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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Os três comandantes militares já demitiram o ministrinho da defesa? - Fausto Macedo e Pepita Ortega (Estadão)

 Forças Armadas condenam excesso em manifestações e ‘restrições de direitos’


Fausto Macedo e Pepita Ortega 

O Estado de S. Paulo, 11 de novembro de 2022


Em nota conjunta, comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica declaram 'compromisso irrestrito e inabalável' com 'a democracia e com a harmonia política e social'


Os comandantes Almir Garnier Santos, Marco Antônio Freire Gomes e Carlos de Almeida Baptista Junior. FOTOS: MD, MARCOS CORRÊA/PR E FAB

Os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica redigiram uma nota pública conjunta na qual defendem a garantia de manifestações pacíficas e condenam “restrições a direitos por parte de agentes públicos” e “excessos cometidos” em atos pelo País – “que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública”.

Direcionado “às instituições e ao povo brasileiro”, o comunicado do Alto-Comando será divulgado nesta sexta-feira, 11. O texto é subscrito pelo almirante de esquadra Almir Garnier Santos, comandante da Marinha, pelo general Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército, e pelo tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, comandante da Aeronáutica.

Na nota de 31 linhas, em meio às manifestaçõesde apoiadores do presidente Jair Bolsonaro pelo País e em frente a quartéis-generais do Exército, a cúpula militar ressalta os “valores e tradições” das Forças, “sempre presentes e moderadoras”, para assegurar “compromisso irrestrito e inabalável” com “a democracia e com a harmonia política e social”.

É a primeira vez que os comandantes se manifestam após os resultados das eleições e seus desdobramentos. O comunicado é divulgado na mesma semana em que o Ministério da Defesa enviou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) relatório que não aponta fraude nas eleições – em que o petista Luiz Inácio Lula da Silva venceu Bolsonaro na disputa presidencial –, mas pede investigação técnica urgente nas urnas eletrônicas.

O texto dos comandos não cita nomes e nenhum episódio específico. Mas afirma que o papel das Forças Armadas é essencialmente assegurar o que a Constituição prevê, incluindo liberdade de pensamento, de reunião e o direito de ir e vir. Eles ressaltam que a Constituição estabelece “deveres e direitos”.

LEGISLATIVO. Destacam também “a crença na importância da independência dos Poderes, em particular do Legislativo”. “Casa do Povo, destinatário natural dos anseios e pleitos da população, em nome da qual legisla e atua, sempre na busca de corrigir possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos que possam colocar em risco o bem maior de nossa sociedade, qual seja, a sua Liberdade”, diz o texto.

Doze dias após o segundo turno da eleição presidencial, atos convocados por apoiadores de Bolsonaro persistem na porta de quartéis do Exército. Concentrações são mantidas, por exemplo, nas sedes de comandos militares em São Paulo e no Rio. Entre os pedidos dos manifestantes está uma intervenção federal.

Nesta quinta-feira, 10, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou ter realizado o último desbloqueio de rodovias no País, em Vilhena (RO). No total, 1.087 pontos de protestos foram liberados.

“São condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade”, afirma a cúpula das Forças Armadas.

Os comandantes dizem ainda que controvérsias da sociedade devem ser solucionadas com  “instrumentos legais do estado democrático de direito”.

‘TOLERÂNCIA’. Os chefes das Forças Armadas reafirmam prezar pela “legalidade, legitimidade e estabilidade”. “A construção da verdadeira Democracia pressupõe o culto à tolerância, à ordem e à paz social. As Forças Armadas permanecem vigilantes, atentas e focadas em seu papel constitucional na garantia de nossa Soberania, da Ordem e do Progresso, sempre em defesa de nosso Povo”, dizem.

Recentes notas conjuntas dos comandantes militares haviam contado com a assinatura do ministro da Defesa. Desta vez, o atual titular da pasta, general Paulo Sérgio Nogueira, não assina o documento.

A ÍNTEGRA DA NOTA:

Às Instituições e ao Povo Brasileiro

Acerca das manifestações populares que vêm ocorrendo em inúmeros locais do País, a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira reafirmam seu compromisso irrestrito e inabalável com o Povo Brasileiro, com a democracia e com a harmonia política e social do Brasil, ratificado pelos valores e pelas tradições das Forças Armadas, sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos de nossa história.

A Constituição Federal estabelece os deveres e os direitos a serem observados por todos os brasileiros e que devem ser assegurados pelas Instituições, especialmente no que tange à livre manifestação do pensamento; à liberdade de reunião, pacificamente; e à liberdade de locomoção no território nacional.

