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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Meus livros podem ser vistos nas páginas da Amazon. Outras opiniões rápidas podem ser encontradas no Facebook ou no Threads. Grande parte de meus ensaios e artigos, inclusive livros inteiros, estão disponíveis em Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida

Site pessoal: www.pralmeida.net.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Entrar ou não entrar na OCDE - Rubens Barbosa (O Estado de S. Paulo)

Entrar ou não entrar na OCDE

Contrariando a política de governos anteriores, inclusive do PT, a atual gestão decidiu congelar as negociações
Por Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 25/02/2025

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um dos principais centros de discussão e definição das agendas econômica, comercial, financeira, social e ambiental global, é integrada por 38 países, inclusive Chile, México, Colômbia (governos de esquerda) e Costa Rica. A Argentina busca acelerar seu ingresso na organização.
Ao Brasil, seria importante ingressar na OCDE para poder influir no exame de questões que afetam os interesses nacionais e que serão reguladas internacionalmente neste ou em outros fóruns. Iniciadas na década de 1990, as relações do Brasil com a OCDE foram intensificadas gradualmente nos governos Cardoso, Lula e Rousseff. Em 2007, junto com outros cinco países, o Brasil virou “parceiro prioritário” da organização. Em 2015, o então chanceler Mauro Vieira assinou acordo de cooperação com a organização. Em 2017, o Brasil submeteu pedido de adesão à OCDE, mas o seu processo de acessão só foi iniciado em 2022, no governo Bolsonaro, juntamente com Argentina, Peru, Indonésia, Tailândia, Croácia, Romênia e Bulgária.
Depois de o conselho da organização aceitar um país como candidato, os membros definem o trajeto a ser seguido para a acessão. O passo inicial – que o Brasil já cumpriu – é a apresentação de memorando, pelo país candidato, contendo sua posição em relação aos instrumentos da OCDE (252 declarações, recomendações e decisões), com a possibilidade de estabelecimento de prazos e condições para a adesão. O Brasil já participa de todos os comitês técnicos da organização e contribui para as discussões e formulações de políticas internacionais, um dos aspectos mais relevantes quando se analisa a conveniência do ingresso brasileiro.
Contrariando a política de governos anteriores, inclusive do PT, a atual gestão decidiu congelar as negociações. No governo Lula 3, um grupo de trabalho foi criado, em agosto de 2023, para tratar do assunto, mas ele não se reúne com frequência. A primeira reunião de 2025 ocorreria no final de janeiro, mas foi adiada. O motivo foi que apenas 40% dos ministérios responderam, até agora, ao Itamaraty sobre as avaliações de impacto das medidas. Surge, agora, a notícia de que o governo Lula reavalia o memorando com os termos da adesão do Brasil à OCDE.
A organização é parte integrante do G-7 e do G-20 e subsidia os países-membros com dados e elementos de análise para as discussões. Mas, em 2024, pela primeira vez na história do G-20, o governo brasileiro resolveu rebaixar a OCDE como uma das organizações centrais na preparação para a Cúpula do Rio de Janeiro e inclui-la apenas como “convidada” em vários dos trabalhos do grupo.
A resistência do governo Lula em concluir os procedimentos de entrada na OCDE tem, principalmente, motivações ideológicas e políticas. Primeiro, uma premissa de que o “clube” tem um viés neocolonialista, pois é liderado por potências ocidentais que defendem a adesão dos demais países a uma série de regras. Isso num contexto em que esses setores do governo têm preferência por uma ordem mundial na qual o Sul Global e organismos como os Brics sejam priorizados. Segundo, há uma visão de que a OCDE vem se tornando um bloco com um viés mais político do que econômico. A organização, por exemplo, condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2023, o que gerou críticas da diplomacia brasileira por não ser uma instância diplomática. Politicamente, a resistência serve ainda como contraponto aos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, que tiveram como uma das prioridades em política externa a adesão ao bloco. Bolsonaro, inclusive, tratou diretamente do assunto com Donald Trump, em 2019, e ganhou o apoio público dele à reivindicação. A assessoria especial para assuntos internacionais da Presidência da República lidera a oposição ao ingresso na OCDE, com o apoio da Casa Civil, do PT e de parte do Itamaraty.
Dentro do próprio governo Lula, apesar da oposição do Palácio do Planalto, há setores favoráveis à adesão, como o Ministério da Fazenda, o do Planejamento e Orçamento, o do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e a Controladoria-Geral da União.
Apesar de a resistência ideológica ter atrasado o processo, o Brasil continua a ter uma relação próxima com a OCDE. O chanceler Mauro Vieira já esteve, por duas vezes, na sede da organização em Paris. Em dezembro, houve a assinatura de um termo na área de integridade da informação, uma setor que o governo Lula, em geral, prioriza. Além disso, muitas instituições, como agências reguladoras (CVM e Cade), TCU e STF, além de governos estaduais, têm contato direto com a organização.
O momento para discutir a entrada ou não do Brasil na OCDE não poderia ser mais oportuno. A mudança a favor do acesso ajudaria a desfazer a percepção no exterior de que Brasília está deixando de ter uma atitude de equidistância nas disputas e tensões entre os EUA e a China/Rússia para se alinhar a um dos lados. O ingresso na OCDE mostraria a independência do Brasil, país ocidental, mas com crescentes interesses na Ásia, em especial no mercado chinês, e indicaria que o assunto é tratado como uma estratégia de Estado, com menos ideologia e mais pragmatismo.
Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), foi embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-2004)

