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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Oxfam volta a insistir na tese equivocada da desigualdade como impedimento ao progresso

Não tenho nenhum problema em contradizer frontalmente a matéria e dizer que 88% dos brasileiros estão totalmente equivocados, assim como a Oxfam, que sempre faz esse tipo de "análise" totalmente enviesada e sem fundamento numa sólida política econômica, centrada basicamente em investimentos, acumulação, transformações estruturais e distribuição de renda bem mais pelas vias do mercado do que pelas mãos (e pés) do Estado, que é justamente o principal responsável pela concentração de renda.
Se a Oxfam não consegue ver essa evidência cristalina, de que o Estado é o principal responsável pelo não desenvolvimento e pela má distribuição de renda, ela não merece crédito de economistas responsáveis.

O problema do Brasil é aparentemente a desigualdade, mas esta é apenas o reflexo do não crescimento, da não educação, das políticas regressivas do Estado, em favor de quem já é rico. O Estado é o principal obstrutor do crescimento econômico e o principal concentrador de renda.
Os brasileiros, com a OXFAM, estão equivocados, e taxar mais os ricos não vai trazer nada de bom para os pobres, pois essa tributação a mais será dirigida aos mesmos responsáveis pelas "espertezas adquiridas" em favor dos mandarins da República.
Acho que vai demorar mais algumas décadas para o Brasil se tornar um país desenvolvido.
Infelizmente, com a ajuda dessas ONGs humanitárias absolutamente equivocadas.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de março de 2019

Progresso do país depende de menos desigualdade, dizem 88% dos brasileiros

Pesquisa foi encomendada pela organização Oxfam Brasil ao Datafolha

Progresso do país depende de menos desigualdade, dizem 88% dos brasileiros
Oxfam: Brasil é o nono país mais desigual do mundo (Fonte: Reprodução/Agência Brasil)
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Uma pesquisa encomendada pela organização independente Oxfam Brasil ao Datafolha revelou que 88% dos brasileiros acreditam que o progresso do país está diretamente ligado à redução da desigualdade entre ricos e pobres.
Ainda de acordo com a pesquisa, divulgada nesta segunda-feira, 8, 94% dos entrevistados acham que os impostos pagos pela população devem ser usados em benefício dos mais pobres. 
Em relação à tributação, 77% defenderam o aumento dos impostos cobrados das pessoas muito ricas para financiar políticas sociais. Em 2017, ano da primeira pesquisa, eram 71%. 
A pesquisa revelou também que 64% dos brasileiros acreditam que as mulheres ganham menos só pelo fato de serem mulheres. Em 2017, o índice era de 57%. A taxa de entrevistados que acham que a cor da pele interfere no nível de rendimentos subiu de 46%, em 2017, para 52%, na pesquisa atual. 

Bolivar Lamounier sobre a falsa dicotomia esquerda-direita ou o nazismo ser de esquerda (OESP)

