Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quinta-feira, 10 de outubro de 2019
Relações internacionais do Brasil na era militar - Paulo Roberto de Almeida
Da corrupção como um estilo de vida - Paulo Roberto de Almeida
Fica muito difícil entender isso?
Seria impossível admitir essa simples verdade, já revelada por inúmeras investigações e pela confissão (ainda incompleta) do tesoureiro-mor da quadrilha travestida de partido?
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9/10/2019
quarta-feira, 9 de outubro de 2019
Rio Branco, a diplomacia e o conhecimento da história - Cesar Maia
RIO BRANCO E O PRATA!Da coluna de Cesar Maia, 9/10/2019 (José Alfredo Vidigal Pontes, historiador, autor dos livros ‘A Política do Café com Leite: Mito ou História?’ E ‘1932: O Caráter Nacional de um Movimento Democrático’ - O Estado de S. Paulo, 07) “Um diplomata não serve a um regime e sim a um país” Barão do Rio Branco Nada mais atual e oportuno do que essa frase em epígrafe de José Maria da Silva Paranhos Júnior, mais conhecido como barão do Rio Branco. Monarquista convicto, serviu a cinco presidentes republicanos. Graças a ele resolvemos exemplarmente nossos problemas fronteiriços, propiciando boa coexistência e frutíferas relações. No sul do País as trocas entre os povos antecederam o próprio estabelecimento das fronteiras, numa época em que eram apenas domínios espaciais ainda indefinidos dos impérios coloniais ibéricos. O comércio platino fortaleceu tanto os hispânicos como os luso-brasileiros, numa relação mútua de prosperidade, em meio a pontuais conflitos armados. Apesar de seu passado monarquista, o barão foi convidado em 1893 por Floriano Peixoto a defender o Brasil numa querela fronteiriça com a Argentina, a qual envolvia boa parte da região oeste dos atuais Estados do Paraná e Santa Catarina. Em alguns meses preparou um estudo de seis volumes, A Questão de Limites Entre o Brasil e a República Argentina, e o enviou a Grover Cleveland, o então presidente norte-americano e árbitro da questão. Esse litígio, conhecido na época com a Questão de Palmas, foi decidido inteiramente a favor do Brasil por decisão de Cleveland, acatando os sólidos argumentos de Rio Branco. Pois ele não só conhecia profundamente os termos do Tratado de Madri (1750), como também a minuciosa e sigilosa cartografia hidrográfica luso-brasileira acumulada sucessivamente pelos brilhantes diplomatas Luís da Cunha e Alexandre de Gusmão. O barão demonstrou claramente que não existe diplomacia eficiente sem conhecimento histórico, nem História sem embates diplomáticos. Outra questão tratada na época por Rio Branco, ainda como embaixador especial, foi a do condomínio de acesso dos uruguaios ao Rio Jaguarão e à Lagoa Mirim, com civilizadas concessões da parte do Brasil. Três anos depois, em 1902, o barão era convidado a assumir o Ministério das Relações Exteriores, no governo Rodrigues Alves, sendo confirmado por todos os presidentes até sua morte, em 1912. Como ministro, resolveu satisfatoriamente as questões do Acre e do Amapá, mas, anteriormente, ainda como advogado, deu prioridade às questões pendentes no Prata, pois tinha plena consciência de sua vital importância geopolítica para o Brasil. A partir da independência das antigas colônias sul-americanas, no século 19, foram realizadas as últimas grandes definições de fronteiras platinas mediante conflitos armados: a Questão Cisplatina, que resultaria na formação do Uruguai, e a Guerra do Paraguai. Na última década ainda restavam a Questão de Palmas, citada cima, e a da Lagoa Mirim para resolver e nesse momento Rio Branco foi convocado dado seu notório saber acerca dos antecedentes históricos das relações platinas. A partir de 1580 houve um grande fluxo de comércio entre Buenos Aires e o Rio de Janeiro, durante a união das coroas ibéricas. Os luso-brasileiros levavam açúcar, tabaco, tecidos e escravos africanos em troca de prata e couros. Porém, a partir de 1640, com a restauração da independência portuguesa, essas transações diminuíram. O império português estava vulnerável e descapitalizado, tendo como inimigos os espanhóis e os holandeses. Foi dentro desse contexto de penúria monetária que, em 1680, o Conselho Ultramarino, em Lisboa, decidiu fundar Colônia do Sacramento, atrevida cidadela na banda oriental do Prata, bem defronte a Buenos Aires, a qual procurava retomar o fluxo de comércio com a América espanhola e o consequente acesso a pagamentos em moeda. Enfrentamentos bélicos nessa região começaram a partir de então, mas também um próspero comércio entre as duas praças. Nessa época Buenos Aires era um pequeno porto com cerca de 8 mil habitantes, atrofiado pelo centralismo de Lima, que