hoje 15.000 metalúrgicos da ativa contribuem para fundos que pagam a aposentadoria de 22.000 pensionistas, com um déficit anual estimado de US$ 5,5 bilhões. Os EUA continuam fazendo bons carros, como o melhor SUV do mundo (eleito pela revista Motor Trend), o Mercedes-Benz Classe GL, só que agora ele é montado no Alabama. Parabéns, sindicatos!
No vizinho Wisconsin, o governador republicano Scott Walker resolveu enfrentar os poderosos sindicatos e chegou a ter seu mandato colocado em risco num “recall” ano passado, em que foi reeleito e agora promove uma verdadeira revolução no estado. Mas o futuro de Detroit ainda é incerto porque, evidentemente, você nunca vai ouvir a esquerda dizendo que errou.
Se existe algo certo na vida é o resultado de meio século de socialismo em qualquer lugar, mesmo no país mais rico do mundo. O Partido Democrata e os sindicatos faliram Detroit. Que sirva ao menos de lição.
* DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

Overdose de petismo - Percival Puggina

A overdose do petismo

Percival Puggina
Raras vezes se viu tamanha barafunda num "mar de rosas". Dilma Rousseff já cumpriu dois terços de seu mandato acumulando trapalhadas e fracassos. Demorou duas décadas mas, finalmente, o PT está alcançando seu objetivo de 1994 - acabar com o Plano Real. O sonho dourado das esquerdas nos anos 90, o fim do programa que deu estabilidade à moeda nacional, aquilo que Lula tentou mas não conseguiu em seus oito anos, Dilma, está realizando em menos de quatro, à base de trombada na cristaleira. O petismo espatifou a Economia e tudo mais à sua volta. Nem despejando bilhões no mercado, o Banco Central consegue conter a evasão das verdinhas ianques, que se retiram do país como os ratos abandonavam o Titanic nas impressionantes cenas do filme de James Cameron. 

Há poucos meses, quando o PT festejava em São Paulo seus dez anos no governo da União, o tom ufanista dos discursos mostrava que o partido chegara à overdose de poder. "Pode juntar quem quiser", bravateou Lula, convicto de nova vitória do partido em 2014. "Qualquer coisa que eles tentarem fazer nós fazemos mais e melhor", prosseguiu o eufórico ex-presidente, nariz enfiado no pote do poder. Seguiu-lhe a arrevesada sucessora, tratando de mostrar serviço. Arrombou a ostra onde oculta sua sabedoria e extraiu esta pérola: "Não tenho medo de comparações, inclusive sobre corrupção"... Isso tem outro nome, claro. Mas é, também, overdose de poder. Poder sobre a própria imagem, sobre a sociedade, poder sobre os demais poderes, poder sobre a mídia, poder agregado, ano após ano, em sequências exponenciais perante auditórios interesseiros. 

Quatro meses depois, foi a vez de o povo evidenciar que também ele tivera sua overdose de petismo. E saiu às ruas para pacíficas e civilizadas demonstrações de inconformidade. O povo deu uma olhada no próprio país e percebeu que, por trás da publicidade, dos cenários, das montagens, das invenções e versões, tudo - simplesmente tudo! - vai muito mal. Depois de dois PACs lançados às urtigas, que não valiam a tinta e o papel gastos para redigi-los, a economia arqueja sobre uma infraestrutura carente de tudo que importa - energia, rodovias, ferrovias, armazenagem, portos. Quanto mais PAC, menos PIB. O Rio São Francisco continua no mesmo lugar, levando, dolente, suas águas para o mar de Alagoas. Nas refinarias projetadas, nada se avoluma com maior rapidez do que o preço inicialmente previsto. Aqui no Rio Grande do Sul, de onde escrevo, as ditas "obra da Copa" ficarão para depois da Copa. O prometido, jurado e sacramentado metrô de Porto Alegre ainda é um risco no papel, em eterna discussão. E a duplicação da travessia do Guaíba resume-se a um trabalho de computação gráfica. 


A Educação brasileira é a penúltima entre 40 países estudados pela Economist Intelligence Unit. A Saúde beira à perfeição. Sim, é um perfeitíssimo pandemônio! Nós, os cidadãos, reconhecemos que houve uma inversão nos extratos sociais. Mudamo-nos para o submundo, para a zona de perigo, onde não existe a proteção da lei, onde padecemos nossa desdita sob a implacável violência do andar de cima. Ali, no andar de cima, é tudo ao contrário e o mundo do crime opera ao resguardo do imenso guarda-chuva gentilmente proporcionado pelo aparelho de Estado e suas leis. É isso que se chama, aqui, de Segurança Pública. Tudo por obra e graça do petismo que chegou à overdose de si mesmo e perdeu os próprios controles. 



