Acho que nem Marx, atuante na criação da I Associação Internacional dos Trabalhadores, nem Lênin, criador e inspirador da III Internacional, tinham pensado nesta nova internacional, sem dúvida uma aliada da causa (ainda mais com o apoio do presidente)...
Evento LGBT recebe apoio do presidente
Boletim do PT na Câmara, 26.01.2010
Acontece nesta semana em Curitiba a V Conferência da ILGA (Associação Internacional de Lésbicas, Gay, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais) na região da América Latina e do Caribe (ILGA-LAC). O evento reunirá cerca de 400 militantes de 35 países que trabalham na defesa dos direitos da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). Reafirmando seu apoio à causa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou a Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, uma mensagem de saudação a todos os conferencistas.
Na mensagem, o presidente Lula afirma que a luta contra a intolerância e a discriminação, com os consequentes esforços pelo respeito à pessoa humana, aí incluída a consideração pela orientação sexual, tem norteado sua gestão desde o início do primeiro mandato. Além disso, a mensagem tece considerações sobre as ações governamentais de combate à homofobia e o Plano Nacional de Direitos Humanos 3, que, entre outras coisas, defende a união civil entre pessoas do mesmo sexo.
A mensagem na íntegra será divulgada na abertura da conferência, nesta quarta-feira (27), em Curitiba às 19h. A mensagem do presidente Lula será lida pelo deputado Dr. Rosinha (PT-PR), integrante da Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT.
A V Conferência Regional da ILGA-LAC será em Curitiba (PR), de 26 a 31 de janeiro.
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De nada, de nada, pela divulgação...
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
1762) FSM, dia 1: foi para isso que se reuniram?
Primeiro, a transcrição do que recebi:
Oded Grajew defende mudança de hábitos individuais
Um dos organizadores do Fórum Social Mundial (FSM), Oded Grajew, voltou a defender ontem a mudança de consciência individual e a articulação de diferentes organizações da sociedade em favor de “outro mundo possível”.
“Temos que mudar hábitos arraigados dentro de nós, no nosso comportamento, no dia-a-dia. Nossas entidades têm funcionários. Temos que rever a maneira como tratamos nossos semelhantes. Temos que saber agir sem precisar de o papai fórum nos dizer o que fazer”, ao participar da mesa de abertura do evento, em Porto Alegre.
Ao fazer um balanço de dez anos do evento, Grajew lembrou que o FSM é um espaço de mobilização e discussão, que facilita o encontro entre setores sociais, que devem atuar em rede para avançar, principalmente na questão ambiental.
“Se a gente não mudar o modelo de desenvolvimento, a espécie humana corre risco de extinção neste século. “Nenhuma organização sozinha consegue ir além de determinados limites desafios que hoje são globais”.Para Oded Grajew, esta é a grande sacada: a mobilização em conjunto.
“Não tem causa mais importante. Levo adiante a missão da reforma agrária. Quero ter parceiros, gente e organizações que possam ajudar também na questão feminista, na economia solidária”
==========
Agora eu, PRA:
Bem, eu acho que o pessoalzinho do FSM vai precisar pensar em mudar de slogan. Que tal?
"Um outro ser humano é possível"
"Um outro homem, uma outra mulher, um outro...(bem, à escolha...)"
"Todos unidos, mudaremos o mundo, começando por nós mesmos"
"Um outro Fórum Social Mundial é possível" (aliás, até mesmo necessário)
Oded Grajew defende mudança de hábitos individuais
Um dos organizadores do Fórum Social Mundial (FSM), Oded Grajew, voltou a defender ontem a mudança de consciência individual e a articulação de diferentes organizações da sociedade em favor de “outro mundo possível”.
“Temos que mudar hábitos arraigados dentro de nós, no nosso comportamento, no dia-a-dia. Nossas entidades têm funcionários. Temos que rever a maneira como tratamos nossos semelhantes. Temos que saber agir sem precisar de o papai fórum nos dizer o que fazer”, ao participar da mesa de abertura do evento, em Porto Alegre.
Ao fazer um balanço de dez anos do evento, Grajew lembrou que o FSM é um espaço de mobilização e discussão, que facilita o encontro entre setores sociais, que devem atuar em rede para avançar, principalmente na questão ambiental.
“Se a gente não mudar o modelo de desenvolvimento, a espécie humana corre risco de extinção neste século. “Nenhuma organização sozinha consegue ir além de determinados limites desafios que hoje são globais”.Para Oded Grajew, esta é a grande sacada: a mobilização em conjunto.
“Não tem causa mais importante. Levo adiante a missão da reforma agrária. Quero ter parceiros, gente e organizações que possam ajudar também na questão feminista, na economia solidária”
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Agora eu, PRA:
Bem, eu acho que o pessoalzinho do FSM vai precisar pensar em mudar de slogan. Que tal?
"Um outro ser humano é possível"
"Um outro homem, uma outra mulher, um outro...(bem, à escolha...)"
"Todos unidos, mudaremos o mundo, começando por nós mesmos"
"Um outro Fórum Social Mundial é possível" (aliás, até mesmo necessário)
1761) FSM, dia 1: começou o festival de inutilidades...
Recebo, em minha caixa de entrada -- e agradeço muito a gentileza -- o primeiro boletim do primeiro dia daquilo que eu já chamei de festival de empulhações: um bando de jovens idealistas sendo enganados por velhos velhacos, que não tem nada de muito inteligente a dizer e que ficam repetindo o mantra inútil: "um outro mundo é possível"...
Bem estou esperando que eles me apresentem esse mundo. (E que me agradeçam por fazer propaganda gratuita de suas bobagens, embora saiba que não vão fazê-lo.)
PRA
Enquanto isso, quem tiver paciência, pode ler o:
Boletim FSM - 25 de janeiro de 2010
Avaliação sobre as conquistas e os limites do Fórum Social Mundial marca abertura do FSM Grande Porto Alegre
Começou hoje (25/1/2010), no Rio Grande do Sul, o "Fórum Social Mundial 10 anos Grande Porto Alegre". Uma das principais atividades do evento é o Seminário Internacional "10 Anos Depois: Desafios e Propostas para um Outro Mundo Possível", que está sendo realizado na capital gaúcha. Intelectuais e representantes de movimentos sociais de todo o mundo estarão reunidos, até o dia 29 de janeiro, para uma grande reflexão sobre os dez anos do Fórum Social Mundial e as transformações políticas e sociais desse período.
A proposta do seminário, no entanto, não é só olhar para trás. O debate deve resultar também na projeção de caminhos futuros para a construção de um outro mundo possível. As conclusões desse seminário serão discutidas em eventos descentralizados, que serão realizados em todo o mundo ao longo do ano, até o próximo Fórum Social Mundial, em Dacar (Senegal), em 2011.
O primeiro dia do seminário avaliou as conquistas e os limites do Fórum Social Mundial, a partir de uma ótica plural, que contou com a participação de...
[sinto muito não vou ficar fazendo propaganda de gente que eu considero simplesmente desonestos anti-intelectuais]
Amanhã (26/1), serão traçados diagnósticos da conjuntura atual sob quatro diferentes aspectos que se completam: ambiental, econômico, político e social. As discussões serão conduzidas paralelamente. Os diagnósticos servirão de base para os debates seguintes. (Veja aqui a programação completa).
Diariamente estará disponível no blog do seminário os resumos de todos os debates. O texto da discussão de hoje já está no ar.
===========
PRA: Bem, eu percorri o blog com o resumo do dia. Posso dizer que se trata de uma leitura edificante. Nele se pode aprender que:
"Antes do FSM, porém, movimentos e organizações da sociedade civil já haviam iniciado processos de articulação antiglobalização neoliberal em espaços como Chiapas, com o movimento zapatista, e Seattle, propondo novas formas de intervenção política no mundo, ponderou João Pedro Stedile. Estes movimentos foram maximizados pelo FSM, cujo grande mérito foi derrotar a idéia de que o neoliberalismo seria o único futuro possivel para o Planeta. Ou seja, o FSM derrotou o neoliberalismo como ideologia."
