quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Democracia como modo-de-vida - John Dewey, Augusto de Franco (ID)

A democracia criativa de John Dewey

INTELIGÊNCIA DEMOCRÁTICA

OUT 25

 

Augusto de Franco, Dagobah (17/07/2017), Inteligência Democrática (25/10/2024)

O pouco conhecido discurso de John Dewey (1939) – intitulado Democracia criativa: a tarefa diante de nós – fez mais de 80 anos. E foi pronunciado quando ele, Dewey, completava 80 anos de idade.

 

Claro que democracia como modo-de-vida quer dizer, a rigor, democracia como modo de convivência social, ou seja, modo regulação de conflitos na vida comum ou na convivência social cotidiana. Quando se vai organizar qualquer coisa, quando se vai interagir com alguém, sobretudo para fazer alguma coisa juntos. Isso significa, no fundo, não criar inimigos, cooperar mais do que competir, não exigir alinhamentos de posições e sim montar ecologias de diferenças coligadas, não lutar ou combater, enfim… é a democracia experimentada não apenas como forma de administração política do Estado e sim também em todos os ambientes de convivência, como a família, os grupos de amigos e vizinhos, as escolas e universidades, as organizações formais ou informais da sociedade civil e as empresas.

Publiquei este artigo pela primeira vez em português, em 2008, juntamente com Thamy Pogrebinschi, numa coletânea sobre os escritos políticos de John Dewey:

 

FRANCO, Augusto & POGREBINSCHI, Thamy (2008): Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey. Porto Alegre: EdiPUC-RS, 2008.

 

Na introdução do livro linkado acima, escrevi:

No discurso “Democracia criativa: a tarefa que temos pela frente” (1939), em que lançou sua derradeira contribuição às bases de uma nova teoria normativa da democracia que poderíamos chamar de democracia cooperativa, John Dewey deixou claro que estava tomando o conceito em seu sentido “forte”. A democracia, para ele, não se refere – nem apenas, nem principalmente – ao funcionamento das instituições políticas, mas é “um modo de vida” baseado em uma aposta “nas possibilidades da natureza humana”, no “homem comum”, como ele diz, “nas atitudes que os seres humanos revelam em suas mútuas relações, em todos os acontecimentos da vida cotidiana”. Segundo Dewey, a democracia é uma aposta generosa na capacidade de todas as pessoas para dirigir sua própria vida, livre de toda coerção e imposição por parte dos demais, sempre que estejam dadas as devidas condições.

Doze anos antes, em “O público e seus problemas” (1927), ele já tinha deixado claro que existe uma distinção entre a democracia como uma ideia de vida social e a democracia política como um sistema de governo. A ideia – argumentava ele – permanece estéril e vazia sempre que não se encarne nas relações humanas. Porém na discussão há que distingui- las. A ideia de democracia é uma ideia mais ampla e mais completa do que se possa exemplificar no Estado, ainda no melhor dos casos. Para que se realize, deve afetar todos os modos de associação humana, a família, a escola, a indústria, a religião. Inclusive no que se refere às medidas políticas, as instituições governamentais não são senão um mecanismo para proporcionar a essa ideia canais de atuação efetiva.

 

O discurso original de Dewey vai reproduzido abaixo na íntegra.

DEMOCRACIA CRIATIVA: A TAREFA DIANTE DE NÓS

John Dewey

Democracia criativa: a tarefa diante de nós (1939). Publicado inicialmente em John Dewey and the Promise of America, Progressive Education Booklet n° 14 (Columbus, Ohio: American Education Press, 1939), pp. 12-17, de um discurso lido por Horace M. Kallen no jantar de homenagem a Dewey em Nova Iorque em 20 de outubro de 1939. Cf. Hickman, Larry A. & Alexander, Thomas. The Essential Dewey, vol. 1: Pragmatism, Education, Democracy. Bloomington: Indiana University Press, 1998: pp. 340-343. A menção, contida no livro acima, à obra de Dewey [LW 14: 224-30] se refere ao volume e às páginas das Later Works: 1925-1953 in Boydston, Jo Ann (ed.). The Collected Works of John Dewey, 1882-1953. Carbondale and Edwardsville: Southern Illinois University Press, 1969-1991.

Nas atuais circunstâncias, não posso esperar esconder o fato de que já existo há oitenta anos. A menção do fato talvez lhes sugira um fato mais importante – a saber, que os eventos de extrema significância para o destino deste país ocorreram durante os últimos quatro quintos de um século, um período que abrange mais de metade de sua vida nacional em sua forma presente. Por razões óbvias não deverei tentar resumir mesmo os mais importantes desses eventos. Referi-me a eles aqui por causa de sua influência sobre a questão com a qual este país se comprometeu quando a nação tomou forma – a criação da democracia, uma questão que agora é urgente tal como era há cento e cinqüenta anos, quando os homens mais experientes e sábios do país uniram-se para fazer um levantamento das condições e criar a estrutura política de uma sociedade autogovernada.