_____________ 
* Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões. 

Toda crianca agora tem um smartphone? Hum... Para decorar nomes de presidentes? Hummmm...

Have smartphones in every pocket made memorization obsolete?
Scientific American, August 2013

When my father was growing up, his father offered him 25 cents to memorize the complete list of U.S. presidents. “Number one, George Washington. Number two, John Adams …”
A generation later my dad made the same deal with me, upping the reward to $5. (The prize had grown, he explained, “because of inflation and because there are more presidents now.”)
This year I offered my own son $10 to perform the same stunt. My son, however, was baffled. Why on earth should he memorize the presidents?
Nowadays, he argued, “everybody has a smartphone” and always will. He'll probably turn out to be correct; 2013 is a tipping point, in which, for the first time in history, smartphones will outsell plain ones.
In other words, having a computer in your pocket is the norm. Google is always one tap away. So there's very little sense, as far as my son is concerned, in memorizing anything: presidents, the periodic table of the elements, the state capitals or the multiplication tables above 10.
Now, parents in my generation might have a predictable reaction: dismay and disappointment. “Those young kids today! Do we have to make everything easy?” we say. “If they don't have enough facts in their heads, they won't be able to put new information into context.”
That's an understandable argument. On the other hand, there is a powerful counterargument: As society marches ever forward, we leave obsolete skills in our wake. That's just part of progress. Why should we mourn the loss of memorization skills any more than we pine for hot type technology, Morse code abilities or a knack for operating elevators?
Maybe memorization is different than those job skills. Maybe having a store of ready information is more fundamental, more important, and thus we should fight more fiercely to retain it.
And yet we've confronted this issue before—or, at least, one that is almost exactly like it. When pocket calculators came along, educators and parents were alarmed about students losing the ability to perform arithmetic using paper and pencil. After hundreds of generations of teaching basic math, were we now prepared to cede that expertise to machines?
Yes, we were. Today calculators are almost universally permitted in the classroom. You are even allowed to use one—encouraged, in fact—when you are taking the SAT.
In the end, we reasoned (or maybe rationalized) that the critical skills are analysis and problem solving—not basic computation. Calculators will always be with us. So why not let them do the grunt work and free up more time for students to learn more complex concepts or master more difficult problems?
In the same way, maybe we'll soon conclude that memorizing facts is no longer part of the modern student's task. Maybe we should let the smartphone call up those facts as necessary—and let students focus on developing analytical skills (logic, interpretation, creative problem solving) and personal ones (motivation, self-control, tolerance).
Of course, it's a spectrum. We'll always need to memorize information that would be too clumsy or time-consuming to look up daily: simple arithmetic, common spellings, the layout of our hometown. Without those, we won't be of much use in our jobs, relationships or conversations.
But whether we like it or not, we may as well admit that the rest of it will probably soon go the way of calligraphy, the card catalogue and long division. Whenever we need to access abstruse facts, we'll just grab our phones—at least until we implant even better technologies right into our brain.

SCIENTIFIC AMERICAN ONLINE
Six ways that brains trump tech: ScientificAmerican.com/aug2013/pogue
Smartphones Mean You Will No Longer Have to Memorize Facts:


This article was originally published with the title The Last Thing You'll Memorize.

sábado, 3 de agosto de 2013

China: de um filho a dois por familia? Os ecologistas neomalthusianos vao se horrorizar...

Será que vai ter espaço e recursos naturais para toda essa gente, caso a China resolva dobrar de população.
Já estou vendo os neomalthusianos se escandalizarem...
Acho que recursos e tecnologia existem; e vai ser bom para o mundo...
Paulo Roberto de Almeida


China considering a 2-child policy
Couples currently restricted to one child under China’s family planning policy may be allowed a second child even before the policy is redrafted in 2015.

