domingo, 1 de dezembro de 2013

Ricardo Amorim indica cinco livros de economia, todos excelentes

Enviado por meu amigo e leitor Andre Rozenbaum, Não são todos de economia, mas alguns de mercado, ou para investidores. Mas dois ou três são de fato excelentes. Os de mercado eu deixo para investidores compulsivos.
Paulo Roberto de Almeida

Indicações de Ricardo Amorim: os cinco melhores livros de economia lançados nos Estados Unidos e na Europa nos últimos dois anos.

postado em Entrevistas
http://ricamconsultoria.com.br/news/entrevistas/melhores_livros_de_economia_do_ano_2011_2012

11/2012
Por Ricardo Amorim

Os cinco melhores livros sobre economia e investimentos lançados desde o ano passado nos Estados Unidos e na Europa:

- This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly (Carmen Reinhart and Kenneth Rogoff) – Essencial para entender a crise que os países ricos estão passando e por que ela ainda está longe de ter terminado.

- The Age of Deleveraging, Updated Edition: Investment Strategies for a Decade of Slow Growth and Deflation (Gary Shilling) – Apesar de voltado para a realidade americana, mostra como à medida que a realidade econômica muda, as estratégias de investimento tem de se adaptar à nova realidade, exatamente a mesma coisa que acontece no Brasil com a forte queda da taxa de juros dos últimos anos.

- Endgame: The End of the Debt Supercycle and How It Changes Everything (John Mauldin) – Mais um livro que explica a megatransformação pela qual a economia mundial está passando e como ela exige novas estratégias por parte de empresas e investidores.

- Unexpected Returns: Understanding Secular Stock Market Cycles (Ed Easterling) – Excelente livro para qualquer um que quer entender de investimentos. Ele mostra muito bem como as flutuações do mercado acionário a curto prazo são muito difíceis de serem previstas, mas a longo prazo são bastante previsíveis, gerando ótimas oportunidades para quem as compreende.

- Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity and Poverty by Daron Acemoglu and James A. Robinson – Mostra a diferença de estratégia de países que ficam ricos e os que não ficam e como ela se deve principalmente a líderes corruptos, sem compreensão da História e que não investem em educação – formação de capital intelectual – e criação de ambientes propícios a negócios.

Apresentador do Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ, presidente da Ricam Consultoria, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e economista mais influente do Brasil segundo o Klout.com.

Passeio pelos museus de Washington: um encontro com Frida Kahlo e Leon Trotsky...

Chegados a Washington no sábado a noite, para bem aproveitar pelo menos um dia livre na capital, com pouco trânsito devido ao período pré-invernal, estivemos passeando, Carmen Lícia e eu, pelos museus da capital americana, os tradicionais (da série Smithsonian, entre eles as galerias Freer e Sackler, e o de Arte Africana), e novos, ou que pelo menos não tínhamos visitado anteriormente.
Existe bem perto da sede do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), na Avenida New York, o National Museum of Women in Arts, um museu inteiro dedicado a mulheres artistas e suas produções.
No acervo, entre coisas, digamos, mais tradicionais, figurava este quadro de Frida Kahlo, a mexicana esposa do pintor e muralista Diego Rivero, ambos comunistas, que abrigaram Leon Trotsky em seu exílio mexicano, até este ser assassinado por um agente stalinista.
O quadro, um auto-retrato, é dedicado ao querido Leon Trotsky, como se pode ver na dedicatória manuscrita (ou melhor, pintada), que figura na mão da pintora. Interessante, pelo seu valor histórico, mas a plaqueta não diz como o quadro foi parar lá, apenas que foi uma oferta da famosa jornalista, dona da revista Time em vida.




