quinta-feira, 30 de maio de 2024

Prefácio de Rubens Ricupero ao livro de Synesio de Sampaio Goes sobre Alexandre de Gusmão

Publicado em 2019 pelo Vermelho, um órgão de  esquerda:

https://vermelho.org.br/2019/08/03/leia-o-prefacio-de-rubens-ricupero-que-foi-censurado-pelo-itamaraty/

Leia o prefácio de Rubens Ricupero que foi censurado pelo Itamaraty 

O embaixador aposentado Rubens Ricupero, crítico da política externa do governo Bolsonaro, considerou “infantilidade” o veto do chanceler Ernesto Araújo a um livro do Itamaraty por questões pessoais. Ricupero fez o prefácio da biografia de Alexandre de Gusmão, escrita pelo embaixador Synesio Sampaio Goes Filho, por encomenda da Fundação Alexandre de Gusmão, vinculada ao ministério. Em julho, ao entregar os originais, Goes Filho foi avisado de que o livro só seria publicado sem o prefácio.

Ricupero

Com o título Alexandre de Gusmão (1695-1753): O Estadista que Desenhou o Mapa do Brasil, o livro deveria ser publicado neste segundo semestre. “É um texto dirigido, sobretudo, a interessados em história diplomática. Uma razão a mais para concluir que a atitude de vetar o prefácio é, no fundo, uma infantilidade de efeitos contraproducentes para os que a adotaram”, afirmou Ricupero, que também é historiador e foi embaixador em Washington.

Autor do ensaio sobre Gusmão – que é considerado o “avô” da diplomacia brasileira –, Goes Filho também protestou. “Isso é censura, obscurantismo. Desse jeito, nenhum embaixador de prestígio vai poder publicar”, afirmou ele à Folha de S.Paulo. “É um assunto do século 18, e o autor foi vetado porque critica o ministro – não pelo que escreveu.”

Ao lado de outros veículos e em solidariedade a Goes Filho e Ricupero, o Vermelho divulga abaixo a íntegra do texto censurado pelo Itamaraty.

Alexandre de Gusmão (1695-1753): O Estadista que Desenhou o Mapa do Brasil

PREFÁCIO 

Por Rubens Ricupero


Synesio Sampaio Goes Filho realizou neste livro em relação ao principal autor do Tratado de Madri o que havia feito para a formação das fronteiras do Brasil: tornou acessível ao leitor de hoje a compreensão de uma história que se convertera em algo de remoto e abstruso.

Nem sempre fora assim. Até sessenta ou setenta anos atrás, a história diplomática do Brasil parecia às vezes dominada pela história das fronteiras. Na atmosfera de justa satisfação pela solução definitiva dos problemas territoriais do país levada a cabo pelo barão do Rio Branco, multiplicaram-se os estudos das questões fronteiriças, frequentemente escritos por diplomatas de carreira com vocação de historiadores.

Um dos mais produtivos entre esses autores, o embaixador Álvaro Teixeira Soares, resumiu com felicidade o sentimento que animava tais estudos. A solução sistemática dos problemas fronteiriços iniciada sob a monarquia e concluída por Rio Branco, escreveu Teixeira Soares, merecia ser considerada como uma das maiores obras diplomáticas realizadas por qualquer país em qualquer época. Não havia exagero em descrever desse modo o processo pacífico de negociação ou arbitragem pelo qual se resolveu metodicamente cada um dos problemas de limites com nada menos de onze vizinhos contíguos e heterogêneos (na época do Barão, o Equador ainda invocava direitos de fronteira com o Brasil, em disputa resolvida com o Peru somente muito mais tarde).

Passada a fase em que era moda escrever livros sobre fronteiras, o assunto perdeu grande parte do atrativo. Julgava-se que nada mais havia a dizer a respeito de problema já resolvido. Desconfiava-se de obras assinadas por funcionários diplomáticos, confundidas com a modalidade de publicações destinadas a engrandecer a própria instituição. Livros sobre discussões limítrofes, antes tão populares, tornaram-se difíceis de encontrar e mais difíceis de ler. O estilo envelhecera, os métodos da historiografia passada davam a impressão de obsoletos, a narrativa soava monótona, demasiado descritiva, apologética, pouco crítica, cansativa na enumeração de intermináveis acidentes geográficos.

Foi nesse panorama estagnado que Synesio teve a coragem de escolher para sua tese no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco em 1982 o tema enganosamente escondido sob o modesto título de Aspectos da ocupação da Amazônia: de Tordesilhas ao Tratado de Cooperação Amazônica . Lembro bem da surpresa positiva que causou a dissertação, pois fazia parte na época da banca examinadora do exame. Fui assim testemunha do surgimento de uma vocação singular de historiador voltado para recuperar a desgastada tradição de estudos fronteiriços.

Estimulado pela recomendação de publicação da banca, o autor ampliou e enriqueceu o trabalho, editado pelo Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais (IPRI), em 1991, sob o título de Navegantes, Bandeirantes, Diplomatas: Um ensaio sobre a formação das fronteiras do Brasil. O livro teve o efeito de uma janela que se abria na atmosfera bolorenta da antiquada história das fronteiras, fazendo entrar o ar fresco da renovação modernizadora.

Redigida em linguagem límpida, objetiva, expressiva na sóbria elegância, a narrativa envolve o leitor em viagem sem esforço pela fascinante evolução do território brasileiro na sua fase de expansão, de avanços e recuos na Amazônia, no Extremo Oeste, na região da Bacia do Prata. Demonstra como se revelou constante em toda essa história a articulação do impulso pioneiro de exploradores, homens práticos determinados na busca de compensações materiais, com o trabalho cuidadoso de diplomatas e estadistas que legitimaram em instrumentos jurídicos o que não passava no início de ocupação precária de terras duvidosas.