01:13:08 | 08/04/2019 | Economia | O Estado de S. Paulo | Espaço Aberto | BR

Um feio escorregão de Jair Bolsonaro

    BOLÍVAR LAMONIER
    Ao qualificar o nazismo como um regime "de esquerda", o presidente Jair Bolsonarorompeu uma represa enorme, deixando um mar de sandices escorrer pelas redes sociais. Nas centenas de mensagens que li, não encontrei uma referência sequer ao que me parece ser o ponto crucial da discussão: a obsolescência da dicotomia esquerda x direita.
    Ninguém contesta que lá atrás, no século 19, tal dicotomia tinha substância, e em alguns países a conservou durante a primeira metade do século 20. A Guerra Civil Espanhola, por exemplo, contrapôs comunistas e anarquistas (nem sempre solidários entre si) a uma direita rombuda, formada por uma burguesia resistente a toda veleidade de reduzir desigualdades, fazendeiros que adorariam viver na Idade Média e, não menos importante, um catolicismo que se comprazia em estender seu manto sobre toda aquela teia de iniquidades. Ou seja, havia efetivamente uma "esquerda" - os que recorriam à violência no afa de quebrar a espinha dorsal daquela sociedade - e uma "direita", os setores acima mencionados, para os quais o status quo era legítimo, sacrossanto e destinado a perdurar até o fim dos tempos.
    Os regimes totalitários que se constituíram entre as duas grandes guerras - o nazismo na Alemanha, o comunismo na URSS e o fascismo na Itália foram precisamente a linha divisória a partir da qual a dicotomia esquerda x direita começou a perder o sentido que antes tivera. Se fizermos uma enquete entre historiadores, sociólogos, etc., pelo mundo afora, constataremos sem dificuldade que nove em cada dez classificam o nazismo como direita e o comunismo como esquerda - e reconheço que aqueles nove ainda têm um naco de razão.
    Sabemos que os regimes comunistas se serviram do marxismo como base teórica. E que o fizeram com um cinismo insuperável; na prática, o chamado "socialismo real" assentava-se numa combinação de partido único, monopólio dos meios de comunicação, polícia secreta, culto à personalidade e numa repetição ritual da ideologia, entendida como a busca do paraíso na Terra, a "sociedade sem classes". Mas em abstrato - nas alturas da filosofia -, é certo que o marxismo se proclama humanista e igualitário. Não legitima nem tenta perenizar desigualdades sociais e muito menos raciais. O nazismo nada tem de humanitário ou igualitário: toma as desigualdades sociais como um dado da realidade e vai muito mais longe, visto que postula uma desigualdade natural de raças e adotou explicitamente a noção "eugênica" do melhoramento das raças superiores - da "raça ariana", entenda-se - e da exterminação da "raça judia".
    Passemos, agora, ao que chamei de obsolescência da dicotomia esquerda x direita. Nas alturas da filosofia e no cinismo do mero discurso político, é óbvio que os esquerdistas continuam a professar um ideário de igualdade. Proclamam-se mais sensíveis que o resto da humanidade ao sofrimento dos destituídos (daí a atração que exercem sobre a corporação artística), mais competentes e decididos a encetar ações conducentes a uma sociedade menos desigual e, com certo contorcionismo, ainda se apresentam como os detentores monopolistas da estrada real que levará ao paraíso terrestre. Ou seja, cultivam, ainda, o mito da revolução total.
    Mas há dois pequenos senões. Na vida política real não se requer nenhum esforço para perceber que os termos "esquerda" e "direita" estão reduzidos a meros totens tribais. Se me declaro "de esquerda", fica entendido que meu adversário político é automaticamente de "direita". Se o partido ao qual me oponho apoia determinada tese, eu a rejeito, pois ela estará necessariamente ligada ao totem da tribo inimiga. No Brasil é notório que a grande maioria dos políticos não serve a objetivos, eles se servem deles e os enquadram em sua obtusidade totêmica para diluir interesses rigorosamente corporativistas.
    O segundo senão é ainda mais importante. Como antes ressaltei, "esquerdistas" são os que se especializam em professar ideais humanitários e igualitários. Em termos abstratos, isso é correto. Mas, atenção, trata-se, na melhor das hipóteses, de um enunciado no plano do desejo, não de programas concretos de governo e muito menos aos efeitos observáveis da aplicação de determinado programa. Aspirações, não consequências objetivas. No terreno prático, as políticas de esquerda caracterizam-se sobretudo por um distributivismo ingênuo, por uma sesquipedal incompetência e não raro pela corrupção no manejo dos recursos públicos, por afugentar investimentos, ou seja, em síntese, pela irresponsabilidade fiscal e pela leniência com a inflação, tolerando ou assumindo ativamente políticas cujas consequências levam a resultados contrários aos proclamados como desejáveis, piorando as condições de vida dos mais pobres.
    Segue-se que a distinção realmente importante não é entre esquerda e direita, mas entre, de um lado, objetivos proclamados, subjetivos ou meramente discursivos e, do outro, consequências práticas, objetivas e previsíveis. De um lado - na melhor das hipóteses -, a crença em "valores absolutos", lembrando aqui a teoria ética de Max Weber; do outro, uma "ética da responsabilidade", vale dizer, uma visão política que de antemão sopesa objetivos e consequências prováveis.
    Nessa ótica, faz sentido afirmar que há muito mais consenso que dissenso na vida pública brasileira atual. O que queremos, fundamentalmente, é retomar o crescimento econômico em bases sustentáveis, com estabilidade monetária; atrair grandes investimentos para a infraestrutura; revolucionar organizacional e pedagogicamente a educação. Se uma concepção mais convergente não se impuser rapidamente sobre os totens tribais que se digladiam em Brasília, daqui a 20 anos o Brasil não será um país para almas frágeis.
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    Há muito mais consenso do que dissenso na atual vida pública brasileira
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    SÓCIO-DIRETOR DA AUGURIUM CONSULTORIA, É MEMBRO DAS ACADEMIAS PAULISTA DE LETRAS E BRASILEIRA DE CIÊNCIAS E AUTOR DO LIVRO 'DE ONDE, PARA ONDE - MEMÓRIAS' (SÃO PAULO, EDITORA GLOBAL)

