quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

1607) Zelaya: bem, já que estamos falando dele...


...melhor flagrá-lo numa pose de presidente (em um pequeno momento de siesta)
Edgard Garrido/Reuters

Uma siesta muito, muito longa
Revista Veja, edição 2145, 20 de dezembro de 2009

Tudo teve ares de pastelão, mas pelo menos uma coisa deve ser considerada: a potestade das forças que se ergueram contra Manuel Zelaya não foi brincadeira. O infeliz do chapelão foi destituído da Presidência de Honduras com ordem assinada pela Suprema Corte e sem nenhuma cerimônia por parte do Exército. No seu lugar ficou um sujeitinho bravo, Roberto Micheletti, que assumiu interinamente com um objetivo - no pasará - e o cumpriu. Ainda por cima, Zelaya contou com o apoio incondicional dos megalonanicos da diplomacia petista, sempre uma garantia de que a coisa vai dar errado. Por ordem de Hugo Chávez, voltou à sorrelfa e se instalou na Embaixada do Brasil com planos inversamente proporcionais à capacidade de executá-los. As simpatias dos que, mesmo desconfiando das patranhas da figura, repudiavam os métodos de sua deposição sofreram um cruel golpe quando ele disse que estava sendo torturado por mercenários israelenses com emissões de alta frequência e gases tóxicos. Folhas de papel-alumínio passaram a recobrir as paredes da embaixada, dando a impressão de que a qualquer momento sairiam dali miolos ao forno. Zelaya não foi o único a passar atestado de maluquice: o governo brasileiro repudiou até o fim a realização de eleições presidenciais e, depois, seu resultado. Em outras circunstâncias, o mau conselheiro Marco Aurélio Garcia e o chanceler Celso Amorim ensaiaram dar uma de good cop e bad cop, aquela jogadinha de policial mau e policial bonzinho. Da história de Honduras, saíram parecendo os Keystone Cops.

1606) Triste fim de Manoel Zelaya (bem, nao tao triste assim)

Crônica impagável do jornalista Augusto Nunes.
Minha aposta pessoal é a de que ele vai ficar na Hospedaria (digo, Embaixada) do Brasil até a posse do novo presidente, que depois lhe concederá anistia generosamente, mas burocraticamente (escoltando-o para o aeroporto, ou alguma fazenda de sua propriedade, desde que prometa se comportar...).
Mas, confesso que o cenário traçado por Augusto Nunes é muito mais engraçado. Desejo, realmente, que ele se converta em realidade.
Só falta resolver quem vai pagar a conta da hospedaria...

A tarde de janeiro em que Zelaya resolveu cair fora da pensão
Augusto Nunes, Veja, 20 de dezembro de 2009

Faltavam três minutos para as três da tarde de 27 de janeiro de 2010 quando o calor de Tegucigalpa interrompeu a sesta do homem estendido na cama do quarto principal. Manuel Zelaya acordou com o pijama de seda ensopado de suor, afastou o chapéu sobre o rosto com a mão esquerda e, praguejando contra o inverno hondurenho, estendeu a direita para acordar a mulher que não estava lá. Abriu os olhos, arregalou-os enquanto conferia o relógio da parede e estranhou a ausência de Xiomara, que nos tempos do palácio não encerrava a sesta antes das quatro.

Ela parecera aflita ao longo da manhã, integralmente consumida ao lado do rádio para que não se perdesse nenhum detalhe da cerimônia de posse do traidor Porfirio Lobo no cargo usurpado pelo golpista Roberto Micheletti. Tampouco o chamara de Mel durante o almoço, como de hábito. Mas Zelaya até cantarolou uma música nativa enquanto calçava as botas negras e combinava a calça bege com a mais alva das oito guayaberas, sem suspeitar de que o sumiço da primeira-dama era só o prelúdio de uma sucessão de espantos.

Nenhum dos dois voluntários vigiava a porta, intrigou-se ao sair do quarto. E nenhum de seus dois ministros estava na sala, surpreendeu-se. E não havia nenhum soldado vigiando a rua, desconcertou-se ao chegar perto da janela para a contemplação ritual da tropa que sitiava o casarão desde a gloriosa noite de setembro em que se infiltrou na velha embaixada do Brasil à frente de 300 bravos prontos para matar ou morrer.

