...quero dizer: vendendo energia mais cara ao Brasil, que é um país generoso e pode pagar. Aliás, não só pode, como quer pagar, faz questão de pagar mais caro, o que poderia ser negociado em bases inteiramente de mercado, uma invenção velha e ultrapassado, agora substituída por negociações de irmão para irmão, ou de filho para mãe, ou vice-versa, enfim, vocês escolhem...
Opinião
Itaipu e os vários Paraguais brasileiros
Claudio J. D. Sales
O Estado de S.Paulo, 7 de julho de 2010
Após a eliminação do Brasil da Copa do Mundo da África do Sul, é importante voltarmos nossas atenções para um verdadeiro gol contra os brasileiros que está sendo maquinado pelo governo federal e sua base aliada no Congresso Nacional, em resposta a pressões de políticos paraguaios que não têm muito compromisso com a verdade. Se a Câmara dos Deputados aprovar o Projeto de Decreto Legislativo n.º 2.600/2010, que altera o tratado que deu origem à Usina Hidrelétrica de Itaipu (tratado assinado em 1973, peça jurídica perfeita e que deveria permanecer como tal até 2023), os brasileiros desembolsarão R$ 5,5 bilhões adicionais em benefício dos paraguaios.
Na audiência pública sobre o tema que foi realizada no dia 29 de junho, o representante do Ministério das Relações Exteriores, desprovido de argumentos racionais para justificar essa alteração descabida, apelou para comparações sem lógica, como "PIB do Paraguai antes de Itaipu versus PIB do Paraguai após Itaipu". O que estaria sugerindo o diplomata? Que Itaipu prejudicou o produto interno bruto (PIB) do Paraguai? Bem sabe o diplomata que a usina, que hoje responde por 15% das receitas paraguaias, só trouxe enormes benefícios ao nosso vizinho.
A prevalência da dimensão política sobre a técnico-econômica é marcante: o Ministério de Minas e Energia, colíder natural do tema, não assumiu posição de destaque sobre o assunto. Na mesma linha, é compreensível o comportamento recente do outro representante do governo na mesma audiência, que procurou defender a alteração do tratado e a doação bilionária aos paraguaios. Ficou evidente que esse competente profissional foi forçado a sucumbir às pressões do governo federal, de certa forma contradizendo suas inúmeras manifestações passadas ? em artigos, apresentações públicas e entrevistas ? contrárias à exploração política e oportunista dos paraguaios.
Mas não é possível tolerância parecida com aqueles diplomatas que pretendem influenciar os parlamentares sobre este tema sem estudar minimamente o setor de energia. Isso ficou claro na mesma audiência pública, diante da falta de domínio técnico do representante do Ministério das Relações Exteriores, que cometeu erros conceituais graves ? propositais ou não ?, como confundir "venda de energia" com "remuneração por energia excedente". Talvez a aposta fosse que, complexo como é o setor energético, ninguém percebesse as falácias ali apresentadas. Aposta errada.
Toda a estratégia do governo federal consiste em defender o seguinte raciocínio: apesar de não haver nenhuma necessidade de alteração, e apesar de o Paraguai ter sido beneficiado com a propriedade de 50% da usina sem ter assumido nenhum risco (já que 100% do financiamento para a construção da usina foi feito com garantias do Tesouro brasileiro), precisamos prover "novas ajudas" aos nossos irmãos paraguaios, tão necessitados.
Esquecem esses políticos que a grande ajuda ao Paraguai é dada pelo próprio Tratado de Itaipu, que possibilitou que o país se tornasse proprietário de 50% da usina sem que tivesse à época (assim como não tem hoje) condições financeiras para tal. Esses senhores também se esquecem de olhar ao seu redor e perceber que em nosso Brasil há vários "Paraguais" que poderiam ser muito beneficiados com os R$ 5,5 bilhões que o governo federal quer caridosamente transferir para o governo Fernando Lugo.
No âmbito de nossas prioridades, temos, por exemplo, a situação vivida nas últimas semanas por dois Estados brasileiros. As enchentes em Pernambuco e Alagoas já causaram mais de 50 mortes e deixaram esses Estados em situação mais do que crítica. Curiosamente, os Índices de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e Alagoas (0,718 e 0,677, respectivamente) são menores que o do Paraguai (0,752).
Também não se pode esquecer que em 1986 e em 2005 já houve alterações, em benefício dos paraguaios, na mesma remuneração atualmente em discussão. Em ambas o Congresso não foi ouvido ? atos que podem até mesmo ser interpretados como inconstitucionais. E mais recentemente, em 2007, o governo federal decidiu liberar o Paraguai do pagamento da correção da dívida, imputando esse ônus aos consumidores brasileiros.
Esses episódios provam que os pleitos e as pressões paraguaias nunca cessarão. Ceder agora revelará que o Brasil admite "dever" algo ao Paraguai ? o que é uma grande falácia; e ficará aberta uma enorme avenida para futuras demandas ao sabor dos próximos governos paraguaios, que sempre verão em Itaipu tema predileto em suas campanhas eleitorais. Onde passa um boi...
É hora de saber quem de fato está do lado do povo brasileiro. Espanta ver alguns deputados de nosso país colocando paraguaios antes de brasileiros igualmente carentes. A esperança é que podemos contar com um bom número de parlamentares capazes de dar transparência às ações político-ideoló gicas de governantes, como ficou evidenciado -- e documentado -- no debate daquela audiência pública.
Chegou a hora de dizer não a mais um pleito de alteração do Tratado de Itaipu. Essa é a melhor forma de dizer sim a essa obra, que tem gerado tantas riquezas para o Brasil e para o Paraguai e, após 2023, será uma verdadeira "Casa da Moeda" para os paraguaios: dívidas quitadas, receitas livres, a partir de uma obra viabilizada integralmente pelo Brasil.
Da mesma forma que Itaipu, em 1973, "inundou" uma disputa territorial entre Brasil e Paraguai, é hora de "afogar" mais uma manifestação de uso político-eleitoral- ideológico-oportunista e evitar que sejam extorquidos R$ 5,5 bilhões dos milhões de brasileiros que anseiam por esses recursos para que seja mudada a sua dura realidade.
Presidente do Instituto Acende Brasil
Site: www.acendebrasil.com.br
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quarta-feira, 7 de julho de 2010
O Brasil enlouqueceu (a comecar pelos candidatos)
Cada um, agora, vai se esforçar para ser mais irresponsável do que o outro.
Por que não, por exemplo, prometer logo uma casa e um carro para cada beneficiário do Bolsa Família?
O que impede o Estado de ser assim generoso e de estancar de vez a miséria das massas?
Paulo Roberto de Almeida
Serra diz que vai duplicar Bolsa Família; economistas dizem que meta é factível
Folha de S.Paulo online, 7.07.2010
No primeiro dia oficial de campanha, o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, prometeu ontem, em Curitiba, mais que duplicar os investimentos no Bolsa Família. Os recursos atenderiam, de acordo com o tucano, outras 15 milhões de famílias que deveriam ser assistidas pelo programa. Sua oponente petista, Dilma Rousseff, acusou a oposição anteontem de ter tentado acabar com o principal programa social da gestão Lula.
“Qual é a nossa meta? É partir para a erradicação da pobreza de todas as famílias abaixo da linha da pobreza”, discursou Serra, em encontro organizado pelo PSDB para discutir a expansão da rede de assistência social. O Bolsa Família atende hoje cerca de 12,6 milhões de famílias e, com a promessa de Serra, chegaria a 27,6. “Temos no Brasil, abaixo da linha da pobreza, 15 milhões de famílias com renda per capita familiar de até meio salário mínimo. O Bolsa Família não cobre isso.” Segundo o candidato tucano, “com crescimento sustentável e política macroeconômica adequada, dá para chegar a isso [ao número de 27,6 milhões de famílias]“.
