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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Venezuela: a caminho do caos total, e final; apenas uma questao de tempo

O Globo, 20/11/2013

Presidente poderá criar leis por decreto; oposição teme perseguição politica

CARACAS - A Assembleia Nacional da Venezuela aprovou, em segunda e última discussão, a Lei Habilitante, que autoriza o presidente Nicolás Maduro a governar por decretos. O projeto foi imediatamente para a sanção de Maduro, que enviou o texto para votação em outubro e disse que seus primeiros decretos seriam para estabelecer um teto sobre o lucro das empresas.
A justificativa do presidente, respaldada por deputados governistas, é que ele precisa de mais poderes para combater a corrupção e a “guerra econômica provocada pelo que chama de “burguesia parasitária”. A oposição, porém, acusa o governo de se utilizar da crise econômica para aprovar leis que não teriam votos suficientes para passar na Assembleia.
A votação ocorre em meio a um frenesi consumista gerado pela queda forçada de preços por um plano do governo que entrou em vigor este mês. Imensas filas são vistas em frente a lojas, que vendem de eletrodomésticos a artigos esportivos. A procura exagerada de consumidores é uma indicação, segundo analistas, de que os venezuelanos não acreditam que os preços se manterão baixos por muito tempo e, por isso, querem aproveitar a oportunidade.
O caos foi tamanho na semana passada que o governo mobilizou forças de segurança para impedir o saque a estabelecimentos comerciais por venezuelanos enfurecidos com as filas longas e demoradas. Segundo Maduro, 100 empresários foram presos durante a intervenção do governo nos preços.  Ontem, horas antes da aprovação, a televisão estatal transmitiu um programa em que o vice- presidente, Jorge Alberto Árreaza, conversava, ao lado da ministra da Defesa, Carmen Melendéz, com fiscais que atuavam em estabelecimentos comerciais espalhados pelo país.
Uma loja de tênis, outra de construção e até uma fábrica de automóveis foram cenários da transmissão da propaganda do governo de seu programa de combate à inflação. Do Palácio Miraflores, em Caracas, Arreaza coordenava as perguntas e entrevistava, por exemplo, o ministro da Indústria, Ricardo José Menéndez Prieto.
 De dentro dos estabelecimentos comerciais, os fiscais de preço denunciavam os empresários por lucrarem demais. A investigação e o julgamento sobre a honestidade dos lucros eram feitos pelos próprios governistas, que classificavam o processo de aferição de preços como “científico”.  Em rede nacional, dirigindo-se ao vice-presidente, o ministro Prieto dizia, de dentro de uma fábrica da General Motors, o suposto preço de uma peça de carro, somava custos como transporte e salários e calculava que os lucros eram até “cinco vezes o preço original’
— Os setores médios são fundamentais na construção do novo modelo socialista. É a classe média que compra os veículos — comentava Arreaza.
MEDIDA PODE FAVORECER CHAVISTAS NAS ELEIÇÕES
Analistas afirmam que o controle de preços representa a primeira vitória política de Maduro desde que foi eleito em abril com apenas 1,5% de diferença em relação ao opositor Henrique Capriles. A votação da Lei Habilitante foi acompanhada nas ruas por partidários. O governo espera que as medidas favoreçam o Partido Socialista Unido. da Venezuela (PSUV) nas eleições municipais de 8 dezembro.
A campanha eleitoral começou no sábado.  Esta é a quinta Lei Habilitante aprovada desde que Hugo Chávez tomou posse em 1995. Dos 14 anos como presidente, ele teve autorização da Assembleia para governar por decreto durante um total de quatro anos e meio.  Com duração prevista de 12 meses, a lei aprovada ontem dá a oportunidade para que Maduro transforme os decretos presidenciais em leis orgânicas.
O texto prevê “estabelecer mecanismos estratégicos de luta contra as potências estrangeiras que queiram destruir a pátria no econômico, no político e no midiático”. Outro ponto estabelece poderes ao presidente para combater o financiamento ilegal de partidos políticos.  Para a oposição, o governo é incompetente na gestão da economia e é o responsável pela extinção das divisas em dólar e pelas crises de abastecimento.
Uma carta da Mesa da Unidade Democrática (MUD), a coalizão de opositores, afirma que o objetivo do governo é dar mais poderes para Maduro, e não resolver a crise econômica.  “O Executivo nacional quer mais poderes para acentuar a perseguição política e criminalizar as fontes constitucionalmente lícitas de financiamento para a oposição diz um trecho de uma carta aberta da MUD.
Deputados opositores acusavam o regime de uma falha sistêmica afirmando que, após 15 anos de controle sobre todo o país, o PSUV ainda queria mais poder. Já os governistas acusavam opositores de serem contrários aos programas sociais e dons- pirarem contra a pátria.
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Falta amadurecer 

Rodrigo Craveiro
Correio Braziliense, 20/11/2013

“Com Chávez e Maduro, o povo está seguro.” O grito se misturava às lágrimas durante os dias de velório do ex-presidente Hugo Chávez Frías, em março passado. Era impressionante a catarse coletiva de Caracas ante a perda de um líder. Eu me deparei com idosas que enfrentaram imensa fila, que varou a noite toda, para ter alguns segundos diante do caixão. Sem seu comandante bolivariano, a Venezuela parece à beira do caos econômico e de uma convulsão social. Nicolás Maduro nem de perto esbanja o carisma do padrinho político. Sua gestão tem sido espalhafatosa, calcada em espécie de idolatria ou “santificação” de Chávez e no absoluto descontrole da economia. A memória do antecessor é usada como cabresto de uma população cada vez mais sem esperança.
Ao taxar preços, obrigar pequenos importadores a declarar divisas e impor limites aos lucros dos empresários, Maduro alimenta a inflação e aumenta as tensões em uma sociedade por demais polarizada entre vermelhos (chavistas) e azuis (caprilistas). As mudanças na economia coincidem com o pior nível de popularidade do governo: 53,1% dos venezuelanos apoiam o presidente. Qualquer política mais agressiva em relação ao comércio pode surtir o efeito de uma roleta-russa. A estratégia de aprovar a Lei Habilitante teve por objetivo fortalecer a liderança de Maduro à frente do país, com a atribuição de superpoderes que o permitirão governar por decreto. O governante inexperiente e forjado por Chávez dá lugar a uma figura quase despótica.

