O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

OMC: UE reclama contra Brasil (era inevitavel)

Os companheiros, que são perfeitos amadores em política econômica (o que já era esperado), e imperfeitos improvisadores em políticas setoriais, com destaque para a comercial e a industrial, podem ficar surpresos, mas quem conhece as regras do comércio internacional poderia prever que isso fosse ocorrer.
O governo acha que pode fazer discriminação abusiva contra a produção estrangeira.
Deu no que deu: os companheiros obrigam o Brasil a passar vergonha numa organização presidida por um brasileiro.
Paulo Roberto de Almeida

Europa exige fim de redução de IPI nos carros e leva Brasil à OMC

Jamil Chade, de Genebra
O Estado de S.Paulo, 19/12/2013
No primeiro processo contra o Brasil em anos, Bruxelas acusa Brasil de protecionista e de dar apoio “proibido” às indústrias nacionais 
O principal pilar da estratégia industrial e de exportação do governo Dilma Rousseff sofre um duro abalo. Hoje, a União Europeia anunciou que acionou os tribunais da Organização Mundial do Comércio contra a política de incentivos fiscais dados pelo Brasil, acusando as medidas adotadas de serem protecionistas e afetando os interesses das montadoras europeias.
Há anos os governos europeus e de outras regiões do mundo atacam as barreiras estabelecidas pelo Brasil. Mas, agora, esse será o primeiro questionamento nos órgãos legais da OMC contra o País desde o início da crise mundial, que eclodiu em 2008.
A disputa aberta é contra as políticas de incentivos fiscais dados pelo Brasil a diversos exportadores, como isenção tributária em vários setores. Para a Europa, essa ajuda é “proibida” pelas regras internacionais do comércio e quer que o governo Dilma retire essas iniciativas. Mas é setor automotivo que está no centro da nova crise.
O governo brasileiro insistiu por anos que suas medidas eram legais. Mas, agora, o governo Dilma tem o centro de sua política industrial questionado.
“Nos últimos anos, o Brasil aumentou o uso de um sistema de impostos que é incompatível com suas obrigações na OMC, dando vantagens a indústrias domésticas e isolando elas da concorrência”, declarou a UE. “Isso é feito principalmente por isenções e redução de impostos”.
Em setembro de 2011, o governo estabeleceu um isenção de IPI para carros de montadoras que se comprometam a investir no País e comprem peças locais. Em 2012, o plano foi renovado por mais cinco anos, o que deixou Bruxelas, Washington e Tóquio irritados. Governos de países ricos alertavam já nos últimos meses que o discurso original do governo brasileiro em 2011 era de que esses incentivos seriam temporários. Agora, irão durar até 2017. Incentivos fiscais também foram dados para computadores, smartphones e semicondutores.
O governo brasileiro sempre alegou que as medidas beneficiavam montadoras europeias, justamente contra a concorrência asiática. Mas, segundo Bruxelas, as medidas adotadas por Dilma tem afetado as exportações do bloco. Em 2011, 857 mil carros foram importados ao mercado brasileiro. Em 2013, esse número caiu para 581 mil até outubro.
Num primeiro momento da disputa, europeus e brasileiros tentarão encontrar uma solução sem a participação de árbitros da OMC. Os governos terão 60 dias para chegar a uma “solução pacífica”. Mas, tradicionalmente, casos abertos em Genebra dificilmente são resolvidos nesse período.

Brazilian Journal of International Relations - Vol. 2, No 3 (2013)

Transcrevendo:

Brazilian Journal of International Relations acaba de publicar seu último número em http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/bjir.

Brazilian Journal of International Relations
Vol. 2, No 3 (2013)

Sumário

Apresentação
--------
Apresentação (432-434)
Marcelo Fernandes Oliveira, Rafael Salatini

Colaboradores
--------
Colaboradores (435)
Laila Monteverde

Artigos
--------
A Energia e seu Controle Histórico: A Questão do Etanol como Recurso
Energético Alternativo (436-462)
José Alexandre Altahyde Hage

Desenvolvimento Pacífico Chinês frente à estratégia de “um século
americano no Pacífico” (463-482)
Marcos Cordeiro Pires