    Na pre-historia do nazismo - os 25 pontos do NSAPD (1920)


    OS 25 PONTOS DO PROGRAMA DE HITLER

    Estocado em HISTÓRIA · POLÍTICA
    O “credo político” do que viria a tornar-se o Partido Nazista, esboçado por Anton Drexler e Adolf Hitler. Esses 25 “princípios condutores” foram trazidos a luz em 24 de fevereiro de 1920, diante de “uma platéia de cerca de duas mil pessoas, que aplaudiram efusivamente cada ponto”.
    1. Com base no princípio de autodeterminação dos povos, exigimos a união de todos os alemães numa Grande Alemanha.
    2. Exigimos para o povo alemão direitos iguais aos das outras nações, e a revogação dos Tratados de Paz de Versailles e de St. Germain-en-Laye.
    3. Exigimos terras e território (colônias) para a manutenção do nosso povo e o assentamento de nossa população excedente.
    4. Apenas os membros da nação podem tornar-se cidadãos. Apenas os que têm sangue alemão, independentemente de credo, podem ser membros da nação, portanto nenhum judeu pode ser membro da nação.
    5. Aqueles que não são cidadãos devem viver na Alemanha como estrangeiros e submeter-se à lei dos estrangeiros.
    6. O direito de escolher o governo e determinar as leis do Estado pertencerão apenas aos cidadãos. Exigimos portanto que nenhum cargo público, de qualquer natureza, seja no governo central, da província ou da municipalidade, seja ocupado por alguém que não seja cidadão.
    Posicionamo-nos enfaticamente contra a corrupta prática parlamentar de preencher cargos seguindo meramente os interesses do Partido, sem atenção a questões de caráter ou aptidão.
    7. Exigimos que o Estado faça seu dever primário prover condições de vida para os seus cidadãos. Se não for possível alimentar toda a população, os estrangeiros (não cidadãos) devem ser expulsos do Reich. 
    8. Qualquer imigração adicional de não-alemães deve ser impedida. Exigimos que requeira-se de todos os não-alemães que entraram na Alemanha depois de 2 de agosto de 1914 que deixem o Reich imediatamente.
    9. Todos os cidadãos devem possuir direitos e deveres iguais.
    10. O dever primeiro de cada cidadão deve ser executar trabalho mental ou físico. Nenhum indivíduo deve desempenhar qualquer atividade que ofenda os interesses da comunidade no benefício de todos.
    Exigimos portanto:
    11. A abolição de toda renda não advinda do trabalho.
    O rompimento da escravidão dos juros.
    13. Em vista dos enormes sacrifícios em termos de vidas e propriedade exigidos de uma nação em tempos de guerra, o enriquecimento pessoal através da guerra deve ser visto como crime contra a nação. Exigimos portanto o confisco irrestrito de todos os lucros de guerra.
    13. Exigimos a nacionalização de todos os negócios corporativos (consórcios de empresas). 
    14. Exigimos o regime de participação nos lucros em grandes empreendimentos empresariais.
    15. Exigimos o desenvolvimento intensivo de políticas de previdência para os idosos.
    16. Exigimos a criação e a manutenção de uma classe média saudável, a imediata comunalização das grandes lojas de departamentos e seu arrendamento a pequenos negociantes sob taxas módicas, e que a máxima consideração seja demonstrada aos pequenos negociantes nos pedidos de compra emitidos pelo Estado e pelos municípios.
    17. Exigimos uma reforma agrária adequada aos nossos interesses nacionais, a aprovação de uma lei que permita a desapropriação de terras para propósitos comunais sem necessidade de indenização; a abolição da cobrança do aluguel de terras e a proibição de toda atividade especulativa com a terra.
