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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Gabinete de transição vai ter apoio diplomático para preparar engajamento de Lula no exterior - Pedro Nogueira (CNN)

Gabinete de transição vai ter apoio diplomático para preparar engajamento de Lula no exterior 

Equipe comandada por Audo Araújo Faleiro, assessor internacional da Presidência durante os governos do PT, também vai fornecer ao gabinete de transição informações sobre o calendário diplomático 

Pedro Nogueira, CNN, 11/11/2022

O diplomata Audo Araújo Faleiro lidera o trabalho de ligação entre o Itamaraty e o gabinete de transição. Os profissionais vão preparar as viagens de Lula, como a COP-27, no Egito, produzir documentos, incluindo respostas a chefes de estado estrangeiros, além de organizar a recepção de embaixadores e telefonemas com dignitários de outros países

A equipe também vai fornecer ao gabinete de transição informações sobre o calendário diplomático, com oportunidades estratégicas de engajamento do governo-eleito no exterior, e elencar assuntos administrativos que precisam de respostas rápidas no início da nova gestão.

Um dos primeiros compromissos do grupo de ligação foi o encontro com o Encarregado de Negócios da Embaixada do Egito, para preparar a logística da comitiva à conferência sobre mudanças climáticas. A reunião aconteceu no CCBB, na quarta (9).

Ministro de Segunda Classe da carreira diplomática, Audo Faleiro foi indicado por Celso Amorim, embaixador aposentado considerado o braço direito de Lula para assuntos internacionais. Amorim é também o diplomata que serviu por mais tempo no cargo de Ministro das Relações Exteriores, superando o Barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira. O embaixador é cotado para compor a equipe de transição, na área de Relações Exteriores.

Sem revanchismo

Fontes no Ministério afirmam que a escolha de Faleiro envia dois sinais. O primeiro é de que o governo de transição busca um Itamaraty sem revanchismo. O segundo, que sua a transição busca boas relações com a atual gestão do chanceler Carlos França, para garantir uma transição suave.

Diplomatas relatam um clima de “caça às bruxas” no serviço diplomático durante a gestão de Ernesto Araújo, primeiro chanceler de Bolsonaro. Audo teria sido um dos alvos desse regime.

Nomeado chefe da Divisão da Europa Ocidental no Itamaraty em 2019, o diplomata foi exonerado menos de uma semana depois. O motivo: ele serviu na assessoria internacional da Presidência da República durante os governos do PT, sob o comando de Marco Aurélio Garcia. Além disso, trabalhou na embaixada brasileira na Venezuela. Outros diplomatas com posições de destaque nos governos Lula e Dilma também caíram no ostracismo.

Colegas relatam que Audo é uma das pessoas que encarou essa situação com serenidade. A expectativa é de que não haja um novo campo de batalha de perseguição.


Audo Faleiro assessora transição de Lula na diplomacia - Murilo Fagundes (Poder 360)

 Audo Faleiro assessora transição de Lula na diplomacia


Embaixador e ex-assessor para assuntos internacionais da Presidência é indicação do chanceler Celso Amorim

PODER 360
MURILO FAGUNDES 
11.nov.2022 (sexta-feira) - 13h17

O ex-assessor para assuntos internacionais da Presidência Audo Faleiro foi escalado pela equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o gabinete de transição. O embaixador atua como elo entre o Itamaraty e a equipe do governo transitório.

O Poder360 apurou que Faleiro já conduz reuniões preparatórias para as viagens do petista ao Egito, onde participará da COP27, e a Portugal, onde encontrará os chefes de Estado e Governo. Faleiro é indicação do ex-chanceler Celso Amorim, braço direito de Lula em assuntos relacionados à diplomacia.

Faleiro é avaliado por colegas como alguém com perfil sereno e apaziguador. Foi escolhido para conduzir uma transição sem entreveros com o atual chanceler, Carlos França.

O embaixador escalado pelo PT, diplomata de carreira, foi alvo do ex-chanceler Ernesto Araújo, em 2019, no início da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL). À época, 4 dias depois de ser nomeado para chefiar a Divisão de Europa do Ministério das Relações Exteriores, Faleiro foi demitido.

EGITO E PORTUGAL 
Lula visitará Portugal depois de participar da COP27, conferência climática da ONU (Organização das Nações Unidas), em Sharm El Sheikh (Egito). A informação foi confirmada pelo Poder360, mas a agenda ainda não foi divulgada.