Durma-se, se conseguir, com essa grandiosidade alternativa...
Bem estou esperando que eles me apresentem esse mundo. (E que me agradeçam por fazer propaganda gratuita de suas bobagens, embora saiba que não vão fazê-lo.)
PRA
Enquanto isso, quem tiver paciência, pode ler o:
Boletim FSM - 25 de janeiro de 2010
Avaliação sobre as conquistas e os limites do Fórum Social Mundial marca abertura do FSM Grande Porto Alegre
Começou hoje (25/1/2010), no Rio Grande do Sul, o "Fórum Social Mundial 10 anos Grande Porto Alegre". Uma das principais atividades do evento é o Seminário Internacional "10 Anos Depois: Desafios e Propostas para um Outro Mundo Possível", que está sendo realizado na capital gaúcha. Intelectuais e representantes de movimentos sociais de todo o mundo estarão reunidos, até o dia 29 de janeiro, para uma grande reflexão sobre os dez anos do Fórum Social Mundial e as transformações políticas e sociais desse período.
A proposta do seminário, no entanto, não é só olhar para trás. O debate deve resultar também na projeção de caminhos futuros para a construção de um outro mundo possível. As conclusões desse seminário serão discutidas em eventos descentralizados, que serão realizados em todo o mundo ao longo do ano, até o próximo Fórum Social Mundial, em Dacar (Senegal), em 2011.
O primeiro dia do seminário avaliou as conquistas e os limites do Fórum Social Mundial, a partir de uma ótica plural, que contou com a participação de...
[sinto muito não vou ficar fazendo propaganda de gente que eu considero simplesmente desonestos anti-intelectuais]
Amanhã (26/1), serão traçados diagnósticos da conjuntura atual sob quatro diferentes aspectos que se completam: ambiental, econômico, político e social. As discussões serão conduzidas paralelamente. Os diagnósticos servirão de base para os debates seguintes. (Veja aqui a programação completa).
Diariamente estará disponível no blog do seminário os resumos de todos os debates. O texto da discussão de hoje já está no ar.
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PRA: Bem, eu percorri o blog com o resumo do dia. Posso dizer que se trata de uma leitura edificante. Nele se pode aprender que:
"Antes do FSM, porém, movimentos e organizações da sociedade civil já haviam iniciado processos de articulação antiglobalização neoliberal em espaços como Chiapas, com o movimento zapatista, e Seattle, propondo novas formas de intervenção política no mundo, ponderou João Pedro Stedile. Estes movimentos foram maximizados pelo FSM, cujo grande mérito foi derrotar a idéia de que o neoliberalismo seria o único futuro possivel para o Planeta. Ou seja, o FSM derrotou o neoliberalismo como ideologia."
Durma-se, se conseguir, com essa grandiosidade alternativa...
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
1760) Pobres reclamam de impostos altos
Esta descoberta é inédita para mim. Nunca soube que pobre soubesse medir a carga total dos impostos embutidos em TODOS os produtos e serviços oferecidos no mercado brasileiro, pelo menos não com tanta ênfase e evidência. Em todo caso, eu volto à minha proposta: em lugar de ficar debatendo filosofias políticas -- partidos de esquerda, de direita, liberais ou estatizantes -- um partido deveria assumir resolutamente a decisão de lutar contra impostos, com o único objetivo de reduzir a carga tributária total da economia brasileira, que estrangula a sociedade. Apenas isso: já seria uma revolução...
Como diz o comentarista reproduzido mais abaixo, com base na pesquisa:
"Quem ganha até 2 salários mínimos compromete o equivalente a 53,9% de sua renda com impostos, taxas, contribuições e outros tributos. Na outra ponta da escala, quem tem renda acima de 30 salários, deixa com o Fisco montante que equivale a quase 30% da renda."
Em todo caso, trata-se de uma evidência tão evidente, que sem cair na redundância caberia martelar até o fim dos tempos, ou seja, até quando a carga fiscal caia abaixo de 20$ do PIB. Esse é o meu combate.
Paulo Roberto de Almeida (25.01.2010)
Eleitor pobre quer corte de tributos
Julia Duailibi
O Estado de S.Paulo, Domingo, 24 de Janeiro de 2010
Pesquisas indicam que 7 em cada 10 brasileiros defendem redução de impostos, e não de juro, para gerar emprego
A elevada carga tributária é apontada pelo eleitor de baixa renda como o maior empecilho para a geração de emprego e o aumento do consumo no País. Sete em cada dez brasileiros defendem a redução dos impostos, e não dos juros, como forma de gerar empregos - 65% aceitam menos programas sociais, como o Bolsa-Família, se a contrapartida for reduzir tributos para derrubar os preços.
Pesquisas do Instituto Análise mostram que 67% das pessoas com renda familiar de até R$ 465 dizem preferir um presidente que reduza os impostos dos alimentos para que se compre comida mais barata a um que aumente o Bolsa-Família - opção de 32% dos entrevistados.
"As pessoas sabem que poderiam consumir mais, mas não conseguem por causa dos impostos", afirmou o cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise. Realizadas em 2009, as pesquisas ouviram mil pessoas por mês. "São 70 cidades no País, incluindo as nove regiões metropolitanas e locais do interior", disse ele.
A diminuição da carga tributária, portanto, teria reflexos em outro tema caro ao eleitor: o aumento do consumo. Puxado pelo crescimento real do salário mínimo e do crédito, o consumo das famílias cresceu nos últimos anos - e o governo estima que aumentará 6,1% em 2010.
Nas pesquisa, 67% concordam que o "melhor para a população pobre é que o governo reduza impostos e tenha menos funcionários, com isso o preço dos produtos cai". Já 28% preferem "mais impostos e que com o dinheiro dos impostos o governo faça mais programas sociais".
Corte de impostos é apontada como principal medida contra desemprego - mais até que educação. "A população sente no bolso. A alta carga afeta mais os de renda baixa, que gastam parcela maior do orçamento com alimentação", disse o economista Sérgio Vale, da MB Associados.
Estudo elaborado por Maria Helena Zockun, pesquisadora da Fipe, mostra que, em 1996, famílias que ganhavam até dois salários mínimos gastavam 28% da renda com impostos. Em 2004, 49% da renda foi para o Fisco. As famílias com renda superior a 30 mínimos gastavam 18% da renda com impostos em 96. Em 2004, gastaram 26%.
"Como os mais pobres gastam mais parte da renda com consumo, ficam vulneráveis", diz Maria Helena. "A pessoa pode não ter ideia do quanto há de imposto no produto. Mas vê o preço menor na informalidade. Sabe que com carga menor teria mais acesso a bens." Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, uma caixa de sabão em pó, que custa R$ 3,98, sairia por R$ 2,30 sem os impostos. Um saco de açúcar fica 68% mais caro, com a tributação, e o de cimento, 65%.
Na eleição, a oposição acusará o apetite arrecadatório do governo, que, por sua vez, dirá que promoveu desonerações como a do IPI. "O caso do IPI mostrou que com menos imposto compra-se mais", disse Almeida.
============
E um comentário no blog de um jornalista economista (ou vice-versa):
Pobres reclamando de impostos? Faz todo o sentido
José Paulo Kupfer
Blog do Estadão, 25 de janeiro de 2010
Conclusões de pesquisas do Instituto Análise, divulgadas na edição deste domingo do Estadão, permitiram a seu diretor, o cientista político Alberto Carlos Almeida, concluir que a redução da carga tributária é uma aspiração das classes mais populares e que este poderá ser um dos grandes motes da campanha eleitoral em 2010.
Não está claro como a pesquisa foi realizada. Explica-se apenas que foram ouvidas mil pessoas por mês, em 70 cidades. Mas, não se sabe em quantos meses, se os mil consultados variavam ou não, a distribuição geográfica e sócio-econômica deles, e das cidades. Não há informação, principalmente, sobre o questionário submetido aos pesquisados e o teor das perguntas. São ressalvas necessárias, mas o fato é que, do ponto de vista da realidade e da lógica, o achado do Instituto Análise não surpreende.
