Fiz parte da primeira (logo abortada) experiência de ensino integral e vocacional na história da educação braileira: eram cinco no estado de S.Paulo, e o meu era o Ginásio Estadual Vocacional Oswaldo Aranha, no bairro do Brooklin, na cidade de São Paulo (entre 1962 e 1965), mas a experiência foi encerrada como subversiva pelo regime militar em 1969
Abaixo uma matéria da FSP, de 2002, sobre o ensino vocacional:
Paulo Roberto de Almeida
O velho vocacional ensina de novo a aprende
AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo, 23/07/2002
Mais uma vítima do regime militar, o ensino vocacional -um dos mais ousados conceitos pedagógicos implantados no Brasil- está de novo nas salas de aula. Criados em 1962, os ginásios vocacionais deixaram de existir no início da fase mais violenta do regime, em dezembro de 1969, um ano após o AI-5, quando pensar por conta própria e questionar valores vigentes viraram sinônimo de subversão.
Áurea Sigrist de Toledo Piza acompanha seus alunos durante estudo do meio no bosque do Instituto Lumen Verbi
Agora, 40 anos depois, as idéias do Vocacional retornam em uma série de iniciativas de ex-alunos, ex-professores e pesquisadores que, inconformados com o fim prematuro da experiência, tratam de revivê-la. Há pelo menos uma dúzia de teses, já escritas ou em andamento, relatando essa "aventura pedagógica". Um grupo planeja ressuscitar o colégio em Paulínia (interior de São Paulo). E, em várias escolas particulares, é possível sentir traços da herança do Vocacional.
A história é típica do período em que o programa se desenvolveu. De um lado, o ideal libertário; de outro, a repressão. O curso, que deveria se estender por toda a rede pública de São Paulo, nunca passou de seis unidades espalhadas pelo Estado.
No final do ano letivo de 1969, os personagens foram obrigados a se dispersar. Professores foram presos nas salas, e os alunos, mandados para casa. Documentos tomados nessas ocupações nunca mais foram achados.
Destruída a memória, educadores se apegam hoje a depoimentos, lembranças e ao pouco que restou dos cursos para mapear os ensinamentos do Vocacional e resgatar seus valores.
É preciso, desde já, desfazer uma confusão sobre o Vocacional. Induzido ao erro pelo nome, muito leigo tende a achar que 'vocacional" tem a ver com "vocação", no sentido mais estrito do termo, que remete para a idéia prática de encaminhamento do aluno para uma opção profissional. Nada poderia ser mais distante do sentido dessa pedagogia.
Uma das ferramentas que distinguia o Vocacional era a integração das disciplinas em torno de um problema ou de uma plataforma central. Se hoje isso soa comum para quem está a par da pedagogia contemporânea, na época era revolucionário.
Eram escolhidos temas bimestrais: uma terceira série ginasial da unidade de Rio Claro estudou, por exemplo, se a "diversidade regional é compatível com o Brasil unido". O objetivo era discutir democracia, diferenças, reconhecer o esforço para manter a união, além de desenvolver a capacidade de observação analítica/crítica.
Foram desenvolvidos trabalhos sobre o ciclo do ouro em Minas Gerais, sobre o arcadismo, as obras de Portinari, o folclore presente na música brasileira, o banco nacional, e até na educação física foram estudadas as confederações e federações esportivas.
O conceito mais associado ao Vocacional talvez seja o de "aprender a aprender". O estudante conduzia suas pesquisas, valendo-se sobretudo das bibliotecas não se usavam livros didáticos. A pesquisa começava dirigida pelo professor, que mais tarde se limitava a supervisioná-la. Depois, o trabalho era livre.
A maior contribuição pedagógica do Vocacional, porém, é o método do estudo do meio em que vive o estudante. Num universo que se amplia em círculos concêntricos, os alunos começam estudando a própria comunidade. O país e o mundo vêm depois, permitindo a descoberta gradual da realidade.
O estudo do meio é o elo que mantém as disciplinas ligadas à realidade exterior e ao mundo acadêmico. "Os militares achavam subversivo, porque os alunos aprendiam a realidade como ela é, não aquela que eles mostravam como ideal", afirma Cecília Vasconcellos de Lacerda Guaraná, orientadora e diretora de três ginásios vocacionais.
Os estudos do meio não cabiam num gabarito único pela simples razão de que o meio varia a cada região, a cada bairro. Em Americana, os alunos do primeiro ano estudaram a industrialização rápida da cidade. Já os de Batatais concentraram-se nos problemas de um município agrícola. Quanto aos de São Paulo, no Brooklin, analisaram as múltiplas faces de um bairro de classe média metropolitano.
No segundo ano, o objeto de estudo foi o Estado. No terceiro, o país. Grupos de estudantes viajaram para o Rio, num percurso que incluía a pesquisa do Vale do Paraíba e a siderúrgica de Volta Redonda. Outros foram para as cidades históricas de Minas.
O cenário do quarto ano era o mundo, ou as fronteiras mais próximas dos vizinhos sul-americanos. De todos os colégios, só uma turma chegou a ir até a Bolívia. Os projetos de contato com outros países foram impedidos ou dificultados pelos militares.
"O estudo do meio era um grande veio de pesquisa por uma abordagem marxista, partindo dos ciclos econômicos, do ouro, do café, da indústria", explica Moacyr da Silva, coordenador de pesquisa e pós-graduação das Faculdades Oswaldo Cruz, que foi professor do Vocacional em 1969 e 1970.
Em sua tese, Silva recupera outro diferencial daquele sistema de ensino, a formação continuada do professor na própria escola. "O governo hoje tem gasto muito dinheiro no treinamento de professores, afastando-os da realidade em que vivem e daquela em que vão atuar", critica.
A primeira turma de professores do Vocacional fez estágio no colégio de Socorro, interior de São Paulo, uma das escolas experimentais de maior sucesso na época. "Quando fui obrigado a sair do Vocacional e fui para a USP do período militar, percebi que estava regredindo do século 21 para a Idade Média", conta Newton Cesar Balzan, que fez parte da turma pioneira em Socorro.
"Mesmo nos EUA, onde uma iniciativa monitorada pela Universidade Harvard manteve escolas experimentais em sete Estados, nada foi feito que se compare ao Vocacional", afirma Balzan, que hoje é professor na PUC-Campinas.
Balzan destaca outro diferencial desse projeto, que acabou causando atritos com autoridades e políticos: a "socialização das vagas". Em 1961, antes do início da primeira turma, pesquisas foram feitas em Americana, Batatais e na região do Brooklin, onde ficava a unidade de São Paulo. "Quando começamos as aulas, sabíamos quantas horas dormiam, o que comiam e o que liam as crianças dessas comunidades."
A seleção, que incluía entrevista com os alunos e os pais, reproduzia na classe a mesma composição socioeconômica da comunidade. Se um terço dos moradores da cidade eram operários, um terço dos alunos seriam filhos de operários.
Com o sucesso do Vocacional, a unidade do Brooklin chegou a ter 2.000 candidatos para 120 vagas. No exame geral, os candidatos das classes A e B, que representavam 19% nos bairros do entorno, ocupariam mais de 30% da faixa de aprovados, mas a proporção do bairro foi mantida. "A socialização não agradou aos políticos e houve confusão", lembra Balzan.
Entre os ex-alunos, o fascínio pelo Vocacional também persiste. "Foi um processo mais importante para mim que o da universidade. Minha visão de mundo e da realidade social foi construída ali", diz a pró-reitora da PUC-Campinas Carmen Lavras, que fez parte da única turma que completou o colegial do Vocacional, em 1970.
"O Vocacional é sempre visto pelo seu compromisso com o social, o comunitário, mas foram as artes que me educaram para a sensibilidade. Pelas mãos dos professores, nós participamos do teatro de Arena, do Oficina, das bienais, do Masp, estivemos no Estadão, na Folha", lembra Carmen, que é médica sanitarista.
"A proposta era projetar a criança para o mundo", diz Áurea Sigrist de Toledo Piza, que foi orientadora pedagógica e diretora do Vocacional até 1969.
Áurea e o marido passaram os últimos seis anos reunindo fundos para a construção de um "novo vocacional". No próximo dia 31 de agosto, ela e três outros ex-professores do Vocacional inauguram o Instituto Lumen Verbi de Educação e Cultura, em Paulínia, na região de Campinas.
A escola funciona provisoriamente desde o início do ano formando o que ela chama de "base" para o Vocacional. "Os alunos que saem hoje das quatro primeiras séries, que correspondiam ao primário, têm um nível muito inferior ao dos alunos dos anos 60. Eles precisam de uma base", diz.
Para manter os estudantes em período integral, com um currículo que inclui línguas, música, dança e até capoeira, a escola está cobrando cerca de R$ 400, na média.. "A idéia é que pais que podem mais cubram a diferença dos que podem menos", diz Áurea.
Também um "órfão" do Vocacional, o ex-aluno Ary Meirelles Jacobucci escreveu uma "breve etnografia" do ginásio de Americana. O livro faz, no título, uma pergunta que ficou sem resposta para todos que viveram aquela experiência: "Revolucionou e acabou?". Se foi tão bom, por que foi tão esquecido? E seria possível acrescentar outra ainda: "O Vocacional faria sentido hoje em dia?".
A pedagoga Ângela Rabello Maciel de Barros Tamberlini, que escreveu uma tese sobre os Vocacionais, acha que um projeto desse tipo seria importantíssimo na rede pública. "Na atual conjuntura de violência extrema, pesquisas mostram que as escolas em que há interação com a comunidade são as mais preservadas. E os Vocacionais tinham esse objetivo."
Ela afirma que o projeto tinha uma interação forte com a história da época e que "readaptações teriam de ser feitas". "Outra questão é a da desconstrução do público, do Estado, a exacerbação do individualismo. O ensino vocacional seria uma forma de resgatar esses valores", acredita.
A questão do custo foi uma das principais críticas aos Vocacionais. Setores da esquerda alegavam que o objetivo deveria ser a ampliação do acesso à educação, e que torná-la mais cara dificultaria o processo.