https://www.estadao.com.br/opiniao/rubens-barbosa/entrar-ou-nao-entrar-na-ocde/

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

A foto que Trump gostaria, um novo Yalta

 Estão vendo essa famosa foto abaixo?


Nem precisa explicação.

Trump gostaria de estar presidindo uma nova "divisão do mundo", com Putin e Xi Jinping, uma foto que representaria uma nova ordem mundial, a dos fortes e poderosos: 

Não vai conseguir, não por Putin, que toparia qualquer coisa, mas por Xi, que sabe respeitar a si próprio e a seu país.

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Complemento em 26/02/2025: 

Eis uma tentativa: 



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

'Fator Trump' é 'arma' mais poderosa de Putin nos 3 anos de guerra na Ucrânia - Artur Alvarez (G1)

'Fator Trump' é 'arma' mais poderosa de Putin nos 3 anos de guerra na Ucrânia, dizem especialistas

Investida do presidente dos EUA mudou trajetória do conflito, e Trump pode 'dar a vitória' aos russos em uma guerra estagnada. Conselho de Segurança da ONU vota propostas nesta segunda (24).

Artur Alvarez

G1, 24/02/2025 13h25 


https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2025/02/24/fator-trump-e-arma-mais-poderosa-de-putin-nos-3-anos-de-guerra-na-ucrania-entenda.ghtml


A guerra na Ucrânia, que completa três anos nesta segunda-feira (24), teve sua trajetória alterada pelo “fator Trump”, que se tornou uma "arma" poderosa a favor da Rússia, segundo especialistas consultados pelo g1.

A interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que travou uma negociação direta com os russos sobre o fim da guerra, excluindo Ucrânia e europeus, abalou as estruturas da ordem mundial e aumentou temores da Europa sobre o futuro da geopolítica, disseram ainda os especialistas.

Trump quer rapidez nas negociações por um acordo de paz, mesmo que isso signifique atender às demandas de Moscou — a anexação de 20% do território ucraniano atualmente controlado por tropas russas, e a proibição de que a Ucrânia de entre para a Aliança Militar do Atlântico Norte (Otan).

No entanto, a pressa dos EUA também pode atrapalhar a resolução final do conflito, ainda de acordo com os espcialistas, já que:

  • Um acordo de paz apressado e malfeito pode levar a guerras maiores no futuro;
  • A anexação de territórios pela Rússia com o aval dos EUA viola da Carta da ONU e coloca em xeque outras tensões ao redor do mundo;
  • Putin tem interesse em não parar na Ucrânia caso obtenha alguma vantagem com o atual conflito.

“A paz é desejada, mas ela não pode ser a qualquer preço, porque acordos de paz malfeitos levam a guerras maiores depois”, afirmou ao g1 o professor de Relações Internacionais da UFF e pesquisador de Harvard Vitelio Brustolin.

Ele citou outros acordos malfeitos de Trump. como o da retirada das tropas americanas do Afeganistão, implementado por Biden em 2021 e criticado pela comunidade internacional.

Voltando mais na História, a 2ª Guerra Mundial começou após um acordo de paz malfeitos, segundo Vitelio: o Pacto de Munique, que autorizou anexação dos Sudetos da Tchecoslováquia pela Alemanha de Hitler em 1938 deu o precedente para o ditador nazista fazer novas invasões e dar início ao conflito global meses depois.

Vitória na guerra?

Trump diz que é necessário cessar imediatamente o derramamento de sangue no conflito, que já causou centenas de milhares de baixas de ambos os lados. Para a Rússia, também seria benéfico finalizar o conflito agora.

Segundo especialistas, a Rússia está ganhando a guerra, mas ao mesmo tempo está longe de seus objetivos iniciais e enfrenta dificuldades para manter o conflito, segundo um estudo do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), instituição especializada em guerras.

O IISS afirma que o Exército russo enfrentará “diversas restrições de equipamentos, material humano e econômicas” em 2025, e estima que tenha fôlego para aguentar sustentar a guerra no ritmo atual até 2026.

"A Rússia poderia sair vitoriosa da guerra na Ucrânia se os EUA entregarem a ela uma vitória", disse Brustolin.

O pesquisador de Harvard acha que só o fato de a Ucrânia seguir existindo como país já poderia ser considerado uma vitória de Kiev, que dependeu de ajuda militar e econômica de seus aliados, EUA e UE.

