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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 2 de abril de 2019

100 anos de história do Brasil – e o futuro de Bolsonaro - em 1 gráfico (InfoMoney)

100 anos de história do Brasil – e o futuro de Bolsonaro - em 1 gráfico

"É a economia, estúpido!", diz um famoso bordão da política americana, segundo o qual o bem-estar material da população é mais importante do que o falatório que rodeia a política. Com um gráfico, é possível mostrar como a política também tem regido a política na história do Brasil. O clichê dos americanos é muito útil para prever o que acontece por aqui. E o futuro de Bolsonaro não deve fugir à regra.

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores.
Jair Bolsonaro
Eu já escrevi textos sobre gráficos aqui no blog, mas nunca sobre um gráfico só. Mas acho que esse vale a pena. Com uma imagem, é possível entender uma das principais engrenagens da história brasileira – e, ao mesmo tempo, compreender o que mais importa para o futuro de Bolsonaro. Numa imagem, há mais informação do que em muitas páginas de livros. 
Se você é craque em ler gráficos, basta prestar atenção e boa parte do texto será dispensável. Caso o leitor tenha dificuldade com o assunto, fique tranquilo: a comunicação escrita resiste bravamente e, nas linhas abaixo, explico o gráfico e a relevância dele em maiores detalhes.

O gráfico

O PIB per capita, a renda média produzida num país num dado ano, é uma das melhores métricas que temos para o bem-estar material de uma nação. Portanto, o crescimento do PIB per capita é uma espécie de velocímetro do bem-estar nacional médio, um medidor dos avanços (ou retrocessos) num ano.
Pena que não dá pra entender muita coisa a partir de um gráfico da taxa anual de crescimento. Em 2009, o PIB per capita brasileiro caiu 1,34%; em 2010, cresceu 6,2%. Variações bruscas ano-a-ano tornariam o gráfico da taxa anual simples muito poluído, com uma linha subindo e descendo e atrapalhando a visualização dos padrões que importam.
Por isso, usei a taxa média de crescimento do PIB em 5 anos. Para o ano de 2018, por exemplo, o eixo y mostra a taxa anualizada de crescimento entre 2013 e 2018 – matematicamente, é a raiz quinta do crescimento total em 5 anos. Assim, é possível suavizar o gráfico e a análise fica mais precisa.
O gráfico vai de 1923 a 2023, abarcando 100 anos de história do Brasil - 95 anos do passado e 5 de projeções para os próximos anos. As projeções se baseiam num estudo do Ministério da Economia, que explico melhor na última parte do texto.
Resumindo: a variável-chave do gráfico é o avanço ou retrocesso da renda média do brasileiro nos anos anteriores. E, como ficará claro na próxima parte do texto, essas idas e vindas são muito valiosas para entender a história política do Brasil.
Sem mais enrolação, eis:
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É a economia, estúpido: todos os “vales” de crescimento dos últimos 100 anos levaram a grandes mudanças jogo do poder

