quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Brasil a caminho do caos? - Assim e', se lhe parece...


Os jornalistas do site www.uol.com.br informaram há pouco que em reunião na manhã desta terça-feira (25), as centrais sindicais definiram o dia 11 de julho como data para os protestos que farão em todo o país. Eis o que informou o site, que pertence a O Globo e Folha:

"Será um dia nacional de luta com greves e manifestações em todos os Estados", disse o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva. "Vamos parar contra a inflação e para pedir também mudanças na política econômica do governo." Conforme a Folha antecipou na edição desta terça-feira, as cinco centrais sindicais decidiram realizar os atos para pedir a retomada das negociações da pauta dos trabalhadores, aproveitando a onda de protestos que vêm pedindo qualidade no transporte público e contrários ao aumento das tarifas.

. Na pauta das centrais sindicais estão o fim do fator previdenciário, 
a redução da jornada de trabalho para 40 horas e o projeto de lei que permite ampliar a terceirização. 

Também estão na pauta o direito de greve dos servidores e o fim das demissões imotivadas para diminuir a rotatividade de empregos. Essas duas últimas reivindicações se referem às convenções da OIT 151 e 158.

. A reunião durou cerca de duas horas e participaram dirigentes das cinco centrais reconhecidas pelo governo: Força, CUT, UGT, CTB e Nova Central, além de CSP-Conlutas e CGTB.

. As centrais querem mais recursos em educação, saúde, transporte e segurança.


- As manifestações não são vinculadas à greve geral que está sendo marcada pelas redes sociais para o dia 1º de julho.

A frase da semana (que vai gerar reclamacoes internacionais) - Gilmar Mendes


“O Brasil dormiu como se fosse Alemanha, Itália, Espanha, Portugal em termos de estabilidade institucional e amanheceu parecido com a Bolívia ou a Venezuela. Isso não é razoável. Não é razoável ficar flertando com uma doutrina constitucional bolivariana. Nós temos outras inspirações.”

Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal
25/06/2013

Uma nota oficial para dizer... absolutamente nada... (ufa, pelo menos isso)

Bem, pelo menos não tem erros de Português, embora pudesse ser melhor escrita.
Mas não nos enganemos. Eles vão continuar tentando engabelar e construir o fascismo corporativo por todos os meios.
Insistir num plebiscito em torno do quê, exatamente? Dizer sim ou não para a reforma política?
Eu também quero, embora ache impossível, irrelevante, perda de tempo. Depende de qual reforma política, e isso não dá para resolver por sim ou não.
Por exemplo: estabelecer a verdadeira proporcionalidade: um eleitor, um voto. Vai ser no sim ou não?
Bem, já que o governo vai ouvir outras propostas de reforma política, este blog também vai fazer as suas...
Paulo Roberto de Almeida

Em relação às declarações de hoje do presidente da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, a Presidência da República esclarece:

1. A presidenta Dilma Rousseff recebeu hoje o presidente da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, e o diretor do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, Márlon Reis, que lhe apresentaram uma proposta de reforma política baseada em projeto de lei de iniciativa popular.
2. A presidenta da República reiterou a relevância de uma ampla consulta popular por meio de um plebiscito.
3. A presidenta ouviu a proposta da OAB, considerou-a uma importante contribuição, mas não houve qualquer decisão. O governo continuará ouvindo outras propostas de reforma política que lhe forem apresentadas.

Secretaria de Comunicação Social

Presidência da República

terça-feira, 25 de junho de 2013

Que eles comam futebol - Elio Gaspari no NYTimes

Uma frase significativa: o número de vândalos nas manifestações é inferior ao número de ladrões nos contratos governamentais.
PT oblige...



OP-ED CONTRIBUTOR

Let Them Eat Soccer

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SÃO PAULO, Brazil — SINCE early June, protests that began out of anger over public transit fare increases have spread across Brazil, filling the streets of São Paulo, Rio de Janeiro and dozens of other cities with hundreds of thousands of demonstrators. On June 13, the police cracked down violently and the protests mushroomed. Finally, after seven days, the government of President Dilma Rousseff pushed governors and mayors to cancel the fare increases they had presented as the inevitable price of a modern market economy.

