O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 2 de julho de 2011

A curiosa economia politica do Planalto, alias bizarra...

Estou preocupado com a compreensão (ou falta) que gente do Palácio do Planalto exibe em relação a temas corriqueiros da economia, por vezes até nem de economia -- vocês sabem, essa coisa de fazer contas -- e simplesmente de conhecimento sobre como funciona (ou não) o governo, de quais recursos ele dispõe, de onde saem esses recursos e o que fazer com eles.
Estou até pensando em mandar alguns dos meus manuais de economia -- nada de muito complicado, nenhuma teoria econômica, apenas introdução à disciplina para não economistas -- para o Palácio do Planalto, especificamente para a nova ministra da Casa Civil, para ver se ela aprende um pouco nos próximos meses.

Vejamos. Quando ela ainda era senadora, a atual titular da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, disse que o generoso gesto do Brasil em triplicar os pagamentos ao Paraguai, mediante a revisão do acordo de Itaipu, não iria custar nada aos brasileiros, pois o dinheiro não seria obtido pela revisão das tarifas e aumento da nossa conta de eletricidade, mas que era o Tesouro que iria pagar!!!???
Confesso que não entendi.

Agora, a respeito dessa operação maluca no setor varejista, envolvendo franceses (nossos aliados estratégicos, como se sabe) e brasileiros, ela, ela mesmo, agora já ministra-chefe (chefe?; talvez chefa, para imitar a presidenta), reincidiu na sua estranha economia politica, dizendo que não seria usado dinheiro público na transação!!!???

Eu me pergunto com que tipo de recursos trabalham o BNDES e o BNDESPar, seu braço de investimentos? Seria com recursos privados, que eles vão buscar no mercado financeiro?

Preciso selecionar alguns livros de economia pública...

Paulo Roberto de Almeida

ABRI: encontro em SP e eleicoes para nova direcao

Deverá realizar-se em SP, na terceira semana de julho, mais um encontro da Associação Brasileira de Relações Internacionais. Na ocasião será eleita uma nova direção para a entidade.
Abaixo as propostas da chapa Autonomia e Excelência, que podem ser lidas neste blog:

Autonomia e Excelência

A nossa proposta para a ABRI
Posted on 01/07/2011

No próximo encontro da ABRI, será eleita a nova diretoria para o período 2011-2013. Nesse sentido, gostaríamos de lhes apresentar nossa chapa, constituída a partir de uma posição consensual entre sócios da ABRI, diversos programas de pós-graduação e cursos de graduação, em torno de dois princípios que devem sustentar o processo de construção da Associação e do campo das Relações Internacionais: a autonomia e a busca por excelência.

Compreendemos que com a criação da ABRI em setembro de 2005 demos um grande passo para a construção das Relações Internacionais no Brasil como um campo de conhecimento autônomo. Àquela altura, avaliava-se que, a despeito da grande expansão do campo, professores e pesquisadores vinculados aos programas de pós-graduação, cursos de graduação e centros de pesquisa careciam de um espaço autônomo de intercâmbio acadêmico-científico e de expressão de suas demandas institucionais e políticas. Entre 2005 e 2010, as perspectivas de expansão da área se confirmaram, desenhando um quadro composto, hoje, por cerca de 100 programas de graduação e 13 de pós-graduação (compreendendo 13 cursos de mestrado e 6 cursos de doutorado), sem contar os programas que possuem áreas de concentração ou linhas de pesquisa em Relações internacionais. Tais números confirmam a pujança da área em termos do crescente interesse pelas relações internacionais e de uma conseqüente demanda por formação profissional.

O crescimento da área confirma a necessidade de consolidação das RI como um campo de conhecimentos autônomo e da ABRI como um fórum independente de debates acadêmicos e de articulação de demandas institucionais, com vistas à consolidação de padrões de excelência consistentes com as demandas e responsabilidades que lhe são atinentes. Nesse sentido, acreditamos que a busca de autonomia e excelência que conduziu à criação da Associação deve ser reafirmada como princípio orientador das atividades e do posicionamento público da ABRI. Naturalmente, a afirmação e defesa da autonomia da área de Relações Internacionais e da ABRI não devem prejudicar nosso diálogo fraterno com outras áreas nem, tampouco nossa capacidade de articulação com outras associações irmãs no Brasil e no exterior. A construção das Relações Internacionais como campo de conhecimento autônomo e da ABRI como uma Associação independente supõe três movimentos combinados:

1. Autonomia: reconhecer a diversidade e estimular a pluralidade

O reconhecimento da diversidade do campo de estudos das RI, tanto no que respeita à variedade de orientações teórico-metodológicas de seus “programas” e projetos de pesquisa, quanto no que concerne à heterogeneidade de posicionamentos políticos de seus pesquisadores é uma condição para a construção de uma associação plural e democrática. A diversidade do campo não deve ser tomada como problema, senão como sinal de seu vigor intelectual. Nesse sentido, a ABRI deve, no melhor espírito republicano e consoante o princípio elementar da honestidade acadêmica, contribuir para fazer vicejar a diversidade e buscar descrevê-la e representá-la em suas atividades.

Acreditamos que, desde sua fundação, a ABRI desempenhou esse papel, incentivando a presença das mais diversas orientações em seus encontros e pautando seu posicionamento público na prática da consulta a pesquisadores e programas e na busca pelo entendimento. Assim, seguindo o caminho até aqui palmilhado, propomos:

(i) Incentivar e facilitar a criação de novos canais horizontais de consulta e articulação entre os programas de pós-graduação em Relações Internacionais e fortalecer os mecanismos já existentes. Nesse contexto, a ABRI, reconhecendo e respeitando a autonomia e a diversidade dos programas, deve facilitar e apoiar a construção do fórum de coordenadores de programas de pós-graduação em Relações Internacionais. Tal mecanismo é essencial para o posicionamento da associação não apenas diante das agências estatais, como também em face de entidades civis e, particularmente das associações científicas nacionais e estrangeiras;

(ii) incentivar o diálogo e a cooperação entre os cursos de graduação em Relações Internacionais através do apoio ao fórum de coordenadores de cursos de graduação, cuja primeira reunião, encontra-se prevista para o próximo encontro;

(iii) incentivar o intercâmbio de experiências e o fortalecimento de nossos periódicos através da criação do Fórum de editores de periódicos científicos;

tais fóruns deverão contribuir para:

(iv) qualificar e ampliar a participação da ABRI junto às agências de fomento e avaliação, particularmente a CAPES, o CNPq, e o INEP.

(v) fortalecer e aprofundar os laços com associações científicas brasileiras e estrangeiras com quem devemos trabalhar cooperativamente, observando, contudo as especificidades e autonomia do campo das Relações Internacionais e a independência de nossa Associação.

2. Excelência: fortalecer a graduação e a pós-graduação e contribuir para a formação científica e profissional

Ainda consoante o espírito da fundação da ABRI, acreditamos que a Associação deve contribuir para o fortalecimento de seus cursos de graduação e seus programas de pós-graduação. Nossa proposta pretende dar prosseguimento e aprofundar as ações que tiveram lugar nos últimos anos, através do incentivo ao debate de padrões de qualidade para nossas graduações, do estímulo à criação de canais horizontais de consulta, articulação e cooperação entre os programas de pós-graduação e cursos de graduação e, finalmente, de apoio à pesquisa e à produção acadêmica, nos limites que cabem à uma associação científica. Para tanto, acreditamos que a ABRI deve:

(vi) Executar no próximo período a decisão já tomada no âmbito da atual diretoria de criação de uma revista científica da associação;

(vii) Criar prêmios que reconheçam a excelência da produção científica no campo das Relações Internacionais, nos níveis da graduação (iniciação científica), mestrado (dissertações) e doutorado (teses)

(viii) criar oportunidades de debate acadêmico entre estudantes, professores e pesquisadores vinculados a programas de pós-graduação através da promoção de Seminários de pós-graduação e workshops doutorais;

(ix) facilitar e apoiar iniciativas de cooperação entre programas de pós-graduação com vistas à construção de projetos de ensino e pesquisa comuns;

(x) Fortalecer o Seminário Nacional de Graduação em Relações Internacionais – cuja 1a edição teve lugar em 2010 – como instância para a promoção de padrões de qualidade para os cursos de graduação e debate acerca da formação profissional no campo das RI;

(xi) Incentivar a cooperação entre os cursos de graduação através da promoção da pesquisa nacional de egressos e do intercâmbio de experiências de ensino e iniciação científica;

3. Autonomia, Excelência e independência: ampliar a presença da ABRI nos debates de temas da Política Internacional

A construção de um campo de conhecimento autônomo e de uma associação independente, supõe, finalmente, maior participação da ABRI e de seus associados nos debates públicos em torno dos problemas internacionais que afetam a sociedade brasileira. Para tanto, acreditamos que a ABRI deve dar os primeiros passos no sentido da constituição de arenas de discussão que permitam o diálogo entre a comunidade acadêmica, os profissionais de relações internacionais e os diversos atores sociais envolvidos nos processos de tomada de decisão acerca dos temas que compõem a agenda internacional do Brasil. Nessa direção propomos:

(xii) a criação de grupos de trabalho, no interior da Associação, para o debate de temas relevantes das Relações Internacionais do Brasil;

(xiii) a participação em, e eventual criação de, arenas interdisciplinares e inter-institucionais para o debate de temas relevantes das Relações Internacionais do Brasil;

(xiv) dar maior publicidade aos debates promovidos no interior da Associação ou pelos diversos programas da área acerca dos grandes temas da agenda internacional.

A construção de um campo de conhecimentos autônomo, de uma Associação independente e, finalmente de padrões de excelência consistentes com as responsabilidades impostas ao profissionais de relações internacionais e à nossa comunidade acadêmica, exige o aprofundamento e a ampliação das atividades da ABRI.

O seu apoio e participação são indispensáveis para esse projeto.

A chapa Autonomia & Excelência é formada por professores universitários de diversas instituições brasileiras e de diferentes tradições científico-acadêmicas da área. Na chapa está representada a diversidade regional da graduação e da pós-graduação em Relações Internacionais. O nosso time é formado por:

Diretoria Executiva:
Presidente – Paulo Lavigne Esteves – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RIo;
Secretária-geral – Matilde de Souza – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-Minas;
Secretário-adjunto – Antônio Carlos Lessa, Universidade de Brasília – UnB;
Tesoureiro - Carlos Enrique Ruiz Ferreira, Universidade Estadual da Paraíba – UEPB;

Diretores:
Eduardo Viola, Universidade de Brasília – UnB;
Gunther Rudzit, Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP;
Paulo José dos Reis Pereira, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP;
Carlos Arturi, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

Conselho Fiscal:
Danny Zahreddine, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-Minas;
Francisco Gomes Filho – Universidade Federal de Roraima – UFRR.