Um dos méritos originais do livro consistiu em resolutamente colocar de lado a mitologia criada em torno de uma suposta linha que teria sido invariavelmente seguida por todos os governos brasileiros, refletindo uma doutrina inabalável ao longo dos séculos. Segundo tal linha de argumentação, desde os primórdios os políticos e diplomatas do Império teriam sustentado que o Tratado de Santo Ildefonso (1777) havia perdido a validez ao não ser explicitamente revalidado depois da fugaz Guerra das Laranjas (1801) no Tratado de Badajoz. Não existindo, portanto, direito escrito para definir as fronteiras, estas deveriam ser estabelecidas – seria o segundo postulado pretensamente imutável – de acordo com o princípio do uti possidetis , isto é, obedecendo à posse efetiva no terreno. O Tratado de Santo Ildefonso serviria apenas de maneira subsidiária para ajudar a dirimir dúvidas onde não se verificasse a ocorrência de posse ou não houvesse contradição entre o tratado e a posse.

O argumento apresentava alguma utilidade para comprovar a antiguidade e constância das pretensões brasileiras. Não passava, no entanto, de artifício de negociação, sem amparo real na realidade histórica. Synesio Sampaio Goes não se intimidou com a longa sequência de respeitados estadistas e estudiosos que haviam cercado essas afirmações com a proteção de sua autoridade e de seu prestígio. Mostrou com exemplos irrefutáveis que nenhum dos postulados havia sido verdade absoluta adotada em todos os casos. Não faltavam decisões e pareceres do Conselho de Estado advogando em favor da adoção de Santo Ildefonso como orientação para fixar fronteiras. Nem de episódios em que o Conselho ou o governo tinham recusado recorrer ao uti possidetis como critério para traçar limites.

Longe de enfraquecer a tradição brasileira em matéria de negociação de fronteiras, o trabalho de reconstituição da verdade efetuado pela obra conferiu historicidade e verossimilhança às doutrinas defendidas pelo Itamaraty, voltando a situá-las no contexto próprio do tempo em que foram definidas e no das circunstâncias que as modificaram. O desmonte da retórica apologética permitiu que aparecesse a verdade de uma evolução gradual, de tentativas e erros, de afirmação progressiva das teses mais convenientes. A narrativa fiel aos fatos fez emergir do passado uma diplomacia conscienciosa de estudo de mapas, de exploração de velhos arquivos, de construção paciente de doutrinas jurídicas adaptadas à situação de país cujos títulos originais a boa parte de seu futuro território eram pobres ou inexistentes. O resultado final, além de verdadeiro, valorizava em vez de empobrecer os méritos dos diplomatas que construíram a história do mapa do Brasil.

Na origem de toda essa história encontrava-se o alto funcionário da Corte portuguesa a quem se devia, mais que a qualquer outro, a definição do perfil territorial do Brasil, Alexandre de Gusmão. Brasílico, como se dizia na época, nascido obscuramente na humilde, insignificante Vila do Porto de Santos, tratava-se de personagem que atuara de modo discreto nos bastidores do poder. Permanecera quase anônimo por longo tempo, mais de um século, apesar de um ou outro estudioso mais arguto como o barão do Rio Branco ter reconhecido o papel que desempenhara.

Coube a um exilado político no Brasil do regime salazarista, o historiador português Jaime Cortesão, a tarefa de resgatar da penumbra da história a figura de Gusmão, desentranhando do silêncio dos arquivos os documentos que praticamente revelaram ao mundo a história real que se escondia por trás da negociação do Tratado de Madri (1750). Synesio Sampaio Goes, que já produzira o moderno clássico do estudo e da análise da história geral das fronteiras brasileiras, retrocede agora ao ponto de partida de onde tudo começou a fim de examinar como se chegou a pacientemente preparar a maior de todas as vitórias da diplomacia luso-brasileira na consolidação da expansão territorial do Brasil, o Tratado de Madri.

Conforme afirmei lá no início do prefácio, as duas realizações de Synesio, a da história completa, abrangente das fronteiras, e hoje a do Tratado de Madri e de seu autor mais importante, possuem uma característica definidora comum. Ambas reexaminam com olhar crítico o volumoso material existente, desbastam esse acervo daquilo que apresenta relevância menor para o leitor culto de nossos dias, reconstruindo com estilo contemporâneo, metodologia e linguagem atualizadas, narrativas que corriam o risco de não mais serem lidas a não ser por raríssimos especialistas.

Tome-se, por exemplo, o caso da obra magna de Jaime Cortesão, Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri, publicada nos anos 1950 pelo Instituto Rio Branco em nove alentados volumes com milhares de páginas de reprodução de documentos e mapas. Quem hoje em dia se disporia a ler a obra inteira? Mesmo a edição compacta em dois tomos restritos à vida e realizações de Alexandre de Gusmão, editada em 2016 pela Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, estende-se por mais de oitocentas páginas de letra miúda, recheadas de longas discussões de erudição de interesse relativamente menor para o leitor médio.

Synesio não só torna a história dos limites e a de Alexandre de Gusmão acessíveis e atrativas aos leitores e estudiosos atuais. Ao modernizar e submeter a rigoroso crivo crítico tais narrativas, realiza obra original de mérito indiscutível. Ao discutir as hipóteses mais especulativas a respeito de incidentes da biografia de Gusmão, a autoria pessoal das instruções que orientaram o negociador português do Tratado, concepções intelectuais que teriam inspirado as ações lusitanas, o autor pesa com cuidado os argumentos e chega a conclusões que comandam o consenso pelo realismo, prudência historiográfica e bom senso.

Essas qualidades se destacam, entre outras passagens, nas que relativizam e moderam o entusiasmo raiando ao misticismo de Jaime Cortesão ao tratar de alguns mitos da história colonial como o da célebre “ilha Brasil”, a existência de um território delimitado de um lado pelo oceano Atlântico e no oeste por dois grandes rios que confluiriam para um mítica lagoa no interior das terras sul-americanas. A sobriedade nas avaliações e juízos confere veracidade digna de fé às afirmações amparadas, na falta de documentos conclusivos, por critérios de probabilidade e verossimilhança.