Threat Perception in International Relations: The Realist and the Liberal
Accounts (483-509)
Felipe Mendes Sozzi Miguel

A Efetivação do Direito Ambiental no Século XXI Através de um Estado
Transnacional Ambiental (510-532)
Charles Alexandre Souza Armada

O Multilateralismo Amazônico, entre êxitos geopolíticos e entraves
executivos: trajetória do processo de cooperação de 1978 a 2012.
(533-559)
Rodolfo Ilario Silva

Sete globalizações? (560-570)
Michelangelo Bovero

Resenhas
--------
Book review: The Crisis of American Foreign Policy: Wilsonianism in the
21st Century (571-574)
Oliver Stuenkel

Resenha da Obra "America at a Crossroad: Democracy, power and the
Neoconservative Legacy" (575-581)
Helvisney Reis-Cardoso

Pareceristas do Volume
--------
Pareceristas do Volume (582-583)
Laila Monteverde
_______________________________________
Brazilian Journal of International Relations

Avioes de combate para a FAB: os franceses choram o seu Rafale recusado (muito caro)

Après l'échec brésilien, quelles chances pour le Rafale ? 
 Le 19 Décembre 2013 à 07h par Emmanuel Cugny
France Info
 
 Dassault ne vendra pas son avion de combat Rafale au Brésil, la Présidente Dilma Roussef a fait son choix en faveur de l'avion Grippen du suédois SAAB. Un nouveau coup dur pour l'avion de combat français qui n'a toujours pas trouvé preneur à l'étranger. 
 

Pour l'instant, le Rafale équipe uniquement l'armée française. A ce jour, 126 appareils ont été livrés sur les quelques 180 commandés. A raison de 100 millions d'euros l'unité, cela commence à faire une somme rondelette. 
Il faut au moins 4 ans pour construire un Rafale. Le temps que Dassault trouve preneur à l'étranger, il faut financer le programme. Ce que fait l'Etat en vertu d'un contrat dont une clause prévoit une renégociation en 2016. D'ici là, il faut assurer. Entre alternances politiques et crise financière, le Brésil ne sera pas l'opportunité tant attendue. Lors de sa récente visite à Dilma Roussef, le Président François Hollande n'avait pas manqué de rappeler les accords qui lient déjà les deux pays dans les hélicoptères de transport militaire ou les sous-marins d'attaque... en vain.

Pourquoi le Brésil a-t-il choisi l'avion suédois ?


Le coût d'abord. Ce contrat s'élève entre 3 milliards et demi et 4 milliards d'euros et on verra ce qu'il ressort des négociations finales. 
Mais comparaison n'est pas raison. Dassault affirme que son mono réacteur léger est beaucoup plus sophistiqué (ce qui est vrai) et donc nettement plus cher : 100 millions d'euros l'unité contre une quarantaine pour le Grippen. 
L'entretien ensuite, moins cher (les coûts de maintenance sont un facteur important).
Enfin, le transfert de technologie pour lequel SAAB serait moins "embêtant".

Donc raisons financières... mais aussi géopolitiques ?


Sur le plan financier, il est vrai que le Brésil est engagé dans une autre course budgétaire : celle de l'organisation des Jeux Olympiques d'été à Rio en 2016. Le pays ne peut mener plusieurs chantiers lourds de front.
D'autant qu'en matière de défense, le Brésil n'a pas les mêmes contraintes que d'autres pays dans le monde : il n'a pas d'ennemis aux frontières et il est moins engagé dans les grandes opérations militaires internationales. 
Enfin, il y a le poids des Etats-Unis. Le F18 américain a lui aussi été écarté de la compétition, mais tout n'est pas perdu pour Washington car le Grippen est composé de beaucoup de pièces américaines dont le moteur Général Electric. Ce qui veut dire que le transfert de technologie est, de toute façon, soumis au congrès américain. L'administration Obama conserve donc un droit de regard dans cette affaire.

Qu'en est il des espoirs du Rafale à l'étranger ?