A ideologia bolivariana e o propalado socialismo do século 21 não se sustentam sem seu criador. Alguns ideólogos do sistema socialista lapidado para a Venezuela admitem que o projeto político de Chávez e de Maduro conduz o país ao colapso socioeconômico. A coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática alerta para o risco de a Lei Habilitante aprofundar a crise. Nos últimos dias, Maduro deu mostras de que busca subterfúgios para evitar uma convulsão social. Criou o Vice-Ministério para a Suprema Felicidade Social, antecipou em quase dois meses o Natal e estabeleceu, por decreto, o Dia da Lealdade e do Amor ao Comandante Supremo Hugo Chávez, celebrado em 8 de dezembro. Há quem diga que nem ele mesmo está seguro dentro do Partido Socialista Unido da Venezuela, que já estaria apresentando tensões internas. Se não tomar cuidado, não chegará ao fim do mandato.
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El País (Espanha) – Nicolás Maduro: “Lo que han visto es poco para lo que voy a hacer”
EWALD SCHARFENBERG

"Me han dado una mano de hierro", ha dicho el presidente de Venezuela antes de firmar la ley que le da poderes especiales

Sólo faltan algunas formalidades, como la publicación de la ley correspondiente en la Gaceta Oficial. Pero ya Nicolás Maduro cuenta con los poderes especiales que pidió. La mayoría oficialista y sus refuerzos de última hora completaron en la Asamblea Nacional de Venezuela los 99 votos equivalentes a las tres quintas partes requeridas para sancionarlos.

“Me han dado una mano de hierro”, celebró el mandatario, apenas segundos antes de estampar su firma en el original de la ley que los diputados de la bancada oficialista le llevaron hasta su despacho, en el palacio presidencial de Miraflores. “Ustedes han visto apenas las primeras acciones contra la burguesía parasitaria que roba a todo el pueblo”. Luego reiteraría, ya ante unos centenares de partidarios que se congregaron en un jardín del palacio, que “lo que han visto es poco para lo que voy a hacer”.

El texto legal, denominado oficialmente Ley que autoriza al Presidente de la República para dictar decretos con rango, valor y fuerza de ley en las materias que se delegan, permite a Maduro legislar durante un año sin tener que pasar por el parlamento. Sus términos son vagos, amplios, y hasta épicos –uno de sus artículos menciona el propósito de “establecer mecanismos estratégicos de lucha contra aquellas potencias extranjeras que pretendan destruir la patria en lo económico, político y mediático”–, pero en la fecha de solicitar el otorgamiento de estos superpoderes, el pasado 8 de octubre, el sucesor de Hugo Chávez en la presidencia restringió su eventual aplicación en dos campos: el desarrollo de “una nueva ética republicana” y la imposición de “un nuevo orden económico”.

Sin embargo, la puesta en escena de esta tarde y noche de martes en las calles de Caracas, por parte del chavismo, buscaba declarar a los cuatro vientos que no se trata de apenas una ley conquistada para combatir la corrupción y la usura.

Primero se aseguró de que en la sesión de la Asamblea Nacional predominara una atmósfera tumultuaria, aportada por piquetes de militantes de la revolución que rodearon la sede legislativa y ocuparon los balcones del hemiciclo. Luego, una vez votada la ley, una marcha de algunos miles de oficialistas acompañó a los diputados progubernamentales a entregar el documento al presidente. Durante el recorrido, de unas seis cuadras, el jolgorio inducido y el batir de banderas de los soldados de la Guardia de Honor –la guardia presidencial- intentaba reproducir el espíritu de jornadas heroicas de la revolución bolivariana, como la de la madrugada de 13 de abril de 2002, cuando el comandante Chávez fue restituido como presidente tras 47 horas de fugaz de derrocamiento. Luego de las palabras de Maduro, una pirotecnia profusa iluminó la noche caraqueña.

En verdad, el ambiente en la capital venezolana quedó oliendo a pólvora y a cambio de era. El propio presidente Maduro, que pasó revista a los logros obtenidos durante la última semana de ofensiva económica –como llama su campaña de toma de comercios, confiscación de mercancías y remate de las mismas–, apenas preservó la intriga sobre lo que venía: al repetir que la primera ley que promulgará por decreto será una de control de costos y ganancias, dijo que se trataba de aplicar unos límites para redituar que hasta en países capitalistas se habían implementado. “Pero”, aclaró por si ello ocasionara confusiones, “nosotros no queremos desarrollar el capitalismo, sino al revés, vamos rumbo al socialismo”.

Enumeró entre sus motivos de satisfacción el haber conseguido “algo que nunca antes había pasado en la economía de Venezuela, bajar los precios” mediante la ocupación de negocios y venta forzosa de sus inventarios, además de la detención de gerentes y propietarios. Destacó además que el gobierno ya se habría hecho del manejo de los almacenes de distribución de la mayoría de los comercios y categorías intervenidas, con lo que podía asegurar que hay productos suficientes para abastecer por al menos un año al mercado venezolano. Con ello desmentía los vaticinios de la opositora Mesa de Unidad Democrática (MUD), que en un comunicado del mismo martes advertía sobre una escasez inevitable de diversos rubros tras su “venta controlada” por el gobierno y las dificultades para reponer los inventarios.

Volvió a referirse a sus opositores como “parásitos” y “apátridas”, la “bancada de la usura” que estaría siendo víctima de la desesperación mientras planifica “actos locos”. Dijo que los servicios de inteligencia habían descubierto y desbaratado una conspiración para cortar el suministro de energía eléctrica durante la votación de la llamada Ley Habilitante, pero que aún persistirían en ocasionar un gran apagón “antes de las elecciones o el mismo día de las elecciones”. Preguntándose en voz alta qué trabajo tienen o de dónde sacan fondos los dirigentes políticos de oposición para “tener aviones y propiedades”, asomó en clave sanciones futuras para ellos: “Les anuncio que, de la misma forma en la que planifiqué la ofensiva económica, estoy planificando una ofensiva estremecedora contra la corrupción que iniciaremos a partir de enero”.

Mientras todavía este martes, en Caracas y otras localidades del país, seguían las filas de consumidores que intentaban sacar provecho de los despojos de las tiendas de electromésticos y otras categorías de productos a las que Maduro ordenó inspeccionar y ocupar –de las que, según el presidente, “99,99% recibieron dólares de la República”–, el exdirigente sindical y excanciller insistió en la culpa colectiva de una clase con la que habría intentado el diálogo, pero sin resultados. Así las cosas, prometió que en los próximos días presentará pruebas que identificarían quiénes lideran la “guerra económica” desde las organizaciones patronales del empresariado venezolano y de la Cámara Venezolana-Americana de Comercio. “Ellos fueron maquinando una operación invisible, muy precisa, pero pronto vamos a probar quiénes han estado conspirando”.

ABC Color (Paraguai) – Maduro gobernará ahora sin control
EFE

El Parlamento de Venezuela aprobó ayer, en la segunda y última votación, una ley que otorga poderes especiales al presidente, Nicolás Maduro, para gobernar por decreto durante un año, con los que el Mandatario ha prometido poner en marcha un plan contra la corrupción y tomar medidas para equilibrar la economía.

