Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
Itamaraty: o novo chanceler e o Itamaraty - Denise Chrispim Marin
Ex-embaixador na Argentina e nos EUA, Vieira é saída de Dilma para não magoar Lula
Denise Chrispim Marin
O Estado de S. Paulo, 12/01/2015
Em doses suaves, novo chanceler tentará revalorizar Itamaraty
Do novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, não se espera mudanças abruptas, dizem antigos colaboradores
Ao se sentar na cadeira do Barão de Rio Branco, fundador da diplomacia do Brasil republicano, o embaixador Mauro Vieira enfrentará a agenda interna mais pesada para o Ministério das Relações Exteriores nos últimos 20 anos. Habituado ao trabalho nos bastidores e à sombra das principais autoridades da casa, Vieira não encontrará maior desafio do que convencer a presidente Dilma Rousseff a observar o Itamaraty com apreço e a listar a política externa brasileira entre as prioridades de seu segundo mandato.
De seu gabinete, Vieira não desencadeará mudanças abruptas na política externa nem confrontos com seus pares no exterior ou na Esplanada. Nada será abandonado – como a política Sul-Sul – e tudo será considerado – como a retomada das relações entre Brasil e Estados Unidos –, avisam seus antigos colaboradores. Dele não se ouvirá declarações agressivas nem manifestações de irritação ou atitudes revanchistas. A mudança, se houver, se dará em doses suaves.
O Itamaraty tradicionalmente reflete a personalidade do chanceler. Sob a liderança de Vieira, parecerá mergulhado em águas mornas, enquanto o novo ministro e seus principais auxiliares atuarão silenciosamente nos bastidores do governo e no exterior. Um velho observador de sua carreira o define como um “peixe de águas profundas”.
Não à toa, Vieira escolheu dois colaboradores diretos de sua total confiança e de ampla aceitação pela casa. O embaixador Sérgio Danese, um dos mais experientes e preparados de sua geração, será o secretário-geral das Relações Exteriores – segundo cargo da hierarquia do Itamaraty. O chefe de gabinete de Vieira será o embaixador Júlio Bitelli, que atuou na equipe que escrevia os discursos de Fernando Henrique Cardoso no Palácio do Planalto e, mais tarde, na de Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff.
Danese e Bitelli trabalharam com Vieira na Embaixada do Brasil em Buenos Aires. Nos últimos anos, Danese conduzia a Subsecretaria das Comunidades Brasileiras no Exterior, e Bitelli era embaixador em Tunis (Tunísia). O trio terá a missão de recuperar o orçamento do Itamaraty neste período de ajuste nas contas públicas.
Celso Lafer, ex-chanceler de FHC e de Itamar Franco, sublinha ser Mauro Vieira um diplomata experiente, com bom conhecimento da casa, e ter vindo do comando das duas mais importantes embaixadas brasileiras – Buenos Aires, de 2004 a 2010, e Washington, de 2010 ao fim de 2014. “Mauro conhece os ambientes político, social e econômico do País, o que é um ativo importante para o reposicionamento e a valorização do Itamaraty.”
Surpresa. Dilma surpreendeu todos os implicados diretamente na escolha de seu chanceler em 31 de dezembro, véspera da posse de seu segundo mandato. O então ministro Luiz Alberto Figueiredo esperava permanecer no posto, mas foi frustrado apenas 30 minutos antes do anúncio oficial do nome de Vieira. O ministro da Defesa, Celso Amorim, contava com uma recondução à cadeira de Rio Branco, com as bênçãos de Lula, e não escondeu sua decepção na cerimônia de transmissão do cargo, no dia 2.
Mauro Vieira, por sua vez, aspirava o posto de Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais desde 2003, que não pretendia continuar no governo no segundo mandato de Dilma. Ao ser chamado a Brasília, no dia 31, deduziu que sua missão seria acompanhar o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, representante de seu governo na posse. Mas foi nomeado chanceler.
A decisão de Dilma, na leitura de um embaixador experiente, revelou sua habilidade para descartar a sugestão do ex-presidente Lula sem desapontá-lo totalmente. Nem ao favorito do líder petista. Vieira é tido em alta conta por ambos.