Deux gros espoirs : les Emirats-Arabes Unis et l'Inde. Les Emirats ne sont pas pressés car déjà équipés de Mirage 2000-9 performants (également de Dassault) et puis de F-16 américains dernier cri. Ils prennent donc leur temps pour négocier. 
Avec l'Inde, c'est différent. L'urgence opérationnelle est plus forte. Le Rafale avec l'Inde, c'est comme le Grippen avec le Brésil : nous sommes dans la phase des négociations exclusives et le plus gros des discussions porte sur le transfert de technologie. Le contrat avec New Dehli porte sur quelque 110 appareils... pour chaque pièce du Rafale, il faut identifier les partenaires locaux capables de fabriquer les pièces correctement. Cela veut dire certifier et sécuriser la partie industrielle pour éviter les déconvenues couteuses et devoir récupérer en urgence le service après-vente. Un travail titanesque. 
Mais le jeu en vaut la chandelle. Sur le Rafale, outre Thales et Safran, Dassault fait travailler pas moins de 500 entreprises sous-traitantes... ce sont bien sur des milliers d'emplois.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

De volta ao problema dos médicos cubanos: uma opiniao bem informada - Flavio Roberto Ferreira

Um único ponto de discordância com o articulista abaixo, mas ele é apenas de forma, não de conteúdo.
Ele diz que "a sociedade está surpresa com o silêncio dos membros do Judiciário Trabalhista e do Ministério Público do Trabalho".
Creio que a sociedade não está nada, pois a quase totalidade da população não tem conhecimento dos meandros contratuais e das filigranas jurídicas (neste caso mais políticas do que qualquer outra coisa), e só participa do debate, nem sempre bem informado, uma minoria de cidadãos como ele e alguns outros, poucos, pouquíssimos. 
Os próprios jornalistas, como os que participam do "debate", se dividem entre a favor (do governo, em geral) ou contra (porque é Cuba, etc.).
Os usuários potenciais, ou seja, populações pobres, desejam atendimento, qualquer atendimento. 
Os que fazem o debate jamais serão confrontados ao problema na prática, e na verdade, tudo isso é uma montagem de um governo pró-ditadura cubana para ajudar a ditadura cubana. As simples as that...
-----------------------------------
Paulo Roberto de Almeid

On 18/12/2013, at 14:59, Flávio Ferreira wrote:
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.

Nome: Flávio Ferreira
Cidade: São Paulo
Estado: SP
Email: 
Assunto: Opiniao

Mensagem: Em anexo um texto que escrevi abordando alguns aspectos relativos ao programa \"Mais Médicos\" do governo federal. Como deixei claro no artigo, desejo que em todos os rincões desse imenso Brasil, a população tenha um atendimento médico fácil, rápido e de qualidade. Entretanto, com relação ao programa \"Mais Médicos\", é preciso ser realista. A idéia é boa, porém, pessimamente aplicada. Ressalto que a forma de contratação dos profissionais estrangeiros fere o nosso ordenamento jurídico, especialmente a legislação trabalhista. No futuro, certamente trará grande prejuízo ao erário público. O que o governo federal está fazendo, é justamente o oposto do que prega em relação às empresas nacionais. Precarização das condições de trabalho, bem como terceirização irregular e fraudulenta são problemas facilmente percebíveis. Entretanto, a sociedade está surpresa com o silêncio dos membros do Judiciário Trabalhista e do Ministério Público do Trabalho. Abaixo, a transcrição do original:

UMA BOA IDÉIA APLICADA DE MANEIRA ERRADA

Cumprir o projeto político para o qual foi eleito, de maneira efetiva
e consistente, é o sonho de qualquer governante. Tal legado permitirá
não só que deixe o poder de cabeça erguida, mas também que se torne um
exemplo a ser seguido pelos sucessores. No oposto temos o governante
incapaz de deixar alguma marca pessoal relevante, e, por isso, fadado
ao esquecimento. Não é difícil situar o governo da presidente Dilma
nesse contexto, já que até o momento pode ser definido como uma gestão
sem nenhum projeto próprio marcante, e, portanto, sem legado
particular. Entretanto, parece que algo está mudando neste aspecto.
Embora um pouco tarde, tendo em vista que o seu mandato se encerra no
final de 2014, ela resolveu implantar o programa “Mais Médicos”, como
uma espécie de vitrine de governo. Temos que reconhecer que o projeto
de levar médicos até os rincões mais remotos do país é algo importante
e merece elogios. Entretanto, a forma escolhida para implantar o
programa é totalmente irregular.