Os defensores dos Vocacionais diziam que a ampliação deveria ocorrer, mas com qualidade. "Em relação ao que se gasta com a educação no Brasil, é um projeto caro. O ginásio vocacional de São Caetano já foi de meio período, de forma a baratear. Uma idéia era a de parcerias, envolver os pais e a comunidade, mutirões. Mas era outra época. Foi lindo porque as pessoas acreditavam nos seus ideais. Os professores trabalhavam em período integral e passavam o final de semana com a comunidade", conta Ângela.
Colaborou Alexandra Ozorio de Almeida, da Folha de S.Paulo
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
domingo, 22 de maio de 2011
Acautele-se, leitor consumidor: estao construindo um pacto contra voce...
Eu chamo isso de "pacto perverso".
Ou seja, se trata de um complô contra os interesses da maioria da população, perpetrados contra ela, e em seu detrimento e desconhecimento, alegando justamente que o pacto perverso está sendo feito para proteger emprego, renda, o mercado interno, os interesses nacionais.
Não é nada disso: se trata apenas de um pacto para escalpelar os clientes consumidores, se quisermos, feito para extrair renda dos brasileiros, em benefício de duas categorias que sempre complotaram contra o interesse público.
Estou falando de um pacto entre sindicato de patrões e um sindicato de ladrões, ops, me enganei, de trabalhadores, embora eu considere que os ladrões estejam de fato no primeiro grupo. Os segundos são apenas os operários industriais, neste caso representado pela máfia sindical, que diz pretender agir em benefício dos segundos, ou seja, dos trabalhadores industriais, confundindo-os com a sociedade em geral.
Leio na imprensa de sexta-feira, 20 de maio de 2011, esta notícia:
Fiesp e centrais negociam pacto pró-indústria
Subtítulo: Entidades vão chamar o governo para fechar um acordo que combata a desindustrialização
Pois é, caro leitor: quando conseguirem fechar esse acordo, pode ter certeza de que você vai pagar por isto, e caro, direta e indiretamente.
Primeiro, os produtos vão ficar mais caros, pois vão dispor de mais proteção, o que significa que os industriais da Fiesp vão poder cobrar mais por eles, com tarifas altas e outras medidas de defesa comercial.
Depois, os industriais vão ter mais créditos (dinheiro público, eventualmente via BNDES), já que eles alegarão que precisam de dinheiro barato para investir.
No longo prazo, a indústria nacional vai ficar ainda mais defasada em relação aos níveis de competitividade internacional, e terá de pedir mais proteção.
Em última instância, caro leitor, você pagará por isto, direta e indiretamente: consumindo produtos mais caros (e nem por isso melhores do que a concorrência estrangeira, afastada, porém, por causa da alta proteção concedida, o que também o prejudicará no futuro) e subsidiando, via impostos e receitas públicas transferências de renda (do seu bolso) para quem já é rico, ou seja, os industriais "nacionais" (reunidos na Fiesp e na CNI).
Esse é o mesmo tipo de pacto perverso que levou a Argentina à decadência -- da qual ela ainda não saiu, diga-se de passagem, via peronismo e outros governos -- e que também conduziu a Grã-Bretanha a uma decadência de décadas, até o processo ser revertido graças à coragem de Margareth Tatcher. Na Grã-Bretanha, o pacto perverso se dava entre a TUC, de um lado (a Trade Union Congress, a CUT deles), e o Labour, de outro, o Partido Trabalhista, que quando estava no poder impulsionava medidas que protegessem os trabalhadores e patrões locais, em detrimento da concorrência e, portanto, dos consumidores britânicos.
Portanto, fique sabendo, caro leitor: quando conseguirem anunciar triunfalmente que patrões e trabalhadores, com o beneplácito do Estado, conseguiram conquistar o seu pacto, eles vão enfiar a mão no seu bolso, para transferir renda compulsoriamente para os seus próprios bolsos.
Estamos a caminho da decadência econômica e da perversão moral, apresentada como virtude.
Pelo menos a mim, não me enganam...
Paulo Roberto de Almeida
Ou seja, se trata de um complô contra os interesses da maioria da população, perpetrados contra ela, e em seu detrimento e desconhecimento, alegando justamente que o pacto perverso está sendo feito para proteger emprego, renda, o mercado interno, os interesses nacionais.
Não é nada disso: se trata apenas de um pacto para escalpelar os clientes consumidores, se quisermos, feito para extrair renda dos brasileiros, em benefício de duas categorias que sempre complotaram contra o interesse público.
Estou falando de um pacto entre sindicato de patrões e um sindicato de ladrões, ops, me enganei, de trabalhadores, embora eu considere que os ladrões estejam de fato no primeiro grupo. Os segundos são apenas os operários industriais, neste caso representado pela máfia sindical, que diz pretender agir em benefício dos segundos, ou seja, dos trabalhadores industriais, confundindo-os com a sociedade em geral.
Leio na imprensa de sexta-feira, 20 de maio de 2011, esta notícia:
Fiesp e centrais negociam pacto pró-indústria
Subtítulo: Entidades vão chamar o governo para fechar um acordo que combata a desindustrialização
Pois é, caro leitor: quando conseguirem fechar esse acordo, pode ter certeza de que você vai pagar por isto, e caro, direta e indiretamente.
Primeiro, os produtos vão ficar mais caros, pois vão dispor de mais proteção, o que significa que os industriais da Fiesp vão poder cobrar mais por eles, com tarifas altas e outras medidas de defesa comercial.
Depois, os industriais vão ter mais créditos (dinheiro público, eventualmente via BNDES), já que eles alegarão que precisam de dinheiro barato para investir.
No longo prazo, a indústria nacional vai ficar ainda mais defasada em relação aos níveis de competitividade internacional, e terá de pedir mais proteção.
Em última instância, caro leitor, você pagará por isto, direta e indiretamente: consumindo produtos mais caros (e nem por isso melhores do que a concorrência estrangeira, afastada, porém, por causa da alta proteção concedida, o que também o prejudicará no futuro) e subsidiando, via impostos e receitas públicas transferências de renda (do seu bolso) para quem já é rico, ou seja, os industriais "nacionais" (reunidos na Fiesp e na CNI).
Esse é o mesmo tipo de pacto perverso que levou a Argentina à decadência -- da qual ela ainda não saiu, diga-se de passagem, via peronismo e outros governos -- e que também conduziu a Grã-Bretanha a uma decadência de décadas, até o processo ser revertido graças à coragem de Margareth Tatcher. Na Grã-Bretanha, o pacto perverso se dava entre a TUC, de um lado (a Trade Union Congress, a CUT deles), e o Labour, de outro, o Partido Trabalhista, que quando estava no poder impulsionava medidas que protegessem os trabalhadores e patrões locais, em detrimento da concorrência e, portanto, dos consumidores britânicos.
Portanto, fique sabendo, caro leitor: quando conseguirem anunciar triunfalmente que patrões e trabalhadores, com o beneplácito do Estado, conseguiram conquistar o seu pacto, eles vão enfiar a mão no seu bolso, para transferir renda compulsoriamente para os seus próprios bolsos.
Estamos a caminho da decadência econômica e da perversão moral, apresentada como virtude.
Pelo menos a mim, não me enganam...
Paulo Roberto de Almeida
Kissinger on China: talk with Simon Schama - Financial Times
O velho realista cínico ataca outra vez.
Sem ter lido, ousaria afirmar que seu livro é uma coleção de banalidades.
Ele apenas quer servir de intermediário (para qualquer coisa), continuar influente, continuar sendo ouvido, e se possível ganhar algum dinheiro com isso.
Não creio que ele tenha algo de verdadeiramente relevante a dizer sobre a China...
Mas, eu sou um cético, claro, e acho Kissinger um velho safado (quando ele era jovem já era safado, e cínico...)
Paulo Roberto de Almeida
FT MAGAZINE
Henry Kissinger talks to Simon Schama
By Simon Schama
Financial Times, May 20 2011
Simon Schama with Kissinger in the offices of Kissinger Associates, New York
To whom should we look for guidance, in the toils of our Afghan perplexities? Well, obviously, the Duke of Wellington. So at any rate Henry Kissinger thinks. Don’t go imagining this has anything to do with the Indian empire, either. Ten minutes into our conversation he remarked that policymakers should be thinking … Belgium. Yes, Belgium. Pausing for a moment between observations delivered with a rumble so basso that it automatically sounds ¬profundo, the Doctor waited to see if the history professor would get it.
And suddenly I sort of did. Never mind the weird vision of the Hindu Kush relocated to the Flemish mud, both have been states that have never quite been made; theatres of contending languages and faiths, doormats for unscrupulous neighbours – the Scheldt! the Meuse! Waziristan! “Throughout the 18th century and earlier,” Kissinger resumes, like a patient tutor, “armies had marched up and down through Flanders.” As indeed they had, triggering appalling, endless wars. What was Wellington’s answer, at the dawn of Belgian independence in the early 19th century? Internationally agreed neutrality. “It lasted for 80 years.” We should be so lucky, the Doctor implies, with Afghanistan.
At 87, Henry Kissinger, who has an epic and, in some places, surprisingly moving book out on China, is history, but certainly not in the sense of past and gone. Quite the opposite. In his office at Kissinger Associates in midtown Manhattan, he invites me to sit on his left, advising that one eye no longer works as well as it should. But there is precious little evidence of much other infirmity. The wavy hair is snowy, the broad face is more lined but the analytical mind is still razor-keen, delivering serial judgments at a steadily thoughtful pace; the reflections of an old magus, Yoda rescripted by Machiavelli. Kissinger lives, technically, in Manhattan and Connecticut but his real abode seems to be in a Parnassus of classical statecraft, where, on a daily basis, Bismarck tips his hat to Metternich while a somnolent Talleyrand, from beneath powdered wig, winks knowingly at Zhou Enlai.