Negociações por terras ocupadas e sobrevivência da Ucrânia

 

Trump está interessado nas terras raras ucranianas, que podem ser uma forma de tirar vantagem econômica do envolvimento indireto dos EUA no conflito. Os EUA tentam impor à Ucrânia um acordo de direitos de exploração, e podem estar negociando as terras com os russos, que ocupam territórios ricos em minérios.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, luta pela sobrevivência da Ucrânia e já admitiu a possibilidade de territórios e até de deixar o cargo em prol de um melhor destino para o país. Zelensky busca garantias de segurança do território ucraniano, que ainda não apareceram nas negociações de terras raras com os EUA.

No entanto, o reconhecimento dos EUA de territórios invadidos pela Rússia seria uma violação flagrante da Carta da ONU, que proíbe guerras de anexação, pontua Brustolin.

“Se os EUA reconhecerem territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia é uma subversão da ordem mundial, porque viola o direito internacional, a Carta da ONU, viola todo o sistema pós-2º Guerra Mundial”, afirmou Brustolin, citando como indício uma fala do secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, na Conferência de Segurança em Munique neste mês.

Segundo o analista de segurança internacional e pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE) Felipe Dalcin, o presidente dos EUA também busca deslegitimar Zelensky por meio de falas públicas para pressionar o ucraniano a aceitar seus termos.

 

Trump já chamou Zelensky de “ditador sem eleições”, falou para ele assinar o acordo “antes que não tenha mais país” e disse que Putin “é quem dá as cartas” nas negociações. Chegou até a dizer que foi a Ucrânia quem iniciou a guerra contra a Rússia, ao contrário do que aconteceu, e que o presidente ucraniano atrapalha o acordo.

Outros interesses do governo Trump por trás das negociações estão uma priorização dos interesses dos EUA, na lógica de “América primeiro”, uma estratégia de usar a Rússia para pressionar a Europa –a gastar mais em Defesa–, segundo Vitelio.

Felipe Dalcin afirma ainda que Trump pode estar pensando ainda mais à frente, em uma disputa de poder com a China ao tentar criar uma relação de proximidade com Putin.

Uma tática similar foi praticada por Richard Nixon, quando se aproximou da China para enfraquecer a União Soviética durante a Guerra Fria.

Expansionismo de Putin e Europa ameaçada

Os países europeus temem que Putin não vá parar na Ucrânia e que a ameaça russa sobre a Europa aumente diante um possível acordo favorável para o fim da guerra na Ucrânia, negociado entre russos e americanos.

“Existe um consenso na Europa de que o Putin não vai parar na Ucrânia, sobretudo se ele tiver o benefício de anexar territórios, porque isso já aconteceu no passado”, disse Dalcin.

 

Esse temor pôde ser visto em falas nos últimos dias dos primeiros-ministros da Dinamarca e da Espanha, endossadas por líderes de outros países europeus.

"A Rússia está ameaçando a Europa inteira atualmente. Não acho que eles vão parar na Ucrânia e estou muito preocupada com um acordo rápido de cessar-fogo porque poderia dar a Putin a oportunidade de se remobilizar e atacar novamente a Ucrânia ou outro país europeu", afirmou a premiê dinamarquesa Helle Thorning-Schmidt.

A UE aumentou em 50% os gastos com defesa desde a ocupação da Crimeia, mas mesmo assim sofrerá gargalos em sua defesa caso os EUA assumam postura mais distante.

Já a Rússia tem tropas ocupando territórios na Georgia, na Abecásia e Ossétia do Sul, além de na Transnístria, na porção leste da Moldávia.

Além da parte militar, também há suspeitas de que Moscou aplica ainda a chamada "ameaça híbrida" contra Ocidente. A suposta participação russa em interferência em eleições de países como a Romênia e a Geórgia e no rompimento de cabos no Mar Báltico, investigado por autoridades nórdicas.

A Rússia tem 2º Exército mais poderoso do mundo, atrás apenas dos EUA. A União Europeia tem gargalos militares por questões econômicas e, nas últimas décadas, sua segurança dependeu dos EUA.

Um relatório do Serviço de Inteligência da Dinamarca (DDIS, na sigla em inglês) divulgado na semana passada afirma que a Rússia pode desencadear uma guerra ampla contra a Europa em cinco anos, com ameaças principalmente aos países da Europa Oriental, caso haja um menor engajamento dos EUA na Otan e na defesa do continente.

Os países bálticos — Estônia, Letônia e Lituânia — se preparam abertamente para uma guerra, reforçando seus exércitos e construindo muros nas fronteiras. Países do leste europeu também têm empregado gastos maiores com Defesa, alguns até chegando aos 5% do PIB, diferentemente de muitos dos Estados da Europa ocidental

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs uma cláusula de emergência que permite aos governos que as despesas militares não sejam contabilizadas em seus limites de déficit orçamentário.