Tal como ocurrió la semana pasada en el primer debate de la ley, el oficialismo logró la aprobación tras alcanzar la mayoría cualificada de las tres quintas partes de los votos, de manera que Maduro tendrá capacidad de legislar sin supervisión parlamentaria durante ese periodo.

“Se declara sancionada la ley que autoriza al presidente de la República para promulgar decretos con rango de fuerza de ley”, declaró el presidente de la Asamblea Nacional, el oficialista Diosdado Cabello, luego de la votación de cada uno de los artículos de la ley.

La iniciativa ya había sido aprobada el martes pasado en un primer debate, después de que el oficialismo alcanzara el mínimo de 99 votos necesarios gracias al sí de un suplente que asumió su escaño tras la inhabilitación de una diputada disidente del oficialismo por presunta corrupción.

Maduro, quien presentó la petición el 8 de octubre pasado, ha dicho que necesita esos poderes para luchar contra la corrupción y estabilizar la situación económica. El Mandatario siguió de cerca la votación a través de mensajes en su cuenta de la red social Twitter, desde donde cuestionó a la oposición.

Los diputados del oficialismo, que controlan la Asamblea, defendieron la ley como una herramienta necesaria para “robustecer la lucha contra la corrupción y asumir la lucha contra la guerra económica”, frente a las críticas de la oposición, que votó en bloque en contra de la iniciativa.

“Es una ley para el rescate de la ética ciudadana y para una nueva economía (...). La tarea ahora es urgente, esos empresarios que están contra el país nos están obligando en este momento a librar una batalla contra la usura, la especulación”, dijo la diputada oficialista Tania Díaz.


En la otra vereda, el diputado opositor Andrés Velásquez consideró la ley como un golpe a la división de poderes. “Consideramos que no hay nada más contrario a la democracia que esta Ley Habilitante. Hoy una vez más este parlamento claudica su responsabilidad de gobernar ”, señaló.

Argentina: a caminho da esquizofrenia cambial, nova equipe economica

Esquizofrenia cambial apenas como primeira etapa: o destino final é a fuga de capitais, a desvalorização, a inflação, enfim, um filme que já vimos antes.
Quanto vai durar? Depende das reservas e do aumento da corrupção na manipulação das diversas taxas de câmbio: sempre tem espertinhos que obtêm uma taxa mais favorável para depois vender mais caro no mercado livre.
O resultado é a crise final, que prevejo para o final de 2014...
Paulo Roberto de Almeida

Por César Felício | De Buenos Aires
Valor Econômico, 20/11/2013

A presidente argentina, Cristina Kirchner, deve empossar hoje os novos ministros da Economia, Axel Kicillof, da Agricultura, Ricardo Casamiquela, e o ministro-chefe do Gabinete, Jorge Capitanich, ponto de partida para uma guinada econômica que se avalia como iminente e que deve começar pela política cambial. Desde o início do ano, as reservas internacionais da Argentina caíram 26%, de US$ 43,3 bilhões para US$ 32,2 bilhões, ou só cinco meses de importações.
Kicillof é um crítico do desalinhamento cambial. O dólar está cotado a 6,04 pesos, e economistas estimam que seria preciso desvalorizar a moeda entre 20% e 60% para repor a competitividade da economia. Antes de entrar para o governo, em 2011, Kicillof defendeu a volta do sistema de câmbio múltiplo, em que o dólar teria cotações diferentes para exportações, importações, operações financeiras, de turismo e de investimento.
O recurso foi usado em situações de crise, nos governos de Juan Perón (1973-1974), Raúl Alfonsín (1983-1989) e Eduardo Duhalde (2002-2003). Nos primeiros dois casos, a experiência não deteve a queda de reservas, houve megadesvalorizações e o país caminhou para surtos inflacionários e recessivos de grandes proporções. No caso de Duhalde, o câmbio múltiplo foi adotado como saída para o atrelamento do peso ao dólar, que vigorou de 1991 a 2001. Teve curta duração, produziu inflação em níveis menores e marcou o início da recuperação econômica do país. "O desdobramento pode levar ou não a um desequilíbrio, dependendo do resultado fiscal", disse o economista Eduardo Curia, vice-ministro da Economia em 1990.
Na equipe econômica de Cristina, Kicillof externou preocupação com a sobrevalorização do peso. "Existe na Argentina uma tendência permanente de valorização da moeda. Os produtos agropecuários de exportação produzem entrada permanente de divisas, e o dólar se torna barato. O liberalismo leva a uma apreciação da moeda, e a indústria perde competitividade. É preciso impedir esta tendência", disse, por exemplo, em outubro de 2012, ao apresentar o Orçamento no Congresso.
Entre os observadores do mercado argentino, há dúvidas sobre o real poder que Kicillof terá. "Cristina sempre foi uma concentradora de poder, e seus ministros eram meros executantes. Precisamos aguardar o que irá mudar não apenas na forma, mas no conteúdo das políticas", afirmou o presidente do centro dos importadores (Cira), Diego de Santisteban.
O contrapeso ao poder de Kicillof poderá ser Jorge Capitanich. Na Argentina, o ministro-chefe do Gabinete tem atribuições de coordenador do governo e, em tese, teria ascendência sobre Kicillof. Este papel não foi exercido pelos dois últimos ocupantes do cargo, Juan Manuel Abal Medina e Aníbal Fernandez, mas nenhum dos dois tem pretensões presidenciais, como é o caso de Capitanich, até esta semana governador da província do Chaco. "Ele é um político da máquina peronista e pode representar a mudança de rumo mais substancial no governo", afirmou Alejandro Ovando, da consultoria IES.
Outro amortecedor possível do poder de Kicillof é o novo presidente do Banco Central, Juan Carlos Fábrega. Funcionário de carreira do Banco de La Nación Argentina, Fábrega ganhou espaço no governo por ser amigo de juventude do marido e antecessor de Cristina, Néstor Kirchner, morto em 2010. "Ele é um soldado de Cristina, vai manter o Banco Central financiando o Tesouro, mas é aberto ao diálogo com o sistema financeiro, ao contrário da antecessora", afirmou o economista Aldo Abram, da Fundação Liberdade e Progresso, em uma referência à ex-presidente do BC Mercedes Marcó del Pont.
O mercado argentino reagiu mal às mudanças: a Bolsa de Buenos Aires caiu 6,55%, uma queda mais acentuada que a de outros países, como Brasil, Peru, Venezuela, Colômbia, México e Chile.