As economias costumam funcionar em ciclos de crescimento, como o do Brasil nos anos 2000, seguidos por pioras, como a crise recente. A taxa média de crescimento cai até atingir um piso, depois sobe até um pico, cai de novo e assim sucessivamente, de modo que o gráfico final parece ser formado por várias letras “v”, lado-a-lado, cada qual com uma forma.
Todos os “vales” de crescimento – ou seja, na parte de baixo de cada letra “v”, os maus momentos na economia – estão associados a grandes acontecimentos históricos que mudaram, ainda que parcialmente, os donos do poder.
É a visualização de um famoso bordão da política, muito bem resumido pela famosa frase de James Carville, estrategista da campanha vitoriosa de Bill Clinton à presidência dos EUA em 1992: “É a economia, estúpido!”. O grande determinante da força política seria o dinheiro, as variações na renda do cidadão médio.
É possível contar boa parte da história do Brasil com o gráfico.
Nos primeiros 10 anos entre 1923 e 1933, a taxa média de crescimento do PIB brasileiro cai de quase 6% para menos de 0,5%. Não por acaso, a elite política naqueles tempos sofreu duros golpes. Os anos 20 começaram com revoltas contra a República Velha, como o tenentismo e a coluna Prestes. Após a crise de 1929, veio a Revolução de 1930 liderada por Getulio Vargas, que depôs os antigos donos do poder.
Os primeiros anos de Vargas foram de crise econômica e revoltas como a de São Paulo em 1932. Mas a economia voltou a crescer, aproximando-se novamente dos 6% ao ano entre 1932 e 1937. O ano de 1937 não representa apenas o auge econômico do primeiro Getúlio: naquele ano, ele aproveitou a popularidade conquistada com os anos de crescimento para implantar a ditadura do Estado Novo.
Mas a economia voltou a desacelerar na nova ditadura, chegando a um novo piso em 1942, o mais baixo do gráfico até o momento, chegando pela primeira vez a valores negativos. Foi também o início do fim para Vargas, que se enfraqueceu e saiu do poder assim que a Segunda Guerra Mundial permitiu.
O suicídio de Getúlio em 1954, assim como o golpe preventivo que garantiu a posse de JK em 1955, aconteceram num ‘vale’ de crescimento econômico, embora o nível do crescimento tenha sido bem alto no período.
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A situação começa a melhorar até 1959, mas então piora rapidamente. O PIB per capita brasileiro cresceu 7,5% em 1958 e caiu -2,5% em 1963. Essa rápida deterioração econômica nos conturbados anos de Jânio e Jango, que também vinha acompanhada por inflação crescente, foi fundamental para o golpe de 64.
A partir da ditadura, o padrão fica ainda mais claro. Desde o pico em 1973, a taxa média de crescimento em 5 anos teve quatro pisos: em 1985, 1992, 2001 e 2018. São os anos do final da ditadura, do impeachment de Collor e da eleição de Bolsonaro, além do ano que precedeu a derrota tucana contra Lula em 2002. Não pode ser coincidência.

O futuro de Bolsonaro

Como já disse, 5% do gráfico se refere a anos ainda incompletos, de 2019 e 2023. Só é possível falar do PIB per capita em anos futuros por conta de um estudo do Ministério da Economia sobre os impactos da reforma previdenciária no crescimento do PIB. Por isso, as linhas estão tracejadas e em outra cor: tratam-se de outros dados, com outras fontes e outra natureza.
Mesmo que se discorde frontalmente das conclusões e premissas adotadas, os resultados podem ser vistos como os cenários otimista e pessimista para a economia brasileira.
No cenário da linha azul, a reforma da previdência é aprovada, as contas públicas voltam rapidamente ao superávit, os juros caem, investimento e emprego voltam. A linha vermelha representa o cenário oposto.
A grande conclusão que se pode tirar, na minha opinião, é que polêmicas vazias da ministra Damares, dos filhos do presidente ou de outros suspeitos habituais serão irrelevantes para o futuro político do presidente. O que importa é Paulo Guedes e a agenda de reformas.
Nenhuma estratégica de comunicação ou apelo a valores morais será eficaz caso o desemprego volte a subir. É isto o que importa.
Repare, leitor, em algo que quase não falei sobre o gráfico: os momentos de rápida aceleração. Grandes subidas levam a grandes personagens da história brasileira: Médici, Getúlio, JK, Lula e os outros recordistas de fotos em livros de história. O Bolsonaro da linha azul teria tudo nas mãos para entrar na lista.
Já a linha vermelha seria o puro fracasso. Time de Dilma e Collor, que saíram por impeachment. Também o time de Sarney, Temer e FHC, que terminaram seus mandatos com a economia em queda e se tornaram tóxicos na eleição. Sem reforma, esse será Bolsonaro em 2022.
Não importa quanto os olavistas falem em resgatar a identidade moral do brasileiro, eles são secundários para o sucesso do presidente. Pelo contrário, é a reforma que se mostra fundamental para o sucesso deles. É a economia, estúpido!
Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores.