    18. Exigimos a perseguição implacável daqueles cujas atividades mostram-se prejudiciais ao bem comum. Criminosos comuns, usurários, especuladores, etc, devem ser punidos com a morte, independentemente de credo ou raça.
    19. Exigimos que a Lei Romana, que serve a uma visão de mundo materialista, seja substituída pela lei comum alemã.
    20. O Estado deve estudar uma reestruturação completa do sistema nacional de educação (com o objetivo de abrir a todo alemão capaz e trabalhador a possibilidade de uma educação superior de modo a alcançar desenvolvimento pessoal). Os programas educacionais de todos os estabelecimentos de ensino devem ser alinhados com as exigências da vida prática. O objetivo da escola deve ser dar ao aluno, a partir do primeiro sinal de inteligência, uma compreensão da nação do Estado (através do estudo de assuntos cívicos). Exigimos a educação de filhos talentosos de pais pobres, de qualquer classe ou ocupação, às custas do Estado.
    21. O Estado deve assegurar a elevação dos padrões nacionais de saúde através da proteção mães e crianças de colo; da proibição do trabalho infantil; da promoção da saúde física mediante uma legislação que preveja ginástica e prática desportiva compulsória; do apoio sistemático a clubes engajados na preparação física da juventude.
    22. Exigimos a abolição do exército mercenário e a criação de um exército do povo.
    23. Exigimos o combate judicial contra a deliberada inverdade política e sua disseminação pela imprensa. A fim de facilitar a criação de uma imprensa nacional alemã, exigimos:
    (a) que todos os editores e contribuintes de periódicos circulados em língua alemã sejam membros da nação;
    (b) que nenhum periódico não-alemão possa circular sem a expressa permissão do Estado. Estes não devem ser impressos em língua alemã;
    (c) que os não-alemães sejam proibidos por lei de participar financeiramente ou de influenciar jornais alemães, e que a penalidade pela transgressão desta lei seja a supressão do periódico em questão e a imediata deportação dos não-alemães envolvidos.
    A publicação de periódicos não alinhados com os interesses nacionais deve ser proibida. Exigimos a perseguição legal de todas aquelas tendências artísticas e literárias que corrompem a vida nacional, e a supressão de eventos culturais que violem essa exigência.
    24. Exigimos liberdade para todas as denominações religiosas dentro do Estado, desde que não ameaçem a existência do mesmo nem ofendam a sensibilidade moral da raça alemã.
    O Partido como tal defende um cristianismo positivo, mas não se submete a nenhuma denominação em particular. Ele combate o espírito judaico-materialista dentro e fora do nosso meio, e está convencido de que nossa nação pode alcançar saúde permanente apenas de dentro, e com base no princípio que diz: O BEM COMUM PRECEDE O INTERESSE PESSOAL.
    25. A fim de implantar este programa por completo exigimos a criação de um forte poder central para o Reich; a autoridade incondicional do parlamento político central sobre todo o Reich e suas organizações; a formação de cooperativas baseadas em situação social e ocupacional com o propósito de aplicar nos diversos estados alemães a legislação geral aprovada pelo Reich.
    Os líderes do Partido prometem trabalhar implacavelmente – se preciso for com o sacrifício de suas próprias vidas – para traduzir este programa em realidade.