Wikileaks-Brasil: China pensa que Brasil nao tem peso internacional

Estou terminando a revisão de um trabalho meu que escrevi há mais de um ano (e que ainda não foi publicado): "Brasil, China e a arquitetura da governança global"

A matéria abaixo (e o telegrama transcrito) sobre opiniões de um ex-embaixador da China no Brasil sobre nosso pequeno peso internacional apenas confirma, de modo mais explícito, o que já se sabia: a China não pretende apoiar o Brasil em sua pretensão de ocupar uma cadeira permanente no CSNU. Este nem é o problema principal, pois a China não pretende ampliar o CSNU para ninguém, pois isso diminuiria relativamente seu próprio peso internacional. Se trata, obviamente, de uma posição conservadora, como é, geralmente a das grandes potências (apenas quando elas não conseguem mais pagar a conta, como parece ser o caso dos EUA, atualmente, elas pretendem que outros o façam), e no caso da China, ela pouco se preocupa com a estabilidade do sistema internacional, e não pretende assumir um papel que a engaje mais de perto com certas responsabilidades "imperiais", digamos assim.
No caso do Brasil, porém, ela apenas explicita o que pensam de nós muitos imperiais e outros menos imperiais: não temos peso, ainda.
Pois é, parece que a solução mesmo é: cresça e apareça, mas isso não depende do mundo. Depende de nós mesmos, ou seja de reformas internas e de crescimento econômico e militar. A China só é o que é, hoje, por se tratar, de fato, de uma grande potência (já era antes, mas decaiu durante dois séculos), que cresceu enormemente nas últimas três décadas e vem se afirmando cada vez mais nos planos econômico e financeiro. Falta se afirmar no plano militar, mas isso assusta muita gente...
Paulo Roberto de Almeida

A) Matéria da Agência A Pública, sobre telegrama Wikileaks, sobre relações China-Brazil (neste link):

WIKILEAKS: China pensa que Brasil não tem “capacidade” para ser líder
Por João Peres, especial para a Pública, June 29th, 2011

Telegramas revelam conversa entre embaixadores da China e dos Estados Unidos na qual se pondera que o Brasil tampouco está qualificado para um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU

Segundo o ex-embaixador chinês no Brasil, a China acredita que o Brasil não tem “capacidade e influência” para ser líder e que as ambições do país excedem seu verdadeiro peso no cenário internacional. Telegramas de agosto de 2008 obtidos pelo Wikileaks mostram a conversa de Chen Duqing, que ficou no cargo até 2009, com o ex-embaixador dos Estados Unidos, Clifford Sobel.
Àquela ocasião, Duqing manifestou a Sobel que o Brasil não estaria qualificado para suas aspirações de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e estava “interessado apenas em algumas áreas, e não em paz ou em segurança”.
Para Paulo Vizentini, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é preciso fazer a ressalva que a afirmação foi feita em 2008, começo da grande crise financeira que catalisaria as mudanças no quadro geopolítico internacional – e o Brasil ganhou força. Porém, admite ele, “o Brasil demonstra uma série de fragilidades quanto a seu projeto. Não temos um pacto de poder mínimo que assegure uma agenda comum que sobreviva a mudanças de governos”.
Conselho de Segurança
Em outro telegrama, os Estados Unidos ponderavam que a principal relutância chinesa quanto à reforma no Conselho de Segurança dizia respeito à possível entrada do Japão no conselho. Para os diplomatas, se a China apoiasse o Brasil em seu antigo anseio por uma inserção mais profunda no principal organismo multilateral, estaria por tabela beneficiando os rivais asiáticos. “Pode haver uma manobra chinesa no sentido de não deixar ninguém entrar. É fato que a China tem ficado incomodada com a reaproximação entre Japão e Estados Unidos”, pondera o professor.
A questão foi parcialmente alterada este ano, quando, em viagem a Pequim, a presidenta Dilma Rousseff conseguiu a inclusão, no comunicado bilateral, do apoio chinês a uma reforma no Conselho de Segurança para incluir nações emergentes. Falta obter, por parte da China, dos Estados Unidos e da própria ONU, uma defesa enfática do direito do Brasil de ingressar no órgão multilateral mais importante do mundo.
No campo interno, o embaixador chinês criticava os problemas de infraestrutura, classificando o porto de Santos como “o pior do mundo”. Ele apontou na conversa com Sobel que a burocracia nacional é muito confusa e que há uma sobreposição de funções. Para Duqing, merece especial atenção o fato de o Brasil não ter consolidado suas bases para dar conta de um desenvolvimento prolongado, indicando que, sem mais crescimento econômico, não se consolidará a meta de reduzir a desigualdade social.
Parceiro importante, parceiro ocasional
Em diversos telegramas, os diplomatas estadunidenses avaliam que o Brasil vê a China como um aliado fundamental, mas advertem que a relação não é marcada por reciprocidade. “O governo Lula considera a China um parceiro para contrabalancear a influência de nações mais ricas em instituições multilaterais”, anota a então embaixadora, Donna Hrinak, em despacho de 14 de maio de 2004 no qual resume, em poucas palavras, a tônica desta relação bilateral: “Para o Brasil, mesmo um casamento de conveniência é preferível a um eterno encontro”.
Naquele momento, chamava atenção a viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia realizado à nação asiática acompanhado por uma enorme delegação de 400 empresários. Os telegramas indicavam que a relação era desigual em termos de trocas comerciais, com envio de commodities brasileiras em troca de produtos industriais chineses.
Dados divulgados em abril pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) constatam que a desigualdade se aprofundou, e atualmente 86% da exportação brasileira ao parceiro é baseada em produtos primários.
Desconfianças de parte a parte
“Este é um grupo muito heterogêneo de países com diferentes metas”, anotava em 19 de fevereiro de 2010 o subsecretário-geral de política do Itamaraty, Roberto Jaguaribe, em conversa com o embaixador Thomas Shannon, na qual confirmava que a China não queria que o BRIC se transformasse em porta-voz das nações em desenvolvimento.
Na mesma conversa, o diplomata estadunidense demonstrava surpresa com a rapidez com que a China se engajou em negócios na América do Sul, passando de um envolvimento meramente econômico a uma relação política que se aprofundava constantemente. “China será uma forte concorrente, para os Estados Unidos e para o Brasil”, advertia Shannon, segundo telegrama de 22 de abril de 2008.
Os documentos são parte de 2.500 relatórios diplomáticos referentes ao Brasil ainda inéditos, que foram analisados por 15 jornalistas independentes e estão sendo publicados nesta semana pela agência Pública.

Esse posts foi publicado em Wednesday, June 29th, 2011 at 3:13 pm. Está arquivado como +. Você pode acompanhar quaisquer respostas a esse post através do RSS feed.
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B) Telegrama da Embaixada dos EUA em Brasilia (1/08/2008), sobre conversa do Embaixador Sobel com Embaixador da China, Chen Duqing (neste link):

08BRASILIA48
136585 1/8/2008 13:01 08BRASILIA48 Embassy Brasilia CONFIDENTIAL
C O N F I D E N T I A L SECTION 01 OF 03
BRASILIA 000048
SIPDIS
SIPDIS E FOR TOM PIERCE; EPSC FOR LISA KUBISKE
E.O. 12958: DECL: 01/07/2018
TAGS: ETRD, EINV, PREL, BR, CH
SUBJECT: CHINESE AMBASSADOR DISCUSSES HIS PRIORITIES, BRAZILIAN ASPIRATIONS
REF: A. STATE 164790
B. SAO PAULO 718
C. BRASILIA 918
D. RIO DE JANEIRO 598
E. BRASILIA 990
Classified By: Ambassador Clifford Sobel, reasons 1.4 b and d.

1. (C) Summary. Chen Duqing, Chinese Ambassador to Brazil, told Ambassador Sobel on October 19 that his top priorities are to create a more favorable environment for economic relations and to promote Chinese interests in the Brazilian Congress. Ambassador Chen described an economic relationship of growing bilateral trade and investment characterized by an unbalanced exchange of finished industrial goods from China for Brazilian raw materials, and said Brazilian political international ambitions exceed Brazil’s political weight. End summary.

2. (C) Chen told Ambassador Sobel that he travels extensively throughout Brazil in pursuit of his top priority of creating favorable conditions to increase the trade relationship, mainly to Rio de Janeiro and Sao Paulo, but also to northern states such as Para. He is increasing his ability to pursue his other top priority by adding a counselor to his staff to work full-time on congressional engagement.

“Brazil Must Open Its Mind More” – - – - – - – - – - – - – - – - -

3. (C) Sino-Brazilian relations are getting to be quite good, he explained, even if the only important Chinese visitor this year was the then-Deputy Foreign Minister (now Foreign Minister). But an outdated view of the Chinese political system blurs Brazil’s perception of China and “Brazil must open its mind more,” he said. The Chinese Communist Party was now taking historic steps at its National Congress, as President Hu noted when he said that China must be more open, and Brazil needed to understand this change, Chen stated. (Note: The 17th National Congress of the Communist Party of China took place October 15-21, 2007. End note.)

Trade and Investment – - – - – - – - – - -

4. (C) China would soon pass Argentina and Germany to become Brazil’s number two trading partner, after the U.S., Chen noted, offering a figure of two-way Chinese trade with Brazil at USD 20 billion in 2006. (Note: Chinese Foreign Ministry officials cited the same bilateral trade figure at the U.S.-China Sub-Dialogue on Latin America in late November, as reported ref A. According to the Sao Paulo State Federation of Industries, total bilateral trade in 2006 was USD 16.4 billion, as reported ref B. End note.) China’s exports to Brazil are mainly finished goods, especially electronics; Ambassador Chen said Brazil complains of dumping, but Chen added that “this is part of our process of increasing our relationship,” implying Brazilian dumping accusations are a natural part of a growing trade relationship.

5. (C) Brazil’s top exports to China are soy and iron ore. Seventy million tons of iron ore and 11 million tons of soy a year go to China, according to Chen, and China always runs a trade deficit with Brazil, now at about USD 4 billion a year. (Note: China buys about a third of Brazil’s iron ore exports, introducing “an obvious vulnerability” for Brazil, according to the November 2007 issue of Brazil Focus, published by Menas Associates, www.menas.co.uk. Ref C reported Brazilian mining executives’ concerns about China’s influence over Latin American natural resources. End note.)

BRASILIA 00000048 002 OF 003

Chen said that if you calculate undercounting on the Brazilian side the deficit is even greater. His principal concern about the economic relationship is that “Brazil has not consolidated its basis for more development” because “without more economic growth, it will not achieve greater income distribution.” He noted Brazil’s poor infrastructure, calling Santos the “world’s worst port,” and said China is interested in railroad projects in Brazil. Chen said Brazilian bureaucracy is “confused” and has no model, in comparison with China’s, where top bureaucrats must go through the Central Committee Party School.