O autor faz bem de chamar ensaio biográfico o estudo da vida e ação de um personagem que viveu na primeira metade dos Setecentos. Faltariam elementos probatórios para tentar reconstruir a respeito da figura de Gusmão aspectos minuciosos da infância, da formação da personalidade na adolescência e juventude, das leituras e experiências definidoras como pretendem às vezes realizar exaustivas biografias de personalidades mais perto de nós. Uma técnica de narrar que funcionou de modo eficaz na construção da obra foi a de alternar o tempo todo a vida de Alexandre de Gusmão e a evolução dos acontecimentos que criariam as oportunidades para suas realizações. Basta passar os olhos pelo índice para perceber a dosagem alternada de matérias de contextualização — o Brasil, Portugal na época — com os capítulos biográficos — começos de vida, diplomata aprendiz, secretário real — voltando à colônia no apogeu do ouro, mas sem fronteiras, a relação do brasílico com sua distante pátria, os problemas do contrabando.

O estudo se revela particularmente útil no exame minucioso do que viria a ser presumivelmente a mais importante negociação territorial da história brasileira, culminando num tratado que de certa forma equivaleria a uma espécie de “escritura de propriedade” do território que forma o Brasil de hoje. Já se disse outras vezes e ressalta bastante deste livro a originalidade múltipla do Tratado de Madri. Num período em que quase todos os tratados de limites se originavam de guerras e refletiam a correlação de forças no campo de batalha, o acordo de 1750 foi exceção, negociado e concluído depois de longos anos de paz entre Portugal e Espanha.

Em contraste com a maioria dos inúmeros acordos limítrofes que o Brasil independente assinaria no futuro, o de Madri se salientou por desenhar a linha completa do mapa do Brasil ao longo de milhares de quilômetros de fronteiras terrestre. Não era o que desejavam os espanhóis, mais uma vez empenhados em somente limitar o ajuste a alguns setores de seu particular interesse, sobretudo na região da permuta da Colônia do Sacramento pelos Sete Povos das Missões do Alto Uruguai. Graças à firme insistência dos negociadores lusos é que se conseguiu definir o que, com ajustes relativamente menores, haveria de ser na prática o perfil territorial do Brasil moderno.

O Tratado de Madri tornou possível outra originalidade da história da formação territorial brasileira: a de que ela se encontrava virtualmente terminada antes da Independência. Em termos gerais, o chamado expansionismo, que foi a rigor muito mais português que brasileiro, alcançava quase seu limite máximo na véspera da Independência. Compare-se com a expansão norte-americana, que tem início a partir da Independência de 1776, para perceber a diferença das implicações que esse fato acarretaria para o relacionamento do país independente — Estados Unidos da América ou Brasil — com seus vizinhos igualmente independentes, México, no exemplo norte-americano, os dez vizinhos brasileiros, com o enorme contraste em termos de herança de ressentimentos históricos.

Vários dos estudiosos do Tratado de Madri fizeram questão de destacar que ele se adiantou a seu tempo na razoabilidade e no equilíbrio das concessões, no seu legado central, que consistiu em reconhecer de direito o que já ocorrera no terreno da prática: a supremacia da expansão luso-brasileira na Amazônia e no centro-oeste da América do Sul em câmbio do prevalecimento dos interesses castelhanos na Região da Bacia do Prata. Talvez se deva, em última instância, a esse espírito avançado em relação à época que o tratado tenha sido tão fugaz na duração formal: pouco mais de dez anos até a anulação pelo Tratado de El Pardo (1761).

Um dos enigmas da história luso-brasileira é entender por que o governo português, principal beneficiário dessa obra-prima de sua diplomacia, se converteu, em poucos anos, num dos mais ativos fatores de sua destruição. Os historiadores, entre eles Jaime Cortesão, alinham, é claro, argumentos e razões, que soam desproporcionalmente fracos para explicar erro tão grave de avaliação. Não é este o lugar para examinar a questão, de que procurei tratar em livro recente. De todo modo, o que conta é que, depois de vicissitudes e revezes sem conta perfeitamente possíveis de evitar, o espírito do Tratado de Madri acabaria por prevalecer. Esta constatação é seguramente a maior demonstração do gênio criador de Alexandre de Gusmão, capaz de sobreviver até à maligna inveja do marquês de Pombal, seu poderoso e overrated rival.

Em vida, Gusmão não alcançou recompensa nem reconhecimento pelo que fizera. Morreu no ostracismo, sem poder, com dificuldades financeiras. A Representação que dirigiu ao rei D. João V em fins de 1749, pouco antes do desaparecimento do monarca, ficou sem resposta. Permaneceria no limbo da história até meados do século XX, quando, graças a Jaime Cortesão, viu finalmente apreciada e valorizada sua contribuição com as seguintes palavras:

“Precursor da geopolítica americana; definidor de novos princípios jurídicos; mestre inexcedível da ciência e da arte diplomática, Alexandre de Gusmão tem direito a figurar na história como um construtor genial da nação brasileira, pela clarividência e firmeza de uma política de unidade geográfica e defesa da soberania, que antecipam, preparam e igualam a do Barão do Rio Branco”.

O primoroso ensaio biográfico que Synesio Sampaio Goes Filho dedica a sua memória reexamina, atualiza e ratifica, ponto por ponto, a justiça e exatidão do julgamento tardio da posteridade.

Rubens Ricupero, São Paulo, 16 de junho de 2019.