Zelaya berrou o nome da mulher, ouviu o grito do silêncio, foi assaltado pela angústia, marchou sobre os aposentos dos dois jornalistas brasileiros, encontrou-o deserto pela primeira vez em cinco meses e enfim compreendeu que algo de muito grave havia ocorrido. ”Qué pasa?”, murmurou já ensaiando o famoso olhar dos momentos de cólera. Começava a planejar vinganças tremendas quando veio do quarto dos fundos a informação em espanhol com sotaque cearense: “Se fueron, señor presidente”.

Era Francisco Catunda, o encarregado de negócios da antiga embaixada brasileira. “La señora?”, sussurrou com olhar de pedinte. A mudez do diplomata respondeu que sim. ”Los periodistas?”, balbuciou já sem esperança. “Se fueron todos”, assim começou Catunda a relatar os sucessos da tarde, desencadeados quando faltavam dez minutos para as duas e encerrados meia hora depois.

A primeira-dama saiu do quarto, informou ao entrar na sala que o marido já ressonava, convocou os sete hóspedes restantes para uma assembleia deliberativa da pensão, esperou que se acomodassem e tirou o celular da bolsa. Pediu a quem atendera que chamasse o chefe do cerimonial do palácio, cumprimentou-o pela bonita cerimônia de posse e comunicou que, se houvesse um convite de sobra, compareceria com muito prazer ao baile da posse de Porfírio Lobo.

Em seguida, ordenou a Catunda que chamasse o capitão que chefiava a guarda militar formada por 20 recrutas, diante do qual renunciou oficialmente ao cargo de primeira-dama democraticamente eleita e reconheceu o novo governo. Aplaudida pelos presentes, a ex-primeira-dama ordenou-lhes que fossem para casa, determinação atendida pelos ministros, pelos jornalistas, pelos voluntários e pelos soldados do Exército, inclusive o capitão comandante. Só ficou o encarregado de negócios, escalado para a narrativa que acabara de fazer.

Então Manuel Zelaya entendeu que chegara o momento de cair fora do casarão. Ligou para a casa dos pais, a mãe reconheceu a voz de Manolo, ele pediu-lhe para passar a noite no quarto da infância e ouviu que sim, desde que não achasse que também aquilo era uma pensão e ficasse por cinco meses. Sem ninguém para preparar o jantar, comeu um pedaço de pizza da véspera, foi dormir outra vez e, à meia-noite em ponto, convocou Catunda para o último despacho como presidente constitucional.

Declarou encerrado o mandato, reconheceu o novo governo, entregou as chaves do casarão e, antes de buscar a mala, encarregou o encarregado de negócios de ficar no posto até a manhã seguinte. Às 11 horas, deveria telefonar para o companheiro Lula e narrar-lhe os acontecimentos históriscos. O soldado do Itamaraty estava com o celular na mão quando o cara ligou.

Era para dizer-lhe que Zelaya se fora sem pagar a despesa. Isso Catunda fez. Mas não fez o que o amigo hondurenho ordenou que fizesse se Lula viesse com lamúrias, como veio. Nesse caso, Catunda deveria sugerir-lhe que mandasse a conta para o companheiro Hugo Chávez.

Ou, então, que se queixasse ao bispo de Tegucigalpa.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

1605) Exiting from High Public Debt: uma recomendacao que vale para o Brasil

O Brasil deve participar oficialmente, com representantes da Fazenda, Planejamento, Banco Central e Tesouro, se supõe, e ouvir atentamente o que poderá dizer o Murilo Portugal, que já foi Diretor do Tesouro Nacional e Secretário Executivo da Fazenda.

High-Level Conference
Exiting from High Public Debt
January 19, 2010
IMF Offices in Europe, 66 avenue d’Iena, 75116 Paris, France
Ground Floor Conference Room A

Organized by the Fiscal Affairs Department and the Offices in Europe
International Monetary Fund

The IMF's Fiscal Affairs Department and the Offices in Europe are organizing a high-level conference on “Exiting from High Public Debt,” at the IMF’s Paris Office on January 19, 2010.