Ascensao e queda de um presidente: mas tao rapido? - Elis Radman

Elis Radman 
COMO ENTENDER A POPULARIDADE DE BOLSONARO
Acompanho resultados de pesquisas de opinião há mais de duas décadas e analiso dados de forma longitudinal. Tal prática me permite mensurar as mudanças comportamentais da sociedade.
E os dados indicam que a volatilidade da opinião pública está cada vez maior. O que motiva a variação dela em um pequeno espaço de tempo é a falta de crença. As pessoas mudam de ideia quando a sua decisão não foi baseada em informações ou em um ideal de mundo. Na prática, nosso maior mal é o desinteresse e a descrença com a política.
E a última avaliação do governo Bolsonaro é um exemplo prático, que ilustra essa perspectiva analítica.
Segundo pesquisa nacional, realizada pelo Ibope, em março de 2019, Bolsonaro é avaliado positivamente (como um governo ótimo e bom) por 34% dos brasileiros. Outros 34% avaliam como regular e 24% têm avaliação negativa (ruim ou péssimo). E 8% não soube avaliar.
Pesquisa realizada pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião no Rio Grande do Sul, em março de 2019, demonstra que a opinião dos gaúchos está literalmente dividida: 35,2% deles avaliam o governo positivamente (ótimo/bom), 31,6% avaliam como regular e 33,3% avaliam negativamente o governo Bolsonaro (ruim/péssimo).
As principais análises nacionais destacam que a avaliação de Bolsonaro é menor do que a avaliação dos últimos presidentes eleitos, realizadas no mesmo período. Mostram que Bolsonaro caiu 30% em relação à pesquisa de janeiro de 2019, e que a sociedade brasileira está dividida, sendo que apenas 1/3 tem uma avaliação positiva de Bolsonaro.
As análises evolutivas precisam ser feitas à luz das variações comportamentais. O eleitor de hoje não é mais o eleitor do governo Fernando Henrique ou de Lula.
Ao longo das últimas duas décadas, o eleitor sofreu muitas decepções. As mesmas pesquisas que avaliam o governo Bolsonaro, conferem que o eleitor está mais cético, confia menos nas instituições e acredita que os políticos atuam em causa própria: roubando, desviando, favorecendo alguém ou, simplesmente, sendo descomprometidos com as necessidades básicas da população.
Não podemos esquecer que Bolsonaro obteve 55,1% dos votos válidos, mas que sua votação representou 39,2% dos eleitores brasileiros e as pesquisas de opinião são realizadas com uma amostra de todo o eleitorado. Uma analogia entre o percentual de votação de Bolsonaro com sua avaliação positiva (ótimo e bom), demostra que Bolsonaro perdeu apenas 13,2% de apoio.
O elemento mais simbólico desta reflexão diz respeito à diminuição da paciência do eleitor. Outrora, levava um ano para que ele se decepcionasse com o candidato eleito. Antes, o eleitor garantia um salvo-conduto maior, esperava ações para julgar o governante. Após a eleição de 2016, este marco temporal foi para um semestre e, atualmente, está em um trimestre. Inclusive, o mesmo fenômeno ocorre com o governador Eduardo Leite.
Esse comportamento pragmático do eleitor é mais emocional do que racional e se baseia em percepções. Quando pensa em política, ele vive uma constante dicotomia de sentimentos: deposita esperança em um candidato e se frustra ao pressentir que o mesmo não tem condições de executar o que prometeu.
Mesmo quem não votou em Bolsonaro reconheceu seu discurso em prol da moralidade política e segurança pública. Para resgatar sua popularidade, o presidente terá que mostrar resultados nestas duas áreas.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

IRel-UnB: debate sobre a política externa brasileira, 1/04/19


O Professor Pio Penna Filho, diretor do Instituto de Relações Internacionais da UnB (IRel-UnB), a embaixada da Espanha no Brasil e o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais têm o prazer de convidar para a palestra debate sobre a política externa brasileira, a ser realizada com a participação do investigador principal para a América Latina do Real Instituto Elcano de Relaciones Internacionales, Carlos Malamud, do diplomata e professor do Uniceub Paulo Roberto de Almeida, e do professor emérito da UnB, historiador Amado Luiz Cervo. O evento terá lugar no dia 1 de abril às 15:30, no auditório do IRel, e será transmitida pelo canal YouTube da UnB, assim pelo sistema Live da ferramenta Facebook. 
O link para a palestra está aqui



Relato de um linchamento: a America profunda, racista, se manifesta - Delanceyplace

Today's selection -- from Atticus Finch: The Biography by Joseph Crespino.