By Li Qian
Shanghai Daily, Saturday, August 3, 2013

COUPLES currently restricted to one child under China’s family planning policy may be allowed a second child even before the policy is redrafted in 2015.
The new concession would apply to couples where only one spouse is a single child, according to insiders.
China is deliberating whether to further relax the country’s one-child policy, a spokesman confirmed yesterday.
Mao Qun’an, spokesman for the National Health and Family Planning Commission, was responding to media attention on China’s population policies, Xinhua news agency reported.
Mao reaffirmed that China must adhere to the basic state policy of family planning for a long period of time. He said that because the country’s basic conditions still include a huge population, weak economic foundations, sparse per capita resources and insufficient environmental capacity, the population will continue to put pressure on the economy, society, resources and the environment.
However, he said one of the commission’s major tasks lies in improving the family planning policy, Xinhua reported.
It is organizing surveys and studies on correlations between the size, quality, structure and distribution of China’s population, the news agency said.
To improve population policies, Mao said, China must maintain the current low birth rate while also taking into consideration the public’s needs, social and economic development, and changes in the population structure.
The family planning policy was first introduced in the late 1970s to rein in China’s surging population by limiting most urban couples to one child and most rural couples to two children, if the first was a girl.
Under the policy, most couples born in urban areas in the 1980s come from single-child families.
The policy was relaxed around 2007, allowing couples where both parents came from single-child families to give birth to two children.
A revised policy that would allow all couples to have two children is expected to be carried out in 2015, the 21st Century Business Herald reported yesterday.
The one-child policy has played a key role in curbing the rising Chinese population, but problems have begun to emerge. One hot topic is the rapid increase in China’s elderly population while birth rates remain low.
Demographers say loosening the one-child policy would normalize the ratio between males and females. Last year there were 16.35 million births in China which led to a sex ratio at birth of 117.7 boys for every 100 girls in 2012 while a normal ratio should be 103 to 107 boys for every 100 girls.
The number of people of working age in China, those between 15 and 59, decreased by 3.45 million to 937.27 million in 2012.
In comparison, there were 194 million people aged 60 or older in China last year, accounting for 14.3 percent of the total population.

O Brasil parece querer chatear o mundo - Samantha Pearson (Financial Times)

High quality global journalism requires investment. Please share this article with others using the link below, do not cut & paste the article. See our Ts&Cs and Copyright Policy for more detail. Email ftsales.support@ft.com to buy additional rights. http://blogs.ft.com/beyond-brics/2013/07/31/a-brief-history-of-brazilian-bolshiness/#ixzz2awyfC5Zl

A brief history of Brazilian bolshiness


Brazil has been putting its weight about again, this time throwing a spanner into the IMF’s efforts to secure an €11bn bailout for Greece from the eurozone countries. Even if Brazil’s economic weight is not what it used to be, it seems it can still rile the old world when it feels like it.
So for the benefit of beyondbrics readers, here is a timeline of Brazilian bolshiness:
  • October 2009 – Brazil becomes a net creditor of the IMF for the first time after providing $10bn of financing to help developed nations hit by the financial crisis. In a gleeful press conference, finance minister Guido Mantega, says the “radical change” is proof that Brazil is faring much better in the crisis than other countries.
  • May 2010 – Luiz Inácio Lula da Silva, Brazil’s president at the time, takes it upon himself to help Turkey broker a nuclear fuel swap deal with Iran. His cosy relationship with Iran’s Mahmoud Ahmadinejad, including lots of public hugging and hand-holding, is seen as an attack on US foreign policy.
  • September 2010 – On a roll now, Brazil’s Mantega declares the world is engaged in a global “currency war”, criticising US monetary stimulus and the subsequent weak dollar for ruining the competitiveness of other countries’ exports. “Everybody wants the US economy to recover, but it does no good at all to just throw dollars from a helicopter,” he declares.
  • April 2012 – Mantega takes the face-off between the ‘developed’ and the ‘developing’ world to a new level. He says the Brics countries are working together to elect a candidate from the developing world as president of the World Bank. However, the Russian government soon declares its support for Jim Yong Kim, the US candidate.
  • March 2013 – Undeterred, Brazil goes one step further announcing that it and the other Brics countries have agreed to create their own development bank to rival the World Bank and the IMF. However, the countries struggle to agree on the bank’s funding or its location.
  • July 2013 – Brazil asks the IMF to change its methodology for calculating nations’ gross debt, complaining it inflates Brazil’s own liabilities. Under the IMF’s methodology, Brazil’s gross debt at the end of last year accounted for 68 per cent of GDP, while the country’s central bank puts the number at 59 per cent.
  • July 2013 – Paulo Nogueira Batista, Brazil’s executive director at the IMF, abstains from approving the fund’s new €1.8bn contribution to Greece’s bailout, in a sign of growing frustration over the bailout of debt-ridden Europeans. Nogueira, who also represents 10 nations from Central and South America and the Caribbean, said he was dissatisfied with almost all areas of Greece’s reform programme.