Pois a importância final das mudanças que ocorreram nesses últimos anos é que os modos de vida e as instituições que antes eram o produto natural, quase inevitável, de condições afortunadas agora precisam ser conquistadas por um esforço consciente e resoluto. Nem todo o país estava em um estado pioneiro há oitenta anos. Mas ele estava, excetuando-se talvez umas poucas cidades grandes, tão perto do estágio pioneiro da vida americana que as tradições do pioneiro, certamente da fronteira, foram agentes ativos na formação dos pensamentos e na formatação das crenças daqueles que nasceram nesse período. Ao menos na imaginação o país ainda tinha uma fronteira aberta, uma fronteira de recursos não aproveitados e não apropriados. Era um país de oportunidade e atração física. Mesmo assim, havia mais do que uma conjunção maravilhosa de circunstâncias físicas envolvidas no esforço de dar à luz esta nova nação. Existiu um grupo de homens que foram capazes de readaptar instituições e ideias mais antigas para satisfazerem às situações oferecidas pelas novas condições físicas – um grupo de homens extraordinariamente talentosos em termos de inventividade política.

No momento presente, a fronteira é moral, não física. O período de terras livres que pareciam de extensão ilimitada acabou. Os recursos não aproveitados são agora os humanos ao invés dos materiais. Eles são encontrados no desperdício de homens e mulheres adultos que não têm a chance de trabalhar, e nos rapazes e moças jovens que encontram portas fechadas onde antes havia oportunidade. A crise que há cento e cinquenta anos clamava por inventividade social e política está conosco em uma forma que apresenta uma forte demanda por criatividade humana.

Em todo caso, isso é o que tenho em mente quando digo que temos agora que recriar através de um empenho deliberado e determinado o tipo de democracia que em sua origem há cento e cinquenta anos era em grande parte produto de uma combinação afortunada de homens e circunstâncias. Vivemos por um longo tempo com o legado que chegou até nós a partir da feliz conjunção de homens e eventos numa época mais antiga. O atual estado do mundo é mais do que um lembrete que temos agora de pôr em ação toda a energia que possuímos para nos provarmos dignos de nosso legado. É um desafio fazer com as condições críticas e complexas de hoje o que os homens de outrora fizeram com condições mais simples.

Se enfatizo que a tarefa pode ser cumprida somente por esforço inventivo e atividade criativa, é em parte porque a profundidade da crise atual deve-se em parte considerável ao fato de que por um longo período agimos como se nossa democracia fosse algo que se perpetuasse automaticamente; como se nossos ancestrais tivessem sido bem-sucedidos em instalar uma máquina que resolvia o problema do movimento perpétuo na política. Agimos como se a democracia fosse algo que ocorresse principalmente em Washington ou Albany – ou alguma outra capital estadual – sob o ímpeto do que acontece quando homens e mulheres vão às urnas mais ou menos uma vez por ano – o que é uma maneira um tanto extrema de dizer que temos o hábito de pensar na democracia como uma espécie de mecanismo político que irá funcionar desde que os cidadãos sejam razoavelmente fiéis no cumprimento de seus deveres políticos.

Nos últimos anos, temos ouvido cada vez mais frequentemente que isso não basta; que a democracia é um modo de vida. Essa afirmação é a mais dura verdade. Mas não estou certo de que algo da externalidade da velha ideia não adira à nova e melhor assertiva. De qualquer forma, poderemos escapar dessa maneira externa de pensar somente à medida que percebermos no pensamento e na ação que a democracia é um modo pessoal de vida individual; que ela significa a posse e o uso contínuos de certas atitudes, formando o caráter pessoal e determinando o desejo e a finalidade em todas as relações da vida. Ao invés de pensarmos em nossas próprias disposições e hábitos como acomodados a certas instituições, temos de aprender a pensar neles como expressões, projeções e extensões das atitudes pessoais habitualmente dominantes.

A democracia como um modo de vida pessoal e individual não envolve algo fundamentalmente novo. Mas quando aplicada, ela confere um novo sentido prático a velhas ideias. Colocada em prática, ela significa que os inimigos poderosos atuais da democracia podem ser confrontados com sucesso apenas pela criação de atitudes pessoais nos seres humanos individuais; que devemos superar nossa tendência de pensar que sua defesa pode ser encontrada em meios externos quaisquer, sejam militares ou civis, se eles estiverem separados de atitudes individuais arraigadas a ponto de constituir o caráter pessoal.

A democracia é um modo de vida guiado por uma fé ativa nas possibilidades da natureza humana. A crença no Homem Comum é um item familiar ao credo democrático. Tal crença seria infundada e sem significância a não ser que signifique fé nas potencialidades da natureza humana, visto que essa natureza é exibida em todo ser humano, independentemente de raça, cor, sexo, nascimento e família, de riqueza material ou cultural. Essa fé pode ser promulgada em leis, mas ela se encontra apenas no papel a não ser que seja materializada nas atitudes que os seres humanos exibem uns para os outros em todos os incidentes e relações do cotidiano. Denunciar o nazismo por intolerância, crueldade e estímulo ao ódio é o mesmo que estimular a falta de sinceridade se, em nossas relações pessoais com outras pessoas, se em nossa caminhada e conversa diária, somos movidos por preconceito de raça, cor ou outra ordem de preconceito; de fato, por qualquer coisa, salvo uma crença generosa em suas possibilidades como seres humanos, uma crença que traz consigo a necessidade de fornecer condições que possibilitem que essas capacidades realizem-se. A fé democrática na igualdade humana é a crença que todo ser humano, independente da quantidade ou extensão de seu dom pessoal, tem direito a uma oportunidade igual a todas as outras pessoas para desenvolver os talentos que possui. A crença democrática no princípio de liderança é uma crença generosa. Ela é universal. É a crença na capacidade de toda pessoa de conduzir sua própria vida, livre de coerção e imposição pelos outros, desde que as condições certas sejam proporcionadas.