Bratislav Milenkovic

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For Op-Ed, follow@nytopinion and to hear from the editorial page editor, Andrew Rosenthal, follow@andyrNYT.

The cost of public transportation for a family living in Rio or São Paulo is, proportionally, higher than in New York or Paris. Yet, the service delivered is humiliating. In 2009, security guards of a train company that services the Rio metropolitan area used whips on passengers during rush hour crowding. The mayor of Rio has proudly declared that during his tenure not a cent is being spent on subsidizing public transportation. Yet he was able to find $560 million of public money to spend on the renovation of the iconic Maracanã stadium to meet the requirements of next year’s FIFA World Cup.

At a time when federal, state and municipal taxes eat up 36 percent of Brazil’s gross domestic product without providing public services minimally compatible with what is expected from government, at least $13 billion is being poured into 12 soccer stadiums to host the World Cup. An additional $12 billion is being spent on projects to host the2016 Summer Olympics in Rio.

But delusionary modernism has its pitfalls. The same day the first protests started in São Paulo, the city’s mayor and the state’s governor happened to be in Paris trying to land yet another global mega event — the 2020 World’s Fair. A few days later, when the protesters were climbing atop the Congress building in Brasília, a landmark of Oscar Niemeyer’s architecture, the president of the House of Representatives was visiting Moscow.

The lavish lifestyle of high-ranking public servants (generous travel expenses, official cars with drivers, offensively large paychecks) has become a rallying point for the protests.

It is as if there are two Brazils. One is expected to shout — but only in stadiums. The other does as it pleases.

When Ms. Rousseff attended a Confederations Cup soccer match between Brazil and Japan last week, she was incensed when waiters started serving Champagne and caviar in the V.I.P. section. After she complained, popcorn soon materialized for the luminaries. Notwithstanding her protest, Ms. Rousseff was soundly booed by the rest of the crowd.

In today’s Brazil, there is too much caviar for the elite — and the people have noticed. That realization, along with outrage at widespread corruption, has helped the current outcry cross class, party and generational lines.

In 2005, the government of Luis Inácio Lula da Silva, then Brazil’s president, was caught in a vast cash-for-vote scandal. The plot, which became known as “mensalão,” because the bribe payments were made monthly, shattered expectations. Mr. da Silva’s government had been widely trusted to lead a fight against corruption. Suddenly, a former president of his Workers’ Party and his own chief of staff were caught up in a scandal.

Almost eight long years later, Brazil’s Supreme Court sentenced 25 of the accused. Their sentences ranged from 2 to 40 years in prison. But none are actually behind bars yet, and legal appeals could continue for another couple of years.

To grasp the significance of this, Americans need only contemplate their rage if the Watergate scandal had dragged on, enabling Richard M. Nixon to finish his second term, help elect a handpicked successor from his own party in 1976 and then watch all those indicted, tried and convicted walk free eight years later.

When the riot police in São Paulo fired rubber bullets and tear-gas bombs at protesters, they probably thought they were dealing with a couple of thousand worthless rioters. How could a national protest against bus-fare increases averaging less than 10 cents possibly be representative of modern Brazil, where people drive cars and, whenever possible, go shopping in Miami or New York?

But all who witnessed that very first act of police aggression know it was deliberate. It was gratuitous. And it was a colossal mistake.

In the face of growing protests, governors and mayors — who at first were intransigent — rushed to lower the transportation rates. Ms. Rousseff praised the shouting crowds, then conferred with Mr. da Silva and his spin doctors. Last week, in a much anticipated address to the nation, she declared that the voice of the streets was being heard and announced programs to promote better education and health care. On Monday, she took a more personal step, meeting with the leaders of the movement that triggered the protests. Her immediate aim is to survive the final week of the Confederations Cup without a major catastrophe in the streets.

As the protests have intensified, there have been cases of looting and vandalism. But the great majority of the protesters aren’t rioters, nor should the rioters be mistaken for protesters.