On the fall-out from Afghanistan: ‘An India-Pakistan war becomes more probable. Eventually,’ he says, his voice a deep pond of calm
There are good and not so good aspects of this lofty perch from which he surveys the panorama of national foibles. On the one hand, the Olympian prospect enables Kissinger to see the bigger picture. On the other hand, a lifetime’s immersion in the studious formalities of official business, the diplomatic obligation of wariness, has planed his conversation smooth of the knots and scuffs of the human condition. In the China book, though, human reality is very much present in his warts-and-all portraits of Mao and Zhou, Deng and Ziang Zemin. Kissinger chuckles deeply, as if gargling with pebbles, when he remembers the aged Mao, not going gentle, declaring theatrically that “God will not want me,” or insisting that he wanted to be “cursed”, to prove that even at the end he was imperially potent enough to provoke fear and rage.
I have tried my best not to like Henry Kissinger for the usual Nixon-Cambodia-Chile reasons, but more than once I’ve been comprehensively disarmed. Seventeen years ago I was assigned the review of his book Diplomacy, which I anticipated would be an eye-opener about the culture of the craft; the ways in which momentous decisions can turn on picayune matters of ostensibly trivial protocol. I had in mind the lengthy debate, at once absurd and weighty, over the shape of the table in the Vietnam peace talks in Paris. Were there not telegrams whose poor wording triggered disaster? Cocktail party fiascos that had turned into international incidents? Instead, Diplomacy turned out to be a fairly conventional but elegant narrative of 19th-century foreign policy; the statecraft of the grandees of European power. In its way it was just fine: often illuminating, especially about Bismarck, on whom Kissinger had done much research at Harvard, and the 1815 Congress of Vienna, which had been the centrepiece of his A World Restored, still the best thing on its subject. I said as much in the review, while regretting the missing sociology of diplomatic practice.
A week or so after the review appeared the phone rang. The courteous voice was deep, dark and German. Oh sure, I thought. Two days earlier a mischievous friend had impersonated Kissinger on the phone convincingly enough to dupe me into believing I was being berated for the review, before I got wise to the trick. When a second call came, I was on the verge of answering with my own, pretty good, Nixon impression before realising, in the nick of time, that this was, in fact, the actual Doctor, expressing a polite mystification about the sort of book I had wanted him to write and asking me if I would consider explaining more fully in person? After the deep breath I thought, hell, why not? At the front door of his apartment, I told myself: this might be a bad idea, but it was too late. With one hand Kissinger (rather than the expected Manhattan flunky) hospitably opened the door and – this was the moment of disarmament – with the other dropped a dog biscuit into the open and appreciative mouth of a floppy hound. Wars have been averted with less.
Disconcertingly, nearly 20 years later, Kissinger remembered the incident (his memory remains prodigious), continuing the Schama-Disarmament programme by telling me that he’d tried to incorporate some of the insights I had wanted in his new China book. Caught off balance by the light touch of the flattery, I recalled that I had indeed noticed passages that dealt with the display of Chinese power as a kind of cultural performance: the banquets, the toasts, the exquisite calibration, inherited from imperial precedents, as to how and when foreign envoys might be admitted to an audience with The Chairman. Without this shrewd attentiveness to what he nails as “hospitality as an aspect of strategy” Kissinger believes the opening to China might never have happened; and the world would be a very different place.
The China book, then, is different from anything Kissinger has hitherto essayed in print: a journey towards cultural empathy by two powers that seemed, at the outset, prohibitively ill-equipped to acquire that knowledge. Looking at Nixon and Mao, listening to their utterances, they should have been the oddest of odd couples. But paving the way for the “quasi-alliance” were Kissinger and Zhou Enlai, and the heart of the book is the story of their personal rapprochement, born of a mutual effort to understand an alien and incomprehensible culture.
. . .
On setting off for his first meeting with Zhou Enlai: ‘Nobody sat down and said, “Now you really ought to understand how the Chinese think”’
But then, of course, the first alien and incomprehensible culture that Henry Kissinger had to negotiate was that of the United States of America. He was already 15 when his family arrived in New York in 1938, fleeing the Nazi Reich. There were ways and communities to ease the shock: a lively crowd of German-Jewish expatriates on the Upper West Side; the stammtisch by the Hudson; the cosmopolitan City University of New York and then the band of military intelligence interpreters, full of people like him. At Harvard, it was another story: the parched cerebrations of the college Brahmins. It was an unlikely mentor, William Yandell Elliott, of Murfreesboro, Tennessee, who was Kissinger’s first and lasting guide to the American mind at its most exacting. “He was a big personality,” Kissinger recalls, a member of the “Fugitive Poets” of Vanderbilt University, a gang that included Allen Tate and John Crowe Ransom. Elliott had brought his outsize personality and tough mind to Washington for Franklin Roosevelt and stayed connected with that world. Harvard undergraduates, perhaps especially ones with thick German accents and earnest intellectual urgency, may not, initially, have been his shot of bourbon. “He made it quite clear when I was assigned to him that that was one burden too many,” says Kissinger, smiling wistfully. “He said, ‘Why don’t you go write an essay on Kant?” The Categorical Imperative and the ¬Practice of Politics? Right up young Henry’s street even when the ex-Rhodes Scholar Elliott required him, Balliol-style, to read it out at their next meeting. When he had finished, the Fugitive Poet conceded: “You really have an interesting mind.” “In effect he said he would now look after my intellectual development. As a first step he made me readThe Brothers Karamazov.”
What Kissinger took from Elliott was that without grasping the long arc of time, any account of politics and government would be shallow and self-defeating. That long view is on full display in the China book, which insists – entertainingly – on going back to the origins of Chinese classical culture and on through the many dynasties of the Middle Kingdom before even touching the epoch of decline, dismemberment and revolution. Kissinger smiles at the scene with which he opens his book, in which Mao gathered together the leaders of the party to listen to his account of a war that occurred during the Tang dynasty. “It would be like one of our leaders going back to the wars of Charlemagne.” And you get the feeling that Kissinger believes that it would do them no harm if they did. Instead he laments that “contemporary politicians have very little sense of history. For them the Vietnam war is unimaginably far behind us, the Korean war has no relevance any more,” even though that conflict is very far from over and at any minute has the capability of going from cold to hot. “This [the United States of Amnesia as Gore Vidal likes to call it],” he sighs, “is a tremendous handicap … when I talk to policy¬makers and I cite some historical analogy they think, ‘There he goes again with his history.’”
Kissinger’s beau idéal of analytical thinking informed by deep historical knowledge remains the formidable circle of advisers around Harry Truman. Their commanding figure, George Kennan, says Kissinger, had “a beautiful mind; magnificent scope. Kennan’s article on containment [the famous Long Telegram of 1946 on the ambitions of the Soviet Union] was, he says, “seminal; you wouldn’t change a comma.” But as a diplomat, Kissinger recollects Kennan was a hot temper in the cold war; never quite able to control the rush of blood, shouting tactlessly at Tempelhof airport that conditions in Moscow were still “just like Nazi Germany”. “He thought in more or less absolute terms,” Kissinger says, smiling. “The contingencies that might arise were unbearable to him.”
Mastering contingency is what Kissinger’s style of foreign policy has been all about, never more so than in the Chinese scenario. The objective historical situation in which the mutual suspicions of the Russians and the Chinese were bound to lead to explosive conflict was always there. But it took Kissinger and Zhou, counter-intuitively in tandem, to follow the logic of the situation to achieve a breathtaking realignment. Knowing what we do now about the self-destructive overreach of Soviet power, were Chinese fears of Russian aggression, Mao’s “ill waters”, overdone? Not at all, Kissinger responds. Both sides were nervous, which is what made the situation in 1969 genuinely dangerous. Brezhnev, he says, exuded “a sense of ominous danger emerging out of China”. Stalin’s last years were haunted by the same conundrum, never “solving the problem of how their influence in China would continue”. Mao was sufficiently alarmed at the imminence of a pre-emptive Soviet strike that “he dispersed all his government ministers over China and only Zhou remained in Beijing.”
How much did Kissinger know about Chinese history and culture when he set off for his first rendezvous with Zhou? “Oh at the beginning … nothing.” Since at that point secrecy was paramount, Kissinger was denied any briefing from the usual agencies. Back to Harvard he went, hoping for a crash course from the great scholars of modern Chinese history, J.K. Fairbank and Owen Lattimore. “They wanted to talk to me about why China should be admitted to the UN and gave me all sorts of methodologies by which we could ease the admission, which I am sure was very wise but nobody sat down and said, ‘Now you really ought to understand how they think.’” What followed, then, was intensive self-education, but also Kissinger’s certainty that if anything was to be accomplished he had to shrug off the bureaucratic and State department default obsessions of raising legalistic issues of claims and indemnities and the like with the Chinese, instead moving directly to first principles, beginning with the mutual agreement that there was, in fact, one China not two, a position then upheld by the Nationalist government in Taiwan as much as by the Communist government in Beijing.
Nixon in 1972, whom he served as national security advisor and secretary of state
Kissinger talks about this momentous shift in global alignments as though it could only be accomplished through the kind of personal interaction customary to classic 19th-century statecraft. But at the centre of it all (not to forget the strange, turbulent, contorted personality of Nixon) was, after all, Mao, whose magnitude, for good or ill, Kissinger never wants to sell short. What about the deranged contradictions in Mao’s imperial fiats: decreeing a Great Leap Forward that condemned millions to die in an engineered famine, or unleashing the trauma of the Cultural Revolution only to slam on the brakes once it threatened to bring down the state itself? “They were a rebellion against mortality,” Kissinger says, a little gnomically, but offering an interesting addendum. It was Deng’s generation – and Deng himself, twice purged and who lost a son to the fury of the Red Guards – which has been permanently scarred by the “unimaginable abomination”. But their children are beginning to think that perhaps Mao “was on to something … but as always pushed it too far”. With the misery and terror of the Cultural Revolution just a parental memory, the next generation, Kissinger says, feels “nostalgic for … an alternative sense of community”. “There is in Chongqing right now,” he tells me, “a party secretary, Bo Xilai, who has been leading a kind of Maoist philosophical revival. One of my associates who has been in China tells me that university graduates who 10 years ago all wanted to be Goldman Sachs executives now want to be government officials.” And what would Mao himself have made of contemporary China? “I think he’d be troubled. He really did believe in an ethical mission for the Chinese. I think the selfishness of the Chinese yuppies would bother him.”