Nesse aspecto, ao regulamentar disposições do texto constitucional, por meio da Lei nº 14.197, de 1º de setembro de 2021, o Parlamento Brasileiro foi bastante claro ao estabelecer que: “Não constitui crime […] a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais”.

Assim, são condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade.

A solução a possíveis controvérsias no seio da sociedade deve valer-se dos instrumentos legais do estado democrático de direito. Como forma essencial para o restabelecimento e a manutenção da paz social, cabe às autoridades da República, instituídas pelo Povo, o exercício do poder que “Dele” emana, a imediata atenção a todas as demandas legais e legítimas da população, bem como a estrita observância das atribuições e dos limites de suas competências, nos termos da Constituição Federal e da legislação.

Da mesma forma, reiteramos a crença na importância da independência dos Poderes, em particular do Legislativo, Casa do Povo, destinatário natural dos anseios e pleitos da população, em nome da qual legisla e atua, sempre na busca de corrigir possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos que possam colocar em risco o bem maior de nossa sociedade, qual seja, a sua Liberdade.

A construção da verdadeira Democracia pressupõe o culto à tolerância, à ordem e à paz social. As Forças Armadas permanecem vigilantes, atentas e focadas em seu papel constitucional na garantia de nossa Soberania, da Ordem e do Progresso, sempre em defesa de nosso Povo.

Assim, temos primado pela Legalidade, Legitimidade e Estabilidade, transmitindo a nossos subordinados serenidade, confiança na cadeia de comando, coesão e patriotismo. O foco continuará a ser mantido no incansável cumprimento das nobres missões de Soldados Brasileiros, tendo como pilares de nossas convicções a Fé no Brasil e em seu pacífico e admirável Povo.

Brasília/DF, 11 de novembro de 2022.

Almirante de Esquadra ALMIR GARNIER SANTOS
Comandante da Marinha

General de Exército MARCO ANTÔNIO FREIRE GOMES
Comandante do Exército

Tenente-Brigadeiro do Ar CARLOS DE ALMEIDA BAPTISTA JUNIOR
Comandante da Aeronáutica

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Coletânea Enap sobre políticas públicas, palestras de convidados estrangeiros: livro disponível

Uma excelente iniciativa da ENAP. Acesse a íntegra da Coletênea em português ou inglês.

https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/7211/17/enap_collection.pdf

Coletânea Enap facilita acesso aos conteúdos que demonstram as dinâmicas da inovação apresentadas em eventos na Escola entre 2019 e 2022.

Com essa publicação, a Enap pretende ser o ponto de partida para qualquer pessoa saber mais sobre os desafios do mundo e do setor público e facilitar a exploração e aprofundamento desses temas.

Confira:

yuval Harari 1  Palestra: Governo e IA / Government and AI                   

jared diamond 2 Palestra: Reviravolta: momentos cruciais de nações em crise / Turnaround: pivotal moments of nations in crisis

 jimmy wales   Palestra: Plataformas colaborativas para provocar mudanças / Collaborative platforms to bring about change

glen weyl   Palestra: Tranformar o presente para um amanhã justo, descentralizado e cooperativo / Tranforming the present for a fair, decentralized and cooperative tomorrow

steven pinker   Palestra: Racionalidade: como inspirar a reflexão ponderada? / Rationality: how to inspire a balanced reflection

deirdrePalestra: Como a inovação humana funciona / How human innovation works

carlota   Palestra: Economia em transformação: sustentabilidade, desenvolvimento e tecnologias / Economy in transformation: sustainability, development and technologies

tim    Palestra: Como construir sistemas dinâmicos e usar mais dados digitais / How to build dynnamic systems and use more digital data

audrey   Palestra: Futuros radicais: dados e coalizões de dados / Radical futures: data and data coalitions

paula  Palestra: Economia em transformação: sustentabilidade, desenvolvimento e tecnologias / Economy in transformation: sustainability, development and technologies

bruno maçaes  Palestra: Da covid à emergência climática: nosso contexto de crises e incertezas / From covid to climate emergency: our context of crises and uncertainties

dan ariely    Bate-papo com Dan Ariely /Chitchatting with Dan Ariely

 vitalik Palestra: Liberdade para transformar financiamento de bens públicos / Freedom to transform funding of public goods

 

Acesse a íntegra da Coletênea em português ou inglês.

https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/7211/17/enap_collection.pdf