Major Steel Investment – - – - – - – - – - – -

6. (C) Chen told Ambassador Sobel that China had signed a major joint venture agreement on October 3 with the Companhia Vale do Rio Doce (CVRD, now “Vale”) to construct a steel plant in Vitoria, Espirito Santo, making China a majority partner in the Companhia Siderurgica de Vitoria (CSV) with an investment of USD 5.5 billion (ref D). Chen said China would like to make more such investments, but there is political resistance in some circles in Brazil. (Note: Ref E reported Brazilian fears of China. Nonetheless, Brazilian leaders continue to court Chinese investment. Bahia governor Jaques Wagner led a trade mission November 15-25 to China in search of investment in tourism, ports, railroads, mining, ethanol, and semiconductors. Also in November, Amazonas Governor Eduardo Braga and a large entourage embarked on a 20-day Asian trade and investment mission to Japan, China (including Macau), Malaysia, and Indonesia. A Chinese trade and investment mission to Amazonas in 2008 was announced during Braga’s visit to China. End note.) In the northeast of Brazil, for example, Chen continued, there are many opportunities, but China will limit itself to equipment sales. Moreover, in spite of the large size of many Brazilian firms, there is little money for equipment purchases and Brazilian importation of Chinese goods became somewhat more difficult after China increased the exchange rate value of its currency 8.27 percent, he noted. China cannot revalue its currency as fast as the U.S. would like because it will produce a negative impact on the Chinese economy, Chen added.

7. (SBU) China’s domestic steel production accounts for the majority of China’s needs, but China must import certain specialized steels. The trade with Brazil has not grown in the last 20 years and remains at about 30 million dollars a year, according to Chen. (Note: According to the Brazilian Institute of Steel, 2006 Brazilian exports of steel and steel products to China were USD 52.7 million (66,628 metric tons) and have dropped significantly since 2005. Conversely, Brazilian imports of Chinese steel have increased from USD 27.5 million in 2005 to USD 92.7 million in 2006. End note.)

Biofuels – - – - -

8. (SBU) Asked about Chinese interest in Brazilian biofuels, Chen replied that China produces its own biofuel and does not buy any fuels from Brazil, only some heavy oil.

Brazilian Leadership Aspirations – - – - – - – - – - – - – - – - -

9. (C) Ambassador Chen said he has observed the growth in the U.S.-Brazilian bilateral relationship over the last year, and understands that Brazil wants to be a leader, but it has “no capacity or influence.” Chen dismissed Brazil’s UN Security Council aspirations, saying it is not qualified, and is “interested in only some areas, and not in peace and security.”

BRASILIA 00000048 003 OF 003

Biographical notes – - – - – - – - – -

10. (SBU) Ambassador Chen said he has never been on an official visit to the U.S. and has spent most of his career in lusophone assignments. He began his career in Brazil in 1974, and returned in the period 1981-84. He was Ambassador in Mozambique, and came to Brazil after a year and a half assignment in East Timor. He said he is 60 years old, can retire at any time, and will finish his career in Brazil. He speaks English. Sobel

Curso “A ordem global e a Inserção Internacional do Brasil” - PRAlmeida (ESPM-SP)

Curso “A ordem global e a Inserção Internacional do Brasil”
ESPM-SP, 18-22/07/2011

Os principais problemas e temas relevantes da agenda diplomática internacional, bem como o posicionamento do Brasil em relação a cada um deles serão enfocados no curso que o diplomata e professor Paulo Roberto de Almeida dará na ESPM em São Paulo, no período de 18 a 22 de julho de 2011.
Trata-se de um curso de férias, com 15 horas-aula (mais apostila e outros materiais complementares de estudo), cujas informações podem ser acessadas neste link:
http://www.espm.br/ConhecaAESPM/Cursos/Pages/DetalheCurso.aspx?codCurso=1062&Ferias=1&CodUnidade=1&NivelEnsino=6

Maiores informações pelo telefone (11) 5085-4600, ou pelo e-mail: centralinfo@espm.br

As inscrições podem ser feitas neste link:
http://securityserver2.espm.br/eventos/servlet/hweevn?1,1

A programação do curso está em: http://www.espm.br/Upload/Cursos/1062.pdf
e sua estrutura resumida é a seguinte:

A Ordem Global e a inserção internacional do Brasil
1. A ordem política mundial do início do século XXI e o Brasil
2. A ordem econômica mundial e a inserção internacional do Brasil
3. Economias emergentes no contexto mundial: desafios e perspectivas
4. O Brasil no contexto dos Brics: anatomia de um novo grupo
5. O regionalismo sul-americano e o papel político-econômico do Brasil

(esquema completo neste link)

Paulo Roberto de Almeida é Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas (1984), Mestre em Planejamento Econômico pela Universidade de Antuérpia (1977) e diplomata de carreira. Professor de Economia Política Internacional no Mestrado em Direito do Centro Universitário de Brasília – Uniceub – e autor de diversos livros na área (www.pralmeida.org)

Emergencia do Brasil no cenario internacional - o caso da FAO

Poucos comentários a este artigo de Esteban Actis.
Creio que ele exagera nas implicações importantes para as relações internacionais. Afinal de contas, a FAO já foi liderada por um africano, o senegalês Diouf, por doze anos, e não parece estranho que um representante de outro país em desenvolvimento tenha sido eleito para o cargo. Apenas confirma que o tema atrai consumidores ou produtores de alimentos.
O autor está completamente enganado quanto a que o Fome Zero se aplica no Brasil: ele foi, de fato, concebido por Graziano, mas sobre a base de preconceitos políticos, mais do que sólidas análises econômicas, e foi um completo fracasso, assim como foi um completo fracasso a tentativa da diplomacia lulista de transformar o Fome Zero brasileiro em Fome Zero universal. O fato de que se continue a falar do Fome Zero, como se fosse algo existente, tangível ou que tenha tido sucesso se deve inteiramente à propaganda de Lula e seu governo, estas sim imbatíveis, mas que constroem sobretudo sobre mentiras, não sobre fatos.
O autor também se engana em achar que isso transforma as relações internacionais. Se o mandato de Diouf não mudou absolutamente nada nas relações internacionais, porque o mandato de um outro representante de país em desenvolvimento iria mudar as relações internacionais? O poder internacional se expressa na capacidade de projeção externa, no plano da segurança e das relações econômicas fundamentais: comércio, finanças, investimentos. Se e quando o Brasil for influente nessas áreas, será porque ele se integrou ao mainstream dessas relações, não porque elas se tenha transformado apenas por causa de sua integração.
É lamentável que o Brasil não tenha apoiado o candidato mexicano, que seria mais suscetível de realmente mudar o FMI do que a candidata francesa. Ou seja, neste caso, a postura do Brasil estava completamente errada, e foi adotada porque, por razões puramente políticas ou ideológicas, achava o candidato mexicano -- saído da escola de Chicago -- muito "neoliberal" ou submisso ao império, como se a francesa fosse oposta ao império e de uma linha heterodoxa. Pura ilusão e preconceito.
O único ponto correto em todo este artigo é o 7, sobre a transparência dos mercados agrícolas e o fim dos subsídios. Mas isso não tem absolutamente nada a ver com a diplomacia de Lula ou com a postura de Graziano. Isto tem a ver com o agronegócio brasileiro, que é completamente contrário às teses tradicionais de Lula ou de Graziano, que pretendem continuar com políticas subvencionistas ao pequenos agricultores familiares, e têm preconceitos contra o agronegócio.
O ponto 8 é patético, pois converte Graziano em refém ou afilhado de Lula, o que é propriamente vergonhoso para um funcionário internacional. Ter de fazer apelo a Lula se Graziano falha é sinal de que, como Dilma, eles não têm nenhum mérito próprio, a não ser depender de um personagem megalomaníaco e cuja imagem foi inteiramente construída sobre a base de propaganda mentirosa ou exagerada (provavelmente ambas).
Paulo Roberto de Almeida

Brasil y la FAO. Un micro ajuste en las profundas transformaciones del orden internacional actual
Esteban Actis
Boletim Mundorama, 01 Jul 2011 06:53 PM PDT

En los últimos días de Junio, en la mayoría de los diarios del mundo la noticia del remplazo Dominique Strauss-Kahn por la ministra de finanzas francesa Christine Largade en la dirección del Fondo Monetario Internacional tuvo una alta repercusión debido a la “novela policial” de su compatriota, como la relevancia que tiene un cambio de mando en el organismo multilateral de crédito en un contexto de plena discusión sobre la “crisis de la deuda europea”. Asimismo, horas antes y casi en paralelo, el brasileño José Graziano da Silva era elegido nuevo presidente de la Organización para la Agricultura y la Alimentación (FAO por su sigla en inglés), venciendo en la votación el ex canciller español Miguel Ángel Moratinos.

Este acontecimiento, que a priori parece una normal rotación en un organismo de las Naciones Unidas, tiene implicancias importantes para las Relaciones Internacionales, a saber:

1) En la proyección internacional de Brasil. Lo sucedido representa un importante logro para la diplomacia brasileña en la constante búsqueda para convertir a Brasil en un “Global player”. Las presidencias de los organismos internacionales son atributos de poder que reflejan la trayectoria de un país en una temática determinada. Graziano fue el creador de los planes Hambre Cero y Bolsa Familia, que se aplican en Brasil y que han tenido reconocimiento en todo el mundo por su efectividad ante el flagelo del hambre

2) En la distribución del poder en el orden internacional. La elección por mayoría del ministro brasileño en detrimento de Moratinos debe enmarcarse en aumento de influencia en la política internacional de ciertas potencias emergentes en términos relativos. Influencia no sólo en término de hard power – Brasil se convirtió en la octava economía del mundo desplazando a España al noveno lugar- sino en su carácter simbólico y de prestigio, aspectos menos tangibles pero no por eso menos importantes en las RRII.

3) En la unidad latinoamericana y en la cooperación Sur-Sur. Salvo México, los restantes países de América Latina y el Caribe dieron su voto a Graziano, en clara señal de la importancia que tiene para una región productora de alimentos quedarse con la presidencia de la FAO. Unidad que muchas veces queda en la lexis diplomática y no en la praxis. En tanto, el candidato brasileño obtuvo el apoyo de países claves del denominado sur, como Indonesia y Sudáfrica, y el respaldo del G-77.

4) En la relación bilateral entre México y Brasil. La negativa de México a apoyar a Graziano se debió a la decisión de Brasil de apoyar a la francesa Lagarde en detrimento del candidato mexicano, que intentaba romper con la hegemonía europea en el FMI. La delegación de México consideró que el voto de Brasil va en contra de su larga campaña para reformar las instituciones internacionales. El hecho evidenció los históricos recelos diplomáticos entre los dos gigantes latinoamericanos.

5) En La (des)Unión Europea. La sucesión en la FAO mostró en una dosis micro las dificultades que tiene el proceso de integración europeo para lograr acuerdos, ya no sólo en materia de políticas económicas, sino para unificar criterios en su proyección internacional. La presentación de dos candidatos, contribuyó también a la derrota del candidato español. En la primera vuelta, el aspirante austriaco, Franz Fischler, obtuvo solamente diez votos, entre ellos el de Alemania, y a pesar de ello no dio muestras de querer retirarse para dejar el camino libre a Moratinos. Solo las presiones de la misión española y la insistencia de Estados Unidos convencieron a Fischler declinar su postulación

6) En el fracaso del iberoamericanismo. La diplomacia española intentó jugar la carta iberoamericana para conseguir adeptos, pero salvo México, los demás relegaron en un segundo plano los lazos iberoamericanos, incluyendo al propio Portugal.