O chanceler é leal amigo de Amorim há mais de 30 anos. Em 1985, quando foi designado secretário executivo adjunto do Ministério de Ciência e Tecnologia, Vieira resgatou Amorim do ostracismo ao sugerir seu nome ao então ministro da pasta, Renato Archer. Amorim assumiu o posto de secretário de Assuntos Internacionais, no qual se manteve até 1988. Em 2003, ao ser nomeado chanceler pela segunda vez – a primeira fora com Itamar Franco –, Amorim designou Vieira como chefe de gabinete, mesmo depois de ele ter exercido a mesma função com os embaixadores Osmar Chohfi e Luiz Felipe Seixas Corrêa, os últimos secretários-gerais das Relações Exterior do governo FHC.
O ex-chanceler também foi o responsável pela nomeação de Vieira como embaixador em Buenos Aires – decisão avalizada por Lula. Ao ver abortado seu projeto de continuar no posto no primeiro mandato de Dilma, no fim de 2010, Amorim indicou Vieira para Washington. O posto estaria vago com a designação do embaixador Antônio Patriota para o comando do Itamaraty. Na época, a permanência de Vieira na capital americana foi avaliada como temporária. Vieira e Patriota não tinham um convívio fácil. O embaixador, porém, assumiu essa posição estratégica por quatro anos.
Garcia ficou no governo e deverá manter sua influência na formulação de políticas para a América Latina. Mas caberá a Vieira conciliar a sobrevivência do Mercosul à necessidade, destacada por Dilma em seu discurso de posse, de ampliar a inserção comercial do Brasil. Ele dificilmente se chocará com Garcia nessa tarefa. O assessor de Dilma foi uma das autoridades petistas cativadas pelo chanceler: era seu hóspede frequente quando embaixador na Argentina.
Tanto em Brasília como em Buenos Aires e em Washington, Vieira valeu-se do que mais soube fazer ao longo de sua carreira: cativar figuras relevantes para sua atuação e montar uma rede de contatos de primeira qualidade.
Na capital argentina, tornou-se interlocutor frequente do casal Kirchner e dos governadores de províncias – todas visitadas por ele. Em Washington, teve o mesmo cuidado de explorar os contatos com governadores estaduais e em circular pelo Capitólio.
Sua atuação nos EUA, porém, foi prejudicada pelo desinteresse da presidente no aprofundamento das relações bilaterais. “O desempenho de Mauro Vieira refletiu a política brasileira sobre os EUA, desinteressada em maior cooperação e em projetos conjuntos”, afirmou Peter Hakim, presidente honorário do Diálogo Interamericano. “É mais fácil ser um Rubens Barbosa no governo de FHC do que um Vieira no governo de Dilma”, completou, referindo-se ao embaixador brasileiro em Washington entre 1999 e 2004, gestão que deu prioridade à política externa.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
Petrobras = Corrupcao; Corrupcao = Petrobras; Sempre assim?
Deve ser a estação do ano...
Paulo Roberto de Almeida
Petrobras gasta R$ 59 bilhões em obras com empresas paralelas, diz jornal
Valor foi investido por estatal desde 2005 por meio de rede de empresas paralelas criadas para executar obras de porte sem se submeter à fiscalização de órgãos de controle, como o TCU e a CGU. Tribunal de Contas da União adverte para “expansão descontrolada” desse modelo.
Petrobras nega criação de empresas para burlar fiscalização do TCU
Estatal nega ter montado “rede de empresas” paralelas e diz que modelo citado em reportagem do jornal O Globo é exitoso desde 1999.
CGU tentou limitar punições de empreiteiras da Lava Jato a multas
Segundo reportagem de O Globo, sugestão foi rechaçada pelo Ministério Público Federal. Governo alega que empresas podem quebrar e causar problemas na economia do país se forem proibidas de contratar com o poder público
Petrobras pressiona empreiteiras por confissão e ressarcimento
Estatal cobra de 23 empresas acusadas de atuar em cartel que reparem prejuízo causado, admitam responsabilidade e colaborem com as investigações para retomarem contratos com a companhia, mostra o Estadão.
Lava Jato: empreiteiro preso diz que PT está “preocupadíssimo”
Em manuscrito, dono da UTC Engenharia tenta associar doações de campanha à petista a esquema na Petrobras e afirma que irregularidades na diretoria de Abastecimento são “fichinha” perto de desvios em outras áreas da companhia.