monopolizava a aduana da prata de Potosí. Quase um século depois, quando Colônia do Sacramento passou para o domínio espanhol, o censo de 1778 apontou 24 mil habitantes em Buenos Aires, o triplo. Era então uma cidade bem equipada de serviços, cuja atividade comercial havia favorecido a expansão urbana. De outro lado, a existência de Colônia do Sacramento contribuiu para a formação de uma identidade local portenha, a qual seria o embrião de um sentimento regional, aumentando a importância relativa de Buenos Aires no império espanhol e resultando na criação do Vice-Reinado do Prata. A cidadela portuguesa do Prata, além de ter criado condições geopolíticas para a assinatura do Tratado de Madri, estimulou a ocupação dos atuais Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul: gado selvagem dos pampas começou a ser levado para o abastecimento de Minas Gerais e Rio de Janeiro por tropeiros paulistas. O tropeirismo passou, então, a se constituir num fator estrutural no desenrolar de nossa história econômica, tornando viável a ocupação do sul do País, o abastecimento das minas de ouro e acumulando capital privado em São Paulo, que se imbricaria posteriormente com o açúcar, o café, as ferrovias e a indústria. É curioso registrar que essa contribuição é originária inicialmente de muares, equinos e bois soltos pelos hispânicos que haviam retornado à vida selvagem. Rio Branco era ciente de todo esse histórico do processo de ocupação da Bacia do Prata, no qual o comércio foi o grande protagonista. Uma reflexão sobre esse passado nos remete à importância da saudável integração econômica entre países vizinhos sem barreiras tarifárias. O barão demonstrou que não há diplomacia eficiente sem conhecimento histórico... |
Brasil: antecipando a derrocada - Paulo Roberto de Almeida e Cora Ronai
terça-feira, 8 de outubro de 2019
The Brazilian Amazon, at CUNY - Larry Rohter, Anthony Cak
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China: mini-reflexão sobre um caso de sucesso - Paulo Roberto de Almeida
A China vem da mais antiga tradição cultural de toda s trajetória humana sobre a Terra, mais ou menos em paralelo com a tradição judaica, que se preservou em sua essência, mas que nunca teve continuidade territorial, política e econômica, por ser um pequeno povo, sem pretensões ecumênicas, logo derrotado e disperso no mundo por um grande império. Mas, proporcionalmente, o povo judeu foi o que mais contribuiu para os avanços culturais da Humanidade, ainda que em ordem dispersa e não organizada institucionalmente, como a China, o antigo despotismo hidráulico de que falava Karl Wittfogel.
Ela esteve na vanguarda do mundo, sem pretensões universalistas, durante muitos séculos, mas por causa de um faux-pas de um imperador da dinastia Qing, ela se descolou do resto do mundo, e falhou na passagem a uma civilização industrial, que ela só alcançou no pós-maoísmo, o mais demencial episódio de desgoverno de sua história, e depois de quase dois séculos de decadência e de humilhações ocidentais.
Graças a um modesto imperador, Deng Xiaoping, ela ressurgiu para o mundo e sobretudo para si mesma, ainda que conservando traços de autocracia, que sempre foi a sua forma de governo habitual.
O mais importante, para o resto da humanidade, é que ela desempenha um papel eminentemente positivo no plano econômico, ao impulsionar o crescimento de outros países, e no plano dos progressos sociais. Ela já é a locomotiva econômica do mundo, a promotora da globalização e da interdependência.
Eu costumo dizer que, depois do grande conflito global (e ideológico) dos anos 1947-1991, que foi a Guerra Fria geopolítica EUA-URSS, estamos assistindo hoje (mas isso vem desde o final dos anos 1990, justamente) a uma Guerra Fria geoeconômica, mas que a China já venceu, inclusive por erros primários dos EUA, que de forma paranoica elegeram a China como adversária, e não como parceira, como deveria ser, não apenas com vantagens mútuas, mas em benefício de toda a humanidade. Em 2025, os chineses terão realizado o seu projeto Made in China — que não é nacionalismo tacanho, e sim liderança tecnológica, encerrando a fase de pirataria, contrafação e simples cópia— e estarão na liderança dos progressos tecnológicos mundiais.
Serão uma democracia? Provavelmente não, mas isso não tem importância para o resto da humanidade, pois a China não pretende impor a ninguém, a nenhum país, o seu modelo político, que pode ser uma espécie de “despotismo esclarecido”, em todo caso baseado na globalização, no livre comércio e na interdependência ativa, de que é exemplo o BRI, a maior iniciativa de infraestrutura de toda a história da humanidade. A China faz o mundo se tornar verdadeiramente global.