Por seu caráter escandalosamente regressivo, nosso sistema tributário é uma construção de cabeça para baixo. São, portanto, outras forças – não a da gravidade e da justiça tributária –, que a mantêm de pé. No Brasil, no campo dos tributos, numa completa inversão de valores, quem pode mais, paga menos, e que pode menos, paga mais.
Faz tempo – e põe tempo nisso – estou entre os que batem nessa tecla. Além de ser um estorvo para a competitividade da economia, nosso sistema tributário é, antes de tudo, de uma injustiça indecente, um elemento relevante no quadro de concentração de renda que estigmatiza o desenvolvimento brasileiro.
Recentemente, em 13 de janeiro, publiquei aqui no blog um gráfico em que essa distorção salta aos olhos. A reportagem do Estadão, no domingo o atualiza. Quem ganha até 2 salários mínimos compromete o equivalente a 53,9% de sua renda com impostos, taxas, contribuições e outros tributos. Na outra ponta da escala, quem tem renda acima de 30 salários, deixa com o Fisco montante que equivale a quase 30% da renda.
Há pouco menos dois anos, escrevi o seguinte (íntegra aqui):
“O sistema tributário brasileiro é pior do que péssimo. Um comitê de sábios, convocado para elaborar o pior sistema possível, não conseguiria produzir uma obra de tão má qualidade. O sistema, além de complicado – há multiplicidade e sobreposição de tributos e de regimes de tributação -, é acintosamente regressivo – a base de arrecadação são os impostos indiretos e as contribuições cumulativas, estas incidentes em cascata sobre o faturamento ou, num caso raro em todo o mundo, sobre operações financeiras.”
“Não é por infelicidade ou azar que, no sistema brasileiro, quanto mais pobre, mais, proporcionalmente à sua renda, o cidadão é taxado. Isso se deve ao fato de que a tributação incide mais sobre o consumo e a produção do que sobre a renda, num ambiente em tudo propício à sonegação e à elisão”.
“Como o ‘prêmio’ pela fuga às obrigações fiscais é alto, o resultado de tudo é que poucos a sentem de fato no bolso. Para os abonados, há a válvula de escape do chamado “planejamento tributário”. Para os outros, resta a solução da informalidade.”
“Era de se esperar que, diante das injustiças do sistema tributário e dos desestímulos que ele impõe à consolidação de uma economia competitiva, qualquer reforma que caminhasse na direção de reduzir, ainda que minimamente, tais características, fosse apoiada pela maioria e tramitasse com facilidade no Congresso. Quanta ilusão.”
Conforme publicado pelo Estadão, na pesquisa do Instituto Analise, 67% das pessoas com renda de até R$ 465 (um salário mínimo, em 2009) disseram preferir uma redução dos impostos sobre alimentos a aumentos no Bolsa Família – opção de 32% dos entrevistados. Sem mais detalhes sobre a metodologia da pesquisa, ficam dúvidas sobre o resultado divulgado. Mas, que faz sentido, lá isso faz.
Como diz o comentarista reproduzido mais abaixo, com base na pesquisa:
"Quem ganha até 2 salários mínimos compromete o equivalente a 53,9% de sua renda com impostos, taxas, contribuições e outros tributos. Na outra ponta da escala, quem tem renda acima de 30 salários, deixa com o Fisco montante que equivale a quase 30% da renda."
Em todo caso, trata-se de uma evidência tão evidente, que sem cair na redundância caberia martelar até o fim dos tempos, ou seja, até quando a carga fiscal caia abaixo de 20$ do PIB. Esse é o meu combate.
Paulo Roberto de Almeida (25.01.2010)
Eleitor pobre quer corte de tributos
Julia Duailibi
O Estado de S.Paulo, Domingo, 24 de Janeiro de 2010
Pesquisas indicam que 7 em cada 10 brasileiros defendem redução de impostos, e não de juro, para gerar emprego
A elevada carga tributária é apontada pelo eleitor de baixa renda como o maior empecilho para a geração de emprego e o aumento do consumo no País. Sete em cada dez brasileiros defendem a redução dos impostos, e não dos juros, como forma de gerar empregos - 65% aceitam menos programas sociais, como o Bolsa-Família, se a contrapartida for reduzir tributos para derrubar os preços.
Pesquisas do Instituto Análise mostram que 67% das pessoas com renda familiar de até R$ 465 dizem preferir um presidente que reduza os impostos dos alimentos para que se compre comida mais barata a um que aumente o Bolsa-Família - opção de 32% dos entrevistados.
"As pessoas sabem que poderiam consumir mais, mas não conseguem por causa dos impostos", afirmou o cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise. Realizadas em 2009, as pesquisas ouviram mil pessoas por mês. "São 70 cidades no País, incluindo as nove regiões metropolitanas e locais do interior", disse ele.
A diminuição da carga tributária, portanto, teria reflexos em outro tema caro ao eleitor: o aumento do consumo. Puxado pelo crescimento real do salário mínimo e do crédito, o consumo das famílias cresceu nos últimos anos - e o governo estima que aumentará 6,1% em 2010.
Nas pesquisa, 67% concordam que o "melhor para a população pobre é que o governo reduza impostos e tenha menos funcionários, com isso o preço dos produtos cai". Já 28% preferem "mais impostos e que com o dinheiro dos impostos o governo faça mais programas sociais".
Corte de impostos é apontada como principal medida contra desemprego - mais até que educação. "A população sente no bolso. A alta carga afeta mais os de renda baixa, que gastam parcela maior do orçamento com alimentação", disse o economista Sérgio Vale, da MB Associados.
Estudo elaborado por Maria Helena Zockun, pesquisadora da Fipe, mostra que, em 1996, famílias que ganhavam até dois salários mínimos gastavam 28% da renda com impostos. Em 2004, 49% da renda foi para o Fisco. As famílias com renda superior a 30 mínimos gastavam 18% da renda com impostos em 96. Em 2004, gastaram 26%.
"Como os mais pobres gastam mais parte da renda com consumo, ficam vulneráveis", diz Maria Helena. "A pessoa pode não ter ideia do quanto há de imposto no produto. Mas vê o preço menor na informalidade. Sabe que com carga menor teria mais acesso a bens." Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, uma caixa de sabão em pó, que custa R$ 3,98, sairia por R$ 2,30 sem os impostos. Um saco de açúcar fica 68% mais caro, com a tributação, e o de cimento, 65%.
Na eleição, a oposição acusará o apetite arrecadatório do governo, que, por sua vez, dirá que promoveu desonerações como a do IPI. "O caso do IPI mostrou que com menos imposto compra-se mais", disse Almeida.
============
E um comentário no blog de um jornalista economista (ou vice-versa):
Pobres reclamando de impostos? Faz todo o sentido
José Paulo Kupfer
Blog do Estadão, 25 de janeiro de 2010
Conclusões de pesquisas do Instituto Análise, divulgadas na edição deste domingo do Estadão, permitiram a seu diretor, o cientista político Alberto Carlos Almeida, concluir que a redução da carga tributária é uma aspiração das classes mais populares e que este poderá ser um dos grandes motes da campanha eleitoral em 2010.
Não está claro como a pesquisa foi realizada. Explica-se apenas que foram ouvidas mil pessoas por mês, em 70 cidades. Mas, não se sabe em quantos meses, se os mil consultados variavam ou não, a distribuição geográfica e sócio-econômica deles, e das cidades. Não há informação, principalmente, sobre o questionário submetido aos pesquisados e o teor das perguntas. São ressalvas necessárias, mas o fato é que, do ponto de vista da realidade e da lógica, o achado do Instituto Análise não surpreende.
Por seu caráter escandalosamente regressivo, nosso sistema tributário é uma construção de cabeça para baixo. São, portanto, outras forças – não a da gravidade e da justiça tributária –, que a mantêm de pé. No Brasil, no campo dos tributos, numa completa inversão de valores, quem pode mais, paga menos, e que pode menos, paga mais.