O Bolivarianismo e a diplomacia grupal - Renato Marques
Paulo Roberto de Almeida
Bolivar e a diplomacia grupal
As críticas pertinentes sobre a "diplomacia grupal" que hoje predomina no País (de que é exemplo nossa inclusão no comboio que acaba de visitar a China, em busca de financiamentos e favores do novo Império) me levam a divulgar algumas pérolas do pensamento bolivariano, que une a todo o grupo.
Esse pequeno levantamento é oportuno na medida em que o Brasil tornou-se hoje um grande satélite bolivariano, em que pese o contraditório que possa parecer nossa adesão a essa ideologia. Não apenas porque nos diminui politicamente e porque se dá ao arrepio das desconfianças que o próprio Bolívar então nutria pelo Império (no caso, o dos Orleans e Bragança, visto como expansionista e aliado das monarquias europeias, de que a América Espanhola se libertava).
Hoje corremos o risco de realizar o sonho de Bolívar, não só de ressuscitar (e nos incorporarmos) à Grande Colômbia, mas também de erodirmos a solidez das instituições democráticas (que ele desprezava).
Não por acaso, o novo profeta que o PT vai impondo nos discursos e nos manuais escolares, admitia, em seu Manifesto de Cartagena, que "as instituições totalmente representativas não convêm a nosso caráter, nossos costumes e nosso saber atual" ("atual" que não deve estar muito distante do de hoje).
Bolívar adotou abertamente a ditadura e a centralização (ao contrário da democracia e do federalismo, como destaca Niall Ferguson). "Nossos concidadãos", diz Bolívar, "não estão capacitados a exercer plenamente seus direitos porque lhes faltam as virtudes políticas que caracterizam os verdadeiros republicanos" (algo que certamente não faltava a Bolívar, disposto a exercê-los em nome dos incultos).
Coerentemente, afirma "estar convencido até a medula que a América não pode ser dirigida a não ser por um déspota esclarecido".
Pela mesma lógica, no dito Manifesto, pondera que "não podemos nos permitir colocar as leis acima dos chefes nem os princípios acima dos homens".
Sua incorporação dos negros, mulatos e índios às forças libertadoras se deu via promessas incumpridas, como única forma de vencer as resistências e desconfianças que nutriam pelos "criollos" (e não por convicções raciais).
Em carta escrita em seus últimos dias, antes de morrer de tuberculose, em dezembro de 1830, fez um "testamento político" no qual proclama que:
"reinou vinte anos durante os quais alcançou algumas certezas:
1) a América (do Sul) é ingovernável por nós;
2) os que se põem a serviço de uma revolução aram o mar;
3) a única coisa que se pode fazer na América é emigrar;
4) este país cairá inelutavelmente nas mãos de massas libertárias e passará logo depois, sem perceber, às mãos de pequenos tiranos, de todas as cores e raças;
5) quando tivermos terminado de cometer todos os crimes imagináveis e de nos matarmos entre nós, com grande ferocidade, os europeus perderão até mesmo o interesse de nos conquistar;
6) se alguma região do mundo é candidata a retomar o caos primitivo, está será a América na sua derradeira hora".
O Bolívar que frequenta imponente, em bronze e em espírito, os corredores do Palácio Itamaraty mereceria ser melhor estudado e mais lido, antes de nos enrolarmos em sua bandeira e de nos engajarmos em sua ideologia.
A Venezuela é emblemática desse risco.
Renato L. R. Marques
domingo, 11 de janeiro de 2015
Alguem tem alguma ilusao de que algo mudara'? - Mansueto Almeida
O fim do patrimonialismo? Tolice.
11 de janeiro de 2015 por mansueto
Confesso que fiquei surpreendido quando um amigo me ligou para bater papo e foi taxativo: “você viu? O governo e o PT mudaram. O Joaquim falou que vai terminar com o patrimonialismo que tanto criticávamos e com a relação promiscua entre Estado e setor privado. Acabou a politica dos amigos do rei”.