Segundo amplamente noticiado, o Ministério da Saúde responsável pelo
programa “Mais Médicos” não conseguiu preencher o número de vagas
abertas com profissionais brasileiros. Assim, optou por contratar
médicos estrangeiros para o preenchimento das vagas remanescentes,
tendo inclusive assinado um convênio com a Organização Panamericana de
Saúde (OPAS) para trazer quatro mil médicos cubanos para o país.
Basicamente todos os profissionais médicos contratados receberão um
salário mensal de R$ 10.000,00 além de uma ajuda de custo e moradia.

Ocorre que a análise do modelo de gestão do programa traz a lume
inúmeras falhas. Em primeiro lugar, ao arrepio das normas legais
vigentes, o governo brasileiro dispensou a validação dos diplomas dos
profissionais estrangeiros contratados, de maneira que é impossível
aferir se realmente possuem capacidade para exercício da medicina no
país. Essa é uma questão delicada. Como se sabe, um médico brasileiro,
em caso de falha na prestação de seu trabalho, além de responder civil
e penalmente, também pode ser julgado pelo tribunal de ética
profissional, do Conselho Regional de Medicina no qual está inscrito,
podendo até receber pena de cassação do exercício profissional. Ora,
os profissionais contratados no programa “Mais Médicos” não estão
vinculados a nenhum conselho de medicina, e, portanto, não serão
fiscalizados e nem devidamente punidos nos casos de falhas
profissionais. 
Deve-se ressaltar, ainda, que é até provável que os
erros dos médicos sem diploma validado sejam encobertos pelas
autoridades que permitiram o seu ingresso no país, temerosas de sua
própria responsabilização civil e criminal. Infelizmente esta é a
natureza humana. Portanto, para segurança da população é preciso
restabelecer os mecanismos preconizados em Lei para o exercício da
medicina no Brasil. Com a palavra o Ministério Público, que tem
obrigação constitucional de exigir esclarecimento e transparência
nessa matéria. Em tempo, recentemente o governo brasileiro negou a
autorização para abertura de novos cursos de medicina e, inclusive,
cancelou a licença de funcionamento dos cursos de algumas faculdades
que não estavam qualificando adequadamente os formandos, porém no
momento, incoerentemente está aceitando importar profissional
estrangeiro sem sequer aferir o seu conhecimento e nem comprovar a sua
qualificação técnica. Não tem sentido isso.