Após reuniões nos últimos dias, os líderes europeus concordaram que é necessário investir mais em Defesa. Trump exige que os países da Otan passem a gastar 5% do PIB para essa finalidade, o que atualmente fica na casa dos 2% em sua maioria.

Por enquanto, alguns países já concordaram em elevar os investimentos a esse patamar de 5%, como a Letônia, a Lituânia e a Polônia.

 

 

Trump diz não ver problema em envio de tropas de paz europeias para a Ucrânia e afirma que 'Putin aceitará'

Trump diz não ver problema em envio de tropas de paz europeias para a Ucrânia e afirma que 'Putin aceitará'

Presidente dos EUA recebe o francês Emmanuel Macron na casa Branca nesta segunda-feira (24) para discutir a guerra no Leste Europeu.

 

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (24) não ver problema em um eventual envio de tropas europeias de paz para a Ucrânia.

Trump, que disse já ter conversado por telefone com o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou ainda que "Putin aceitará" a permanência dessas tropas em território ucraniano. O presidente americano deu as declarações ao lado do francês Emmanuel Macron, a quem recebeu para uma reunião na Casa Branca.

 

Ao longo da guerra da Ucrânia, que completou três anos nesta segunda, Putin disse diversas vezes que consideraria a presença de tropas do Ocidente na Ucrânia como uma declaração de guerra direta.

Neste caso, no entanto, as tropas europeias não lutariam ao lado de soldados de Kiev, mas seriam enviadas para manter a paz no país após um eventual fim da guerra. A intenção de não colocar soldados europeus no front, mas apenas como garantia para o encerramento dos combates, foi confirmada por Macron.

A declaração de Trump é feita dias após o presidente americano ter direcionado declarações ríspidas ao líder ucraniano, Volodymyr Zelensky. Na última quarta (19), Trump chamou Zelensky de "comediante modestamente bem-sucedido" e "ditador", além de fazer ameaças diretas.

Dois dias depois, ele afirmou que a presença de Zelensky na mesa de negociações não era muito importante: "Ele está lá há três anos. Ele faz com que seja muito difícil fechar acordos", afirmou, em uma entrevista.

Zelensky, por sua vez, acusou Trump de exigir US$ 500 bilhões em riquezas da Ucrânia em troca de apoio dos Estados Unidos. O presidente ucraniano afirmou ainda que não poderia vender o próprio país.

Representantes dos EUA e da Rússia chegaram a se reunir na Arábia Saudita para negociar o fim do conflito sem a presença de nenhuma autoridade ucraniana.

 

Reunião de emergência

No último dia 17, líderes europeus já haviam afirmado estar prontos para enviar tropas de paz para a Ucrânia após a assinatura de um acordo de paz entre Moscou e Kiev. O continente demonstrou preocupação com a aproximação entre Donald Trump e Vladimir Putin.

Os europeus defenderam aumentar o gasto militar para se proteger da ameaça expansionista da Rússia, após uma reunião de emergência realizada em Paris.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse estar "pronto e disposto" a enviar tropas britânicas para a Ucrânia como parte de um possível acordo de paz.

O presidente dos EUA, Donald Trump, surpreendeu os aliados europeus na Otan (aliança militar ocidental criada na Guerra Fria para frear a União Soviética) e na Ucrânia no início do mês passada quando anunciou que havia mantido uma ligação com Vladimir Putin sem consultá-los e que iniciaria um processo de paz.

No domingo (23), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse estar disposto deixar o governo de seu país em troca de um fim da guerra na Ucrânia.

Zelensky também condicionou uma eventual saída do cargo à entrada da Ucrânia na Otan. Disse ainda que está disposto a uma saída imediata do cargo e que "não planejo estar no poder por décadas".

A traição americana - Lourival Sant’Anna (Estadão)

 Certas coisas em Trump não pertencem ao campo da racionalidade política e não podem ser explicadas por meio de argumentos apoiados em evidências sólidas e intelectualmente compreensíveis; suas posturas são prejudiciais aos próprios americanos, empresas, consumidores, o país. Avento a hipótese de confusão mental e demência senil. Estou errado? PRA

Lourival Sant’Anna:

“Os movimentos de Donald Trump não podem ser entendidos da óptica convencional da geopolítica. As motivações comuns são o colonialismo mercantilista, a ideologia iliberal e nativista. Depois da 2.ª Guerra, os EUA firmaram alianças com a Europa, Japão e Coreia do Sul para não ter de enfrentar os inimigos em território americano. Ao abandonar os aliados e se unir aos adversários, Trump anula a confiabilidade dos EUA, trai seus interesses e a causa da liberdade.”