É louvável a intenção do nosso ministro da fazenda de combater o patrimonialismo. Há apenas um pequeno grande problema: nos últimos 12 anos no poder, o PT reforçou essas práticas de patrimonialismo, por convicção que, por exemplo, política industrial e forte intervenção do Estado na economia são positivas para o crescimento do país. Não foi um erro de percurso, mas convicção de um modelo.
Mas o resultado não foi estagnação da produtividade, baixo crescimento e inflação elevada? Sim, mas as mesmas pessoas que defendem o modelo de forte intervenção do Estado na economia acreditam que, o que deu errado nessa estratégia, não foi o “modelo em si”, mas os excessos e os efeitos inesperados da crise mundial.
Um dos maiores defensores da política do Estado forte na economia e de intervenções setoriais é, por exemplo, o ministro chefe da casa civil, Aloízio Mercadante. Ele foi um dos que concordavam com a proposta fracassada de aumentar investimentos da Foxconn no Brasil e tornar o Brasil um grande produtor de Iphones e Ipads.
Outros acadêmicos tradicionalmente ligados ao PT, como o atual presidente da FINEP, Glauco Arbix, continua com a convicção do papel chave do Estado para promover mudanças estruturais da economia. Em maio deste ano, Glauco Arbix escreveu na Folha de São Paulo (Chega de saudades – clique aqui) artigo no qual criticava veementemente outro escrito no mesmo jornal por Armínio Fraga e Marcos Lisboa (Hora de mudar o foco – clique aqui).
O engraçado é que a mensagem do artigo de Armínio Fraga e Marcos Lisboa é muito parecida com a mensagem do novo ministro da fazenda, Joaquim Levy, no seu discurso de posse. Armínio e Marcos escreveram:
“Políticas de desenvolvimento baseadas em proteção, subsídios e incentivos a setores selecionados resultam no estabelecimento formal e informal de grupos de interesse, que dependem da sua manutenção. Esses grupos tendem a dificultar reformas que beneficiem a sociedade como um todo. No caso da política econômica, essa dificuldade é ainda maior pela impossibilidade do contrafactual, ou seja, aquilo que poderia ter ocorrido caso a escolha tivesse sido outra.”
Mas Glauco Arbix e João De Negri, ambos da FINEP e no espectro mais moderado entre os defensores da política industrial, começam o seu artigo defendendo a tese que:
“Desde o lançamento da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior, em 2004, os esforços do governo brasileiro se voltam a acelerar o crescimento e elevar a produtividade. Embora a trajetória não seja linear e isenta de escorregões, só uma dose de má vontade e forte visão ideológica poderia justificar a superficialidade do artigo “Hora de mudar o foco” (Arminio Fraga e Marcos Lisboa, 25/5). O foco das políticas já mudou. E faz mais de 11 anos.”
Mesmo na visão de dois técnicos moderados como são Glauco Arbix e João De Negri, a mensagem que políticas setoriais e intervenção do Estado na economia é prejudicial encontra resistência, que os autores qualificam como “visão ideológica”.
Desconfio que mesmo o atual Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, não seja totalmente contrário as políticas de estímulos setoriais. Nelson sempre deixou claro para seus interlocutores que ele criticava os excessos do governo Dilma I, mas nunca escutei do Nelson Barbosa, acadêmico, qualquer critica veemente na linha do que Joaquim Levy fez do patrimonialismo.
Na minha modesta opinião, seria muito simplista alguém achar que agora há alguma evidência empírica incontestável que levará o atual governo mudar sua concepção de política de desenvolvimento.
Por enquanto, o mais provável é que o ajuste fiscal que o governo busca seja, na cabeça da presidente e de seus amigos mais próximos, o meio para retomar o intervencionismo do Estado na economia para promover mudanças estruturais e o crescimento da economia. Eles não fazem isso por maldade, mas porque acreditam em um modelo que, mesmo nos dias de hoje, ainda é motivo de fortes debates no meio acadêmico com defensores e críticos.
Se você quer entender como o “governo pensa”, olhe para as pessoas que participam do governo. E pela minha métrica, Joaquim Levy e Afonso Arinos são excelentes economistas em uma briga desigual, onde prevalecem pessoas que continuam acreditando na forte intervenção do Estado na economia e que entendem que criticas a esse modelo intervencionista seriam, como escreveram o presidente e o diretor da FINEP: “…uma dose de má vontade e forte visão ideológica”.