Na 4ª feira (9.nov), o petista disse que sua viagem internacional começará na 2ª feira (14.nov) de manhã e terminará no sábado (19.nov). Lula afirmou também que começará a montar sua equipe de ministros depois de retornar ao Brasil.

Lula foi convidado pelos integrantes do Consórcio de Governadores da Amazônia Legal para participar da COP27. O coordenador do grupo, Waldez Góes (PDT), governador do Amapá, foi quem fez o convite. Mas Helder Barbalho (MDB), governador do Pará, anunciou o convite publicamente em 31 de outubro.

A defesa da pauta ambiental foi uma das principais bandeiras de Lula durante a campanha eleitoral. O presidente eleito defende que o Brasil volte a ser protagonista perante os outros países, especialmente para liderar respostas à emergência climática.

Na 2ª feira (7.nov), o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim disse que a ida de Lula ao evento mostra “atitude, engajamento e respeito às metas climáticas”. “É uma questão de participação ativa, de desenvolvimento sustável, em que não se vê desenvolvimento e clima como conflito. Acho que essa é a visão dele”, declarou Amorim.

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Começa a transição no Itamaraty com uma nomeação sugestiva - Lauro jardim (O Globo)

 Começa a transição no Itamaraty com uma nomeação sugestiva

Por Lauro Jardim
09/11/2022 08h27  Atualizado há 38 minutos

Começou a ser montado o gabinete de transição no Itamaraty. E sugestivamente o coordenador será Audo Faleiro, o embaixador que foi afastado por Ernesto Araújo da chefia da Divisão de Europa do Itamaraty, apenas quatro dias depois de ter sido nomeado.

Tudo indica que a exoneração tenha sido uma clássica caça às bruxas bolsonarista: numa de suas muitas funções na carreira, assessorou Marco Aurélio Garcia, ex- assessor internacional de Lula.


quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Mulheres na diplomacia brasileira: Vanessa Dolce de Faria e Audo Faleiro (República.org)

 MULHERES NA DIPLOMACIA BRASILEIRA

República, 3 de agosto de 2022
Por Vanessa Dolce de Faria e Audo Faleiro

Na entrada do gabinete do ministro das Relações Exteriores, há uma galeria de retratos dos chanceleres brasileiros. São ao todo 107 fotografias dos titulares do Itamaraty entre 1822 e 2021, mas nenhuma delas é de mulher. Tampouco houve uma mulher que tenha ocupado a secretaria-geral, segundo cargo na hierarquia da chancelaria. A cena, emblemática, virou filme: está no excelente documentário “Exteriores: Mulheres Brasileiras na Diplomacia”[1], que jogou luz sobre a questão da baixa representatividade feminina na carreira diplomática. 

Em 2022, nenhuma mulher chefia embaixadas do Brasil na América do Sul (com exceção da Guiana), nem nos demais países dos BRICS, nem nas delegações junto a organismos internacionais situadas em Nova York, Genebra, Paris, Londres, Viena ou Roma. Nunca houve uma embaixadora em Buenos Aires, Washington, Pequim, Tóquio. Atualmente, todas as sete secretarias que compõem a alta hierarquia do ministério são ocupadas por homens. Essa situação não é fortuita. A história da representação feminina na carreira diplomática é repleta de percalços[2]. 

Em 1918, Maria José de Castro Rebello Mendes, primeira mulher diplomata do país, precisou de um parecer jurídico de Ruy Barbosa para poder se inscrever no concurso de admissão, no qual obteve o primeiro lugar. Em 1938, reforma introduzida pelo então chanceler Oswaldo Aranha, e que perdurou até 1954, estipulava que somente poderiam se inscrever no concurso candidatos do sexo masculino[3]. Só em 1956 a primeira mulher chegou ao topo da carreira, ocasião em que Odette de Carvalho e Souza (que havia ingressado em 1936 nos quadros do ministério) foi promovida a embaixadora.