The event will provide a forum for discussion of a range of issues related to the risks arising from high public indebtedness, including the implications for interest rates and growth, for public debt management, and for financial markets more generally. The conference will also cover debt reduction strategies, with specific reference to lessons that can be drawn from historical experiences.

Please note that the event is by invitation only.

PROGRAM
January 19, 2010
Opening Session
08:30 Registration
09:00-09:10 Introductory Remarks
Emmanuel van der Mensbrugghe, Director, IMF Offices in Europe
Mr. Carlo Cottarelli, Director, Fiscal Affairs Department (FAD) IMF
09:10-09:30 Keynote Speech
Murilo Portugal, Deputy Managing Director, IMF

Session 1: Fiscal Outlook, Trends and Risks
09:30-10:45 Chair: Mr. Pier Carlo Padoan, Deputy Secretary General and Chief Economist, OECD
Presenter (15 minutes):
Mr. Philip Gerson, FAD
Discussants (15 minutes each):
Mr. Benoît Coeuré, Directeur, Direction générale du Trésor et de la politique économique, French Ministry of Finance
Mr. Jean Pisani-Ferry, Director, Breugel Institute
General discussion (25 minutes)

10:45-11:15 ***Coffee Break***

Session 2: Debt, Interest Rates and Growth
11:15-12:30 Chair: Professor Sir Tony Atkinson, Oxford University
Presenter (15 minutes):
Mr. Manmohan S. Kumar, FAD
Discussants (15 minutes each):
Mr. Daniele Franco, Head, Structural Economic Analysis Department, Bank of Italy
Mr. Christian Kastrop, Deputy Director-General, Economic Policy Department, German Ministry of Finance
General discussion (25 minutes)

12:30-14:00 ***Lunch***

Session 3: Implications of High Debt for Public Debt Management and Financial Markets
14:00-15:15 Chair: Mr. Ad van Riet, Head of the Fiscal Policies Division, European Central Bank
Presenter (15 minutes):
Mr. Udaibir Das, Monetary and Capital Markets Department, IMF
Discussants (15 minutes each):
Ms. Samantha Beckett, Director of Operations, HM Treasury
Mr. Pierre Cailleteau, Managing Director, Moody’s Sovereign Risk Group
General discussion (25 minutes)

Session 4: Debt Reduction Strategies—Lessons from the Past
15:15-16:30 Chair: Mr. Marek Belka, European Department, IMF
Presenter (15 minutes):
Mr. Per Molander, Director General, Swedish Social Insurance Inspectorate
Discussants (15 minutes each):
Mr. Richard Portes, Professor, London Business School, CEPR
Mr. Luc Leruth, IMF Offices in Europe
General discussion (25 minutes)

16:30-17:00 ***Coffee Break***

Session 5: Round-Table Discussion
17:00-18:00 Chair: Mr. Carlo Cottarelli

Panelists:
Mr. Marek Belka, IMF
Mr. Marco Buti, Director-General for Economic and Financial Affairs, EC
Mr. Pier Carlo Padoan, OECD
Mr. Tom Scholar, Managing Director International and Finance, HM Treasury

1604) Uma mensagem de Natal diferente

Esta me foi mandada pelo José Antonio Aleixo da Silva, professor do Departamento de Ciência Florestal da UFRPE e Conselheiro Nacional da SBPC/Nordeste, que faz um boletim diário (ou quase), com o que de melhor é publicado na área da ciência.

Car@s Colegas - MINHA MENSAGEM DE FIM DE ANO

Durante esses 10 anos que edito e publico o “Notícias da SBPC/PE”, uma época de ano sempre me dá muito trabalho é dezembro. É porque neste mês dou uma parada no jornalzinho, mas antes disto tenho que mandar uma mensagem de Natal e Ano Novo prá vocês. Seria facílimo pegar uma dessas legais que rolam na internet e mandar, mas gosto de fazer a coisa diferente.