A democracia é um modo de vida pessoal conduzido não apenas pela fé na natureza humana em geral, mas pela fé na capacidade dos seres humanos de julgamento e ação inteligentes, caso condições apropriadas sejam dadas. Fui acusado mais de uma vez e por opositores de uma fé indevida, utópica, uma fé nas possibilidades da inteligência e na educação como um correlato da inteligência. De qualquer forma, não inventei essa fé. Eu a adquiri do meu ambiente, já que esse ambiente era animado pelo espírito democrático. Pois o que é a fé na democracia no papel de consulta, de conferência, de persuasão, de discussão, na formação da opinião pública, a qual a longo prazo é autocorretiva, senão fé na capacidade da inteligência do homem comum de responder com bom senso ao livre curso dos fatos e ideias que são asseguradas por garantias efetivas de livre investigação, livre reunião e livre comunicação? Estou disposto a deixar para os defensores dos Estados totalitários de direita e de esquerda a opinião que a fé nas capacidades da inteligência é utópica. Pois a fé é tão profundamente arraigada nos métodos que são intrínsecos à democracia que, quando um democrata declarado nega a fé, ele condena a si mesmo por traição à sua profissão.

Quando penso nas condições nas quais homens e mulheres estão vivendo em muitos países estrangeiros hoje, medo de espionagem, com o perigo pairando sobre o encontro de amigos para uma conversa amigável em reuniões privadas, fico inclinado a crer que o coração e a garantia final da democracia encontram-se nos livres encontros de vizinhos na esquina para discutir o que é lido nas notícias não censuradas do dia, e em reuniões de amigos nas salas de estar de casas e apartamentos para conversarem livremente uns com os outros. Intolerância, abuso, ofensas pessoais por causa de diferenças de opinião sobre religião ou política ou negócios, bem como por causa de diferenças de raça, cor, riqueza ou nível cultural são uma traição ao modo de vida democrático. Pois tudo o que obstaculiza a liberdade e a plenitude de comunicação estabelece barreiras que dividem os seres humanos em grupos e rodas, em seitas e facções antagônicas, e assim enfraquece o modo de vida democrático. As garantias meramente jurídicas das liberdades civis de livre crença, livre expressão, livre reunião são pouco úteis se na liberdade de comunicação cotidiana a troca de ideias, fatos, experiências é sufocada por suspeita mútua, por abuso, por medo e ódio. Essas coisas destroem a condição essencial do modo democrático de viver até com mais eficácia do que a coerção aberta que – como o exemplo dos Estados totalitários prova – é efetiva somente quando consegue gerar ódio, suspeita, intolerância nas mentes dos seres humanos individuais.

Por fim, dadas as duas condições mencionadas, a democracia é um modo de vida que é conduzido pela fé pessoal no cotidiano pessoal de trabalho conjunto com outras pessoas. Democracia é a crença de que mesmo quando necessidades e fins ou consequências são diferentes para cada indivíduo, o hábito de cooperação amigável – que pode incluir, como no esporte, rivalidade e competição – é em si um acréscimo valioso à vida. Afastar, ao máximo possível, todo conflito que surgir – e certamente eles surgirão – da atmosfera e meio da força, de violência como um meio de solução e resolvê-lo através de discussão e inteligência significa tratar aqueles que discordam – mesmo profundamente – de nós como aqueles com quem podemos aprender e, na medida do possível, como amigos. Uma fé genuinamente democrática na paz é uma fé na possibilidade de administrar disputas, controvérsias e conflitos como tarefas cooperativas em que ambas as partes aprendam dando à outra a chance de se expressar, ao invés de uma parte conquistar pela supressão da outra à força – uma supressão que é violenta quando ocorre através de meios psicológicos de ridicularização, abuso, intimidação, ao invés de aprisionamento aberto ou em campos de concentração. Cooperar dando uma chance às diferenças de se mostrarem por causa da crença que a expressão da diferença é não só direito de outras pessoas, mas um meio de enriquecer sua própria experiência de vida, é inerente ao modo de vida pessoal democrático.

Caso o que foi dito seja acusado de ser um conjunto de lugares comuns morais, minha única resposta é que é exatamente isso que se pretende ao dizer tais coisas. Pois livrarmo-nos do hábito de pensar a democracia como algo institucional e externo e adquirirmos o hábito de tratá-la como um modo de vida pessoal significa perceber que a democracia é um ideal moral e, à medida que se torna um fato, é um fato moral. Trata-se de perceber que a democracia é uma realidade somente quando é de fato um lugar-comum de vida.