Mesmo com o fim da proibição de acesso, em 1954, outros entraves burocráticos continuaram a limitar o exercício da profissão pelas diplomatas. A proibição de casamento entre funcionários públicos, que vigorou no Itamaraty até 1965, impunha a opção entre a carreira ou a família para muitas mulheres. No ano seguinte, foi instituído o mecanismo da “agregação”, que estipulava o “afastamento do exercício do cargo para acompanhar o cônjuge, funcionário da carreira de Diplomata, removido para posto no exterior”[4]. Ou seja, casais de diplomatas não poderiam ser lotados juntos no exterior, de tal forma que alguém do casal (e em geral foram elas e não eles) necessitaria interromper a carreira. Em 1985, a obrigação de agregar deixa de existir, mas com a condição de que um dos cônjuges receberia 40% menos que o seu par (circunstância que, novamente, recairá predominantemente sobre as mulheres), mesmo que ambos estivessem desempenhando tarefas equivalentes[5]. A promulgação da Constituição de 1988, que reconhecia a igualdade jurídica entre os sexos, não surtiu efeito imediato e essa discriminação em matéria de remuneração foi mantida até 1996. 

OS NÚMEROS CONFIRMAM: ELAS SÃO MINORIA EM CARGOS DE LIDERANÇA
Dados recentemente divulgados pelo Itamaraty indicam que dos 1.539 diplomatas na ativa, 354 são mulheres, o que corresponde a 23% do quadro funcional[6]. Os números comprovam como as dificuldades de progressão funcional das diplomatas são bem maiores do que as de seus colegas homens:

- das 131 embaixadas, missões e escritórios de representação no exterior, só 16 (12,2%) são chefiadas por mulheres;

- dos 53 postos no exterior de maior prestígio (classificados como postos A), só 6 (11,3%) são comandados por mulheres;

- a porcentagem de mulheres na chefia de consulados (24,1%) é mais próxima da taxa de mulheres da carreira, pois são cargos considerados de menor importância do que as atividades realizadas em embaixadas e missões nos organismos multilaterais;

Outro dado relevante é o do perfil dos diplomatas aposentados entre 1º de janeiro de 2016 e 23 de maio de 2022: dos 134, 30 eram mulheres. Enquanto 60% delas (18) se aposentaram nas etapas intermediárias da carreira, só 25% dos homens tiveram que se aposentar nessa mesma faixa.

É urgente reavaliar, portanto, o tratamento conferido às diplomatas no exercício da profissão. Como demonstram os dados, num percurso profissional extenso, a maioria das diplomatas vão ficando pelo caminho, e as que chegam aos escalões superiores são preteridas na ocupação dos cargos de liderança. Essa situação merece consideração aprofundada, bem como debate mais atento na sociedade. Afinal, se mulheres não são vistas ocupando postos de importância, se não lideram e chefiam, ou chefiam pouco, naturaliza-se que posições de maior relevo sejam sempre ocupadas por homens, que funções de poder estejam sempre reservadas aos homens. Barreiras culturais e simbólicas são assim reproduzidas e perpetuadas, em detrimento de uma sociedade - e uma chancelaria - mais paritária, plural e representativa.

Além de progredirem menos do que os homens na carreira diplomática, as mulheres também ingressam em menor número, outro fato que merece olhar atento. Nos 26 concursos, entre 1996 e 2021, entraram no Instituto Rio Branco 268 mulheres, o que representa 24% das 1.116 vagas do concurso de admissão. A oscilação anual de acesso de mulheres à carreira não permite, todavia, verificar uma tendência clara. Na tabela a seguir, foram selecionados os anos de maior e menor porcentagem de mulheres aprovadas. Em nenhum desses anos ingressaram mais mulheres do que homens.

A análise dos dados sobre os números de inscritos nos concursos para a carreira diplomática entre 2003 e 2020 (tabela 2) indica certa estabilidade entre homens e mulheres. Em 2003, o número de candidatas (2.214) representava 60,2% do total. Entre 2004 e 2020, o número de mulheres que iniciam o processo de seleção fica estável em torno de 40%.

Cruzando as duas estatísticas (número de mulheres aprovadas e número de mulheres candidatas), verifica-se (tabela 1) que, com exceção de quatro certames (2005, 2014, 2017 e 2022), existe lacuna expressiva de representação feminina em todos os demais anos. Essa constatação faz pensar sobre a necessidade de ações concretas que não só visibilizem as mulheres já diplomatas, mas também permitam que mais mulheres se tornem diplomatas. Esse é o espírito e a letra da recém-aprovada (por consenso) resolução da Assembleia Geral da ONU, que estabeleceu o dia 24 de junho como o Dia Internacional das Mulheres na Diplomacia e reafirmou que “a participação ativa das mulheres, em pé de igualdade com os homens, em todos os níveis de tomada de decisão, é indispensável para se atingir a igualdade, o desenvolvimento sustentável, a paz a democracia e a diplomacia”[7].