'Memórias', de Rubens Ricupero, é um testemunho da história recente do Brasil

 Dica de leitura imperdível para quem ama o Brasil : ""Memórias", do embaixador Rubens Ricupero, lançamento em junho de 2024, Mauricio David

 

 

'Memórias', de Rubens Ricupero, é um testemunho da história recente do Brasil

Quarta-feira, 29 de maio de 2024

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Ex-ministro da Fazenda e diplomata revela os bastidores do Plano Real e os momentos críticos que viveu no curso da história brasileira e mundial por mais de sete décadas

Rubens Ricupero inspirou-se nos cadernos em que sua mãe escreveu durante toda sua vida, as histórias da própria família, de imigrantes italianos, para evocar o bairro do Brás de sua infância, durante o Estado Novo e a Segunda Guerra. Entre suas primeiras lembranças, agosto de 1944, a comemoração no grupo escolar da Libertação de Paris. Agora, quando o Real completa 30 anos, Ricupero descreve – na condição privilegiada de ter sido ministro da Fazenda nesse período –, as pressões políticas e sociais que poderiam ter provocado o fracasso da moeda. Sua narrativa traz um novo dado – o da importância da comunicação com o público – por inúmeras mídias, rádio, televisão, entrevistas, as conversas que ocorreram junto ao homem comum, aos brasileiros nas ruas, com as donas de casa, para explicar o Plano Real, evidenciam que seu êxito se deu por essa profícua comunicação e não apenas pelos aspectos econômicos. São capítulos que se leem num crescendo de interesse e de tensão, com linguagem límpida e fluida, ritmada e bem articulada nas páginas de Memórias, de Rubens Ricupero, lançamento da Editora Unesp.

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“Itamar chamava [Ricupero] de ‘Apóstolo do Real’, por passar um bom tempo a peregrinar pelo país, buscando adesões à causa da estabilidade [...]. Sem ele, muito dificilmente o Real teria obtido o apreço popular com tanta rapidez, a ponto de surpreender os próprios economistas, que esperavam um processo mais gradual na conquista de credibilidade da nova moeda”, afirma Maria Clara R. M. do Prado, em A real história do Real. “Ricupero foi, para muitos brasileiros, a cara do plano, a personificação da ideia da estabilização, a promessa de inflação baixa e de uma vida melhor.”

Em 1961, foi um dos primeiros voluntários a morar em Brasília, ainda em obras, e assistiu de perto a renúncia de Jânio, viveu a angústia do Golpe de 1964, sobreviveu às perseguições do Ato Institucional nº 1. Trabalhou com os chanceleres Afonso Arinos e San Tiago Dantas. Foi pioneiro no estabelecimento das relações culturais com a África, impulsionando o estudo dos temas afro-brasileiros. Quando voltou à cena pública ao fim do regime militar, escreveu, enquanto assessor internacional do presidente-eleito, Tancredo Neves, o Diário de Bordo: a viagem presidencial de Tancredo, um dos livros basilares para a compreensão desse grave período da história do Brasil. Em 1985, foi nomeado subchefe da Casa Civil, permanecendo como conselheiro de Sarney até ser nomeado chefe de missão junto à ONU, em Genebra, e ao GATT, que antecedeu a Organização Mundial de Comércio. Quando embaixador em Washington, Itamar o convocou para assumir o Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, tendo deixado esse posto para substituir FHC como ministro da Fazenda, assumindo a complexa condução da preparação e lançamento do Real. Em suas memórias, Ricupero encara com franqueza o episódio da parabólica, sem autocomiseração ou fuga de responsabilidade.

Chefiou a missão brasileira junto à ONU em Genebra e no Conselho dos Direitos Humanos. Durante nove anos dirigiu a UNCTAD, no esforço de ajudar o desenvolvimento dos países mais pobres do mundo, sobretudo na África. Teve oportunidade de viver a essência da vocação diplomática traduzida na paixão pela diversidade das culturas e na compaixão pelo sofrimento dos pobres e vulneráveis. No recente período obscurantista pelo qual passou o país, defendeu a democracia e a diplomacia brasileira, no momento em que um “antiministro” ameaçava a continuidade dessa tradição. Seus relatos de viagens pelo mundo e pelos livros, enlaçam conhecimentos de literatura, poesia, cinema, o estudo avançado da história antiga e recente, na busca permanente pelo auto aperfeiçoamento. "Memórias” mais dos outros que de si próprio, as evocações revivem as pessoas extraordinárias que conheceu ou o marcaram - João Cabral, San Tiago, Vinícius Maria Werneck, Wladimir Murtinho e Tuni, Merquior, Fábio Konder Comparato, Nilo Scalzo, Dante Moreira Leite - em seu caminho percorrido ao lado de Marisa, numa união de 60 anos, alicerçada por sua fé religiosa.

Sobre o autor – Rubens Ricupero, São Paulo, 1937. Diplomata, professor, ocupou cargos de destaque como embaixador do Brasil em Washington e Roma, secretário-geral da UNCTAD, presidente de diversos organismos do GATT, chefe de delegações e missões junto à ONU, ministro do Meio Ambiente e da Amazônia assim como da Fazenda durante o governo Itamar Franco, titular da Cátedra José Bonifácio na USP, é autor de livros diversos destacando-se A diplomacia na construção do Brasil: 1750-2016, que recebeu o prêmio Senador José Ermírio de Moraes da Academia Brasileira de Letras.  

Título: Memórias
Autor: Rubens Ricupero
Número de páginas: 712
Formato: 15,5 x 22 cm
Preço: R$ 144
ISBN: 978-65-5711-231-1


quarta-feira, 29 de maio de 2024

Tributar super-ricos não é punir quem contribui para o desenvolvimento - Eduardo Cucolo (FSP)

Não é proibido sonhar...

Tributar super-ricos não é punir quem contribui para o desenvolvimento, diz economista 

Para Nathalie Beghin, do Inesc, que entregou proposta a ministro Haddad para discussão no G20, 2% é muito pouco para tributação ter efeito necessário

 

Eduardo Cucolo


Folha de São Paulo, 29/05/2024


A criação de um imposto mínimo global de 2% do patrimônio dos super-ricos é vista como uma iniciativa modesta pela economista Nathalie Beghin, que esteve na semana passada com o ministro Fernando Haddad (Fazenda) para entregar uma proposta que visa utilizar o sistema tributário para financiar as agendas dos direitos humanos e da transição energética.