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Derrota vergonhosa da Rússia na Ucrânia- BBC

 Mister Putin must one worried

Rússia recua e decide retirar tropas de Kherson, cidade-chave na Ucrânia

  • Paul Kirby e Frank Gardner
  • Da BBC News
Ministro da Defesa russo Shoigu visita centro de comando na Ucrânia - 08 de novembro de 2022

CRÉDITO, MINISTÉRIO DA DEFESA DA RÚSSIA

Legenda da foto, 

O General Surovikin (E) disse que a retirada, ordenada pelo ministro da Defesa (D) foi uma decisão difícil

As Forças Armadas da Rússia receberam ordens para se retirarem da cidade ucraniana de Kherson, a única capital regional que Moscou capturou desde o início da invasão em fevereiro.

O comandante da Rússia na Ucrânia, general Sergei Surovikin, disse que não é mais possível continuar abastecendo a cidade com suprimentos.

A retirada significa que as forças russas sairão inteiramente da margem ocidental do rio Dnipro.

A decisão representa um golpe significativo para a Rússia, que enfrenta uma contra-ofensiva ucraniana.

Ucrânia 1 vs Rússia 0: abandono de Kherson (FT)

War in Ukraine

Financial Times, November 9, 2022

Russia orders retreat from Kherson 
Withdrawal would cap successful Ukrainian counteroffensive that began in August 
Russian defence minister Sergei Shoigu has ordered troops to withdraw from the city of Kherson in southern Ukraine, in another major setback for President Vladimir Putin’s nine-month invasion of the country. In footage shown on state television on Wednesday, Shoigu accepted a proposal from Sergei Surovikin, commander of Russia’s forces in Ukraine, to retreat from the town to the left bank of the Dnipro river. Surovikin said the withdrawal would happen “at the earliest possible juncture” and that Russia’s troops would set up defensive positions in the remaining parts of the Kherson region that they control east of the city. 
The decision to pull back marks a decisive moment in a Ukrainian counteroffensive started on August 29, with Kyiv’s forces pushing back Russian artillery with superior manpower and supplies of western-supplied advanced weaponry. Oleksiy Arestovych, an adviser in Ukrainian president Volodymyr Zelenskyy’s administration, said the Russian army was “being knocked out of Kherson”. “Dear Kherson residents. We are returning. You are returning. Welcome back home,” he added, warning however that “fighting on the right bank will continue for some time”. 
However Mykhailo Podolyak, another Kyiv adviser, urged caution, telling the Financial Times that “it’s too early to talk about the surrender of Kherson today”. “The statement of the Russian command can mean both the adoption of a political decision, and it can be a trap — turning out to be blurring our eyes before being drawn into urban battles,” he added. If confirmed on the battlefield, the retreat would be one of the biggest blows yet to Putin’s attempt to subjugate Ukraine. The largely agricultural region is strategically important to Russia because it connects the Ukrainian peninsula of Crimea, which Moscow annexed in 2014, to the mainland. It also controls most of Crimea’s water supplies through a canal. 
In the early days of his full-scale invasion in February, the Russian president failed to seize the capital, Kyiv. In September Ukrainian troops forced Russia to abandon several military strongholds near Kharkiv in the east, a breakthrough that has cost Moscow significant losses of men and material. Putin subsequently declared a mobilisation of Russia’s reserves to boost the 1,100km frontline and threatened to use nuclear weapons. 
But Russia does not have full control of the four Ukrainian regions, including Kherson, which the Russian leader annexed in a pompous ceremony in the Kremlin in September. Surovikin on Wednesday told Shoigu the decision to retreat was “difficult” but justified it by saying Russia would “preserve the lives of our troops and the combat readiness of our units”. He claimed Russia was forced to retreat in the face of a supposed threat from Ukraine flooding the area by releasing water from nearby reservoirs or firing on a huge hydroelectric dam at Nova Kakhovka, which remains under Russian control. 
Ukraine has accused Russia of plotting to blow up the dam and blame Kyiv for the ensuing damage. Surovikin claimed retreating from Kherson would also allow Russia to free up forces to conduct offensives in other areas. Russian occupation officials had urged civilians to leave the area in recent weeks and moved their headquarters out of Kherson city to Skadovsk, a town deeper into Russian-controlled territory. Surovikin said 115,000 people had evacuated to the Russian occupied territory on the left bank of the Dnipro river. Shortly before the announcement of the retreat, the Russian occupation administration said Kirill Stremousov, a former anti-vaccine activist appointed the region’s deputy governor, had died in a car crash, without giving further details. 
Commenting on the withdrawal from a town Moscow had gained early in the war, Ben Wallace, UK defence secretary, cautioned that the west and Ukraine should not “underestimate the Russian army”. “It’s a perfectly logical military decision to pull back behind the Dnipro river,” he said. “But fundamentally Russia has now lost the only objective they achieved. Basically it’s Russia 0 and Ukraine 1 so far.” 