Serra fez uma comparação com o pagamento anual de juros para estabelecer a nova meta de atendimento. “Sabem quanto custa um programa como o Bolsa Família? R$ 12 bilhões. É 5% do que se paga em juros. Dá para duplicar [o investimento no Bolsa Família] e vai para 10%”, disse. A promessa de Serra é “possível e desejável”, na opinião do economista Marcelo Neri, do CPS-FGV (Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas). Para Neri, o programa poderia tirar da pobreza metade dos 29,5 milhões que ainda vivem no Brasil com renda mensal inferior a R$ 140.
O impacto nas finanças do país seria “relativamente pequeno”, na opinião do economista da FGV e dependeria apenas da vontade política do candidato. O economista do Instituto de Ciências Políticas da UnB (Universidade de Brasília) Ricardo Caldas disse que a ampliação do programa dependerá de prioridades. Para ele, teria que se analisar quais pessoas seriam incluídas: se donas de casa que deixaram de trabalhar para cuidar dos filhos, desempregados, ou jovens.
Por que não, por exemplo, prometer logo uma casa e um carro para cada beneficiário do Bolsa Família?
O que impede o Estado de ser assim generoso e de estancar de vez a miséria das massas?
Paulo Roberto de Almeida
Serra diz que vai duplicar Bolsa Família; economistas dizem que meta é factível
Folha de S.Paulo online, 7.07.2010
No primeiro dia oficial de campanha, o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, prometeu ontem, em Curitiba, mais que duplicar os investimentos no Bolsa Família. Os recursos atenderiam, de acordo com o tucano, outras 15 milhões de famílias que deveriam ser assistidas pelo programa. Sua oponente petista, Dilma Rousseff, acusou a oposição anteontem de ter tentado acabar com o principal programa social da gestão Lula.
“Qual é a nossa meta? É partir para a erradicação da pobreza de todas as famílias abaixo da linha da pobreza”, discursou Serra, em encontro organizado pelo PSDB para discutir a expansão da rede de assistência social. O Bolsa Família atende hoje cerca de 12,6 milhões de famílias e, com a promessa de Serra, chegaria a 27,6. “Temos no Brasil, abaixo da linha da pobreza, 15 milhões de famílias com renda per capita familiar de até meio salário mínimo. O Bolsa Família não cobre isso.” Segundo o candidato tucano, “com crescimento sustentável e política macroeconômica adequada, dá para chegar a isso [ao número de 27,6 milhões de famílias]“.
Serra fez uma comparação com o pagamento anual de juros para estabelecer a nova meta de atendimento. “Sabem quanto custa um programa como o Bolsa Família? R$ 12 bilhões. É 5% do que se paga em juros. Dá para duplicar [o investimento no Bolsa Família] e vai para 10%”, disse. A promessa de Serra é “possível e desejável”, na opinião do economista Marcelo Neri, do CPS-FGV (Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas). Para Neri, o programa poderia tirar da pobreza metade dos 29,5 milhões que ainda vivem no Brasil com renda mensal inferior a R$ 140.
O impacto nas finanças do país seria “relativamente pequeno”, na opinião do economista da FGV e dependeria apenas da vontade política do candidato. O economista do Instituto de Ciências Políticas da UnB (Universidade de Brasília) Ricardo Caldas disse que a ampliação do programa dependerá de prioridades. Para ele, teria que se analisar quais pessoas seriam incluídas: se donas de casa que deixaram de trabalhar para cuidar dos filhos, desempregados, ou jovens.
As dez maiores bobagens economicas de toda a historia (e ainda tem mais)
John S. Chamberlain fez um otimo trabalho, mas ele se esqueceu de mirar "South of the Border", como diria Oliver Stone (esquecendo que a Venezuela não está exatamente south of the border, mas sim un poquito más abajo).
Se ele examisse a situação econômica da Venezuela, justamente, teria amplo material para sua coleção de bobagens econômicas, e todos os dias, graças aos esforços desse profesor de economía al revés, Mister Chávez, o maior e melhor professor de economia que possamos ter em todo o hemisfério (se calhar em todo o mundo, tirando Robert Mugabe), desde que vocês simplesmente invertam as políticas: um manual perfeito de economia política, com demonstrações práticas todos os dias...
Enfim, à falta de El Profesor, fiquem mesmo com essas:
Ten Economic Blunders from History
by John S. Chamberlain
Mises Daily, July 7, 2010
Take cover when you hear a political leader talking about economic affairs. You can bet a bad decision is incoming. Luckily for the leaders, their meddling usually has a slow, erosive effect on the economy. Every so often, however, the great ones manage to land a real whopper that takes them down along with their whole country. Here are ten examples from history.
1. Charge Too Much and You Die
In the year 301, the Roman emperor Diocletian issued the Edictum De Pretiis Rerum Venalium, i.e., the Edict on Prices of Foodstuffs, which rebalanced the coinage system and set maximums on wages and the prices of many types of goods, especially food. The penalty for selling above the stipulated prices was death. Copies of the edict were inscribed on stone monuments all over the empire. Here's a tip for future dictators: never inscribe your blunders on stone unless you want people to laugh at you for the rest of eternity. The edict was a disaster. Sellers withdrew their goods, unwilling to sell at the fixed prices or even risk being falsely accused of selling beyond the maximum and thus be subject to execution. Workers responded to the wage edicts by vanishing or sitting around doing nothing. Eventually the edict was ignored and became a subject of derision and mockery which permanently lowered the prestige and authority of the empire.
2. Shearing the English Wolf
You know you are doing something wrong when your enemies become folk heroes like Robin Hood. Common sense is to tax the weak and give money to the strong, but after his failure in forestry policy King John of England decided to try the reverse. He relieved the knights of the realm from their military service requirements, but then ordered them to pay instead a hefty "scutage" (shield) tax. Soon, there were 10,000 Robin Hoods trying to kill him and going about it in an organized fashion. Signing the humiliating Magna Carta in 1215 bought him some time, but by the next year he was living on the lamb. After his folly-won treasure was washed away in a mistimed river crossing, he went crazy and died soon after.
3. Paper Money Is Amazing
The fifth Khan of Persia was named "Gaykhatu," which means "amazing" in Mongolian. After recklessly squandering the money left by his predecessors he was in no position to cope with a massive rinderpest epidemic that began devastating his subjects' livestock in 1294. Amazing came up with an amazing solution to his financial problems: paper money. Invented by his boss, Kublai Khan, back in China the idea of paper money was a godsend. He would print up certificates just like the Chinese ones, decree death for anyone who refused them, and all his problems would be solved. Amazing! Unfortunately for Amazing he did not fuss too much with technical details like convertibility and capital controls, which Kublai Khan had agonized over, and the result was the total failure of the project. Economic chaos ensued. Amazing was deposed and put to death the next year.
4. I'll Buy Every Sword You've Got
In the Muromachi period (1336 to 1573), Ming dynasty Mandarins in China adopted a policy of buying and importing swords from the Japanese with the goal of depriving the troublesome "barbarians" occupying those islands of their weapons. The gleeful reaction of the Japanese was along the lines of Jay Leno's Doritos commercial: buy all you like; we'll make more.
5. No Smuggling Allowed
Price controls are stupid anytime, but it takes true idiocy to apply them in the middle of a siege. In 1584 forces controlled by Alexander Farnese, the duke of Parma, were besieging Holland's grandest city, Antwerp, in the Dutch War of Independence. At first the siege was ineffectual because the duke's lines were porous and Antwerp could be supplied by sea, but the duke was in luck because the city decided to blockade itself voluntarily. The magistrates of the city declared a maximum on the price of grain. The smugglers who had been running the blockade up to that point became considerably less enthusiastic about making food deliveries after that. Facing starvation, the city surrendered the next year.