In 1934, A.C. Lee, the father of Nelle Harper Lee and the inspiration for her 1960 novel To Kill a Mockingbird, learned about lynch mobs:

"The danger of the lynch mob and the threat it posed to civilized so­ciety was no abstraction for A. C. Lee. One of the most gruesome mob lynchings in the entire history of the practice hit close to home for Lee, lit­erally. It took place in 1934 outside Marianna, Florida, the county where A. C. Lee was raised, where his mother and father were buried, and where all of his brothers and sisters still lived. In a scene similar to the one that Harper Lee would imagine in Mockingbird, a group of men traveling in four or five cars abducted a black prisoner from the jail in Brewton, Al­abama, just forty miles south of Monroeville near the Florida state line. The black man, Claude Neal, was accused of having raped and murdered a white woman, Lola Cannidy, in a rural area in Jackson County, Flor­ida. Neal, along with his mother and aunt, was initially taken to the jail in the nearby town of Chipley, A. C. Lee's hometown. Neal confessed to the crime, although investigators would later suspect that he had been coerced. In a detail that was similar to how in Mockingbird Tom Robinson testified that he had encountered Mayella Ewell on the day of the alleged rape, Claude Neal told how he had been walking along the fenced border of the Cannidy farm when Lola Cannidy saw him and asked if he would come across the fence and clean out a hog trough that she had been strug­gling with (Mayella Ewell asks Tom Robinson if he would bust up a chif­farobe for her).

"The men who took Claude Neal from the jail in Brewton carried him back to the Cannidy family farm outside Marianna. A crowd estimated at several thousand people had gathered there, stoked by radio announce­ments and newspaper headlines earlier in the day. The horde became so large and unruly that Neal's abductors worried that they couldn't control it. So they took Neal to an alternative location and murdered him, but not before subjecting him to two hours of sadistic torture, including castration, forced autocannibalism, stabbing, burning with hot irons, and dismember­ment of toes and fingers. They tied Neal's body to the back of a car and dragged it to the Cannidy family home, where the remnants of the mob performed their own barbaric acts. Eventually Neal's mutilated corpse was hung from a tree on the northeast corner of the courthouse square in Marianna.

 
"The Monroe Journal ran a story about the grand jury investigation into Neal's abduction from the Brewton jail, though it included none of the sickening details of the lynching. That was the first news about the lynching to appear in the Journal, yet it was unlikely lo have been the first time that  A. C. Lee had heard of the incident. The Monroe Journal office received wire reports from the major news agencies. On October 21, the Associated Press sent a dispatch from Lee's hometown of Chipley that reported that hundreds of men swarmed the streets all night threat­ening to destroy the jail if the sheriff didn't hand over Neal and the other prisoners.

"Or perhaps Lee learned directly from his brothers or sisters about the mayhem in Marianna the day after the lynching. Neal's body was cut down from the tree on the courthouse lawn early on a Saturday morning. The rest of that clay, a busy Saturday when rural whites and blacks customarily came into town to shop and do business, was, according to one local white man, 'a day of terror and madness, never to be forgotten by anyone.' Mobs of whites began attacking blacks around the town square who were there buying or selling goods, or who worked for white store owners. Marianna's mayor searched for policemen but couldn't find any; apparently members of the mob had already found them and threatened them with reprisals if they came to the square. The mayor attempted to deputize special officers, but could find no volunteers. One black man who was assaulted on a side­walk raced across the street into the courthouse where a group of friendly white men, armed with a machine gun, offered protection for him and an­other black man. The mob attacked a black porter helping a customer. The porter had to slash his way through the crowd with a knife to make it back to his employer's store, where the owner locked the door and held the mob"
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Atticus Finch: The Biography
Author: Joseph Crespino
Publisher: Basic Books
Copyright 1995 by Dava Sobel
Pages: 82-86
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Steve Bannon, um dos gurus dos bolsonaristas - Ishaan Tharoor (WP)