Faz tempo – e põe tempo nisso – estou entre os que batem nessa tecla. Além de ser um estorvo para a competitividade da economia, nosso sistema tributário é, antes de tudo, de uma injustiça indecente, um elemento relevante no quadro de concentração de renda que estigmatiza o desenvolvimento brasileiro.
Recentemente, em 13 de janeiro, publiquei aqui no blog um gráfico em que essa distorção salta aos olhos. A reportagem do Estadão, no domingo o atualiza. Quem ganha até 2 salários mínimos compromete o equivalente a 53,9% de sua renda com impostos, taxas, contribuições e outros tributos. Na outra ponta da escala, quem tem renda acima de 30 salários, deixa com o Fisco montante que equivale a quase 30% da renda.
Há pouco menos dois anos, escrevi o seguinte (íntegra aqui):
“O sistema tributário brasileiro é pior do que péssimo. Um comitê de sábios, convocado para elaborar o pior sistema possível, não conseguiria produzir uma obra de tão má qualidade. O sistema, além de complicado – há multiplicidade e sobreposição de tributos e de regimes de tributação -, é acintosamente regressivo – a base de arrecadação são os impostos indiretos e as contribuições cumulativas, estas incidentes em cascata sobre o faturamento ou, num caso raro em todo o mundo, sobre operações financeiras.”
“Não é por infelicidade ou azar que, no sistema brasileiro, quanto mais pobre, mais, proporcionalmente à sua renda, o cidadão é taxado. Isso se deve ao fato de que a tributação incide mais sobre o consumo e a produção do que sobre a renda, num ambiente em tudo propício à sonegação e à elisão”.
“Como o ‘prêmio’ pela fuga às obrigações fiscais é alto, o resultado de tudo é que poucos a sentem de fato no bolso. Para os abonados, há a válvula de escape do chamado “planejamento tributário”. Para os outros, resta a solução da informalidade.”
“Era de se esperar que, diante das injustiças do sistema tributário e dos desestímulos que ele impõe à consolidação de uma economia competitiva, qualquer reforma que caminhasse na direção de reduzir, ainda que minimamente, tais características, fosse apoiada pela maioria e tramitasse com facilidade no Congresso. Quanta ilusão.”
Conforme publicado pelo Estadão, na pesquisa do Instituto Analise, 67% das pessoas com renda de até R$ 465 (um salário mínimo, em 2009) disseram preferir uma redução dos impostos sobre alimentos a aumentos no Bolsa Família – opção de 32% dos entrevistados. Sem mais detalhes sobre a metodologia da pesquisa, ficam dúvidas sobre o resultado divulgado. Mas, que faz sentido, lá isso faz.
1759) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (3)
Bem, volto ao tema já exposto em dois post precedentes, 1750 e 1751, que caberia recuperar para ler também os comentários:
sábado, 23 de janeiro de 2010
1750) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (1)
[a propósito da matéria: "A obsessão totalitária" - Fábio Portela, Revista Veja, edição 2149 - 27 de janeiro de 2010]
domingo, 24 de janeiro de 2010
1751) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (2)
[na qual eu transcrevia e fazia minhas observações de caráter metodológico a um comentário do leitor que figura abaixo]
O comentarista em questão, um jovem acadêmico baiano -- que eu não chamaria de historiador, pois lhe faltam importantes requisitos metodológicos para tanto; ele é apenas formado em história, com 'h' minúsculo... -- retorna à carga para retrucar ou responder ao que eu disse.
Ele se esquiva, porém, de fazer a única coisa que eu havia pedido a ele, que era comentar o teor da matéria da Veja, em lugar de lançar invectivas contra a revista.
Não contente em continuar a vituperar contra a revista, ele assume a defensiva de suas posições, mas como sempre cheio de adjetivos e colocações impressionistas, sem jamais entrar no coração da matéria, que era, relembro, tecer considerações inteligentes, ou pelo menos interessantes, sobre a liberdade de expressão e a tentativa canhestra -- eu até diria liberticida -- de cercear essa liberdade por uma tribo de órfãos do leninismo encastelados no poder.
Eu havia solicitado tão somente que ele se pronunciasse sobre as frases respectivas de Jefferson e de Lênin, transcritas nessa matéria.
Em lugar de fazê-lo (o que é seu direito), ele prefere continuar atacando o veículo, e silenciar sobre o cerne da matéria.
Ele diz, por exemplo:
"O ataque a revista Veja é justo."
PRA: Acho que isso é uma opinião pessoal, mas como eu disse, isso é o que menos interessa. A matéria poderia ter sido publicada pela Caros Amigos, pela Carta Capital, pela revista do Comitê Central do PSOL (se ele existir e tiver uma), pelo Gramna, o único jornal existente em Cuba (e que serve mais de papel higiênico do que propriamente para informação, uma palavra que passa por piada na ilha), não importa. A única coisa relevante seria comentar se a liberdade de imprensa estaria melhor defendida com a realidade que temos, que se aproxima (mas não muito) da situação descrita por Jefferson, ou se ela estaria melhor com as posições de Lênin, que combinam bastante com o que pretendem os inimigos da liberdade encastelados no poder.
Nosso jovem aprendiz de historiador também diz que "A matéria assinada por Fábio Portela é anacrônica." Mas ele tergiversa sobre o leninismo enrustido no governo Lula, quando o meu pedido a ele era outro. Não pretendo uma discussão ideológica sobre essas viúvas do socialismo, que existem e ficam muito desconfortáveis com um governo que aplica uma política econômica neoliberal. Eu apenas queria os comentários do rapaz sobre a liberdade de expressão.
Não tive nada disso, mas apenas diatribes, adjetivos, impressionismos.
Era minha escolha (e meu direito) não publicar esse tipo de material, para não cansar o leitor, mas como eu abri a discussão, permito-me conceder-lhe uma vez mais espaço para suas manifestações, inclusive por uma questão de justiça: no meio de tantos afazeres, de tantos estudos, ele se deu ao trabalho de interromper suas atividades para me responder, o que é um sinal de consideração.
Vai, portanto, transcrito abaixo, o que ele tem a dizer. Depois eu volto com duas sugestões.
Paulo Roberto de Almeida (25.01.2010)
Equiano Santos deixou um novo comentário sobre a sua postagem "1751) A obsessao totalitaria da esquerda brasileir...":
" Caro PRA,
Permita-me chamá-lo de professor, pois devo ao senhor o meu amor pelas discussões sobre política externa e relações internacionais, além de considerar seus escritos parte da minha permanente formação. Permita-me também uma tréplica, pois minhas poucas palavras e seu desconhecimento a meu respeito acabou sendo objeto de confusão. Isto é perfeitamente normal e me dá grande vantagem sobre o senhor, pois conheço mais de ti do que ao contrário.
Certamente esta tréplica demorou um pouco. Os estudos voltados ao concurso para carreira diplomática, a prática docente e as atividades de pesquisa tomam uma imensa parte do meu tempo. Isso explica a paralisia do meu blog e me deixa bastante impressionado com tamanha versatilidade que o senhor possui.
Vejamos...
Poderia iniciar esta tréplica de variadas formas... Melhor, no entanto, iniciar identificando o seu discurso. Podemos caracterizá-lo como uma conhecida forma de Argumentum ad Hominen, do qual se exclui uma proposição pelo fato da mesma ser objeto de defesa de indivíduos, no mínimo, contestáveis (pelo menos ao seu ver). Se pretende rejeitar minha opinião “batendo em cachorro morto”, tentando me colocar no rol dos saudosistas do socialismo real, houve um erro na pontaria. Lembro-te que o movimento pelo qual tradicionalmente chamamos de esquerda corresponde a um amplo leque de correntes onde, desde os tempos das primeiras manifestações operárias no velho continente, foi caracterizado por seu amplo pluralismo. Esse pluralismo marcou também o próprio marxismo, fazendo de Lênin tão diferente de um Bernstein (não estou aqui para discutir sobre revisionismo, pois todos são revisionistas, vez que não existe uma ortodoxia marxista). Enfim, no que diz respeito ao socialismo real, à apologia a Lenin, Stálin, Fidel e outros personagens que fizeram da revolução um caminho para transformação, sinto o mesmo arrepio que o senhor. Digo mais, na minha prateleira de livros, as “Obras Escolhidas” de Lênin são permanentemente vigiadas pelo “Arquipélago Gulag”, de Soljenítsin. Dito isto, o que falar sobre meu comentário que desencadeou nosso debate?