O Partido da Corrupcao Institucionalizada - Editorial Estadao

Não só da corrupção; das tendências totalitárias também.
Só não implantam sua ditadura não porque não querem, mas porque não podem, do contrário já teriam amordaçado a imprensa, controlado todos os meios de comunicação, colocado todos os grupos de interesse da sociedade civil a seu serviço -- na verdade, já fizeram isso com muitos, dezenas, centenas de ONGGs e movimentos ditos sociais que vivem na folha de pagamento do Estado e do partido, com o nosso dinheiro claro -- e já teriam também eliminado os últimos focos de resistência ao seu poder totalitário. Mas conseguiram grandes vitórias: submeteram toda a velha direita, os coronelões atrasados, os sacripantas da político, os aproveitadores dos bens públicos, os penduricalhos do Estado, os oportunistas de sempre, os carreiristas, os trambiqueiros, e todos os tipos, espécies, gêneros e famílias de corruptos, tornando-os absolutamente servis a seus desígnios, pela ideologia, pelo dinheiro, pela chantagem, pela pressão, pela intimidação, por todos os meios ao seu alcance.
Ainda não conseguiram totalmente: alguns irredutíveis "gauleses" resistem ainda e sempre as forças do novo Império, e levam um combate de resistência intelectual contra o pensamento único dos novos totalitários e seus discursos mentirosos e de propaganda enganosa. Vai ser duro, mas é preciso resistir.
Eles têm muitos meios, muitos recursos, e corrompem ou ameaçam quem não está com eles.
Resistiremos.
Paulo Roberto de Almeida

Corrupção, essa irresistível

Editorial O Estado de S.Paulo, 01 de dezembro de 2013


"... temos enfrentado dificuldades em mudar o sistema político brasileiro, verdadeira camisa de força que impede transformações mais profundas e impõe um 'presidencialismo de coalizão' que corrói o conteúdo programático da ação governamental." Não, não se trata de excerto de um documento subscrito por forças que se opõem ao governo do PT. O eventual equívoco decorrerá da omissão do início da frase, que elimina qualquer dúvida: "Desde 2003, sobretudo, temos enfrentado dificuldades..." Sim, é um documento do Partido dos Trabalhadores, que diz mais: "... o partido é ainda prisioneiro de um sistema eleitoral que favorece a corrupção e de uma atividade parlamentar que dificulta a mudança". Que triste!
Essa pungente confissão de rendição às forças do mal, as mesmas que durante mais de 20 anos prometeram dizimar com destemor, é de tal modo falsa que sugere uma pergunta óbvia para Lula, Dilma e companheirada: afinal, por que esperaram 10 anos para condenar a corrupção que os transformou em "prisioneiros" (e não é que é verdade?), para profligar o "presidencialismo de coalizão" do qual sempre se gabaram e para repudiar "uma atividade parlamentar que dificulta a mudança"? A resposta também é óbvia: porque há 10 anos os petistas de Lula estão comprometidos até o pescoço, numa ação mútua de cooptação, com os mais notórios representantes do que há de pior no Congresso Nacional; com as lideranças retrógradas que se alimentam da corrupção, exigem "coalizão" para se locupletarem no exercício do poder e comandam uma "atividade parlamentar" que não quer saber de mudança porque acha tudo muito bom como está.
Essas "reflexões" serão oferecidas a debate no 5.º Congresso do PT, que se reunirá em meados de dezembro em Brasília. Conclaves políticos dessa natureza se destinam, por definição, à discussão de questões programáticas. Parece claro, no entanto, como se pode inferir do documento preparado por Marco Aurélio Garcia, que mais do que tratar de programas os petistas estão preocupados no momento em neutralizar os reflexos negativos do escândalo do mensalão e da prisão de seus figurões. Vão partir, portanto, para o ataque - sua melhor arma de defesa -, mais uma vez potencializando a síndrome de perseguição com a qual estimulam, até agora com grande êxito, o processo de sua identificação com as chamadas massas populares. É assim que o populismo funciona.
Há, porém, uma outra questão curiosa que o documento petista suscita, principalmente quando associada à recente e inesperada atitude de Lula de atacar com violência o Poder Judiciário e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, por conta da condenação e da prisão de seus companheiros José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. "Parece que a lei só vale para o PT", reclamou, em evento político em Santo André.
Lula vinha adotando nos últimos meses uma postura discreta e cautelosa a respeito do julgamento do mensalão. Segundo sua própria avaliação repassada aos comandos do PT e à presidente Dilma Rousseff, o melhor no momento seria minimizar o assunto, para que ele caia no esquecimento o mais rápido possível e não contamine o debate eleitoral do ano que vem. Mas isso era o que se dizia nos círculos petistas antes da prisão de sua elite. Depois disso, até por causa dos problemas de saúde de Genoino, a reação às prisões por parte de lideranças mais próximas dos encarcerados e da militância foi-se tornando a cada dia mais emocional e ruidosa.
José Dirceu, que jamais se conformou com a maneira "conciliatória" como entende que Lula sempre tratou o assunto, depois de preso teria radicalizado essa postura e cobrado duramente do ex-presidente, por meio de amigos comuns, uma manifestação clara de solidariedade aos prisioneiros. Aparentemente, agora teve sucesso, pois, além do discurso de Lula no ABC paulista, o PT, contrariando decisão anterior de ignorar oficialmente o assunto, teria decidido prestar solidariedade aos condenados na abertura do congresso do partido, dia 12 de dezembro.
Faz sentido. Afinal, se o PT é vítima de instituições corruptas, vítimas também são seus bravos dirigentes que enfrentaram "dificuldades" para resistir à corrupção.