Valor Econômico – Novo ministro é intervencionista convicto e radical


Por César Felício | De Buenos Aires

Em 2001, ano em que a Argentina foi à bancarrota e teve que desvalorizar a sua moeda, um dos muitos atingidos pela crise foi um bar chamado Espero Infinito, no bairro portenha de Palermo Hollywood. O local, famoso pelos recitais de música que trazia todas as quintas-feiras, foi a única experiência conhecida no mundo privado do economista Axel Kicillof, de 42 anos, o novo ministro da Economia do país, que tomará posse hoje.
O estilo alternativo é uma das heranças que Kicillof ainda cultiva de seu tempo na cena cultural de Buenos Aires. Jamais visto de gravata no Ministério da Economia, seu visual se destaca pelas camisas sociais entreabertas e as longas costeletas no rosto. Kicillof é informal mesmo em suas exposições institucionais, como quando chamou de "palhaços" e "imbecis" os que se opuseram à estatização da petroleira YPF, em 2012, oportunidade em que ainda definiu as expressões "ambiente de negócios" e "segurança jurídica" como "horríveis".
Após sua breve experiência como empresário, Kicillof se firmou como um especialista na história das ideias econômicas na Universidade de Buenos Aires (UBA). Escreveu "Fundamentos da Teoria Geral: As Consequências Teóricas de Lord Keynes", um livro de 498 páginas, dois anos depois de "De Smith a Keynes, Sete Lições de História do Pensamento Econômico", de 372 páginas.
Seu pensamento é firmemente intervencionista. "Quando há problemas de contração econômica, o que se necessita é fazer uma política monetária expansionista, que contribui para reduzir as taxas de juros de forma a facilitar a liquidez e o crédito. Isso está em qualquer manual", disse, ao expor o Orçamento de 2013 ao Senado, justificando a expansão da emissão monetária no patamar de 40% ao ano.
"Trata-se de um keynesiano em sentido único: defende a política fiscal expansionista e não vê necessidade de moderar o gasto público", comentou, em reserva, o economista-chefe de uma entidade empresarial.
Kicillof é frequentemente tachado de marxista, desde que foi nomeado vice-ministro da Economia. Mas ele se irrita com o rótulo. "É um adjetivo usado para agitar fantasmas que a imprensa tem. Sou um estudioso do marxismo", disse num programa de TV simpático ao governo.
Em público, a nomeação de Kicillof foi elogiada no mundo de negócios, com comentários positivos do magnata do petróleo Alejandro Bulgheroni, do grupo Bridas, do dono da Corporação América, Eduardo Eurnekian, do presidente da Associação de Bancos, Jorge Brito, entre outros.
A nomeação não foi surpresa no meio empresarial, dado a fraqueza do titular do cargo até esta semana, Hernán Lorenzino. De fato, era Kicillof, como vice-ministro, que conduzia a política de remuneração das empresas do setor de petróleo e energia. Foi ele que ocupou o primeiro plano para anunciar subsídio para o setor habitacional e o aumento da carga tributária sobre o setor do biodiesel.
Nas tensas negociações comerciais entre Argentina e Brasil, era Kicillof que costumava trazer a posição da Casa Rosada. Lorenzino se ocupava apenas dos temas ligados à dívida externa. Mesmo o operador das barreiras comerciais que afetaram o Brasil, o secretário do Comércio Interior, Guillermo Moreno, deixou de ter protagonismo nessas reuniões, segundo relato de diplomatas argentinos e de membros do governo brasileiro.
Como vice-ministro, raras vezes Kicillof se pronunciou sobre o país vizinho. "Estamos muito vinculados com a economia brasileira. Quando o Brasil vai mal, isso se faz sentir na Argentina de maneira imediata. Não acreditem que negando o que se passa no Brasil vamos fazer com que os fenômenos deixem de existir", disse na exposição do Orçamento, justificando problemas econômicos argentinos como decorrência do desaquecimento da economia brasileira.
Sua aproximação com a corrente peronista La Campora, liderado pelo filho da presidente Cristina Kirchner, Máximo Kirchner, começou a ser gestada quando ainda era aluno da UBA e montou o movimento estudantil Tontos Mas Não Tanto, para disputar o poder nos centros acadêmicos contra o rival Franja Morada, corrente universitária do partido União Cívica Radical (UCR), de centro-direita. Com companheiros dessa época, ele criou, já como professor universitário, o Cenda, um centro de estudos de esquerda.
Foi desse posto que Kicillof foi recrutado por Mariano Recalde, o novo presidente da então recém-estatizada Aerolineas Argentinas, para se tornar seu assessor como subgerente financeiro da empresa, em 2009. Em seu período no cargo, a estatal aumentou seu prejuízo anual de US$ 563 milhões para US$ 666 milhões, um resultado atribuído por Recalde a fatores externos, como a suspensão de voos pela erupção do vulcão Puyuhue, no Chile.
Da Aerolineas, Kicillof foi designado por Cristina, em 2011, para representar o Estado na diretoria da Siderar, uma subsidiária do grupo Techint. O governo argentino havia estatizado dois anos antes os fundos de pensão, que detinham 26% do capital da empresa. A nomeação causou grande resistência do conglomerado siderúrgico, o maior grupo privado na Argentina, que temeu por uma gradual estatização.
Segundo relatam os jornalistas Esteban Rafele e Pablo Fernandez Blanco no livro "Os Patrões da Argentina", o acionista majoritário, Paolo Rocca, só levantou suas objeções depois de receber garantias da própria presidente Cristina, por meio de um interlocutor, de que não haveria um avanço do Estado sobre o controle da empresa.
Do ponto de vista prático, a presença de Kicillof no conselho não alterou o desenvolvimento do grupo empresarial, que ainda em 2011 compraria o controle da brasileira Usiminas. No plano retórico, houve tensão. Em 2012 Rocca publicamente criticou o governo argentino pela perda de competitividade do país. Já como vice-ministro, Kicillof foi duro ao comentar: "Ele não conhece o desempenho de sua própria empresa. Podíamos baixar o preço da chapa de aço para quebrá-lo, mas não vamos fazer isso".