6. The Gold Factory of Venice
In 1590 the Republic of Venice was in decline. Nineteen years earlier it had gloriously fended off the Ottoman Turks by a tremendous victory at the Battle of Lepanto, but had nevertheless lost Cyprus, the republic's greatest possession. In 1585 the newly elected doge had thrown silver coins instead of the traditional gold at his ascension. Weighed down by taxes, imposts, tariffs, duties, tithes, assessments and fees, the economy had seen better days. From out of this gloom a new hope unexpectedly appeared. A long-lost Venetian named Marco Bragadini, currently resident in nearby Lombardy, had discovered how to make gold. The republic had to act fast, though, because the duke of Mantua was trying to lay his hands on this valuable goose. A cohort of soldiers was sent forthwith and Bragadini was securely delivered into the city in triumph by three galleys. Rigorous scientific tests were ordered by the senate to verify the power of the "anima d'oro," which Bragadini alone possessed. The alchemist filled a crucible with quicksilver, added a pinch of his secret powder and set it to fire. Soon the quicksilver turned to gold; it was all true. The price of alchemist capes and retorts skyrocketed. Signor Bragadini coolly informed the senate he could produce six million ducats or whatever they would require. For himself he wanted nothing but to be the humble servant of his country. Naturally, the senate put all the resources of Venice at his disposal. Nobles flocked to Bragadini by the dozen, imploring him to cut them in on his business. The months wore on, but the production of the new gold factory was disappointingly meager. Apparently there were limits to the speed with which the gold could be manufactured. Sensing a mounting impatience with his operations Bragadini absconded to Munich where Duke William the Pious was wooing him. Unfortunately for the maestro, in the meantime Pope Sixtus had died and been replaced with the sanctimonious Pope Gregory XIV who considered the alchemist and his two dogs to be the devil's spawn and sent orders for their execution — with which William complied. The senate of Venice decided to pretend the whole thing never happened.
7. How to Deal with Hoarders
As the famine-fueled French Revolution careened out of control in 1793, a radical clique called the "Committee of Public Safety" headed by Maximilien Robespierre took power. The committee resolved to solve the food problem by enacting the "General Maximum," a set of policies fixing the maximum price of bread and other common goods. When those measures failed to increase the supply of food, they sent soldiers into the countryside to forcibly seize grain from the evil farmers who were "hoarding" it. Robespierre and the committee went to the guillotine the next year.
8. A Hobo's Dream, An Empire's End
In 1880, railroad technology was advancing rapidly, and the Russians received several private petitions for a concession in the Far East. To the paranoid patricians of Moscow, it was not enough to merely deny these foreign schemers; they needed to build their own railroad to the east to keep them out. Under the leadership of His Royal Paranoidness, Czar Alexander III, the Russian state began taking out massive foreign loans and constructing the 5,000-mile Trans-Siberian Railway, the largest civil-works project since the Great Pyramid of Giza. Alexander (and his empire) would later die from injuries sustained in a railroad accident. By the time the corruption-ridden boondoggle was completed in 1904, Alexander's son, Nicholas II, was technically bankrupt. Wars and revolts started to plague the empire. Instead of carrying trade goods, the new railway was carrying political prisoners and supplies for soldiers. When Russia rolled over its debts in 1907, it was obvious to the large banking houses that the empire was financially doomed and only small investors could be found to subscribe the new loans. Even with these loans suspended, Russia's economy was so weak that it would not survive the coming war. Nicholas was executed July 16, 1918.
9. It Takes a Village to Build a Famine
The 1984 crop failure in Ethiopia presented a fresh set of problems for the Marxist junta called the "Derg" that controlled the government. The nationalization programs and price controls they had been experimenting with for years seemed less effective than ever. Obviously the remnants of capitalism were still infecting the economy, so they took vigorous measures such as outlawing grain trading. Oddly enough, that did not stop the famine. The chairman, Mengistu Haile Mariam, inspired by the brilliant agricultural successes of Secretary Stalin in the 1930s thereupon sponsored a whole new idea dubbed "villagization." Under this plan the scattered rural inhabitants of Ethiopia would be gathered together in modernized villages with all the latest civic infrastructure. As might be expected, not all the beneficiaries of this plan realized what utopias these villages would be so they had to be driven there at gunpoint for their own good. Unfortunately, the expected increases in agricultural production never materialized and millions starved. The country descended into a permanent state of civil war, which only ended in 1990 after the Soviet Union stopped supplying the Derg. Mengistu fled to Zimbabwe where he has become an important advisor to that nation's rulers.
10. Rubles: Now You See Them, Now You Don't
On January 22, 1991, Mikhail Gorbachev, the president of the Soviet Union, decreed that all existing 50- and 100-ruble banknotes were no longer legal tender and that they could be exchanged for new notes for three days only and only in small quantities. This had the effect of instantly deleting large portions of the savings and accumulated capital of private citizens. He followed up this genius move on January 26, by ordering that the police had the authority to search any place of business and to demand the records of any business at any time. The union's economic problems accelerated into a death spiral. Gorbachev resigned on December 25, and on the next day the Supreme Soviet dissolved itself and the Union of Soviet Socialist Republics.
John S. Chamberlain lives in Natick, Massachusetts, and works as a software engineer specializing in earth science and artificial intelligence. He has an A.B. in politics from Princeton University and an M.S. in computer science from Northeastern University. See John S. Chamberlain's article archives.
Eu tenho para apresentar várias outras falácias, algumas econômicas em minha série a respeito. Ver neste link.
Se ele examisse a situação econômica da Venezuela, justamente, teria amplo material para sua coleção de bobagens econômicas, e todos os dias, graças aos esforços desse profesor de economía al revés, Mister Chávez, o maior e melhor professor de economia que possamos ter em todo o hemisfério (se calhar em todo o mundo, tirando Robert Mugabe), desde que vocês simplesmente invertam as políticas: um manual perfeito de economia política, com demonstrações práticas todos os dias...
Enfim, à falta de El Profesor, fiquem mesmo com essas:
Ten Economic Blunders from History
by John S. Chamberlain
Mises Daily, July 7, 2010
Take cover when you hear a political leader talking about economic affairs. You can bet a bad decision is incoming. Luckily for the leaders, their meddling usually has a slow, erosive effect on the economy. Every so often, however, the great ones manage to land a real whopper that takes them down along with their whole country. Here are ten examples from history.
1. Charge Too Much and You Die
In the year 301, the Roman emperor Diocletian issued the Edictum De Pretiis Rerum Venalium, i.e., the Edict on Prices of Foodstuffs, which rebalanced the coinage system and set maximums on wages and the prices of many types of goods, especially food. The penalty for selling above the stipulated prices was death. Copies of the edict were inscribed on stone monuments all over the empire. Here's a tip for future dictators: never inscribe your blunders on stone unless you want people to laugh at you for the rest of eternity. The edict was a disaster. Sellers withdrew their goods, unwilling to sell at the fixed prices or even risk being falsely accused of selling beyond the maximum and thus be subject to execution. Workers responded to the wage edicts by vanishing or sitting around doing nothing. Eventually the edict was ignored and became a subject of derision and mockery which permanently lowered the prestige and authority of the empire.