Aldo Ferrer: o maniqueismo, a simplificacao, o reducionismo, a servico do desastre argentino

Vocês querem saber por que a Argentina encontra-se em decadência desde, mais ou menos, 80 anos? Vocês querem saber por que ela não consegue se recuperar?
Vocês gostariam de saber como e por que o Brasil poderia ir pelo mesmo caminho?
Bem, uma das formas é ler o que escreve este economista argentino, famoso autor do período do nacional-desenvolvimentismo, e que hoje é, salvo engano, embaixador da Argentina em Paris. Aldo Ferrer, muito apreciado pelos companheiros, que por isso mesmo o convidaram para se expressar na recente conferência que os companheiros promoveram na Faculdade do ABC para cantar as glórias, entre eles, dos dez anos de poder companheiro, em especial na política externa.
Simplismo, maniqueismo, reducionismo, deformação da história, deturpação das realidades econômicas, distorção das relações políticas, enfim, todos os tipos de equívocos, alguns por ingenuidade, outros por má fé mesmo, estão presentes nesta alocução, reproduzida num jornal argentino que já foi de oposição ao kirchnerismo, e que agora se submete ao poder executivo, comprado, chantageado ou intimidado, como tantos outros, em diversos países da região, pela pressão política e do dinheiro, em favor de teses companheiras.
Não tenho tempo agora -- por estar engajado em diversos trabalhos urgentes -- de rebater cada um dos argumentos do economista argentino, mas deixo o seu texto registrado aqui, para em alguma oportunidade tocar nessas teses e refutá-las, como enganosas que são.
Bem, só posso augurar mais decadência, mais distorções e mais atraso, não apenas à Argentina -- sob essas teses -- mas também a outros países que por acaso seguirem suas recomendações equivocadas. Parece que temos muitos, aqui no Brasil, dispostos a enterrar o Brasil numa decadência de médio e longo prazo.
Sirvam-se, podem se espelhar nestas ideias e seguir suas recomendações...
Paulo Roberto de Almeida

Alianza...

Por Aldo Ferrer *
Pagina 12, DOMINGO, 28 DE JULIO DE 2013
La visión argentina de Brasil y de su política externa de la última década depende de cómo los argentinos vemos el mundo y a nosotros mismos. En tal sentido, existen dos perspectivas principales y opuestas: la neoliberal y la nacional.
La visión neoliberal
La misma considera a la Argentina como un segmento del mercado mundial, que debe organizarse conforme con las señales del orden internacional. De este modo, su estructura productiva y su inserción en la división internacional del trabajo están determinadas por sus ventajas competitivas estáticas, fundadas en la abundancia de sus recursos naturales y subdesarrollo tecnológico e industrial. Este enfoque supone, asimismo, que, dada la concentración del poder en los mercados y los países dominantes, Argentina carece de la capacidad decisoria necesaria para trazar su sendero de desarrollo, industrializarse, participar plenamente en la revolución científica y tecnológica y, consecuentemente, establecer una relación simétrica, no subordinada, con el orden mundial.
Esta visión responde al convencimiento histórico del neoliberalismo de que Argentina no cuenta con factores autónomos de desarrollo. Debe asociarse, necesariamente, a un centro hegemónico externo que impulse su crecimiento. Esta fue, en efecto, la posición que el país mantuvo, hasta la crisis mundial de la década de 1930, con Gran Bretaña. Posteriormente, la pretendida durante las frustradas “relaciones carnales” con los Estados Unidos. Actualmente, la considerada conveniente con Brasil y, en mayor medida, con China. Se trata del “realismo periférico” de un país, que sólo podría aspirar a conseguir lo posible, dentro de la posición subordinada que inevitablemente ocupa en el orden mundial.
Desde esta perspectiva, es preferible que la política exterior brasileña responda a los mismos principios neoliberales. Pero, sea cual fuere el rumbo de la misma, nuestras relaciones serán determinadas por el libre juego de la fuerzas del mercado y las ventajas comparativas estáticas, determinadas por las asimetrías en los niveles de desarrollo y la dimensión económica de ambos países. Este enfoque considera normal que, en la relación bilateral, estos hechos establezcan una división del trabajo del estilo centro (Brasil)-periferia (Argentina).
La visión nacional. La propuesta industrialista forma parte de una tradición histórica que incluye a políticos y economistas, como Vicente Fidel López en el siglo XIX y, posteriormente, a mediados del XX, a Alejandro Bunge y Raúl Prebisch. La misma concibe al país como un sistema de relaciones económicas y sociales, dentro del espacio territorial, capaz de desplegar en su totalidad los recursos y el talento disponibles, construir una estructura productiva industrializada y compleja, generar ventajas comparativas dinámicas fundadas en el conocimiento, agregar valor a sus recursos naturales y establecer relaciones simétricas, no subordinadas, con el orden mundial. Si se verifican las condiciones determinantes de la densidad nacional, Argentina dispone de los recursos materiales y humanos y del poder decisorio necesarios para trazar su sendero de desarrollo y estilo de relaciones con el resto del mundo, incluso Brasil.
Desde esta perspectiva, es conveniente que la política exterior brasileña responda a objetivos nacionales propios y, al mismo tiempo, conciba la relación bilateral como una alianza estratégica para impulsar el desarrollo complejo de ambas economías y el creciente contenido tecnológico y de valor agregado del comercio recíproco, en ambos sentidos. De este modo, una política exterior brasileña que reivindica la autonomía decisoria frente a los centros de poder mundial y la solidaridad con los países del espacio sudamericano es funcional a la visión nacional del desarrollo en la Argentina.