Este ano estava pensando no que mandar, quando me lembrei de um livro que ganhei de meu amigo Chico (SBPC/PE) intitulado “Deve ser brincadeira, Sr. Feynman”, publicado pela Editora Elsevier, Rio de Janeiro, 2006. Foi escrito pelo próprio Feynman com o título original “Surely you´re joking, Mr. Feynman”.

Para quem não conhece, Richard Philips Feynman que nasceu em New York em 11 de maio de 1918, e faleceu em 15 de fevereiro de 1988, em Los Angeles. Foi um renomado físico, professor da Universidade de Cornell e do Caltech (Califórnia) e vencedor do Prêmio Nobel de Física em 1965, com o trabalho “Eletrodinâmica Quântica”. Acho que vi em algum lugar que ele é considerado o “pai da nanotecnologia”.

Mas por que nesta época falar sobre Feynman? Quem já leu o livro citado acima pode viajar nas “loucuras” de Feynman e, certamente, ficou maravilhad@ com a leitura. É um livro fantástico que não exige sequência de leitura, pois são casos da dele contados por ele mesmo. Vale à pena ler. Vou falar de um deles.

Entre 1951 e 1952, ele passou vários meses no Brasil, dedicando-se ao ensino de física, às praias, e aqui descobriu a teoria das interações fracas.

Como era fanático por instrumentos de percussão, um de seus sonhos era tocar em uma bateria de escola de samba e de tanto que insistiu conseguiu um lugar para tocar frigideira. Fala-se que ele andava pelas praias no Rio de Janeiro tocando frigideira e era conhecido como o “gringo da frigideira”. Mas por mais que treinasse, sempre quando a bateria da escola de samba atravessava nos ensaios, o mestre de bateria dizia: “o gringo outra vez” e isso era uma porrada nele.

Certo dia apareceu um sujeito para fazer teste na bateria da escola de samba, exatamente, prá tocar frigideira. O cara deu um show à parte com a frigideira, Feynman ficou admirado e com medo de ser substituído, perder o lugar que ele tanto lutou prá conseguir. Mas para sua surpresa e imensa alegria, depois do teste, o mestre de bateria falou para o sujeito: você está aprovado, mas ainda tem muito que aprender. Vá tocar ao lado do gringo e preste bem atenção que ele é muito bom tocador de frigideira, vá aprender com ele. Foi uma das maiores alegrias da vida de Feynman, certamente, superior a de quando ele soube que havia ganhado o Prêmio Nobel de Física.

Então colegas de 10 anos e alguns(mas) mais velh@s e outr@s mais nov@s, tudo que desejo prá nós em 2010, é que seja um ano repleto de alegrias que buscaremos conseguir, essas serão as melhores. As que os outros nos proporcionarem serão bem vindas, mas vamos buscar nossas alegrias com muita paz, saúde, amor e fraternidade.

Que 2010 seja o nosso ano 10, porque mesmo com todo avanço da ciência é pouco provável que viveremos outro ano 10.

Sim, um Feliz Natal prá todos. Voltarei em fevereiro de 2010.

Um abraço
Aleixo

1603) Fim do Mundo: ja que estamos nos preparando para ele...

E por falar em apocalipse...
João Luiz Mauad
23.12.2009

Para aqueles que costumam impressionar-se com teorias escatológicas do tipo “mudanças climáticas”, aqui vai uma de tirar o sono. De acordo com os cientistas, existe uma chance em 10.000 de que um grande asteróide ou cometa (com diâmetro maior que 2Km) colida com o nosso planeta ainda neste século, desmantelando a biosfera e matando uma larga fração da população que aqui vive. E as más notícias não acabam aí. Especialistas estimam - com base em estudos sobre a queda de um meteorito medindo menos que 100m de diâmetro na Sibéria, que destruiu uma área de floresta equivalente a 2000 Km2 em 1908 - que a queda de um corpo medindo mais de 140m de diâmetro já seria suficiente para provocar danos irreparáveis à vida na Terra. Como esses corpos menores são muito mais abundantes no espaço do que os grandes asteróides e cometas, a chance de choque é também maior.