Valor Econômico - Secretário polêmico deixa o governo


Por César Felício | De Buenos Aires

O secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno, pediu demissão ontem. A demissão foi imediatamente aceita, e Moreno foi nomeado adido econômico na embaixada argentina na Itália. O economista, que estava no cargo desde abril de 2006, era a figura mais polêmica da equipe econômica. Ele se notabilizou por pressionar empresários por ordens não escritas e por ter feito uma intervenção no Indec, o instituto de estatísticas do governo, que passou a divulgar índices de inflação distante da realidade.
A queda tende a reforçar o poder do novo ministro da Economia, Axel Kicillof, que toma posse hoje. E fortalece o novo ministro-chefe do Gabinete, Jorge Capitanich. Coloca em xeque ainda todo o seu grupo dentro do governo, formado pela secretária de Comércio Exterior, Beatriz Paglieri, a presidente do Indec, Ana Maria Edwin, e a secretária de Defesa do Consumidor, Maria Colombo.
Em 2012, Moreno foi o principal executor das Declarações Juradas de Antecipação de Importações (DJAI), um mecanismo que fez com que todas as importações passassem a ser analisadas caso a caso, o que atingiu severamente o intercâmbio comercial com o Brasil. A pedido da presidente Dilma Rousseff, ele deixou de participar de reuniões bilaterais. Este ano, ele se desgastou por uma série de iniciativas mal sucedidas, que sinalizaram para uma perda de poder interno. A de alcance maior foi o insucesso da política de anistia para quem repatriasse dólares enviados ilegalmente para o exterior.

O Estado de S. Paulo - Reforma perigosa na Argentina / Editorial


Um país mal governado sempre pode piorar, como tem provado e pode provar mais uma vez a presidente Cristina Kirchner com a recém-anunciada reforma de seu Ministério. Analistas econômicos receberam com sinais de preocupação a escolha do economista Axel Kicillof, secretário de Política Econômica, para chefiar o Ministério da Economia no lugar de Hernán Lorenzino. O novo ministro é conhecido defensor da intervenção estatal nas empresas e nos mercados e partidário do câmbio múltiplo. Consultores independentes também receberam com reservas a nomeação do presidente do Banco de la Nación, Juan Carlos Fábrega, para substituir Mercedes Marcó del Pont no comando do já enfraquecido e um tanto desmoralizado Banco Central. Se uma parte dos maus presságios desses economistas se confirmar, novos erros deverão complicar a situação econômica argentina, já difícil. Uma parcela da conta poderá ficar para o Brasil, já prejudicado, há vários anos, pelo protecionismo de seu maior parceiro sul-americano e indisfarçável emperramento do Mercosul.
Tão preocupante quanto a nomeação de Kicillof para o Ministério da Economia é a manutenção do secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, principal articulador do controle de preços, da manipulação de índices de inflação. É também o responsável pelo protecionismo comercial, uma política praticada tanto por medidas abertas quanto por pressões e ameaças nunca declaradas oficialmente, mas denunciadas com frequência por empresários de vários setores.
Essa política tem sido facilitada pela atitude das autoridades brasileiras, propensas, há vários anos, a aceitar desaforos e imposições de governos da região ideologicamente aparentados. Em algumas ocasiões, essas autoridades foram além da mera aceitação. Justificaram e apoiaram esses desaforos, como no caso da invasão armada de instalações da Petrobrás na Bolívia, e também quando aconselharam industriais brasileiros a aceitar e "negociar" as barreiras comerciais argentinas.
Mesmo como estratégia de apoio a vizinhos em dificuldades esse tipo de política nunca poderia dar certo. O apoio jamais poderia ser mais que temporário e condicional. Além disso, o governo petista sempre foi obviamente movido por outras considerações - uma afinidade ideológica com o autoritarismo misturada com a ilusão de uma liderança regional sempre desmentida pelos fatos.
O apoio do governo brasileiro aos desmandos praticados em países vizinhos nunca foi calibrado por uma avaliação crítica e minimamente sensata. O intervencionismo kirchnerista sempre se traduziu em medidas toscas, demagógicas e imediatistas e nunca em políticas de longo alcance. O resultado geral só poderia ser o agravamento de uma situação econômica já complicada.
Sem investimento e sem modernização, a maior parte da indústria argentina continuou pouco produtiva e com escasso poder de competição. A proteção comercial garantida pela política dos Kirchners jamais foi condicionada, de fato, à busca de maior eficiência. Isso emperrou tanto o funcionamento interno do Mercosul quanto a diplomacia conjunta. Sem surpresa, o governo argentino continua entravando a já demorada e complicada negociação de um acordo de livre-comércio com a União Europeia.
Anos de intervencionismo inepto e primário minaram os fundamentos da economia. As reservas cambiais diminuíram de US$ 52 bilhões em janeiro de 2012 para os atuais US$ 32,3 bilhões. Uma reforma nas regras do Banco Central ampliou as possibilidades de uso de reservas pelo Tesouro. A reforma ocorreu na gestão da economista Mercedes Marcó del Pont, disposta a apoiar os desmandos da presidente Cristina Kirchner, mas contrária à ideia, defendida por Kicillof, de múltiplas taxas de câmbio.
A mudança ministerial, segundo as primeiras avaliações, dará força à presidente para um intervencionismo mais amplo e mais perigoso. Se essas avaliações estiverem certas, vai ficar mais dura a disputa entre os governos argentino e venezuelano pela taça do maior acúmulo de erros econômicos. 

Politica Externa Brasileira - Entrevista com o novo Chanceler (Valor)