Exposing the town crier of the West’s far right

Ishaan Tharoor
The Washington Post, April 1st, 2019

(Jabin Botsford/The Washington Post)</p>
(Jabin Botsford/The Washington Post)

Though Stephen K. Bannon left his White House post as President Trump’s chief strategist more than a year and a half ago, the shadow he casts over Western politics has hardly faded. The former investment banker and executive chairman of far-right Breitbart News became one of the leading ideologues of Trumpism — building a creed that allied American nativism with the language of European far-right nationalism — and helped push Trump toward his improbable electoral victory in 2016. In the months after palace intrigues forced him out of the West Wing, Bannon remained close to figures within the administration and even closer to the world of journalists who report on it.
Bannon extended his brand as both populist soothsayer and rabble-rouser across the Atlantic, offering support to a constellation of far-right, ultranationalist and anti-immigrant parties across Europe. His listening tours and speeches last year in Britain, France, Italy, Hungary and elsewhere attracted large numbers of mainstream journalists, whose stories placed Bannon at the heart of a far-right insurgency that seeks to blow up the status quo in European parliamentary elections this May.
“This populist-nationalist revolt is a worldwide phenomenon,’’ Bannon told Bloomberg News last December, adding that the upcoming elections were a “historic moment.” 
Bannon, indeed, seems to be in a constant search for “historic” dramas, and ways to locate himself within them. Enter “The Brink,” a new and already critically acclaimed documentary in theaters across the United States that tracks his activities in the year after his exit from the White House. In it, we hear Bannon grandiosely quote Abraham Lincoln as his enemies loomed around him. We watch him scribble in the margins of a newspaper column a crude diagram charting the “triple threat” posed — for reasons only Bannon can divine — by an axis of China, Turkey and Iran. And we listen to him rage against the West’s liberals, who he declares are content “to manage the decline” of their civilization.
We also see Bannon guzzle copious amounts of energy drinks, snarl at complacent assistants, and, on numerous occasions, exhibit an almost disarmingly charming penchant for self-deprecation. The fly-on-the-wall approach of Alison Klayman, the film’s director, offers a rarely seen portrait of the man once dubbed by Time magazine as the “great manipulator” — and one that happens to rather adroitly dispel the myth of his political genius.
“I think the image that emerges of him is a much more human one, but certainly not soft and cuddly,” Klayman told Today’s WorldView. She said her efforts to go “behind the curtain” show how Bannon’s agenda is “in some ways more convoluted” than it is sometimes framed in the mainstream media, spurred both by his personal desire for attention and the imperatives of his wealthy backers. It’s why, Klayman added, “I think some people see him as an opportunist.” 
Take, for example, Bannon’s insistence that his politics center on “economic nationalism” — a populist message about protecting the working class and curbing the excesses of globalization. In a stump speech before Republican donors, Bannon uses this line to dismiss the accusations of racism and bigotry often leveled against him, Trump and the right-wing nationalist base whose support they need.
But, after months of following Bannon on trips in private jets and private fundraising sessions with billionaires, Klayman concluded that Bannon’s economic populism “is a little bit of a branding exercise.” In his meetings with patrons and far-right politicians, Klayman said, Bannon “is not talking about how we make policies that bring back manufacturing jobs. But he is talking about birthrates and how to win elections by talking about religion.” 
In a drive through London, we see him roll his eyes in despair when informed that a particular street has “flipped” to mostly Arab businesses. He notes with glee that left-wing populists such as Britain’s Jeremy Corbyn or Sen. Bernie Sanders (I-Vt.) in the United States don’t grandstand about immigration — a refusal he believes will limit their appeal among working-class voters. In lavish hotel dining rooms, Bannon and a motley crew of European far-right politicians grouse over the alien menace of Islam and growing Muslim populations in their countries.
It’s difficult to ignore the more disturbing echoes of Bannon’s ideologyin the aftermath of the slaughter carried out by a white supremacist, animated by similar concerns, in Christchurch, New Zealand, last month. “These aren’t siloed biases,” said Klayman, referring to the hatred felt by the Christchurch shooter. “There’s a worldview that makes it all fit together.” 
Klayman’s first major entry into the world of documentary cinema was “Ai Weiwei: Never Sorry,” a 2012 feature film on the Chinese dissident artist, who has since been forced to flee his native country. In subsequent work, he has sought to draw attention to the plight of refugees and migrants around the world. While Ai is intent on “honoring human dignity,” Klayman said, Bannon “is very expressly not concerned with that.”
"He goes around and talks about making people’s lives better, but you know it’s only about certain people’s lives, while he ignores the suffering of others,” she said.
The film also shows the limits of Bannon’s powers. We watch him endure three demoralizing setbacks: The failed Senate campaign of controversial Republican candidate Roy Moore in Alabama; the landslide defeats that hit the Republican Party in the House in midterms last year; and the ultimate sputtering of his attempt to lead a continental far-right coalition in Europe.
Still, Bannon is hardly one to give up, and journalists continue to chase after him on both sides of the Atlantic. Last week, CNN’s Anderson Cooper interviewed him for the majority of his one-hour prime-time show. In Rome, Bannon admitted at an event that Europe’s nationalists “don’t need me,” but still prophesied their victory and emphasized his commitment to their struggle.
In one pivotal scene in “The Brink,” Bannon lectures Klayman on how the Democrats’ insistence on “identity politics” will give the Republicans victory. But when challenged by Klayman, who argues that his messaging centers wholly on “identity” politics and tribal outrage, he smirks, and quips that such bad faith would make his work — in this instance, a pro-Trump film he was previewing to journalists — just “propaganda.”
“What would Leni Riefenstahl do?” he then asks Klayman, referring to the chief filmmaking propagandist of the Nazi era. “How would Leni cut that scene?” It’s a chilling moment, not least because it’s not totally clear that he’s joking.