Indeed, it would be safe to assume that the percentage of violent troublemakers among the protesters is smaller than the number of thieves among the negotiators of government contracts.

Elio Gaspari, a columnist for the Brazilian newspapers O Globo and Folha de São Paulo, is the author of a multivolume history of Brazil’s military dictatorship.

O (Nao) Sistema Financeiro Internacional, Fritz Machlup e o fim de Bretton Woods - book review

 EH.NET BOOK REVIEW ------
Title: Reforming the World Monetary System: Fritz Machlup and the Bellagio Group

Published by EH.Net (June 2013)
Carol M. Connell, Reforming the World Monetary System: Fritz Machlup and the Bellagio Group.  London: Pickering & Chatto, 2013.  xi + 271 pp. $99 (hardcover), ISBN: 978-1-84893-360-6.

Reviewed for EH.Net by Herbert Grubel, Department of Economics, Simon Fraser University.

Carol Connell is Professor of Finance and Business Management at Brooklyn College.  Her book’s main focus is on the achievements of Fritz Machlup, a legendary personality who was a member of a group of economists who fled Austria during the 1930s and who for many years taught economics at Princeton University.  The material in the book is based on the study of Machlup’s letters and other documents archived at Stanford University.  The author writes with exemplary clarity in a superb analytical framework.
Machlup was keen on research methodology, which is one of Connell’s professional interests as it applies to decision making in business.  As a result she discusses in some detail how Machlup imposed his methodological ideas on the deliberations of groups of academics, officials and business leaders concerning the problems faced by the international monetary system starting in the late 1950s.  He insisted that conference participants present their views on current problems and spell out the assumptions they used reaching them.  He then encouraged participants to discuss and challenge each other’s views and assumptions, expecting the group to arrive at a clear understanding of the problems faced by the international monetary system at the time.  Out of this understanding was expected to emerge a solid set of recommendations for changes in policy and institutions.
These discussions started in 1964 at meetings held in Bellagio, at a Villa owned by the Rockefeller Foundation, overlooking beautiful Lake Como in Italy.  The leading personalities and intellectual driving forces behind the initial Bellagio group meetings besides Machlup were Robert Triffin and William Fellner, who both had great influence on my professional development and interests as my teachers at Yale (1958-62).  Connell meticulously lists all of the participants at the Bellagio group meetings and a number of other groupings of individuals that emerged later.  The list of participants reads like a Who’s Who of the international economics establishment of the period 1950-80.
The problems of the international monetary system in the 1950s had their roots in the decision made at Bretton Woods in 1944 to create a collective institution that centered on fixed exchange rates in an effort to avoid a repeat of the chaos caused by competitive devaluations during the Great Depression of the 1930s. 
In this system, dollars convertible into gold provided the world central banks with liquidity needed to deal with temporary payments imbalances.  Triffin in a 1960 book argued that this system resulted in a dilemma.  The supply of liquidity depended on continuous U.S. deficits, which were unsustainable as they decreased the ratio of the country’s gold holdings over the dollar obligations held by foreigners.  If the U.S. stopped running deficits, the supply of reserves would dry up.  If the price of gold were raised, countries would no longer be willing to hold dollars because of the risk that future price increases would result in financial losses.
The solutions needed to deal with this dilemma in principle were identified by Machlup’s groups as “adjustment, liquidity and confidence.”   The specific recommendations surrounding adjustment involved a wide range of ways in which exchange rates could be made flexible.  Milton Friedman was the dominant proponent of totally freely floating rates.  Adjustable pegs with and without bands, crawling pegs and other variants were advocated by different people. 
The solution to the liquidity problem similarly elicited many different suggestions involving such arrangements as multiple currency reserves, ex ante agreements among central banks to provide liquidity to each other and the expansion of IMF resources in the form of Special Drawing Rights.  No solutions were offered to speculative capital flows in the wake of confidence lost in countries’ ability to maintain an official exchange rate.  After she presents the gist of all of these ideas for reform, Connell concludes “These were exciting days to be an economist.”
The author considers what influence the work Machlup and his committees had on public policy.  She provides quotes from prominent economists and officials suggesting that the influence was substantial.  However, the professional consensus about the need for greater exchange rate flexibility was also driven by a paradigm shift away from reliance on all-knowing policy makers to the increased use of market signals and from Keynesian demand management and the Philips Curve concept to monetarism and its emphasis on price stability.
There is no doubt that the present international monetary system works better than it did in the period when Machlup did his work, not because of the adoption of any one of the grand reform schemes discussed in many of the meetings he had organized.  It works better for the practical reasons that the world has accepted the non-convertibility of dollars into gold and that if a country no longer wishes to accumulate dollar reserves, it can always use national policies to stop running payments surpluses.  The United States in essence is pursuing the policy of “benign neglect” proposed by Gottfried Haberler at the height of the international financial crisis in the late 1960s.  The IMF is a useful forum for discussion and source of intelligence, but the system works acceptably well without its exercise of power over national policies envisaged by utopian planners in the past.
The flexible exchange rate system has allowed countries the freedom to pursue domestic economic policies without external restraints, but it has given rise to the most pressing problems of our era – irresponsible politicians running unsustainable budget deficits. 