La evidencia

En la historia contemporánea, Argentina puso en práctica, en su relación con Brasil (y con el resto del mundo), ambas visiones. Al tiempo del regreso de ambos países a la democracia, los acuerdos bilaterales de los gobiernos de Alfonsín y Sarney reflejaron la propuesta nacional del desarrollo argentino y el impulso de una integración programada, a través de la convergencia de las políticas públicas y del estrechamiento de las relaciones entre los sectores privados de ambos países. Su mejor ejemplo fue la prioridad de los acuerdos sectoriales de integración industrial, con eje en el sector crítico de los bienes de capital.
Durante los gobiernos de Menem y Collor, la relación de nuestros países en el marco del Mercosur quedó subordinada a las fuerzas del mercado. Esto se reflejó en un creciente desequilibrio en el contenido de valor agregado y tecnología del comercio bilateral y, finalmente, concluyó en el descalabro de la economía argentina en la crisis del 2001/2.
En el transcurso de la última década (2003-13), la Argentina resolvió la crisis de la deuda externa, recuperó soberanía y la capacidad decisoria de sus políticas públicas. La política exterior brasileña permitió discutir y resolver, con un espíritu solidario, las consecuencias del cambio de rumbo en la Argentina y, al mismo tiempo, fortalecer una visión común sobre las tendencias del orden mundial y el lugar, en el mismo, de nuestros países. Argentina tiene una responsabilidad fundamental en la definición de la naturaleza de la relación argentino-brasileña. Brasil, por su dimensión y potencial de recursos humanos y materiales, es ya un protagonista importante del escenario internacional y, como diría Helio Jaguaribe, está condenado a ser una potencia de primer rango. Somos nosotros, los argentinos, quienes tenemos que contribuir a una relación simétrica y solidaria, a través de la eficacia de nuestras políticas de desarrollo nacional e inclusión social.

Trayectorias comparadas

Los argentinos tenemos que entender por qué Brasil acumuló un considerable poder nacional en sectores fundamentales de la economía. La explicación radica en que, a pesar del sesgo ortodoxo de la política financiera en diversos períodos, Brasil mantuvo a largo plazo la decisión de fortalecer núcleos estratégicos del poder nacional (Petrobras en hidrocarburos, Embraer en la industria aeronáutica, las grandes empresas de construcción e ingeniería). Esto se refleja, ahora, en la proyección internacional de las firmas brasileñas.
En materia de financiamiento del desarrollo, el Banco Nacional de Desenvolvimento (Bndes) es un envidiable ejemplo de movilización de recursos internos, con fondeos en gran medida provenientes del sistema de seguridad social y la masa salarial. Instrumentos financieros como el Bndes y el dinamismo de los principales grupos económicos permitieron el despliegue de ambiciosos planes de desarrollo de la infraestructura y programas de apoyo a la competitividad y el desarrollo de actividades prioritarias. Asimismo, Brasil protegió su soberanía, preservando la jurisdicción de sus tribunales en el caso de litigios con intereses extranjeros, no ratificó ningún tratado bilateral de garantía de inversiones, ni se adhirió al Ciadi.
En contraste con la experiencia del Brasil, en la Argentina, durante el largo período de la hegemonía neoliberal (1976-2001), que no incluye el gobierno de Alfonsín, se demolieron sistemáticamente las fuentes del desarrollo y poder soberano de decisión y se adoptaron compromisos internacionales, que implicaron una renuncia voluntaria de la soberanía.
En el pasado, la asimetría de las estrategias de desarrollo seguidas por Argentina y Brasil generó una división del trabajo en el intercambio bilateral, con Argentina en la posición predominante de abastecedor de bienes de menor contenido relativo de tecnología y valor agregado. La asimetría se expresa en sectores como el automotor, bienes de capital, electrodomésticos, informática, telecomunicaciones, calzado y textiles. De este modo, en el largo plazo, se fueron generando rasgos estructurales en ambas economías, que continúan influyendo en el intercambio y otros aspectos de las relaciones económicas bilaterales.
Una vez que Argentina, después de la debacle de la estrategia neoliberal, resolvió cambiar el rumbo e impulsar su reindustrialización, necesariamente debían cambiar la dinámica y el contenido de la relación bilateral. En la actualidad, la vecindad, la historia y los desafíos que plantea el escenario internacional han llevado a los dos países a establecer un grado de comunicación y empatía sin precedentes y a la instalación del concepto de “alianza estratégica”, indispensable para ampliar las fronteras del desarrollo nacional de cada uno de ellos.