O documento elaborado por cerca de 40 entidades da sociedade civil quer tirar esse debate da esfera da OCDE, grupo que reúne os países mais desenvolvidos, e trazê-lo para um órgão das Nações Unidas, que já teve sua criação aprovada no final de 2023. Seria uma espécie de COP (Conferência entre as Partes, na tradução para o português) da tributação.

Para iniciar as discussões, são listadas seis propostas, entre elas, o imposto mínimo global sobre super-ricos, um imposto sobre transações financeiras e tributos multilaterais para financiar a justiça climática, ambiental e social nos países mais pobres.

"A proposta de taxar os super-ricos é válida, mas a gente quer mais", afirma Beghin, que integra o Colegiado de Gestão do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), um dos signatários da proposta que será levada por Haddad aos ministros de finanças do G20.

O documento não traz números, mas ela afirma que a ideia de um imposto de 2% não redistribui riqueza e que seria necessário chegar a um patamar próximo de 10%.

Em entrevista à Folha, Beghin afirma ainda que a discussão de tributar os super-ricos em âmbito internacional deve ajudar o Brasil a rever a isenção na distribuição de dividendos.

"A gente não quer punir quem contribui para o crescimento e desenvolvimento do nosso país. Não se trata disso, mas [queremos] que essas pessoas paguem o que os outros pagam."

Encontro com Haddad

No começo do ano, o Ministério da Fazenda nos procurou dizendo que há uma recomendação do governo Lula de participação social nas discussões sobre tributação. A Trilha de Finanças [grupo de trabalho do G20] não tinha esse hábito, e eles estavam interessados em receber propostas da sociedade. Temos um grupo global de organizações que trabalham com o tema fiscal e tributário. Convocamos uma reunião. Temos críticas ao G20. É melhor que o G7, mas continua sendo 20 de 200 países. Mas achamos que seria importante apresentar nossas propostas. Especialmente reafirmar uma demanda que é fortalecer as Nações Unidas no debate da tributação em detrimento da OCDE.

COP da tributação

O lugar legítimo para discutir tributação são as Nações Unidas, onde pelo menos teoricamente todo mundo está em pé de igualdade. A OCDE vem há uns dez anos discutindo cooperação tributária, mas são acordos que não favorecem os países do Sul. Dizem, até o governo brasileiro diz, que é melhor o que a OCDE tem do que nada. Mas para nós é inaceitável, porque quem ganha de novo são os mais ricos. Você faz regras para te privilegiar.

A Convenção 4 foi criada no final do ano passado, por muita pressão dos africanos, porque os países do Sul não se sentem representados na OCDE. Conseguiram à revelia dos países ricos, que comeram mosca.

Por enquanto, a resistência dos países ricos à COP da tributação é muito grande, porque eles não querem perder o que eles conquistaram na OCDE, que é manter seus privilégios. Vamos pressionar para ver se eles concordam em ceder um pouco. Tem que ceder. Não tem como mudar as desigualdades se não cederem.

Quem paga a conta

A tributação precisa ter fim, e o fim precisa ser os direitos humanos e a agenda climática. Temos seis propostas concretas, que é taxar os super-ricos, taxar transações financeiras, ter múltiplas taxas com algum destino para os países do Sul, taxar de uma maneira que o comércio privilegie os países do Sul, e criar aquela grande base de dados para intercâmbio de informações, o registro mundial de ativos.

A crise climática está aí. Estamos vendo as graves consequências com o que está acontecendo no Rio Grande do Sul. Faltam recursos para implementar políticas efetivas, tanto de transição energética quanto de adaptação. Alguém tem de pagar essa conta, e não tem dinheiro. Então temos de cobrar quem não paga.

Imposto sobre super-ricos

Tudo o que permite que os sistemas tributários sejam mais progressivos é muito válido. A proposta de taxar os super-ricos é válida, mas a gente quer mais. O que nós defendemos? O imposto sobre a riqueza vai ser um imposto sobre a renda. Você tem 100 milhões de patrimônio, vai calcular o imposto desses 100 milhões. Se você já pagou [o equivalente] a 2% [do patrimônio] de imposto de renda, não vai ser tributado. Mas com 2% você não redistribui riqueza. Tem que ser mais.

O cálculo que o [Gabriel] Zucman faz com 2%, dá [US$] 250 bilhões em um ano. Eu tenho a sensação que a partir de 8% você começa a redistribuir. Os muito ricos, para pagar essa conta, vão ter que se desfazer dos seus ativos. É isso que a gente quer.

Influência sobre o Brasil

A discussão de tributar os super-ricos em âmbito internacional vai nos ajudar internamente. Tem um dado que foi apresentado no nosso evento. Os cinco bilionários mais ricos no Brasil têm uma renda que é isenta, de dividendos das suas empresas. Se eles pagassem 24%, que é a média de imposto europeu, a gente teria o equivalente a um ano de programação de alimentação escolar. Está ficando constrangedor esses absurdos. Estamos nos organizando para desencadear uma campanha pressionando para tributar os super-ricos no Brasil.

Ninguém gosta de pagar imposto. É lugar-comum dizer que o Brasil taxa muito etc. Mas estou falando de cinco bilionários no Brasil que ganharam [R$] 22 bilhões em dividendos e pagaram zero de imposto. É outro patamar essa conversa. Não é você, não sou eu. É isso que a gente tem que mostrar. Não é demonizá-los. Eles não estão fazendo nada de ilegal. Estão cumprindo a lei, mas essa lei não está certa. Eles precisam contribuir também. A gente não quer punir quem contribui para o crescimento e desenvolvimento do nosso país. Não se trata disso, mas que essas pessoas paguem o que os outros pagam. É o mínimo. Como dizia o [Warren] Buffett, ‘eu pago menos imposto que minha secretária’. Não tem cabimento nisso.