Shouldn’t the obstinately brutal record of the Chinese government on human rights give us pause when we cosy up to them? As if sensitive to all those accusations that he has been, at times in his career, insufficiently moved by these issues, Kissinger says: “I periodically raise human rights issues, usually on behalf of individuals, always without publicity. But for the advocates of human rights, publicity is a moral imperative because it puts us on the right side of history. I respect them for that.”
With Barack Obama last year at talks on a new arms reduction treaty
Not so much, though, as to get in the way of treating China as an indispensable element in any stabilisation of perilous situations in Korea and Afghanistan. Without China’s active participation, any attempts to immunise Afghanistan against terrorism would be futile. This may be a tall order, since the Russians and the Chinese are getting a “free ride” on US engagement, which contains the jihadism which in central Asia and Xinjiang threatens their own security. So was it, in retrospect, a good idea for Barack Obama to have announced that this coming July will see the beginning of a military drawdown? The question triggers a Vietnam flashback. “I know from personal experience that once you start a drawdown, the road from there is inexorable. I never found an answer when Le Duc Tho was taunting me in the negotiations that if you could not handle Vietnam with half-a-million people, what makes you think you can end it with progressively fewer? We found ourselves in a position where to maintain … a free choice for the population in South Vietnam … we had to keep withdrawing troops, thereby reducing the incentive for the very negotiations in which I was engaged. We will find the same challenge in Afghanistan. I wrote a memorandum to Nixon which said that in the beginning of the withdrawal it will be like salted peanuts; the more you eat, the more you want.”
Kissinger laughs even as he sketches a scenario for an Afghanistan even grimmer than anything anyone has yet imagined, where the presence or absence of al-Qaeda will be the least of its problems. What might happen, he says, is a de facto partition, with India and Russia reconstituting the Northern Alliance, and Pakistan hooked to the Taliban as a backstop against their own encirclement.
Suddenly, spring goes chilly. The prospect looms of a centennial commemoration of the first world war through a half-awake re-enactment. Not Belgium but Sarajevo. Think proxy half-states; the paranoia of encirclement; the bristling arsenals, in this case nuclear; the nervous, beleaguered Pakistanis lashing out in passive-aggressive insecurity. “An India-Pakistan war becomes more probable. Eventually,” says the Doctor, his voice a deep pond of calm. “Therefore some kind of international process in which these issues are discussed might generate enough restraints so that Pakistan does not feel itself encircled by India and doesn’t see a strategic reserve in the Taliban.” He looks directly at me. “Is it possible to do this? I don’t know. But I know if we let matters drift this could become the Balkans of the next world war.”
Suddenly the irrefutable clarity of his pessimism makes Dr Strangelove look like Dr Pangloss. Around America this week, biblical placards are appearing proclaiming that the world will definitely end on May 21. If they’re right, you won’t be reading this. But if Kissinger is right, they may yet have a chance to move the date back a bit. Don’t say history and Henry Kissinger didn’t warn you.
‘On China’ by Henry Kissinger is published by Allen Lane
Sem ter lido, ousaria afirmar que seu livro é uma coleção de banalidades.
Ele apenas quer servir de intermediário (para qualquer coisa), continuar influente, continuar sendo ouvido, e se possível ganhar algum dinheiro com isso.
Não creio que ele tenha algo de verdadeiramente relevante a dizer sobre a China...
Mas, eu sou um cético, claro, e acho Kissinger um velho safado (quando ele era jovem já era safado, e cínico...)
Paulo Roberto de Almeida
FT MAGAZINE
Henry Kissinger talks to Simon Schama
By Simon Schama
Financial Times, May 20 2011
Simon Schama with Kissinger in the offices of Kissinger Associates, New York
To whom should we look for guidance, in the toils of our Afghan perplexities? Well, obviously, the Duke of Wellington. So at any rate Henry Kissinger thinks. Don’t go imagining this has anything to do with the Indian empire, either. Ten minutes into our conversation he remarked that policymakers should be thinking … Belgium. Yes, Belgium. Pausing for a moment between observations delivered with a rumble so basso that it automatically sounds ¬profundo, the Doctor waited to see if the history professor would get it.
And suddenly I sort of did. Never mind the weird vision of the Hindu Kush relocated to the Flemish mud, both have been states that have never quite been made; theatres of contending languages and faiths, doormats for unscrupulous neighbours – the Scheldt! the Meuse! Waziristan! “Throughout the 18th century and earlier,” Kissinger resumes, like a patient tutor, “armies had marched up and down through Flanders.” As indeed they had, triggering appalling, endless wars. What was Wellington’s answer, at the dawn of Belgian independence in the early 19th century? Internationally agreed neutrality. “It lasted for 80 years.” We should be so lucky, the Doctor implies, with Afghanistan.
At 87, Henry Kissinger, who has an epic and, in some places, surprisingly moving book out on China, is history, but certainly not in the sense of past and gone. Quite the opposite. In his office at Kissinger Associates in midtown Manhattan, he invites me to sit on his left, advising that one eye no longer works as well as it should. But there is precious little evidence of much other infirmity. The wavy hair is snowy, the broad face is more lined but the analytical mind is still razor-keen, delivering serial judgments at a steadily thoughtful pace; the reflections of an old magus, Yoda rescripted by Machiavelli. Kissinger lives, technically, in Manhattan and Connecticut but his real abode seems to be in a Parnassus of classical statecraft, where, on a daily basis, Bismarck tips his hat to Metternich while a somnolent Talleyrand, from beneath powdered wig, winks knowingly at Zhou Enlai.
On the fall-out from Afghanistan: ‘An India-Pakistan war becomes more probable. Eventually,’ he says, his voice a deep pond of calm
There are good and not so good aspects of this lofty perch from which he surveys the panorama of national foibles. On the one hand, the Olympian prospect enables Kissinger to see the bigger picture. On the other hand, a lifetime’s immersion in the studious formalities of official business, the diplomatic obligation of wariness, has planed his conversation smooth of the knots and scuffs of the human condition. In the China book, though, human reality is very much present in his warts-and-all portraits of Mao and Zhou, Deng and Ziang Zemin. Kissinger chuckles deeply, as if gargling with pebbles, when he remembers the aged Mao, not going gentle, declaring theatrically that “God will not want me,” or insisting that he wanted to be “cursed”, to prove that even at the end he was imperially potent enough to provoke fear and rage.
I have tried my best not to like Henry Kissinger for the usual Nixon-Cambodia-Chile reasons, but more than once I’ve been comprehensively disarmed. Seventeen years ago I was assigned the review of his book Diplomacy, which I anticipated would be an eye-opener about the culture of the craft; the ways in which momentous decisions can turn on picayune matters of ostensibly trivial protocol. I had in mind the lengthy debate, at once absurd and weighty, over the shape of the table in the Vietnam peace talks in Paris. Were there not telegrams whose poor wording triggered disaster? Cocktail party fiascos that had turned into international incidents? Instead, Diplomacy turned out to be a fairly conventional but elegant narrative of 19th-century foreign policy; the statecraft of the grandees of European power. In its way it was just fine: often illuminating, especially about Bismarck, on whom Kissinger had done much research at Harvard, and the 1815 Congress of Vienna, which had been the centrepiece of his A World Restored, still the best thing on its subject. I said as much in the review, while regretting the missing sociology of diplomatic practice.
A week or so after the review appeared the phone rang. The courteous voice was deep, dark and German. Oh sure, I thought. Two days earlier a mischievous friend had impersonated Kissinger on the phone convincingly enough to dupe me into believing I was being berated for the review, before I got wise to the trick. When a second call came, I was on the verge of answering with my own, pretty good, Nixon impression before realising, in the nick of time, that this was, in fact, the actual Doctor, expressing a polite mystification about the sort of book I had wanted him to write and asking me if I would consider explaining more fully in person? After the deep breath I thought, hell, why not? At the front door of his apartment, I told myself: this might be a bad idea, but it was too late. With one hand Kissinger (rather than the expected Manhattan flunky) hospitably opened the door and – this was the moment of disarmament – with the other dropped a dog biscuit into the open and appreciative mouth of a floppy hound. Wars have been averted with less.
Disconcertingly, nearly 20 years later, Kissinger remembered the incident (his memory remains prodigious), continuing the Schama-Disarmament programme by telling me that he’d tried to incorporate some of the insights I had wanted in his new China book. Caught off balance by the light touch of the flattery, I recalled that I had indeed noticed passages that dealt with the display of Chinese power as a kind of cultural performance: the banquets, the toasts, the exquisite calibration, inherited from imperial precedents, as to how and when foreign envoys might be admitted to an audience with The Chairman. Without this shrewd attentiveness to what he nails as “hospitality as an aspect of strategy” Kissinger believes the opening to China might never have happened; and the world would be a very different place.
The China book, then, is different from anything Kissinger has hitherto essayed in print: a journey towards cultural empathy by two powers that seemed, at the outset, prohibitively ill-equipped to acquire that knowledge. Looking at Nixon and Mao, listening to their utterances, they should have been the oddest of odd couples. But paving the way for the “quasi-alliance” were Kissinger and Zhou Enlai, and the heart of the book is the story of their personal rapprochement, born of a mutual effort to understand an alien and incomprehensible culture.
. . .
On setting off for his first meeting with Zhou Enlai: ‘Nobody sat down and said, “Now you really ought to understand how the Chinese think”’
But then, of course, the first alien and incomprehensible culture that Henry Kissinger had to negotiate was that of the United States of America. He was already 15 when his family arrived in New York in 1938, fleeing the Nazi Reich. There were ways and communities to ease the shock: a lively crowd of German-Jewish expatriates on the Upper West Side; the stammtisch by the Hudson; the cosmopolitan City University of New York and then the band of military intelligence interpreters, full of people like him. At Harvard, it was another story: the parched cerebrations of the college Brahmins. It was an unlikely mentor, William Yandell Elliott, of Murfreesboro, Tennessee, who was Kissinger’s first and lasting guide to the American mind at its most exacting. “He was a big personality,” Kissinger recalls, a member of the “Fugitive Poets” of Vanderbilt University, a gang that included Allen Tate and John Crowe Ransom. Elliott had brought his outsize personality and tough mind to Washington for Franklin Roosevelt and stayed connected with that world. Harvard undergraduates, perhaps especially ones with thick German accents and earnest intellectual urgency, may not, initially, have been his shot of bourbon. “He made it quite clear when I was assigned to him that that was one burden too many,” says Kissinger, smiling wistfully. “He said, ‘Why don’t you go write an essay on Kant?” The Categorical Imperative and the ¬Practice of Politics? Right up young Henry’s street even when the ex-Rhodes Scholar Elliott required him, Balliol-style, to read it out at their next meeting. When he had finished, the Fugitive Poet conceded: “You really have an interesting mind.” “In effect he said he would now look after my intellectual development. As a first step he made me readThe Brothers Karamazov.”