O ataque a revista Veja é justo. A matéria assinada por Fábio Portela é anacrônica, ao fazer uso de termos sem nenhuma correspondência com o presente. Que soviets, que leninismo? Aponte-me Lênin no programa do PT, no que diz respeito à tática e a estratégia do partido que me calo. Aponte-me alguma apologia de Lula e do governo ao socialismo real que me calo. Aponte-me alguma relação entre o leninismo e o governo Lula que me calo! Não há leninismo, bolcheviques tão pouco. Tudo que se tem são correntes pouco expressivas que, ou são minorias dentro do partido ou que, como minorias, representam a base aliada. Ou o senhor acha que um ministério do esporte representa uma bolchevização do governo? Inclusive, nem nos tempos iniciais, em que o partido era marcado pelo radicalismo, houve um programa que visasse uma revolução.
É dentro deste contexto que caracterizei e ainda caracterizo Veja de saudosista, pois suas análises são caducas e ainda enxergam o mundo de maneira bipolar, comunistas onde não existem. São indivíduos que sonham com as bombas da guerra fria e que passam horas se deliciando com Rambo. Por isso chamei de revista panfletária... E ela é! Panfletária e preguiçosa, pois ao invés de apostar em argumentos inteligentes, apostar em investigações e análises fundamentadas, preferem ocultar e “abrir a boca” com chavões militantes...
Lula governa tendo uma base heterogênea que vai desde os movimentos populares a setores do empresariado brasileiro, escreveu a famosa “Carta ao Povo Brasileiro” se comprometendo com uma agenda econômica do qual não poderia ser modificada e assim o fez. Não estou aqui para defender o governo, apenas para que parem com essa paranóia de que “os comunistas estão chegando” ou de que por trás da bandeira do PT há uma foice e um martelo. O debate é outro...
É necessário dizer ainda, que meu posicionamento perante essa revista não deve ser confundido com a postura de um historiador perante as fontes. Como fonte, as revistas representam um importante meio de informação e todas elas devem ser utilizadas para que, a partir de uma análise apurada, possa construir o conhecimento histórico. Mas lembro ao senhor que existem muitas perguntas que um historiador faz às fontes, entre elas estão “quem escreveu isso?”, “qual sua intencionalidade?”. Ainda não li o seu “Formação da diplomacia econômica no Brasil: Império” . Comprei mas ainda não o li, entretanto tenho certeza que durante suas pesquisas fez estas perguntas às fontes consultadas (Ficarei honrado de ter uma dedicatória do senhor no meu livro se algum dia desses passar por Salvador). Não sou ainda um bom historiador, mas, no projeto de mestrado que estou construindo, procuro analisar as fontes da melhor maneira possível.
Bem, professor...não vou entrar no tema do Programa Nacional de Direitos Humanos, pois minha crítica, como o senhor pôde constatar, foi direcionada a outra questão. Além disso, ainda estou formando uma opinião a respeito e conto com a ajuda do senhor e do seu blog para sempre me fornecer o “outro lado da moeda”.
Obrigado pela atenção... Estaria faltando com a verdade se dissesse que não estou ansioso por uma resposta. Diferente da primeira, porém, esta não haverá um retorno. Voltarei ao posto de leitor do seu blog, posição que, frente ao senhor, confesso, sinto-me muito mais a vontade do que a de um debatedor. "
(Fim de transcriçao)
---------
Permito-me um único comentário final:
PRA: O Equiano, como tantos jovens brasileiros, é vítima do festival de idiotices que uma manada inteira de energúnemos -- alguns idiotas completos, outros apenas ignorantes, outros ainda atuando de má-fé -- dissemina impunemente nas universidades brasileiras. Digo impunemente não porque eles devessem ser cerceados, mas porque eles se aproveitam da total irresponsabilidade das universidades públicas para falar bobagens sem jamais se responsabilizar pelo total surrealismo de seus argumentos, que não guardam a mínima conexão com a realidade.
Se eu pudesse fazer apenas duas recomendações a esses jovens, seriam estas aqui:
1) Esqueçam os seus professores, desliguem dessas aulas ridículas, coloquem seus iPods nos ouvidos e abram um bom livro em sala de aula; se puderem faltar, melhor, se não puderem, leiam, apenas, sejam autodidatas intensivos; vocês aprenderão mais, com gente mais inteligente do que os quadrupedes que costumam dar aulas nas faculdades de humanidades;
2) Viajem, muito: mas, tendo em vista o estado mental da maioria de vocês, não viajem ao capitalismo, a Paris, Miami, essas coisas. Tudo isso é déjà vu, já sabemos como funciona o capitalismo e o que se pode comprar nele: iPods, iPhones, computadores Apple (três vezes mais baratos do que neste país protecionista), enfim, tudo aquilo que um jovem cubano gostaria de comprar e não consegue, ou que o brasileiro precisa pagar pelo menos o dobro para obter. Viajem a países magníficos, que combinam com as idéias desses professores aloprados que fingem dar aulas a vocês: visitem Cuba, Coréia do Norte (não creio que consigam, mas cabe tentar), a Venezuela do coronel fascistão, as maravilhas bolivarianas, enfim, tudo aquilo que passa por progressista e libertador. Seria tão mais interessante do que percorrer esses lugares cheios de multinacionais, de especuladores financeiros, de exploração do homem...
Enfim, são apenas sugestões...
sábado, 23 de janeiro de 2010
1750) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (1)
[a propósito da matéria: "A obsessão totalitária" - Fábio Portela, Revista Veja, edição 2149 - 27 de janeiro de 2010]
domingo, 24 de janeiro de 2010
1751) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (2)
[na qual eu transcrevia e fazia minhas observações de caráter metodológico a um comentário do leitor que figura abaixo]
O comentarista em questão, um jovem acadêmico baiano -- que eu não chamaria de historiador, pois lhe faltam importantes requisitos metodológicos para tanto; ele é apenas formado em história, com 'h' minúsculo... -- retorna à carga para retrucar ou responder ao que eu disse.
Ele se esquiva, porém, de fazer a única coisa que eu havia pedido a ele, que era comentar o teor da matéria da Veja, em lugar de lançar invectivas contra a revista.
Não contente em continuar a vituperar contra a revista, ele assume a defensiva de suas posições, mas como sempre cheio de adjetivos e colocações impressionistas, sem jamais entrar no coração da matéria, que era, relembro, tecer considerações inteligentes, ou pelo menos interessantes, sobre a liberdade de expressão e a tentativa canhestra -- eu até diria liberticida -- de cercear essa liberdade por uma tribo de órfãos do leninismo encastelados no poder.
Eu havia solicitado tão somente que ele se pronunciasse sobre as frases respectivas de Jefferson e de Lênin, transcritas nessa matéria.
Em lugar de fazê-lo (o que é seu direito), ele prefere continuar atacando o veículo, e silenciar sobre o cerne da matéria.
Ele diz, por exemplo:
"O ataque a revista Veja é justo."
PRA: Acho que isso é uma opinião pessoal, mas como eu disse, isso é o que menos interessa. A matéria poderia ter sido publicada pela Caros Amigos, pela Carta Capital, pela revista do Comitê Central do PSOL (se ele existir e tiver uma), pelo Gramna, o único jornal existente em Cuba (e que serve mais de papel higiênico do que propriamente para informação, uma palavra que passa por piada na ilha), não importa. A única coisa relevante seria comentar se a liberdade de imprensa estaria melhor defendida com a realidade que temos, que se aproxima (mas não muito) da situação descrita por Jefferson, ou se ela estaria melhor com as posições de Lênin, que combinam bastante com o que pretendem os inimigos da liberdade encastelados no poder.