Politica externa brasileira: passado, presente e futuro - Paulo Roberto de Almeida


Política externa brasileira: passado, presente e futuro


Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: notas para palestra; finalidade: colóquio no IRel-UnB]

Cabe em primeiro lugar fazer a tradicional distinção entre diplomacia e política externa, se os dois conceitos não estão suficientemente claros e diferenciados entre si. A diplomacia é um mero instrumento, ou ferramenta, para implementar uma determinada política externa, qualquer que esta seja. A diplomacia brasileira está, por acaso, sendo submetida ao que eu já designei de “revolução cultural”. Como no exemplo precedente da Revolução Cultural chinesa, na segunda metade dos anos 1970, trata-se, como no caso do Itamaraty, de uma luta pelo poder, ainda que mais, neste caso, de poder ideológico, ou poder cultural, antes que o poder político em si. Também, como no caso da Revolução Cultural chinesa, aqueles considerados dissidentes, ou indesejados, ou os opositores da “linha correta” do partido hegemônico – no caso do Brasil, a coalizão olavista-bolsonarista – esses elementos revisionistas, sabotadores, ou simplesmente alternativos à linha ideológica em ascensão estão sendo afastados dos postos de comando e condenados ao ostracismo, quando não ao deserto, antigamente conhecido, no Itamaraty, como DEC, ou “Departamento de Escadas e Corredores”, onde eu mesmo estacionei durante longos anos, elegendo então a Biblioteca como meu habitat natural.
Diferentemente, porém, da Revolução Cultural chinesa, só não estamos ainda, na Casa de Rio Branco, só não estamos ainda sendo enviados às províncias do interior para limpar latrinas nas comunas populares ou recolher esterco para adubar as plantações. No meu caso, como já tenho experiência nesse tipo de travessia do deserto, já fiz da Biblioteca meu local de trabalho, onde passei excelentes anos durante o período do lulopetismo diplomático, o que me permitiu escrever dois ou três livros, um deles sobre o Moderno Príncipe, ou Maquiavel revisitado, e um outro apropriadamente intitulado “Nunca Antes na Diplomacia”, que eu pensava não ter de revisar, senão no conteúdo (que parou em 2014), pelo menos no título. Parece que vou ter de fazê-lo, pois a Lei de Murphy é implacável, aquela que diz que o que pode dar errado, dará, da pior forma possível; essa lei, das mais efetivas, segue exemplarmente seu curso no Itamaraty atual, e ela não precisa de muito esforço para dar certo, da pior forma possível. Mas, enquanto não reviso o meu título equivocado de “Nunca Antes na Diplomacia”, eu me dediquei a recolher meus escritos diplomáticos e políticos do período 2014 a 2018 e coloquei neste novo livro, que acaba de ser publicado: Contra a Corrente: ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (Appris), e encontra-se disponível aos interessados. Haverá um novo, pois o material já disponível em 2019 é suficiente para encher dois ou três novos volumes. Eles virão.
Não é o caso, porém, de discorrer sobre a diplomacia enquanto tal, com ou sem revolução cultural – que se manifesta na quebra de hierarquia e na desorganização institucional do Itamaraty feita pelo alto, autoritariamente –, mas sim de uma outra revolução cultural, a que ocorre atualmente no âmbito da política externa. De fato, também a política externa está sendo submetida a uma grande revolução cultural, uma que desconstrói os fundamentos de todas as políticas anteriores, e tenta colocar em seu lugar uma política externa que não sabemos ainda em que consiste exatamente, uma vez que não tivemos, até aqui, uma exposição clara, completa, abrangente, sobre seus fundamentos e elementos constitutivos, a não ser que está identificada a uma pequena tropa de iluminados da extrema direita que comanda partes do atual governo. O que tivemos até aqui foram repentes, slogans, intenções, invectivas, em lugar de uma explanação sistemática, cristalina, definidora do que seria essa nova diplomacia, sem ideologia, que foi proclamada desde antes da assunção do governo.