É preciso que as questões de representatividade e gênero sejam debatidas e enfrentadas. O Comitê Gestor de Gênero e Raça do MRE, como foro consultivo, criado em 2014[8], foi instrumental para expor os entraves que afetam a maior representação feminina e sensibilizar a instituição a esse respeito.  Infelizmente, o Comitê deixou de funcionar em 2019, não existindo hoje um canal institucional adequado. Existem pressões vindas do Legislativo. A bancada feminina no Senado tem sido vocal sobre a necessidade de corrigir essas distorções. O Grupo de Mulheres Diplomatas, coletivo criado em 2013, vem exercendo papel de destaque no estudo e na defesa de pautas de gênero no Itamaraty. Que mais e mais vozes se somem! Na ausência de ações afirmativas por parte do Itamaraty, prevalecerá o status quo de baixa representatividade das mulheres na diplomacia - e as galerias de retratos continuarão dominadas por fotografias masculinas, em descompasso com o nosso tempo. 

[1] Produzido pelo coletivo “Grupo de Mulheres Diplomatas do Itamaraty”, o documentário foi lançado em 2018 e está disponível em https://vimeo.com/303550770
[2] Outras referências essenciais são dois livros publicados pela Fundação Alexandre de Gusmão: “Diplomata. Substantivo comum de dois gêneros. Um estudo sobre a presença das mulheres na diplomacia brasileira”, da diplomata Viviane Rios Balbino; e “Mulheres diplomatas no Itamaraty (1918-2011). Uma análise de trajetórias, vitórias e desafios” do diplomata Guilherme José Roeder Friaça.
[3] Decreto-Lei no 791/1938.
[4] Decreto-Lei no 69/1966.
[5] Decreto-Lei no 2.234/1985
[6] Boletim Estatístico “Participação de Mulheres no Serviço Exterior Brasileiro”.
[7] Resolução A/76/L.66 de 16 de junho de 2022.
[8] Portaria MRE n. 491, de 12 de setembro de 2014.

Vanessa Dolce de Faria
Ingressou no Instituto Rio Branco em 1999. Entre 2001 e 2004, esteve lotada na Divisão de Propriedade Intelectual e Novos Temas. Foi chefe de gabinete da Secretaria-Executiva do MPOG entre 2004 e 2005. Entre 2006 e 2009, serviu na embaixada do Brasil em Buenos Aires, onde chefiou o setor de energia, transportes e infraestrutura. Entre 2009 e 2012, serviu na embaixada do Brasil em Assunção, onde chefiou o setor de cooperação em políticas públicas. Foi chefe de gabinete da Secretaria-Geral da Presidência da República entre 2013 e 2015, e assessora na Assessoria Internacional da Presidência da República de 2015 a maio de 2016. De junho de 2016 a julho de 2019, chefiou a Divisão de África Austral e Lusófona do Itamaraty. Desde julho de 2019, é cônsul-geral adjunta em Barcelona. Tem publicado, pela FUNAG, o livro “Política externa e participação social: trajetória e perspectivas

Audo Araújo Faleiro
Ingressou no Instituto Rio Branco em 1996. Entre 1998 e 2002, esteve lotado no Itamaraty, em Brasília, na Divisão de Política Financeira e Desenvolvimento (DPFD) e na Divisão de Agricultura e Produtos de Base (DPB). Membro da missão permanente do Brasil em Genebra (2003-2006), atuou como delegado junto à OMC e ONU. Chefiou os setores político e de promoção comercial na embaixada do Brasil em Caracas (2006 a 2008). De retorno a Brasília, serviu 6 anos (entre 2009 e 2015) na assessoria internacional da presidência da República. Em 2011, foi enviado a Quito para apoiar a instalação da sede da UNASUL naquela capital. Entre 2015 e 2019, foi ministro-conselheiro na embaixada em Paris. Integra atualmente, como assessor, o Departamento de Promoção de Serviços e de Indústria do Itamaraty e coordena as negociações do subgrupo de serviços no Mercosul.

https://republica.org/emnotas/conteudo/mulheres-na-diplomacia-brasileira/

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

A "desimportância" de ser Arnesto: o que vale um ministro que não decide?