Visto que minha idade adulta tem sido dedicada à atividade da filosofia, devo pedir sua indulgência se ao concluir afirmo brevemente a fé democrática nos termos formais de uma posição filosófica. Conforme afirmado, democracia é a crença na habilidade da experiência humana de gerar os objetivos e métodos pelos quais uma experiência ulterior irá crescer numa riqueza ordenada. Todas as outras formas de fé moral e social residem na ideia que a experiência deve ser submetida em algum ponto ou outro a alguma forma de controle externo; a alguma “autoridade” que se alega existir fora dos processos de experiência. A democracia é a fé de que o processo de experiência é mais importante que qualquer resultado especial obtido, de forma que os resultados obtidos são de valor decisivo somente quando são usados para enriquecer e ordenar o processo em curso. Visto que o processo de experiência é capaz de ser educativo, a fé na democracia é o mesmo que fé na experiência e educação. Todos os fins e valores que são cortados do processo em curso tornam-se impedimentos, fixações. Eles lutam para fixar o que foi ganho ao invés de usá-lo para abrir o caminho e apontar o rumo para experiências novas e melhores.

Se alguém perguntar o que significa experiência nesse sentido, minha resposta é que se trata daquela interação livre dos seres humanos individuais com as condições que os cercam, especialmente o meio humano, que desenvolve e satisfaz necessidade e desejo aumentando o conhecimento das coisas como elas são. O conhecimento das condições tais como são é a única base sólida de comunicação e compartilhamento; qualquer outra comunicação significa sujeição de algumas pessoas à opinião pessoal de outras pessoas. Necessidade e desejo – dos quais crescem propósito e direcionamento de energia – vão além do que existe e, portanto, vão além do conhecimento, além da ciência. Eles continuamente abrem o caminho rumo ao futuro inexplorado e inatingível.

A democracia, comparada com outros modos de vida, é o único modo de vida que acredita sinceramente no processo de experiência como fim e como meio; como aquilo que é capaz de gerar a ciência que é a única autoridade confiável para a condução de uma experiência maior que libera emoções, necessidades e desejos de modo a tornar existentes coisas que não existiram no passado. Pois todo modo de vida que falha em sua democracia limita os contatos, as trocas, as comunicações, as interações pelas quais a experiência é firmada enquanto é também ampliada e enriquecida. A tarefa dessa liberação e enriquecimento é uma tarefa que precisa ser realizada dia a dia. Visto que se trata de uma tarefa que não pode terminar até que a própria experiência termine, a tarefa da democracia será sempre criar uma experiência mais livre e mais humana na qual todos compartilham e para a qual todos contribuem.

 

 

Quem não aprendeu deve passar de ano? - Claudio de Moura Castro (Estadão)

 Quem não aprendeu deve passar de ano?

 

Claudio de Moura Castro

 

 

Parece muito claro, em cada ano letivo, há um conjunto de aprendizados. Quem conseguiu dominá-los, passa para o ano seguinte, para enfrentar novos assuntos. Quem não conseguiu, deve tentar de novo, ou seja, repetir o ano. É única chance para aprender o que deveria. A lógica é cristalina.

 

Pois não é que apareceu uma tal de “progressão automática”! Nela, quem não aprendeu, ainda assim, passa de ano. Contraria o bom senso.

 

A confusão criada por essa regra é antiga dentre nós. Mas um artigo recente mostra que, nos Estados Unidos, as mesmas controvérsias estão pipocando (https://theconversation.com/why-holding-kids-back-fails-and-what-to-do-about-it). Alguns estados reprovam, outros não. O artigo, através de pesquisas rigorosas compara o impacto de uma ou outra política. Vale notar, os resultados são equivalentes aos já encontrados pelo mundo afora, desde décadas atrás. Ou seja, poucas novidades.

 

Antes de entrar no assunto, uma notinha sobre o método científico. Nele, começamos por formular algumas hipóteses ou teorias. Por exemplo, a promoção automática é prejudicial aos alunos. Porém, manda a ciência, chega a hora de verificar se a hipótese descreve o mundo real. E aqui está o imperativo metodológico: se a realidade é diferente, lixo com a teoria! Se não há imperfeições nos métodos usados, somos obrigados a rejeitar nossa bela explicação.

 

Basicamente, a nova revisão da literatura técnica mostrou, novamente, que promover quem não sabe é melhor do que fazê-lo repetir o ano. Poderíamos parar por aqui, se a conclusão é essa, temos que aceita-la.

 

Mas ajuda tentar entender o porquê. Fica demonstrado, os repetentes têm desempenho pior do que se fossem aprovados sem saber. Ao confrontarem as mesmas aulas, terão os mesmos resultados negativos. Ademais, a repetência chamusca sua autoestima e aumenta o seu grau de ansiedade. Pior, nos Estados Unidos, acirra a desigualdade racial. E, obviamente, aumenta os custos da educação pública. 

 

Diante disso, a melhor solução é manter a promoção automática e, ao mesmo tempo, identificar precocemente os alunos que, durante o ano, vão ficando para trás. Para eles, cumpre oferecer auxílio suplementar, para que não se distanciem dos colegas, ao longo do mesmo ano.

 

O interesse desse artigo é sua total aplicabilidade no Brasil. Estivemos e estamos diante do mesmo quadro. Onde a repetência é permitida, esses alunos se separam de seus colegas e amigos, ficando isolados em turmas mais jovens. Ficam frustrados. Não têm paciência para enfrentar as mesmas aulas que não haviam entendido antes. Assim, aprendem menos do que se estivessem na série seguinte. Note-se bem, isso não é divagação ou especulação, é o que mostram as boas pesquisas. 