What Kissinger took from Elliott was that without grasping the long arc of time, any account of politics and government would be shallow and self-defeating. That long view is on full display in the China book, which insists – entertainingly – on going back to the origins of Chinese classical culture and on through the many dynasties of the Middle Kingdom before even touching the epoch of decline, dismemberment and revolution. Kissinger smiles at the scene with which he opens his book, in which Mao gathered together the leaders of the party to listen to his account of a war that occurred during the Tang dynasty. “It would be like one of our leaders going back to the wars of Charlemagne.” And you get the feeling that Kissinger believes that it would do them no harm if they did. Instead he laments that “contemporary politicians have very little sense of history. For them the Vietnam war is unimaginably far behind us, the Korean war has no relevance any more,” even though that conflict is very far from over and at any minute has the capability of going from cold to hot. “This [the United States of Amnesia as Gore Vidal likes to call it],” he sighs, “is a tremendous handicap … when I talk to policy¬makers and I cite some historical analogy they think, ‘There he goes again with his history.’”
Kissinger’s beau idéal of analytical thinking informed by deep historical knowledge remains the formidable circle of advisers around Harry Truman. Their commanding figure, George Kennan, says Kissinger, had “a beautiful mind; magnificent scope. Kennan’s article on containment [the famous Long Telegram of 1946 on the ambitions of the Soviet Union] was, he says, “seminal; you wouldn’t change a comma.” But as a diplomat, Kissinger recollects Kennan was a hot temper in the cold war; never quite able to control the rush of blood, shouting tactlessly at Tempelhof airport that conditions in Moscow were still “just like Nazi Germany”. “He thought in more or less absolute terms,” Kissinger says, smiling. “The contingencies that might arise were unbearable to him.”
Mastering contingency is what Kissinger’s style of foreign policy has been all about, never more so than in the Chinese scenario. The objective historical situation in which the mutual suspicions of the Russians and the Chinese were bound to lead to explosive conflict was always there. But it took Kissinger and Zhou, counter-intuitively in tandem, to follow the logic of the situation to achieve a breathtaking realignment. Knowing what we do now about the self-destructive overreach of Soviet power, were Chinese fears of Russian aggression, Mao’s “ill waters”, overdone? Not at all, Kissinger responds. Both sides were nervous, which is what made the situation in 1969 genuinely dangerous. Brezhnev, he says, exuded “a sense of ominous danger emerging out of China”. Stalin’s last years were haunted by the same conundrum, never “solving the problem of how their influence in China would continue”. Mao was sufficiently alarmed at the imminence of a pre-emptive Soviet strike that “he dispersed all his government ministers over China and only Zhou remained in Beijing.”
How much did Kissinger know about Chinese history and culture when he set off for his first rendezvous with Zhou? “Oh at the beginning … nothing.” Since at that point secrecy was paramount, Kissinger was denied any briefing from the usual agencies. Back to Harvard he went, hoping for a crash course from the great scholars of modern Chinese history, J.K. Fairbank and Owen Lattimore. “They wanted to talk to me about why China should be admitted to the UN and gave me all sorts of methodologies by which we could ease the admission, which I am sure was very wise but nobody sat down and said, ‘Now you really ought to understand how they think.’” What followed, then, was intensive self-education, but also Kissinger’s certainty that if anything was to be accomplished he had to shrug off the bureaucratic and State department default obsessions of raising legalistic issues of claims and indemnities and the like with the Chinese, instead moving directly to first principles, beginning with the mutual agreement that there was, in fact, one China not two, a position then upheld by the Nationalist government in Taiwan as much as by the Communist government in Beijing.
Nixon in 1972, whom he served as national security advisor and secretary of state
Kissinger talks about this momentous shift in global alignments as though it could only be accomplished through the kind of personal interaction customary to classic 19th-century statecraft. But at the centre of it all (not to forget the strange, turbulent, contorted personality of Nixon) was, after all, Mao, whose magnitude, for good or ill, Kissinger never wants to sell short. What about the deranged contradictions in Mao’s imperial fiats: decreeing a Great Leap Forward that condemned millions to die in an engineered famine, or unleashing the trauma of the Cultural Revolution only to slam on the brakes once it threatened to bring down the state itself? “They were a rebellion against mortality,” Kissinger says, a little gnomically, but offering an interesting addendum. It was Deng’s generation – and Deng himself, twice purged and who lost a son to the fury of the Red Guards – which has been permanently scarred by the “unimaginable abomination”. But their children are beginning to think that perhaps Mao “was on to something … but as always pushed it too far”. With the misery and terror of the Cultural Revolution just a parental memory, the next generation, Kissinger says, feels “nostalgic for … an alternative sense of community”. “There is in Chongqing right now,” he tells me, “a party secretary, Bo Xilai, who has been leading a kind of Maoist philosophical revival. One of my associates who has been in China tells me that university graduates who 10 years ago all wanted to be Goldman Sachs executives now want to be government officials.” And what would Mao himself have made of contemporary China? “I think he’d be troubled. He really did believe in an ethical mission for the Chinese. I think the selfishness of the Chinese yuppies would bother him.”
Shouldn’t the obstinately brutal record of the Chinese government on human rights give us pause when we cosy up to them? As if sensitive to all those accusations that he has been, at times in his career, insufficiently moved by these issues, Kissinger says: “I periodically raise human rights issues, usually on behalf of individuals, always without publicity. But for the advocates of human rights, publicity is a moral imperative because it puts us on the right side of history. I respect them for that.”
With Barack Obama last year at talks on a new arms reduction treaty
Not so much, though, as to get in the way of treating China as an indispensable element in any stabilisation of perilous situations in Korea and Afghanistan. Without China’s active participation, any attempts to immunise Afghanistan against terrorism would be futile. This may be a tall order, since the Russians and the Chinese are getting a “free ride” on US engagement, which contains the jihadism which in central Asia and Xinjiang threatens their own security. So was it, in retrospect, a good idea for Barack Obama to have announced that this coming July will see the beginning of a military drawdown? The question triggers a Vietnam flashback. “I know from personal experience that once you start a drawdown, the road from there is inexorable. I never found an answer when Le Duc Tho was taunting me in the negotiations that if you could not handle Vietnam with half-a-million people, what makes you think you can end it with progressively fewer? We found ourselves in a position where to maintain … a free choice for the population in South Vietnam … we had to keep withdrawing troops, thereby reducing the incentive for the very negotiations in which I was engaged. We will find the same challenge in Afghanistan. I wrote a memorandum to Nixon which said that in the beginning of the withdrawal it will be like salted peanuts; the more you eat, the more you want.”
Kissinger laughs even as he sketches a scenario for an Afghanistan even grimmer than anything anyone has yet imagined, where the presence or absence of al-Qaeda will be the least of its problems. What might happen, he says, is a de facto partition, with India and Russia reconstituting the Northern Alliance, and Pakistan hooked to the Taliban as a backstop against their own encirclement.
Suddenly, spring goes chilly. The prospect looms of a centennial commemoration of the first world war through a half-awake re-enactment. Not Belgium but Sarajevo. Think proxy half-states; the paranoia of encirclement; the bristling arsenals, in this case nuclear; the nervous, beleaguered Pakistanis lashing out in passive-aggressive insecurity. “An India-Pakistan war becomes more probable. Eventually,” says the Doctor, his voice a deep pond of calm. “Therefore some kind of international process in which these issues are discussed might generate enough restraints so that Pakistan does not feel itself encircled by India and doesn’t see a strategic reserve in the Taliban.” He looks directly at me. “Is it possible to do this? I don’t know. But I know if we let matters drift this could become the Balkans of the next world war.”
Suddenly the irrefutable clarity of his pessimism makes Dr Strangelove look like Dr Pangloss. Around America this week, biblical placards are appearing proclaiming that the world will definitely end on May 21. If they’re right, you won’t be reading this. But if Kissinger is right, they may yet have a chance to move the date back a bit. Don’t say history and Henry Kissinger didn’t warn you.
‘On China’ by Henry Kissinger is published by Allen Lane
Subrepticiamente, eles vao roubando a nossa lingua e destruindo a nossa cultura...
Subreptício! Gostou da palavra?
Ela jamais entraria num desses manuais de língua e de expressão oral das novas pedagogas do MEC.
Muito complicado para isso.
As novas formas de expressão oral e escrita das novas saúvas do Brasil condenam vocabulário muito requintado, rebuscado, complexo, prolixo enfim, qualquer coisa que escape à compreensão do brasileiro médio, o que parece resumir-se em menos de mil palavras, ao que parece.
Eu sempre me surpreenderei com a capacidade do Brasil de retroceder...
Paulo Roberto de Almeida
Ela jamais entraria num desses manuais de língua e de expressão oral das novas pedagogas do MEC.
Muito complicado para isso.
As novas formas de expressão oral e escrita das novas saúvas do Brasil condenam vocabulário muito requintado, rebuscado, complexo, prolixo enfim, qualquer coisa que escape à compreensão do brasileiro médio, o que parece resumir-se em menos de mil palavras, ao que parece.
Eu sempre me surpreenderei com a capacidade do Brasil de retroceder...
Paulo Roberto de Almeida
Dois meses para o ministro cair, estaria bem assim?