O que ouvimos, o que lemos, o que assistimos até o presente momento? Nada de muito esclarecer, mas coisas assim: uma política externa sem ideologia, justamente, um comércio exterior idem, sem ideologia, a luta contra um tal de globalismo, esse monstro metafísico que parece estar atacando nossa soberania e reduzindo o Brasil a um estado de prostração antes poderosas forças de megabilionários unidos a esquerdistas marxistas e outros elementos suspeitos. Tem ainda a luta contra o comercialismo, o climatismo, o multilateralismo, o marxismo cultural, a ideologia do gênero, e invectivas desse tipo.
Convenhamos que tudo isso pode conformar bandeiras de luta, chamados à resistência e ao combate, à mobilização de forças comprometidas com o salvamento do Brasil em face de tantos inimigos internos e externos, mas isso dificilmente conforma uma política externa explícita, no sentido estrito ou mesmo no sentido lato. Eu, como muitos outros, estamos sinceramente à espera dessa definição de uma política externa, qualquer uma, para poder atender à demanda de muitos jornalistas, os mesmos que, desde a minha exoneração, ocorrida numa chuvosa manhã de Carnaval, me solicitaram uma avaliação desse arremedo de política externa que encontra-se em curso em meio a muitas dúvidas, indefinições teóricas, recuos práticos, muitas idas e vindas, hesitações, balbuciamentos, um pouco como têm sido as poucas intervenções do atual chanceler, a maior parte bastante difíceis de serem compreendidas, tal a confusão mental que as caracteriza e uma gestualização sofrível de se ver. Coisa de psiquiatria, sem dúvida.
A todos os que me demandam essa avaliação, eu respondo da mesma forma: não posso avaliar o que não existe. Seria necessário primeiro mostrar-me qual é essa política externa, onde ela se esconde, em qual documento definidor, ou discurso esclarecedor, ela encontra-se expressa, de forma clara, inteligente, para então eu me pronunciar a respeito, se conseguir, claro. Até aqui, não tenho muitas coisas inteligentes, sequer compreensíveis, apenas invectivas, o que não me permite exercer meu divertissement mais frequente: a leitura, a reflexão e reações escritas ao que leio ou observo. Quem mais se dedicou a isso, aliás desde antes do início do presente governo, e dessa diplomacia que se desenhava em escritos confusos, e por isso mesmo objeto de acerbas críticas do atual chanceler, foi o embaixador Rubens Ricupero, entrevistados por vários jornalistas e autor de uma palestra, no Cebri e na Casa das Garças, do Rio de Janeiro, em 25 de fevereiro último, na qual ele tentou discernir os traços principais do presente arremedo de diplomacia ideológica.
Postei sua palestra, intitulada “Política Externa: desafios e contradições”, em meu blog Diplomatizzando, exatamente um dia depois que ela foi pronunciada, e ela está disponível neste link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/02/rubens-ricupero-palestra-sobre-politica.html. Por absoluta falta de tempo, não tive ainda a oportunidade de resumir e comentar essa palestra seminal, pois que sintetizadora de todos os problemas atuais e futuros da diplomacia e da política externa brasileira, na atual confusão de conceitos e práticas. No final da semana, mais exatamente no