 

O caso brasileiro merece alguns comentários adicionais. Seja nas mesas de bar, seja nos eventos mais sérios, a mesma choradeira contra a progressão automática se faz presente. 

 

Os pais se queixam de que se eliminam os incentivos para estudar mais. Ficou mais difícil para eles forçar os pimpolhos a mergulharem nos livros, já que não vão ser reprovados. De fato, esse parece um argumento imbatível. 

 

Porém, não podemos ignorar uma diferença fundamental. Quem se queixa são os pais de classe média e alta, mais conscientes de seu papel de assegurar uma boa educação para seus filhos. 

 

No fundo, não é que a repetência seja saudável para eles. Quem faz a mágica é o medo da repetência. Esse sim, é um santo remédio para esses jovens. Como temem a ira paterna e as terríveis punições pairando no ar, tratam de não levar bomba. Ou seja, o temor da reprovação é um acicate poderoso para estudar mais. E, com efeito, quase todos conseguem escapar dela.

 

É totalmente distinto o caso das famílias mais pobres – muito mais numerosas que as ricas. Em geral, acreditam que repetir é melhor, é uma nova chance de aprender. Erradamente, nem pressionam os filhos para estudar mais e nem defendem a progressão automática – como deveriam, se entendessem do assunto. Repetir é a vida, é o destino.

 

É lamentável a incapacidade da nossa escola para lidar com os muitos que vão ficando para trás. Mas como amplamente demonstram as pesquisas, os repetentes mais pobres são os grandes perdedores.

 

Insistindo, uma política que admite a reprovação é a alternativa mais nociva. Atrapalha um pouquinho as famílias de classe média, que perdem uma excelente ferramenta, chamada de “medo da repetência”. Mas pune, cruelmente, a maioria mais pobre, para quem a reprovação e repetência levam a resultados bem piores.

 

Como dito, a melhor solução é aquela já mencionada. Nada de repetência, mas uma identificação precoce daqueles que vão ficando para trás, seguida de apoio firme e eficaz para eles. Não há grandes mistérios para implementar essa assistência seletiva. Contudo, na maioria das escolas públicas, tais providências primam pela ausência. 

 

 


Trabalhos originais elaborados desde o 1o de outubro de 2024 até o dia 12/11/2024 - Paulo Roberto de Almeida

Trabalhos originais elaborados desde o 1o de outubro de 2024 até o dia 12/11/2024 

Paulo Roberto de Almeida

(...)

4745. “Argentina e Venezuela, à frente da história latino-americana de fracassos”, Brasília, 1 outubro 2024, 2 p. Nota de caráter histórico sobre retrocessos ocorridos na América Latina, com destaque para Argentina e Venezuela, na economia, na educação, na política, no social. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/argentina-e-venezuela-frente-da.html). 

 

4746. “Uma deriva geológica na política brasileira: a divisão do país em dois extremos prejudiciais ao futuro da nação”, Brasília, 1 outubro 2024, 2 p. Nota sobre a fratura ideológica na sociedade brasileira, começando pelo divisionismo inaugurado pelo lulopetismo, até chegar na exacerbação estimulada pelo bolsonarismo. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/uma-deriva-geologica-na-politica.html).

 

4747. “Grandes temas da política externa: governança, comércio, integração regional”, Brasília, 1 outubro 2024, 7 slides. Resumo em PPT do trabalho n. 4743, para fins de aula no curso preparatório para candidatos à carreira diplomática. Feito pdf para exibição.

 

4748. “Estatísticas de acesso às minhas postagens no Diplomatizzando”, Brasília, 2 outubro 2024, 2 p. Levantamento realizado em 2/10/2024. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/estatisticas-de-acesso-as-minhas.html). 

 

4749. “Palestra sobre Governança global, comércio internacional e integração regional”, Brasília, 2 outubro 2024, 8 slides. Apresentação (ppt+pdf), baseada no trabalho 4743, para palestra a alunos de pós-graduação da Faculdade de Direito da USP, a convite do Prof. Wagner Menezes, dia 14/10/2024. Paper adicional 4676.

 

4750. “Uma modesta sugestão aos eleitores de São Paulo: Tabata Amaral”, Brasília, 5 outubro 2024, 2 p. Nota sobre as eleições na cidade de São Paulo. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/uma-modesta-sugestao-aos-eleitores-da.html).

 

4751. “Pessoas cometem erros, países cometem erros: cabe corrigir”, Brasília, 6 outubro 2024, 8 p. Sobre como se aprende melhor com erros do que com acertos, a partir de exemplos nacionais. Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/124484462/Pessoas_cometem_erros_paises_cometem_erros_uma_analise_historica); informado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/pessoas-cometem-erros-paises-cometem.html).

 

4752. “Como explicar nossa diplomacia ao grande público? Por este livro!”, Brasília, 7 outubro 2024, 2 p. (4999 caracteres). Resenha do livro de Maria Helena Tachinardi, Política Externa e Jornalismo (São Paulo: Contexto, 2024). Publicado no jornal O Estado de S. Paulo (12/11/2024; link: https://www.estadao.com.br/opiniao/espaco-aberto/como-explicar-nossa-diplomacia/?srsltid=AfmBOorVbdMEfZReFcbVSyk4a5BZV538b4WcsphySjpUMMoEI34EsWFF). Relação de Publicados n. 1566.