2. Shearing the English Wolf
You know you are doing something wrong when your enemies become folk heroes like Robin Hood. Common sense is to tax the weak and give money to the strong, but after his failure in forestry policy King John of England decided to try the reverse. He relieved the knights of the realm from their military service requirements, but then ordered them to pay instead a hefty "scutage" (shield) tax. Soon, there were 10,000 Robin Hoods trying to kill him and going about it in an organized fashion. Signing the humiliating Magna Carta in 1215 bought him some time, but by the next year he was living on the lamb. After his folly-won treasure was washed away in a mistimed river crossing, he went crazy and died soon after.
3. Paper Money Is Amazing
The fifth Khan of Persia was named "Gaykhatu," which means "amazing" in Mongolian. After recklessly squandering the money left by his predecessors he was in no position to cope with a massive rinderpest epidemic that began devastating his subjects' livestock in 1294. Amazing came up with an amazing solution to his financial problems: paper money. Invented by his boss, Kublai Khan, back in China the idea of paper money was a godsend. He would print up certificates just like the Chinese ones, decree death for anyone who refused them, and all his problems would be solved. Amazing! Unfortunately for Amazing he did not fuss too much with technical details like convertibility and capital controls, which Kublai Khan had agonized over, and the result was the total failure of the project. Economic chaos ensued. Amazing was deposed and put to death the next year.
4. I'll Buy Every Sword You've Got
In the Muromachi period (1336 to 1573), Ming dynasty Mandarins in China adopted a policy of buying and importing swords from the Japanese with the goal of depriving the troublesome "barbarians" occupying those islands of their weapons. The gleeful reaction of the Japanese was along the lines of Jay Leno's Doritos commercial: buy all you like; we'll make more.
5. No Smuggling Allowed
Price controls are stupid anytime, but it takes true idiocy to apply them in the middle of a siege. In 1584 forces controlled by Alexander Farnese, the duke of Parma, were besieging Holland's grandest city, Antwerp, in the Dutch War of Independence. At first the siege was ineffectual because the duke's lines were porous and Antwerp could be supplied by sea, but the duke was in luck because the city decided to blockade itself voluntarily. The magistrates of the city declared a maximum on the price of grain. The smugglers who had been running the blockade up to that point became considerably less enthusiastic about making food deliveries after that. Facing starvation, the city surrendered the next year.
6. The Gold Factory of Venice
In 1590 the Republic of Venice was in decline. Nineteen years earlier it had gloriously fended off the Ottoman Turks by a tremendous victory at the Battle of Lepanto, but had nevertheless lost Cyprus, the republic's greatest possession. In 1585 the newly elected doge had thrown silver coins instead of the traditional gold at his ascension. Weighed down by taxes, imposts, tariffs, duties, tithes, assessments and fees, the economy had seen better days. From out of this gloom a new hope unexpectedly appeared. A long-lost Venetian named Marco Bragadini, currently resident in nearby Lombardy, had discovered how to make gold. The republic had to act fast, though, because the duke of Mantua was trying to lay his hands on this valuable goose. A cohort of soldiers was sent forthwith and Bragadini was securely delivered into the city in triumph by three galleys. Rigorous scientific tests were ordered by the senate to verify the power of the "anima d'oro," which Bragadini alone possessed. The alchemist filled a crucible with quicksilver, added a pinch of his secret powder and set it to fire. Soon the quicksilver turned to gold; it was all true. The price of alchemist capes and retorts skyrocketed. Signor Bragadini coolly informed the senate he could produce six million ducats or whatever they would require. For himself he wanted nothing but to be the humble servant of his country. Naturally, the senate put all the resources of Venice at his disposal. Nobles flocked to Bragadini by the dozen, imploring him to cut them in on his business. The months wore on, but the production of the new gold factory was disappointingly meager. Apparently there were limits to the speed with which the gold could be manufactured. Sensing a mounting impatience with his operations Bragadini absconded to Munich where Duke William the Pious was wooing him. Unfortunately for the maestro, in the meantime Pope Sixtus had died and been replaced with the sanctimonious Pope Gregory XIV who considered the alchemist and his two dogs to be the devil's spawn and sent orders for their execution — with which William complied. The senate of Venice decided to pretend the whole thing never happened.
7. How to Deal with Hoarders
As the famine-fueled French Revolution careened out of control in 1793, a radical clique called the "Committee of Public Safety" headed by Maximilien Robespierre took power. The committee resolved to solve the food problem by enacting the "General Maximum," a set of policies fixing the maximum price of bread and other common goods. When those measures failed to increase the supply of food, they sent soldiers into the countryside to forcibly seize grain from the evil farmers who were "hoarding" it. Robespierre and the committee went to the guillotine the next year.
8. A Hobo's Dream, An Empire's End
In 1880, railroad technology was advancing rapidly, and the Russians received several private petitions for a concession in the Far East. To the paranoid patricians of Moscow, it was not enough to merely deny these foreign schemers; they needed to build their own railroad to the east to keep them out. Under the leadership of His Royal Paranoidness, Czar Alexander III, the Russian state began taking out massive foreign loans and constructing the 5,000-mile Trans-Siberian Railway, the largest civil-works project since the Great Pyramid of Giza. Alexander (and his empire) would later die from injuries sustained in a railroad accident. By the time the corruption-ridden boondoggle was completed in 1904, Alexander's son, Nicholas II, was technically bankrupt. Wars and revolts started to plague the empire. Instead of carrying trade goods, the new railway was carrying political prisoners and supplies for soldiers. When Russia rolled over its debts in 1907, it was obvious to the large banking houses that the empire was financially doomed and only small investors could be found to subscribe the new loans. Even with these loans suspended, Russia's economy was so weak that it would not survive the coming war. Nicholas was executed July 16, 1918.
9. It Takes a Village to Build a Famine
The 1984 crop failure in Ethiopia presented a fresh set of problems for the Marxist junta called the "Derg" that controlled the government. The nationalization programs and price controls they had been experimenting with for years seemed less effective than ever. Obviously the remnants of capitalism were still infecting the economy, so they took vigorous measures such as outlawing grain trading. Oddly enough, that did not stop the famine. The chairman, Mengistu Haile Mariam, inspired by the brilliant agricultural successes of Secretary Stalin in the 1930s thereupon sponsored a whole new idea dubbed "villagization." Under this plan the scattered rural inhabitants of Ethiopia would be gathered together in modernized villages with all the latest civic infrastructure. As might be expected, not all the beneficiaries of this plan realized what utopias these villages would be so they had to be driven there at gunpoint for their own good. Unfortunately, the expected increases in agricultural production never materialized and millions starved. The country descended into a permanent state of civil war, which only ended in 1990 after the Soviet Union stopped supplying the Derg. Mengistu fled to Zimbabwe where he has become an important advisor to that nation's rulers.
10. Rubles: Now You See Them, Now You Don't
On January 22, 1991, Mikhail Gorbachev, the president of the Soviet Union, decreed that all existing 50- and 100-ruble banknotes were no longer legal tender and that they could be exchanged for new notes for three days only and only in small quantities. This had the effect of instantly deleting large portions of the savings and accumulated capital of private citizens. He followed up this genius move on January 26, by ordering that the police had the authority to search any place of business and to demand the records of any business at any time. The union's economic problems accelerated into a death spiral. Gorbachev resigned on December 25, and on the next day the Supreme Soviet dissolved itself and the Union of Soviet Socialist Republics.
John S. Chamberlain lives in Natick, Massachusetts, and works as a software engineer specializing in earth science and artificial intelligence. He has an A.B. in politics from Princeton University and an M.S. in computer science from Northeastern University. See John S. Chamberlain's article archives.
Eu tenho para apresentar várias outras falácias, algumas econômicas em minha série a respeito. Ver neste link.
Reforma do Sistema Monetario Internacional - Relatorio da Chattam House
Divulgando uma recomendação, mas confesso que ainda não li, por falta de tempo. Registro, justamente, para ler depois...