A maior fronteira da Franca e seu vizinho demorado, lento, quase parando...

Durante anos, os paladinos do planejamento diziam que o Brasil carecia de planejamento. O guia genial dos povos confessava ter saudades da ditadura militar, quando se supunha haver planejamento sob a mão firme do Estado. Pretenderam fazer igual.
Deu nisso.
Paulo Roberto de Almeida 

Falta de aduana impede abertura de ponte no Amapá
Por Mauro Zanatta
O Estado de S.Paulo, 1/12/2013

No extremo Norte do Brasil, jaz uma reluzente, colossal e ainda inútil obra do governo federal. A ponte binacional sobre o Rio Oiapoque, na fronteira do Amapá com a Guiana Francesa, está pronta para integrar os dois lados desde junho de 2011. Mas até agora, 30 meses depois da entrega, ninguém pode cruzar oficialmente os 380 metros das suas arcadas estaiadas.
Emblemática da lentidão da burocracia para concluir obras públicas no País, a "obra de arte especial", como é chamada no jargão da engenharia, foi construída em dois anos ao custo de R$ 71 milhões - a conta foi rachada com a França, metrópole do território ultramarino.
Até aqui, a ponte rodeada de floresta equatorial funciona mais como um muro a impedir a circulação de mercadorias e pessoas, obrigadas a usar voadeiras e catraias (pequenos barcos locais) para cruzar a fronteira até Saint George de L?Oyapock, na outra borda do manso Rio Oiapoque.
Isso porque a construção da aduana brasileira só começou há quatro meses. E está longe da conclusão, prevista para novembro de 2014. O projeto deve consumir R$ 13,7 milhões dos cofres públicos, mas o governo do Amapá gastará outros R$ 6 milhões na ligação de dois quilômetros entre a ponte e a BR-156.
A demora amazônica da obra liquidou a possibilidade de uma inauguração oficial pelos presidentes Dilma Rousseff e François Hollande em dezembro - o francês deve estar em Brasília no dia 12. Há dez dias, na capital Macapá, o senador José Sarney (PMDB-AP) anunciou um encontro presidencial na fronteira. O gesto, visto como ato de campanha eleitoral, irritou o governador Camilo Capiberibe (PSB) e deixou o Itamaraty em "saia-justa" com os franceses.
Na dúvida, e pressionado a garantir eventual presença ilustre, o governo federal está erguendo um "puxadinho" emergencial de R$ 850 mil para ser usado como aduana provisória até terminar a obra definitiva.
Sob o sol impiedoso da linha do Equador, estão sendo montados módulos pré-fabricados de madeira e alumínio, sob tendas de lona branca em forma de pirâmide. São estruturas semelhantes a stands de feiras agropecuárias, levadas de caminhão por 5 mil km e 12 dias entre Joinville (SC) e Oiapoque - incluindo a balsa sobre o Rio Amazonas. Até agora, dez viagens. Mesmo com o "puxadinho" pronto, a fronteira permanecerá fechada até a assinatura de acordos bilaterais sobre exigências legais essenciais. O Itamaraty admite que a ponte não será aberta sem a assinatura desses acordos.
A comunidade local reage. "Aqui, é tudo ?encantado?, tudo é muito lento. Quando demora pouco, leve seis meses. Faltam técnicos para projetos. Essa BR tem mais de 30 anos e não está pronta", diz o prefeito de Oiapoque, Miguel do Posto (PSB). O superintendente do Sebrae, João Carlos Alvarenga, resume: "Essa ponte virou um muro. Terminar a obra é só um primeiro passo". Importador de pneus, o empresário Raimundo Batista diz que "pior é que nada nem é mais prometido".
No lado guianense, a aduana está pronta. As guaritas de alvenaria são vigiadas por um efetivo da polícia francesa de fronteira. Na quinta-feira, o Estado presenciou alguns operários construindo um belvedere de frente para o rio e retocando o paisagismo na cabeceira da ponte.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) explica o atraso pela dificuldade de selecionar empreiteiras para realizar as obras, cuja licitação foi ignorada em duas tentativas.
Fornecedora da Infraero, a catarinense Paleta, que terminava obra em Teresina (PI), só aceitou após carta-convite do diretor-geral do Dnit, general Jorge Fraxe. "Expedi convites a uma dezena de empresas. Só a Paleta respondeu", disse ao Estado, na quinta, durante visita a Oiapoque com o secretário estadual de Transportes, Bruno Mineiro.
A origem do atraso, avalia, está na separação das obras da ponte e da aduana. A greve de 74 dias no Dnit a partir de junho deste ano, a complexa logística para operar no local e o implacável regime de chuvas da região, afirma, complicaram os planos.
"Vamos terminar a aduana provisória agora, no início de dezembro, e entregar a obra definitiva em maio, bem antes do prazo." Fraxe diz já ter enviado computadores e material de escritório para a aduana. "Minha parte eu estou fazendo." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Paradoxo de Genebra, ou imaginacao de Dawisson Lopes? - o programa nuclear iraniano