Raio X

Nathalie Beghin, 61. É economista (Universidade Livre de Bruxelas), com doutorado em Políticas Sociais (Universidade de Brasília). Atuou como assessora do presidente do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (Inan), do Ministério da Saúde. Foi pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) nas áreas de pobreza, fome, segurança alimentar e nutricional e ação social das empresas. Integra o Colegiado de Gestão do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos). 

Rubens Ricupero: testemunha da história recente do Brasil: memórias - Editora da Unesp (2024)

Rubens Ricupero: testemunha
da história recente do Brasil

Rubens Ricupero inspirou-se nos cadernos em que sua mãe escreveu durante toda sua vida, as histórias da própria família, de imigrantes italianos, para evocar o bairro do Brás de sua infância, durante o Estado Novo e a Segunda Guerra. Agora, quando o Real completa 30 anos, Ricupero descreve – na condição privilegiada de ter sido ministro da Fazenda nesse período –, as pressões políticas e sociais que poderiam ter provocado o fracasso da moeda. São capítulos que se leem num crescendo de interesse e de tensão, com linguagem límpida e fluida, ritmada e bem articulada nas páginas de Memórias, lançamento da Editora Unesp.

712 páginas | 15,5 x 22 cm | R$ 144 | ISBN 978655711231

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD


R541m Ricupero, Rubens

Memórias / Rubens Ricupero. – São Paulo: Editora Unesp, 2024.

712 p.: il.; 15,5cm x 22cm.

Inclui bibliografia.

ISBN 978-65-5711-231-1

1. Autobiografia. 2. Memórias. 3. Rubens Ricupero. 4. Brasil.

5. Diplomacia. 6. Economia. 7. Plano Real. 8. Política brasileira.

9. História brasileira. 10. História da política brasileira. 11. Ditadura Militar.

12. Redemocratização. 13. Governo Itamar Franco. 14. Política brasileira

no século XX. 15. Políticas econômicas brasileiras. I. Título.

2024-311 

CDD 920

CDU 929


Sumário: 

11 A memória dos pobres

31 Brás, Bexiga e Barra Funda

51 Livros de minha infância

67 Um verão de descobertas

79 A curva perigosa dos vinte

95 Adeus à disponibilidade

113 Guimarães Rosa, examinador de cultura

131 Todas as cartas de amor são ridículas

147 O contraste de dois discursos

159 Aprendendo o ofício

175 A renúncia de Jânio e suas peripécias

189 San Tiago Dantas: a razão contra o caos

205 Amizades inesquecíveis: Maria Werneck, João Cabral,

Clarice Lispector, padre Júlio Vitte

227 A perseguição do Golpe de 1964

239 A descoberta do mundo

253 Esperando a alma em Buenos Aires

271 Dezoito meses na Montanha Mágica

287 Tuni e Wladimir Murtinho: a vida como obra de arte

303 Diplomacia da cultura em tempos de obscurantismo

323 Brasileiros da África. Africanos do Brasil

341 Vietnã, Watergate e a crise do sonho americano

357 Meus mestres na grande diplomacia: do Amazonas

aos Andes

371 Afinal, o que fazem os diplomatas?

385 Nova República: vida nova

399 Desafios e decepções do desconhecido: Genebra e o gATT

417 O espírito de Genebra, sombras de amigos que se foram

425 Washington: o desafio de representar um país em crise

441 Rio-92: um marco no meio ambiente

449 O dia em que jantei com Frank Sinatra

457 Diante dos males do Brasil: a Amazônia e o meio

ambiente

473 Um convite que não pude recusar

485 Algodão entre cristais

501 Corações e mentes

517 Os preparativos do Dia D

533 A hora das trevas

547 Roma, a volta às raízes italianas

563 Queimando os navios

577 Reinventar a UNCTAD: o aprendizado da África

591 Diálogo das civilizações

605 Superando a pobreza

615 A impossível volta para casa

635 O pior e o melhor dos mundos

649 Morar no país de Balzac e outras aventuras literárias

657 Livros que escrevi, batalhas políticas de que participei

671 Antes do fim

681 Fim… como nos filmes

686 Instantâneos de alegria

689 Índice onomástico


Primeiro capítulo neste link: 

http://expertsenderbrasil.com.br/unesp/unesp_arquivos/Ricupero_memorias-DEGUSTA.pdf 

Anúncio na Amazon: 

Os bastidores do Plano Real, o lançamento da moeda e os embates que a cercaram são narrados aqui, na primeira pessoa, por um de seus principais personagens – o então ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, que enfrenta com franqueza o episódio da parabólica, sem autocomiseração ou fuga da responsabilidade. Sua atuação no exterior enquanto diplomata, em diversos organismos e como secretário-geral da Unctad, seu conhecimento no campo da história, fazem deste livro um testemunho do que se passou no Brasil e no mundo, por cerca de oitenta anos. Desde a Segunda Guerra, o Estado Novo, o golpe militar, as questões climáticas, até o terceiro governo Lula, essa evolução se entrelaça com o fio da vida de um descendente de imigrantes na atmosfera do bairro operário do Brás, na São Paulo dos anos 1930.


Frente Brasileira de Informação denunciou a ditadura militar - Boletins disponíveis no CEDEM da Unesp

 Durante meus anos de autoexílio na Europa, entre 1971 e 1977, participei dos esforços da oposição ao regime militar, denunciando os crimes da ditadura, no contexto da Frente Brasileira de Informações. Muitas reuniões, em vários países europeus, para organizar esse esforço de denúncia e de combate à ditadura.