Acho dois meses, muito tempo, pois em qualquer democracia respeitável, digna desse nome, o próprio envolvido em falcatruas, fraudes, mentiras, roubos e atos venais, já teria apresentado sua renúncia de imediato, ou sido despedido também de imediato pelo chefe de Estado (que não o fez) ou pelo chefe de governo (que parece que é ele mesmo).
Em qualquer regime parlamentar normal, ele já teria sido convocado (não convidado, convocado), para se explicar no banco dos acusados, e teria sido submetido a uma inquirição em regra.
Em qualquer regime político normal, o parlamento já teria agido para obter esclarecimentos.
Em qualquer país normal, as autoridades financeiras, de corregedoria, policiais e até associações classistas (no caso, a OAB), já teriam pedido um inquérito policial.
No Brasil, obviamente, nada disso acontece, pois venais existem em todas as partes.
Esse é o Brasil...
Só para concluir: o título deste post, ao que parece, não tem nada a ver com a realidade. Só uma aposta pessoal, ou seja, contra mim mesmo. Sendo assim, em 22 de julho de 2011, o ministro em questão estará fora do governo. Vou marcar na minha agenda, e voltarei ao contato naquela data.
Paulo Roberto de Almeida
CASO FRANCENILDO
Palocci levou dossiê pessoalmente, diz ex-diretor da Globo
Opinião e Notícia, 22/05/2011
Em 2009, Palocci foi inocentado de ter quebrado sigilo bancário, e a culpa recaiu sobre seu assessor de imprensa e o presidente da Caixa
O atual ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, levou pessoalmente o dossiê do caso Francenildo à família Marinho, informou o ex-diretor editorial da Globo, Paulo Nogueira.
“Foi o Palocci quem passou para nós o dossiê calunioso. Palocci foi quem fez chegar a nós, na redação da Época, informações que supostamente desqualificariam um caseiro de Brasília que dissera que ele frequentava uma mansão pouco recomendável quando ele era ministro da Fazenda”, explica Nogueira.
Em 2009, Palocci foi inocentado de ter quebrado o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Na ocasião, os dados da conta do caseiro foram publicados na revista Época, e revelavam até que ele recebia depósitos no valor de R$ 24 mil de seu pai biológico, que tentava encerrar uma ação de reconhecimento de paternidade.
Com a absolvição de Palocci, a culpa recaiu sobre dois outros réus: seu assessor de imprensa, Marcelo Netto, e o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso.
Paulo Nogueira, no entanto, afirma que Época não se envolveu nessa operação totalmente ciente da fraude. “Imaginávamos, ao publicar a história, que de fato tinham sido feitos depósitos na conta do caseiro. Logo ficou claro que não. Também ficou clara em pouco tempo a desfaçatez de Palocci ao dizer que não fizera o que fez”.
Em qualquer regime parlamentar normal, ele já teria sido convocado (não convidado, convocado), para se explicar no banco dos acusados, e teria sido submetido a uma inquirição em regra.
Em qualquer regime político normal, o parlamento já teria agido para obter esclarecimentos.
Em qualquer país normal, as autoridades financeiras, de corregedoria, policiais e até associações classistas (no caso, a OAB), já teriam pedido um inquérito policial.
No Brasil, obviamente, nada disso acontece, pois venais existem em todas as partes.
Esse é o Brasil...
Só para concluir: o título deste post, ao que parece, não tem nada a ver com a realidade. Só uma aposta pessoal, ou seja, contra mim mesmo. Sendo assim, em 22 de julho de 2011, o ministro em questão estará fora do governo. Vou marcar na minha agenda, e voltarei ao contato naquela data.
Paulo Roberto de Almeida
CASO FRANCENILDO
Palocci levou dossiê pessoalmente, diz ex-diretor da Globo
Opinião e Notícia, 22/05/2011
Em 2009, Palocci foi inocentado de ter quebrado sigilo bancário, e a culpa recaiu sobre seu assessor de imprensa e o presidente da Caixa
O atual ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, levou pessoalmente o dossiê do caso Francenildo à família Marinho, informou o ex-diretor editorial da Globo, Paulo Nogueira.
“Foi o Palocci quem passou para nós o dossiê calunioso. Palocci foi quem fez chegar a nós, na redação da Época, informações que supostamente desqualificariam um caseiro de Brasília que dissera que ele frequentava uma mansão pouco recomendável quando ele era ministro da Fazenda”, explica Nogueira.
Em 2009, Palocci foi inocentado de ter quebrado o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Na ocasião, os dados da conta do caseiro foram publicados na revista Época, e revelavam até que ele recebia depósitos no valor de R$ 24 mil de seu pai biológico, que tentava encerrar uma ação de reconhecimento de paternidade.
Com a absolvição de Palocci, a culpa recaiu sobre dois outros réus: seu assessor de imprensa, Marcelo Netto, e o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso.
Paulo Nogueira, no entanto, afirma que Época não se envolveu nessa operação totalmente ciente da fraude. “Imaginávamos, ao publicar a história, que de fato tinham sido feitos depósitos na conta do caseiro. Logo ficou claro que não. Também ficou clara em pouco tempo a desfaçatez de Palocci ao dizer que não fizera o que fez”.
sábado, 21 de maio de 2011
Ainda as sauvas: e tem outro assunto mais importante?
Este jornalista pede uma "faxina no Ministério da Educação".
Acho que não bastaria. O MEC não é só o ministério da desigualdade, ou seja, pretende manter os pobres na pobreza. É também o ministério da deseducação, ao manter essas pedagogas freireanas e toda a ralé da máfia sindical da educação formulando e aplicando políticas.
Na verdade, esse pessoal não tem mais jeito: pau torto, apenas isso.
Eu acho que seria preciso começar a reconstruir a educação brasileira em novas bases, com novas pessoas, sem estabilidade, pagas (bem) mas por desempenho.
Não é fácil, mas é o único caminho.
Enquanto tivermos as pedagogas freireanas e as máfias sindicais no comando da educação, o ensino no Brasil vai continuar afundando...
Paulo Roberto de Almeida
Ministério da Desigualdade
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 18 de maio de 2011
O nome oficial é Ministério da Educação, mas podem chamá-lo Ministério da Desigualdade. Ministério da Incompetência também serve: a palavra tanto se aplica à atuação de seus dirigentes quanto se aplicará à condição das vítimas do padrão educacional proposto no livro Por Uma Vida Melhor, comprado e distribuído pelo governo. A presidente Dilma Rousseff prometeu trabalhar pela redução da miséria. Se quiser fazê-lo, terá de cuidar da qualificação de milhões de brasileiros para o trabalho. Mais que isso, terá de promover sua preparação para trabalhar numa economia cada vez mais complexa e exposta à competição internacional. Tratar os pobres como coitadinhos e incapazes conduzirá ao resultado oposto. Se há preconceito, não é de quem considera errada a violação da gramática. Preconceituoso e elitista é quem condena o pobre a uma instrução de baixa qualidade e ainda o aconselha a contentar-se com isso.
Os problemas de formação profissional e o mau desempenho dos alunos brasileiros em testes de avaliação foram apontados com suficiente clareza em artigo de Carlos Alberto Sardenberg, publicado anteontem neste caderno. Concorrentes do Brasil, incluída a China, estão empenhados em oferecer uma educação muito melhor a seus estudantes. Em vez de tratar os pobres como inferiores, autoridades educacionais desses países cuidam de prepará-los para se igualar aos melhores do mundo.
Não é preciso insistir nesse ponto. Mas é indispensável chamar a atenção para a concorrência em outro nível. No Brasil, quem tem bom senso e condição econômica tenta oferecer aos filhos a melhor educação possível. Pais instruídos procuram boas escolas e valorizam aquelas conhecidas pelo alto padrão de exigência. Rejeitam a ideia do diploma conquistado pelo caminho fácil. Além disso, estimulam os filhos a frequentar cursos de línguas e a envolver-se em atividades intelectualmente estimulantes. Nas melhores escolas, crianças pré-adolescentes são treinadas para combinar criatividade e rigor. Assim como as autoridades dos países mais dinâmicos e competitivos, as famílias brasileiras mais atentas aos desafios do mundo real continuarão em busca dos padrões educacionais mais altos.
Famílias saídas há pouco tempo da pobreza também reconhecem a importância de oferecer uma boa formação a seus filhos e por isso procuram escolas particulares. "Meu filho só tem 5 aninhos e já está aprendendo a ler e a escrever. Nessa idade, na escola pública, ninguém sabe nada ainda", disse uma agente de saúde citada em reportagem publicada no Estado de domingo.
Outra personagem da história explicou: "Não é metideza, é necessidade. Eu trabalho como empregada doméstica o dia todo. Meu marido é coletor de lixo e também passa o dia fora. Pagar a escola para a Gecielle foi a melhor opção". Mas ela descobriu também outra vantagem: "Com meus outros dois filhos não pude (pagar). A situação era muito pior. Na escola pública onde eles estudam já teve tiroteio. Na da Gecielle não tem nada disso e ela ainda aprende mais, tem lição de casa e tudo". Pois é: ela aprende, tem lição de casa e a mãe se mostra convencida de ter feito um bom negócio. As duas entrevistadas apostam nos filhos, apertam o cinto para pagar a escola e têm uma clara visão dos problemas: crianças pobres aprendem, como quaisquer outras, quando têm oportunidade.
Tratar os pobres com paternalismo, como pessoas incapazes de aprender a língua oficial e de aguentar os padrões de uma escola séria, é condená-los a ficar para trás, marginalizados e limitados às piores escolhas. Apoiar essa política é agir como se o mundo fosse esperar os mais lentos. Em países com políticas sociais decentes a solução é dar um impulso extra às pessoas em posição inicial desvantajosa.
O paternalismo é muito mais vantajoso para quem concede benefícios do que para quem recebe. Massas protegidas por Pais ou Mães do Povo tendem a ser dominadas com facilidade e nunca exercem plenamente a cidadania. Tratá-las como pessoas irremediavelmente inferiores é condená-las a ser politicamente subdesenvolvidas. Ensiná-las a conformar-se com "nóis vai" e "os menino joga bola" é vedar-lhes o acesso a aprendizados mais complexos e à possibilidade de pensar livremente. As oportunidades serão cada vez mais limitadas para os monoglotas. Muito piores serão as condições dos semiglotas, embora alguns, muito raramente, possam até presidir um país.