O autor compara bananas e maçãs, neste caso, de um lado, o acordo de Teheran, orquestrado pelos paladinos da diplomacia Sul-Sul e pelo grande timoneiro e guia genial dos povos, que deixava o Irã no pleno comando de seu programa nuclear, sem intrusões externas (e com alguns quilos de urânio enriquecido depositados na Turquia), com, de outro lado, o recente acordo do P-5+1 de Genebra, que prevê a interrupção temporária do programa (assim os próprios iranianos o admitiram) e inspeções abrangentes por parte da AIEA. Nada disso existia no acordo turco-brasileiro-iraniano, o autor não sabe ou se esqueceu?
Ainda que eu ache este acordo de Genebra tão vago quanto o anterior, eles são completamente diferentes, em seu escopo, objetivos e mecanismos.
O que mudou? Pouca coisa.
Mas, o cenário de sanções continuadas e os problemas para a economia já fragilizada do Irã certamente fizeram alguma diferença.
O Brasil ou os Brics estavam dispostos a tanto? Tinham essa capacidade de impor condições aos aiatolás?
Em que o autor do artigo peca por ingenuidade, ou adesão inquestionada ao discurso oficial do acordo de 2010?
Primeiro esta grandiloquência jornalística, sem qualquer embasamento na realidade: "uma notícia fazia tremer o chão da diplomacia". De verdade? O chão tremeu? Onde? Por quanto tempo?
Depois esta outra suprema peça de ingenuidade ou desinformação:
"Brasil e Turquia... haviam conseguido dobrar a renitente República Islâmica do Irã e concluir um acordo de cooperação tripartite".
De verdade? Dois países dobraram um terceiro e conseguiram um acordo tripartite? Que bonito, que proeza magnífica!
O autor não se dá conta que tudo foi construído a três, de comum acordo, para tentar enganar os "hegemônicos"?
Ele compra pelo valor de face as afirmações dos três protagonistas? Que análise mais profunda...
Tem mais esta também: "dois legítimos herdeiros do Terceiro Mundo faziam-se avalistas da boa vontade do regime dos aiatolás."
Uau! Que nova proeza! Avalistas dos aiatolás! Excusez du peu, Messieurs les hégémoniques: nous sommes du Tiers Monde et nous avons la solution des problèmes mondiaux. Laissez-nous faire, s.v.p....
Por fim, o autor compra todo o discurso oficial do regime, até mais, aliás, pois ele atribui poderes transformadores onde nunca se viu nada parecido:
"A audaciosa contribuição para a paz mundial, representada pela Declaração de Teerã, foi desdenhada e descartada - assim como também aconteceu com a doutrina da "Responsabilidade ao Proteger" e o G-20 Financeiro (para não mencionar o marco global para a internet, desafiado mesmo antes de existir)."
Parece que a primeira missão do acadêmico não é mais a leitura com olhar crítico, mas a leitura benevolente, sem qualquer ânimo investigativo.
Parece que a academia se excede em certas qualidades e menos em outras. A começar pela capacidade de pensar criticamente, sem comprar o discurso oficial, sempre grandiloquente e self-praising. Acadêmicos também participam da nova onda "por que me ufano do meu país"? 
Ou seria mesmo "porque", sem interrogação?
Paulo Roberto de Almeida 

O Paradoxo de Genebra
Dawisson Belém Lopes*
Folha de S.Paulo, 1/12/2013

Há três anos, ONU embargava plano brasileiro para reduzir risco nuclear do Irã; agora, EUA, seus aliados e Teerã assinam tratado de cooperação