Minha coluna no ESTADÃO deste domingo: A traição americana

https://lnkd.in/dc3Km_As 

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Politica comercial de Trump é altamente prejudicial aos EUA - Juliana Machado (Revista Veja)

 A ineficiência do ‘tarifaço’ de Trump, segundo o BofA

Dez economistas assinam relatório sobre o efeito limitado da política comercial para as contas do governo americano

Por Juliana Machado

Revista Veja, 22:02/2025


As tarifas comerciais impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, globalmente podem ter diversos efeitos para as relações geopolíticas, mas uma coisa é certa: elas não vão resolver o déficit comercial ou de conta corrente do governo americano. A opinião consta em relatório do Bank of America (BofA) enviado a clientes.

“Trump acredita nas tarifas como uma primeira linha de defesa”, dizem 10 economistas do banco, em diversos países, que assinam o relatório. “O déficit de conta corrente é um desequilíbrio macroeconômico, impulsionado por um excesso de investimento doméstico em relação à poupança doméstica.”

BofA explica que o problema todo é gerado pela conta de capital, em que os fluxos de capital levam a uma apreciação do dólar e induzem ao déficit. “Se a administração (de Trump) realmente quer lidar com esse desequilíbrio, deveria começar colocando ordem nas contas fiscais — algo que nós não esperamos”, diz o banco.

BofA afirma também que continua vendo as tarifas de Trump como uma “ferramenta para estimular concessões em acordos bilaterais abrangentes”. No entanto, usar as tarifas como forma de diálogo não significa que elas não serão impostas de fato sobre as nações.

Ainda no relatório, o banco diz que não espera tarifas permanentes para o Canadá ou o México. Na Europa, as negociações provavelmente terão como foco setores específicos, como energia e gastos com defesa. No caso da China, porém, o objetivo continua sendo de “dissociação geopolítica e econômica, o que ampara a visão de que as tarifas sobre a China serão permanentes”, ainda que em níveis menores do que o prometido na campanha republicana.

“Alguns países na Ásia, como Índia, Japão, Coreia do Sul e Vietnã parecem estar no topo da lista do governo para potenciais tarifas, segundo nossos especialistas”, diz o BofA.

O relatório também traz comentários a respeito das tarifas recíprocas, aquelas em que os EUA aplicarão taxas a produtos importados de um país na mesma proporção em que os produtos americanos são taxados ali.

“A implementação das tarifas recíprocas foi anunciada para começar em abril ao invés de imediatamente, abrindo margem para negociação. São economias emergentes, como Índia e Brasil, as maiores impactadas por essas tarifas, embora o Japão também esteja no foco”, diz o relatório.


Acordo Mercosul-UE cada vez mais em perigo: condicionalidades agricolas - Marcos Fava Neves Revista Veja

 A força das mídias sociais no agro

O que aprendemos com os casos da Danone, Carrefour e Tereos no Brasil? 

Por Marcos Fava Neves

Revista Veja, 22/02/2025


Nos meses de outubro e novembro de 2024, três executivos de altíssimo nível da Danone (França), Carrefour (França) e Tereos (França) – organizações muito respeitadas e admiradas – fizeram declarações públicas na imprensa e nas redes sociais sob diferentes situações de pressão, afirmando que não comprariam produtos do Brasil (ou do Mercosul). O argumento foi relativamente o mesmo: a questão da conformidade com regras sociais e ambientais, de acordo com a própria avaliação dessas empresas, demonstrando desconhecimento sobre as práticas e exigências para agricultores e empresas que operam no Brasil, a maioria certificada por organizações internacionais.

Essas declarações rapidamente ganharam destaque na mídia global, gerando problemas de imagem para a produção brasileira, já que a força dessas empresas e de suas marcas é impressionante. No Brasil, elas provocaram diversas reações de instituições do agronegócio, fornecedores, compradores e indivíduos, criando problemas para suas subsidiárias no país, prejudicando sua imagem e colocando em risco seu valor e suas vendas. As redes sociais, incluindo Instagram, LinkedIn e grupos de WhatsApp, nesta nova era de comunicação rápida, espalharam a informação rapidamente e causaram grandes danos em um único dia, algo impossível na era dos jornais impressos.

Quando o boicote contra seus produtos começou a crescer, a Danone conseguiu, após quatro dias, acalmar a situação emitindo um comunicado global esclarecendo que houve um mal-entendido na interpretação do que seu CFO (ChiefFinancial Officer) havia dito, reafirmando seu compromisso de comprar do Brasil, a importante do país para o negócio e que a situação estava sob controle, mas que, certamente, gerou aprendizados dentro da empresa.

No caso do Carrefour, após o CEO (Chief ExecutiveOfficer) da rede, Alexandre Bombard, anunciar que não importaria carnes oriundas de países do Mercosul, o movimento de boicote por parte de grandes fornecedores de carne do Brasil tomou forma e levou ao cessamento do abastecimento de carne para as empresas da rede no Brasil (Carrefour, Atacadão e Sam’s Club). A filial do Carrefour no Brasil publicou uma nota de retratação. O CEO se desculpou com uma nota endereçada ao ministro Carlos Fávaro.

