Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Obras uteis para os candidatos 'a diplomacia: dez livros
Dez obras fundamentais para um diplomata
Paulo Roberto de
Almeida
Reproduzo uma listagem anterior, indicativa de alguns dos livros que considero importantes
para uma boa cultura clássica, ou para uma formação adequada no quadro da cultura
brasileira, com uma inclinação especial para os temas de relações internacionais
do Brasil:
1) Heródoto: História (440
a.C.)
2) Maquiavel: O Príncipe
(1513; divulgado pela primeira vez em 1532)
Disponível (em italiano)
neste link: http://metalibri.incubadora.fapesp.br/portal/authors/m/machiavelli-niccolo-di-bernardo-dei/il-principe/
3) Tocqueville: A Democracia na
América (1835)
Disponível (em francês): http://classiques.uqac.ca/classiques/De_tocqueville_alexis/democratie_1/democratie_tome1.html
4) Pierre Renouvin: Histoire des
relations internationales (1953-58; nova edição em três volumes em 1993;
Paris, Hachette)
5) Henry Kissinger: Diplomacy
(1994; várias edições posteriores)
6) Manuel de Oliveira Lima: Formação histórica da nacionalidade
brasileira (1912; nova
edição: Rio de Janeiro: Topbooks, 1997)
7) Pandiá Calógeras: A política
exterior do Império (3 volumes, 1927-1933; reedição fac-similar, 1989;
Brasília: Câmara dos Deputados)
8) Carlos Delgado de Carvalho: História
Diplomática do Brasil (1959; reedição fac-similar, 1998; Brasília: Senado
Federal)
9) Marcelo de Paiva Abreu (org.).
A Ordem do Progresso: cem anos de política econômica republicana,
1889-1989 (1989; outra edição: Rio de Janeiro: Campus, 1994)
10) Paulo Roberto de Almeida: Formação
da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no
Império (publicado em primeira edição em 2001; reedição em 2005 pela
Senac-SP).
Uma última
palavra sobre a auto-permissão para o narcisismo, como evidenciado no último
livro, justamente: eu poderia indicar algum dos livros de história diplomática
do Brasil disponíveis no mercado, mas disponho, aparentemente, de crédito
suficiente – em matéria de estudo e pesquisa – para destacar minha própria
investigação histórica sobre os fundamentos da nossa moderna diplomacia
econômica (com a promessa de que vou continuar esse trabalho de pesquisa em
dois volumes subsequentes cobrindo o longo século republicano).
Brasília, 29 de setembro de 2006
Itamaraty diminuido na gestao presidencial - Denise Chrispim Marin (OESP)
ITAMARATY
O Estado de S. Paulo - Ô Itamaraty!
Denise Chrispim Marin
O desprezo da presidente Dilma Rousseff ao Itamaraty tem sido extravasado em público e a portas fechadas desde seus primeiros dias de governo. No Palácio do Planalto, diplomatas a seu serviço antes chamados pelo nome passaram a ouvir da presidente: “ÔItamaraty!”. No episódio de sua escala em Lisboa e hospedagem no hotel Ritz, quem foi designado por Dilma para dar explicações à imprensa não foi a secretária de Comunicação Social, ministra Helena Chagas. A missão de dar a cara a tapa recaiu ao chanceler Luiz Alberto Figueiredo.
Os gastos com a hospedagem de todos os membros da comitiva em Lisboa, como sempre ocorre nas viagens presidenciais, caiu nas contas do Itamaraty. Inclusive os R$ 26 mil da diária da suíte presidencial do Ritz. Figueiredo, com o cuidado de omitir esse fato, explicou que o gasto seria inevitável porque uma parada seria requerida no trajeto da presidente de Davos a Havana. Aluguéis de prédios onde funcionam postos do Brasil mundo afora, enquanto isso, são pagos com atraso, assim como parte dos benefícios para os diplomatas em serviço no exterior.