Há três anos e meio, uma notícia fazia tremer o chão da diplomacia: Brasil e Turquia, duas nações de média estatura no plano internacional, haviam conseguido dobrar a renitente República Islâmica do Irã e concluir um acordo de cooperação tripartite. Nos termos da declaração assinada, Teerã aceitava estocar 1.200 quilos de seu urânio levemente enriquecido em Ancara, recebendo, em troca, matéria-prima para um reator nuclear de uso hospitalar.
De forma inédita, dois legítimos herdeiros do Terceiro Mundo faziam-se avalistas da boa vontade do regime dos aiatolás. Isso, naturalmente, se aquele entendimento não houvesse sido embargado, com argumento sumário e truculência usual, pelos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. A então secretária de Estado dos EUA chegou a afirmar que o presidente brasileiro e o primeiro-ministro turco estavam sendo ludibriados pelo Irã - e que o mundo se tornaria mais perigoso com a proposta encaminhada por eles.
A retórica de Washington pegou de surpresa o Itamaraty e o Planalto. Afinal, nosso País havia pautado sua conduta no caso por uma comunicação, enviada semanas antes por Barack Obama, que encorajava a solução pacífica para o imbróglio nuclear e estipulava, como meta, o bloqueio dos famigerados 1.200 quilos de urânio persa. No entanto, como num passe de mágica, pombos metamorfosearam-se em falcões e o chamamento ao diálogo se converteu em convocação para a guerra. Se não em 2010, seguramente em 2011. De 2012 a República Islâmica não passaria incólume.
Mas o tempo correu - e novembro de 2013 chegou. Justo quando se imaginava consumado o ciclo do blefe, a política internacional brindou seus espectadores com mais uma virada na trama. Após rufarem tambores, coreografarem a invasão e propalarem, por meses a fio, a iminência de um conflito de proporções nunca antes vistas, eis que os Estados Unidos e seus fiéis escudeiros propõem ao mundo um novo acordo. De cooperação nuclear. Com o Irã.
"Agora, sim, os aiatolás têm verdadeiros estímulos para colaborar" - tranquilizam-nos os bem-aventurados negociadores do tempo presente. Quem está convencido? A verdade é que, a julgar pelo acordado no último domingo em Genebra, a via diplomática venceu a bélica. Essa é uma boa nova. Só que, em lugar do mecanismo costurado pelo Sul Global, prevaleceu a solução fabricada pelo diretório que toma assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (acrescido da Alemanha). A Agência Internacional de Energia Atômica, mantenedora de um discriminatório tratado contra a proliferação nuclear (TNP), encarnará o cão de guarda, monitorando pelos próximos seis meses as atividades relacionadas com o programa atômico de Teerã.