Outro caso foi o da Tereos, gigante francesa produtora de açúcar. Olivier Leducq, CEO do grupo, se manifestou nas redes sociais se opondo a possibilidade de assinatura de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, alegando que a medida colocaria em risco a competitividade do setor açucareiro europeu. O diretor ainda disse que a concorrência seria desleal, pois os produtos sul-americanos não respeitam os padrões ambientais e sociais, como os países europeus. Após uma onda de comentários questionando a opinião, o executivo tentou se retratar negando ataques ao agro brasileiro e que sua publicação não diz respeito à qualidade dos produtos brasileiros. Ressaltou, ainda, os altos custos resultantes das exigências impostas aos produtos franceses.

Nós acreditamos em mercados e na liberdade econômica. Qualquer empresa na França, Holanda, Alemanha – ou outros países – tem o direito de buscar fornecedores onde quiser, desde que as regulamentações locais permitam essa liberdade; é o caso dessas três empresas na França. Elas pagam impostos, mas podem comprar de onde quiserem. Se quiserem dar preferência à produção local ou proteger fornecedores nacionais, é algo que entendemos e já opinamos, referindo-se a esse movimento como “compre localmente” ou outros nomes que levam ao mesmo objetivo de estimular o desenvolvimento interno. Muitos supermercados até identificam prateleiras onde os consumidores podem comprar produtos locais. O que deve ser compreendido, no entanto, é que se toda a sua oferta for local e for mais cara (menos competitiva) do que outras fontes internacionais, os consumidores serão forçados a pagar mais, gerando inflação de alimentos. E isso vai contra a liberdade de escolha.

Danone, Carrefour, Tereos e outras empresas respeitadas podem decidir o que quiserem em termos de fornecimento, mas precisam justificar suas preferências e escolhas com argumentos corretos. Basta informar aos consumidores e ao público (mídia) que comprarão apenas da França ou de outros lugares por razões de desenvolvimento local, ou outras justificativas verdadeiras. Quando a escolha é explicada atacando fornecedores, principalmente sem argumentos factíveis, gera-se uma injustiça e danos à imagem e ao trabalho árduo de empresas, pessoas e países.

Para inspirar futuras declarações e entrevistas de executivos de multinacionais ou até mesmo de empresas locais, os aprendizados com esses casos são: a) Seja transparente nos argumentos para justificar suas escolhas; b) Não ataque a produção de nenhum país, pois isso pode levar a generalizações, falta de respeito, injustiças e demonstrar desconhecimento sobre o mercado; c) Caso ataque, entenda que haverá reações de todos os stakeholders (de fornecedores locais a compradores, influenciadores, imprensa e consumidores) e que essas reações serão potencializadas pela incrível força das redes sociais, causando danos às filiais da empresa e à sua imagem. Felizmente, hoje as redes nos apoiam nessa luta contra a desinformação e a defesa da nossa imagem. Torcemos para ver cada vez menos casos como estes daqui em diante, afinal o aprendizado ficou evidente.


Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinícius Cambaúva e Rafael Rosalino.


Empresas japonesas alertam: Trump pode ser um desastre para os negócios - Camila Pati (Revista Veja)

 Empresas japonesas alertam: Trump pode ser um desastre para os negócios

Tarifas mais altas, guerra comercial com a China e ameaças à indústria automotiva estão no centro das preocupações dos empresários japoneses, segundo pesquisa

Por Camila Pati

Revista Veja, 22/02/2025


Nove em cada dez empresas japonesas dizem que as políticas de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos são ruins para os negócios.  A pesquisa divulgada pela Reuters nesta quinta-feira, 20, mostra a crescente preocupação no Japão que é o investidor estrangeiro direto dos Estados Unidos. Tarifas mais altas, guerra comercial com a China e ameaças à indústria automotiva estão no centro das preocupações dos empresários japoneses. O levantamento foi feito pela Nikkei Research,  queentrevistou 233 empresas anonimamente.

Cerca de 86% dos entrevistados disseram que as medidas políticas de Trump teriam um efeito adverso ou ligeiramente adverso em seu ambiente de negócios, enquanto o restante espera um impacto positivo ou ligeiramente positivo.

Desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos, há um mês, Trump impôs tarifas de 25% sobre aço e alumínio, além de 10% sobre produtos chineses, e ameaçou Canadá e México com novas tarifas,  queacabaram suspensas por 30 dias, após acordo. Ele também ordenou planos para tarifas recíprocas contra países que taxam importações dos EUA e medidas contra barreiras não tarifárias.  Nesta quinta-feira, 20, o presidente Lula, em entrevista à rádio Tupi do Rio de Janeiro,  voltou a dizer que se o presidente americano impuser tarifas, o Brasil vai reagir e afirmou que Trump está tentando ser imperador do mundo.

 A percepção negativa das políticas de Trump entre as empresas japonesas aumentou significativamente em relação ao mês anterior, quando o percentual de empresas que viam impacto adverso foi de 73% .