Esse foi apenas um episódio recente e, talvez, o menor de todos. Outros, mais graves, foram registrados ao longo dos últimos três anos. Em junho de 2012, o então chanceler Antônio Patriota foi retirado por Dilma da reunião na qual acabou decidida a suspensão do Paraguai do Mercosul e o ingresso da Venezuela como membro pleno do bloco. Patriota, ciente do fato de a Venezuela estar distante do cumprimento da agenda de adesão, opunha-se a seu ingresso atropelado. Ao humilhá-lo, Dilma humilhou o Itamaraty. O mesmo fez todas as vezes em que pediu a retirada do então chanceler do avião presidencial para acomodar, em seu lugar, um político e nas tantas vezes em que ignorou o embaixador brasileiro no país por ela visitado.
Com esses gestos, a presidente desprezou um ministério onde engenheiros – os profissionais de sua preferência – são naturalmente raros. Não se trata de uma formação comum aos diplomatas de nenhum país. Mas Dilma Rousseff parece não saber disso. A presidente – sempre se soube – não dá atenção à política externa e a seus executores. Se ao menos delegasse a formulação e a execução dessa política ao Itamaraty, como muitos de seus antecessores, certamente o Brasil estaria mais bem inserido nos foros internacionais e com uma teia de acordos substanciosos, inclusive para a melhoria da competitividade dos setores produtivos nacionais. Decisões dessa área, como acordos internacionais, dormem em sua centralizadora gaveta.
A emergencia da democracia americana - book excerpt by Delancey
In today's selection -- from The Perennial Philadelphians: The Anatomy of an American Aristocracy by Nathaniel Burt. At the beginning, the United States was not a democracy. The framers had feared a true democracy, and thus up until 1913 senators were elected largely by state legislators, and the president by the electoral college. Only congressmen were voted on directly by the people. By the early to mid-1800s, attitudes and practices were rapidly changing. Andrew Jackson was elected in 1828, and since he was the first president who was not a member of the East coast establishment, it was viewed as a victory for the common man. Nevertheless, democracy was still opposed by many -- especially those from the elite classes. Here we learn the attitude toward democracy in the mid-1800s of Sidney Fisher, a member of one of the old line Philadelphia families:
"Says Sidney Fisher: 'The proper pursuit for a man of my position is the life of a gentleman farmer.' ... He was a gentleman of romantic good looks, the best family connections (his grandmother was a Logan) and not enough money, who led a rather querulous and useless life in Philadelphia during the nineteenth century. A representative 'disappointed man,' he dabbled at law and poetry, tried to live beyond his income, married an Ingersoll -- and kept a diary. The diary, discovered among the effects of his son, has almost daily entries from 1834 to 1871, and has been transcribed, all seventy-nine volumes of it, into typescript. ... There is an enormous amount about houses and furniture and parties and people, nothing about God and Mr. Fisher's conscience. ...
"His feeling about position and family of course was quite unequivocal: 'Luckily my fortune small as it is and my social position command respect from the mass,' and 'I am somewhat proud of my family, as on both sides my ancestors for five or six generations have held the stations of gentlemen and men of property and education -- which is something in this country of parvenus.' This country as opposed, of course, to England, which he never saw and knew only by hearsay, but which he regarded in true Tory-colonial fashion as his spiritual home; the England of the landed gentry, not of Reform Bills and Gladstone and such, whose '... grandeur, wealth and splendour, pervading comfort' (now that the shoe is on the other foot this is usually referred to as 'American materialism') 'make one repine that one's lot is cast anywhere else. We are poor and coarse and unrefined and there are so many things to disgust and feel ashamed of, that I really think the true way is to insist on our claim of relationship to England and feel proud of her glory and greatness, and keep our complacency in that way for the next hundred years.' ...
"Part of this somewhat nauseating snobbism was political; that is, derived from his Federalist hatred of democracy in theory and of Jackson in practice.