Será que a nossa presidente anunciará o fim do Plano Brasil Maior, a busca de uma maior abertura da economia e redução da proteção tarifária? Dito de outra forma, você acredita que o PT fará uma proposta de fusão com o PSDB?
É muita inocência alguém acreditar que evidência empírica leva a convergência de políticas. Se fosse verdade, há anos o Partido Democrata e o Republicano nos EUA seriam o mesmo.
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Perspectivas do liberalismo na America Latina - Ricardo Velez-Rodrigues (1998)
Lettre de Marie Claire (magazine francais) a ceux qui NE SONT PAS Charlie - Corine Goldberger
LETTRE OUVERTE À CEUX QUI PROCLAMENT « JE NE SUIS PAS CHARLIE », ET À CEUX QUI LES LIKENT
Comment ne comprenez-vous pas, que « Je suis Charlie », ça ne signifie pas approuver forcément le contenu de « Charlie Hebdo »? Ça signifie être pour la liberté de la presse, pour la liberté d’expression, pour le droit à l’irrévérence, même quand on n’est pas d’accord avec ce qui est publié ou dessiné. « Je suis Charlie », ça signifie : je suis pour qu’on ait le droit de critiquer les religions, comme tout système de pensée et de croyance, et même d’en rire, sans craindre pour sa vie, pour un article ou un dessin. Croyez-vous vraiment qu'il suffise d’un dessin choquant pour faire douter un vrai croyant ? D’innombrables personnes en France et dans le monde entier se sont mobilisées au nom de la liberté de la presse attaquée par des tueurs, comme si nous vivions dans la première dictature religieuse venue. Et vous, qui avez la chance de vivre dans un pays démocratique, vous vous proclamez fièrement contre la liberté d’expression…
Certains d’entre les #JeNeSuisPasCharlie vont même jusqu’à justifier la barbarie, en commentant sur Facebook ou en tweettant que les dessinateurs l’ont bien cherché, l’ont bien mérité : « Ils n’avaient pas à insulter notre Prophète », ricanez-vous. Comment ne comprenez-vous pas qu’à travers « Charlie », ce n’est pas seulement la liberté d’expression de ceux qui ne pensent pas comme vous, qu’on a voulu assassiner. C’est aussi la vôtre. Rappelez-vous qu’on est toujours le mécréant d’un plus pratiquant, d’un plus religieux, d’un plus radical, d’un plus fanatique que soi !
Comment pouvez-vous, vous qui vivez dans un pays démocratique, mépriser une liberté d’expression que bien des peuples nous envient… Comme au Maghreb, où beaucoup de journalistes et de dessinateurs donneraient cher pour pouvoir lire ou publier des « Charlie Hebdo » sans craindre pour leur vie. Ecoutez Dilem, dessinateur algérien, souvent menacé de mort, sur RFI : « Quand il y a eu les dessins sur Mahomet, j’étais l’un de ceux qui prenaient la défense des dessinateurs danois en disant qu’il ne faut pas égorger quelqu’un parce qu’il a fait une caricature. Il y a des choses un peu plus sérieuses dans la vie. Il y a eu, ici, des massacres, y compris dans des rédactions. Dans le journal “L’Hebdo libéré”, des gens ont aussi massacré en 1994 la rédaction (...) Je vais vous faire un aveu : depuis quinze ans, je n’ai pas mis les pieds dans mon journal. Je dessine à partir de chez moi ou de quelque part en dehors pour ne pas donner d’occasion à ceux qui peuvent me faire du mal ou faire du mal à ceux qui font le même travail que moi. Je sais qu’il y a un risque inhérent au métier que l’on fait aujourd’hui. Je sais qu’il ne faut pas plaisanter avec ces gens-là. On est dans la pathologie la plus absolue, dans la barbarie extrême. »
Face au massacre de « Charlie », il ne doit pas y avoir d’un côté les démocrates, croyants et athées, attachés à la liberté d’expression, et de l'autre, des croyants allergiques à l’irrévérence. Il ne devrait y avoir que des citoyens, des républicains prêts à se battre pour défendre des idées qu’ils ne partagent pas toujours. Comme le rappelait Jeannette Bougrab, compagne de Charb, assassiné mercredi : « Ils sont morts pour nous, pour que nous puissions rester libre en France. » En proclamant fièrement « JeNeSuisPasCharlie », vous ne vous coupez pas seulement des Français de tous bords, croyants ou pas, tous unis pour la liberté d’expression. Vous ne facilitez pas la tâche de toutes celles et ceux qui se mobilisent en permanence, pour lutter contre les amalgames entre les extrémistes et la majorité silencieuse musulmane. Car comment expliquer qu’il ne faut pas faire d’amalgames, quand nombre d’entre vous affichent crânement #JeNeSuisPasCharlie, comme si pour vous, un dessin qui vous choque était plus grave qu’un massacre collectif ?