Minha paráfrase (de gozação) com a obra de Oscar Wilde: The importance of being earnest.
No caso do chanceler, ele não tem, na verdade, a menor importância, na medida em que, no plano político, a diplomacia do Brasil é decidida por outros, amadores ineptos, que ainda assim mandam na política externa, e no plano doméstico, qualquer milícia de fanáticos bolsonaristas é capaz de fazê-lo retroceder numa decisão sem grande importância no plano político, ou técnico. 
Mas, a demissão de um diplomata recém nomeado é plena de significado no que simboliza como sendo uma nova caça às bruxas, o macartismo censório, a perseguição política contra quem exerceu suas funções numa carreira que serve ao Estado, mas que é obrigada, por vezes, de se dobrar a governos e a políticas estapafúrdias, como foi o caso do lulopetismo diplomático, e agora é o caso do olavo-bolsonarismo aloprado.
Lamento pelo Itamaraty, que afunda num clima de temor e perseguição, deixando todos intimidados com a malta de bárbaros que cerca o governo de extrema-direita e orgulhoso de sê-lo.
Continuarei denunciando o descalabro institucional e político no Itamaraty.
Paulo Roberto de Almeida
Ribeirão Preto, 23 de outubro de 2019

Itamaraty emite alarme a diplomatas bem posicionados nos governos do PT

Chanceler Ernesto Araújo exonera chefe da Divisão da Europa Ocidental por ter trabalhado em área comandada por Marco Aurélio Garcia


O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo: elogios à política externa de Lula na década passada e atuação no gabinete de chanceler de Dilma - 11/09/2019 (Eric Baradat/AFP)
Um novo alarme de “caça às bruxas” soa no Itamaraty desde a terça-feira 22. O Diário Oficial da União trouxe impressa a exoneração de Audo Araújo Faleiro, ministro de segunda classe da carreira diplomática, do cargo de chefe da Divisão de Europa Ocidental. Ele assumira o posto seis dias antes, depois do aval da  Casa Civil, que escrutinou sua folha de serviços de 23 anos. A milícia digital da extrema-direita, porém, encontrou motivo para assassinar sua reputação: Faleiro trabalhou por seis anos na assessoria internacional da Presidência da República durante os governos do PT, sob o comando de Marco Aurélio Garcia, e antes servira na embaixada brasileira na Venezuela.
O caso repercutiu imediatamente no Itamaraty. A portaria de exoneração foi assinada pelo chanceler Ernesto Araújo que, em sua tese no Curso de Altos Estudos do ministério elogiara a política externa do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que atuara no gabinete de Mauro Vieira quando ministro das Relações Exteriores de Dilma Rousseff. Vários diplomatas em posições muito mais relevantes do que as assumidas por Faleiro durante os governos petistas estão em cargos de prestígio na atual estrutura do Itamaraty, com direito ao adicional por função de confiança. Ainda não se tornaram alvos da milícia digital. Mas podem ser os próximos linchados.
Outros diplomatas em bons cargos durante as gestões de Lula e de Rousseff mesmo sem engajamento à orientação da esquerda, caíram no ostracismo. Vários deles esperam por um posto na sala 203 do anexo 1 do Itamaraty, batizada como “Parque dos Dinossauros”. Há ainda os que estão alocados em áreas administrativas, mas sem função específica. Todos esses profissionais concursados e com vasta experiência recebem seus salários-base sem exercer nenhuma sem função específica enquanto esperam uma nomeação.
Fontes do Itamaraty disseram que Faleiro foi comunicado por seus superiores sobre a decisão do ministro das Relações Exteriores na sexta-feira, 18. Atuara apenas três dias na Divisão de Europa Ocidental, um cargo abaixo de seu patamar na carreira, mas que poderia ser uma alavanca para sua promoção a ministro de primeira classe (mais comumente chamado de embaixador). Viera de Paris, onde servira por quatro anos na embaixada brasileira. Faleiro poderia contribuir para a recuperação das relações entre Brasil e França, desgastada pelos atritos entre os presidentes Jair Bolsonaro e Emmanuel Macron em torno dos incêndios na Amazônia. Como diplomata, cumpre ordens, mesmo contrariado. Seus colegas garantem que ele não é filiado a partidos nem tem perfis em redes sociais. Procurado, Faleiro preferiu não fazer comentários.
Sua vinculação com Garcia havia sido apontada em nota pelo portal de notícias O Antagonista no dia 17, com o rosto do chanceler estampado. Dois vídeos foram anexados. Em um deles, Faleiro explica a política externa petista, em espanhol, a um grupo. No segundo, comenta sua participação em um encontro da ala Articulação, do PT, no qual representou Garcia. Pelo Twitter, o site divulgara a mesma nota com o título “Ernesto Araújo nomeia ex-assessor de Marco Aurélio Garcia para chefiar relações com a Europa”. Foi retuitado 13 vezes, recebeu 50 comentários, espalhou-se nas redes.
O diplomata deverá fazer companhia a outra vítima da atual gestão do Itamaraty, o embaixador Paulo Roberto de Almeida, que passa seus dias na Biblioteca do ministério. Almeida foi exonerado do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri) em março por ter publicado em seu blog três artigos: do embaixador aposentado Rubens Ricupero e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticando Araújo e do próprio chanceler rebatendo os outros dois. Foi alocado na Divisão de Arquivos, no segundo subsolo do Anexo 2 do Itamaraty, onde celular e wifi não funcionam. Por isso, prefere a convivência com os livros. Agora, com Faleiro dividindo a mesa.