'My hatred of democracy is stronger than my love of country. Truly, as the newspapers say, we live in a favored country. The cold of Russia, the heat of Africa; drought, disease, and democracy make up a combination of blessings. Nothing is done with reference to the wishes or opinions of the educated classes; hence the war against the Bank [of the United States] and the cry against the rich and the 'aristocrats.' I always vote against the popular side on principle. '
"These are sentiments which could have been uttered almost word for word by any good New Deal-hating Old Philadelphian a century later in the 1930's, before the Second World War, like the Civil War, stirred up a latent patriotism.
"To one with such an attitude, naturally, politicians are a low sort of vermin, and engagement in public life is no fit occupation for a gent. Mr. Ramsey, an acquaintance from Dickinson College days,
'is now on his way to Washington, a member of Congress. This sounds great but nowadays political success implies little merit of any kind. On the contrary the most educated and virtuous men avoid public life and from the interior of our Boeotian State [that is, western Pennsylvania] the favorites of the democracy are seldom distinguished for anything but vulgarity, want of principle, etc. well ... but he seems more of a gentleman.'
"Having met the Governor of Pennsylvania, Fisher feels kindly disposed, since he is after all not a Democrat and hence at least on the right side. 'Ritner is a bluff good-humored, honest-looking fat Dutchman, without the slightest approach to the appearance or manner of a gentleman. This however is not to be expected in a Governor of Pennsylvania.' ...
"This is all somewhat unfair to ... Sidney, as it presents them at their most exasperated. ... In the end, he even accepted and admired Lincoln, that apostle and representative of dreadful Democracy, and so presumably changed some of his opinions a little bit.
"On the whole, however, Sidney, and most Old Philadelphians, are more inclined to subscribe to his pithy statement, 'If we must submit to democracy in the government, let us at least keep it away from our social circles.' "
The Perennial Philadelphians: The Anatomy of an American Aristocracy
Author: Nathaniel Burt
Publisher: University of Pennsylvania Press
Date: Copyright 1963 by Nathaniel Burt
Pages: 23-26, 29
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Abolicao da Escravidao nos EUA: 31 de janeiro de 1865 (NYTimes)
On This Day: January 31
On Jan. 31, 1865, the House of Representatives passed a constitutional amendment to abolish slavery.
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From Washington
Passage of the Constitutional Amendment
ONE HUNDRED AND NINETEEN YEAS AGAINST FIFTY-SIX NAYS
Exciting Scene in the House
Enthusiasm Over the Result
THE PEACE MISSION IN THE SENATE
A RESOLUTION CALLING FOR INFORMATION
Passage of Retaliation Resolutions in the Senate
From Washington
Abolition Of Slavery
Passage of the Constitutional Amendment
ONE HUNDRED AND NINETEEN YEAS AGAINST FIFTY-SIX NAYS
Exciting Scene in the House
Enthusiasm Over the Result
THE PEACE MISSION IN THE SENATE
A RESOLUTION CALLING FOR INFORMATION
Passage of Retaliation Resolutions in the Senate
Special Dispatches to the New York Times
Washington, Tuesday, Jan. 31.
THE PASSAGE OF THE CONSTITUTIONAL AMENDMENT
The great feature of the existing rebellion was the passage to-day by the House of Representatives of the resolutions submitting to the Legislatures of the several States an amendment to the Constitution abolishing slavery. It was an epoch in the history of the country, and will be remembered by the members of the House and spectators present as an event in their lives. At 3 o'clock, by general consent, all discussion having ceased, the preliminary votes to reconsider and second the demand for the previous question were agreed to by a vote of 113 yeas, to 58 nays; and amid profound silence the Speaker announced that the yeas and nays would be taken directly upon the pending proposition. During the call, when prominent Democrats voted aye, there was suppressed evidence of applause and gratification exhibited in the galleries, but it was evident that the great interest centered entirely upon the final result, and when the presiding officer announced that the resolution was agreed to by yeas 119, nays 56, the enthusiasm of all present, save a few disappointed politicians, knew no bounds, and for several moments the scene was grand and impressive beyond description. No attempt was made to suppress the applause which came from all sides, every one feeling that the occasion justified the fullest expression of approbation and joy.