Em segundo lugar, temos a questão trabalhista. No caso dos médicos
cubanos, o Ministério da Saúde fará o repasse do valor acertado para o
governo cubano, o qual será o responsável pelo pagamento dos
profissionais que vão trabalhar no Brasil. O detalhe curioso é que
segundo amplamente noticiado, o governo cubano embolsará cerca de 70%
(setenta porcento) do valor transferido pelo Ministério da Saúde,
repassando para os médicos apenas o restante. Ora, como foram
contratados para prestar serviço no Brasil, os médicos cubanos estarão
sujeitos a lei brasileira, independentemente dos acertos e conchavos
na esfera governamental. Nesse particular em muitos aspectos essa
forma de contratação afronta as regras estabelecidas pela CLT,
especialmente porque será impraticável aferir se a quitação do salário
se deu na forma e prazos legais, no valor estipulado, etc. Ademais,
como ficará a questão da subordinação dos médicos cubanos? Devem
prestar contas a quem os contratou (governo brasileiro) a quem os
selecionou (OPAS) ou a quem efetivamente pagará os salários (governo
cubano)? Em caso de doença e/ou acidente ocupacional, quem será o
responsável? Por outro lado, com relação aos profissionais cubanos
existe ainda um agravante. Embora contratados para atendimento através
do programa “Mais Médicos” do governo federal, vão receber um salário
equivalente a 30% daquele pago aos profissionais de outras
nacionalidades. Isso é ilegal, tendo em vista que se o profissional
cubano executou o mesmo trabalho que o seu colega espanhol e/ou
português, deve receber idêntico salário. 
Portanto, se o programa “Mais Médicos” paga R$ 10.000,00 pelo serviço de qualquer profissional
contratado independentemente da nacionalidade, sendo que o governo de
Cuba recebe o dinheiro, porém, repassa para os médicos cubanos apenas
R$ 3.000,00 é fato que o Ministério da Saúde terá um grande problema,
de vez que após três anos, quando findar o prazo da contratação, o
médico cubano que se sentir lesado poderá entrar na Justiça do
Trabalho, pleiteando a diferença de salário entre o que deveria ter
recebido e o que efetivamente lhe foi pago no mês, que corresponde a
R$ 7.000,00. Par se estimar o montante total da dívida, a conta é
simples: 3 (número de anos da vigência do programa) multiplicando por
12 (número de meses do ano) multiplicado por R$ 7.000,00 (valor que
recebeu a menos em cada mês), porém, o resultado é assustador. Ao
findar o convênio, cada médico cubano teria direito de receber do
governo brasileiro R$ 252.000,00 valor que seria efetivamente
atualizado mês a mês, com juros e correção monetária. Agora imaginemos
que não apenas um, mas sim, os quatro mil médicos cubanos resolvam
pleitear na Justiça do Trabalho a isonomia de salário que a lei
brasileira lhes garante? O prejuízo será bilionário. Difícil de
acontecer? De maneira nenhuma. O ministro da saúde deveria saber que
no judiciário trabalhista se aplica de maneira inflexível o seguinte
adágio popular: “Quem paga mal paga duas vezes”. Será que o nosso
governo está ciente desse problema e do risco de condenação na Justiça
do Trabalho? Em caso positivo, está tomando alguma providência? As
respostas ainda são incógnitas. Entretanto, recente declaração do
advogado geral da União pode trazer algum subsídio para esclarecer
essas importantes questões. De fato, segundo nota de imprensa
- link acessado dia 25/08/2013) ele foi enfático ao afirmar que após o
fim do convênio do programa “Mais Médicos”, os cubanos deverão
retornar para Cuba, e, em caso de recusa, serão forçados a isso. Essa
proibição de permanência no País e a pressa no retorno para Cuba seria
uma forma de dificultar e, até mesmo impedir o acesso dos médicos
cubanos ao nosso judiciário trabalhista? Esse é um assunto que o
Ministério Público do Trabalho deve esclarecer. Entretanto, se for
comprovada essa intenção de impedir o acesso à Justiça, estaremos
diante de um crime absurdo, verdadeiro atentado contra as relações de
trabalho, e, diga-se, praticado pelo governo federal que deveria
primar pelo respeito às nossas leis. Ademais não podemos esquecer
outras questões que atingem todos os médicos contratados e não apenas
os cubanos, as quais podem representar um agravamento expressivo do
passivo trabalhista que será criado no programa “Mais Médicos”, tais
como férias, 13º salário, fundo de garantia, horas extras, adicional
noturno e outros. São matérias reguladas na Constituição Federal e no
ordenamento jurídico infraconstitucional, e, portanto, precisariam de
um estudo mais aprofundado. 
Entretanto o fato concreto é que a Justiça
do Trabalho não vai aceitar documentos assinados por empregados
abdicando de direitos previstos em lei. Frequentemente cláusulas de
acordos e até convenções coletivas são anuladas pela justiça
especializada, por incorrerem nesse erro. Entretanto, se a Justiça do
Trabalho aceitar a flexibilização irregular de direitos trabalhistas
no caso dos profissionais contratados pelo programa “Mais Médicos”,
está aberta a porta para aceitar o mesmo em relação a todos os demais
empregadores do país. É um fato.

Em terceiro lugar, porque o governo de Cuba vai receber o pagamento
destinado aos médicos cubanos que virão trabalhar aqui no Brasil, e
com que direito e a que título reterá 70% do valor total
disponibilizado pelo governo brasileiro? É importante que o Ministério
Público Federal faça uma investigação dos termos desse acordo com
Cuba. Afinal, estamos falando de quase trinta milhões de reais por
mês. Essa falta de clareza e transparência pode servir para encobrir
alguma fraude financeira. Não podemos esquecer que infelizmente o
nosso país ultimamente tem sido sacudido por inúmeras notícias de
corrupção e desvio de dinheiro público. É uma cautela necessária.