Argumentar que as redações e as motivações dos tratos firmados em 2010 e 2013 divergem entre si é, além de redundar, perder boa oportunidade de explorar a fundo uma disputa latente nas relações internacionais. Que os momentos eleitorais (nos EUA, em especial) são distintos e que não coincidem os atores pactuantes, todos já sabíamos de antemão. Porém, do ponto de vista lógico, nada autoriza a ilação de que as diferenças entre os documentos produzidos em 2010 e 2013 foram determinantes para a melhor acolhida, pela comunidade internacional, do novo acordo; no mesmo diapasão, a despeito das diferentes orientações emanadas de Teerã e Genebra, continua sendo possível - e pedagógico - fazer aproximações entre os fenômenos em tela.
Senão, vejamos. Apesar de a representação internacional do Estado iraniano ter mudado - com a saída do "linha dura" Mahmoud Ahmadinejad e a entrada do "moderado" Hassan Rouhani -, o regime teocrático permaneceu. Isso implica assumir que as instituições que sustentam o sistema político do Estado persa ficaram intocadas. O líder supremo, Ali Khamenei, ainda é quem dá as cartas. Os problemas econômicos iranianos de 2013 já existiam em 2010 e, dificilmente, justificariam a alegada "maior receptividade" dos aiatolás às negociações. De resto, a substituição de Hillary Clinton por John Kerry, na condução da diplomacia estadunidense, também não acarretou ruptura com as linhas de política externa do governo Obama.
Quem quiser explicar o "paradoxo de Genebra" deverá olhar para trás e pelo alto, sem exagerar na importância atribuída aos particularismos. Lições são oferecidas pela história e ficam esculpidas no sistema de Estados soberanos. A mais importante é que não se deve esperar tolerância das grandes potências com as ações políticas empreendidas por países intermediários - em termos militares e econômicos - como Brasil e Turquia. No desfecho da crise do Irã, Brasília e Ancara foram francamente desestimuladas e desautorizadas a desempenhar os papéis principais.
A aquisição das credenciais para participar da gestão da ordem mundial não se dá ao natural. Emancipar-se e .entrar para um clube de gigantes é processo árduo, que envolve opções custosas - e não necessariamente pacíficas - para o Estado e sua população. Em regra, potências médias são recompensadas por se manterem coerentes com determinados compromissos normativos. Valoriza-se, acima de tudo, a capacidade de acomodação desses atores ao status quo vigente.
E o Brasil, lamentavelmente, falhou em seu teste de maioridade política. Recém-chegado à adolescência na cena internacional, segue experimentando as intensas dores do crescimento. A audaciosa contribuição para a paz mundial, representada pela Declaração de Teerã, foi desdenhada e descartada - assim como também aconteceu com a doutrina da "Responsabilidade ao Proteger" e o G-20 Financeiro (para não mencionar o marco global para a internet, desafiado mesmo antes de existir). Mas a história, ela ainda está sendo escrita. Amanhã vai ser outro dia.
*DAWISSON BELÉM LOPES É PROFESSOR DE POLÍTICA INTERNACIONAL E COMPARADA NA UFMG E AUTOR DE 'POLÍTICA EXTERNA E DEMOCRACIA NO BRASIL' (UNESP).