Reform of the International Monetary System
Press Releases, Chatham House, 18 March 2010
Reform of the international monetary system has never been more urgent, says this new report.
Beyond the Dollar: Rethinking the International Monetary System maps out proposals for a new international monetary order and look at ways in which monetary authorities and political leaders can help prepare the ground for a new system and facilitate the transition.
The report features contributions by prominent experts and practitioners, including Dr DeAnne Julius, former member of the Monetary Policy Committee of the Bank of England, and Jim O' Neill, Head of Global Economics, Goldman Sachs and creator of the acronym BRICs.
In his chapter, 'A Twenty-First Century International Monetary System', Jim O' Neill says:
'Within 20 years, the combined size of the so-called BRIC economies will possibly equal those of the United States and European Union together. What kind of international monetary system will be necessary for such a world, and can we start to devise one today for such an eventuality?'
While the theme of reform may not be new, the authors conclude that the need has never been more urgent.
Key recommendations include:
* A multicurrency reserve system for a multipolar world economy
* Develop a multicurrency reserve system that is appropriate for a world of regional trading blocs - Europe, Asia, the Americas - alongside a still pre-eminent dollar.
* Encourage a more extensive use of Special Drawing Rights as a supranational currency alongside international reserve currencies that are issued by sovereign states.
* Promote dialogue and policy coordination to provide stability, confidence and balanced adjustment
* Encourage international dialogue between countries issuing a reference currency and individual or groups of countries using the reference currency.
* Strengthen the role and legitimacy of international institutions
* The surveillance role of the International Monetary Fund (IMF) can be reinforced to address more effectively the problem of exchange rates and payments disequilibrium.
* Steps must be taken to safeguard the system against over-reliance on a weakened dollar, including expansion of the Special Drawing Rights.
* The shape of the international monetary system for the 21st century will be significantly influenced by the interests and the requirements of the emerging powers
* The dollar-based monetary system is no longer adequate for a larger and more integrated world economy. Prominent developing economies are increasingly demanding to be included in any multilateral dialogue that aims to shape the new economic order.
Notes to Editors
Read Beyond the Dollar: Rethinking the International Monetary System - Executive Summary
The report is edited by Dr Paola Subacchi and John Driffill, with contributions from Paul Collier, Dr DeAnne Julius, Jim O'Neill and others.
Press Office:
Nicola Norton: +44 (0)20 7957 5739; +44 (0)7917 757 528
Sara Karnas: +44 (0)20 7314 2787; +44 (0)7958 669 785
pressoffice@chathamhouse.org.uk
Reform of the International Monetary System
Press Releases, Chatham House, 18 March 2010
Reform of the international monetary system has never been more urgent, says this new report.
Beyond the Dollar: Rethinking the International Monetary System maps out proposals for a new international monetary order and look at ways in which monetary authorities and political leaders can help prepare the ground for a new system and facilitate the transition.
The report features contributions by prominent experts and practitioners, including Dr DeAnne Julius, former member of the Monetary Policy Committee of the Bank of England, and Jim O' Neill, Head of Global Economics, Goldman Sachs and creator of the acronym BRICs.
In his chapter, 'A Twenty-First Century International Monetary System', Jim O' Neill says:
'Within 20 years, the combined size of the so-called BRIC economies will possibly equal those of the United States and European Union together. What kind of international monetary system will be necessary for such a world, and can we start to devise one today for such an eventuality?'
While the theme of reform may not be new, the authors conclude that the need has never been more urgent.
Key recommendations include:
* A multicurrency reserve system for a multipolar world economy
* Develop a multicurrency reserve system that is appropriate for a world of regional trading blocs - Europe, Asia, the Americas - alongside a still pre-eminent dollar.
* Encourage a more extensive use of Special Drawing Rights as a supranational currency alongside international reserve currencies that are issued by sovereign states.
* Promote dialogue and policy coordination to provide stability, confidence and balanced adjustment
* Encourage international dialogue between countries issuing a reference currency and individual or groups of countries using the reference currency.
* Strengthen the role and legitimacy of international institutions
* The surveillance role of the International Monetary Fund (IMF) can be reinforced to address more effectively the problem of exchange rates and payments disequilibrium.
* Steps must be taken to safeguard the system against over-reliance on a weakened dollar, including expansion of the Special Drawing Rights.
* The shape of the international monetary system for the 21st century will be significantly influenced by the interests and the requirements of the emerging powers
* The dollar-based monetary system is no longer adequate for a larger and more integrated world economy. Prominent developing economies are increasingly demanding to be included in any multilateral dialogue that aims to shape the new economic order.
Notes to Editors
Read Beyond the Dollar: Rethinking the International Monetary System - Executive Summary
The report is edited by Dr Paola Subacchi and John Driffill, with contributions from Paul Collier, Dr DeAnne Julius, Jim O'Neill and others.
Press Office:
Nicola Norton: +44 (0)20 7957 5739; +44 (0)7917 757 528
Sara Karnas: +44 (0)20 7314 2787; +44 (0)7958 669 785
pressoffice@chathamhouse.org.uk
Como (Nao) Crescer a 7%; mais recente trabalho publicado
Apenas avisando os navegantes e curiosos:
978. “Como (Não) crescer a 7%”
Espaço Acadêmico (ano 10, n. 110, julho 2010, p. 73-83).
Relação de Originais n. 2155.
978. “Como (Não) crescer a 7%”
Espaço Acadêmico (ano 10, n. 110, julho 2010, p. 73-83).
Relação de Originais n. 2155.
O poderoso chefao da diplomacia brasileira...
Ops, como se dizia antigamente: qualquer semelhança é mera coincidência...
Nem o Barão nem o Chefão
Rolf Kuntz *
O Estado de S.Paulo, 7 de julho de 2010
Dom Vito Corleone jamais cursou uma faculdade e nunca foi diplomata, mas sabia falar com economia e precisão. Dava um recado sério quando usava as palavras "só negócio, nada pessoal". Falta essa clareza à diplomacia brasileira, talvez porque a sua percepção dos interesses e valores seja menos clara que a do chefão criado por Mario Puzo. O chanceler Celso Amorim teve uma educação e uma experiência internacional inacessíveis ao velho mafioso, mas seu discurso é muito menos convincente. "Negócios são negócios", disse o ministro à imprensa brasileira, na Guiné Equatorial, para explicar - e justificar - a boa vontade do governo brasileiro em relação ao ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.
A Guiné Equatorial foi a segunda escala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na viagem à África iniciada no último fim de semana. Foi uma visita de Estado e o presidente africano foi convidado, como era previsível, a retribuí-la. Este convite foi um dos poucos detalhes normais nessa operação diplomática. A maior parte dos outros atos só se explica pela combinação das duas marcas principais da diplomacia petista, a vocação para as trapalhadas e a atração pelo autoritarismo.
O mau uso da palavra "negócio" nas explicações do chanceler brasileiro reflete essa dupla característica da atual política exterior. Para começar, o governo brasileiro pagou certamente mais que o necessário para promover os interesses do País na relação com a Guiné Equatorial. Quase nulo até o ano 2000, o comércio bilateral chegou a US$ 414,22 milhões em 2008 e no ano seguinte, em consequência da crise, recuou para US$ 302,84 milhões. A Guiné tem sido superavitária, exportando hidrocarbonetos e importando alimentos e produtos industriais do Brasil. Só para equilibrar o intercâmbio, os brasileiros deveriam exportar uns US$ 200 milhões a mais.