With additional reporting by John-Paul Rathbone in London

Brasil fica de fora de parceria por florestas na COP27 - Phillippe Watanabe (FSP)

 Até o final do desgoverno Bolsonaro, o Brasil permanecerá um pária ambiental

Brasil fica de fora de parceria por florestas na COP27

Iniciativa apresentada pelo Reino Unido inclui outros países amazônicos, como a Colômbia e o Equador

8.nov.2022 às 16h34
Atualizado: 8.nov.2022 às 19h24
Phillippe Watanabe

Para verificar os avanços na conservação das florestas, foi anunciada nesta segunda-feira (7) na COP27, a conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre mudanças climáticas, a Parceria de Líderes para Floresta e Clima.

A iniciativa conta com 26 países e a União Europeia. Chama a atenção, porém, a ausência do Brasil, lar da Amazônia, maior florestal tropical do planeta —e também o país que lidera a derrubada. O Itamaraty, em nota, afirma que há foros com melhor formato para "tratar das necessidades dos países em desenvolvimento".

Há a presença de países amazônicos, como a Colômbia e o Equador, na lista de parceiros, além de outras nações com expressivas florestas, como a Indonésia e o Congo (a maior fatia de floresta da região fica, no entanto, na República Democrática do Congo, que não assinou a parceria).

"Ao se juntar, os países se comprometem a liderar pelo exemplo na implementação de suas metas e lutar para serem mais ambiciosos com o tempo", diz o documento de lançamento. Anualmente, os países que entraram no pacto terão que fazer um balanço da situação. Veja abaixo a lista de países que fazem parte da nova parceria.

A iniciativa tem relação direta com a Declaração de Florestas, que foi anunciada na COP26, ocorrida no ano passado em Glasgow, Reino Unido. Na ocasião, o Brasil assinou a declaração, que apontava o "comprometimento em trabalhar conjuntamente para frear e reverter a perda de floresta e a degradação do solo até 2030".

A nova parceria foi anunciada pelo Reino Unido e será inicialmente presidida pelos Estados Unidos e por Gana. A primeira reunião do grupo ocorrerá no dia 12 de novembro, ou seja, ainda durante a COP27 (o evento se estende até o dia 18, no Egito). Os membros do grupo já discutirão os progressos ou não desde a COP26.

Caso o Brasil fizesse parte do novo grupo, os dados mostrariam uma situação de desmatamento tão grave quanto a observada em 2021. As ações ambientais do governo Jair Bolsonaro (PL) não sofreram alterações nesse período —desde o início da atual administração houve discursos que minimizaram a destruição da Amazônia, além de falas críticas à atuação de órgãos de fiscalização.

Procurado pela Folha, o Itamaraty diz que não houve adesão do Brasil à nova parceria porque há foros melhores e mais ambiciosos.

"Embora tenha aderido à Declaração de Florestas lançada pelo Reino Unido informalmente em evento paralelo na COP26 em Glasgow, não consideramos que esta nova iniciativa na COP27 –o FCLP– ofereça o melhor formato para tratar das necessidades dos países em desenvolvimento", afirma o órgão, em nota.

Para o Itamaraty, seria melhor que o Fundo Verde para o Clima renovasse o programa de pagamento por redução de desmatamento, "que vem enfrentando resistências de países desenvolvidos". "Assinale-se, também, que outros países em desenvolvimento detentores de grandes florestas tropicais tampouco integram o FCLP [a parceria]", completa.

Os membros da nova parceria também se comprometem a liderar em pelo menos uma das seguintes áreas: colaboração internacional na economia do uso sustentável da terra; mobilização de financiamento público e de doadores para implementação; direcionamento no sistema financeiro privado; apoio a iniciativas de comunidades locais e de povos indígenas; fortalecer e escalar mercados de carbono para florestas —um tema caro ao Brasil—; e incentivos e parcerias para preservação de florestas altamente conservadas.

O Reino Unido, na esteira da parceria, anunciou a destinação de 90 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 535 milhões) para conservação da floresta tropical no Congo, na África.