A maior fronteira da Franca: um problema para garimpeiros e autoridades

Tensão diplomática bilateral pode ficar ainda pior
Mauro Zanatta
O Estado de S.Paulo, 1/12/2013

Os franceses já mandaram recados às autoridades brasileiras de que só aceitam discutir entraves burocráticos, como a exigência de visto de entrada na Guiana, se o governo se empenhar na ratificação, pelo Congresso, do acordo contra o garimpo ilegal na fronteira, considerado um gesto de aproximação diplomática.
O assunto é espinhoso para ambos, já que o Brasil reclama do tratamento aos seus nacionais e os guianenses pressionam a França apontando ameaça aos empregos locais e à pilhagem de seus recursos naturais, sobretudo o ouro. Os presidentes FrançoisHollande e Dilma Rousseff devem debater o tema no dia 12, em reunião em Brasília. Mas o Itamaraty rejeita a relação entre garimpo ilegal e a abertura da ponte. E diz não comentar "assuntos do Congresso".
A questão do garimpo, foco de recente tensão diplomática bilateral após a expulsão em massa de brasileiros, tem um forte componente político. Autoridades locais avaliam haver uso eleitoral da divergência pelos políticos da Guiana. A base de lançamento de foguetes de Korou, próxima à capital Caiena, é estratégica para franceses e seus parceiros. Daí, a preocupação ser ainda mais séria. Na margem brasileira, os políticos amapaenses temem perder os votos de garimpeiros se houver um arrocho excessivo sobre a extração de ouro, como prevê o acordo bilateral de mineração. Estima-se ao menos 40 mil brasileiros ilegais na Guiana, cuja população soma 280 mil pessoas.
Distante 600 km da capital, Oiapoque vive isolada, em franca decadência pós-garimpo ilegal. Ainda faltam 110 km de asfalto para a BR-156 chegar à cidade de 23 mil habitantes, que sobrevive de repasses federais. Apenas 10% da receita é arrecadação própria. Em 2010, registrou PIB per capita de R$ 11,6 mil, segundo o IBGE. "Depois do garimpo, parou mais de 70% da atividade", diz o prefeito e ex-garimpeiro Miguel do Posto (PSB). A cidade, diz ele, se arranja com o comércio com os vizinhos guianenses, cujo poder de compra, em euros, atiça seu apetite. A folha de salários da prefeitura consome R$ 1,3 milhão por mês. "Aqui, não tem agricultura nem pode caçar, pescar, tirar madeira. Nem cheiro verde se planta. Tudo é importado", afirma ao reclamar do excesso de controle das polícias e do Exército.
Autoridades locais lembram que o drama dos garimpeiros não se restringe à Guiana. Agora, uma leva de brasileiros entrou em território do Suriname, na região do Rio Maroni, para explorar ouroe abrir novos garimpos. Em breve, diz-se, será mais um problema sério para o Itamaraty e o Planalto.

Brasil: uma nacao de assistidos do Estado; e para que tudo isso?: Ora, para o curral eleitoral do PT...