Os dez mandamentos, versão 2.0 - Paulo Roberto de Almeida
Dez Novos
Mandamentos
(apenas uma sugestão...)
Paulo Roberto de
Almeida
Todo mundo
conhece os antigos mandamentos, quero dizer, os dez mandamentos do Antigo
Testamento, aqueles que Moisés trouxe do Sinai justo no momento em que o povo
de Israel, por acaso o povo eleito e supostamente bem comportado, se deleitava
na maior esbórnia, ali mesmo, ao pé do monte. Aí o Charlton Heston quebrou
aquelas pedras imensas – sim, eles tinham sido esculpidos na própria pedra,
pela mão do Senhor – na cabeça de dois ou três recalcitrantes, derrubou o
bezerro de ouro e mandou parar com o Carnaval. Bem, deixemos de brincar de
Hollywood e vamos ao que interessa.
Os antigos, ou
melhor, os dez mandamentos são aqueles dos quais todo mundo já ouviu falar e
que pelo menos deveriam ser conhecidos de cor e salteado. Para os mais
esquecidos, não custa lembrar (resumidamente):
1. Não
terás outros deuses além de mim (reserva de mercado?).
2. Não
pronunciarás o meu santo nome em vão (mas, por vezes não se sabe bem qual era
esse nome, exatamente).
3.
Guardarás o dia santo (às vezes é na sexta, outras no sábado, ou ainda no
domingo, whatever...).
4.
Honrarás o pai e a mãe (mas sempre lembram que o primeiro pode ser uma simples
hipótese).
5. Não
matarás (inclusive porque, no Antigo Testamento, tinha a lei do talião).
6. Não
roubarás (salvo se for em caso de absoluta necessidade alimentar e se a
propriedade não estiver cumprindo sua função social).
7. Não
desejarás a mulher do próximo (dizem que foi aí que o sete adquiriu aquele
risco no meio, pois o pessoal começou a gritar: “risca o sete, risca o sete!”).
8. Não
cometerás adultério (outro mandamento difícil esse).
9. Não
levantarás falso testemunho contra o teu próximo (a distância é crucial em
certos casos).
10.
Não cobiçarás as coisas alheias (mas tem gente que interpreta isso num sentido
simplesmente metafórico).
Pois
bem, visando despretensiosamente à elevação espiritual, ética e material da
humanidade, pretendo oferecer aqui um complemento moderno a esses preceitos,
duplicando os dez mandamentos de Moisés (antigos, velhíssimos, mas ainda
válidos, não custa lembrar). Bem sei que os dez primeiros estão sendo obedecidos
mal e porcamente, com casos notórios de infração reiterada ao espírito e à
letra daquelas simples regras de convivência civilizada. Bem que o Charlton
Heston poderia voltar para aplicar uns cascudos no pessoal mais arredio. Em
todo caso, pensando que nunca é demais esperar o melhor de cada ser humano,
permito-me traçar nesta pedra virtual dez novos mandamentos, para os quais não
faço questão de copyright (aliás, no
filme eles vinham escritos em inglês medieval e em letras góticas,
lembram-se?).
1. Não
terás maior amor do que o amor à natureza e aos semelhantes, segundo o
princípio absolutamente universal de que todos os seres humanos nascem iguais e
devem ter iguais chances de se afirmarem na vida; farás da Terra um lugar
habitável por todos, não um paraíso para uns poucos, um purgatório para a
maioria e um inferno para muitos milhões, como ainda ocorre.
2. A
educação para o trabalho é o princípio unificador de toda a vida civilizada e
por isso a instrução básica (geral, irrestrita e de qualidade) e a educação
humanista serão as tarefas maiores de
cada sociedade.
3. A
família e os filhos, como núcleo social igualitário mas organizado, continuam
sendo a maior riqueza da sociedade humana e por isso serão o critério básico de
organização social e moral de todas as civilizações; o tratamento concedido à
mulher define o padrão civilizatório ideal e o seu status na sociedade é o
critério básico de progresso humano e social.