    Postagem destinada a esse povo de mau-humor... - Paulo Roberto de Almeida

    Oyez, oyez, citoyens!
    Declaração de caráter público.
    Certas pessoas, provavelmente pouco propensas a rir da vida, a tomar qualquer coisa levianamente, neste espaço público, que para mim é simples divertimento, andam reclamando de que eu posto coisas contra as quais elas têm duas ou três razões, sempre de mau-humor, para desejar nunca ter lido. Ora, eu não obrigo ninguém a me seguir, a ler o que posto e, sinceramente, acho essas reclamações simplesmente ridículas. Quem desejar ler apenas o que lhe dá prazer, deve montar o seu próprio estilo e estoque de coisas inteligentes, se mirar com prazer no espelho, convidar os que pensam como esse FBukiano e então dormir placidamente.
    Quanto a mim, declaro o seguinte:
    Eu costumo postar, sem uma ordem precisa, o que é compreensível, o que é inteligente, o que me dá prazer, o que me suscita comentário, o que é gozado, o que é absurdo. Se alguma coisa, de algum extremo, do centro, de meios centros de um lado e outro, do alto, de baixo, preencher qualquer um desses requisitos, puramente subjetivos, eu posto, do contrário ignoro.
    Todos os que não gostam das minhas postagens tem duas opções: me eliminar completamente de suas "relações", ignorar o que escrevo, fingir que não leram, disfarçar e sair de fininho, me xingar, o que desqualificaria o interlocutor, podendo torná-lo passível de guilhotina.
    Minha guilhotina não precisa nem de algum Comitê de Salut Public, sou eu mesmo quem opera o mecanismo, abro o alçapão e esqueço o deletado...

    No que me concerne, fico tranquilamente com o bardo francês Georges Brassens:

    Mourir pour des idées
    l’idée est excellente
    Moi j'ai failli mourir de ne l'avoir pas eue
    Car tous ceux qui l'avaient, multitude accablante,
    en hurlant a la mort me sont tombés dessus.
    Ils ont su me convaincre et ma muse insolente
    Abjurant ses erreurs se rallie à leur foi
    Avec un soupçon de réserve toutefois,
    Mourons pour des idées, d’accord mais de mort lente
    D’accord, mais de mort lente...

    Paulo Roberto de Almeida
    Brasília, 7 de abril de 2019

    domingo, 7 de abril de 2019

    Chanceler, chantecler: on est déjà lá? - Paulo Roberto de Almeida

    Meu amigo Fabio Pereira Ribeiro, administrador, ex-militar, escritor (dois romances tendo Paris do entre-guerras como cenário, e uma tese em preparação sobre... a Paris dos anos 1920), ex-várias outras coisas mais, costuma chamar o nosso chanceler acidental de "chantecler", esta sendo uma designação que vários diplomatas bem-humorados reservavam, no passado, a um ou outro chanceler mais vistoso, digamos assim. 

    Como sabem os amantes da cultura francesa, chantecler é um galo, o dono do galinheiro, com todo o respeito que merece um galinheiro francês, mas no caso específico da tradição historiográfica e literária, trata-se de um personagem de romances medievais com histórias de animais, depois consolidados no famoso Roman de Renart.

    Chantecler também é uma famosa peça de teatro de um dos grandes dramaturgos e escritores franceses da belle époque, Edmond de Rostand, publicada e encenada pela primeira vez em 1910. 

    Não tenho certeza de que os diplomatas que, antigamente, chamavam certos chanceleres de "chantecler", seriam tentados, hoje, a aplicar a mesma designação ao chanceler acidental atual, que não tem, digamos assim, a pompa de um chefe de galinheiro, com toda a autoridade que tal posição requer.

    Ele se parece mais com um galinho garnizé, tentando pateticamente assegurar a sua legitimidade, quando as diretivas, as diretrizes, as recomendações, as instruções, as grandes linhas (se é que elas existem) da "política externa familiar" não lhe permitem tais faculdades gerenciais.

    Ele já recebeu diferentes apelidos, da parte de diplomatas da ativa ou de aposentados, assim como outras designações por jornalistas mais abusados. Vamos aguardar para ver qual desses se afirma como o mais adequado, ou qual seria o mais representativo.
    No momento, creio que chantecler pode ser de fato um apelido simpático.
    Vamos aguardar novas sugestões...

    Paulo Roberto de Almeida
    Brasília, 7 de abril de 2019