Cultura y transformación

Argentina y Brasil no han alcanzado, todavía, altos niveles de desarrollo económico y social. Sin embargo, en el plano de la cultura son potencias de primera magnitud. El aporte de nuestros escritores, pintores, músicos y otros creadores forma parte fundamental de la creación y del ingenio humanos en el escenario mundial. Incluso en las ciencias duras y en las sociales nuestro aporte es significativo. El desafío consiste en poner la realidad económica y social a la misma altura de los niveles alcanzados en la cultura. La ciencia y la tecnología forman parte de este campo fundamental del desarrollo y la integración de nuestros países.
La formación de un sistema económico y social avanzado exige articular la explotación de los recursos naturales, con su industrialización e incorporación de valor agregado y tecnología. Las estructuras productivas, reducidas a producir y exportar productos primarios, desembocan en el subdesarrollo, la dependencia y la exclusión social. En el caso argentino, por ejemplo, es indispensable esta visión integrada del desarrollo para erradicar definitivamente el falso supuesto de que existe un conflicto de intereses entre el campo y la industria.
La movilización de los recursos propios es el fundamento insustituible del desarrollo y la integración. La dependencia del capital extranjero reduce el ahorro interno y la tasa de inversión. Culmina con niveles insostenibles de deuda externa, desequilibrios inmanejables y la subordinación a la irracionalidad de la especulación financiera. Argentina proporciona un ejemplo dramático en la materia. Acontecimientos semejantes suceden, actualmente, en varios países de la Unión Europea. En consecuencia, vivir con lo nuestro, abiertos al mundo, en el comando de nuestro destino, es indispensable para el ejercicio efectivo de la soberanía y del derecho de construir un sendero propio en el orden global. La presencia de las filiales de las empresas transnacionales es positiva cuando contribuye a la apertura de nuevos mercados, la transferencia de conocimientos, los equilibrios en los pagos internacionales y la integración de cadenas de valor de creciente valor agregado y tecnología. Al mismo tiempo, debe ser complementaria, no sustitutiva, del protagonismo del empresariado local, que es uno de los componentes de la densidad nacional.
Lo que está en crisis, en la actualidad, no es la globalización, que es una consecuencia inevitable del avance de la ciencia y la tecnología. La crisis es del neoliberalismo y de los estados neoliberales, cuya impotencia para administrar las fuerzas de la globalización provoca descalabros como los que hemos vivido en nuestra propia experiencia y suceden, actualmente, en otras latitudes.
Aun juntos, Argentina y Brasil no pueden cambiar el mundo de asimetrías, inestabilidad e injusticia que habitamos, pero tienen una capacidad decisiva para estar, en ese mundo, parados en sus propios recursos, ejerciendo la soberanía y, desde allí, en efecto, contribuir a la defensa de los intereses del género humano en el orden global.