Nunca antes na história de qualquer país do mundo, em qualquer época histórica, por qualquer motivo, inclusive guerras e grandes catástrofes naturais, um quarto da população total se encontrou nas mãos do Estado, como um exército de assistidos e dependentes da esmola pública.
Nunca antes na história de qualquer país, programas dessa magnitude tinham sido usados como instrumento eleitoral de um partido totalitário, na indiferença completa do que deveria ser a oposição política, mas que nada mais é do que um bando heteróclito de castrados morais e de debilóides políticos.
Será muito difícil desmantelar esse edifício de corrupção institucionalizada, sob escusa de assistência a desvalidos e pobres.
Não estou preocupado neste momento com os números, ou seja, o volume de recursos transferidos para fins supostamente sociais. Este pode ser pequeno, médio ou grande, e inclusive os valores precisariam ser deflacionados ao longo do tempo, para se ter uma ideia de como eles aumentaram, em termos reais, ao longo do tempo.
O problema não está aí. O problema está justamente na construção de um imenso programa de transferências praticamente isentas de contrapartidas e no fato de que se está continuamente buscando "novos pobres", para aumentá-lo ainda mais, quando já temos um quarto da população nesse tipo de assistência pública.
Os efeitos psicológicos, sobre a população assistida, os efeitos práticos, sobre o mercado de trabalho, e os efeitos institucionais, no sentido da máquina pública montada atrás disso, e os efeitos propriamente políticos, com o bando de salafrários (de todos os partidos, mas especialmente do partido dos totalitários) usufruindo desse tipo de dependência estrutural que foi criada com a clientela assistida, tudo isso é muito mais relevante do que o volume de dinheiro envolvido na operação.
O Brasil está sendo inviabilizado economicamente, socialmente, psicologicamente, por esse tipo de programa altamente negativo e que deveria simplesmente ser extirpado.
Desde o início tenho dito isso, e me confronto com gente de todas as orientações que acham que pobres devem sim ser ajudados. Não acho, e sou contra. Pobre tem de receber educação, e buscar a sua renda no mercado de trabalho.
Sem um Estado gigantesco que se apropria da metade da renda dos pobres, dois quintos da classe média e de um terço dos rendimentos dos mais ricos.
Essa é a realidade. O Brasil se afunda nesse itinerário.
Paulo Roberto de Almeida
Washington, 1 de Dezembro de 2013

Em 18 anos, número de benefícios sociais pagos sobe 180%; população cresceu 26%
POR DINHEIRO PÚBLICO & CIA
Folha de S.Paulo, 01/12/13 

A expansão dos programas e dos gastos ganhou impulso a partir do governo FHC, com o fim da hiperinflação (antes, os benefícios perdiam valor rapidamente) e a criação dos atuais benefícios a idosos e deficientes.

Os principais programas oficias de transferência de renda pagarão neste ano algo como 72 milhões de benefícios, um aumento na casa de 180% sobre os 25 milhões contabilizados em 1995, no primeiro ano do governo FHC.
De lá para cá todos os governos multiplicaram os gastos e o alcance de programas como aposentadorias, pensões, auxílios, seguro-desemprego, abono salarial, Bolsa Família e assistência a idosos e deficientes. Clique abaixo para ver a multiplicação dos benefícios.

O número de benefícios não corresponde exatamente ao de beneficiários, porque uma mesma pessoa pode receber recursos de diferentes programas.
Ainda assim, é o suficiente para demonstrar o aumento do peso dos pagamentos feitos pelo governo na renda do país. No mesmo período de 18 anos, a população brasileira cresceu 26%.
Lula lançou o Bolsa Família, cuja ampliação continuou no governo Dilma Rousseff. Também disparou, na administração petista, o número de beneficiários do seguro-desemprego e do abono salarial, graças à maior quantidade de trabalhadores com carteira assinada.

A transferência de renda às famílias é hoje a principal atribuição do governo federal: representa cerca de 45% das despesas totais, excluindo da conta os encargos com a dívida pública (que não são gastos voluntários).
Ver o infográfico neste link: http://www1.folha.uol.com.br/infograficos/2013/11/78792-a-explosao-dos-programas-sociais.shtml

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...