Par Corine Goldberger, chef de rubrique Société
A "islamofobia" seria um pecado original do Ocidente cristao? - Reinaldo Azevedo
Volto ao trabalho na segunda, mas antecipo um texto que, dado o que leio por aí, me parece necessário. O terrorismo islâmico sequestrou boa parcela da consciência do Ocidente. Antes que se impusesse por intermédio da brutalidade e da barbárie, seus agentes voluntários e involuntários fizeram com que duvidássemos dos nossos próprios valores. Antes que matassem nossas crianças, nossos soldados, nossos jornalistas, nossos chargistas, nossos humoristas, atacaram, com a colaboração dos pusilânimes do lado de cá, os nossos valores. “Nossos, de quem, cara-pálida?”, perguntará um dos cretinos relativistas do Complexo Pucusp. Os do Ocidente cristão e democrático.
Mesmo gozando de merecidas férias, comprometido principalmente com o nascer e o pôr do sol, acompanhei o que se noticiou no Brasil e no mundo sobre o ataque covarde ao jornal francês “Charlie Hebdo”, que deixou 12 mortos na França. Na nossa imprensa e em toda parte, com raras exceções, a primeira preocupação, ora vejam!!!, era não estimular a “islamofobia”, uma mentira inventada pela máquina de propaganda dos centros culturais de difusão do Islã no Ocidente. Nota à margem: a “fobia” (se querem dar esse nome) religiosa que mais mata hoje é a “cristofobia”. Todo ano, mais ou menos 100 mil cristãos são assassinados mundo afora por causa de sua religião. E não se ouve a respeito um pio a Orientes e Ocidentes.
Uma curiosidade intelectual me persegue há tempos: por que cabe ao Ocidente cristão combater a suposta “islamofobia”? Por que as próprias entidades islâmicas também não se encarregam no assunto? Sim, muitas lideranças mundo afora repudiaram o ataque ao jornal francês, mas sugerindo, com raras exceções, nas entrelinhas, que se tratava de uma resposta injusta e desproporcional a uma ofensa que de fato teria sido desferida contra o Islã e o Profeta. E então chegamos ao cerne na questão.
Sou católico. As bobagens e ignorâncias que se dizem contra a minha religião — e já faz tempo que o ateísmo deixou de ser um ninho de sábios —, com alguma frequência, me ofendem. E daí? Há muito tempo, de reforma em reforma, o catolicismo entendeu que não é nem pode ser estado. A religião que nasceu do Amor e que evoluiu, sim, para uma organização de caráter paramilitar, voltou ao seu leito, certamente não tão pura e tão leve como nos primeiros tempos, maculada por virtudes e vícios demasiadamente humanos, mas comprometida com a tolerância, com a caridade, com a pluralidade, buscando a conversão pela fé.
Não é assim porque eu quero, mas porque é: o islamismo nasce para a guerra. Surge e se impõe como organização militar. Faz, em certa medida, trajetória contrária à do catolicismo ao se encontrar, por um tempo ao menos, com a ciência, mas retornando, pela vontade de seus líderes, ao leito original. Sim, de fato, ao pé da letra, há palavras de paz e de guerra, de amor e de ódio, de perdão e de vingança tanto no Islã como na Bíblia. De fato, também no cristianismo, há celerados que fazem uma leitura literalista dos textos sagrados. E daí? Isso só nos afasta da questão central.