4. A
tolerância mútua, incondicional e irrestrita, deve ser a norma da vida civilizada
em todas as áreas culturais e espirituais e as religiões se enquadrarão nesse
princípio contra todo e qualquer particularismo exclusivista e contra quaisquer
tendências ao proselitismo.
5. As
políticas públicas se guiarão, antes de mais nada, pela racionalidade entre
meios e fins, respeitados os direitos das minorias e a conservação da natureza;
os homens públicos se guiarão, sobretudo, pelo bem-estar das gerações seguintes
às suas.
6. O
livre-arbítrio, a liberdade individual, a democracia política e a solidariedade
social são os princípios maiores de toda organização política eticamente
responsável; responsabilização e transparência definem o funcionamento da ordem
política.
7.
Direitos humanos são inalienáveis e imprescritíveis e as comunidades organizadas
se levantarão contra os tiranos que atentarem contra esses direitos; os
direitos dos indivíduos passam antes dos poderes dos Estados.
8. A
solução pacífica das controvérsias é o único meio aceitável de resolução de
disputas; as comunidades organizadas se encarregarão de prevenir e remediar os
possíveis atentados a esta norma de justiça universal.
9. O
reconhecimento do mérito individual deve ser estimulado e reconhecido, e por
isso as sociedades se esforçarão para dar chances iguais de partida a todos os
indivíduos pertencentes a grupos menos favorecidos.
10. O
progresso científico, guiado pelos princípios morais delineados nos demais
mandamentos, é a condição indispensável do progresso humano e das liberdades
individuais e por isso ele não será jamais obstado por qualquer princípio
religioso, por relativismos culturais ou particularismos sociais que possam
existir.
A vantagem dos antigos
mandamentos sobre os meus é que eles tinham uma estrutura simples, uma
linguagem direta e comandavam, de fato, coisas elementares (ainda que difíceis,
algumas delas): não farás isso ou aquilo, ponto. Esses novos têm mais de
recomendação política do que de imperativo moral, e por isso mesmo são muito
mais difíceis de serem implementados. Independentemente de seu aspecto de
“programa de governo”, eles podem apontar alguns caminhos na direção da
elevação social, econômica e cultural, se não moral, da humanidade.
Mas existe uma “coisa” que não
sofre limitações de nenhuma espécie, que não se submete às conhecidas restrições
da lei da escassez dos economistas, que não depende de nenhum regime político
particular para ser observada. Esta “coisa” se refere à natureza fundamental do
ser humano, em sua dimensão propriamente relacional e ela poderia ser traduzida
da seguinte forma: todas as pessoas, independentemente de idade, credo, raça,
convicções políticas e times de futebol, têm o inalienável direito de amar e
serem amadas, sem distinção de natureza, e sem qualificações de qualquer
espécie. Amar no sentido lato e estrito, sem necessidade de se explicar ou de
se justificar. Simples assim, mas isso não conforma exatamente um mandamento:
trata-se da própria vida.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de julho de 2006
(PS.: Novos desenvolvimentos e sugestões serão
bem acolhidos, pois não há, nem pode haver numerus
clausus em se tratando de trabalhar para o bem da humanidade.)
Verdades que não podem ser definitivas... em 2006 e agora... - Paulo Roberto de Almeida
Hora da saudade, assim é se lhes parece.
Mas, revisando listas antigas, acabo descobrindo coisas perfeitamente atuais, a despeito do "enorme" tempo decorrido desde a primeira redação.
O trabalho que segue abaixo, por exemplo, necessita alguma atualização?
Não creio, e não toquei numa única vírgula, sequer me dei ao lazer de lê-lo por inteiro.
Acho que está perfeito, em seu tempo e agora.
Só me permito acrescentar uma outra verdade que não pode ser definitiva, e não será:
Não há nenhum risco de melhorar...
Desculpem a franqueza...