Entre as empresas que veem as políticas de Trump de forma positiva, 37% destacaram a desregulamentação e os cortes de impostos, enquanto outros 37% apontaram o incentivo à produção de combustíveis fósseis. Apesar disso, 16% das empresas adotaram uma postura mais cautelosa em relação a investimentos nos EUA, enquanto 80% não planejam mudanças.


O custo do tarifaço trumpista para as empresas e os consumidores americanos - Márcio Juliboni (Revista Veja)

 Cada emprego criado pela tarifa do aço de Trump, em 2018, custou US$ 380 mil

Em 2018, quando exercia seu primeiro mandato, Trump impôs uma taxa de 25% sobre a importação do aço e preço no mercado americano subiu 19%

Por Márcio Juliboni

Revista Veja, 22/02/2025


O presidente dos Estados UnidosDonald Trump, prometeu novas medidas protecionistas nesta quarta-feira 19. O alvo da vez são as importações de automóveis, semicondutores e medicamentos. O republicano indicou que pode impor tarifas de 25% sobre esses produtos, em linha com as medidas que anunciou nos últimos dias. À medida que assina atos ordenando taxas sobre tudo o que outros países vendem ao país, economistas e empresários americanos temem uma disparada nos custos de produção. Um exemplo do que a ofensiva pode causar é o que ocorreu em 2018, quando Trump, então em seu primeiro mandato, estabeleceu uma tarifa de 25% sobre a importação de aço.

Segundo o centro de estudos Peterson Institute, a medida custou caro aos setores que utilizam o aço em seus produtos. O preço médio da commodity aumentou 19% naquele ano nos Estados Unidos. Como a produção das siderúrgicas americanas cresceu 13,5%, a alta dos preços indica que o setor aproveitou para elevar as margens de lucro. O instituto calcula que a sobretaxa gerou ganhos extras de 2,4 bilhões de dólares às usinas locais. O lucro total do setor saltou mais de 60% naquele ano.

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É verdade que o protecionismo trumpista ajudou o setor siderúrgico dos Estados Unidos a criar 8 700 empregos em 2018. Esta é a parte que os apoiadores de Trump mostram a quem critica as sobretaxas. O outro lado, contudo, é que as tarifas elevaram os custos das empresas que utilizam aço em seus produtos. O Peterson Institute estima que, naquele ano, as companhias nessa situação pagaram 5,6 bilhões de dólares a mais para suprir suas necessidades.

Feitas as contas entre os lucros gerados para a siderurgia americana e os custos extras dos setores que dependem da commodity, o Peterson Institute calcula que cada emprego criado pela tarifa do aço, em 2018, custou aos consumidores americanos 380 000 dólares. Não é por acaso, portanto, que, tempos depois, Trump trocou as sobretaxas por um sistema de cotas de importação de produtos siderúrgicos.

O fantasma da inflação é o que mais assusta os economistas críticos à guerra comercial deflagrada pelo republicano. Após anunciar, no mês passado, o estabelecimento de uma taxa de 25% sobre todas as importações provenientes do Canadá e do México – posteriormente adiada por 30 dias -, Trump voltou ao ataque na semana passada. Na segunda-feira 10, assinou uma ordem revogando o sistema de cotas e restabelecendo a cobrança de 25% sobre todo o aço e alumínio importado pelos Estados Unidos. A medida entrará em vigor em 12 de março, e o Brasil deve ser um dos mais penalizados, já que é o segundo maior fornecedor de aço para os americanos, atrás apenas do Canadá.

Na última quinta-feira, 13, o republicano reforçou a investida ao assinar um memorando determinando que diversos órgãos do governo federal analisem as disparidades entre as taxas cobradas pelos Estados Unidos sobre os produtos que importa, e as que o país paga para exportar para seus parceiros comerciais. O objetivo é estabelecer reciprocidade tarifária, igualando as tarifas. O etanol de cana de açúcar brasileiro será um dos mais afetados pelas tarifas recíprocas, e foi usado como exemplo por Trump na ocasião. Enquanto o produto brasileiro paga uma taxa de 2,5% para entrar nos Estados Unidos, o etanol de milho americano é taxado em 18% pela alfândega verde-amarela.


 

Acabou o multilateralismo e a não-proliferação; agora é a vez da truculência dos poderosos e dos nucleares - Augusto de Franco (revista ID)

 Para quem queria realismo, eis aí: o prato está quase cheio

Você duvida? Voltamos a conversar daqui a dois anos



A essa altura já é possível ver que Trump não está brincando, nem blefando, que ele não está apenas ameaçando como técnica de negociação para depois voltar atrás levando vantagem. As pollyannas acham que, passado o atual período em que Trump tem que dar satisfação aos seus eleitores mais radicalizados, as coisas vão voltar ao normal. Não vão. Trump deu uma guinada autoritária e está levando (quase) o mundo todo junto.