Em resumo, esse “imbróglio” todo na aplicação do programa “Mais
Médicos” faz lembrar as ações de uma criança mimada, que bate o pé,
grita e chora exigindo alguma coisa, mesmo a despeito dos alertas de
adultos. Parece que a presidente Dilma resolveu que a grande ação
social que representará o legado de seu governo será o programa “Mais
Médicos”, e, portanto, ela decidiu que vai implantá-lo “a ferro e
fogo” independentemente de qualquer argumento contrário. Levar os
médicos para as regiões mais remotas do país é uma necessidade, porém,
que isso se faça respeitando as particularidades técnicas desse tipo
de programa, bem como prestigiando o nosso ordenamento jurídico. É o
típico caso de uma idéia boa, porém, infelizmente aplicada de maneira
errada.

Flávio Roberto



"Por favor: nao viajem!", pede o governo brasileiro

Não, não pediu, ainda, mas talvez devesse fazê-lo...
Paulo Roberto de Almeida 

O previsível caos aéreo

18 de dezembro de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo
O ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, assegurou que não haverá caos nos aeroportos neste final de ano, mas talvez nem ele mesmo acredite nisso.
Moreira Franco anunciou uma série de medidas para tentar melhorar a vida dos passageiros nos 12 principais aeroportos do País nessa época crítica. O pacote, no entanto, depende de um reforço de pessoal que a Polícia Federal (PF) e a Receita Federal não têm plenas condições de fornecer, por causa de restrições orçamentárias. O próprio ministro admitiu a dificuldade: "Para não pintar tudo de azul, devo lembrar que teremos essas questões ainda por resolver".
Números de um relatório enviado à Comissão Nacional de Autoridades Aeroportuárias, divulgados pelo jornal O Globo, mostram que são necessários mais 94 agentes da PF e mais 62 fiscais da Receita para dar conta do aumento do fluxo de passageiros.
Para tentar contornar o problema, decidiu-se em reunião na última segunda-feira, a poucos dias do início da alta temporada nos aeroportos, que o Ministério do Planejamento vai autorizar a cobertura de gastos extras, e a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), que igualmente enfrenta cortes profundos em seu orçamento, deslocará funcionários para reduzir a fila do passaporte.
O claro improviso não abala a estratégia do governo de esbanjar confiança. "Estamos no século 21, e nossos aeroportos e prestadores de serviços aéreos devem atender os viajantes com a qualidade que nosso tempo exige", disse Moreira Franco. É realmente o que todos esperam, mas, como sabem aqueles que precisam usar os serviços aeroportuários, esse setor enfrenta um atraso que envergonha o País - e não será graças a remendos, costurados da noite para o dia, que daremos o salto de qualidade apregoado pelo ministro.
Ao discurso otimista do governo, somem-se os truques das companhias aéreas para camuflar seus constantes atrasos, conforme mostrou recente reportagem do Estado. Em vez de prestarem melhores serviços, fazendo com que os passageiros cheguem a seu destino o mais rápido possível, as empresas aumentaram o tempo previsto para os voos. Com isso, apenas 8% dos voos atrasaram neste ano. Em compensação, um voo entre São Paulo e Rio de Janeiro, que antes levava cerca de 50 minutos, com atraso médio de 4 minutos, agora é estimado em 64 minutos, com os mesmos 4 minutos de atraso.
A maior parte do tempo excedente é gasta com o avião ainda no chão. Para mostrar "agilidade", as companhias usam diversos mecanismos para embarcar rapidamente os passageiros, como o check-in em máquinas de autoatendimento, mas sabem que a autorização para que o avião levante voo ainda vai demorar. As empresas argumentam que a previsão do tempo de voo aumentou porque passou a levar em conta o tempo do taxiamento na pista, cuja média saltou de 10 minutos em 2005 para 18 minutos hoje, em decorrência da deficiência de infraestrutura dos aeroportos.
Enquanto isso, o passageiro segue seu calvário, quer nas enormes filas nos balcões, quer enfurnado num avião que demora a decolar, quer na interminável espera das malas nas esteiras - tudo isso amplificado pelo grande fluxo de turistas nessa época de férias. O caos aéreo não é novidade, mas as autoridades e as empresas o têm tratado como se fosse, sempre com ações paliativas, destinadas a dar a falsa impressão de que alguma providência está sendo tomada.
Além disso, aeronautas e aeroviários, como fazem todos os anos, ameaçam entrar em greve, para aproveitar o momento em que cresce o movimento nos aeroportos - o governo calcula que o número de viajantes em dezembro será de 16,6 milhões, contra 16,4 milhões no mesmo mês do ano passado.
Mesmo que a greve não ocorra e que as medidas anunciadas pela Secretaria de Aviação Civil surtam algum efeito, minorando os transtornos habituais nos aeroportos, o fato é que o governo tem agido sempre de forma atabalhoada e sem planejamento, para enfrentar um problema que, no entanto, já é bem conhecido
.