Herbert Grubel, Professor of Economics (Emeritus) at Simon Fraser University, is the editor of World Monetary Reform: Plans and Issues, Stanford: Stanford University Press (1963) and of The International Monetary System: Efficiency and Practical Alternatives, Penguin Books (first edition 1969, fourth and final edition 1987).
Copyright (c) 2013 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net). Published by EH.Net (June 2013). All EH.Net reviews are archived at http://www.eh.net/BookReview

Geographic Location: General, International, or Comparative
Subject: Financial Markets, Financial Institutions, and Monetary History
Time: 20th Century: WWII and post-WWII

A utopia social na Constituicao federal - Bruno Garschagen

A nossa Constituição, que me perdoem aqueles que a amam e acham tratar-se do mais perfeito instrumento de justiça social, é o mais perfeito instrumento para o atraso do Brasil.
Não vou nem justificar, agora, o meu argumento, porque estou justamente preparando um artigo analítico justamente chamada "A Constituição contra o Brasil", para demonstrar o estou dizendo.
Acho que não estou sozinho.
Com vocês, um analista sensato.
Paulo Roberto de Almeida

Bruno Garschagen
Ordem Livre, 25/06/2013

É enorme a quantidade de pessoas que atribuem ao Poder Público um amplo leque de funções e responsabilidades. Se perguntarem a respeito de qualquer tema diretamente relacionado ao dia-a-dia da população, a opinião corrente dirá: é um direito, portanto, cabe ao estado. Esse anseio de parte da sociedade é oriundo da própria ação do agente político, que tem na promessa de garantir todos os direitos possíveis, a despeito de não prover à maioria e prover mal à minoria, sua moeda de troca para se manter na estrutura de poder que o beneficia e o elege e reelege.
Constituição Brasileira é um sintoma dessa mentalidade. Concebida e aprovada sob a ressaca dos 20 anos de um governo militar, a Carta Magna é extensa, detalhada, confusa e desequilibrada. Originalmente, continha 250 artigos. Há cabimento uma Constituição elencar como direito até o piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho? Espanta-me é que dentre os mais de 200 artigos não haja unzinho sequer dedicado a nos garantir fama, glória, dinheiro, poder, ou, sei lá, uma vaga no Big Brother Brasil.
Para efeitos comparativos, a Constituição do Chile tem 129 artigos, a da Argentina tem 129 artigos, a da Alemanha tem 146 artigos, a dos Estados Unidos tem sete artigos originais e 27 emendas. O Reino Unido não tem uma Constituição como a conhecemos, mas um conjunto de leis criadas no Parlamento (Statute Law), decisões judiciais (Common Law e Cases Law) e as Convenções Constitucionais.
Além dos números, uma diferença marcante entre a Constituição Brasileira e as dos demais países (não apenas os citados) é a inserção de direitos sociais que não deveriam ser matéria constitucional e são de impossível provisão. Ninguém de boa fé seria contra assegurar às pessoas emprego, renda, saúde, habitação etc. Mas essas garantias impõem ao estado o papel de provedor daquilo que foi prometido e de coator, tanto dos pagadores de impostos que o financiam quanto dos empreendedores obrigados a prestar alguns daqueles serviços a preços abaixo dos de mercado — em alguns casos, até mesmo do custo.
Armada essa estrutura institucional e legal, é perfeitamente natural que uma pessoa reaja quase sempre da mesma forma ao perder o familiar por falta de vaga nos hospitais: a saúde é um direito que lhe foi negado. Ela não está errada. O art. 6º da Constituição define como “direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. É como se eu chegasse na sua casa durante o jantar e fizesse um belo discurso: “Salve, salve, minha gente! É o seguinte: vocês têm direito à moradia, à saúde, à escola, às terra dos outros, desde que improdutivas (se não forem, a gente dá um jeito). De lambuja, para a vovó ali, uma dentadura nova; para o bebezinho, uma linda chupeta sabor tutti-frutti. Mas é o seguinte, todo mês eu venho aqui pegar 36,56% de tudo o que o papai, a mamãe e a vovózinha ganham. Não se preocupem. Confiem em mim.”