Pena que o outro grande império da atualidade, os EUA, tenham retrocedido tanto no caminho da civilidade política e dos progressos culturais, e estejam hoje sob a administração caótica de um déspota ignorante (bem mais do que isso: estúpido e megalomaníaco), e tenham elegido a China — sob a influência arrogante dos paranoicos do Pentágono—como “inimiga”, em lugar de parceira, no grande empreendimento globalizador — e GLOBALISTA —que seria benéfico para toda a humanidade. Espero que os eleitores americanos recomponham uma administração racional dentro em breve.
Pena que a Europa ocidental, esse grande cadinho cultural civilizatório, permaneça ainda um mosaico de povos e de culturas, sem grandes condições de liderar um projeto globalista democrático. E pena também que a Rússia tenha retornado ao seu padrão autocrático neoczarista, um império com pés de barro e sem as tradições humanistas da ponta ocidental da Eurásia.
Também é uma pena que o Brasil e a América Latina tenham permanecido na letargia dos progressos lentos e descontinuados, por força de elites medíocres e corruptas, que aprofundam seu atraso no plano global. Atualmente o Brasil enfrenta um retrocesso em todos os planos, jamais visto em toda a sua história de 200 como nação independente, sob uma administração mais que ignara, inepta e estúpida, sectária e doentia, próxima de bárbaros desvairados.
Quanto à China, eu espero que Hong Kong resista aos avanços despóticos do novo imperador, e que, em 2047, ela seja bem mais parecida com a pequena ilha de bravos lutadores pela democracia, do que Hong Kong se pareça com a atual administração do continente.
Espero não estar errado em meus prognósticos, que de toda forma não assistirei.
Boas reflexões a todos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de setembro de 2019
O Brasil e o Atlântico Sul - Rubens Barbosa (OESP)
segunda-feira, 7 de outubro de 2019
Maquiavel e companhia _ Carlos Henrique Cardim (IHG-DF, 7/19, 19h30)
Kindle edition: http://www.amazon.com/dp/B00F2AC146
Prefácio
Dedicatória
1. Dos regimes políticos: os democráticos e os outros
2. Das velhas oligarquias e do estado de direito
3. Da variedade de estados capitalistas
4. Do governo pelos homens e do governo pelas leis
5. Da transição política nos regimes democráticos
6. Da conquista do poder: a liderança política
7. Da eficácia do comando e da manutenção do poder
8. Da ilegitimidade política: da demagogia e da força
9. Das repúblicas democráticas e sua base econômica
10. Das forças armadas e das alianças militares
11. Do estado laico e da força das religiões
12. Da profissionalização das forças militares
13. Dos gastos com defesa e da soberania política
14. Da preparação estratégica do líder político
15. Do exercício da autoridade
16. Da administração econômica da prosperidade
17. Do uso da força em política
18. Da mentira e da sinceridade em política
19. Da dissimulação como forma de arte
20. Da dissuasão e da defesa do estado
21. Da construção da imagem: verdade e propaganda
22. Dos ministros e secretários de estado
23. Dos aduladores e dos verdadeiros conselheiros
24. Da arte pouco nobre de arruinar um estado
25. Do acaso e da necessidade em política
26. Da defesa do estado contra os novos bárbaros
Carta a Niccolò Machiavelli
Apêndice: O que nos separa de Maquiavel?
Recomendações de leituras
Outros livros de Paulo Roberto de Almeida
Se, por alguma fortuna histórica, Maquiavel retornasse, hoje, ao nosso convívio, com as suas virtudes de pensador prático, quase meio milênio depois de redigida sua obra mais famosa, como reescreveria ele o seu manual hiperrealista de governança política?
Seriam os Estados modernos muito diversos dos principados do final da Idade Média? Provavelmente não; certo já não se manda mais apunhalar os inimigos políticos na missa dominical, mas traições e golpes escusos ainda fazem parte do cardápio dos candidatos a condottieri.
Este Maquiavel revisitado, voltado para a política contemporânea, dialoga com o genial pensador florentino, segue seus passos naquelas recomendações que continuam aparentemente válidas para a política atual, mas não hesita em oferecer novas respostas para velhos problemas de administração dos homens.
Se na época do diplomata florentino, a tarefa básica do príncipe era a construção de um Estado moderno, a missão principal dos estadistas contemporâneos consiste em defender os direitos dos cidadãos, justamente contra a intrusão e a prepotência dos Estados.