7) En la discusión sobre la producción de alimentos y su impacto en la problemática del hambre. La victoria del brasileño va en sintonía con la primacía de la tesis de los países productores de alimentos en el G-20 de impulsar la producción agrícola, la transparencia del mercado alimentario y políticas de coordinación, sobre la idea de fijar topes a los precios de los commodities.

8) En la importancia que tienen las relaciones interpersonales y los liderazgos individuales en las relaciones internacionales. El hecho en cuestión volvió a demostrar la capacidad de atracción y credibilidad que tiene el ex presidente Lula. La activa militancia y participación del antecesor de Dilma Rousseff fue determinante a la hora de lograr adhesiones y apuntalar la figura de Graziano. Lo demostró la delegada sudáfricana, al afirmar durante la reunión del G-77: “Si Graziano falla, iremos a Lula y le pediremos que lo arregle”.

Aquellos que estudiamos las Relaciones Internacionales somos testigo de un orden internacional en plena transformación. La manifestación de dichos cambio debe buscarse, muchas veces, en pequeños acontecimientos de la política internacional los cuales condensan las actuales tensiones. La elección del presidente de la FAO es un ejemplo.

Esteban Actis es doctorando en Relaciones Internacionales. Licenciado en Relaciones Internacionales por la Facultad de Ciencia Política y Relaciones Internacionales UNR-Argentina, Profesor adscripto en la misma casa de estudios de las asignaturas “Economía Internacional” y “Política Internacional Latinoamericana” . Becario Doctoral del CONICET (e.actis@conicet.gov.ar)

Mais uma reunião de cúpula vazia no Mercosul - Raquel Landim (OESP)

Confesso que não sei se vale os bits and bytes gastos nesta postagem, e até o meu trabalho de ler e postar. Acho que não vale o esforço, nem a leitura...
Paulo Roberto de Almeida

Mais uma reunião de cúpula vazia no Mercosul
Raquel Landim
Blog do Estadão, 1 de julho de 2011 | 16h43

A presidente Dilma Rousseff participou essa semana de sua primeira reunião de cúpula do Mercosul. Foi a 41ª reunião oficial do bloco e era para ser um momento especial, porque o Mercosul completa duas décadas este ano. O encontro, no entanto, não resultou em nada de concreto – uma triste realidade que já se transformou em regra.

No extenso comunicado de 43 parágrafos divulgado ao final da reunião, os presidentes de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai se limitaram a distribuir felicitações entre si e a comemorar avanços de iniciativas já divulgadas, como a intenção de acabar com a dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC) até o início do próximo ano.

Durante o encontro, nenhuma palavra sobre as barreiras protecionistas que impedem a livre circulação de produtos no bloco, aplicadas principalmente pela Argentina. O Brasil contra-atacou, inpondo licenças não-automáticas para a importação de carros. Uma reunião ministerial entre os dois países baixou a poeira do conflito, mas os empresários relatam que o problema não foi resolvido.

É compreensível que os diplomatas queiram esvaziar os encontros de cúpula de questões negativas, mas não se pode ignorar um problema como esse. Principalmente quando não se tem nada para colocar no lugar. Aliás, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, sequer foi a reunião, alegando que se recupera de um pequeno acidente sofrido em Buenos Aires.

Do ponto de vista comercial, o único ponto importante que surgiu foi a cobrança da Dilma para que os países avaliem uma proposta do Brasil. O País quer permissão para elevar tarifas de importação de alguns produtos, por um tempo definido, para proteger seu mercado. Hoje é preciso conseguir que todos os países do bloco façam o mesmo ou incluir o produto na lista de exceção da TEC.

Na avaliação do governo brasileiro, o forte crescimento da economia local está atraindo muitos produtos importados e uma medida como essa seria necessária excepcionalmente. Confesso que ainda não tenho clareza de como isso vai funcionar. À primeira vista, parece mais uma maneira de ferir a já combalida TEC e causar mais distorções no bloco.

Também durante o encontro houveram declarações sobre incluir a Bolívia e o Equador no Mercosul, mas sem qualquer compromisso com prazos. A Venezuela, do polêmico presidente Hugo Chávez, ainda aguarda o aval do Congresso do Paraguai. Aliás, como é possível falar em aumentar o bloco com tantos problemas internos?

O Mercosul tem sido importante para o Brasil, principalmente para absorver as exportações de produtos manufaturados. É uma pena que o projeto esteja tão abandonado.

Uma materia da FSP sobre cursos de RI: incompetente, superficial, desonesta...

Leiam esta matéria da FSP, de 2005, mas da qual fui tomar conhecimento apenas hoje, 2/07/2011, e depois leiam o que escrevi mais abaixo, como comentário atual.
E por favor, esqueçam tudo o que está transcrito em meu nome: NUNCA dei entrevista para a FSP, que colou frases desconectadas de algum trabalho meu, como seu eu tivesse declarado aquilo para a matéria do jornal.
Desonestidade, incompetência, mau jornalismo!
Paulo Roberto de Almeida

Curso de RI se expande e enfrenta objeções
Folha de S. Paulo, 11/12/2005

Até meados dos anos 90, havia somente dois cursos de RI (relações internacionais) no país, um em Brasília e outro em São Paulo.* Atualmente, são 84, segundo o Ministério da Educação, sendo 17 apenas na capital paulista. A expansão da oferta coincide com a procura cada vez maior dos estudantes: o curso teve mais de 28 candidatos por vaga no último exame da USP, foram 1.408 vestibulandos para só 50 vagas e, na PUC-SP, é o campeão na relação entre inscritos e aprovados. Se poucas dúvidas restam de que a graduação em RI é a estrela da vez, um agravante tem suscitado discussões sobre sua recente proliferação: a falta de portas abertas no mercado de trabalho.

"Assim como sociologia era o curso da moda nos anos 60, e psicologia, nos anos 70, hoje é charmoso estudar RI, que é uma assemblage de aulas não voltadas ao mercado de trabalho", critica o ministro da carreira diplomática Paulo Roberto de Almeida.

Na avaliação do diplomata, o empregador não consegue avaliar a qualidade do curso. "Não se busca quem saiba como funciona o Conselho de Segurança da ONU, mas sim quem entenda realmente de direito para fechar contratos ou de economia para fazer prospecção de mercado."

Outro problema é a baixa qualidade da grade curricular de algumas instituições: "[A habilitação] está se desfigurando. Disciplinas que deveriam ser optativas, como contabilidade, já entram no primeiro semestre", aponta o coordenador da graduação em RI da PUC-SP, Reginaldo Nasser.

"Muitas das faculdades que criaram o curso oferecem um currículo ralo", acrescenta a coordenadora do bacharelado em RI da USP, Maria Hermínia Tavares de Almeida, que atribui a expansão à crescente percepção da importância dos temas internacionais.

O ex-secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) Rubens Ricúpero compartilha da mesma opinião: "A globalização foi o maior impulsionador do curso. Mas, após a rápida expansão, haverá ajustes".

Até que a graduação em RI esteja consolidada, cabe aos novos profissionais agarrar as oportunidades de carreira. Esse foi o caso do bacharel em RI Fabio Rua, 27. "Há um grande desconhecimento do curso no setor privado. Mas, com uma forte rede de contatos, é possível vencer os obstáculos", ensina Rua, que é gerente de RI da Amcham e acaba de ser contratado para comandar, a partir de janeiro, o mesmo setor em uma multinacional brasileira.

A discussão mais acirrada, no entanto, é a relevância do curso para a carreira diplomática, um dos principais destinos dos universitários matriculados em RI. Segundo Paulo Roberto de Almeida, "o ideal para seguir a diplomacia é fazer uma graduação clássica para então especializar-se em relações internacionais". O diplomata Sérgio Couri faz coro: "É melhor estudar direito, economia, ciências políticas ou, ainda, administração de empresas".

Já para Nasser, da PUC-SP, essa visão é fruto de "desinformação". "O êxito do curso se dá justamente porque as disciplinas clássicas estão ruins. Por exemplo, quase não se estuda economia internacional em economia", rebate. "As graduações tradicionais têm temas muito voltados para o passado", completa Ricúpero, que também é diretor da Faculdade de Economia da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado).

Já o diplomata e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Sérgio Amaral relativiza a polêmica: "O bom da graduação é abranger direito, economia e ciências políticas. Mas, ainda que a função diplomática baseie-se nesse tripé, não se deve valorizar em excesso o curso [de RI em detrimento de outros]".

Na dúvida entre a carreira que melhor se molde à diplomacia, alguns estudantes visualizam uma dupla graduação. "Em RI, você sabe de tudo e, ao mesmo tempo, não sabe de nada. Para seguir a diplomacia tradicional, logo que graduar-me [nesse curso], complementarei o que aprendi estudando direito", diz a universitária Ludmilla Fogli Scarlato, 20.

A estratégia é a mesma de Francisco Sérgio Bonelli, 20, que trancou a faculdade de direito após freqüentá-la por dois anos. "Concluirei o curso após o de RI. Também pretendo fazer um MBA na área internacional", planeja.

*: O curso de RI da UNESA (Universidade Estácio de Sá), no Rio de Janeiro, existe desde 1988, sendo, portanto, o segundo mais tradicional curso de RI do Brasil.

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Comento:
Pescaram duas ou três frases de trabalhos meus, descontextualizadas, desconectadas dos problemas que eu estava discutindo em textos mais amplos, bastante tempo atrás, e colaram numa matéria simplista, mal escrita e superficial.
Se tivessem me consultado ou pedido autorização para transcrever essas frases minhas, eu nunca teria dado, pois é evidente que eu não falei com a FSP, nem autorizei que retirassem essas frases do seu contexto original.
Considero isso mau jornalismo, desonesto, incompetente.
Paulo Roberto de Almeida

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Lobo Antunes - traducao de "Os ... do Judas" em ingles

Books of The Times
On a Fool’s Mission in a Dying Colonial World
By LARRY ROHTER
The New York Times Book Review, June 29, 2011

António Lobo Antunes
THE LAND AT THE END OF THE WORLD
Translated by Margaret Jull Costa
222 pages. W. W. Norton & Company. $26.95.

Combat experiences are like Tolstoy’s unhappy families: no two are alike, which may be why they often make for great novels, as Tolstoy also knew. The cause need not even be noble, since a hopeless situation and senseless violence can actually fortify a work of fiction. Certainly that is the case with António Lobo Antunes’s “Land at the End of the World,” set in Angola in the early 1970s, as Portugal’s ludicrous effort to preserve its African empire was meandering to an inglorious end.

The unnamed narrator is a young doctor wrenched from a comfortable life in Lisbon and forced to spend 27 months on the front lines treating his hapless fellow soldiers. He resents that they have been made “agents of a provincial form of fascism that was corroding and eating away at itself with the slow acid of its own sad, parochial stupidity.” But mostly he is sickened by the mutilated bodies delivered to his care, and fearful the same may happen to him. Though there are flashes of humor, almost always mordant, this is not “M*A*S*H” but something far darker and more absurd.