Além disso, o país também confirmou a destinação de 65 milhões de libras (aproximadamente R$ 386 milhões) para o Fundo Nature, People and Climate Investment, que tem por objetivo o auxílio a povos indígenas e comunidades que vivem nas florestas.

PAÍSES QUE COMPÕEM A PARCERIA DE FLORESTAS E LÍDERES CLIMÁTICOS:

Austrália
Canadá
Colômbia
Congo
Costa Rica
Equador
União Europeia
Finlândia
Fiji
França
Gabão
Alemanha
Gana
Guiana
Indonésia (ainda considerando a entrada)
Japão
Quênia
Coreia do Sul
Países Baixos
Nigéria
Noruega
Paquistão
Singapura
Suécia
Tanzânia
Reino Unido
Estados Unidos

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.



Amazônia deve ter reservas multinacionais, diz Petro à Folha

Presidente da Colômbia afirma na COP27 que com mudança política no Brasil é possível iniciar uma agenda de cooperação para salvar a floresta

8.nov.2022 às 17h09
Atualizado: 8.nov.2022 às 17h23

Ana Carolina Amaral
SHARM EL-SHEIKH (EGITO)

"Com a mudança política no Brasil, podemos iniciar uma agenda de cooperação para salvar a floresta amazônica", disse à Folha o presidente colombiano, Gustavo Petro, na COP27, conferência do clima da ONU, que vai até o dia 18, no Egito.

"Penso que deve haver reservas multinacionais, é claro que sem perder a soberania nacional de cada país", ele respondeu, nesta terça-feira (8), ao ser questionado sobre as propostas de integração de territórios protegidos dos países que compartilham o bioma amazônico.

A principal ideia sobre os mosaicos de conservação —que conectam territórios de diferentes unidades de conservação, permitindo maior variedade biológica e resiliência— é da organização colombiana Gaia Amazonas. Ela vinha articulando com países amazônicos a criação do corredor triplo A, que conectaria áreas protegidas de três regiões com nomes iniciados nessa letra: Amazônia, Andes e Atlântico, unindo, segundo o plano, 309 áreas protegidas.

Em 2018, a proposta motivou receios do então recém-eleito governo de Jair Bolsonaro (PL) sobre a possível perda da soberania nacional sobre o território que integrasse o mosaico. Nos governos anteriores, no entanto, a ideia já tinha dificuldades de avançar por falta de interlocução do governo brasileiro com a pauta.

"Esse tema é complicado, porque se usa [como argumento] a floresta como bem natural da humanidade para tirar a soberania. Não creio que esse é o caso", disse Petro.

"As mesmas soberanias nacionais que existem sobre as florestas podem gerar os mecanismos multinacionais que permitam reservas com continuidade geográfica entre os países", completou.

Em fala a jornalistas na saída do pavilhão da Colômbia na COP, Petro foi perguntado sobre o impacto ambiental da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por diferentes veículos de imprensa.

"O Brasil é estratégico, pelo tamanho da floresta amazônica no Brasil. Sem ele, os esforços se tornam inócuos. Com o Brasil, é preciso que se dê esse passo fundamental. Trata-se de voltar à fronteira nacional da floresta", afirmou. "E [a conservação] vale dinheiro."

Para Petro, é necessário um fundo com "uma constância através dos anos, pelo menos duas décadas, para alcançar o objetivo de ver nascer floresta onde havia estrada e ver segurança em zonas onde havia perigo".

Em discurso na conferência na segunda-feira (7), Petro disse que a Colômbia mobilizará US$ 200 milhões por ano durante 20 anos para a conservação da Amazônia.

O novo chefe de Estado colombiano, que assumiu em agosto após uma vitória inédita da esquerda no país, encontrou-se no estande da Colômbia na COP27 com indígenas de diferentes regiões do mundo, incluindo o colombiano Dario Mejia Montalvo, presidente do fórum permanente da ONU sobre questões indígenas.

Na reunião, defendeu a abordagem indígena sobre a conservação ambiental conectada à cultura e às comunidades. "Conservar a floresta é a segunda maior medida para combater a mudança climática. A primeira é se livrar dos combustíveis fósseis", pontuou no evento.

O estande colombiano também recebeu nesta terça-feira o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o líder do Suriname, Chan Santokhi.

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.


Começa a transição no Itamaraty com uma nomeação sugestiva - Lauro jardim (O Globo)

 Começa a transição no Itamaraty com uma nomeação sugestiva

Por Lauro Jardim
09/11/2022 08h27  Atualizado há 38 minutos

Começou a ser montado o gabinete de transição no Itamaraty. E sugestivamente o coordenador será Audo Faleiro, o embaixador que foi afastado por Ernesto Araújo da chefia da Divisão de Europa do Itamaraty, apenas quatro dias depois de ter sido nomeado.