La integración

La integración de Argentina y Brasil se despliega en tres planos: las políticas internas, las reglas del juego de la integración y la proyección conjunta hacia el resto del mundo. Detengámonos, brevemente, en cada uno de estos tres planos.
Las políticas internas. El avance de la integración depende, en gran medida, de cuestiones que sólo tienen resolución dentro de cada espacio nacional y son indelegables a la esfera bilateral y regional. Tales, por ejemplo, las políticas sociales, para elevar el nivel de vida y las macroeconómicas, para abrir espacios de rentabilidad que fortalecen la competitividad e impulsan la inversión y el empleo. Cuanto más exitosas sean las políticas internas de desarrollo e inclusión social, más amplias son las fronteras de la integración.
La calidad de las políticas públicas depende de la fortaleza de la densidad nacional. Vale decir, de la integración de la sociedad, la vocación patriótica de los liderazgos, la estabilidad institucional de largo plazo y la vigencia de un pensamiento crítico, no subordinado a los criterios de los centros hegemónicos del orden mundial. Estas son condiciones necesarias de las políticas impulsoras de la transformación productiva y la asimilación de la ciencia y la tecnología, generadoras de oportunidades para amplios sectores sociales, protectoras de los intereses nacionales y capaces de arbitrar los conflictos distributivos y asegurar los equilibrios macroeconómicos. El fortalecimiento de la densidad nacional es una responsabilidad propia e indelegable de cada país. Cuanto más sólida sea la de Argentina y Brasil, mayor la posibilidad de construir juntos el sendero de la integración.
Las reglas del juego. La integración es útil en cuanto instrumento para impulsar el desarrollo nacional y fortalecer la posición en el escenario global. Sus reglas del juego deben ser, por lo tanto, consistentes con tal objetivo y distribuir, con equidad, los beneficios de la aplicación de la ciencia y la tecnología, es decir, del desarrollo. Esto implica la formación de economías nacionales integradas y abiertas, relacionadas entre sí y con el orden mundial, a través de la división internacional del trabajo basada en la especialización intraindustrial. Por lo tanto, las reglas del juego de la integración deben ser compatibles con el desarrollo el Brasil y la Argentina. Lo mismo es válido para la integración más amplia en el Mercosur y el espacio sudamericano.
Es preciso, entonces, tomar nota de la situación particular de cada uno y de la naturaleza de la relación, entre dos países vecinos, con una importante asimetría de dimensión y de nivel de desarrollo, en algunos sectores. Aclarar estas cuestiones es vital para el futuro de la integración.
La clave del éxito de la integración no radica en la delegación de soberanía a órganos supranacionales bilaterales o comunitarios. La experiencia de la Unión Europea alcanza para demostrar cómo la cesión de soberanía termina subordinando a las partes más débiles al poder hegemónico de los más fuertes. La integración de Argentina y Brasil y, más allá, en el Mercosur y el espacio de América del Sur, no radica en la cesión de soberanía sino en la construcción solidaria de lo que nos falta en la ciencia y la tecnología, el desarrollo industrial y la inclusión social. En materia financiera, en tiempos recientes se han dado pasos positivos en tal sentido, a través del desendeudamiento externo, la acumulación de reservas internacionales y los controles de los capitales especulativos. La integración consiste entonces en la complementación de las soberanías nacionales a través de reglas adecuadas de la integración.
La adecuación de las reglas del juego de la integración para responder a las asimetrías y a los cambios en las realidades nacionales es imprescindible para el éxito de la integración. De allí la vigencia de reglas graduales, flexibles y equilibradas, como fueron establecidas en los acuerdos de integración bilateral, durante los gobiernos de Alfonsín y Sarney.
Si la integración se concibe como una combinación virtuosa de fuerzas del mercado y políticas públicas, esas reglas revelan la lucidez de las dirigencias para preservar el objetivo estratégico, reconociendo los problemas propios y el cambio de las circunstancias internas de los dos países.
Es claro que las adaptaciones no pueden ser discrecionales y deben surgir de negociaciones entre las partes, para preservar la máxima estabilidad y previsibilidad posibles de las normas. Esto es indispensable para fortalecer la competencia en el mercado ampliado y la competitividad sistémica de las producciones nacionales de bienes transables, en el mercado regional y el resto del mundo. Pero un sistema inflexible, si entra en conflicto con objetivos irrenunciables de los países, se rompe.
Otra cuestión, que influye pero no determina la naturaleza de la relación bilateral, es la asimetría en la dimensión de las dos economías. El factor fundamental que caracteriza la división del trabajo y el conjunto de las relaciones entre economías con tales asimetrías es la estructura productiva comparada, no la dimensión. En Europa, por ejemplo, Suecia y Alemania son países cercanos y el primero, pese a su menor tamaño, es un país plenamente desarrollado, que mantiene una relación simétrica no periférica con Alemania. En el caso de los países emergentes de Asia, como la República de Corea, Taiwan y Malasia, la vecindad con dos gigantes, como India y China, no es obstáculo alguno al pleno desarrollo industrial y tecnológico de los mismos.
En consecuencia, las diferencias actuales de dimensión de las economías no debe inducir a la suposición de que el destino de la relación bilateral es reproducir, en el espacio regional, una relación centro-periferia, entre un Brasil industrial y una Argentina principalmente proveedora de alimentos y materias primas. Esto debilitaría la importancia de Argentina para Brasil, como aliado estratégico, porque el mejor socio es el plenamente desarrollado. Si así fuera, perdería sentido el significado de la integración como instrumento del desarrollo argentino pero, en tal caso, la responsabilidad no sería, como no lo fue en el pasado, del Brasil, sino consecuencia de nuestra propia incapacidad de consolidar la densidad nacional y trazar un rumbo eficaz del desarrollo argentino.
En realidad, contar en paz con un gran vecino (como es para Argentina el caso del Brasil, con el cual comparte, además, la misma matriz histórica y cultural) es un activo fundamental de nuestro propio desarrollo. Para estos fines es preciso enfrentar las asimetrías observables en las estructuras productivas de los dos países, fundadas en la desindustrialización relativa argentina durante la hegemonía neoliberal.
Tenemos así por delante el desafío de construir una relación viable, mutuamente conveniente, para lo cual Argentina tiene que ampliar y profundizar su desarrollo industrial y tecnológico, integrar las cadenas de valor de la producción primaria con la participación creciente de componentes provenientes de nuestro propio acervo, impulsar el protagonismo de las empresas argentinas y, en este escenario, generar una dinámica de integración entre empresas de ambos países y de cadenas de valor binacionales y el acceso conjunto a los mercados internacionales.