“The Land at the End of the World,” newly translated by Margaret Jull Costa, was originally published in 1979, four years after Portugal’s withdrawal from Africa and the final collapse of America’s intervention in Vietnam. At that time it was interpreted as a comment on the inherent futility of those recent Western adventures in the third world. But read at more than 30 years’ remove from those events much of this account of what Mr. Lobo Antunes’s narrator calls a “painful apprenticeship in dying” would no doubt make sense to survivors of the Iraq and Afghanistan wars.

“What have they done to us,” the narrator asks in one of his typically long and torrential sentences, “sitting here waiting in this landlocked place, imprisoned by three rows of barbed wire in a land that doesn’t belong to us, dying of malaria and bullets, whose whistling trajectory sounds like a nylon thread vibrating, fed by unreliable supply lines whose arrival or not is dependent on frequent accidents en route, on ambushes and land mines, fighting an invisible enemy, fighting the endless days that never pass, fighting homesickness, indignation, and remorse, fighting the dark nights as thick and opaque as a mourning veil.”

Back home in Lisbon, his marriage yet another casualty of the war, the traumatized doctor finds no solace. “Rootless, I float between two continents, both of which spurn me,” he says. “I have no place anywhere, I went too far away for too long to ever belong here again, to these autumns of rain and Sunday Masses, these long winters as dull as blown light bulbs.”

Even sex cannot provide relief, or a distraction, since he is capable only of collecting women “the way you might find odd bits of change in the pocket of a winter coat.” The narrator’s story unfolds over the course of a long, drunken night in which he successfully, but only half-heartedly, seduces a woman he has just met in a bar, who has the “aseptic, competent dandruff-free air of an executive secretary.” He knows this erotic escapade will end like all his others: with “the damp defeat of two exhausted bodies on the mattress” after an act of coitus that has all “the limp joy of two strands of spaghetti entwining.”

Like Anton Chekhov, William Carlos Williams and Moacyr Scliar, Mr. Lobo Antunes belongs to that select group of writers who are also doctors — a psychiatrist, to be more precise, who himself served in a field hospital in Angola. But the novelist-doctor he probably most resembles is Louis-Ferdinand Céline, whose “Journey to the End of the Night” is also a grotesque reflection on the horror of war and the failure of European imperialism in Africa. Mr. Lobo Antunes has even told of how, as a teenager, he experienced such “bedazzlement” from reading Céline’s “Death on the Installment Plan” that he wrote a letter to that misanthropic Frenchman, who, to his credit, responded with, he recalled, “immense tenderness.”

The original version of Mr. Lobo Antunes’s novel had a suitably Céline-like scatological title, which refers to the anatomy of Judas and is a common Portuguese-language slang expression meaning something like “the back of beyond.” Ms. Jull Costa has had to find a less pungent substitute, as did an earlier translation, published in 1983, that was called “South of Nowhere.” But once the story begins, her rendering of the novelist’s language and style is simply splendid. He has created a memorably unhinged narrator, and she manages to capture, perfectly and faithfully, the bitter, hallucinatory and increasingly desperate tone of his monologue.

Perhaps because of his training as a psychiatrist, Mr. Lobo Antunes is also an unusually observant writer, which in turn seems to have bestowed on him a particular gift for coining unusual but apt similes. Rain clouds in the tropics are “as heavy as udders,” an exhausted soldier slings his rifle “over his shoulder as if it were a useless fishing rod,” a skinny schoolmarm in a bereft colonial outpost has “collarbones as prominent as Brezhnev’s eyebrows,” and basic training finds the narrator “side by side with a fat recruit as wobbly as a crème caramel on a plate.”

Ms. Jull Costa begins her introduction to the novel by noting that Mr. Lobo Antunes is “generally considered to be Portugal’s greatest living writer.” She was writing a few weeks after the death last year of the Nobel laureate José Saramago, whose work she also has translated, but even during Saramago’s lifetime many readers and critics preferred Mr. Lobo Antunes, who certainly is the more subtle and sardonic of the two. Where the doctrinaire Saramago saw simple blacks and whites (communism and atheism good, fascism and Catholicism bad), Mr. Lobo Antunes is an equal-opportunity skeptic, firing darts at all kinds of targets, including his narrator.

Since the publication of “The Land at the End of the World” Mr. Lobo Antunes, now 68, has gone on to write more than a score of other novels and win many literary prizes. Often, as in “The Inquisitors’ Manual” and “The Return of the Caravels,” his subject has again been Portugal’s troubled history, in particular the scars left by colonialism. But it was “The Land at the End of the World” that first enabled him to open that floodgate, and, as this fine translation shows, it continues to stack up against the best of his later, more mature and experimental work.

A version of this review appeared in print on June 30, 2011, on page C4 of the New York edition with the headline: On a Fool’s Mission in a Dying Colonial World.

Excerpt: ‘The Land at the End of the World’ (Google Books)

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Relações internacionais e política externa do Brasil: livro Paulo Roberto de Almeida

Novo livro em fase de finalização:

Paulo Roberto de Almeida
Relações internacionais e política externa do Brasil:
a diplomacia brasileira no contexto da globalização

(Rio de Janeiro: Editora LTC, 2011, 438 p.)
Sumário:

Apresentação
Na diplomacia, entre a história e as ciências humanas
Avanços metodológicos, diversidade analítica, produção em alta
Consolidação da produção, redes em crescimento, profissionalização

Parte I: Metodologia das relações internacionais

1. Introdução ao estudo das relações internacionais do Brasil
1.1. O tema
1.2. Os conceitos
1.3. Os métodos
1.4. As fontes
1.5. Periodização temática

2. Historiografia brasileira de relações internacionais
2.1. Relações internacionais do Brasil: da diplomacia à academia
2.2. Pandiá Calógeras: o Clausewitz da política externa
2.3. Hélio Vianna: as elites bem comportadas
2.4. Delgado de Carvalho: o fatual de qualidade
2.5. A reorientação dos estudos de relações internacionais
2.6. Cervo e Bueno: o ideal desenvolvimentista
2.7. José Honório Rodrigues: a recuperação da história diplomática
2.8. Novas etapas: da academia de volta à diplomacia?
2.9. Produção recente: acadêmicos e diplomatas em constante diálogo

Parte II: O Brasil no contexto da economia global

3. Diplomacia comercial: de Bretton Woods e Havana aos impasses da OMC
31. A reconstrução econômica do pós-guerra: entre protecionismo e liberalismo
3.2. De Bretton Woods a Havana
3.3. OIC: a primeira organização para o comércio mundial
3.4. O GATT e as rodadas de negociações tarifárias
3.5. Comércio desigual: os países em desenvolvimento
3.6. A Rodada Uruguai: os novos temas e a agricultura
3.7. O surgimento de uma nova organização para o comércio: a OMC
3.8. Uma nova configuração para o comércio internacional
3.9. A Organização Mundial do Comércio: a última das três irmãs
3.10. A OMC: mais democrática que as instituições de Bretton Woods?
3.11. A longa agonia da Rodada Doha: a OMC em crise institucional?
3.12. O fim de Bretton Woods?: um sistema aparentemente mais justo

4. Os acordos regionais e o sistema multilateral de comércio
4.1. História: blocos políticos, regionalismo, integração econômica
4.2. Evolução da integração econômica: um itinerário com altos e baixos
4.3. O regionalismo: fenômeno político, processo econômico
4.4. Tendências da integração regional: suposições em tons de cinza
4.5. Perigos do regionalismo comercial: o minilateralismo como ameaça
4.6. Protecionismo na prática: industrialização à la List
4.7. O minilateralismo entra em cena: regionalização e globalização
4.8. Minilateralismo regional: estratégias de liberalização comercial
4.9. O futuro do minilateralismo: uma agenda em aberto

5. Diplomacia financeira: o Brasil e o FMI, de 1944 a 2011
5.1. Os dois conceitos de Bretton Woods: instituições e políticas
5.2. O sistema monetário internacional desde a conferência de Bretton Woods
5.3. A crise do sistema monetário internacional e o “não-sistema” pós-1973
5.4. Condicionalidades econômicas e soberania: o modelo de Bretton Woods
5.5. O “modelo de Bretton Woods” e a arquitetura financeira internacional
5.6. O Brasil em Bretton Woods: sem a dimensão do desenvolvimento
5.7. O FMI em sua primeira fase: inconsistências sistêmicas
5.8. Juscelino Kubitschek dá inicio à demonização do FMI
5.9. O regime militar e o FMI: boas relações, sem dependência
5.10. O Brasil redemocratizado e o FMI: más relações, com dependência
5.11. Encontros e desencontros dos anos 1990: o FMI e as crises financeiras
5.12. Outubro-dezembro de 1998: o Brasil volta ao FMI
5.13. Crise argentina e efeito Lula: o Brasil torna-se o maior cliente do FMI
5.14. O Brasil enfrenta as crises financeiras do novo milênio
Anexos: Acordos e relações do Brasil com o FMI, 1944-2011
Quadro 1: Brasil: histórico do relacionamento com o FMI, 1944-2011
Quadro 2: Brasil: acordos formais estabelecidos com o FMI, 1958-2010

6. As crises financeiras internacionais e o Brasil, desde 1928
6.1. Questões sistêmicas relativas às crises financeiras
6.2. A “mãe” de todas crises financeiras: 1928-1939
6.3. A crise de Bretton Woods e seus efeitos sistêmicos: 1965-19754
6.4. O centro adoece, a periferia entra em colapso: 1979-1989
6.5. Globalização financeira, desequilíbrios cambiais: 1994-2002
6.6. O centro tropeça, os emergentes deslancham: 2005-2011
6.7. Elementos comuns às crises financeiras nas economias de mercado
6.8. O debate político sobre os requerimentos da estabilidade financeira
6.9. O Brasil e a globalização financeira
Apêndice: Esquema estilizado das crises financeiras internacionais, 1928-2011

Parte III: A ordem global e a política externa do Brasil

7. A ordem política e econômica mundial do início do século 21
7.1. A ordem política mundial: novos problemas, velhas soluções?
7.1.1. Segurança estratégica
7.1.2. Relações entre as grandes potências
7.1.3. Conflitos regionais
7.1.4. Cooperação política e militar nos hot-spots
7.2. A ordem econômica mundial: velhos problemas, novas soluções?
7.2.1. Regulação cooperativa das relações econômicas internacionais
7.2.2. Assimetrias de desenvolvimento
7.2.3. Cooperação multilateral e Objetivos do Milênio
7.3. A ordem política e econômica mundial e a diplomacia brasileira
7.3.1. Crescimento econômico
7.3.2. Investimentos
7.3.3. Acesso a mercados
7.3.4. Integração regional
7.3.5. Recursos energéticos
7.3.6. Segurança e estabilidade

8. A diplomacia brasileira no contexto da governança global
8.1. A governança global em transição
8.2. O Brasil no contexto da governança formal
8.2.1. Segurança e estabilidade
8.2.2. Funcionamento da economia mundial
8.2.3. Cooperação política em favor do desenvolvimento
8.2.4. Instrumentos regionais de cooperação e de integração
8.3. A construção de uma governança alternativa
8.4. Possibilidades de reorganização institucional

9. A sociologia institucional do multilateralismo brasileiro (1815-2011)
9.1. A diplomacia econômica do Brasil no contexto mundial
9.2. As relações internacionais do ponto de vista da diplomacia econômica
9.3. Relações econômicas internacionais do Brasil em perspectiva histórica
9.4. As novas bases da diplomacia econômica multilateral
9.5. O Brasil no sistema econômico internacional; rupturas e continuidades
9.6. Acordos multilaterais e instituições internacionais de 1815 a 2011
9.7. Perfil institucional do multilateralismo econômico do Brasil, 1856-2011
9.8. As relações econômicas internacionais do Brasil na era da globalização

Bibliografia de relações internacionais e de política externa do Brasil
Biobibliografia do Autor

Editora LTC - Grupo GEN
Web page: www.grupogen.com.br

PROVÁVEL LANÇAMENTO: SETEMBRO 2011

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Interrompemos o serviço para... escrever

Não, não sou o Fernando:
Mas também sou uma Pessoa.