 

4753. “Uma visão sobre o atual cenário internacional”, Brasília, 7 outubro 2024, 1 p. Nota sobre as ameaças pendentes ao sistema internacional vindas de ditadores. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/uma-visao-sobre-o-atual-cenario.html).

 

4753bis. “E o Prêmio Nobel da inconsistência diplomática vai para...”, Brasília, 7 outubro 2024, 1 p. Ironia com os tresloucados da política internacional. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/e-o-premio-nobel-da-inconsistencia.html). 

 

4754. “O Brasil e o multilateralismo: notas para aula”, Brasília, 9 outubro 2024, 1 p. Seleção de trabalhos disponíveis na plataforma Academia.edu. Divulgado via Facebook; link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/pfbid032CF8s4k68hvvPYqSrtt34QFaPU3WwCkDTUC4u6Qq7YANFbC6jHNodGCZfFELNwFKl?__cft__[0]=AZXaKbofryH7bFqHJzxjmmKFkMhmPE79xm3MDDL6X1MFMnJFFKZzxfOa-nifALIepv5qvGeIsUYj9fHYpWAaYGo_4Qr_x7cfhUE5J16EMw2GEg&__tn__=%2CO%2CP-R. 

 

4755. “Uma questão existencial para a diplomacia brasileira profissional”, Brasília, 9 outubro 2024, 1 p. Nota sobre a postura da diplomacia brasileira como pertencente ao grupo de países opostos à ‘hegemonia ocidental’. Postado no blog Diplomatizzando (10/10/2024; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/uma-questao-existencial-para-diplomacia_10.html).

 

4756. “Desculpem-me ser realista mais uma vez”, Uberlândia, 13 outubro 2024, 1 p. Nota sobre as perspectivas pessimistas para o mundo e para o Brasil nos próximos anos. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/desculpem-me-ser-realista-mais-uma-vez.html).

 

4757. “Colocando os pontos nos ‘ iis’”, Uberlândia, 13 outubro 2024, 1 p. Nota sobre as postagens alarmistas ou alienadas de acadêmicos sobre o Sul Global e as hegemonias. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/colocando-os-pontos-nos-iis-paulo.html).

 

4758. “Ah, essa falta de políticas públicas...”, São Paulo, 14 outubro 2024, 1 p. Nota irônica sobre aqueles que sempre pedem mais políticas públicas. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/ah-essa-falta-de-politicas-publicas.html).

 

4759. “O Diplomata Aprendiz”, São Paulo, 14 outubro 2024, 3 p. Nota sobre meus clássicos revisitados e meus projetos de livros. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/o-diplomata-aprendiz-paulo-roberto-de.html).

 

4760. “A ordem internacional e o progresso da nação: as relações econômicas internacionais do Brasil na era republicana (1889-1944)”, Brasília, 17 outubro 2024, 6 p. Planejamento para o volume 2 da trilogia. 

 

4761. “O Brasil e a construção da ordem econômica internacional contemporânea”, Brasília, 17 outubro 2024, 30 p. Adaptação e revisão redutora do trabalho n. 1237/2004.

 

4762. “O Brasil e a construção da ordem econômica internacional contemporânea”, Brasília, 17 outubro 2024, 14 slides. Apresentação, em formato PP e pdf, resumindo o trabalho precedente, para fins de aula presencial em 18/10/2024. 

 

4763. “Projeto de livro sobre intelectuais na diplomacia e na cultura”, Brasília, 18 outubro 2024, 17 p. Relação de textos pessoais, sobre livros, sobre cultura, sobre diplomatas intelectuais, suscetíveis de integrar uma nova obra pessoal sobre o assunto do título, feita com base na relação geral dos trabalhos, identificando seletivamente os trabalhos sob os conceitos genéricos de “intelectual” ou “intelectuais”. Colocada em nova pasta no iMac, sob o label “00BookPRAsIntelectuais”. 

 

4764. “Uma dúvida que não é só diplomática”, Brasília, 19 outubro 2024, 2 p. Nota sobre a convivência do governo brasileiro com governos e movimentos pretendem a eliminação de outros Estados. Anexo: Contrariedade com Lula apertando a mão de um criminoso de guerra. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/uma-duvida-que-nao-e-so-diplomatica.html).

 

4765. Intelectuais na diplomacia brasileira: a cultura a serviço da nação, Brasília, 21 outubro 2024, 351p. Nova versão corrigida do livro a ser publicado pela Editora Francisco Alves e Unifesp. 

 

4766. “De la belle époque à la mauvaise époque?”, Brasília, 22 outubro 2024, 3 p. Nota sobre a volta dos imponderáveis históricos que marcaram a trajetória do mundo na primeira metade do século XX, vindo da belle époque pacífica para décadas de conflagrações mundiais, o que parece evidente na atual fratura geopolítica. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/de-la-belle-epoque-la-mauvaise-epoque.html).

 

4767. “Pesquisa BRICS Policy Center: papel e influência de potências médias emergentes”, Brasília, 22 outubro 2024, 7 p. Consulta do BRICS Policy Center e da Fundação Körber. Respondida e enviada.

 

4768. “Diretoria de Relações Internacionais do IHG-DF: breve síntese de atividades”, Brasília, 24 outubro 2024, 2 p. Relato para o Secretário Geral do IHG-DF, para o relatório geral da gestão Paulo Castelo Branco. 