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 31/01/2914
Mas, revisando listas antigas, acabo descobrindo coisas perfeitamente atuais, a despeito do "enorme" tempo decorrido desde a primeira redação.
O trabalho que segue abaixo, por exemplo, necessita alguma atualização?
Não creio, e não toquei numa única vírgula, sequer me dei ao lazer de lê-lo por inteiro.
Acho que está perfeito, em seu tempo e agora.
Só me permito acrescentar uma outra verdade que não pode ser definitiva, e não será:
Não há nenhum risco de melhorar...
Desculpem a franqueza...
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 31/01/2914
Verdades que não podem ser definitivas
Paulo Roberto de
Almeida
Freqüentemente
tenho ouvido algumas teses que passam por verdades absolutas, uma vez que são
continuamente repetidas por eminentes personalidades da vida pública, como se
diz.
Como não
estou de acordo com algumas delas, permito-me aqui fazer pequenas correções a
essas “verdades inquestionáveis”. Apenas alguns exemplos:
1) “Este é o pior
Congresso de todos tempos”.
Não, não é, pela simples razão que
este é apenas um Congresso “normal”, que reflete as realidades políticas e
sociais brasileiras, e que os “tempos” ainda não acabaram.
Em outros termos, temos tempos duros
pela frente, e podem ter absoluta certeza de que teremos Congressos ainda
piores do que este, pela simples razão de que o Brasil encontra-se em plena
construção de sua “democracia de massas”. Nessas condições, é inevitável que as
antigas representações elitistas sejam podadas em favor dos novos
representantes das classes “populares”, ou melhor ainda, pelos representantes
dos setores organizados de massa – sindicatos, igrejas, movimentos sociais,
grupos de interesse setorial etc. – que normalmente costumam ser militantes
ativos, não intelectuais de gabinete.
Por outro lado, o sistema político,
tal como está construído no Brasil, é uma importante modalidade de ascensão
social, atraindo portanto os arrivistas, oportunistas e outros meliantes não
armados – alguns armados – que, vendo no Congresso um excelente vetor de
‘negócios’ de todo o gênero, pretendem ganhar a vida facilmente nesse balcão de
negociatas em que se converteu o setor público em nosso país.
Ou seja, quem acha que não poderia
haver Congresso pior do que este, deveria se preparar para novas decepções. O
cenário político brasileiro ainda tem muito espaço para todos os tipos de
oportunismo político, o que significa que a qualidade da representação
continuará a se deteriorar. Que ninguém tenha ilusões quanto a isso.
2) “A carga
tributária brasileira já bateu no teto, está no limite, impossível subir mais”.
Outro ledo engano. Não há limite
teórico para a carga tributária, embora possa haver alguns limites práticos,
dados pelas conhecidas relações econômicas entre taxação e recolhimento
(emagrecimento da base pela fuga da formalidade, mas existem limites para isso
também, pois assalariados não conseguem fugir da voracidade tributária e os
liberais apenas o fazem parcialmente).
Quem disse que a carga tributária
não pode aumentar mais, não conhece a sanha arrecadatória e arrecadadora da
nossa máquina impositiva, uma autoridade fiscal das mais eficientes no mundo. A
receita pode, e deve, continuar aumentando, por razões muito simples.
As despesas já “contratadas” pelo
Estado têm de ser financiadas de alguma forma, uma vez que o governo já decidiu
conceder aumentos generosos para diversas categorias de servidores públicos e
vem criando novas fontes de gastos por meio de seus generosos (estou sendo
irônico, claro) programas sociais, o mensalinho do “bolsa-família”, difícil de
ser descontinuado depois de criado (ainda que ele possa ser transformado num
sentido menos assistencialista e mais orientado a qualificar profissionalmente
os mais pobres e os de baixa educação formal).