Tudo indica que a exoneração tenha sido uma clássica caça às bruxas bolsonarista: numa de suas muitas funções na carreira, assessorou Marco Aurélio Garcia, ex- assessor internacional de Lula.


Política externa universalista? - Sergio Couri (FSP)

 TENDÊNCIAS / DEBATES

Sergio Couri

Política externa universalista?

A partir de agora, fecham-se os espaços para casuísmos e improvisações

FSP, 8.nov.2022 às 21h00

A política externa brasileira dita "universalista" teve seu berço em 1960, quando Jânio Quadros rompeu relações com os "bálticos" —como eram conhecidos os governos dos países do Leste Europeu no exílio— e enviou à região a missão Dantas.

Assentou-se em um olhar igual para o Ocidente, para aquele conjunto de países da Europa Oriental e para o terceiro mundo. Após 1990, com o fim do conflito leste-oeste, saem de cena os segundos como bloco político e entram em cena os emergentes asiáticos.

De uma ótica de longo prazo, o universalismo tem sido o parâmetro maior da política externa brasileira. Seus movimentos básicos são a política externa independente, quando a política interna se desloca da direita para a esquerda, e o pragmatismo responsável, se no sentido inverso.

Está sujeito, não obstante, a oscilações, como a participação do Brasil, em 1965, na Força Interamericana de Paz da OEA que interveio na República Dominicana —um recuo aos anos 1946-60, quando a Guerra Fria impunha ao Brasil estratégia de alta coesão com os Estados Unidos. "Não culpe o Itamaraty pelo que faz o Laranjeiras", diria o chanceler Vasco Leitão da Cunha ao receber do embaixador do país caribenho uma nota de protesto pela ocupação.

A partir de 2003, a política universalista seria alvo de interpelação por parte de segmentos conservadores da sociedade brasileira ante a disposição do Brasil de intensificar relações com países do terceiro mundo de modelo socializante. O clima se anuviaria com a visita, em 2007, do presidente George W. Bush.

Mais recentemente, o biênio 2019-20 também projetaria sombras sobre esse universalismo em face de uma política externa de declaradas preferências e preterições, o que começaria a mudar a partir de 2021.

O universalismo brasileiro é, contudo, de sustentabilidade real, porquanto suas raízes mais profundas são a estruturação do Brasil no cenário internacional, marcada por sua condição de país ocidental, pan-americano, sul-americano, sul-atlântico, multirracial e sem revisionismos ativos ou passivos, além de aberto para a cooperação internacional polidirecionada por sua própria amplidão geográfica e mercadológica.

Regida, assim, por uma mecânica que, qual na física newtoniana, a traz de volta ao universalismo como seu próprio ponto de equilíbrio, a política externa brasileira não tem como desafio maior mantê-lo, mas definir, a cada etapa das relações internacionais, o que pretende fazer com ele, que é seu ponto de partida, não de chegada.

Nestes tempos, o processo internacional estaria a indicar ao Brasil elaborar e executar estratégias sofisticadas de inserção global, com novas concepções, fórmulas, métodos, técnicas e instrumentos, que passam pela reorganização administrativa interna e delineamento de novas identidades e posturas profissionais dos atores brasileiros nas relações internacionais.

Trata-se não só de buscar "mais do mesmo", mas de lançar vetores novos de ação externa, com integração do conhecimento, da experiência, da imaginação e de uma lógica futurista, o que significa renovação ampla do fazer externo, ainda que sem abandono de hígidas tradições.

Num mundo cada vez mais interdependente na economia e tecnologia, que arrastam consigo a política, a ação externa não deve prescindir de metas de desempenho em medições como fluxo de comércio, de investimentos, cadeias de valor globais, termos de intercâmbio, "risco Brasil" e emissão de gás carbono, entre tantas outras relevantes.

Fecham-se os espaços para casuísmos e improvisações. Relações exteriores como que passaram a compor uma equação única de múltiplas variáveis, pedindo soluções compatíveis entre si e modelos sistêmicos e executivos, tão técnicos quanto políticos.

Esse é o desafio que o próximo quadriênio trará no campo das relações internacionais, ante a necessidade inadiável de o Brasil aprimorá-las como caudal de retomada do crescimento.


https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/11/politica-externa-universalista.shtm