Há, portanto, boa margem para expansão das trocas. Um bom trabalho de promoção de comércio e investimentos poderia facilitar o aumento dos negócios. Mas o governo brasileiro aceitou pagar um sobrepreço por esse resultado. Comprometeu-se a apoiar o ingresso da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, embora esse idioma não seja o seu idioma corrente. Além disso, o presidente Lula e seu colega Obiang "renovaram", na declaração conjunta, "sua continuada adesão aos princípios da democracia, ao respeito dos direitos humanos e ao Estado de Direito". Poderia ser uma boa piada, se o presidente Lula não envolvesse nessa jogada o nome do Brasil.
Não houve nesse lance nem a fidelidade a princípios, nem o cálculo estritamente realista. As melhores tradições da diplomacia brasileira foram abandonadas em 2003, quando o presidente Lula recauchutou a velha bandeira do terceiro-mundismo. O distanciamento aumentou quando o governo passou a usar essa bandeira para promover uma ambição irrealista de liderança em relação aos países em desenvolvimento.
Os preços pagos por uma liderança nunca reconhecida de fato fora das fronteiras do Brasil foram sempre muito altos. O governo brasileiro se dispôs a engolir e a justificar desaforos dos parceiros sul-americanos, como se isso bastasse para consolidar sua preeminência regional. Nunca deu certo.
No comércio, a retribuição veio na forma de barreiras contra produtos brasileiros e de aumento de importações da China. No campo dos investimentos, houve ações contra interesses da Petrobrás e tentativas de rompimento de contratos. Na articulação diplomática, o Brasil colecionou derrotas incomuns. Não obteve apoio para eleger candidatos à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) nem à presidência do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID). No caso da OMC, os africanos apresentaram candidato próprio e acabaram, na rodada final, apoiando o nome apresentado pelos europeus.
Na América Latina, os governos das maiores economias têm rejeitado a pretensão brasileira de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Quando o presidente Lula resolveu intrometer-se nas discussões sobre o programa nuclear do Irã, ficou falando quase sozinho. Os dois Brics com assento permanente no Conselho de Segurança, Rússia e China, apoiaram as sanções propostas por americanos e europeus.
O Barão do Rio Branco certamente não reconheceria princípios nem interesses nacionais nesse arremedo de estratégia diplomática. Dom Vito Corleone acharia estranhíssimo o uso da palavra "negócio". Mas gente como Teodoro Obiang Nguema Mbasogo deve gostar muito.
* Jornalista.
=============
Bom negócio para o ditador
Editorial
O Estado de S.Paulo, 7 de julho de 2010
"Negócios são negócios", disse o chanceler Celso Amorim para justificar a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, presidente da Guiné Equatorial há 31 anos. Esse longo período, iniciado com um golpe contra seu tio, Francisco Macías Nguema, foi para ele uma fase de grande prosperidade pessoal ? de excelentes negócios, portanto. Tornou-se o oitavo governante mais rico do mundo, segundo a revista Forbes, graças a métodos não recomendados pelas escolas de administração: violência contra os opositores ? incluindo o assassínio ?, corrupção e estrito controle da vida política de seu país.
O presidente Lula incluiu nos negócios com seu novo amigo o apoio à inclusão da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O comunicado conjunto emitido no final da visita menciona a satisfação do presidente Obiang por esse apoio. Os países da comunidade nada ganharão com o ingresso desse novo sócio. Mas uma ditadura conhecida por sua violência e pela corrupção ganhará mais um foro para se manifestar e mais espaço na cena internacional,
Não se fala português na Guiné Equatorial, mas a diplomacia brasileira não se deixou impressionar por esse detalhe. Apesar de tudo, a língua portuguesa é um dos idiomas oficiais do país, por ato assinado em 2007 pelo ditador. Os portugueses chegaram à região em 1470. Logo depois apareceram espanhóis e ingleses. O controle ficou para a Espanha entre 1778 e 1968, ano da independência.
A Guiné Equatorial já exporta petróleo para o Brasil e empresários brasileiros poderão participar de seus programas de obras. Essas transações correspondem ao sentido mais comum da palavra negócio. Será necessário muito mais que o interesse material para estimular o comércio e o investimento? Certamente não, mas o presidente brasileiro deve pensar o contrário.
Além de usar a CPLP para facilitar seus "negócios" com o ditador da Guiné Equatorial, o presidente Lula emprestou seu nome a uma declaração com a seguinte preciosidade: "Os dois chefes de Estado reconheceram a importância da democracia para o desenvolvimento e renovaram sua continuada adesão aos princípios da democracia, ao respeito aos direitos humanos, ao Estado de Direito e à boa governabilidade política e econômica no marco da formulação de suas políticas nacionais de desenvolvimento." Também isso é parte dos negócios?
Nenhum jornalista pôde formular essa ou qualquer outra pergunta quando foi apresentado o comunicado conjunto. Lula e seu novo amigo, sentados lado a lado, ouviram um funcionário africano ler a declaração. Repórteres apenas assistiram à cerimônia, mas puderam conversar com o chanceler brasileiro, "Não estamos ajudando nem promovendo ditadura", disse o ministro, classificando como "pregação moralista" as críticas à aproximação com o ditador.
Não é o que os fatos mostram nem o que está no comunicado, no qual o governo brasileiro se dispõe a promover os interesses políticos de uma ditadura e a dar respeitabilidade a um governante conhecido por seu desprezo à democracia. Além de assumir o compromisso em relação à CPLP, convertida em objeto de "negócios", o presidente Lula avalizou uma declaração do ditador Obiang a favor da democracia, do respeito aos direitos humanos e do Estado de Direito.
"Quem resolve o problema de cada país é o povo de cada país", acrescentou o ministro. Também essas palavras os fatos desmentem. Brasília interveio nos assuntos internos de Honduras, abrigando em sua embaixada um ex-presidente introduzido ilegalmente no país e permitindo-lhe atuar na política durante quase cinco meses. Pode-se discutir se a deposição de Zelaya foi ou não um golpe, embora determinada pelo Congresso e pela Corte Suprema. Há justificativas legais para os dois lados. Mas sobre a interferência brasileira não há dúvida. Quanto ao povo hondurenho, elegeu no fim do ano passado um novo governo, que o Itamaraty não reconhece enquanto o presidente deposto não for reintegrado à vida política nacional. Não se vê perspectiva semelhante para o povo da Guiné Equatorial nem para os povos comandados por outros ditadores amigos do presidente Lula.
Nem o Barão nem o Chefão
Rolf Kuntz *
O Estado de S.Paulo, 7 de julho de 2010
Dom Vito Corleone jamais cursou uma faculdade e nunca foi diplomata, mas sabia falar com economia e precisão. Dava um recado sério quando usava as palavras "só negócio, nada pessoal". Falta essa clareza à diplomacia brasileira, talvez porque a sua percepção dos interesses e valores seja menos clara que a do chefão criado por Mario Puzo. O chanceler Celso Amorim teve uma educação e uma experiência internacional inacessíveis ao velho mafioso, mas seu discurso é muito menos convincente. "Negócios são negócios", disse o ministro à imprensa brasileira, na Guiné Equatorial, para explicar - e justificar - a boa vontade do governo brasileiro em relação ao ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.
A Guiné Equatorial foi a segunda escala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na viagem à África iniciada no último fim de semana. Foi uma visita de Estado e o presidente africano foi convidado, como era previsível, a retribuí-la. Este convite foi um dos poucos detalhes normais nessa operação diplomática. A maior parte dos outros atos só se explica pela combinação das duas marcas principais da diplomacia petista, a vocação para as trapalhadas e a atração pelo autoritarismo.