Um encontro com o novo chanceler
Rosângela Bittar *
Valor Econômico, 20/11/2013

A política externa com iniciativa e não reativa, como parece. Com definição de rumos para atualizar as relações do Brasil com o mundo - com a China, com a União Europeia, com os Estados Unidos, com os andinos, com os países da África. Que agregue os temas novos da sociedade brasileira e não se limite aos clássicos e permanentes. Há o mundo novo do século 21 a explorar: os direitos humanos, as questões sociais, o racismo, o grupo LGBT, a inclusão, a internet, atualidades que precisam ser contempladas na política externa, sem abandonar a tradicional agenda da paz e da segurança, da cooperação regional, de integração, do comércio exterior. E a criação de instâncias de pensamento e debate na estrutura do Itamaraty, abrindo a casa para que perca a má fama de caixa preta do governo e se apresente à sociedade civil, aos empresários, às organizações sociais, à academia.
São princípios percebidos com clareza em uma conversa, na véspera do último feriado, com o novo chanceler do Brasil que assumiu o cargo no fim de agosto, Luiz Alberto Figueiredo. O ministro não concorda com decepções do respeitável público, ou de sua interlocutora, que veem o governo brasileiro se arrastar em uma política externa ditada pelos presidentes populistas da sudamérica, pelos africanos, pelos ditadores árabes, por quem der mais, seja em comércio, seja em afinidade ideológica. Luiz Alberto Figueiredo recusa a ideia de que o Brasil está fazendo a política externa exclusivamente na reação aos acidentes diplomáticos.
O Mais Médicos é uma medida de política externa pela via da política interna, uma iniciativa para disfarçar ajuda a fundo perdido a Cuba? "Não, é um programa fundamental interno, uma necessidade da população brasileira", responde a isso como responde a tudo com naturalidade.
"Espionagem à parte, precisamos nos debruçar no estudo e no debate sobre a questão da Internet", afirma, citando de passagem e indiretamente o grande contencioso mais recente com os Estados Unidos para introduzir os novos temas que pretende abrigar na política externa.
Sobre o que se fez com o embaixador americano Thomas Shannon que, segundo relato da "Folha de S. Paulo", saiu do Brasil escorraçado, hostilizado pelo governo, Figueiredo deixa passar o comentário sem comentários, meio a outros acidentes citados à sua consideração sobre a política reativa do Brasil. De que é exemplo, também, o episódio que o levou ao governo Dilma com a demissão do antecessor: o translado do senador boliviano asilado na embaixada brasileira em La Paz. "O caso do senador boliviano está sendo examinado pelo Conare, o conselho de refugiados, e o do diplomata Eduardo Saboia, que respondia pela embaixada à época da concessão do asilo, por uma comissão do Itamaraty", relata. Sem entrar em méritos, completa: "Isso está tendo seu curso normal, vai durar o tempo que a defesa quiser que dure".
Os laços que unem o Brasil de maneira preponderante aos interesses de Evo Morales, Nicolás Maduro, Raul Castro, Rafael Correia, Cristina Kirchner, não se confundem com uma inédita e intensa partidarização da política externa? "Eu não tenho partido", diz o ministro, que informa já ter servido como diplomata a vários governos, de diferentes orientações. "Mas é natural que a política externa reflita as orientações do governo", completa, com outra de suas assertivas.
Luiz Alberto Figueiredo seguiu esta semana para uma série de viagens para reuniões bilaterais com Moscou, Haiti, Noruega, passará na Polônia, onde transcorre a Conferência do Clima, para marcar posição política do governo brasileiro de apoio às negociações,. De lá, Figueiredo tem uma pausa de um dia e segue para Bali, rumo às negociações, que se esperam duríssimas, da conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC).
No início de dezembro, participa dos entendimentos Mercosul-União Europeia. "Como isto está num processo bastante adiantado, nossa perspectiva é, até o fim do ano, por volta do dia 15, nós e os europeus trocarmos as ofertas para começar uma negociação", informou.
Uma política em curso, uma nova em formulação por duas instâncias criadas pelo novo ministro para debater a política externa. Luiz Alberto Figueiredo determinou a elaboração do livro branco da política externa em que, por escrito, se vai afirmar qual é a política que se quer ver debatida pela sociedade.
Um dos grupos estará na Secretaria de Planejamento Diplomático, que mudará seu nome para Planejamento de Política Externa. O outro é um Conselho com integrantes do governo e da sociedade.
O ministro está levando à chancelaria um especialista, profundo conhecedor de China, que estava na Embaixada do Brasil naquele país, além de experts nos novos temas que pretende incluir nos papers e manuais, como as questões sociais.
Figueiredo quer chegar a uma política externa que olhe para a frente e, sobre ela, quer conversar com todos, que enumera: academia, sociedade civil, empresariado, movimentos sociais. "Queremos ouvir e explicar o que estamos fazendo e porque estamos fazendo. A prestação de contas faz parte da minha função", afirma.
O Brasil está sendo empurrado às transformações até pelo interesse dos outros países pela forma como algumas questões avançaram por aqui. "Os presidentes que vêm se interessam pelas tecnologias sociais do Brasil. Como o Brasil conseguiu superar o dogma econômico da década de 80, o de crescer e tirar gente da pobreza ao mesmo tempo. Isso tem que entrar na política externa".
Foi para isto que reestruturou suas unidades de pensamento político, mudanças que atingirão, também, o Instituto Rio Branco, a escola de formação de diplomatas, com a criação de novas disciplinas e muita conferência sobre as questões de hoje que interessam a todos. O chanceler não se furta a dirimir um falso antagonismo que tem sido colocado como exigência da presidente da República. Dilma gostaria de ter "mais política externa e menos diplomacia", é o que se diz. A diplomacia, explica Figueiredo, é o instrumento, os diplomatas aprendem a manejá-lo. O que é necessário é ter uma política externa para a diplomacia trabalhar.

* Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras.

Petrobras: entrou agua na gasolina - governo nao sabe o que fazer...

(o que não é nenhuma novidade...).
O que mais define o tipo de atividade deste governo é a sua falta de atividade.
O que mais caracteriza a ação do governo é a falta de ação.
Não que ele fique parado o tempo todo, ao contrário: ele se movimenta para todos os lados, só que disso resulta muito pouco, quase nada.
Ele não fica parado, mas parece aqueles esquilos encerrados em gaiolas redondas: fica girando e não sai do lugar.
O governo é o nosso esquilo da gaiola: se esfalfa, se esfalfa, transpira, fala, até grita, mas de resultado mesmo, nada, ou quase nada, apenas os anúncios de coisas que acontecerão um dia, só que esse dia nunca chega...
Esse é o quase governo que quase temos; enfim, sobrou muito pouco, a maior parte fica mesmo com o partido dos companheiros, especialistas em estragar o que estava bom e não colocar nada no lugar...
Paulo Roberto de Almeida

Reunião para definir aumento da gasolina é cancelado após impasse
Correio do Brasil (o jornal do chefe da quadrilha, agora engaiolado), 20/11/2013 15:21
Brasília e Rio de Janeiro

Ministro da Fazenda, Guido Mantega discorda do método proposto pela Petrobras
O Ministério da Fazenda e a Petrobras não chegaram a um acordo para estipular os novos indices de aumento no preço da gasolina e, diante do impasse, foi cancelada a reunião do conselho de administração da petrolífera estatal, agendada para a próxima sexta-feira. Constava, ainda, na pauta, a criação de um mecanismo de reajuste automático para a gasolina e o diesel.
A nova data para o encontro ficou marcada para o dia 28 de novembro, quando o governo poderá decidir a concessão de um reajuste para os dois combustíveis, que entraria em vigor ainda neste ano. Caso as novas diretrizes quanto à evolução dos preços sejam confirmadas, o governo poderá aproveitar para conceder o aumento reivindicado pela Petrobras.
A Petrobras chegou a concordar com a metodologia de reajuste automático da gasolina e do diesel, apresentada por técnicos da estatal, mas a fórmula ainda não foi aprovada no conselho de administração. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, encontrou fatores duvidosos no novo modelo e pediu ajustes no mecanismo na reunião do conselho de administração ocorrida em 25 de outubro. Mantega chegou a se irritar com a forma como a diretoria da estatal conduziu o processo, que acabou vazando para a imprensa, antes de chegar ao conhecimento dos acionistas.
Para o ministro, a empresa deveria ter tornado público o assunto apenas depois de uma decisão de governo sobre a nova metodologia. O comunicado ao mercado divulgado na época dizia que a “diretoria-executiva deliberou sobre uma metodologia de precificação a ser praticada pela companhia”, que foi “apresentada ao conselho de administração, que determinou a elaboração de simulações adicionais e estabeleceu o prazo de 22 de novembro para sua consideração”.
Mais petróleo
Nesta manhã, a Petrobras confirmou que concluiu a perfuração de mais um poço na área de Franco, umas das previstas no contrato de cessão onerosa, na região do pré-sal da Bacia de Santos. A estatal informou, em nota, que foi comprovada a descoberta de petróleo de boa qualidade, situado abaixo da camada de sal, a partir da profundidade de 5.398 metros.