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Carta da presidente da ADB ao SG-Itamaraty sobre Exoneração de colega de cargo de Chefia,
Em 25/10/2019

Caros colegas associados e associadas da ADB/Sindical,
Enviei carta hoje ao Secretário Geral em que manifestei minha estranheza com a recente exoneração de cargo de Chefia de Divisão apenas dois dias depois da correspondente nomeação, após campanha desencadeada nas redes sociais por questões ideológicas.

Ressalvei que, embora não questionasse a legalidade da exoneração por se tratar de cargo de confiança, de livre provimento, é indispensável ter em mente que a essência da diplomacia, como carreira de Estado, é defender os interesses do País independentemente de alinhamentos de natureza ideológica.
Sublinhei, nesse contexto, que a medida de aferição do servidor deve ser sua competência, profissionalismo e respeito à Constituição e às leis do Brasil e não questões político-partidárias. Qualquer outro parâmetro poderia criar precedente contrário à autonomia institucional do Ministério que, além de desvirtuar os objetivos da carreira, geraria insegurança para seus integrantes.
Atenciosamente,
Maria Celina de Azevedo Rodrigues
Presidente da ADB/Sindical

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Macartismo no Itamaraty - Blog do Sakamoto

Primeiro o ato oficial, depois a matéria:

PORTARIA Nº 1.021, DE 18 DE OUTUBRO DE 2019
O MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, no uso de suas atribuições, resolve:
Dispensar AUDO ARAÚJO FALEIRO, ministro de segunda classe da carreira de diplomata do Ministério das Relações Exteriores, Siape nº 1204449, da função de confiança de chefe da Divisão de Europa I, código FCPE 101.4.
ERNESTO ARAÚJO

https://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/
Chanceler demite diplomata de cargo técnico após pressão de redes sociais