Por uma fronda empresarial - Paulo F. P. Machado; P.R. Almeida (OESP)

Início do conteúdo

O artigo mais recente, em colaboração:
2543. “Por uma Fronda Empresarial Brasileira”, Hartford, 8 Dezembro 2013, 2 p. Artigo em colaboração com o acadêmico Paulo Fernando Pinheiro Machado, animador do blog No Bico da Chaleira (http://nobicodachaleira.wordpress.com). Publicado no jornal O Estado de S. Paulo (18/12/2013; link: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,por-uma-fronda--empresarial-brasileira-,1109902,0.htm). Relação de Publicados n. 1117.

Por uma fronda empresarial brasileira

O Estado de S.Paulo, 18 de dezembro de 2013 | 2h 08

PAULO FERNANDO PINHEIRO MACHADO e PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
As grandes transformações, para melhor, na vida política e econômica dos países que lograram alcançar altos patamares de prosperidade material e de bem-estar social sempre resultaram de revoltas das elites contra uma situação de opressão por parte de soberanos despóticos, que exageraram na extração da riqueza criada pelas classes produtoras: agricultores, industriais e simples trabalhadores. Assim foi a revolta dos barões ingleses da qual resultou a Magna Carta, limitando a criação de tributos sobre os súditos, o que foi confirmado pela Revolução Gloriosa de 1688; assim foi, também, com a revolução dos colonos da Nova Inglaterra contra os novos impostos criados pelo rei inglês. Episódios semelhantes ocorreram em diversas fases da vida política da França, como quando as elites, ou o "Terceiro Estado", resolveram enfrentar o rei numa "fronda aristocrática", por pretender ele arrancar parte da riqueza e do patrimônio de nobres e altos funcionários para financiar suas guerras; em situações mais agudas, o próprio povo tomou a frente dos levantes.
Todas essas revoltas convergiram para o estabelecimento de sistemas políticos responsáveis, criando aquilo que em inglês se chama accountability, a responsabilização dos dirigentes no tocante aos recursos provenientes da comunidade. O poder do Estado é limitado pela representação popular, havendo prestação de contas das receitas obtidas a partir das riquezas criadas pelas classes produtoras. Esse foi o caminho seguido - por meio de reformas pacíficas ou, eventualmente, em processos revolucionários, com algumas cabeças rolando junto - por todos aqueles países que, finalmente, se tornaram prósperos, com sistemas políticos estáveis e responsáveis perante a cidadania.
O que podemos dizer da situação das classes produtoras no Brasil atual? A vida de um empresário no País, hoje em dia, é uma verdadeira câmara de horrores. Primeiro, ele tem de arcar com o que possivelmente seja a carga tributária mais alta do mundo. Somados todos os tributos que recaem sobre a pessoa jurídica, a carga é, em média, de 68% sobre o rendimento, ante, por exemplo, 52% na Suécia, modelo de Estado de bem-estar. Esses números não refletem toda a realidade. No Brasil, ao contrário da Suécia, o empresário - como a população, de modo geral - tem ainda de comprar no mercado todos os serviços que o Estado, por incompetência, não consegue prover-lhe, como segurança, saúde, educação e transporte. Se essa cobrança duplicada for levada em conta, a carga tributária no Brasil atinge níveis criminais.
Além disso, o empresário opera num ambiente regulatório francamente hostil. Apenas com a burocracia fiscal o empresário brasileiro gasta 2.600 horas por ano, ante 175 horas nos países da OCDE e 380 na média da América Latina. Isso equivale a aproximadamente três meses e meio, 24 horas por dia. Ou seja, é impossível para o empresário lidar sozinho com isso, obrigando-o a ter contadores e advogados em tempo integral somente para lidar com o Fisco. Tente-se vislumbrar, então, o custo para cada um deles ao lidar com a burocracia estatal como um todo: na prática, incomensurável.
