Jamil Chade refaz a trajetória da inversão conservadora da diplomacia brasileira, atendendo a demandas dos EUA nas questões da mulher, e confirmando a submissão servil - redundante, eu sei - a tudo o que vem do governo Trump. Diplomatas brasileiros evitarão falar a respeito dessa nova vergonha política, pois todos eles dependem do Gabinete do chanceler para promoção, remoção ou chefias na Casa.
Trata-se do maior afundamento da dignidade da diplomacia brasileira em décadas.
Paulo Roberto de Almeida
EUA acionam Brasil para implementar agenda ultraconservadora na ONU Jamil Chade 12/10/2019 04h00 Trump e Bolsonaro se cumprimentam durante coletiva de imprensa na Casa Branca, em Washington (REUTERS) Nos bastidores, a guinada ideológica sem precedentes no Itamaraty teve pressão direta de Washington, resistência de diplomatas brasileiros e novo alinhamento do governo nas entidades internacionais. GENEBRA – Em fevereiro deste ano, muitos na ONU respiraram aliviados. Numa primeira visita da ministra de Direitos Humanos às Nações Unidas, Damares Alves não criou polêmicas e falou abertamente sobre a questão de gênero, direitos das mulheres e educação sexual. Vítima de abus... - Veja mais em https://jamilchade.blogosfera.uol.com.br/2019/10/12/eua-acionam-brasil-para-implementar-agenda-ultraconservadora-na-onu/?cmpid=copiaecola
Retomo (PRA):
Uma tal subserviência da diplomacia brasileira a diretrizes determinadas em Washington, em total contradição com posturas exibidas tradicionalmente pela diplomacia tradicional do Brasil, tem poucos precedentes, provavelmente nenhum, na nossa longa história de política externa orientada em função de critérios que refletem determinados consensos da sociedade brasileira.
Agora não mais: no afã de atender e de seguir recomendações ou sugestões emanadas dos setores ultraconservadores da administração Trump, ou pressionadas por setores identificados com as mesmas posturas no próprio Brasil, as novas instruções dadas pelo Gabinete do chanceler brasileiro se conformam fielmente às ideias extremistas defendidas por esses setores do governo bolsonarista.
Em resumo, a diretriz básica dessa diplomacia abjetamente servil adotada a partir de agora pelo Brasil da extrema-direita parece ser apenas esta:
The world according to Washington.
Não tenho registro histórico de episódios semelhantes que possam ter humilhado a diplomacia profissional brasileira nessa perda total de autonomia política decisória. Talvez tenha ocorrido algo similar no início da Guerra Fria, quando o então delegado brasileiro na ONU, Oswaldo Aranha, foi admoestado pelo Governo Dutra, extremamente servil aos EUA, por não ter votado exatamente como a delegação americana numa resolução qualquer, quando tinham sido os próprios americanos que mudaram repentinamente de posição, sem comunicar a nova postura aos seus “satélites” da época, entre os quais se incluia o Brasil alinhado com Washington.
Salvo esse precedente, não se tem memória de casos em que tenhamos descido tão baixo na sabujice explícita.
A “nova” diplomacia brasileira, supostamente “sem ideologia”, envergonha o corpo profissional do Itamaraty, pela extrema ideologia de suas posturas radicalmente em ruptura com padrões seguidos até recentemente.
Cabe repetir o título de meu livro de 2014: “Nunca antes na diplomacia...”
Vou ter de reescrever esse livro.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12/10/2019
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