O mau uso da palavra "negócio" nas explicações do chanceler brasileiro reflete essa dupla característica da atual política exterior. Para começar, o governo brasileiro pagou certamente mais que o necessário para promover os interesses do País na relação com a Guiné Equatorial. Quase nulo até o ano 2000, o comércio bilateral chegou a US$ 414,22 milhões em 2008 e no ano seguinte, em consequência da crise, recuou para US$ 302,84 milhões. A Guiné tem sido superavitária, exportando hidrocarbonetos e importando alimentos e produtos industriais do Brasil. Só para equilibrar o intercâmbio, os brasileiros deveriam exportar uns US$ 200 milhões a mais.
Há, portanto, boa margem para expansão das trocas. Um bom trabalho de promoção de comércio e investimentos poderia facilitar o aumento dos negócios. Mas o governo brasileiro aceitou pagar um sobrepreço por esse resultado. Comprometeu-se a apoiar o ingresso da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, embora esse idioma não seja o seu idioma corrente. Além disso, o presidente Lula e seu colega Obiang "renovaram", na declaração conjunta, "sua continuada adesão aos princípios da democracia, ao respeito dos direitos humanos e ao Estado de Direito". Poderia ser uma boa piada, se o presidente Lula não envolvesse nessa jogada o nome do Brasil.
Não houve nesse lance nem a fidelidade a princípios, nem o cálculo estritamente realista. As melhores tradições da diplomacia brasileira foram abandonadas em 2003, quando o presidente Lula recauchutou a velha bandeira do terceiro-mundismo. O distanciamento aumentou quando o governo passou a usar essa bandeira para promover uma ambição irrealista de liderança em relação aos países em desenvolvimento.
Os preços pagos por uma liderança nunca reconhecida de fato fora das fronteiras do Brasil foram sempre muito altos. O governo brasileiro se dispôs a engolir e a justificar desaforos dos parceiros sul-americanos, como se isso bastasse para consolidar sua preeminência regional. Nunca deu certo.
No comércio, a retribuição veio na forma de barreiras contra produtos brasileiros e de aumento de importações da China. No campo dos investimentos, houve ações contra interesses da Petrobrás e tentativas de rompimento de contratos. Na articulação diplomática, o Brasil colecionou derrotas incomuns. Não obteve apoio para eleger candidatos à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) nem à presidência do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID). No caso da OMC, os africanos apresentaram candidato próprio e acabaram, na rodada final, apoiando o nome apresentado pelos europeus.
Na América Latina, os governos das maiores economias têm rejeitado a pretensão brasileira de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Quando o presidente Lula resolveu intrometer-se nas discussões sobre o programa nuclear do Irã, ficou falando quase sozinho. Os dois Brics com assento permanente no Conselho de Segurança, Rússia e China, apoiaram as sanções propostas por americanos e europeus.
O Barão do Rio Branco certamente não reconheceria princípios nem interesses nacionais nesse arremedo de estratégia diplomática. Dom Vito Corleone acharia estranhíssimo o uso da palavra "negócio". Mas gente como Teodoro Obiang Nguema Mbasogo deve gostar muito.
* Jornalista.
=============
Bom negócio para o ditador
Editorial
O Estado de S.Paulo, 7 de julho de 2010
"Negócios são negócios", disse o chanceler Celso Amorim para justificar a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, presidente da Guiné Equatorial há 31 anos. Esse longo período, iniciado com um golpe contra seu tio, Francisco Macías Nguema, foi para ele uma fase de grande prosperidade pessoal ? de excelentes negócios, portanto. Tornou-se o oitavo governante mais rico do mundo, segundo a revista Forbes, graças a métodos não recomendados pelas escolas de administração: violência contra os opositores ? incluindo o assassínio ?, corrupção e estrito controle da vida política de seu país.
O presidente Lula incluiu nos negócios com seu novo amigo o apoio à inclusão da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O comunicado conjunto emitido no final da visita menciona a satisfação do presidente Obiang por esse apoio. Os países da comunidade nada ganharão com o ingresso desse novo sócio. Mas uma ditadura conhecida por sua violência e pela corrupção ganhará mais um foro para se manifestar e mais espaço na cena internacional,
Não se fala português na Guiné Equatorial, mas a diplomacia brasileira não se deixou impressionar por esse detalhe. Apesar de tudo, a língua portuguesa é um dos idiomas oficiais do país, por ato assinado em 2007 pelo ditador. Os portugueses chegaram à região em 1470. Logo depois apareceram espanhóis e ingleses. O controle ficou para a Espanha entre 1778 e 1968, ano da independência.
A Guiné Equatorial já exporta petróleo para o Brasil e empresários brasileiros poderão participar de seus programas de obras. Essas transações correspondem ao sentido mais comum da palavra negócio. Será necessário muito mais que o interesse material para estimular o comércio e o investimento? Certamente não, mas o presidente brasileiro deve pensar o contrário.
Além de usar a CPLP para facilitar seus "negócios" com o ditador da Guiné Equatorial, o presidente Lula emprestou seu nome a uma declaração com a seguinte preciosidade: "Os dois chefes de Estado reconheceram a importância da democracia para o desenvolvimento e renovaram sua continuada adesão aos princípios da democracia, ao respeito aos direitos humanos, ao Estado de Direito e à boa governabilidade política e econômica no marco da formulação de suas políticas nacionais de desenvolvimento." Também isso é parte dos negócios?
Nenhum jornalista pôde formular essa ou qualquer outra pergunta quando foi apresentado o comunicado conjunto. Lula e seu novo amigo, sentados lado a lado, ouviram um funcionário africano ler a declaração. Repórteres apenas assistiram à cerimônia, mas puderam conversar com o chanceler brasileiro, "Não estamos ajudando nem promovendo ditadura", disse o ministro, classificando como "pregação moralista" as críticas à aproximação com o ditador.
Não é o que os fatos mostram nem o que está no comunicado, no qual o governo brasileiro se dispõe a promover os interesses políticos de uma ditadura e a dar respeitabilidade a um governante conhecido por seu desprezo à democracia. Além de assumir o compromisso em relação à CPLP, convertida em objeto de "negócios", o presidente Lula avalizou uma declaração do ditador Obiang a favor da democracia, do respeito aos direitos humanos e do Estado de Direito.
"Quem resolve o problema de cada país é o povo de cada país", acrescentou o ministro. Também essas palavras os fatos desmentem. Brasília interveio nos assuntos internos de Honduras, abrigando em sua embaixada um ex-presidente introduzido ilegalmente no país e permitindo-lhe atuar na política durante quase cinco meses. Pode-se discutir se a deposição de Zelaya foi ou não um golpe, embora determinada pelo Congresso e pela Corte Suprema. Há justificativas legais para os dois lados. Mas sobre a interferência brasileira não há dúvida. Quanto ao povo hondurenho, elegeu no fim do ano passado um novo governo, que o Itamaraty não reconhece enquanto o presidente deposto não for reintegrado à vida política nacional. Não se vê perspectiva semelhante para o povo da Guiné Equatorial nem para os povos comandados por outros ditadores amigos do presidente Lula.
Kissinger, realista cinico, e assassinos deliberados: Stalin, Hitler, etc...
Meu amigo virtual Vinicius Portela observou, com razão, que, num trabalho dedicado ao realista cínico Henry Kissinger, eu tinha aproximado esse personagem de ditadores bem mais conhecidos.
Eis a passagem de meu trabalho:
"...Kissinger jogou o jogo de forma tão competente quanto todos os demais atores da grande política internacional, Stalin, Mao, Kruschev, Brejnev, Chu En-lai, Ho Chi-min e todos os outros, ou seja, não há verdadeiramente apenas heróis de um lado e patifes do outro. Todos estão inevitavelmente comprometidos como pequenos e grandes atentados aos direitos humanos e aos valores democráticos."