Como se tudo isso não bastasse, o empresário brasileiro encontra-se alijado das cadeias internacionais de comercialização, com acesso restrito à tecnologia e ao capital humano, que são as chaves para a inovação. A decadência do ensino no Brasil está levando a um sucateamento do setor privado, que só poderá ser revertido com investimento em educação e abertura ao exterior. Exatamente o oposto do caminho seguido pelo atual governo. País fechado é país condenado ao atraso absoluto e relativo nos circuitos cada vez mais integrados da produção global.
Todos os empresários, mesmo os que circunstancialmente se beneficiam de favores, subsídios ou proteção dados pelo Estado, sabem que o Brasil está gradualmente condenado à perda de competitividade internacional. O País já foi levado a uma situação de isolamento das cadeias produtivas mundiais e está sendo arrastado para longe do grupo de economias mais dinâmicas do mundo, com políticas macroeconômicas e setoriais que o levam de volta ao passado, em lugar de apontar para o futuro. Como nos exemplos históricos precedentes, perspectivas de melhoria só se concretizarão quando as classes produtoras se unirem no objetivo comum de conter a voracidade do Estado e de lutar por um regime político e um sistema de organização econômica que beneficiem realmente as classes produtoras, as únicas que criam as riquezas que vêm sendo dilapidadas pelo ogro famélico em que se converteu o Estado brasileiro.
Está na hora de o Brasil também ter a sua revolta dos "barões", uma fronda empresarial que corrija os aspectos mais deletérios do atual modelo de desenvolvimento e crie um ambiente saudável para o crescimento econômico e a prosperidade de todos os cidadãos. Ninguém mais aceita ser um súdito espoliado por um Estado perdulário. Como sabem os próprios empresários, são eles mesmos que financiam o Estado e o atual sistema político, seja pela via direta dos impostos, seja pela via indireta, nem sempre transparente, das contribuições partidárias.
Que tal começar restringindo essa via àqueles comprometidos com a melhoria do ambiente de negócios? Que tal denegar aos estatizantes os recursos que eles buscam pela pressão pouco discreta ou até pela ameaça? Parafraseando um velho enunciado, os empresários não têm nada a perder, a não ser seus grilhões.
RESPECTIVAMENTE, SOCIÓLOGO, DIPLOMATA, AUTOR DO BLOG 'NO BICO DA CHALEIRA' (NOBICODACHALEIRA.WORDPRESS.COM); E PROFESSOR, DIPLOMATA, AUTOR DE VÁRIOS LIVROS DE DIPLOMACIA ECONÔMICA E DE RELAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS (WWW.PRALMEIDA.ORG)

===========

Comentário de um leitor do jornal: 

CONTRA UM ESTADO INCOMPETENTE
Cumprimento o jornal pela publicação do artigo dos senhores Paulo Pinheiro Machado e Paulo de Almeida, "Por uma fronda empresarial brasileira" (18/12, A2). O País precisa acordar de seu torpor cívico e é ao escol da Nação que caberia a nobilíssima tarefa de insurgir-se contra a situação insustentável da incompetência governamental e de seus desvios éticos, torpes e populistas. Ao escol, certamente pertencem os políticos, os acadêmicos e outros estamentos sociais como os profissionais de inúmeros outros segmentos. Se os nobres articulistas não se referiram a esses grupos, mas apenas aos membros das "classes produtoras", para lutarem pela mudança de rumos, é porque, consciente ou inconscientemente, consideram perdidos para a causa tais ponderáveis segmentos da sociedade. Se isso for verdade, o País não tem mais conserto. Espero estar errado em minha observação que em nada diminui minha concordância com o teor e oportunidade do artigo.
Mário Rubens Costa xxxxxxx@terra.com.br
São Paulo
Fórum dos Leitores, O Estado de S.Paulo