Muitas pessoas, porém, ainda não entenderam que Trump não é isolacionista. É o contrário. Ele é intervencionista. Nenhum presidente americano tentou interferir em outras partes do mundo em tão pouco tempo.

Mas essas pessoas, em geral, são negacionistas. Negam realidades que possam lhes causar desconforto emocional. Diante das investidas de um autocrata, repetem sempre as mesmas avaliações furadas: "É pura retórica". "É só bravata". "É apenas tática de negociação". "Logo, logo, vai voltar atrás".

A dura realidade deve ser encarada como é. As democracias liberais devem se preparar para viver num mundo onde os EUA não são mais aliados, mas inimigos. Para todos os efeitos práticos os EUA sob domínio MAGA devem ser considerados como fazendo parte, objetivamente, do eixo autocrático. As democracias liberais devem se armar (inclusive com armas nucleares), conquistar autonomia energética (inclusive com usinas nucleares) e investir em tecnologia de ponta - em inteligência artificial, biologia sintética e infraestrutura de comunicação (inclusive por satélite). Para tudo isso, devem configurar ambientes de pesquisa e inovação capazes de atrair cérebros de todas as partes do mundo. 

O cenário global mudou. Infelizmente. O tratado de não proliferação de armas nucleares (de 1970) faz parte de um mundo que não existe mais. As armas nucleares estão nas mãos, majoritariamente, de ditaduras como Rússia, China, Índia, Paquistão, Coreia do Norte (e, provavelmente, em pouco tempo, Irã). Do lado das democracias tinhamos apenas EUA, França, Grã-Bretanha e Israel. Agora, com os EUA não podendo mais cumprir o papel de defesa do mundo livre, esse tratado dá vantagem ao eixo autocrático contra as democracias. Não faz mais sentido que Coreia do Sul, Taiwan e Japão não tenham armas nucleares para dissuadir invasões da Coreia do Norte e da China. Se a OTAN, sabotada pelos EUA, não vai defender a Ucrânia, a Moldávia, a Romênia, a Georgia, a Lituânia, a Letônia, a Estônia, a Finlândia, a Suécia e a Polônia, então esses países precisam ter como se defender da Rússia.

“Ah! Mas isso vai reeditar a corrida armamentista”. Pois é. Não foram as democracias liberais que provocaram essa situação. Quem deve ser responsabilizado por tal regressão são os EUA e o eixo autocrático, agora objetivamente alinhados.

As cerca de trinta democracias liberais que restaram devem também consolidar uma coalizão em defesa do mundo livre, apoiar a integridade da União Europeia e defender a Ucrânia - que jamais deve se ajoelhar, haja o que houver, pois não é a Europa que está protegendo a Ucrânia e sim o contrário.

Como escrevi há mais de seis meses,

“União Europeia, Reino Unido, Noruega, Suíça, Canadá, Barbados, Costa Rica, Suriname, Chile, Uruguai, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Israel, Austrália e Nova Zelândia, sem abandonar a ONU atual, têm que liderar agora uma espécie de "Organização das Nações Democráticas Unidas", atraindo dezenas de países em transição democratizante (que ainda podem ser chamados de democracias, conquanto defeituosas ou apenas eleitorais) para essa articulação.

Isso deve ser feito antes que esses países sejam capturados pelo eixo autocrático (como já está acontecendo com os regimes eleitorais parasitados por populismos, a saber: México, Colômbia, Honduras, Bolívia, Brasil, África do Sul e, talvez, Indonésia).

Na pauta deve estar o fortalecimento da União Europeia, o apoio político, financeiro e militar à Ucrânia, o apoio às sanções a Putin, o apoio à democracia israelense (não ao governo Netanyahu), a condenação do terrorismo do Hamas, Hezbollah e IRGC (Guarda Revolucionária Iraniana), o repúdio ao antissemismo (ainda que disfarçado de antissionismo), a defesa de Taiwan contra a invasão da ditadura chinesa e, sobretudo, a auto-defesa (das democracias liberais) contra as investidas do eixo autocrático (Rússia, China, Coreia do Norte, Irã, provavelmente Turquia, Hungria, Síria e outras ditaduras e grupos terroristas do Oriente Médio, da Ásia e da África, talvez Bharat, Cuba, Venezuela e Nicarágua).”

Enquanto isso, antes que seja muito tarde, núcleos de resistência ao projeto autocratizante de Trump devem se formar em todos os lugares e setores dos EUA. 

Aos que acham que estou exagerando, digo apenas o seguinte. Voltamos a conversar daqui a dois anos.

Isso é o mais puro realismo, embora saibamos que todo realismo político é autocrático. Por isso costumo dizer que quando um realista pronuncia a palavra ‘democracia’ é bom se esconder da polícia. E quando fala a palavra ‘paz’ é melhor correr logo para um abrigo antiaéreo. Mas para quem queria realismo, eis aí. O prato está quase cheio.

Revista ID é uma publicação apoiada pelos leitores.