A presidente Dilma Rousseff parece haver renunciado ao papel de Mãe do Brasil, planejado por seu antecessor e grande eleitor. Ao anunciar a intenção de oferecer aos pobres a porta de saída dos programas assistenciais, ela mostrou preferir um caminho mais democrático. Mas, para segui-lo, precisará livrar-se do entulho do paternalismo e da demagogia. Uma faxina no Ministério da Educação ajudaria muito.
JORNALISTA
Acho que não bastaria. O MEC não é só o ministério da desigualdade, ou seja, pretende manter os pobres na pobreza. É também o ministério da deseducação, ao manter essas pedagogas freireanas e toda a ralé da máfia sindical da educação formulando e aplicando políticas.
Na verdade, esse pessoal não tem mais jeito: pau torto, apenas isso.
Eu acho que seria preciso começar a reconstruir a educação brasileira em novas bases, com novas pessoas, sem estabilidade, pagas (bem) mas por desempenho.
Não é fácil, mas é o único caminho.
Enquanto tivermos as pedagogas freireanas e as máfias sindicais no comando da educação, o ensino no Brasil vai continuar afundando...
Paulo Roberto de Almeida
Ministério da Desigualdade
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 18 de maio de 2011
O nome oficial é Ministério da Educação, mas podem chamá-lo Ministério da Desigualdade. Ministério da Incompetência também serve: a palavra tanto se aplica à atuação de seus dirigentes quanto se aplicará à condição das vítimas do padrão educacional proposto no livro Por Uma Vida Melhor, comprado e distribuído pelo governo. A presidente Dilma Rousseff prometeu trabalhar pela redução da miséria. Se quiser fazê-lo, terá de cuidar da qualificação de milhões de brasileiros para o trabalho. Mais que isso, terá de promover sua preparação para trabalhar numa economia cada vez mais complexa e exposta à competição internacional. Tratar os pobres como coitadinhos e incapazes conduzirá ao resultado oposto. Se há preconceito, não é de quem considera errada a violação da gramática. Preconceituoso e elitista é quem condena o pobre a uma instrução de baixa qualidade e ainda o aconselha a contentar-se com isso.
Os problemas de formação profissional e o mau desempenho dos alunos brasileiros em testes de avaliação foram apontados com suficiente clareza em artigo de Carlos Alberto Sardenberg, publicado anteontem neste caderno. Concorrentes do Brasil, incluída a China, estão empenhados em oferecer uma educação muito melhor a seus estudantes. Em vez de tratar os pobres como inferiores, autoridades educacionais desses países cuidam de prepará-los para se igualar aos melhores do mundo.
Não é preciso insistir nesse ponto. Mas é indispensável chamar a atenção para a concorrência em outro nível. No Brasil, quem tem bom senso e condição econômica tenta oferecer aos filhos a melhor educação possível. Pais instruídos procuram boas escolas e valorizam aquelas conhecidas pelo alto padrão de exigência. Rejeitam a ideia do diploma conquistado pelo caminho fácil. Além disso, estimulam os filhos a frequentar cursos de línguas e a envolver-se em atividades intelectualmente estimulantes. Nas melhores escolas, crianças pré-adolescentes são treinadas para combinar criatividade e rigor. Assim como as autoridades dos países mais dinâmicos e competitivos, as famílias brasileiras mais atentas aos desafios do mundo real continuarão em busca dos padrões educacionais mais altos.
Famílias saídas há pouco tempo da pobreza também reconhecem a importância de oferecer uma boa formação a seus filhos e por isso procuram escolas particulares. "Meu filho só tem 5 aninhos e já está aprendendo a ler e a escrever. Nessa idade, na escola pública, ninguém sabe nada ainda", disse uma agente de saúde citada em reportagem publicada no Estado de domingo.
Outra personagem da história explicou: "Não é metideza, é necessidade. Eu trabalho como empregada doméstica o dia todo. Meu marido é coletor de lixo e também passa o dia fora. Pagar a escola para a Gecielle foi a melhor opção". Mas ela descobriu também outra vantagem: "Com meus outros dois filhos não pude (pagar). A situação era muito pior. Na escola pública onde eles estudam já teve tiroteio. Na da Gecielle não tem nada disso e ela ainda aprende mais, tem lição de casa e tudo". Pois é: ela aprende, tem lição de casa e a mãe se mostra convencida de ter feito um bom negócio. As duas entrevistadas apostam nos filhos, apertam o cinto para pagar a escola e têm uma clara visão dos problemas: crianças pobres aprendem, como quaisquer outras, quando têm oportunidade.
Tratar os pobres com paternalismo, como pessoas incapazes de aprender a língua oficial e de aguentar os padrões de uma escola séria, é condená-los a ficar para trás, marginalizados e limitados às piores escolhas. Apoiar essa política é agir como se o mundo fosse esperar os mais lentos. Em países com políticas sociais decentes a solução é dar um impulso extra às pessoas em posição inicial desvantajosa.
O paternalismo é muito mais vantajoso para quem concede benefícios do que para quem recebe. Massas protegidas por Pais ou Mães do Povo tendem a ser dominadas com facilidade e nunca exercem plenamente a cidadania. Tratá-las como pessoas irremediavelmente inferiores é condená-las a ser politicamente subdesenvolvidas. Ensiná-las a conformar-se com "nóis vai" e "os menino joga bola" é vedar-lhes o acesso a aprendizados mais complexos e à possibilidade de pensar livremente. As oportunidades serão cada vez mais limitadas para os monoglotas. Muito piores serão as condições dos semiglotas, embora alguns, muito raramente, possam até presidir um país.
A presidente Dilma Rousseff parece haver renunciado ao papel de Mãe do Brasil, planejado por seu antecessor e grande eleitor. Ao anunciar a intenção de oferecer aos pobres a porta de saída dos programas assistenciais, ela mostrou preferir um caminho mais democrático. Mas, para segui-lo, precisará livrar-se do entulho do paternalismo e da demagogia. Uma faxina no Ministério da Educação ajudaria muito.
JORNALISTA
As novas sauvas do Brasil: as pedagogas freireanas...
Não confundir freireanas com associações indevidas com mestre Gilberto Freyre, um grande sociólogo. Eu me refiro a Paulo Freire, um homem de boa vontade, mas tremendamente equivocado, sobretudo a partir de seu panfleto "Pedagogia do Oprimido", que parece ter se convertido no manual de besteirol das pedagogas atuais do Brasil.
A julgar pela sua influência na política educacional do Brasil, vamos continuar indo para o brejo em matéria de ensino e educação.
Monteiro Lobato lutava contra as saúvas, que segundo ele eram o atraso do Brasil. Ele queria dar-lhes morte à base de inseticida e outros defensivos agrícolas. Isso no campo das medidas profiláticas para tornar a agricultura viável e fazer o Brasil ficar mais rico.
Hoje nós estamos sendo atrasados pelas novas saúvas, as pedagogas freireanas.
Não pretendo matá-las com inseticida.
Meu decreto de pena de morte é puramente no campo das ideias.
Enquanto não matarmos essas novas saúvas -- apenas as ideias, insisto -- não vamos avançar em matéria de educação.
Se eu posso ilustrar o problema narrado abaixo com um caso real, absolutamente e INACREDITAVELMENTE real, aqui vai ele:
Uma pessoa, estudante universitária de jornalismo (que não preciso dizer quem é, mas vocês podem confiar em que o caso é tal qual ela me relatou), foi rebaixada em sua nota de trabalho de redação de uma típica matéria de jornal porque, segundo a ENERGÚMENA da professora, ela "tinha escrito de forma difícil, muito rebuscada, com linguagem acima da média da compreensão dos leitores. Teria de escrever de maneira mais popular, mais compreensível". E pronto, pau: nota 4.
A estudante em questão não é o que poderíamos chamar de intelectual, nem se distingue pela erudição, apenas ocorre de escrever corretamente, como se lê nos livros e nos bons jornais de nossa vida. Ou seja, está sendo punida por escrever corretamente, em Português da norma, não culta, mas normal. A professora, obviamente, é uma idiota completa, mas totalmente em linha com as novas pedagogas freireanas do MEC: ela pretendia uma escrita popular, e por isso rebaixou a nota, numa inacreditável demonstração de que a linguagem luliana ganhou definitivamente espaço neste país. O livro de Português distribuído pelo MEC apenas reflete essa triste realidade.
Estamos afundando lentamente...
Paulo Roberto de Almeida
Visão perversa
MERVAL PEREIRA
O Globo, 17/05/11
Há um aspecto perverso nessa crise do livro didático de português, que o MEC insiste em manter em circulação, que ultrapassa qualquer medida do bom-senso de um governo, qualquer governo.
A pretexto de defender a fala popular como alternativa válida à norma culta do português, o Ministério da Educação está estimulando os alunos brasileiros a cultivarem seus erros, que terão efeito direto na sua vida na sociedade e nos resultados de exames, nacionais e internacionais, que avaliam a situação de aprendizado dos alunos, debilitando mais ainda a competitividade do país.
O ministro Fernando Haddad, que já protagonizou diversas confusões administrativas, agora se cala diante dessa "pedagogia da ignorância" que apresenta aos alunos da rede pública a defesa de erros de português, como se fossem corretas ou aceitáveis expressões populares como "nós pega o peixe" ou "dois real".
(Aliás, cada vez que escrevo essas frases, o corretor de texto teima em sublinhá-las em verde, como se estivessem erradas. Esse computador ainda não passou pelo crivo do MEC).
Mas é o próprio MEC que veicula anúncios exaltando supostos avanços dos alunos brasileiros no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).
O país registrou crescimento em todas as notas, embora continue muito abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e mesmo de alguns da América Latina.
Ora, se o próprio governo baliza sua atuação pela régua do Pisa, como justificar que a defesa de uma alternativa da fala correta seja uma política oficial do Estado brasileiro?