Nosso jovem aprendiz de historiador também diz que "A matéria assinada por Fábio Portela é anacrônica." Mas ele tergiversa sobre o leninismo enrustido no governo Lula, quando o meu pedido a ele era outro. Não pretendo uma discussão ideológica sobre essas viúvas do socialismo, que existem e ficam muito desconfortáveis com um governo que aplica uma política econômica neoliberal. Eu apenas queria os comentários do rapaz sobre a liberdade de expressão.
Não tive nada disso, mas apenas diatribes, adjetivos, impressionismos.
Era minha escolha (e meu direito) não publicar esse tipo de material, para não cansar o leitor, mas como eu abri a discussão, permito-me conceder-lhe uma vez mais espaço para suas manifestações, inclusive por uma questão de justiça: no meio de tantos afazeres, de tantos estudos, ele se deu ao trabalho de interromper suas atividades para me responder, o que é um sinal de consideração.
Vai, portanto, transcrito abaixo, o que ele tem a dizer. Depois eu volto com duas sugestões.
Paulo Roberto de Almeida (25.01.2010)
Equiano Santos deixou um novo comentário sobre a sua postagem "1751) A obsessao totalitaria da esquerda brasileir...":
" Caro PRA,
Permita-me chamá-lo de professor, pois devo ao senhor o meu amor pelas discussões sobre política externa e relações internacionais, além de considerar seus escritos parte da minha permanente formação. Permita-me também uma tréplica, pois minhas poucas palavras e seu desconhecimento a meu respeito acabou sendo objeto de confusão. Isto é perfeitamente normal e me dá grande vantagem sobre o senhor, pois conheço mais de ti do que ao contrário.
Certamente esta tréplica demorou um pouco. Os estudos voltados ao concurso para carreira diplomática, a prática docente e as atividades de pesquisa tomam uma imensa parte do meu tempo. Isso explica a paralisia do meu blog e me deixa bastante impressionado com tamanha versatilidade que o senhor possui.
Vejamos...
Poderia iniciar esta tréplica de variadas formas... Melhor, no entanto, iniciar identificando o seu discurso. Podemos caracterizá-lo como uma conhecida forma de Argumentum ad Hominen, do qual se exclui uma proposição pelo fato da mesma ser objeto de defesa de indivíduos, no mínimo, contestáveis (pelo menos ao seu ver). Se pretende rejeitar minha opinião “batendo em cachorro morto”, tentando me colocar no rol dos saudosistas do socialismo real, houve um erro na pontaria. Lembro-te que o movimento pelo qual tradicionalmente chamamos de esquerda corresponde a um amplo leque de correntes onde, desde os tempos das primeiras manifestações operárias no velho continente, foi caracterizado por seu amplo pluralismo. Esse pluralismo marcou também o próprio marxismo, fazendo de Lênin tão diferente de um Bernstein (não estou aqui para discutir sobre revisionismo, pois todos são revisionistas, vez que não existe uma ortodoxia marxista). Enfim, no que diz respeito ao socialismo real, à apologia a Lenin, Stálin, Fidel e outros personagens que fizeram da revolução um caminho para transformação, sinto o mesmo arrepio que o senhor. Digo mais, na minha prateleira de livros, as “Obras Escolhidas” de Lênin são permanentemente vigiadas pelo “Arquipélago Gulag”, de Soljenítsin. Dito isto, o que falar sobre meu comentário que desencadeou nosso debate?
O ataque a revista Veja é justo. A matéria assinada por Fábio Portela é anacrônica, ao fazer uso de termos sem nenhuma correspondência com o presente. Que soviets, que leninismo? Aponte-me Lênin no programa do PT, no que diz respeito à tática e a estratégia do partido que me calo. Aponte-me alguma apologia de Lula e do governo ao socialismo real que me calo. Aponte-me alguma relação entre o leninismo e o governo Lula que me calo! Não há leninismo, bolcheviques tão pouco. Tudo que se tem são correntes pouco expressivas que, ou são minorias dentro do partido ou que, como minorias, representam a base aliada. Ou o senhor acha que um ministério do esporte representa uma bolchevização do governo? Inclusive, nem nos tempos iniciais, em que o partido era marcado pelo radicalismo, houve um programa que visasse uma revolução.
É dentro deste contexto que caracterizei e ainda caracterizo Veja de saudosista, pois suas análises são caducas e ainda enxergam o mundo de maneira bipolar, comunistas onde não existem. São indivíduos que sonham com as bombas da guerra fria e que passam horas se deliciando com Rambo. Por isso chamei de revista panfletária... E ela é! Panfletária e preguiçosa, pois ao invés de apostar em argumentos inteligentes, apostar em investigações e análises fundamentadas, preferem ocultar e “abrir a boca” com chavões militantes...
Lula governa tendo uma base heterogênea que vai desde os movimentos populares a setores do empresariado brasileiro, escreveu a famosa “Carta ao Povo Brasileiro” se comprometendo com uma agenda econômica do qual não poderia ser modificada e assim o fez. Não estou aqui para defender o governo, apenas para que parem com essa paranóia de que “os comunistas estão chegando” ou de que por trás da bandeira do PT há uma foice e um martelo. O debate é outro...
É necessário dizer ainda, que meu posicionamento perante essa revista não deve ser confundido com a postura de um historiador perante as fontes. Como fonte, as revistas representam um importante meio de informação e todas elas devem ser utilizadas para que, a partir de uma análise apurada, possa construir o conhecimento histórico. Mas lembro ao senhor que existem muitas perguntas que um historiador faz às fontes, entre elas estão “quem escreveu isso?”, “qual sua intencionalidade?”. Ainda não li o seu “Formação da diplomacia econômica no Brasil: Império” . Comprei mas ainda não o li, entretanto tenho certeza que durante suas pesquisas fez estas perguntas às fontes consultadas (Ficarei honrado de ter uma dedicatória do senhor no meu livro se algum dia desses passar por Salvador). Não sou ainda um bom historiador, mas, no projeto de mestrado que estou construindo, procuro analisar as fontes da melhor maneira possível.
Bem, professor...não vou entrar no tema do Programa Nacional de Direitos Humanos, pois minha crítica, como o senhor pôde constatar, foi direcionada a outra questão. Além disso, ainda estou formando uma opinião a respeito e conto com a ajuda do senhor e do seu blog para sempre me fornecer o “outro lado da moeda”.
Obrigado pela atenção... Estaria faltando com a verdade se dissesse que não estou ansioso por uma resposta. Diferente da primeira, porém, esta não haverá um retorno. Voltarei ao posto de leitor do seu blog, posição que, frente ao senhor, confesso, sinto-me muito mais a vontade do que a de um debatedor. "
(Fim de transcriçao)
---------
Permito-me um único comentário final:
PRA: O Equiano, como tantos jovens brasileiros, é vítima do festival de idiotices que uma manada inteira de energúnemos -- alguns idiotas completos, outros apenas ignorantes, outros ainda atuando de má-fé -- dissemina impunemente nas universidades brasileiras. Digo impunemente não porque eles devessem ser cerceados, mas porque eles se aproveitam da total irresponsabilidade das universidades públicas para falar bobagens sem jamais se responsabilizar pelo total surrealismo de seus argumentos, que não guardam a mínima conexão com a realidade.