Paulo Roberto de Almeida


Frente Brasileira de Informação denunciou a ditadura militar

Boletim foi editado em nove países; CEDEM dispõe de exemplares em cinco idiomas

Assessoria de Comunicação do CEDEM, da Unesp, 21/05/2024

https://www.cedem.unesp.br/#!/noticia/665/frente-brasileira-de-informacao-denunciou-a-ditadura-militar

Nos anos duros da ditadura civil-militar, os brasileiros exilados criaram uma rede de comunicação para denunciar crimes praticados pelo Estado, como tortura e censura. Eles também discutiam temas como a desigualdade social, a questão indígena, o desmatamento na Amazônia, denúncias de obras públicas superfaturadas e outros problemas que o país enfrentava naquele momento.

O boletim Frente Brasileira de Informações (FBI) foi um dos informativos que circulou entre os exilados, enquanto uma ferramenta de combate e resistência à ditadura civil-militar.  Por meio dele é possível constatar que a resistência à ditadura não se deu apenas internamente no Brasil. Ocorreu também no exílio e é parte importante desse período histórico.

O FBI foi fundado, dirigido e editado pelo ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, em 1969, durante o período em que viveu exilado na Argélia. Com a visibilidade, o boletim passou a ser produzido também na Alemanha, Bélgica, Holanda, Inglaterra, Itália, Suécia, Suíça e Chile, por brasileiros de diferentes tendências políticas. O Centro de Documentação e Memória (CEDEM) possui exemplares do boletim em cinco idiomas: português, inglês, espanhol, francês e italiano. Alguns estão digitalizados e disponíveis para pesquisa virtual.

Cada núcleo internacional possuía um grupo de exilados que organizava a produção, traduzindo os textos para o idioma correspondente e incorporando novos escritos de acordo com a realidade local. Além disso, exemplares eram enviados para militantes que viviam no Brasil, o que fazia sentido, pois o boletim publicava no exterior as notícias censuras no país. Também era enviado para Cuba e União Soviética.

Na edição do março de 1971, o comitê de denúncia da repressão no Brasil, sediado no Chile escreveu a seguinte: “Este Boletim representa uma iniciativa de romper com o bloqueio imposto pela ditadura brasileira à divulgação dos fatos que ocorrem no país. Fazer circular estas notícias, reproduzi-las ou qualquer outra forma de solidariedade significa uma efetiva contribuição à luta do povo brasileiro contra o regime militar que o oprime, desconsiderando cotidianamente os mais elementares direitos humanos”.

Anônimo, o impresso tinha como público-alvo jornalistas, acadêmicos, sindicalistas, religiosos, estudantes e membros de partidos políticos que solicitavam os exemplares. As atividades foram encerradas em 1973 por divergências políticas entre os participantes.

Onde pesquisar:

CEDEM
On-line: www.cedem.unesp.br
Presencial: Sede do Centro de Documentação e Memória (CEDEM), da Unesp
Praça da Sé, 108, 1 andar – São Paulo (SP)
E-mail: pesquisa.cedem@unesp.br
Tel.: 11-3116-1706 
        11-3116-1712         
        11-3116-1713


O chic agora, China, é comprar produtos chineses, não mais americanos (WP)

 

Emmanuel Todd: l'enfant terrible de la sociologie politique française - Après l'Empire: essai sur la décomposition du système américain (2002, 2004)

Emmanuel Todd: l'enfant terrible de la sociologie politique française

Lecture, 20 ans après:

 Après l'Empire: essai sur la décomposition du système américain (2002, 2004)

Emmanuel Todd é aquilo que os franceses chamam de pourfendeur. Ele é um desmantelador do senso comum, das idées reçues, do consenso bem comportado.

Retomo, em minha biblioteca desorganizada, seu livro de 2002, reeditado em 2004: 

Après l'Empire: essai sur la décomposition du système américain 

(Paris: Gallimard, 2002, 2004 pour la posface)

No capítulo conclusivo (Fin de partie, p. 269-284) ele começa assim: 

"Dans la douleur d'une transition éducative et démographique qui s'achève, la planète tend ver la stabilité. Le tiers-monde [o que hoje se chama Sul Global], à travers ses poussées de fièvre idéologiques et religieuses, est en marche vers le développement et vers plus de démocratie. Aucune menace globale ne requiert une activité particulière des États-Unis pour la protection de libertés. Une seule menace de déséquilibre global pèse aujourd'hui sur la planète: l'Amérique elle-même, qui de protectrice est devenue prédatrice. (...) Aucune stratégie, si intelligente soit-elle, ne peut permettre à l'Amérique de transformer sa situation semi-impériale em empire de fait et de droit. Elle est trop faible, économiquement, militairement, idéologiquement." (p. 269)

Ele continua, nas conclusões: 

"L'Europe prend lentement conscience que la Russie, non seulement n'est plus une menace stratégique, mais devient une contribution à sa sécurité militaire." (p. 272)

Uma coisa sensata que ele afirma nas conclusões: 

"Le monde qui se crée ne sera pas un empire, contrôlé par une seule puissance. Il s'agira d'un système complexe, dans lequel s'équilibreront un ensemble de nations ou de méta-nations, d'échelles équivalentes, même si elles ne sont à proprement parler égales. (...) À très long terme la Chine rejoindra ce groupe." (p. 275) Foi mais rápido.

E uma coisa menos sensata: "l'Amérique du Sud semble destinée à s; organiser sous leadership brésilien." (p. 275)

E outras bem menos sensatas ainda: "Le monde en développement marche tendanciellement vers la démocratie, poussé dans le sens de l'alphabétisation de masse que engendre des sociétés culturellement homogènes." (p. 276)

E o que leio no posfácio de 2004, depois que ele eliminou, em 2002, todas as chances de sobrevivência do império americano? 

Dois anos depois, ele vê suas ideias bem confirmadas, pela aceleração do processo de decomposição do império americano: o governo Bush teria aplicado metodicamente um programa de deslegitimação e de destruição do sistema estratégico americano, isso com e depois da insana guerra do Iraque (p. 285).

OS EUA dependem do mundo, mais que o mundo depende dos EUA, pelos fluxos financeiros que vêem do exterior. Sua derrota é ideológica e diplomática, pois eles violam o Direito Internacional, pela guerra do Iraque. 