 

4769. “Trabalhos inéditos e pouco divulgados”, Brasília, 24 outubro 2024, 2 p. Seleção de trabalhos aproveitáveis e a retrabalhar.

 

4770. “Trabalhos sobre política externa e diplomacia brasileira, 2022-2024”, Brasília, 24 outubro 2024, 8 p. Seleção de trabalhos recentes sobre a política externa do período Lula3. 

 

4771. “Dois livros sobre intelectuais na diplomacia brasileira”, Brasília, 27 outubro 2024, 3 p. Nota contendo os sumários do livro publicado em 2001, O Itamaraty na Cultura Brasileira, e do livro preparado para próxima edição, Intelectuais na Diplomacia Brasileira, dois livros essenciais sobre o tema dos grandes intelectuais que moldaram o perfil intelectual do Itamaraty e da própria sociedade brasileira. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/dois-livros-sobre-intelectuais-na.html). 

 

4772. “Listas de trabalhos para composição de livros”, Brasília, 28 outubro 2024, 10 p. Relação de relações de trabalhos podendo integrar livros recentes, pós-2022, em diversas áreas de interesse acadêmico.

 

4773. “Experiência histórica da representação política no Brasil: antecedentes parlamentaristas à Constituição de 1824”, Brasília, 28 outubro 2024, 10 p. Subsídios à participação em seminário da CD sobre os 200 anos da Constituição, em 18/11/2024; organização do Deputado Lafayette de Andrada e do historiador José Theodoro Menck. Texto disponível na plataforma Academia.edu (https://www.academia.edu/125501362/4773_Experi%C3%AAncia_hist%C3%B3rica_da_representa%C3%A7%C3%A3o_politica_no_Brasil_antecedentes_parlamentaristas_%C3%A0_Constituicao_de_1824_2024_). 

 

4774. “Política externa, relações exteriores e história diplomática do Brasil”, Brasília, 28 outubro 2024, 12 p. Esquema possível de novo livro digital. 

 

4775. “Relações internacionais e política externa do Brasil: perspectiva histórica”, Brasília, 30 outubro 2024, 12 p. Revisão e atualização do trabalho 782/2000-2001, para inclusão, como primeiro capítulo do livro Relações internacionais, Política Externa e Diplomacia do Brasil: ensaios de historiografia brasileira, em composição. 

 

4776. “Da moral no plano internacional”, Brasília, 30 outubro 2024, 2 p. Nota sobre certos critérios éticos no exercício da política externa e na prática da diplomacia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/da-moral-no-plano-internacional-paulo.html); complementado com texto prévio em 11/11/2024 (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/11/da-moral-no-plano-internacional.html).

 

4777. Intelectuais na diplomacia brasileira: a cultura a serviço da nação, Brasília, 31 outubro 2024, 355 p. Novo manuscrito do organizador, revisto, formatado, enviado aos editores e colaboradores. Em processo de editoração na Francisco Alves e na Unifesp. Índice postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/intelectuais-na-diplomacia-brasileira.html). 

 

4778. “O que muda na política externa e na diplomacia lulopetista depois de Kazan e do conflito com a Venezuela”, Brasília, 3 novembro 2024, 5 p. Nota sobre uma possível conjuntura história de transformação na postura diplomática do governo Lula 3. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/11/o-que-muda-na-politica-externa-e-na.html).

 

4779. “Brevíssima história econômica mundial”, Brasília, 3 novembro 2024, 1 p. Nota sobre a evolução econômica mundial desde a primeira revolução industrial, e um possível retrocesso ao mercantilismo, em caso de vitória de Trump. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/11/brevissima-historia-economica-mundial.html).

 

4780. “Surpresas da evolução “civilizatória”, Brasília, 9 novembro 2024, 1 p. Nota sobre a “involução” de certas sociedades contemporâneas. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/11/surpresas-da-evolucao-civilizatoria.html).

 

4781. “Aqueles que não aprendem com a História, etc., etc., etc. e tal…”, Brasília, 9 novembro 2024, 1 p. Nota sobre a repetição de velho bordão e as falsas analogias. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/11/aqueles-que-nao-aprendem-com-historia.html ). 

 

4782. “Muro de Berlim: o retrato de uma época, de um mundo dividido (continua dividido, não na economia, mas na política)”, Brasília, 4782, 10 novembro 2024, 2 p Nota sobre o novo muro de Berlim representado pelo Brics+. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/11/muro-de-berlim-o-retrato-de-uma-epoca.html).

 

4783. “Contradições anti-históricas”, Brasília, 10 novembro 2024, 1 p. Nota sobre as reivindicações atuais a propósito de poluição e escravatura. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/11/contradicoes-anti-historicas-paulo.html).

 

4784. “Artigos publicados no Estadão, 1984-2014”, Brasília, 12 novembro 2024, 3 p. Simples relação linear. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/11/artigos-publicados-no-estadao-1984-2014.html).

 

4785. (...)

 

Atualizado em 12/11/2024:

Paulo Roberto de Almeida

O Impacto da Eleição de Trump sobre o Brasil - Rubens Barbosa (O Estado de S. Paulo)

O Impacto da Eleição de Trump sobre o Brasil.