Se eu pudesse fazer apenas duas recomendações a esses jovens, seriam estas aqui:
1) Esqueçam os seus professores, desliguem dessas aulas ridículas, coloquem seus iPods nos ouvidos e abram um bom livro em sala de aula; se puderem faltar, melhor, se não puderem, leiam, apenas, sejam autodidatas intensivos; vocês aprenderão mais, com gente mais inteligente do que os quadrupedes que costumam dar aulas nas faculdades de humanidades;
2) Viajem, muito: mas, tendo em vista o estado mental da maioria de vocês, não viajem ao capitalismo, a Paris, Miami, essas coisas. Tudo isso é déjà vu, já sabemos como funciona o capitalismo e o que se pode comprar nele: iPods, iPhones, computadores Apple (três vezes mais baratos do que neste país protecionista), enfim, tudo aquilo que um jovem cubano gostaria de comprar e não consegue, ou que o brasileiro precisa pagar pelo menos o dobro para obter. Viajem a países magníficos, que combinam com as idéias desses professores aloprados que fingem dar aulas a vocês: visitem Cuba, Coréia do Norte (não creio que consigam, mas cabe tentar), a Venezuela do coronel fascistão, as maravilhas bolivarianas, enfim, tudo aquilo que passa por progressista e libertador. Seria tão mais interessante do que percorrer esses lugares cheios de multinacionais, de especuladores financeiros, de exploração do homem...
Enfim, são apenas sugestões...
1758) O velho papo da mao invisivel e os novos profetas
Em artigo intitulado
A Mão Invisível do Mercado
escrito para o Project Syndicate e reproduzido pela Folha de São Paulo (27/12/2009), o economista e professor da Columbia University, Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, diz que a lição da crise "é a de que os mercados não são capazes de autocorreção. De fato, na ausência de regulamentação adequada, tendem ao excesso. Em 2009, vemos uma vez mais o motivo. A mão invisível de Adam Smith muitas vezes pareceu realmente invisível, porque não estava lá. A defesa de seus interesses próprios pelos banqueiros (ou seja, a cobiça) não conduziu ao bem estar da sociedade, não serviu nem mesmo aos interesses dos acionistas e dos detentores de títulos dos bancos".
Trata-se de notável equívoco quanto ao que disse realmente Adam Smith e quanto ao significado dos mercados livres. Em primeiro lugar, Smith nunca defendeu, realmente, nenhuma política, ou "teoria" como querem alguns, relativamente aos méritos, mais supostos do que reais, dessa famosa construção intelectual identificada como "mão invisível". O que ele disse, concretamente, é que os agentes econômicos, deixados livres para realizarem seus interesses individuais -- ou seja, ao perseguirem unicamente sua própria cobiça -- acabam satisfazendo melhor aos desejos da sociedade do que se estivessem unidos, num suposto acordo coletivo para realizar o bem comum. Adam Smith diz que, ao agirem de forma absolutamente descoordenada e cada qual perseguindo seu próprio interesse, eles acabam atuando em benefício da sociedade, como se uma mão invisível pairasse acima da sociedade a guiar as ações dos indivíduos.
Ou seja, trata-se de uma figura de estilo, não de uma prescrição de política. Justamente em função da ausência de coiordenação, agentes individuais não determinam uma política, mas são simplesmente guiados pelo comportamento dos mercados: se eles encontram clientes para seus produtos e serviços, excelente: terão lucros e ficarão mais ricos. Se, ao contrário, os clientes deles se afastarem, por preços altos ou má qualidade, eles perderão dinheiro e serão expulsos do mercado, a menos que se corrijam rapidamente ou mudem seu modo de atuação (por vezes inclusive mudando de ramo, por incapacidade de competir em mercados livres).
Contráriamente ao que diz Stiglitz, mesmo quando cometem excessos -- e os mercados só cometem excessos porque os clientes sustentam a demanda, mesmo em condições adversas, ou seja, preços das ações em ascensão ou otimismo exagerado quanto aos retornos esperados -- os mercados SEMPRE se corrigem a si próprios, inevitavelmente, pois esta é a função dos mercados.
Isso é tão evidente, que não seria preciso repetir: quando há uma defasagem qualquer no mercado, alguém perderá dinheiro, ou o ofertante do bem ou serviço, ou o cliente suposto, o que provocará quase automaticamente uma resposta no sentido contrário: a retirada do ofertante ou do cliente-consumidor do mercado, ambos por perdas realizadas. Isso pode até demorar um pouco para ocorrer, na ausência de informações fiáveis ou adequadas, mas ocorrerá inevitavelmente.
Ocorre, porém, que, orientados por aprendizes de feiticeiro, como Stigltiz, os governos acham que podem melhor regular os mercados do que os agentes primários, os tais da "mão invisível", e passam a determinar como, quando e a que preço podem ser realizadas tais e tais transações.
Isso é tão evidente, que eu não precisaria tampouco recordar o que ocorre de fato nos mercados.
Quem determina a taxa de juros básica não é o mercado, mas o governo. Quem diz para quem, por quanto e por quanto tempo devem ser oferecidos empréstimos imobiliários é em grande medida o governo, que pretende "estimular" o mercado imobiliário e ser generoso com o seu corpo eleitoral, oferecendo casas baratas e financiadas a perder de vista.
Ou seja, quem cria as condições para as bolhas financeiras ou imobiliárias é o governo, não os mercados.
Mercados deixados livres NUNCA fixariam os juros a 2% durante três anos como o fez o Federal Reserve americano, em TOTAL DESCOMPASSO com o mercado real de oferta e demanda de dinheiro. Taxas artificialmente baixas, em descompasso com a inflação e a remuneração dos poupadores é um tremendo estímulo à formação de bolhas, jamais seriam fixadas ao sabor dos mercados, que teriam CORRIGIDO automaticamente esse descompasso.
Portanto, contrariamente ao que diz Stiglitz, os mercados são, sim são capazes de autocorreção, e o fariam se não fosse a MÃO VISÍVEL do governo que atua em descompasso com os dados fundamentais do mercado. Quem disse ao professor Stiglitz que juros de 2% são juros de mercado?
Como os banqueiros teriam induzido clientes potencialmente inadimplentes se não fosse pelo atrativo dos juros baixos?
Como esses agentes imobiliários oficiais teriam oferecido tanto crédito se não fosse pela garantia de que o governo cobriria eventuais perdas?
Sinto muito, professor Stiglitz, seu raciocínio simplesmente não faz sentido.
Paulo Roberto de Almeida (25.01.201)
A Mão Invisível do Mercado
escrito para o Project Syndicate e reproduzido pela Folha de São Paulo (27/12/2009), o economista e professor da Columbia University, Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, diz que a lição da crise "é a de que os mercados não são capazes de autocorreção. De fato, na ausência de regulamentação adequada, tendem ao excesso. Em 2009, vemos uma vez mais o motivo. A mão invisível de Adam Smith muitas vezes pareceu realmente invisível, porque não estava lá. A defesa de seus interesses próprios pelos banqueiros (ou seja, a cobiça) não conduziu ao bem estar da sociedade, não serviu nem mesmo aos interesses dos acionistas e dos detentores de títulos dos bancos".
Trata-se de notável equívoco quanto ao que disse realmente Adam Smith e quanto ao significado dos mercados livres. Em primeiro lugar, Smith nunca defendeu, realmente, nenhuma política, ou "teoria" como querem alguns, relativamente aos méritos, mais supostos do que reais, dessa famosa construção intelectual identificada como "mão invisível". O que ele disse, concretamente, é que os agentes econômicos, deixados livres para realizarem seus interesses individuais -- ou seja, ao perseguirem unicamente sua própria cobiça -- acabam satisfazendo melhor aos desejos da sociedade do que se estivessem unidos, num suposto acordo coletivo para realizar o bem comum. Adam Smith diz que, ao agirem de forma absolutamente descoordenada e cada qual perseguindo seu próprio interesse, eles acabam atuando em benefício da sociedade, como se uma mão invisível pairasse acima da sociedade a guiar as ações dos indivíduos.
Ou seja, trata-se de uma figura de estilo, não de uma prescrição de política. Justamente em função da ausência de coiordenação, agentes individuais não determinam uma política, mas são simplesmente guiados pelo comportamento dos mercados: se eles encontram clientes para seus produtos e serviços, excelente: terão lucros e ficarão mais ricos. Se, ao contrário, os clientes deles se afastarem, por preços altos ou má qualidade, eles perderão dinheiro e serão expulsos do mercado, a menos que se corrijam rapidamente ou mudem seu modo de atuação (por vezes inclusive mudando de ramo, por incapacidade de competir em mercados livres).