O poço conhecido como Franco Leste, situado em profundidade de água de 2.011 metros, a cerca de 200 quilômetros (km) da cidade do Rio de Janeiro e a 7,5 km a Sudeste do poço de Franco, foi adquirido por meio do contrato de cessão onerosa pela Petrobras, com o direito de produzir até 3.058 bilhões de barris de óleo equivalente recuperável, sendo que a fase exploratória prossegue e tem seu término previsto para até setembro de 2014.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Venezuela: em queda livre para o abismo - Steven Hanke

E da pior forma possível: caos econômico e ditadura política.
Paulo Roberto de Almeida

A espiral decadente da Venezuela

Instituto Von Mises Brasil, terça-feira, 19 de novembro de 2013

 

maduro.jpgÀ medida que a situação econômica da Venezuela vai degringolando, seu governo vai se tornando cada vez mais autoritário.  No momento, ele está fazendo de tudo para solapar as bases do já extremamente deteriorado tecido social do país.
Na sexta-feira, dia 8, o presidente Nicolás Maduro ordenou que o exército ocupasse as lojas de uma rede varejista de eletrônicos e confiscasse todos os bens com o intuito de vendê-los a "um preço justo".  Logo após esse confisco, multidões se aglomeraram, ao longo de todo o país, em frente às portas de várias lojas de eletrodomésticos com o intuito de saqueá-las, o que chegou a ocorrer em vários casos.  Esta ocupação ocorreu um dia após o Banco Central da Venezuela anunciar que a taxa de inflação de preços em outubro foi de 5%, o que dá uma inflação anualizada de 54%.  No entanto, a realidade é bem mais tenebrosa.
A história da economia venezuelana e de sua decadente moeda, o bolívar, pode ser resumida na seguinte frase: "De mal a pior".  Com efeito, a situação já extremamente deteriorada da Venezuela conseguiu dar uma guinada para pior.
Em uma reação estouvada e totalmente equivocada às aflições econômicas do país, Maduro exigiu que o Congresso lhe concedesse poderes emergenciais e ditatoriais sobre toda a economia.  Recentemente, o governo anunciou planos para instituir uma nova taxa de câmbio para turistas em uma tentativa de acabar com a alta arbitragem no mercado paralelo de câmbio.  Obviamente, isso de nada irá adiantar.  A economia do país está em declínio desde que Hugo Chávez impôs seu "socialismo moreno" à Venezuela, uma excentricidade que, à época, chegou a ser relativamente bem recebida por vários setores da grande mídia.
Durante anos, a Venezuela manteve um volumoso programa de gastos sociais combinado com controles de preços e salários e com um mercado de trabalho extremamente rígido, além de manter, como política externa, uma agressiva estratégia de ajuda internacional voltada majoritariamente para Cuba.  Todo este insano castelo de cartas conseguiu se manter solvente por um bom tempo unicamente por causa das receitas do petróleo.
Mas à medida que os custos deste populismo da dupla Chávez/Maduro foram crescendo, o país teve de recorrer com cada vez mais frequência aos cofres da estatal petrolífera PDVSA e à impressora do dinheiro do Banco Central da Venezuela.
Desde a morte de Chávez, no dia 5 de março de 2013, todo este castelo de cartas começou a desmoronar, e a taxa de câmbio do Bolívar no mercado paralelo ilustra bem essa história.  Desde aquele mês, o bolívar já perdeu 62,36% de seu valor em relação ao dólar no mercado paralelo, como mostra o gráfico abaixo.
 venezuela_chart_1.png
Gráfico 1: taxa de câmbio bolívar/dólar no mercado paralelo (linha azul) versus taxa de câmbio oficial declarada pelo governo (linha vermelha)
Essa acentuada desvalorização do bolívar, por sua vez, gerou uma extremamente alta inflação de preços na Venezuela.  O governo reagiu exatamente como todos os governos populistas reagem aos aumentos de preços causados por suas próprias políticas: impondo controle de preços cada vez mais rígidos.  Obviamente, comoLudwig von Mises já havia explicado há várias décadas, estas políticas não apenas fracassaram completamente, como geraram um grande desabastecimento nos supermercados e uma constrangedora escassez de vários produtos essenciais, como papel higiênico.  E nada foi feito para atacar a causa básica das aflições inflacionárias da Venezuela, que é o descontrole da oferta monetária.
O gráfico abaixo mostra a evolução da quantidade de dinheiro na economia venezuelana (agregado M2) de acordo com as estatísticas do próprio Banco Central venezuelano.  Em sete anos, a quantidade de dinheiro na economia aumentou 10 vezes.
venezuela-money-supply-m2.png
Gráfico 2: evolução da quantidade de dinheiro na economia venezuelana
O governo Maduro reagiu a tudo isso recorrendo exatamente às mesmas táticas empregadas por outros regimes totalitários e com moedas destroçadas.  Do Zimbábue de Robert Mugabe à Coréia do Norte atual, o manual é simples: negar e enganar.
Oficialmente, os dados do governo venezuelano afirmam que a taxa de inflação de preços no país é de apenas 50%, um valor totalmente irreal.  E, para aumentar o escárnio, no dia 22 de outubro, o ministro das finanças Nelson Merentes enviou ao Congresso uma proposta orçamentária para 2014 que projetava uma inflação de preços de aproximadamente metade da inflação oficial atual.  Apenas mais uma tentativa jocosa e inócua de mascarar a realidade do grave problema inflacionário do país.
Mas então, quão grande é a inflação da Venezuela?  Utilizando a desvalorização do bolívar no mercado paralelo — que é o mensurador que melhor estima o real valor de uma moeda —, é possível inferir que a inflação de preços "reprimida" na Venezuela está atualmente nos três dígitos, alcançando o estonteante valor anual de 283%, como mostra o gráfico abaixo.
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Gráfico 3: inflação de preços oficial (linha vermelha) versus inflação de preços implícita (linha azul) acumuladas em 12 meses.
Pior ainda: a taxa de inflação implícita mensal alcançou 36%, como mostra a figura abaixo.  Tal valor está perigosamente próximo do limite de 50% ao mês, que é o valor que simbolicamente caracteriza uma hiperinflação. 
venezuela_chart_33.png
Gráfico 4: taxa de inflação de preços mensal (implícita) na Venezuela
A acelerada depreciação do bolívar nada mais é do que um reflexo da deterioração das perspectivas econômicas da Venezuela.  Tudo indica que o governo Maduro está determinado a não apenas insistir em suas políticas fracassadas, como também em intensificá-las.  Preços estão sendo reduzidos por decreto, empresários estão sendo presos e a margem de lucro das empresas passou a ser estritamente controlada
Embora o congelamento mantenha os preços dos bens em níveis ostensivamente baixos no mercado oficial, eles inevitavelmente geram prateleiras vazias, privando vários consumidores de ter acesso a bens essenciais.  Controle de preços em conjunto com uma regulação da margem de lucro não pode gerar outra coisa senão o desabastecimento.  Como resultado, a escassez de produtos bateu recordes na Venezuela
O governo venezuelano alega que a alta inflação de preços e o desabastecimento generalizado de produtos básicos são resultado tanto de uma "guerra econômica" feita pelos EUA quanto de maquinações maquiavélicas da "classe burguesa parasítica" da Venezuela.  Por isso, Maduro começou a mobilizar suas tropas contra estes "inimigos" e passou a encarcerar todos os comerciantes que pudessem ser enquadrados no crime de "usura" e "extorsão".
Veja no vídeo abaixo o desespero de um comerciante ao ser preso pelo governo pelo simples fato de não ter reduzido seus preços como ordenava o governo:
Comprovando sua ignorância econômica, Maduro disse que o Banco Central venezuelano tem de estar mais atento às maquinações dos empresários do país e divagou: "Se estamos baixando os preços dos produtos em quase 100%, isso deveria impactar a taxa de inflação, não?"  É claro que não.  Enquanto o Banco Central continuar criando dinheiro para financiar o governo (ver o gráfico 2), a inflação de preços continuará subindo.  E ao ativamente estimular os saques aos comerciantes, o governo está deliberadamente desestabilizando a sociedade venezuelana, muito provavelmente com o intuito de ter a justificativa para adotar medidas ainda mais radicais.
Em abril, quando Nicolás Maduro oficialmente assumiu a presidência após uma vitória bastante questionável nas urnas, várias pessoas especularam que ele seria mais conciliador e moderado que seu antecessor Chávez.  Ledo engano.  Já está claro agora que, sob Maduro, o chavismo foi elevado ao paroxismo e que o pior ainda está por vir na Venezuela.
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Leia também: Recordações de um Brasil socialista
Steve Hanke é professor de Economia Aplicada e co-diretor do Institute for Applied Economics, Global Health, and the Study of Business Enterprise da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, EUA.  O Professor Hanke também é membro sênior do Cato Institute em Washington, D.C.; professor eminente da Universitas Pelita Harapan em Jacarta, Indonésia; conselheiro sênior do Instituto Internacional de Pesquisa Monetária da Universidade da China, em Pequim; conselheiro especial do Center for Financial Stability, de Nova York; membro do Comitê Consultivo Internacional do Banco Central do Kuwait; membro do Conselho Consultivo Financeiro dos Emirados Árabes Unidos; e articulista da Revista Globe Asia.