Malgrado talvez não exista um exemplo melhor daquilo que os economistas convencionaram chamar de “bem público”, são pouquíssimos os países que têm programas governamentais visando à detecção e rastreamento de objetos potencialmente perigosos perto da Terra. Como esse serviço é daqueles que beneficiam diretamente cada um dos habitantes do planeta, praticamente todos os cidadãos fora dos EUA, Alemanha e Canadá somos “free-riders”, já que nos beneficiamos de um serviço sem que estejamos contribuindo para o seu custeio.

Apesar dos riscos nada desprezíveis, não há qualquer movimentação ou plano multilateral patrocinado pelas Nações Unidas para nos proteger dessa possibilidade real, ainda que o poder destrutivo de um cometa ou asteróide que porventura caia sobre nossas cabeças seja muito maior que a pior hipótese de aquecimento global. Como é pouco provável que os arautos do apocalipse e os próceres da “governança global” não estejam cientes disso, a questão que se coloca, de imediato, é: por que tanta paranóia com o clima e tanto descaso com uma ameaça potencial muito maior?

Eu consigo enxergar pelo menos quatro razões para isso:

1. Em primeiro lugar, diferentemente do aquecimento global antropogênico (AGA), o risco de colisão de corpos celestes com a Terra não admite qualquer suposição de vilania dos Estados Unidos. Ao contrário, se o AGA pode ser quase 100% imputado à ganância capitalista dos americanos, no caso dos asteróides eles seriam os mocinhos solitários da história (ou quase solitários, já que há esforços notáveis, embora em muito menor escala, de alemães e canadenses no mesmo sentido), os únicos preocupados em defender o planeta. Por que, afinal, os amantes da Mãe Natureza perderiam tempo com uma questão que não pode servir de esteio para a demonização dos gananciosos capitalistas e seus mais destacados representantes, não é mesmo?

2. Parece claro, pelo menos para qualquer pessoa sensata, que um projeto de rastreamento e deflexão de objetos celestes potencialmente perigosos para a vida terrestre teria muito mais chances de sucesso se houvesse uma real cooperação internacional, não apenas em termos de recursos, mas também no desenvolvimento de novas tecnologias. Quanto mais observatórios estiverem varrendo o céu, tanto em terra quando em órbita do planeta, quanto mais gente estiver estudando a coisa em profundidade tentando descobrir soluções viáveis, maiores serão as chances de que possamos evitar o pior. No entanto, como os recursos globais necessários para o desenvolvimento de programas “anti-colisão” são irrisórios (se comparados - é claro! - com o dinheiro que pretendem embolsar com as trombetas climáticas), os impostos potenciais que nos poderiam cobrar seriam modestos, ou pelo menos bem abaixo das expectativas sempre megalômanas dessa gente.

3. Além disso, programas espaciais desse tipo são daqueles que fazem avançar a tecnologia e, portanto o progresso. Mas, como sabemos, progresso é uma palavra que não faz parte do dicionário ambientalista. Ao contrário, se dependesse deles, voltaríamos à Idade da Pedra e viveríamos como os bons selvagens de Rousseau, caçando e coletando frutos.

4. Finalmente, aquela que, para mim, é a razão mais forte: para salvar o planeta de um asteróide qualquer, não é preciso ensinar-nos como devemos viver as nossas vidas, se devemos andar menos de carro, viajar menos de avião, economizar a água da descarga ou do banho, construir casas ecologicamente corretas, não fumar, não comer carne vermelha, etc. Afinal, a burocracia intervencionista não se contenta apenas em cobrar cada vez mais impostos. Ela possui uma necessidade atávica de planejar o mundo nos mínimos detalhes. Resumindo, não lhes interessa investir em catástrofes cujas soluções não sirvam para limitar ainda mais a nossa liberdade.

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Um comentarista aduziu a seguinte razão de por que o mundo não vai fazer nada contra os asteróides:
"A impossibilidade de fazer dezenas de ONGs arrecadarem dinheiro em prol da destruição de asteróides...."