Contráriamente ao que diz Stiglitz, mesmo quando cometem excessos -- e os mercados só cometem excessos porque os clientes sustentam a demanda, mesmo em condições adversas, ou seja, preços das ações em ascensão ou otimismo exagerado quanto aos retornos esperados -- os mercados SEMPRE se corrigem a si próprios, inevitavelmente, pois esta é a função dos mercados.
Isso é tão evidente, que não seria preciso repetir: quando há uma defasagem qualquer no mercado, alguém perderá dinheiro, ou o ofertante do bem ou serviço, ou o cliente suposto, o que provocará quase automaticamente uma resposta no sentido contrário: a retirada do ofertante ou do cliente-consumidor do mercado, ambos por perdas realizadas. Isso pode até demorar um pouco para ocorrer, na ausência de informações fiáveis ou adequadas, mas ocorrerá inevitavelmente.
Ocorre, porém, que, orientados por aprendizes de feiticeiro, como Stigltiz, os governos acham que podem melhor regular os mercados do que os agentes primários, os tais da "mão invisível", e passam a determinar como, quando e a que preço podem ser realizadas tais e tais transações.
Isso é tão evidente, que eu não precisaria tampouco recordar o que ocorre de fato nos mercados.
Quem determina a taxa de juros básica não é o mercado, mas o governo. Quem diz para quem, por quanto e por quanto tempo devem ser oferecidos empréstimos imobiliários é em grande medida o governo, que pretende "estimular" o mercado imobiliário e ser generoso com o seu corpo eleitoral, oferecendo casas baratas e financiadas a perder de vista.
Ou seja, quem cria as condições para as bolhas financeiras ou imobiliárias é o governo, não os mercados.
Mercados deixados livres NUNCA fixariam os juros a 2% durante três anos como o fez o Federal Reserve americano, em TOTAL DESCOMPASSO com o mercado real de oferta e demanda de dinheiro. Taxas artificialmente baixas, em descompasso com a inflação e a remuneração dos poupadores é um tremendo estímulo à formação de bolhas, jamais seriam fixadas ao sabor dos mercados, que teriam CORRIGIDO automaticamente esse descompasso.
Portanto, contrariamente ao que diz Stiglitz, os mercados são, sim são capazes de autocorreção, e o fariam se não fosse a MÃO VISÍVEL do governo que atua em descompasso com os dados fundamentais do mercado. Quem disse ao professor Stiglitz que juros de 2% são juros de mercado?
Como os banqueiros teriam induzido clientes potencialmente inadimplentes se não fosse pelo atrativo dos juros baixos?
Como esses agentes imobiliários oficiais teriam oferecido tanto crédito se não fosse pela garantia de que o governo cobriria eventuais perdas?
Sinto muito, professor Stiglitz, seu raciocínio simplesmente não faz sentido.
Paulo Roberto de Almeida (25.01.201)
1757) Divida publica: deterioracao no Brasil, comparacao com os Brics
A concessão de empréstimos do Tesouro Nacional a bancos estatais foi o principal fator de deterioração dos números da dívida pública em 2009, indicam dados do Banco Central.
A dívida pública bruta total (ou seja, incluindo a União, estados e municípios) alcançou 64,1% do PIB até novembro de 2009, registrando um aumento de 7,8% em relação a 2008, a maior elevação de um ano a outro desde o ano 2000 (Cristiano Romero,"Crédito do Tesouro a banco estatal deteriora dívida pública em 2009", Valor Econômico, 25.01.2010, p. C10).
O valor é similar ao deixado pelo governo FHC a Lula em 2002, sendo que logo em 2003, a dívida total passou a 70,4% do PIB, tendo diminuído depois. "O aumento poderia ter sido maior, se o governo não tivesso mudado, em 2008, a metodologia de cáclculo, que passou a considerar apenas a dívida efetivamente no mercado, retirando os títulos encarteirados, mas sem negociação."
Ou seja, o BC carrega títulos que o governo não consegue colocar no mercado, o que é no mínimo preocupante. Mais preocupante ainda é o fato de que o governo emite títulos à taxa Selic e depois empresta a bancos estatais, que cobram menos, encaixando um custo fiscal considerável nesse tipo de operação (estimado em algo próximo de 150 bilhões de reais).
Segundo o economista Samuel Pessoa, da FGV-Rio, "Isso pode ter as características de uma bomba relógio se a política fiscal ficar muito desorganizada e a Selic tiver de subir muito lá na frente".
A distância entre a dívida líquida e a dívida bruta vem crescendo recentemente: passou de 18% do PIB para mais de 25% do PIB. O problema é que os créditos concedidos a bancos estatais, apeasr de abatidos da dívida bruta, não são líquidos como as reservas internacionais (corretamente abatidas da dívida bruta), pois não podem ser exigíveis no curto prazo. Esses créditos devem ser tratados como uma expansão fiscal, segundo economistas. Retirando-se esses crésitos da contabilidade, a dívida líquida passaria de 43% a 52% do PIB.
Mas, o crescimento da dívida líquida também foi significativo, passando de 37,3% para 43% do PIB, ou seja, um crescimento de 5,7% do PIB.
Comparativamente a outros países, e numa escala crescente, temos o seguinte quadro da dívida pública em 2009, como proporção do PIB (segundo dados do FMI):
Rússia: 7,2
China: 20,2
Argentina: 60,5
Brasil: 68,5
Reino Unido: 68,7
França: 78,0
Alemanha: 78,7
Índia: 84,7
Estados Unidos: 84,8
Itália: 115,8
Japão: 218,6
A dívida pública bruta total (ou seja, incluindo a União, estados e municípios) alcançou 64,1% do PIB até novembro de 2009, registrando um aumento de 7,8% em relação a 2008, a maior elevação de um ano a outro desde o ano 2000 (Cristiano Romero,"Crédito do Tesouro a banco estatal deteriora dívida pública em 2009", Valor Econômico, 25.01.2010, p. C10).
O valor é similar ao deixado pelo governo FHC a Lula em 2002, sendo que logo em 2003, a dívida total passou a 70,4% do PIB, tendo diminuído depois. "O aumento poderia ter sido maior, se o governo não tivesso mudado, em 2008, a metodologia de cáclculo, que passou a considerar apenas a dívida efetivamente no mercado, retirando os títulos encarteirados, mas sem negociação."
Ou seja, o BC carrega títulos que o governo não consegue colocar no mercado, o que é no mínimo preocupante. Mais preocupante ainda é o fato de que o governo emite títulos à taxa Selic e depois empresta a bancos estatais, que cobram menos, encaixando um custo fiscal considerável nesse tipo de operação (estimado em algo próximo de 150 bilhões de reais).
Segundo o economista Samuel Pessoa, da FGV-Rio, "Isso pode ter as características de uma bomba relógio se a política fiscal ficar muito desorganizada e a Selic tiver de subir muito lá na frente".
A distância entre a dívida líquida e a dívida bruta vem crescendo recentemente: passou de 18% do PIB para mais de 25% do PIB. O problema é que os créditos concedidos a bancos estatais, apeasr de abatidos da dívida bruta, não são líquidos como as reservas internacionais (corretamente abatidas da dívida bruta), pois não podem ser exigíveis no curto prazo. Esses créditos devem ser tratados como uma expansão fiscal, segundo economistas. Retirando-se esses crésitos da contabilidade, a dívida líquida passaria de 43% a 52% do PIB.
Mas, o crescimento da dívida líquida também foi significativo, passando de 37,3% para 43% do PIB, ou seja, um crescimento de 5,7% do PIB.
Comparativamente a outros países, e numa escala crescente, temos o seguinte quadro da dívida pública em 2009, como proporção do PIB (segundo dados do FMI):
Rússia: 7,2
China: 20,2
Argentina: 60,5
Brasil: 68,5
Reino Unido: 68,7
França: 78,0
Alemanha: 78,7
Índia: 84,7
Estados Unidos: 84,8
Itália: 115,8
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