Mas, não precisaria ser.
Para escrever, basta ter uma boa ideia, algum talento, e tempo para escrever.
Sim, não precisa ser numa máquina de escrever, mas fica tão mais simpático:
Bem, apenas para comunicar aos gentis visitantes, navegantes de passagem, leitores habituais, curiosos ocasionais, amigos e inimigos (devo ter, vários), que vou dar um pouco de paz a vocês, pois preciso, urgentemente, retirar-me do mundo para escrever um pouco.
Não o grande romance sobre o grande herói da Primeira Guerra Mundial, o ás da aviação, mas um pequeno artigo (digamos 15 páginas) e um livro médio (digamos 100 páginas) sobre um tema habitual em minhas leituras e pesquisas. Depois eu digo o que é.
Por enquanto fiquem em paz, e tirem férias de mim, do Fernando, do Pessoa (e outras pessoas do Fernando), mas façam companhia ao Snoopy que ele merece.
O cão é o mais fiel amigo do homem.
O computador é o meu mais fiel amigo...
Paulo Roberto de Almeida

A tragédia grega e a comédia brasileira - Carlos Pio

A tragédia grega e a comédia brasileira
Carlos Pio
Professor de Economia Política Internacional, UnB
http://carlospio.wordpress.com

Temos assistido, atônitos, o desenrolar de mais uma crise financeira. A Grécia é a bola da vez. Apesar do novo protagonista, o enredo da tragédia é o mesmo das crises anteriores: sistema financeiro globalizado, bancos privados internacionais emprestando muito a governos fiscalmente irresponsáveis, governantes que preferem gastar mais a promover reformas condizentes com os novos tempos, sistemas políticos engessados pela força dos grupos de interesse que representam setores privilegiados das respectivas sociedades.

Mais particularmente, quais são os problemas da Grécia? Primeiro, uma dívida externa superior ao tamanho da economia nacional (€ 340bi, ou o equivalente à metade do PIB do Brasil). Segundo, um estado ineficiente, inchado e gastador. Terceiro, um conjunto de regras econômicas, políticas, sociais e culturais que emperram a produtividade das firmas, desestimulam as pessoas a trabalhar mais e de forma inovadora, impõem custos produtivos elevados, incertezas jurídicas e ineficiências generalizadas. Quarto, a impossibilidade de desvalorizar o câmbio uma vez que integra uma união monetária (a zona do Euro). Desde que acompanhada de medidas voltadas para minimizar seus efeitos inflacionários, a desvalorização é uma das medidas mais eficazes para reequilibrar as transações financeiras entre residentes e estrangeiros – porque ajusta automaticamente os custos e os preços domésticos aos internacionais –, possibilitando gerar e economizar divisas e, assim, pagar a dívida externa.

Qual a solução? A maneira mais eficiente de equacionar tais problemas envolve: reestruturar o estado, promovendo o enxugamento dos desperdícios, a prevalência do mérito na administração pública e profundos cortes orçamentários (de preferência poupando apenas os que beneficiam os cidadãos mais pobres ou vulneráveis); reformar as instituições que inibem os ganhos de produtividade – essenciais à prosperidade das pessoas e empresas; eliminar privilégios concedidos a empresas, setores econômicos e grupos da sociedade (como os funcionários públicos) os quais impõem custos elevados a outros grupos – consumidores (famílias e firmas) e contribuintes, por exemplo.

Mas tudo isso é duro demais, tanto para os grupos privilegiados – que não querem largar o tacho – quanto para os governantes, que nestes se apoiam para obter votos, recursos de campanha e emprego, quando abandonam a política. Sinal disso são as marchas diárias de grupos de comunistas e sindicalistas bem-vestidos e alimentados que enfrentam a polícia nas ruas para protestar contra o austero pacote negociado pelo governo com os credores da dívida externa grega. Há razões de sobra para duvidar de que o governo atual – ou qualquer outro – encontre apoio social ou parlamentar para enfrentar a ida dos que não querem os ajustes às instituições do capitalismo na pátria do teatro, da filosofia, das artes plásticas, da mitologia, e de tantas coisas mais.

Por ironia do destino, no mesmo momento em que hordas acampavam à frente do Parlamento grego, em Washington o representante do Brasil declarava apoio a Christine Lagarde, ministra das finanças da França, na disputa pela diretoria-geral do FMI – um dos fiadores dos pacotes de socorro à Grécia. Foi, de fato, mera coincidência, mas uma daquelas cheias de significado. Explico.

Lagarde disputava o cargo com o presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens. E o mexicano representava três coisas muito diferentes: uma alternativa latino-americana à dominação europeia no Fundo, justamente quando ele tem que equacionar um problema gigantesco no Velho Continente; uma opção vinda de um país que sofreu mais de uma crise financeira como a que ora afeta a República Helênica; a escolha de um dirigente cujo país realizou diversas reformas econômicas e financeiras nas últimas duas décadas, abriu-se para o mundo e ganhou respeito e mercados ao fazer justamente aquilo que todos, especialmente o FMI, precisará exigir dos gregos – governo, sociedade e empresas.

Mas Guido Mantega preferiu jogar no lixo o discurso (fácil) contra a predominância dos governos de países ricos nos organismos financeiros internacionais, em especial o FMI, a apoiar alguém que tinha todas aquelas qualidades. Ficou com Lagarde para não dar o gostinho da vitória ao liberalismo mexicano. O descompasso de Mantega na política internacional tem uma lógica: procura sonegar, dos brasileiros, tanto o reconhecimento de que o nosso passado grego nacional-desenvolvimentista foi um fracasso retumbante, quanto o árduo aprendizado de que é fundamental reformar as instituições e as mentalidades (política, econômica e empresarial) prevalecentes com vista a promover a eficiência e a prosperidade, como simbolizava o mexicano Carstens.

Diante da tragédia grega, a comédia do governo brasileiro.
--
Carlos Pio
Professor of International Political Economy, Universidade de Brasília
http://carlospio.wordpress.com/
http://groups.yahoo.com/group/economiapolitica_brasil/
www.shelfari.com/carlospio

Recomendacao de Leitura: As Naus, Antonio Lobo Antunes

Um livro que traz de volta, da era dos descobrimentos, Diogo Cão, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Luís de Camões e outros personagens da história, para passear na Lisboa dos anos 1970, ou melhor, na Lixboa, transformados em pessoas comuns, com seus vícios e fraquezas, mostrando-os como jogadores de cartas, beberrões, mentirosos, aproveitadores, enfim, humanos.

António Lobo Antunes:
As Naus
Rio de Janeiro: Alfaguara, 2011

terça-feira, 28 de junho de 2011

Idiotas por mapas: confesso que sou um...

Sempre uma boa companhia...

De: AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL
Data: 26 de junho de 2011 19:44
Assunto: [LIIB - Icomos/Brasil] A mina dos mapas - material cartográfico revela imaginário colonial português.

A mina dos mapas
Material cartográfico revela imaginário colonial português
Márcio Ferrari
Edição Impressa 183 - Maio de 2011

© Divulgação
Visão do Brasil que revela a exploração
Um precioso material cartográfico vem ganhando visibilidade irrestrita graças ao trabalho do grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) responsável pela construção da Biblioteca Digital de Cartografia Histórica. O acesso on-line é livre. [NOTA PRA: Não, não é!] Fruto de um conceito desenvolvido pelo Laboratório de Estudos de Cartografia Histórica (Lech), o site não só oferece a apreciação de um acervo de mapas raros impressos entre os séculos XVI e XIX, mas também torna possível uma série de referências cruzadas, comparações e chaves interpretativas com a pluralidade e a rapidez da internet. Afinal, “um mapa sozinho não faz verão”, como diz uma das coordenadoras do projeto, Iris Kantor, professora do Departamento de História da USP. O conjunto revela muito mais do que informações geográficas. Permite também perceber a elaboração de um imaginário ao longo do tempo, revelado por visões do Brasil concebidas fora do país. O trabalho se inseriu num grande projeto temático, denominado Dimensões do Império português e coordenado pela professora Laura de Mello e Souza, que teve apoio da Fapesp.

Até agora o acervo teve duas fontes principais. A primeira foi o conjunto de anotações realizadas ao longo de 60 anos pelo almirante Max Justo Lopes, um dos principais especialistas em cartografia do Brasil. A segunda foi a coleção particular do Banco Santos, recolhida à guarda do Estado durante o processo de intervenção no patrimônio do banqueiro Edemar Cid Ferreira, em 2005. Uma decisão judicial transferiu a custódia dos mapas ao Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP – iniciativa louvável, uma vez que esse acervo, segundo Iris Kantor, “estava guardado em condições muito precárias num galpão, sem nenhuma preocupação de acondicionamento adequado”. Foram recolhidos cerca de 300 mapas. Sabe-se que o número total da coleção original era muito maior, mas ignora-se onde se encontram os demais.

O primeiro passo foi recuperar e restaurar os itens recolhidos. Eles chegaram à USP “totalmente nus”, sendo necessário todo o trabalho de identificação, datação, atribuição de autoria etc. Durante os anos de 2007 e 2008, o Laboratório de Reprodução Digital do IEB pesquisou, adquiriu e utilizou a tecnologia adequada para reproduzir em alta resolução o acervo de mapas. Foram necessárias várias tentativas até se atingir a precisão de traços e cores desejada. Em seguida, o Centro de Informática do campus da USP em São Carlos (Cisc/USP) desenvolveu um software específico, tornando possível construir uma base de dados capaz de interagir com o catálogo geral da biblioteca da USP (Dedalus), assim como colher e transferir dados de outras bases disponíveis na internet. Uma das fontes inspiradoras dos pesquisadores foi o site do colecionador e artista gráfico inglês David Rumsey, que abriga 17 mil mapas. Outra foi a pioneira Biblioteca Virtual da Cartografia Histórica, da Biblioteca Nacional, que reúne 22 mil documentos digitalizados. Futuramente, o acervo cartográfico da USP deverá integrar a Biblioteca Digital de Cartografia Histórica. Foi dada prioridade aos mapas do Banco Santos porque eles não pertencem à universidade, podendo a qualquer momento ser requisitados judicialmente para quitar dívidas.