Algumas promessas de campanha e declarações do presidente eleito certamente devem estar causando preocupação ao governo brasileiro

Por Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 12/11/2024 | 03h00

 

A eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA terá não só profundas repercussões na política interna norte-americana, como também no cenário internacional, com forte impacto na geopolítica, na economia global e em alguns temas globais, como meio ambiente, mudança do clima, imigração, transição energética e avanço da direita. Ajustes, acomodações e resistências acontecerão em função das mudanças prometidas, a partir de janeiro.

As políticas econômicas e comerciais do governo Trump, se cumpridas as promessas, em função de políticas expansionistas para criar empregos, medidas nacionalistas e protecionistas de política industrial, com o consequente reflexo na inflação, no déficit público e na taxa de juros do Federal Reserve (Fed), poderão impactar o comportamento do dólar, a inflação e a taxa de juros no Brasil.

As relações institucionais entre o Brasil e os EUA não deverão ser afetadas. Comércio, investimentos, tecnologia e outras áreas de cooperação continuarão a fluir normalmente, mas algumas promessas de campanha e declarações de Trump certamente devem estar causando preocupação ao atual governo: a questão da Venezuela, a proximidade com a China, a evolução do Brics, a busca de protagonismo global, a possibilidade de imposição de tarifas para a exportação de todos os países para os EUA, a agenda climática, a eventual deportação de brasileiros, as acusações de corrupção, as relações de Trump com o bolsonarismo e os problemas com Elon Musk, associados à retórica de restrições à liberdade de expressão nas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).

As ações globais para a preservação do meio ambiente, o combate à mudança de clima e a transição energética ficarão afetadas pela perda de prioridade no novo governo Trump, que prometeu ampliar a pesquisa e exploração de petróleo e gás no território americano e novamente abandonar o Acordo de Paris, eliminando as metas de redução de emissões de gás carbono. A COP-30, no Brasil, será diretamente afetada e poderá ser esvaziada pela ausência do presidente dos EUA.

A escalada retórica de Trump, já presidente eleito, sobre a situação política interna na Venezuela é inquietante para a política externa brasileira. Apesar de a América do Sul não ter prioridade na política externa dos EUA e a Venezuela não ter sido mencionada na campanha eleitoral, Trump disse, em entrevista no TikTok, que a Venezuela é um caos, que a população está sofrendo e que seu governo vai ter várias opções para responder a essa questão, inclusive a opção de uma intervenção militar. Certamente, terá apoio de outros países, como a Argentina, de Javier Milei, e resistências de potências extrarregionais que apoiam Caracas, como a Rússia e a China.

As relações com a China, a principal parceira comercial do Brasil, passarão por um momento muito delicado pela eventual reação dos EUA à aproximação brasileira com Pequim, pela dependência do mercado chinês. As decisões sobre a política de Lula da Silva em relação ao Brics, na reunião no ano próximo no Brasil, podem representar o maior desafio da política externa do atual governo. A presença no Brasil dos novos membros, autoritários e ditaduras, e a questão do ingresso da Venezuela no grupo deverão gerar reação da oposição de direita brasileira, às vésperas do início da campanha eleitoral de 2026. A decisão sobre o eventual ingresso do Brasil na Rota da Seda pode ter implicação no relacionamento com o governo Trump, visto que ainda com Joe Biden altas autoridades norte-americanas mandaram sinais claros sobre os riscos de uma eventual adesão do Brasil.

A promessa de deportar 10 milhões de imigrantes dificilmente será cumprida na totalidade, mas com certeza, em parte, será implementada. O maior contingente de brasileiros no exterior está nos EUA (1,9 milhão – 290 mil ilegais) e poderá ser afetado, o que gerará desconforto para o governo Lula.

O avanço da direita na região ganhará reforço e apoio de Washington. Javier Milei e Nayib Bukele serão prestigiados e ganharão mais espaço na América Latina, esvaziando ainda mais a liderança regional do Brasil e a busca de influência global (guerras na Ucrânia e Gaza).

Até mesmo na política interna poderá haver ações contrárias ao atual governo. Eduardo Bolsonaro estava em Mar-a-Lago, comemorando a vitória republicana, e não será surpresa se vier a estimular provocações e mesmo restrições ao governo Lula no final de 2025. Sem falar num eventual apoio do governo Trump à retórica de perseguição política a Jair Bolsonaro e de julgamento em relação aos condenados pelos acontecimentos de 8 de janeiro em Brasília e à declaração de inelegibilidade do ex-presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os imprudentes pronunciamentos do presidente Lula manifestando sua preferência por Kamala Harris para “defender a democracia e evitar o nazismo e o fascismo com outra cara” e aconselhando Trump a “pensar como habitante do planeta Terra” não vão ajudar na relação entre os chefes de Estado dos dois países.

Em face de todos esses desafios de política externa, de acordo com o interesse nacional e refletindo a mudança do eixo da política comercial para a Ásia/China, torna-se urgente uma declaração do governo brasileiro, sem ideologia ou partidarismo, com o objetivo de reafirmar uma posição de independência em relação a países ou grupo de países.

 

PRESIDENTE DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR, MEMBRO DA APL, FOI EMBAIXADOR EM WASHINGTON

 

https://www.estadao.com.br/opiniao/rubens-barbosa/o-impacto-da-eleicao-de-trump-sobre-o-brasil/

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