Sei que vocês sabem, mas permitam-me a repetição sistemática para lembrar-lhes e motivá-los a difundir a informação: quem paga pelos direitos sociais não é o estado, somos nós (concorde-se ou não).
A nota dissonante na existência de tais direitos na Constituição e na manutenção sem oposição do discurso mantenedor dessa leviandade social é que a garantia legal e as promessas retóricas se mantêm vigorosas a despeito de os serviços públicos serem prestados de forma ruim e precária — quando são prestados. E há gente que defenda a Carta Magna sob o argumento de que esta “promoveu a diminuição do descompasso existente entre o direito e os fatos sociais”, e “informou e conformou todo o corpo normativo pátrio com os princípios genéricos do respeito à dignidade da pessoa humana, da liberdade e da igualdade”. O que a Constituição fez foi tipificar uma utopia. Os resultados são exemplares: desejos ilimitados para realizações limitadas geram insatisfação, impotência e angústia.
Há uma obsessão por direito sociais. Direito social não passa de uma weasel word. O ‘social’ esvazia o significado da palavra ‘direito’. Numa conferência realizada em Brasília em 1981, Hayek aplicou a expressão ao termo justiça social:
Weasel, doninha, é aquele animal capaz de sugar o conteúdo de um ovo (sem quebrá-lo) sem que se note que a casca está oca. Social é, neste sentido, uma weasel word, e quando ligada a algum termo tradicional, a palavra perde o seu significado. Nós temos uma economia de mercado, mas quando você a classifica de uma economia social de mercado, já não significa mais nada. Você tem a justiça, mas quando você diz justiça social, ela não quer dizer mais nada. Você tem o Estado de Direito — o que os alemães chamam de Reichstadt — mas, quando você junta o termo social ao Reichstadt, novamente isto não quer dizer nada”. [1]
Não se trata aqui de uma defesa contra a existência de direitos na Constituição. Proponho que a Constituição, se necessária na sua forma escrita, trate dos direitos e liberdades individuais, além de definir os poderes e suas respectivas limitações das várias esferas do governo (Executivo, Legislativo e Judiciário). Quanto menos artigos numa Constituição, quanto menos leis em vigor ou em vias de, maior o grau de mobilidade dos indivíduos e da sociedade. Richard Posner dá um conselho valioso: seria bom que os estudantes da Constituição prestassem mais atenção aos aspectos positivos de seu objeto de estudo, em particular as causas e consequências dos direitos, deveres, poderes e estrutura constitucionais. [2]
As leis que promovem obrigações são as mesmas que arruínam nosso senso de responsabilidade, porque há uma crença disseminada, inclusive entre os profissionais do Direito (talvez justamente por causa da profissão), de que as leis garantem os direitos. O que a lei faz, geralmente, é criar novos problemas ao tentar disciplinar determinadas condutas e relações, não propriamente resolver as questões que pretendia solucionar quando foi criada. Nossa legislação penal, por exemplo, impede que uma nova lei retroaja para prejudicar o autor de um crime. De nada adianta defender uma lei mais dura contra um criminoso que praticou uma barbaridade porque ele não será condenado com base na nova lei.
No plano cultural, seria ótimo convencer os políticos do Poder Legislativo (vereadores, deputados estaduais, federais e senadores) de que sua função principal é fiscalizar, não fabricar leis. No plano político, convencê-los de que a revogação total (ab-rogação) ou parcial (derrogação) sistemática das leis é o melhor caminho para o país. Convencer é mais inteligente, menos oneroso, porém mais difícil do que defender a criação de mais leis que os obriguem a agir nesses dois sentidos sem qualquer garantia de que sejam respeitadas.
Notas
[1] HAYEK, Friedrich. Hayek na UnB, Coleção Itinerários, Brasília: Editora das Universidade de Brasília, 1981, p. 16.
[2] POSNER, Richard A. Overcoming Law, Harvard: Harvard University Press, 1997, p. 171.
* Publicado originalmente em 12/02/2010.