Hoje estão disponíveis na Biblioteca Digital “informações cartobibliográficas, biográficas, dados de natureza técnica e editorial, assim como verbetes explicativos que procuram contextualizar o processo de produção, circulação e apropriação das imagens cartográficas”. “Não existe mapa ingênuo”, diz Iris Kantor, indicando a necessidade dessa reunião de informações para o entendimento do que está oculto sob a superfície dos contornos geográficos e da toponímia. “O pressuposto do historiador é que todos os mapas mentem; a manipulação é um dado importante a qualquer peça cartográfica.”

Fizeram parte dessa manipulação os interesses geopolíticos e comerciais da época determinada e daqueles que produziram ou encomendaram o mapa. O historiador Paulo Miceli, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que no início da década passada havia sido chamado pelo Banco Santos para dar consultoria sobre a organização do acervo, lembra que o primeiro registro cartográfico daquilo que hoje se chama Brasil foi um mapa do navegador espanhol Juan de la Cosa (1460-1510), datado de 1506, que mostra “a linha demarcatória do Tratado de Tordesilhas, a África muito bem desenhada e, à sua esquerda, um triângulo bem pequeno para indicar a América do Sul”. “O Brasil foi surgindo de uma espécie de nevoeiro de documentos, condicionado, entre outras coisas, pelo rigor da coroa portuguesa sobre o trabalho dos cartógrafos, que estavam sujeitos até a pena de morte.” Essa “aparição” gradual do Brasil no esquema geopolítico imperial é o tema da tese de livre-docência de Miceli, intitulada, apropriadamente, de O desenho do Brasil no mapa do mundo, que sairá em livro ainda este ano pela editora da Unicamp. O título se refere ao Theatrum orbis terrarum (Teatro do mundo), do geógrafo flamengo Abraham Ortelius (1527-1598), considerado o primeiro atlas moderno.

Navegadores - Ao contrário do que se pode imaginar, os mapas antigos não tinham a função principal, e prática, de orientar exploradores e navegadores. Estes, até o século XIX, se valiam de roteiros escritos, as “cartas de marear”, registrados em “pergaminhos sem beleza nem ambiguidade, perfurados por compassos e outros instrumentos, e que viraram invólucros de pastas de documentos em acervos cartográficos”, segundo Miceli. “Os mapas eram objetos de ostentação e prestígio, com valor de fruição e ornamentação, para nobres e eruditos”, diz Iris Kantor. “Um dos tesouros do Vaticano era sua coleção cartográfica.” Já os roteiros de navegação eram apenas manuscritos e não impressos, processo que dava aos mapas status de documentos privilegiados. As chapas originais de metal, com as alterações ao longo do tempo, duravam até 200 anos, sempre nas mãos de “famílias” de cartógrafos, editores e livreiros. Às vezes essas famílias eram mesmo grupos consanguíneos com funções hereditárias, outras vezes eram ateliês altamente especializados. Os artistas, com experiência acumulada ao longo de décadas, não viajavam e recolhiam suas informações de “navegadores muitas vezes analfabetos”, segundo Miceli. Para dar uma ideia do prestígio atribuído à cartografia, ele lembra que o Atlas maior, do holandês Willem Blaue (1571-1638), pintado com tinta de ouro, foi considerado o livro mais caro do Renascimento.

Um dos critérios de busca da Biblioteca Digital de Cartografia Histórica é justamente por “escolas” de cartógrafos, entre elas a flamenga, a francesa e a veneziana – sempre lembrando que o saber fundamental veio dos navegadores e cosmógrafos portugueses. Iris Kantor considera que elas se interpenetram e planeja, futuramente, substituir a palavra “escola” por “estilo”. Também está nos planos da equipe reconstituir a genealogia da produção de mapas ao longo do período coberto. No estudo desses documentos se inclui a identificação daqueles que contêm erros voluntários como parte de um esforço de contrainformação, chamado por Miceli de “adulteração patriótica”. Como os mapas que falsificam a localização de recursos naturais, como rios, para favorecer portugueses ou espanhóis na divisão do Tratado de Tordesilhas.

Uma evidência da função quase propagandística da cartografia está no mapa Brasil, de 1565, produzido pela escola veneziana, que ilustra a abertura desta reportagem. Nele não se destaca exatamente a precisão geográfica. “A toponímia não é muito intensa, embora toda a costa já estivesse nomeada nessa época”, diz Iris Kantor. “É uma obra voltada para o público leigo, talvez mais para os comerciantes, como indicam os barquinhos com os brasões das coroas da França e de Portugal. Vemos o comércio do pau-brasil, ainda sem identificação da soberania política. Parece uma região de franco acesso. A representação dos indígenas e seu contato com o estrangeiro transmite cordialidade e reciprocidade.”

“No fundo, os mapas servem como representação de nós mesmos”, prossegue a professora da USP. “Pelo estudo da cartografia brasileira pós-independência, por exemplo, chama a atenção nossa visão de identidade nacional baseada numa cultura geográfica romântica, liberal e naturalista, que representa o país como um contínuo geográfico entre a Amazônia e o Prata. No mesmo período, a ideia do povo não era tão homogênea. Não é por acaso que os homens que fizeram a independência e constituíram o arcabouço legal do país fossem ligados às ciências naturais, à cartografia etc. A questão geográfica foi imperativa na criação da identidade nacional.”

Um exemplo bem diferente de utilização de recursos digitais na pesquisa com mapas está em andamento na Unicamp, derivado do projeto Trabalhadores no Brasil: identidades, direitos e política, coordenado pela professora Silvia Hunold Lara e apoiado pela Fapesp. Trata-se do estudo Mapas temáticos de Santana e Bexiga, sobre o cotidiano dos trabalhadores urbanos entre 1870 e 1930. Segundo a professora, pode-se reconstituir o cotidiano dos moradores dos bairros, “não dissociados de seu modo de trabalho e de suas reivindicações por direitos”.

Alias, somos todos idiotas: sustentando capitalistas estrangeiros...

O BNDES é um banco nacional, certo?
De Desenvolvimento, certo?
Econômico, cela va sans dire...
E, sobretudo, social, nem é preciso acrescentar.

Então, por que um banco desses tem de dar dinheiro para um negócio que não vai desenvolver o país (ou seja, o tal de nacional), não vai acrescentar nada no plano econômico (além de concentrar o mercado, diminuir a competição, ou seja, atuar contra as regras da boa economia) e, sobretudo, atuar num sentido anti-social, ao dar dinheiro para quem já é rico?
Confesso que não compreendo.
Ou será que o governo pensa que somos todos idiotas e não compreendemos o alto sentido nacional, desenvolvimentista e social deste magnífico empreendimento que foi a compra do Pão de Açúcar pelo Carrefour, financiada por um empréstimo generoso do BNDES?

Ver, por exemplo, esta notícia:
Diniz busca R$ 3,9 bi no BNDES para megafusão com Carrefour

Mas este economista compreende, por isso vale ler o que segue abaixo:

É hora de repensar o BNDES
Rodrigo Constantino
O Globo, 28/06/2011

Quando o BNDE (ainda sem o S de Social) foi criado em 1952, pelo segundo governo Vargas, argumentava-se que havia grande escassez de capital para financiamento de longo prazo no país. Mas será que esta ainda é a realidade do Brasil? Se não for, por que deve ser função do governo atuar como banqueiro? Esta questão merece maior reflexão.
A intermediação financeira é fundamental para o bom funcionamento da economia. Será que ela pode ser feita de forma mais eficiente pelo governo do que pelo mercado? Existem pelo menos dois importantes pontos contrários ao governo: a utilização de recursos da “viúva”, afrouxando o escrutínio sobre os riscos; e a presença de interesses político-eleitoreiros. Enquanto empresários precisam pensar na sobrevivência de sua empresa num futuro distante, políticos costumam pensar nas próximas eleições.
Não obstante, o Brasil tem sido refém de uma enorme presença do governo no setor financeiro. A mentalidade dirigista, de que cabe ao Estado fomentar o crescimento econômico do país, está por trás disto. O inchaço do BNDES é reflexo desta crença. O banco ficou razoavelmente blindado contra o “desenvolvimentismo” no começo. Mas não resistiu e sucumbiu à pressão ideológica.
Roberto Campos, que presidiu o banco, chegou a lamentar: “Graças ao recrutamento por concurso público, o BNDE manteve uma saudável tradição meritocrática, com nível técnico bastante satisfatório. Não escapou, naturalmente, ao vício do burocratismo e complacência com a irrupção do nacional-estatismo”. Na década de 1980, por exemplo, o banco aderiu à defesa das “reservas de mercado”, como a política de informática que lançou o país no atraso tecnológico. Na gestão do PT este viés ideológico voltou com força total.
Mesmo se o BNDES conseguisse manter um quadro de bons tecnocratas, ainda assim seria complicado evitar a contaminação política em suas operações. A pressão vem de cima. E quando política se mistura com economia, boa coisa não sai. O critério de empréstimos sofrerá a influência ideológica. Ou há alguma justificativa econômica para tantos bilhões injetados no grupo JBS? Ao que tudo indica, o governo quer criar uma “Boibrás”, custe o que custar.
O Japão é um bom estudo de casos, já que a interferência estatal no setor financeiro foi enorme. O resultado é conhecido: um abacaxi que já leva duas décadas para ser digerido, com nefastas seqüelas para a economia do país. A alocação eficiente de recursos exige um ambiente de livre concorrência de empresas privadas em busca do lucro. Quando esse quadro é substituído pelas decisões políticas de poucos poderosos, raramente será possível evitar uma catástrofe. A União Soviética foi um caso extremo, mas a recente crise imobiliária americana também teve ligação com esta forte presença estatal no setor.
A corrupção é outro risco grave. Quando é o governo que controla o carimbo dos empréstimos, há um incentivo perverso para a captura dos políticos pelos grandes empresários. Mais de 70% dos desembolsos subsidiados do BNDES têm como destino justamente as grandes empresas. Desde 2006 os desembolsos cresceram 34% ao ano. Em 2010 foram quase R$ 170 bilhões. Uma bolsa-empresário e tanto!
Além disso, o banco possui, por meio do BNDESPAR, participações bilionárias em diversas grandes empresas. Por que o governo deve ser sócio de tantas empresas, quando há disponibilidade de capital no mundo? Várias empresas têm aberto ou aumentado capital em bolsa nos últimos anos, aproveitando a farta liquidez dos mercados. Nos últimos cinco anos foram quase R$ 250 bilhões em emissões de ações. Simplesmente não há uma boa justificativa para um banco estatal ter uma carteira de ações tão grande.
Os três principais bancos estatais fecharam 2010 com ativos na casa dos R$ 1,7 trilhão, montante similar ao dos três maiores bancos privados. O governo é o maior banqueiro do país! No “Manifesto Comunista”, não custa lembrar, Marx colocou como uma das metas fundamentais de seu programa a “centralização do crédito nas mãos do Estado”.
O setor financeiro é importante demais para ser dominado pelo governo. O crescimento econômico sustentável não é fruto da caneta milagrosa do Estado, mas de uma ampla liberdade econômica que permite alocações eficientes dos recursos. O nosso “capitalismo de estado” tem servido para concentrar renda e beneficiar grandes empresários próximos ao poder, além de canalizar recursos com viés ideológico.
O BNDES é o grande elo desta ligação entre governo e grandes empresários. Está na hora de repensar seu papel econômico.

