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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

A "desimportância" de ser Arnesto: o que vale um ministro que não decide?

Minha paráfrase (de gozação) com a obra de Oscar Wilde: The importance of being earnest.
No caso do chanceler, ele não tem, na verdade, a menor importância, na medida em que, no plano político, a diplomacia do Brasil é decidida por outros, amadores ineptos, que ainda assim mandam na política externa, e no plano doméstico, qualquer milícia de fanáticos bolsonaristas é capaz de fazê-lo retroceder numa decisão sem grande importância no plano político, ou técnico. 
Mas, a demissão de um diplomata recém nomeado é plena de significado no que simboliza como sendo uma nova caça às bruxas, o macartismo censório, a perseguição política contra quem exerceu suas funções numa carreira que serve ao Estado, mas que é obrigada, por vezes, de se dobrar a governos e a políticas estapafúrdias, como foi o caso do lulopetismo diplomático, e agora é o caso do olavo-bolsonarismo aloprado.
Lamento pelo Itamaraty, que afunda num clima de temor e perseguição, deixando todos intimidados com a malta de bárbaros que cerca o governo de extrema-direita e orgulhoso de sê-lo.
Continuarei denunciando o descalabro institucional e político no Itamaraty.
Paulo Roberto de Almeida
Ribeirão Preto, 23 de outubro de 2019

Itamaraty emite alarme a diplomatas bem posicionados nos governos do PT

Chanceler Ernesto Araújo exonera chefe da Divisão da Europa Ocidental por ter trabalhado em área comandada por Marco Aurélio Garcia


O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo: elogios à política externa de Lula na década passada e atuação no gabinete de chanceler de Dilma - 11/09/2019 (Eric Baradat/AFP)
Um novo alarme de “caça às bruxas” soa no Itamaraty desde a terça-feira 22. O Diário Oficial da União trouxe impressa a exoneração de Audo Araújo Faleiro, ministro de segunda classe da carreira diplomática, do cargo de chefe da Divisão de Europa Ocidental. Ele assumira o posto seis dias antes, depois do aval da  Casa Civil, que escrutinou sua folha de serviços de 23 anos. A milícia digital da extrema-direita, porém, encontrou motivo para assassinar sua reputação: Faleiro trabalhou por seis anos na assessoria internacional da Presidência da República durante os governos do PT, sob o comando de Marco Aurélio Garcia, e antes servira na embaixada brasileira na Venezuela.
O caso repercutiu imediatamente no Itamaraty. A portaria de exoneração foi assinada pelo chanceler Ernesto Araújo que, em sua tese no Curso de Altos Estudos do ministério elogiara a política externa do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que atuara no gabinete de Mauro Vieira quando ministro das Relações Exteriores de Dilma Rousseff. Vários diplomatas em posições muito mais relevantes do que as assumidas por Faleiro durante os governos petistas estão em cargos de prestígio na atual estrutura do Itamaraty, com direito ao adicional por função de confiança. Ainda não se tornaram alvos da milícia digital. Mas podem ser os próximos linchados.
Outros diplomatas em bons cargos durante as gestões de Lula e de Rousseff mesmo sem engajamento à orientação da esquerda, caíram no ostracismo. Vários deles esperam por um posto na sala 203 do anexo 1 do Itamaraty, batizada como “Parque dos Dinossauros”. Há ainda os que estão alocados em áreas administrativas, mas sem função específica. Todos esses profissionais concursados e com vasta experiência recebem seus salários-base sem exercer nenhuma sem função específica enquanto esperam uma nomeação.
Fontes do Itamaraty disseram que Faleiro foi comunicado por seus superiores sobre a decisão do ministro das Relações Exteriores na sexta-feira, 18. Atuara apenas três dias na Divisão de Europa Ocidental, um cargo abaixo de seu patamar na carreira, mas que poderia ser uma alavanca para sua promoção a ministro de primeira classe (mais comumente chamado de embaixador). Viera de Paris, onde servira por quatro anos na embaixada brasileira. Faleiro poderia contribuir para a recuperação das relações entre Brasil e França, desgastada pelos atritos entre os presidentes Jair Bolsonaro e Emmanuel Macron em torno dos incêndios na Amazônia. Como diplomata, cumpre ordens, mesmo contrariado. Seus colegas garantem que ele não é filiado a partidos nem tem perfis em redes sociais. Procurado, Faleiro preferiu não fazer comentários.
Sua vinculação com Garcia havia sido apontada em nota pelo portal de notícias O Antagonista no dia 17, com o rosto do chanceler estampado. Dois vídeos foram anexados. Em um deles, Faleiro explica a política externa petista, em espanhol, a um grupo. No segundo, comenta sua participação em um encontro da ala Articulação, do PT, no qual representou Garcia. Pelo Twitter, o site divulgara a mesma nota com o título “Ernesto Araújo nomeia ex-assessor de Marco Aurélio Garcia para chefiar relações com a Europa”. Foi retuitado 13 vezes, recebeu 50 comentários, espalhou-se nas redes.
O diplomata deverá fazer companhia a outra vítima da atual gestão do Itamaraty, o embaixador Paulo Roberto de Almeida, que passa seus dias na Biblioteca do ministério. Almeida foi exonerado do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri) em março por ter publicado em seu blog três artigos: do embaixador aposentado Rubens Ricupero e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticando Araújo e do próprio chanceler rebatendo os outros dois. Foi alocado na Divisão de Arquivos, no segundo subsolo do Anexo 2 do Itamaraty, onde celular e wifi não funcionam. Por isso, prefere a convivência com os livros. Agora, com Faleiro dividindo a mesa.

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Carta da presidente da ADB ao SG-Itamaraty sobre Exoneração de colega de cargo de Chefia,
Em 25/10/2019

Caros colegas associados e associadas da ADB/Sindical,
Enviei carta hoje ao Secretário Geral em que manifestei minha estranheza com a recente exoneração de cargo de Chefia de Divisão apenas dois dias depois da correspondente nomeação, após campanha desencadeada nas redes sociais por questões ideológicas.

Ressalvei que, embora não questionasse a legalidade da exoneração por se tratar de cargo de confiança, de livre provimento, é indispensável ter em mente que a essência da diplomacia, como carreira de Estado, é defender os interesses do País independentemente de alinhamentos de natureza ideológica.
Sublinhei, nesse contexto, que a medida de aferição do servidor deve ser sua competência, profissionalismo e respeito à Constituição e às leis do Brasil e não questões político-partidárias. Qualquer outro parâmetro poderia criar precedente contrário à autonomia institucional do Ministério que, além de desvirtuar os objetivos da carreira, geraria insegurança para seus integrantes.
Atenciosamente,
Maria Celina de Azevedo Rodrigues
Presidente da ADB/Sindical

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