1602) Politica externa brasileira: sintomas preocupantes de perda de sentido da razão

Sobre o Eixo, uma frase perturbadora
Museu Blog: Arte Cultura, Judaísmo, 17.12.2009

Memória
"Adeptos do eixo nazifascista ainda existem na diplomacia brasileira. O que me deixa indignado é que alguém como o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que teve a coragem de dizer que a Alemanha e o Japão estão excluídos do Conselho de Segurança da ONU por terem tido a ousadia de desafiar a liderança anglo-saxônica do mundo (Mundo, 6/12), seja ministro de Assuntos Estratégicos do Brasil.
Em memória dos milhões de mortos da Segunda Guerra, fica aqui o meu protesto."
ALBERTO GOLDMAN , vice-governador de São Paulo (São Paulo, SP) - carta publicada na Folha de São Paulo em 15 de dezembro de 2009.

A reação de Goldman seguiu-se à declaração do Ministro, publicada na Folha de 6 de dezembro,em matéria de Claudia Antunes reproduzida abaixo. A frase sobre Alemanha e Japão, que omite o caráter totalitário e os crimes contra a humanidade do Eixo, cabe na perspectiva relativista que "naturaliza" fatos históricos cujos detalhes são pouco conhecidos pelo público.

Ministro cobra desarme de países atômicos
O ministro de Assuntos Estratégicos, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, elogiou e aprofundou a declaração feita na quinta-feira, na Alemanha, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que as potências atômicas precisam se desarmar para ter "autoridade moral" para cobrar o desarme de países como o Irã.

"O controle da situação militar [no mundo] exige o desarmamento dos países nucleares, não o desarmamento dos desarmados, que não colocam nenhum país em risco. O não desarmamento dos países nucleares é que leva à proliferação, porque os países que se sentem ameaçados sabem que eventualmente não serão atacados se estiverem armados", afirmou o ex-secretário-geral do Itamaraty.

"Fico feliz porque escrevi isso antes das declarações do presidente Lula", disse, antes de comentar: "A Coreia do Norte não tem o destino do Iraque porque tem a bomba".
Guimarães encerrou na noite de anteontem, no Rio, conferência do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Itamaraty - entidade de cuja direção foi afastado em 2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso, por atacar eventual ingresso do Brasil na Alca (Área de Livre Comércio das Américas).

Conhecido pela oposição ao sistema internacional criado sob a hegemonia dos EUA, o ministro fez afirmações que qualificou de "heterodoxas" ao analisar as "três crises internacionais" - econômica, ambiental e de governança - e sua relação com "quatro tendências": globalização, multipolarização, normatização e transformações tecnológicas. Ele descreveu esforços das potências ocidentais para aprofundar, no pós-Guerra Fria, as normas pelas quais concentram poder. Disse que os acordos de não proliferação "garantiram privilégios a certos Estados", que tentam ampliá-los. "Também não querem que os países não armados tenham armas convencionais. Facilita muito, não é?"

Citou as visitas recentes dos presidentes do Irã, de Israel e da Autoridade Nacional Palestina e ironizou os que criticaram a vinda de Mahmoud Ahmadinejad. "Alguns queriam que nós pedíssemos licença, mas não pediram para o presidente de Israel, aí não precisava, não é?"

Guimarães defendeu a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com a inclusão de Brasil, Índia, africanos e as potências do Eixo nazifascista derrotadas na Segunda Guerra, Alemanha e Japão, "depois de tantos anos de purgatório, de punição, por terem desafiado a liderança anglo-saxônica do mundo" (grifo meu).

Segundo ele, o Brasil está em boa posição nas negociações sobre mudança climática por sua matriz energética limpa e pela decisão de adotar metas voluntárias de redução das emissões. O aquecimento global, afirmou, decorre da visão de que "o indivíduo pode consumir o que bem entende, e o produtor produzir o que bem entende", num mundo de recursos naturais que "seriam inesgotáveis", o que levou ao uso intensivo de combustíveis fósseis pelos países desenvolvidos.

A mesma visão pressupunha que os demais Estados "não poderiam chegar ao mesmo nível de consumo". A pregação do desenvolvimento sustentável, disse, surgiu nesse contexto: "Nunca [...] defenderam o crescimento sustentável para os países desenvolvidos, sempre para os subdesenvolvidos. Fica até de mau gosto dizer isso. Mas é a verdade."