domingo 3 de março, foi publicado um outro artigo, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sobre o tema maior da agenda diplomática brasileira, o test-case da Venezuela, sob o título de “A vez da Venezuela”, concentrando-se exatamente nesse problema crucial da diplomacia bilateral, regional, hemisférica e até mundial do Brasil, e que está longe de ser encaminhado de forma satisfatória pelo governo atual, daí a mobilização do “Comitê de Tutela”, de origem militar, que se exerce em torno do Itamaraty, e mais exatamente sobre o chanceler atual.
Nessa mesma noite, num daqueles arroubos que têm sido típicos em seu blog pessoal, o chanceler atual publicou um pequeno texto em seu blog, Metapolítica 17: contra o globalismo, chamado “Contra o consenso da inação”, no qual ele atacava em tom acerbo os dois autores anteriores, o ex-ministro Rubens Ricupero e o ex-presidente FHC. Encontrei ali uma oportunidade que julguei adequada para lançar um debate sobre a atual política externa, se ela existe, já que tínhamos três textos razoavelmente explícitos sobre a política externa, muito embora, tanto o ex-presidente FHC como o atual chanceler tivessem se dedicado bem mais ao problema da Venezuela do que à política externa de forma geral, como o tinha feito o embaixador Rubens Ricupero em sua palestra feita no Cebri e na Casa das Garças. Convido a todos para lerem essa palestra no link referido acima.
O texto do atual chanceler foi publicado numa hora tardia desse domingo, 3 de março, e eu decidi reunir os três textos num único documento, e oferece-lo ao escrutínio dos interessados, fazendo uma pequena introdução e convidando a debate aberto sobre a questão. Meu documento, em 18 páginas, contendo esses três textos e minha introdução, chamado de “A política externa brasileira em debate: Ricupero, FHC e Araújo”, foi publicado na madrugada de 4 de março de 2019, aproximadamente às 2 horas dessa noite, e fiz dele o seguinte registro em minha lista de trabalhos originais, com o devido registro dos links disponíveis para consulta: “Introdução, em 2 p., à transcrição de três textos relativos à política externa do governo Bolsonaro, de Rubens Ricupero (25/02/2019), de Fernando Henrique Cardoso (03/03/2019), e do chanceler Ernesto Araújo (3/03/2019). Postado no blog Diplomatizzando (4/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/a-politica-externa-brasileira-em-debate.html); disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/70710c9869/a-politica-externa-brasileira-em-debate-ricupero-fhc-e-araujo).” Isso foi, portanto, na madrugada da segunda-feira de Carnaval, dia 4 de março. Às 8:00hs da manhã eu fui acordado por um telefonema em meu celular por parte do chefe de gabinete do chanceler atual, dizendo que este estava muito descontente com a minha postagem. Bem, o resto é história, e foi devida e integralmente registrada em diversas postagens em meu blog ao longo das últimas semanas. Por razões de espaço, não vou comentar ou discutir aqui a magnífica palestra feita pelo embaixador Ricupero em 25 de fevereiro, apenas registrando que ela toca em todos os pontos essenciais do que passa por política externa e diplomacia no atual governo.
Como já referido acima, convido todos os interessados a lerem e a refletirem sobre esse texto seminal, pois é ele que vai orientar meus futuros comentários: “Política Externa: desafios e contradições”, transcrito no blog Diplomatizzando (no seguinte link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/02/rubens-ricupero-palestra-sobre-politica.html). Voltarei a ele assim que puder.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1 de abril de 2019