Como existem alguns limites à
“contratação” de mais inflação, uma das três vias clássicas para a erosão das
obrigações financeiras do Estado, e como também fica difícil emitir dívida
pública em bases puramente voluntárias – pois os agentes econômicos podem, a
partir de um certo limite recusar comprar os títulos a taxas de juros razoáveis
– sobra, portanto, a via do recolhimento tributário. Claro, o Estado sempre
pode recorrer a empréstimos compulsórios, mas isso é politicamente difícil,
pois dependeria de o Congresso aprovar lei específica, ao passo que a exação
fiscal, pelos mecanismos já existentes (isto é, sem aprovar novos impostos), é
sempre possível.
Quanto a mim, eu não tenho nenhuma
dúvida de que continuaremos pagando cada vez mais para o Estado cobrir suas
obrigações, que diga-se de passagem, são demandadas pela própria sociedade. O
povo brasileiro adora o Estado, pede, suplica, implora que o Estado venha em
seu socorro para fazer algum programinha social ou alguma nova prestação
setorial. Ele vem, só que no meio do caminho abocanha mais um pouco da riqueza
que é gerada socialmente.
3) “A corrupção
atingiu limites nunca antes vistos, não é mais possível continuar assim”.
Difícil saber, pois não dispomos de
um “corruptômetro” para medir avanços e recuos relativos da corrupção. Quantos
“por cento” do PIB são intermediados de maneira “heterodoxa”, digamos assim?
Difícil saber, não é mesmo? Não temos base de comparação, histórica ou atual.
O certo é que a corrupção tende
necessariamente a aumentar quando os fluxos de receitas e de pagamentos
transitam pelos canais oficiais, uma vez que se supõe que transações puramente
privadas são estreitamente vigiadas pelas partes no negócio, cada um cuidando
do seu rico dinheirinho.
O dinheiro da “viúva” é um pouco de
todo mundo, transita por muitas mãos, no sentido metafórico, claro, ou seja,
existem milhares de programas considerados essenciais para o bem estar público
que devem ser objeto de cuidadoso planejamento, alocação, discussão
congressual, alocação, empenho, licitação, leilão, concorrência, doação, enfim,
as mais diferentes formas de repartição pública que se possa conceber. É
evidente que num sistema que mobiliza grandes proporções de dinheiro arrecadado
daqueles que geram a riqueza e a renda – que são sempre, por definição, os
agentes econômicos privados, uma vez que o Estado raramente produz qualquer bem
real – alguns desses muitos intermediadores do dinheiro “público” encontram
alguma maneira inteligente de desviá-lo para seu próprio usufruto.
Donde se conclui que quanto maior a
proporção do PIB brasileiro que passar pelos canais públicos, maiores serão as
oportunidades de corrupção. Uma vez que suponho que a carga fiscal total no
Brasil ainda não chegou aos seus limites e tende a aumentar, ainda que modesta
e lentamente na fase presente, não tenho por que acreditar que a corrupção
chegou aos seus limites no Brasil.
Como tampouco acredito que
mecanismos mais “eficientes” de monitoramento e controle sejam uma resposta
ideal ao sistema – uma vez que sempre haverá meios de contornar esses
mecanismos, uma vez conhecidos –, minha conclusão é uma só:
A corrupção só diminuirá, no Brasil,
quando um menor volume de dinheiro for transacionado pelos canais oficiais.
Concordam com isso? Para mim, é elementar...
4) “A qualidade
da educação já atingiu patamares mínimos, agora tem de melhorar”
Os otimistas incuráveis acham que a
escola pública já piorou o que tinha de piorar e que, daqui para a frente, o
movimento será no sentido de sua melhoria substantiva.
Eu acho que ainda não atingimos o
fundo do poço, por duas razões muito simples.
A primeira ordem de razões prende-se
aos problemas fiscais já detectados anteriormente: como a situação das contas
públicas tende a se deteriorar ainda mais, no futuro previsível, não é razoável
esperar que um maior volume de recursos possa ser investido na escola pública, de
molde a melhorar sua qualidade.