Novo sistema de autoatendimento BB - novo sistema de acesso ao Brasil dos companheiros

Recebido, ainda agora, em uma dessas mensagens que nos promete, educadamente, atualização para os mais modernos sistemas de atendimento da bandidagem eletrônica


Prezado Usuário,

A equipe tecnológica do Banco do Brasil se preocupa em garantir tranquilidade para os clientes ao utilizar nossos serviços do autoatendimento e realiza frequentemente atualizações.

O motivo deste nosso email é para avisar que no dia 19/11/2013 foi lançada uma correção de acesso ao Autoatendimento. 

Esta atualização vem para correção de componentes adicionais de acesso e se faz obrigatória para todos os clientes pessoa física. Para realiza-la siga as instruções disponíveis no link abaixo:
(...)
Qualquer duvida entre em contato conosco. 

(logo, etc.)
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Agora, adaptado aos novos tempos da bandidagem político-partidária

Prezado Otário Brasileiro,

A equipe de falcatruas generalizadas do partido dos companheiros se preocupa em que você seja assaltado, em toda tranquilidade, seja pelos meios eletrônicos diretos desse órgão fascista por excelência que arranca parte do seu salário antes mesmo de você o receber, seja por meios indiretos, nas concorrências viciadas, nas compras superfaturadas, nas contribuições de dízimo, vigésimo e trigésimo de toda a companheirada aboletada nos cargos públicos (sem ter competência para tal), nas dotações generosas dadas a ONGGs do partido (disfarçadas de entidades benévolas, quando são altamente malévolas), nos subsídios e transferências realizadas para todos os sanguessugas que recebem pensões, transferências, subsídios (para órgãos tão inocentes quanto os neobolcheviques do MST), enfim, para todos os companheiros das máfias sindicais e das centrais fictícias, que recebem das gordas tetas do MTb sem precisar prestar contas a qualquer órgão de controle do regime burguês que veio antes de nós.

O motivo deste nosso email é para avisar que, no último dia 15/11/2013, alguns companheiros ficaram temporariamente indisponíveis para consultas diretas, conversas ao pé do ouvido, enfim, para serviços diversos, por causa de sua transferência para as novas e acolhedoras acomodações nos escritórios federais vulgarmente conhecidos como Papuda, o que todavia não os impede de se comunicar com a companheirada por meio de bilhetes, mensagens, matérias de imprensa, declarações de seus caríssimos advogados, e outros meios que o próprio Estado se encarrega de lhes fornecer. Os companheiros avisam que tal situação -- que já motivou procissões na frente dos novos escritórios -- é puramente temporária, e será revertida assim que componentes adicionais de acesso sejam instalados e estejam plenamente operacionais a partir desta atualização.

Se você está satisfeito com os nossos serviços da série "nunca antes", clique aqui para sua atualização cadastral: 
(...)

Entenda que nossos serviços são obrigatórios, por delegação dos milhões de otários que votaram em nós, motivados pelo nosso discurso cativante, prometendo mundos e fundos, bem como por mandato especialmente conferido pelas dezenas de milhões que integram o imenso exército de assistidos do novo Brasil (um quarto da população, não é maravilhoso?), todas elas pessoas físicas (o que não impede que algumas pessoas jurídicas também se aproveitem dessas gordas tetas do Estado brasileiro, copiosamente azeitado por novos recursos que extorquimos desses burgueses idiotas, que até nos financiam voluntariamente).
Qualquer dúvida, entre em contato conosco.
(logo, etc.)

Pela adaptação, 
Paulo Roberto de Almeida