La proyección hacia el resto del mundo

La integración de Argentina y Brasil debe proyectarse necesariamente al Mercosur y el espacio sudamericano. Como dice Marco Aurélio García, la relación de Argentina y Brasil no es toda la integración de America del Sur pero, sin ella, esta última no es concebible.
Debe atenderse, en particular, a través de acciones conjuntas, el desarrollo de los países hermanos de menor tamaño y desarrollo. Esta solidaridad hacia afuera construye también la solidaridad hacia adentro argentino-brasileña. La programación del desarrollo industrial en áreas importantes como, por ejemplo, celulosa y papel, es una forma de vincular los intereses de los países miembros del Mercosur. Si, por ejemplo, hubiéramos desplegado esta posibilidad a tiempo, nos habríamos ahorrado los dolores de cabeza de Argentina y Uruguay, provocados por las instalaciones de la pastera de Fray Bentos.
La alianza estratégica se proyecta también al escenario global a través de la concertación de posiciones conjuntas en los foros multilaterales como el G-20, OMC, FMI y las negociaciones con Estados Unidos, la Unión Europea y las potencias emergentes en la cuenca de Océano Pacífico y, también, en cuestiones críticas como las de seguridad, protección del medio ambiente, emergencias sanitarias y la lucha contra el narcotráfico. La emergencia de China y otros nuevos centros dinámicos en la economía mundial es un hecho positivo porque amplía las fronteras de la proyección internacional de Argentina y Brasil. Pero plantea, al mismo tiempo, el riesgo de reactivar el antiguo modelo centro-periferia que, en el pasado, postergó nuestro desarrollo tecnológico e industrial y lo subordinó a la situación de proveedor de productos primarios e importador de manufacturas y capitales. La estrategia conjunta de Argentina y Brasil frente a la nueva geografía de la economía mundial, resultante de la emergencia de China y otros países de Asia, es necesaria para evitar una renovada subordinación periférica.

La convergencia de los tres planos de la integración
No existe una secuencia cronológica entre las tres esferas de la integración de Argentina y Brasil. Es necesario avanzar, simultáneamente, en todas ellas. Es decir, construir, a partir de la fortaleza de las densidades nacionales, una densidad bilateral, mercosureña y sudamericana, fundada en la inclusión social, la eficacia de los liderazgos, la consolidación de la democracia y el pensamiento crítico. Cada país tiene la globalización que se merece en virtud de la fortaleza de su densidad nacional.
Cuanto más se consoliden las situaciones nacionales, más fluidos serán los intercambios, cuanto más flexibles y realistas las normas, mejor serán las respuestas frente a los cambios en las situaciones nacionales y, finalmente, cuanto más solidaria sea la proyección conjunta en el escenario global, más libertad de maniobra tendrán las políticas nacionales, bilaterales y regionales

* Profesor emérito. Universidad de Buenos Aires.
El texto es la ponencia presentada en el panel sobre la visión de los países vecinos. Conferencia nacional “2002-2013. Una Nueva Política Externa” del Brasil. Universidad Nacional del ABC, Sao Bernardo do Campo, del 15 al 18 de julio de 2013.