Todd previa, em 2004, uma reaproximação entre a Europe e a Rússia, tornada necessária "pelo comportamento militarista inquietante dos EUA" (p. 289). 

Mas, vamos ler isto:

"La Russie a retrouvé son équilibre, elle est très affaiblie et a cessé d'être impérialiste. Son intérêt est un partenariat stratégique avec l'Europe sur una base égalitaire. Les anciennes 'démocraties populaires' [os países da Europa central e oriental que faziam parte da esfera soviética] comprendront vite que les États-Unis ne peuvent rien pour elles stratégiquement, étant en déficit de production et incapables de les protéger autrement que par des mots. La vraie sécurité ne peu passer por elles que par une adhésion pleine et entière à l'Europe et par une participation active à la politique de défense européenne commune." (p. 290)

Ele dá o exemplo da Turquia, que se distanciou dos EUA, sem reação do grande império, pois que ele não tem os meios econômicos e financeiros de sua política externa. Para Todd, os EUA são um "glorieux mendiant planétaire" (p. 291). 

Seu posfácio conclui desta maneira: 

"Pour leur comportement menaçant, ils [os EUA] ont accéleré l'intégration de l'Europe et rendu irreversible le rapprochement entre l'Europe et la Russie." (p. 293, souligné PRA)

Ele termina em grande estilo: "George W. Bush et les néoconservateurs passeront donc dans l'histoire comme les grands fossoyeurs de l'empire américain." (p. 293)

 Estamos esperando ainda esse declínio americano e a amizade russo-europeia.

L'enfant terrible, finalement, n'était pas si terrible que ça...

Paulo Roberto de Almeida

Brasilia, 29/05/2024


Se salários de servidores fosse investimento, o Brasil teria o maior PIB do planeta - Ricardo Bergamini

Ricardo Bergamini é incansável na tarefa de expor as mais flagrantes deficiências do funcionamento do Estado no Brasil. PRA

Se salários de servidores fosse investimento, o Brasil teria o maior PIB do planeta (Ricardo Bergamini)

O presidente disse que reajuste salarial é “investimento” e ainda deu um duro recado aos auxiliares: é proibido, no governo, chamar reajuste — “o que é investimento” — de gasto. “É preciso mudar o discurso. É preciso mudar o discurso. É preciso saber o que é gasto e o que é investimento.

Prezados Senhores 

 

Na união, estados e municípios, existem em torno de 1,2 milhão de assessores parlamentares (fontes primárias de peculato – exemplos: “rachadinhas” do clã Bolsonaro) que poderiam ser dispensados sem restrições constitucionais. 

 

São amigos, parentes e aliados dos políticos, não são concursados, não têm direitos adquiridos, não têm estabilidade de emprego, não são garantidos pelas cláusulas pétreas da Constituição, além de representarem um contingente correspondente a três vezes o efetivo ativo das FFAA.   

 

Extinção imediata desses parasitas, que considerando um salário médio de R$ 8.000,00 mensais, daria uma economia permanente em torno de R$ 113,3 bilhões ao ano. Cabe lembrar que o gasto total (pessoal e todas as atividades) das FFAA, em 2023, foi de R$ 123,1 bilhões. 

 

No serviço público existe o crescimento vegetativo dos gastos com pessoal, assim sendo mesmo sem qualquer interferência do governante de plantão, os gastos com pessoal crescem com benefícios imorais existentes (promoções automáticas, quinquênios, licença prêmio, dentre centenas de outras aberrações ainda existentes no Brasil). 

 

Em 2002, os gastos com pessoal consolidado (união, estados e municípios) foi de R$ 198,7 bilhões (13,35% do PIB), representando 41,64% da carga tributária que era de 32,06%. Em 2022 migra para R$ 1.453,5 bilhões (14,66% do PIB), aumento real em relação ao PIB de 9,61%, representado 43,46% da carga tributária de 2022 que foi de 33,71%. Nesse período houve aumento real da carga tributária de 5,15% e do percentual de gastos com pessoal de 4,58% em relação a carga tributária. Uma criminosa excrescência econômica do Brasil.

 

Um grupo de trabalhadores de primeira classe (servidores públicos) composto por 13,5 milhões de brasileiros (ativos, inativos, civis e militares) que representam apenas 6,34% da população brasileira, sendo 2,2 milhões federais, 4,9 milhões estaduais e 6,4 milhões de municipais custaram R$ 1.453,5 bilhões em 2022, correspondentes a 14,66% do PIB. Esse percentual representou 43,46% da carga tributária que foi de 33,71% do PIB em 2022. 

 

Na história do Brasil a nação sempre foi refém dos seus servidores públicos (trabalhadores de primeira classe), com os seus direitos adquiridos intocáveis, estabilidade de emprego, longas greves remuneradas, acionamento judicial sem perda de emprego, regime próprio de aposentadoria (não usam o INSS), planos de saúde (não usam o SUS), dentre muitos outros privilégios impensáveis para os trabalhadores de segunda classe (empresas privadas). Com certeza nenhum desses trabalhadores de primeira classe concedem aos seus empregados os mesmos direitos imorais. 

 

Ricardo Bergamini


terça-feira, 28 de maio de 2024

Foreign Relations of the United States (FRUS) ; Papers Diplomatiques français (Daniel Afonso da Silva)

Daniel Afonso da Silva, pesquisador de relações internacionais na USP, me envia as fontes documentais para o estudo da política externa dos países. Aqui a série de documentos diplomáticos americanos (um modelo para a organização dos papeis diplomáticos brasileiros, se tivéssemos um historiador oficial do Itamaraty): 

https://history.state.gov/historicaldocuments


 Daniel Afonso da Silva também me enviou o link para os papeis diplomáticos da França, com remissões aos documentos de outros países também: 

https://bibliotheque-numerique.diplomatie.gouv.fr/meae/

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Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...