Para Guimarães, países como Brasil, Índia e Rússia não são "absorvíveis" pelos três polos em torno de Estados Unidos, União Europeia e China. "Temos a sorte", disse, de poder formar um polo na América do Sul, "base central da política externa brasileira".

O ministro avaliou que o Brasil está em geral bem posicionado diante dos desafios internacionais, com uma exceção importante: inovação tecnológica. Comparou o investimento anual dos EUA em pesquisa, de US$ 300 bilhões, com o brasileiro, de US$ 15 bilhões.

"Se não fizermos avanços, estaremos num patamar inferior de competitividade em termos econômicos, políticos e militares." (Claudia Antunes)

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O correspondente que me enviou esse post, efetuou comentários que me permito reproduzir aqui, omitindo seu nome por razões óbvias, mas suas palavras revelam surpresa e indignação. O paralelo histórico é de sua responsabilidade:

On 23/12/2009, at 12:16, Xxxxx Xxxxx wrote:

"Ao ler mais esses comentários do Samuel, lembrei-me do embaixador Mário de Pimentel Brandão, que escreveu em 1940 ao Maurício Nabuco (então secretário geral do MRE, cargo que Samuel ocupou antes de ser ministro) dizendo algo como "se na Roma Antiga um cavalo chegou a senador, é de se compreender que no Brasil contemporâneo um burro chegue a embaixador e secretário geral do MRE."

Acrescento eu:
Essas frases não são apenas perturbadoras quanto a uma adequada orientação da postura internacional do Brasil, no contexto de um mundo ainda profundamente desigual, mas que procura evitar desenvolvimentos indesejáveis, como seria a proliferação de tecnologia nuclear em países essencialmente antidemocráticos e basicamente comprometidos com uma visão do mundo que se situa nas antípodas de nossas tradições e valores.
Elas são, na verdade, profundamente preocupantes, pois revelam um estado de espírito, uma predisposição ideológica que turva o pensamento de quem as formulou e essa predisposição é, obviamente, a de se contrapor aos "países hegemônicos", ao "Império", que para o Brasil representariam supostamente o mal a ser evitado, daí essas alianças espúrias com países "não-hegemônicos", a "periferia oprimida" que vai nos redimir da concentração de poder e da dominação imperial.
No caso do seu autor, especificamente, eu diria que se trata da morte do pensamento, simplesmente isso...
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Paulo Roberto de Almeida (23.12.2009, 13h10)

1601) COP-15: Palanque Politico? (Miriam Leitao)

COP-15: Palanque Político?
Míriam Leitão
O Globo, 20/12/2009

A COP-15 não mudou o mundo, mas mudou o Brasil. A Conferência do Clima e a competição eleitoral fizeram a posição do Brasil se mover na direção certa. Há três meses, o Brasil tinha um discurso velho. Hoje, tem metas e um caminho. Um erro foi nomear a ministra Dilma como chefe da delegação. Sem ter nada a ver com coisa alguma, ela se apagou na negociação.

COP não é palanque. Aqui, em Copenhague, travou-se uma batalha de sutilezas escorregadias, de detalhes técnicos complexos, de linguagem cifrada. Numa situação assim, é fundamental conhecer o terreno, a técnica e o tema. Dilma Rousseff é recém- chegada à questão climática. Na verdade, seu histórico é hostil à causa que motiva todo esse esforço. Ao ser escolhida, ela imprimiu à atuação brasileira um amadorismo insensato. Além disso, neutralizou alguns dos nossos mais bem treinados negociadores.

O patético final da Conferência deixou a confusão brasileira mais aparente. Todo mundo foi saindo, e o ministro Carlos Minc assumiu a negociação, apesar de ter sido expressamente afastado de outras etapas das conversas e destratado pela ministra Dilma na primeira entrevista em Copenhague. Foi Carlos Minc que tirou o Brasil da envelhecida posição de se negar a assumir compromissos de redução da emissão. E foi apenas por ter mudado sua posição que o Brasil não chegou a Copenhague em situação constrangedora.