A professora Heloísa Ramos, autora do livro "Por uma vida melhor", da Coleção Viver, Aprender (Editora Global) acredita ser "importante que o falante de português domine as duas variantes e escolha a que julgar adequada à sua situação de fala".
Seria preciso então que as escolas e faculdades ensinassem o português popular para os que foram alfabetizados pela norma culta, numa radicalização esdrúxula que esse raciocínio estimula.
O caráter ideológico de certos livros didáticos utilizados pelo MEC, especialmente de história contemporânea, ganha assim uma nova vertente, mais danosa que a primeira, ou melhor, mais prejudicial para a vida do cidadão-aluno.
Enquanto distorções políticas que afetem posições pessoais do aluno podem ser revertidas no decorrer de sua vida, por outros conhecimentos e vivências, distorções didáticas afetam a perspectiva desse aluno, que permanecerá analfabeto, sem condições de melhorar de vida.
Fosse o livro uma obra de linguística da professora Heloísa Ramos, nada a opor quanto à sua existência, embora seus métodos e conclusões rasteiras do que seja preconceito contra a fala popular possam, sim, ser refutados como uma mera mistificação política.
Se fosse um romance, não haveria problema algum em reproduzir a maneira de falar de uma região, ou os erros de português de um personagem.
Mas o livro didático não pode aceitar como certo o erro de português. Didática, pelo dicionário (?) é "a arte de transmitir conhecimento, técnica de ensinar" ou "que proporciona instrução e informação".
O fato de falarem de certa maneira em algumas regiões não quer dizer que este ou aquele linguajar represente o português correto.
A visão deturpada do que seja ensinar aparece na declaração de um assessor anônimo do MEC no GLOBO de ontem, alegando que não cabe ao ministério dizer "o que é certo e o que errado", e nem mesmo fazer a análise do conteúdo dos livros didáticos.
Se não exerce esses deveres básicos, o que faz o MEC em relação ao ensino do país?
Seria um equívoco lamentável e perigoso se o MEC, com essa postura, estivesse pretendendo fazer uma política a favor dos analfabetos, dos ignorantes, como se ela fosse a defesa dos que não tiveram condições de estudar.
Na verdade, está é agravando as condições precárias do cidadão-aluno que busca na escola melhorar de vida, limitando, se não impossibilitando, que atinjam esse objetivo.
Se, porém, a base da teoria for uma tentativa de querer justificar a maneira como o presidente Lula fala, aí então teremos um agravante ao ato criminoso de manter os estudantes na ignorância.
Querer transformar um defeito, uma falha da educação formal do presidente-operário, em uma coisa meritória é um desserviço à população.
Os erros de português de Lula não têm mérito nenhum, ele os explora para fazer política, é um clássico do populismo, cuja consequência é deseducar a população.
Mas ele nunca teve a coragem de defender a fala errada, embora goste de ironizar palavras ou expressões que considera rebuscadas.
Ele desvaloriza o estudo, com frases como "não sei por que estudou tanto, e eu fiz mais do que ele", ou quando se mostra como exemplo de que é possível subir na vida sem estudar.
Mas em outras ocasiões, estimula que a universidade seja acessível a todos, numa atitude que parece paradoxal, mas que ganha coerência quando se analisam os objetivos políticos de cada uma das atitudes.
Se, no entanto, o desdém pela norma culta do português transformou-se em política de Estado, aí teremos a certeza de termos chegado ao fundo do poço.
A julgar pela sua influência na política educacional do Brasil, vamos continuar indo para o brejo em matéria de ensino e educação.
Monteiro Lobato lutava contra as saúvas, que segundo ele eram o atraso do Brasil. Ele queria dar-lhes morte à base de inseticida e outros defensivos agrícolas. Isso no campo das medidas profiláticas para tornar a agricultura viável e fazer o Brasil ficar mais rico.
Hoje nós estamos sendo atrasados pelas novas saúvas, as pedagogas freireanas.
Não pretendo matá-las com inseticida.
Meu decreto de pena de morte é puramente no campo das ideias.
Enquanto não matarmos essas novas saúvas -- apenas as ideias, insisto -- não vamos avançar em matéria de educação.
Se eu posso ilustrar o problema narrado abaixo com um caso real, absolutamente e INACREDITAVELMENTE real, aqui vai ele:
Uma pessoa, estudante universitária de jornalismo (que não preciso dizer quem é, mas vocês podem confiar em que o caso é tal qual ela me relatou), foi rebaixada em sua nota de trabalho de redação de uma típica matéria de jornal porque, segundo a ENERGÚMENA da professora, ela "tinha escrito de forma difícil, muito rebuscada, com linguagem acima da média da compreensão dos leitores. Teria de escrever de maneira mais popular, mais compreensível". E pronto, pau: nota 4.
A estudante em questão não é o que poderíamos chamar de intelectual, nem se distingue pela erudição, apenas ocorre de escrever corretamente, como se lê nos livros e nos bons jornais de nossa vida. Ou seja, está sendo punida por escrever corretamente, em Português da norma, não culta, mas normal. A professora, obviamente, é uma idiota completa, mas totalmente em linha com as novas pedagogas freireanas do MEC: ela pretendia uma escrita popular, e por isso rebaixou a nota, numa inacreditável demonstração de que a linguagem luliana ganhou definitivamente espaço neste país. O livro de Português distribuído pelo MEC apenas reflete essa triste realidade.
Estamos afundando lentamente...
Paulo Roberto de Almeida
Visão perversa
MERVAL PEREIRA
O Globo, 17/05/11
Há um aspecto perverso nessa crise do livro didático de português, que o MEC insiste em manter em circulação, que ultrapassa qualquer medida do bom-senso de um governo, qualquer governo.
A pretexto de defender a fala popular como alternativa válida à norma culta do português, o Ministério da Educação está estimulando os alunos brasileiros a cultivarem seus erros, que terão efeito direto na sua vida na sociedade e nos resultados de exames, nacionais e internacionais, que avaliam a situação de aprendizado dos alunos, debilitando mais ainda a competitividade do país.
O ministro Fernando Haddad, que já protagonizou diversas confusões administrativas, agora se cala diante dessa "pedagogia da ignorância" que apresenta aos alunos da rede pública a defesa de erros de português, como se fossem corretas ou aceitáveis expressões populares como "nós pega o peixe" ou "dois real".
(Aliás, cada vez que escrevo essas frases, o corretor de texto teima em sublinhá-las em verde, como se estivessem erradas. Esse computador ainda não passou pelo crivo do MEC).
Mas é o próprio MEC que veicula anúncios exaltando supostos avanços dos alunos brasileiros no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).
O país registrou crescimento em todas as notas, embora continue muito abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e mesmo de alguns da América Latina.
Ora, se o próprio governo baliza sua atuação pela régua do Pisa, como justificar que a defesa de uma alternativa da fala correta seja uma política oficial do Estado brasileiro?
A professora Heloísa Ramos, autora do livro "Por uma vida melhor", da Coleção Viver, Aprender (Editora Global) acredita ser "importante que o falante de português domine as duas variantes e escolha a que julgar adequada à sua situação de fala".
Seria preciso então que as escolas e faculdades ensinassem o português popular para os que foram alfabetizados pela norma culta, numa radicalização esdrúxula que esse raciocínio estimula.
O caráter ideológico de certos livros didáticos utilizados pelo MEC, especialmente de história contemporânea, ganha assim uma nova vertente, mais danosa que a primeira, ou melhor, mais prejudicial para a vida do cidadão-aluno.
Enquanto distorções políticas que afetem posições pessoais do aluno podem ser revertidas no decorrer de sua vida, por outros conhecimentos e vivências, distorções didáticas afetam a perspectiva desse aluno, que permanecerá analfabeto, sem condições de melhorar de vida.
Fosse o livro uma obra de linguística da professora Heloísa Ramos, nada a opor quanto à sua existência, embora seus métodos e conclusões rasteiras do que seja preconceito contra a fala popular possam, sim, ser refutados como uma mera mistificação política.
Se fosse um romance, não haveria problema algum em reproduzir a maneira de falar de uma região, ou os erros de português de um personagem.
Mas o livro didático não pode aceitar como certo o erro de português. Didática, pelo dicionário (?) é "a arte de transmitir conhecimento, técnica de ensinar" ou "que proporciona instrução e informação".
O fato de falarem de certa maneira em algumas regiões não quer dizer que este ou aquele linguajar represente o português correto.
A visão deturpada do que seja ensinar aparece na declaração de um assessor anônimo do MEC no GLOBO de ontem, alegando que não cabe ao ministério dizer "o que é certo e o que errado", e nem mesmo fazer a análise do conteúdo dos livros didáticos.
Se não exerce esses deveres básicos, o que faz o MEC em relação ao ensino do país?
Seria um equívoco lamentável e perigoso se o MEC, com essa postura, estivesse pretendendo fazer uma política a favor dos analfabetos, dos ignorantes, como se ela fosse a defesa dos que não tiveram condições de estudar.
Na verdade, está é agravando as condições precárias do cidadão-aluno que busca na escola melhorar de vida, limitando, se não impossibilitando, que atinjam esse objetivo.
Se, porém, a base da teoria for uma tentativa de querer justificar a maneira como o presidente Lula fala, aí então teremos um agravante ao ato criminoso de manter os estudantes na ignorância.
Querer transformar um defeito, uma falha da educação formal do presidente-operário, em uma coisa meritória é um desserviço à população.
Os erros de português de Lula não têm mérito nenhum, ele os explora para fazer política, é um clássico do populismo, cuja consequência é deseducar a população.
Mas ele nunca teve a coragem de defender a fala errada, embora goste de ironizar palavras ou expressões que considera rebuscadas.
Ele desvaloriza o estudo, com frases como "não sei por que estudou tanto, e eu fiz mais do que ele", ou quando se mostra como exemplo de que é possível subir na vida sem estudar.
Mas em outras ocasiões, estimula que a universidade seja acessível a todos, numa atitude que parece paradoxal, mas que ganha coerência quando se analisam os objetivos políticos de cada uma das atitudes.
Se, no entanto, o desdém pela norma culta do português transformou-se em política de Estado, aí teremos a certeza de termos chegado ao fundo do poço.
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