Faz parte deste pequeno ensaio, agora disponível no link abaixo, deste mesmo blog:
O legado de Henry Kissinger
Paulo Roberto de Almeida
Mundorama, 05/06/2008
O velho Kissinger: o realismo cínico de um grande intelectual e um estadista sem escrúpulos (segunda-feira, 5 de julho de 2010)
Aproveitando a (duvidosa) homenagem que se faz o intelectual e homem de Estado (ver post Os novos Kissingers), transcrevo um artigo que escrevi em 2008. (no link acima) (...)
Bem, gostaria agora de retificar o que afirmei acima, num pequeno ensaio escrito muito rapidamente, sem o tempo necessário de reflexão e revisão.
Não, não creio que Kissinger possa ser colocado na companhia desses ditadores absolutos, déspostas sem escrúpulos e assassinos quânticos.
Stalin e Hitler ficariam bem na companhia de Mao Tsé-tung, Pol Pot e outros grandes assassinos da história (com h minúsculo no caso deles, embora eles certamente pertenceram à grande História). Os outros citados -- Kruschev, Brejnev, Chu En-lai, Ho Chi-min -- pertencem a uma outra categoria de figuras históricas, alguns ditadores, outros simplesmente estadistas, outros personagens patéticos (como Kruschev, depois de ter sido um auxiliar devotado de Stalin), à qual tampouco pertence Kissinger.
Este poderia fazer companhia a Chou En-lai, Metternich, Thiers, Foster Dulles e outros estadistas e diplomatas, com a vantagem, talvez, que Kissinger tinha consistência intelectual e não era apenas um negociador frio e calculista como Thiers.
Antes de se tornar um homem de Estado, Kissinger foi um scholar, um estudioso, pesquisador da diplomacia, do equilíbrio de poderes e da dissuasão. Usou um pouco de sua bagagem intelectual quando esteve a serviço da diplomacia americana, mas basicamente deixou de lado alguns de seus valores acadêmicos para afirmar prioritariamente os interesses primários, muitas vezes brutais, dos Estados Unidos.
Não hesitava em ordenar operações da CIA, quando achava que algum ditadorzinho metido a besta -- ou seja, querendo jogar nos dois lados da balança, ou mesmo se alinhar com os interesses soviéticos -- poderia ameaçar posições fundamentais dos EUA.
Mas, não creio, sinceramente, que tenha ordenado massacres ou torturas de civis. O que ocorreu, e certamente ocorreram efeitos desse tipo nos golpes e operações em que ele esteve envolvido -- bombardeio do Vietnã do Norte, do Laos, golpe de Pinochet no Chile, complôs em Portugal, etc -- eram por ele considerados como "side effects" do grande jogo estratégico, no qual só havia um grande contendor, os outros sendo meros piões secundários, mesmo potências nucleares como França e Inglaterra.
A China, em sua época, não era ainda um contendor estratégico, mas um aliado involuntário no grande jogo com a União Soviética.
Kissinger acreditava no equilíbrio de poderes, um pouco como Castlereagh, e certamente não imaginava que seria possível desmantelar a União Soviética numa corrida armamentista e tecnológica como aquela conduzida por Ronald Reagan.
Ele provavelmente teria gostado de ter continuado a servir os EUA sob um presidente conservador como Reagan, mas provavelmente teria aceito servir qualquer presidente, já que não era um político, mas um estrategista.
Encerro este comentário me redimindo, portanto, do pequeno erro graciosamente levantado pelo Vinicius, a quem agradeço por ter me chamado a atenção para essa inconsistência em meu texto, e vou preparar um outro trabalho, talvez "necrológico", para fazer uma avaliação da obra de Kissinger, quando ele se despedir deste nosso mundo...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 7.07.2010)
Eis a passagem de meu trabalho:
"...Kissinger jogou o jogo de forma tão competente quanto todos os demais atores da grande política internacional, Stalin, Mao, Kruschev, Brejnev, Chu En-lai, Ho Chi-min e todos os outros, ou seja, não há verdadeiramente apenas heróis de um lado e patifes do outro. Todos estão inevitavelmente comprometidos como pequenos e grandes atentados aos direitos humanos e aos valores democráticos."
Faz parte deste pequeno ensaio, agora disponível no link abaixo, deste mesmo blog:
O legado de Henry Kissinger
Paulo Roberto de Almeida
Mundorama, 05/06/2008
O velho Kissinger: o realismo cínico de um grande intelectual e um estadista sem escrúpulos (segunda-feira, 5 de julho de 2010)
Aproveitando a (duvidosa) homenagem que se faz o intelectual e homem de Estado (ver post Os novos Kissingers), transcrevo um artigo que escrevi em 2008. (no link acima) (...)
Bem, gostaria agora de retificar o que afirmei acima, num pequeno ensaio escrito muito rapidamente, sem o tempo necessário de reflexão e revisão.
Não, não creio que Kissinger possa ser colocado na companhia desses ditadores absolutos, déspostas sem escrúpulos e assassinos quânticos.
Stalin e Hitler ficariam bem na companhia de Mao Tsé-tung, Pol Pot e outros grandes assassinos da história (com h minúsculo no caso deles, embora eles certamente pertenceram à grande História). Os outros citados -- Kruschev, Brejnev, Chu En-lai, Ho Chi-min -- pertencem a uma outra categoria de figuras históricas, alguns ditadores, outros simplesmente estadistas, outros personagens patéticos (como Kruschev, depois de ter sido um auxiliar devotado de Stalin), à qual tampouco pertence Kissinger.
Este poderia fazer companhia a Chou En-lai, Metternich, Thiers, Foster Dulles e outros estadistas e diplomatas, com a vantagem, talvez, que Kissinger tinha consistência intelectual e não era apenas um negociador frio e calculista como Thiers.
Antes de se tornar um homem de Estado, Kissinger foi um scholar, um estudioso, pesquisador da diplomacia, do equilíbrio de poderes e da dissuasão. Usou um pouco de sua bagagem intelectual quando esteve a serviço da diplomacia americana, mas basicamente deixou de lado alguns de seus valores acadêmicos para afirmar prioritariamente os interesses primários, muitas vezes brutais, dos Estados Unidos.
Não hesitava em ordenar operações da CIA, quando achava que algum ditadorzinho metido a besta -- ou seja, querendo jogar nos dois lados da balança, ou mesmo se alinhar com os interesses soviéticos -- poderia ameaçar posições fundamentais dos EUA.
Mas, não creio, sinceramente, que tenha ordenado massacres ou torturas de civis. O que ocorreu, e certamente ocorreram efeitos desse tipo nos golpes e operações em que ele esteve envolvido -- bombardeio do Vietnã do Norte, do Laos, golpe de Pinochet no Chile, complôs em Portugal, etc -- eram por ele considerados como "side effects" do grande jogo estratégico, no qual só havia um grande contendor, os outros sendo meros piões secundários, mesmo potências nucleares como França e Inglaterra.
A China, em sua época, não era ainda um contendor estratégico, mas um aliado involuntário no grande jogo com a União Soviética.
Kissinger acreditava no equilíbrio de poderes, um pouco como Castlereagh, e certamente não imaginava que seria possível desmantelar a União Soviética numa corrida armamentista e tecnológica como aquela conduzida por Ronald Reagan.
Ele provavelmente teria gostado de ter continuado a servir os EUA sob um presidente conservador como Reagan, mas provavelmente teria aceito servir qualquer presidente, já que não era um político, mas um estrategista.
Encerro este comentário me redimindo, portanto, do pequeno erro graciosamente levantado pelo Vinicius, a quem agradeço por ter me chamado a atenção para essa inconsistência em meu texto, e vou preparar um outro trabalho, talvez "necrológico", para fazer uma avaliação da obra de Kissinger, quando ele se despedir deste nosso mundo...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 7.07.2010)
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