Na noite da última sexta, no fim da Conferência, um dos remanescentes da equipe brasileira era o embaixador especial do Clima Sérgio Serra. Apesar do título do seu cargo, Serra para entrar na salas das conversas precisava do crachá deixado por Marco Aurélio Garcia, outro que não se sabe o que fazia em Copenhague.

Na noite da negociação entre os 25 chefes de Estado, de quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, veterano de COPs, subiu o elevador do hotel onde estava hospedado com rosto de desconsolo, depois de admitir a jornalistas que não sabia o que estava acontecendo. Celso Amorim foi, entre outras reuniões, o grande negociador de Bali, onde, junto com a então ministra Marina Silva, trabalhou na negociação do Mapa do Caminho.

Na noite do Bella Center, o presidente Lula foi para uma reunião dos chefes de Estado sem Amorim e sem o embaixador Luiz Alberto Figueiredo. Os dois têm experiência, são profissionais treinados.

Quando Dilma Rousseff chegou a Copenhague, Figueiredo teve que acompanhar a ministra em reuniões que não tinham nada a ver com o andamento da negociação. Visivelmente constrangido.

Dilma, nos primeiros dias, se dedicou a atividades políticas para a delegação brasileira, que tinha o extravagante número de 700 pessoas. Fez discursos políticos para os aplausos dos áulicos em que confundia conceitos elementares do mundo climático, ou tropeçava nos atos falhos. A atividade formal à qual tinha que ter ido era a abertura oficial do segmento ministerial. Ela era a $brasileira nesse segmento. Na hora da reunião com o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, o príncipe Charles e a Nobel Wangari Maathai, Dilma convocou uma coletiva, na qual se dedicou a criticar a proposta feita pela senadora Marina Silva e pelo governador José Serra, seus prováveis competidores nas eleições de 2010. Aliás, a proposta de doação brasileira para um fundo foi defendida depois pelo próprio presidente da República.

Houve momentos constrangedores. Quando chegou à primeira reunião, para ser informada do que estava acontecendo na negociação cuja chefia ela iria assumir, a pergunta feita por Dilma Rousseff foi:

— Qual é a agenda da Marina e do Serra?

De Copenhague, também ela se mobilizou para adiar a votação de um projeto que poderia desafinar com o discurso feito pelo Brasil aqui. Era o projeto chamado "Floresta Zero". Outro foi aprovado com o apoio e mobilização da base parlamentar, o que reduziu os poderes do Ibama e deixou aos estados o poder de decisão sobre a reserva legal.

O governo brasileiro começou a mudar tão recentemente que os sinais da velha forma de pensar estão em todos os lugares. Por isso, a lei de mudança climática aprovada no Congresso tem escrita a seguinte sandice: diz que as metas são voluntárias. Alguém já viu uma lei que estabelece que aquilo que legislou é voluntário? Se está na lei, é lei.

A participação brasileira ganhou musculatura quando o presidente Lula chegou e estabeleceu seu contato direto com os outros chefes de Estado, mas ter ido embora, antes do fim, levando a chefe da delegação, já mostrava como foi sem sentido sua decisão de nomeá-la.

A estratégia político-eleitoral do Planalto era aproveitar a COP e pôr a ministra-candidata em contato com grandes líderes, produzir declarações e imagens para ser usadas na campanha. Em outros eventos está sendo feito isso. Mas numa negociação como essa a decisão foi a mais sem sentido que poderia ter sido tomada. Com o aumento da tensão negociadora, o Brasil foi se apagando na mesa de negociação, em parte porque os especialistas foram afastados e em parte porque ela não tinha condições de chefiar o grupo.

A reunião de Copenhague ficará na História como um momento de insensatez das lideranças do mundo. Em que se desperdiçou uma oportunidade de ousar e construir o futuro. Em que se escolheu uma resposta medíocre diante de um vasto desafio. Para o Brasil, ficou este outro sinal assustador: de que o governo quer usar qualquer momento, mesmo o mais inadequado, para montar palanques para a sua candidata.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...