Uma aposta contra o supremo idiota: eu dobraria a aposta...

Busquem dois posts abaixo, o post do idiota supremo, este aqui:

O mundo e os idiotas, ou um idiota do tamanho do mundo...

Agora tenho o prazer de postar uma aposta contra ele. Confesso que não tive paciência, nem tempo de preparar uma resposta, mas eu me ofereceria para pagar em dobro ao idiota supremo se ele conseguisse vencer o desafio do Diogo Costa.
Fica aqui, ampliada a aposta...
Paulo Roberto de Almeida

Capitalismo Terminal? Uma aposta para Leonardo Boff
por Diogo Costa
Ordem Livre, 27 de Junho de 2011

Quero desafiar Leonardo Boff para uma aposta.

Em artigo recente, Leonardo Boff declara que “a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal”

Boff lista dois motivos para sustentar tese, mas acaba oferecendo três explicações:

1. O uso dos recursos naturais chegou ao ponto de exaustão: “Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado”.

2. A tecnologia tornou o trabalho humano dispensável. Os níveis de desemprego atuais não abaixarão porque as pessoas não conseguirão ser mais produtivas do que as máquinas: “Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva”.

3. Os novos descontentes atingem um nível consciência social não visto no passado. Conforme exigências do mercado aumentaram a formação educacional dos trabalhadores, aumentou-se também sua capacidade de pensar criticamente: “Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as consequências da super-exploracão de suas vidas e da vida da Terra”.

Eu discordo das previsões de Leonardo Boff. Acho que sua análise combina wishful thinking socialista com incompreensão de teoria econômica e dos eventos correntes.

Sobre 1, entendo que recursos naturais são produto da inventividade humana, e não apenas um dado da natureza. O petróleo não era um recurso para os maias, mas passou a ser para os mexicanos. Fatores naturais pouco ou nada utilizados por uma geração acabam se tornando recursos para gerações futuras. Não há motivos para vermos nossa geração como exceção ao funcionamento da história tecnológica da humanidade. Se a produção de energia a partir de recursos fósseis se tornar excessivamente custosa no futuro, seu uso se reduzirá e novas tecnologias de energia serão desenvolvidas. Hoje utilizamos os recursos naturais de forma mais eficiente do que gerações passadas e continuaremos o percurso.

Sobre 2, Boff enxerga a tecnologia como o carrasco econômico que empobrece o proletário. A história econômica discorda. Apesar do reajuste do trabalho, a tecnologia melhora as condições dos trabalhadores de forma geral. Por causa da tecnologia, os trabalhadores do século XXI têm um nível de vida melhor do que os burgueses do século XIX. É verdade que nenhuma pessoa consegue tecer algodão mais rapidamente que uma máquia têxtil, nem montar carros com mais eficiência do que a indústria robótica. Mas as revoluções tecnológicas do passado não criaram uma massa crescente e permanente de desempregados. Em vez disso, novas profissões foram criadas. Desemprego estrutural sempre existiu no passado e vai continuar existindo no futuro. Mas a tecnologia não cria desemprego permanente e crescente. O talento e a capacidade humana sempre encontram novas formas de servir a sociedade e de aumentar o nível de vida geral.

Sobre 3, não se pode colocar todo o descontentamento político mundial na mesma categoria. Alguns grupos rebeldes são mesmo simpáticos a causa anticapitalista de Boff. Mas são os que lutam pela manutenção do status quo. Os jovens e velhos que saem às ruas de Atenas não lutam contra o sistema. Lutam pela preservação do sistema de privilégios do welfare state grego. Quem está em crise na Europa são os governos. Não foram os empreendedores que fizeram com que a Grécia acumulasse 44 mil dólares de dívida per capita com promessas e mais promessas de benefícios. Foram os políticos, com ideias de “conquistas sociais” que teriam até a aprovação do Leonardo Boff. Em contraste, os descontentes das economias fechadas do oriente médio estão mais dispostos a participar do liberalismo globalizado que os déspotas lhes negaram na prática e que Boff quer negá-los na teoria.

Em resumo, Boff entende que mais mercado levará a maior exploração e/ou desemprego das camadas menos favorecidas. Eu entendo que mais mercado levará a empregos melhores e mais bem pagos. Boff acredita na revolução do socialismo. Eu acredito no triunfo do liberalismo. Se eu estou certo, países que liberalizarem seus mercados terão mesas com mais comida, cabeças com mais conhecimento, e crianças com mais saúde. Se Boff estiver certo, ocorrerá o contrário.

Quem está certo? Felizmente, há uma forma para Leonardo Boff e eu testarmos nossa divergência. Podemos fazer uma aposta. Vamos examinar, dentro de 10 anos, o que irá ocorrer com os países que mais liberalizarem suas economias. Então saberemos se a população mais pobre estará ainda mais pobre, como prevê Boff, ou se estará mais rica, como eu prevejo.

Nossa aposta pode ser decidida da seguinte forma: indentificamos os dez países que mais liberalizarem suas economias de 2011 a 2021. Se a renda per capita dos 10% mais pobres desses países houver diminuído, eu pago 500 dólares a Leonardo Boff. Se a renda dos 10% mais pobres tiver aumentado, Leonardo Boff me paga 500 dólares.

Para medir o grau de liberalização econômica, podemos usar o Relatório de Liberdade Econômica no Mundo, publicação anual do Instituto Fraser do Canadá. Para medir a renda per capita dos 10% mais pobres, podemos usar dados do World Development Indicators do Banco Mundial.

Portanto:

Leonardo Boff, aceita meu desafio? Lanço essa aposta de boa fé. Se você de fato acredita na sua análise de que o capitalismo está em fase terminal, estou lhe oferecendo dinheiro de graça. Basta que ocorra o que você já disse que irá ocorrer para que você ganhe 500 dólares. Será até uma chance de fazer doação para uma das populações empobrecidas.

Aguardo resposta.
Diogo Costa

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PS.: Como disse antes, dobro a aposta...

E por falar em idiotas, ou idiotices, algumas sao persistentes...

Incrível como certas pessoas podem continuar com bravatas idiotas contra "multinacionais das sementes:, mesmo com tanta coisa mais importante com que se preocupar. E tem também aquela coisa de achar que a pobreza africana vai diminuir com um pouco mais de cooperação ao desenvolvimento, ou seja, despejando mais um pouco (ou um montão) de dinheiro, naquele continente, que já vem sendo inundado com recursos da cooperação internacional ao desenvolvimento, por parte de europeus, americaos, japoneses, por mais de meio século.
O Brasil entra com força no dejà vu, no more of the same.
Desejamos sucesso no empreendimento, mas a minha previsão é a de que não vai dar certo, ou seja, não vai mudar nada.
Rendez vous em cinco anos, ou quando desejar o novo DG da FAO, a quem desejamos sucesso...
Paulo Roberto de Almeida

Um brasileiro na FAO
Editorial - O Estado de S. Paulo
Terça-feira, 28/06/2011

A diplomacia brasileira conseguiu sua primeira grande vitória política em oito anos e meio, com a eleição de José Graziano da Silva, criador do Programa Fome Zero, para a direção-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Foi uma vitória apertada - 92 votos contra 88 conferidos ao diplomata espanhol Miguel Ángel Moratinos - conseguida graças à mobilização de países em desenvolvimento. O combate à fome é prioridade oficial de várias entidades multilaterais, como o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), empenhados em socorrer as populações mais afetadas. O Grupo dos 20 (G-20), formado pelas maiores economias do mundo, incluiu o problema dos preços e da segurança alimentar em sua agenda.

Os preços dos alimentos subiram muito e tornaram-se especialmente instáveis a partir de 2006, afetando severamente as populações de países pobres e dependentes da importação de comida. As cotações atingiram o pico em 2007 e 2008. Caíram nos dois anos seguintes - continuando acima dos níveis anteriores à grande alta - e voltaram a subir no começo de 2011. O número estimado de famintos passou de 820 milhões em 2007 para mais de 1 bilhão em 2009 e recuou depois para cerca de 900 milhões, segundo a FAO e outras entidades multilaterais. O cenário poderá piorar. Até 2019, segundo projeções recentes, os preços da maior parte dos alimentos deverão permanecer em níveis superiores aos da década anterior à crise de 2007-2008.

Graziano terá de enfrentar questões políticas e econômicas muito mais complexas que as da pobreza brasileira. Sua experiência recente como representante da FAO para a América Latina e o Caribe pode ter sido uma boa preparação para o novo posto. Isso se verá adiante.

Ao assumir o cargo, nesta segunda-feira, seu primeiro pronunciamento foi marcado por alguns velhos tiques. Ele gastou fôlego, por exemplo, criticando o controle do mercado de sementes por algumas multinacionais. O assunto pode render uma boa discussão, mas é irrelevante para a análise da situação das centenas de milhões de famintos.

Com ou sem esse "monopólio", o acesso à comida seria difícil para as populações mais pobres do mundo, porque as causas de sua miséria são de outra natureza, como a instabilidade política, as ditaduras sanguinárias - algumas muito bem tratadas pelo grande cabo eleitoral de Graziano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - e a baixa produtividade na maior parte da África e nas áreas mais pobres da Ásia e, em muito menor proporção, das Américas.

A mesma insistência em meia dúzia de temas impediu Graziano e outros petistas de perceber, durante anos, as transformações da agricultura brasileira. Num documento de 2001, ele mencionou a seguinte "constatação", como se fosse uma novidade: "O problema da fome, hoje, não é de falta de produção de alimentos, mas da falta de renda para adquiri-los". Isso poderia ser novidade para ele e para alguns companheiros, mas não para quem havia acompanhado a modernização da agropecuária brasileira. O próprio presidente Lula, ao assumir o governo, ainda falava em exportar só os "excedentes", como se houvesse escassez de alimentos. Em pouco tempo ele abandonou essa tolice. Os programas de transferência de renda e a elevação do salário real melhoraram a situação dos mais pobres, embora tenham sido insuficientes para capacitá-los a viver por seus meios.

O combate à fome nas áreas mais pobres do mundo será uma tarefa muito mais complicada, porque falta - e provavelmente ainda faltará por longo tempo - o respaldo de agriculturas nacionais produtivas e institucionalmente protegidas.

De toda forma, o governo brasileiro tem uma vitória para comemorar. A diplomacia petista foi derrotada nas eleições para a direção-geral da Organização Mundial do Comércio, para a presidência do Banco Interamericano do Desenvolvimento e para a Secretaria-Geral da Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura, além de ter sido incapaz de mobilizar apoio latino-americano para sua pretensão de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Pode ser sinal de uma nova fase.