Em que país do mundo o cristianismo, ainda que por intermédio de seitas, se impõe pela violência e pelo terror? Em que parte da terra a Bíblia é usada como pretexto para matar, para massacrar, para… governar? É curioso que diante de atos bárbaros como o que se viu na França, a primeira inclinação da imprensa ocidental também seja demonstrar que o Islã é pacífico. Desculpem-me a pergunta feita assim, a seco: ele é “pacífico” onde exatamente?
Em que país islâmico, árabe ou não, os adeptos dessa fé entendem que os assuntos de Alá não devem se misturar com os negócios de estado? À minha moda, sou também um fundamentalista: um fundamentalista da democracia. Por essa razão, sempre que me exibem a Turquia como exemplo de um país majoritariamente islâmico e democrático, dou de ombros: não pode ser democrático um regime em que a imprensa sofre perseguição de caráter religioso — ainda que venha disfarçada de motivação política, não menos odiosa, é claro!
Cabe às autoridades islâmicas, das mais variadas correntes, fazer um trabalho de combate à “islamofobia”. E a fobia será tanto menor quanto menos o mundo for aterrorizado por fanáticos. Ora, não é segredo para ninguém que o extremismo islâmico chegou ao Ocidente por intermédio de “escolas” e “centros de estudo” que fazem um eficiente trabalho de doutrinação, que hoje já não se restringe a filhos de imigrantes. A pregação se mistura à delinquência juvenil, atraída — o que é uma piada macabra — pela “pureza” de uma doutrina que não admite dúvidas, ambiguidades e incertezas.
Ainda voltarei, é evidente, muitas vezes a esse assunto, mas as imposturas vão se acumulando. Há, sim, indignação com o ocorrido, mas não deixa de ser curioso que a imprensa ocidental tenha convocado os chargistas a uma espécie de reação. Sim, é muito justo que estes se sintam especialmente tocados, mas vamos com calma! O que se viu no “Chalie Hebdo” não foi um ataque ao direito de fazer desenhos, mas ao direito de ter uma opinião distinta de um primado religioso que, atenção!, une todas as correntes do Islã.
É claro que um crente dessa religião tem todo o direito de se ofender quando alguém desenha a imagem do “Profeta” — assim como me ofendo quando alguém sugere que Maria não passava de uma vadia, que inventou a história de um anjo para disfarçar uma corneada no marido. Ocorre que eu não mato ninguém por isso! Ocorre que não existem líderes da minha religião que excitam o ódio por isso. Se um delinquente islâmico queima uma Bíblia, ninguém explode uma bomba numa estação de trem.
E vimos, sim, a reação dos chargistas, mas, como todos percebemos, quase ninguém se atreveu a desenhar a imagem do “Profeta” — afinal de contas, como sabemos, isso é proibido, não é? Que o seja em terras islâmicas, isso é lá problema deles, mas por que há de ser também naquelas que não foram dominadas pelos exércitos de Maomé ou de onde eles foram expulsos?
Tony Barber, editor para a Europa do “Financial Times”, preferiu, acreditem, atacar o jornal francês. Escreveu horas depois do atentado: “Isso [a crítica] não é para desculpar os assassinos, que têm de ser pegos e punidos, ou para sugerir que a liberdade de expressão não deva se estender à sátira religiosa. Trata-se apenas de constatar que algum bom senso seria útil a publicações como ‘Charlie Hebdo’ ou ‘Jyllands-Posten’ da Dinamarca, que se propõem a ser um instrumento da liberdade quando provocam os muçulmanos, mas que estão, na verdade, sendo apenas estúpidos”.
Barber é um vagabundo moral, um delinquente, e essa delinquência se estende, lamento, ao comando do “Financial Times”, que permitiu que tal barbaridade fosse publicada. Alguém poderia perguntar neste ponto: “Mas onde fica, Reinaldo, o seu compromisso com a liberdade de expressão se acha que o texto de Barber deveria ser banido do FT?”. Respondo: a nossa tradição, que fez o melhor do que somos, não culpa as vítimas, meus caros. Barber usa a liberdade de expressão para atacar os fundamentos da… liberdade de expressão.
Todas as religiões podem ser praticadas livremente nas democracias ocidentais porque todas podem ser igualmente criticadas, inclusive pelos estúpidos. Mas como explicar isso a um estúpido como Barber, um terrorista que já está entre nós?
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