O diplomata Audo Araújo Faleiro foi exonerado pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, do cargo de chefe da divisão que cuida da Europa Ocidental um dia após seu nome ter sido citado em uma nota do site O Antagonista e atacado pela rede de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro por ele ter trabalhado em administrações petistas.
O caso está sendo encarado por diplomatas, tanto progressistas quanto conservadores, ouvidos pelo blog como "perseguição ideológica" e "sinal de fraqueza institucional" do ministro de Estado. Pois isso mostra que o chanceler Ernesto Araújo não conta com liberdade para indicar quem quer que seja por critérios técnicos.
A exoneração do diplomata ocorreu através da portaria 1021, da última sexta (18), que foi publicada apenas na edição desta terça do Diário Oficial da União. O mais surpreendente é que o próprio chanceler escolheu Faleiro para ocupar esse cargo técnico, no dia 14 de outubro, como pode ser visto na portaria 984, do MRE, publicada no Diário Oficial da União do dia seguinte.
Contatado pelo blog, Audo Faleiro afirmou que não vai comentar o assunto. Assim que conseguir uma posição do Ministério das Relações Exteriores, ela será publicada neste espaço.
Seu nome foi avaliado pelo gabinete do ministério e pela Casa Civil, em um processo que durou mais de um mês, e nada foi encontrado que desabonasse sua indicação. Para um servidor com 22 anos de carreira, essa função de chefe de divisão, normalmente ocupada por diplomatas mais novos, já era considerada uma espécie de "geladeira".
Audo Faleiro é ministro de segunda classe (segunda maior patente na hierarquia da categoria) e trabalhou na assessoria internacional da Presidência da República nos governos de Lula e Dilma, na equipe chefiada pelo então assessor especial Marco Aurélio Garcia. No exercício de tal função, Audo participou de eventos com sindicatos e partidos políticos, apesar de não ser filiado a nenhum deles.
Faleiro serviu como ministro conselheiro em Paris, entre 2015 e 2019. Segundo fontes ouvidas pelo blog, sua indicação contribuiria para recompor a relação com a França desgastada após as trocas de ofensas públicas entre os presidentes brasileiros e francês por conta da Amazônia.
Ele, aliás, não foi o único diplomata a ter sido cedido para trabalhar em cargos de assessoria junto ao primeiro escalão de administrações anteriores, e que conta com cargo de chefia no atual governo. Nem o único diplomata que tinha cargo de confiança em governos petistas que mantém seu status nesta gestão. O próprio Ernesto Araújo comandou áreas no Itamaraty durante o governo petista e foi subchefe no gabinete do ministro das Relações Exteriores no governo Dilma Rousseff.
De acordo com um embaixador ouvido pelo blog, determinar cargos de nível técnico do Ministério das Relações Exteriores conforme necessidades político-partidárias significa abandonar a diplomacia profissional, que a instituição construiu após a fundação do Instituto Rio Branco, em 1945.
Outro embaixador afirmou que é comum presidentes indicarem uma cota pessoal de embaixadores (ressaltando que não de sua família, claro). No entanto, esclareceu que um comportamento como o atual, partidarizando chefias de divisão, vai muito além de qualquer prática vista nas últimas décadas e se assemelha a uma espécie de macarthismo à brasileira.
O caso tem pontos de semelhança ao do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que cedeu à campanha digital realizada por apoiadores do governo Bolsonaro favoráveis à flexibilização da posse e do porte das armas de fogo, e revogou a nomeação de Ilona Szabó para a vaga de suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, em fevereiro. Bolsonaro afirmou que interveio após a campanha nas redes sociais. O próprio Moro que a havia indicado.
O caso abriu uma fratura na imagem de super-ministro de Moro, mostrando que a carta branca que prometeu a ele só vale se endossada pelo presidente.
Nesse sentido, a exoneração é vista pelos diplomatas com o qual o blog falou como um estranho aceno aos bolsonaristas diante da repercussão negativa nas redes sociais.
Em certos aspectos, o caso atual no Itamaraty chega a ser ainda mais preocupante em termos de ideologização e politização indevidas dos serviços do Estado, e mostra uma debilidade ainda maior do Ministro Ernesto Araújo. Pois trata-se de um cargo técnico, de baixo escalão, e sem relevância política, que estava preenchido por um diplomata reputado como sério, profissional e competente por colegas de matizes políticos opostos que foram ouvidos pelo blog.
Diplomatas ouvidos pelo blog afirmam que tudo isso conta com um agravante de motivação fútil, o que pode ser revelador da insegurança da atual liderança do ministério: o medo de que uma simples reação nas redes sociais poderia minar a confiança junto ao presidente ou ao seu núcleo político. Decisões de nível técnico do Itamaraty não poderiam ser tomadas através da análise de tuítes, que nem são do presidente, afirmam.
Nas palavras de um funcionário do Ministério das Relações Exteriores, estão criminalizando servidor público por ter trabalhado como servidor público em governo anterior.
Bolsonaro já teria dito que se não conseguir nomear o filho embaixador na capital dos Estados Unidos, poderia coloca-lo no lugar de Ernesto Araújo. A declaração soou como provocação aos críticos da indicação de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, ao cargo. Mas pode ter sido o suficiente para acender a luz amarela.