SOBRE O AUTOR
Bruno Garschagen é colunista do OrdemLivre.org, podcaster do Instituto Mises Brasil e especialista do Instituto Millenium.



Empada de vento, suco de agua: as propostas fabulosas do novo Brasil (novo?)


Pão com pão, e pão velho
Coluna Carlos Brickmann, 25/06/2013


Dilma Rousseff poderia ter iniciado o controle de gastos públicos pelo corte da reunião com governadores e prefeitos: eles foram a Brasília só para ouvir. Poderiam ter recebido um vídeo por e-mail, seria a mesma coisa. Ou apenas o texto daquilo a que Dilma chamou de "pacto". Que pacto, se ninguém pactuou nada? Pacto é acordo. Não é um novo tipo de PAC, embora também não funcione.

Diria um cínico que há propostas boas e novas, sendo que as boas não são novas e as novas não são boas. Mas estaria errado: as propostas não são nem novas nem boas. A começar pela Constituinte exclusiva para a reforma política. O vice Michel Temer, jurista consagrado, professor de Direito Constitucional, já a considerou inconstitucional (http://www.brickmann.com.br/artigos.php). As demais:

1 - controle de gastos públicos. Seriam reduzidos o número de ministérios, de funcionários contratados sem concurso? Seria abolido o segredo do custo dos cartões corporativos, a redução de comitivas? Dilma não anunciou nada disso.

2 - royalties do petróleo para a Educação. Já combinou com os governadores? Como se gastaria esse dinheiro? Qual o projeto nacional de avanço da Educação?

3 - tipificar a corrupção como crime hediondo. Quem porá o guiso nos mensaleiros? Quem apoia a presença de condenados no Congresso irá prendê-los?
Anunciar bons propósitos é pouco; e fica ainda pior sem combinar primeiro com governadores e prefeitos que pagarão a conta. O pacto é apenas a opinião de Dilma.

É como um sanduíche de pão com pão, sem recheio. Não dá liga.

Os médicos e o PT

Dilma prometeu contratar médicos estrangeiros (já é um avanço: ao menos publicamente, ela considera que cubanos também são estrangeiros) para suprir a falta de profissionais brasileiros. Pois é: o líder do Governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, do PT paulista, em 2003 apresentou projeto de lei que proíbe o aumento do número de vagas nas faculdades de Medicina e a criação de novos cursos, sob a justificativa de que a quantidade de médicos no Brasil é superior à recomendada por entidades internacionais.

Que é que Chinaglia vai dizer a Dilma?

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Comentário PRA: o deputado Chinaglia certamente estava atendendo, em 2003, a um pedido do sindicato corporativo dos médicos, que queria fechar o mercado e assim poder cobrar mais caro. Sempre a ganância capitalista, protegida pelos companheiros...

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...