A segunda é a incultura generalizada
na sociedade, facilmente detectável nos canais públicos de televisão e nas
universidades de modo geral. Resultado paralelo de nossa “democracia de massas”
e de um descaso generalizado com a escola pública, mais e mais pessoas
ignorantes ascendem a posições de mando e de poder, com o que elas continuam
contribuindo para a deterioração ainda maior do ensino primário e secundário,
público e privado (que não pode ficar imune aos padrões societais vigentes).
Como todos sabem, temos dirigentes
políticos que exibem uma ignorância verdadeiramente enciclopédica, isto é, ela
atinge os mais variados campos do saber humano. Como não existe muita
autocrítica, ela continua impunemente produzindo efeitos deletérios sobre todo
o nosso sistema público, sobre a escola e o ensino em particular.
Como também se dissemina uma cultura
do igualitarismo e do distributivismo primários, reflexos de um marxismo ainda
mais primário que continua a ser a base do ensino médio neste país, não há
nenhum risco de melhoria na educação pública.
Ou seja, prenuncio dias brilhantes
pela frente, em termos de decadência moral e substantiva da escola pública no
Brasil.
5) “O Brasil
está condenado a ser grande e importante, é o país do futuro”.
Essas tiradas patrioteiras nunca me
comoveram, pela simples razão de que, como todos sabem, tamanho não é
documento, pelo menos não absolutamente. A China sempre foi enorme, gigantesca,
e decaiu continuamente durante três ou mais séculos, antes de começar a
reerguer-se, penosamente, nas duas últimas décadas do século XX. Ela está
longe, ainda, de ser um exemplo de prosperidade para o seu povo, ainda que
possa já ser uma potência militar e venha a ser, brevemente, uma potência
tecnológica, também. A Rússia sempre foi um gigante de pés de barro, seja no
antigo regime czarista, seja durante os anos de socialismo senil, até
esboroar-se na decadência política e no capitalismo mafioso, do qual ela ainda
não se recuperou.
O Brasil sempre foi grande, e pobre,
não absolutamente, mas educacionalmente paupérrimo, miserabilíssimo no plano
cultural. Somos hoje um país totalmente industrializado – repito, totalmente –
e uma potência no agronegócio e não deixamos de ser pobres educacionalmente
falando. Ainda estamos no século XVIII em matéria de ensino, quando não de
cultura. Bem sei que dispomos, atualmente, de um sistema de produção científica
que se situa entre os vinte melhores do mundo, mas isso “atinge” – é o caso de
se dizer –, se tanto, uma mínima parcela da população, uma superestrutura
extremamente fina em termos sociais.
A conversa dos “BRICs” tampouco me
convence, pois o que vale, em última instância, não é poder econômico absoluto,
mas poder relativo e, sobretudo, bem estar e prosperidade para a sua própria
população, qualidade de vida, e nisso estamos muito aquém do desejável. Não
existem BRICs, ou não BRICs, existem povos que conseguiram resolver seus
problemas básicos e que passam a dispensar, à sua sociedade, oportunidades
culturais “excedentárias”, digamos assim. O Brasil não dispensa sequer o mínimo
para um contingente apreciável de brasileiros, e não pode pretender assim ser
grande e importante. Aliás, ele até pode ser, entrar no Conselho de Segurança,
influenciar reuniões multilaterais e até a agenda internacional, mas continuará
sendo um gigante de pés de barro enquanto não resolver problemas básicos no
interior de suas fronteiras.
Essa história de “futuro” é risível,
se não fosse trágica, para milhares de crianças condenadas a uma existência
miserável nas favelas, por falta de condições mínimas na escola para disputar
depois uma ocupação produtiva na sociedade, e útil para o restante da
comunidade. Estamos, literalmente, jogando na lata de lixo milhares de crianças
todos os dias. Um país assim não pode ser grande e importante.
Para mim, ele continua a ser pequeno
e medíocre...
Brasília, 2 de julho de
2006
Postado no blog (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2006/07/547-algumas-verdades-que-podem-nao-ser.html#links).
Postado novamente em 31/01/2014.
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