terça-feira, 4 de março de 2025

Em 2026, nem Bolsonaro, nem Lula vão estar na competição eleitoral: artigo de Augusto de Franco sobre a rejeição do petismo

 Recentemente, o Estadão fez um editorial congratulando-se que nem Bolsonaro, nem Lula seriam realmente competitivos em 2026. Talvez, mas ainda não superamos a bipolaridade lulopetismo-bolsonarismo no Brasil.

Augusto de Franco republicou um artigo de 2022, sobre as razões da rejeição do petismo pela população brasileira. Reproduzo aqui abaixo: 

Por que o petismo irritou as pessoas

Deixando-as vulneráveis ao bolsonarismo


Publicado originalmente em Dagobah 09/08/2022. Reeditado em 04/03/2025.

Para começar essa conversa é necessário entender que a PPA (População Politicamente Ativa) não é composta por quem vota ou comparece a comícios como plateia (sobretudo num país onde o voto é obrigatório e há forte clientelismo) e sim por quem interage politicamente na esfera pública (presencial ou virtualmente), seja – entre outras coisas – emitindo opiniões, articulando ou participando ativamente de manifestações, assinando declarações, fazendo campanha eleitoral ou experimentando mudanças nas relações entre as pessoas em localidades, setores de atividade e organizações.

Revista ID é uma publicação apoiada pelos leitores. Para receber novos posts e apoiar meu trabalho, considere tornar-se uma assinatura gratuita ou uma assinatura paga.

É possível que os simpatizantes de Bolsonaro na PPA sejam em número igual ou maior aos simpatizantes de Lula, pois a parcela da PPA que ganha até dois salários mínimos (faixa de renda da população que dá vantagem à Lula nas pesquisas de opinião) é pequena.

Sim, a faixa de renda do eleitorado que dá vantagem à Lula nas pesquisas de opinião é a de quem ganha até 2 salários mínimos. Se Lula perder a vantagem que tem nessa faixa, talvez empate com Bolsonaro.

O fato é que há uma nova PPA no Brasil. Boa parte dessa PPA surgiu a partir de uma insatisfação difusa com o sistema (2013), traduziu-se politicamente como rejeição ao petismo (2014-2016) e foi então reacionarizada pelo bolsonarismo (2017 aos nossos dias).

Bolsonaro, provavelmente, não tem – como opção positiva – os 30% dos votos que lhe atribuem a maioria das pesquisas eleitorais. Ainda há nesse bolo muito de antipetismo. Muitos preferem Bolsonaro, mesmo sabendo que ele ruim, porque não querem a volta do PT. Aliás, como dissemos acima, o bolsonarismo nasceu – juntamente com uma insatisfação com o sistema – do antipetismo, depois cavalgado pela extrema-direita.

Mas contribuiu muito para o antipetismo o chamado lavajatismo. Não sem razão. Na cruzada de limpeza ética estimulada pela Lava Jato (mas que, na verdade, começou bem antes, a partir das reações políticas e judiciais aos crimes cometidos pela dupla Waldomiro-Dirceu – que logo se desdobrou no mensalão), três presidentes do PT foram presos. Três tesoureiros do PT foram presos. Cinco secretários do PT foram presos. Os líderes do PT na Câmara dos Deputados e no Senado foram presos. A presidente petista da república sofreu impeachment. E um ex-presidente da república foi preso. Além disso, os presidentes da Petrobrás, dos Correios, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, da Eletrobrás, da Nuclebrás, da Valec e do BNDES foram presos. Ainda que o PT tente dizer que tudo isso foi uma grande conspiração “das elites” (de direita) contra “o povo” (representado pelo partido), não cola. Teria de ser a maior conspiração da galáxia para inventar do nada tanta corrupção (e, além disso, houve confissão e dinheiro de roubo devolvido).

Há ainda muito antipetismo. Mas só há antipetismo porque houve (e há) petismo. É o óbvio, que entretanto precisa ser repetido.

Pois bem. O que é o petismo? E por que uma extensa parcela que se tornou politicamente ativa da população rejeitou esse tipo de comportamento político chamado de petismo?

O comportamento petista irritou as pessoas a ponto de predispô-las a passarem da condição de população politicamente passiva para a condição de população politicamente ativa. Não irritou as pessoas apenas intelectualmente (por discordância ou dessintonia com o que pensam). Irritou-as emocionalmente. E como a emoção é sempre o gatilho da ação, elas resolveram agir, com os meios de que dispunham. E a proliferação e a disponibilização das mídias sociais forneceu, em parte, esses meios, sobretudo para quem ganha mais de dois salários mínimos e, em especial, para quem ganha mais de cinco salários mínimos. Quem ganha até dois salários mínimos continuou apenas votando e, eventualmente, participando de comícios como platéia – o que não caracteriza uma população politicamente ativa.

Em seguida listamos, como exemplos, alguns fatores alergênicos que podem explicar porque o petismo irritou as pessoas a ponto de deixá-las vulneráveis ao bolsonarismo.

O espírito militante patrulhador e a intolerância (com quem pensa diferente)

Muito antes de termos o desprazer de encontrar os novos militantes bolsonaristas, tivemos contato com os militantes petistas. É claro que os militantes bolsonaristas são muito mais insuportáveis do que os petistas – sobretudo porque são mais ignorantes e mais propensos a acreditar em narrativas parabólicas conspirativas. Mas todo militante é parecido.

Militantes, não importa a causa, são seres protegidos da verdade (ou seja, não adianta discutir com eles). Porque sempre estão em guerra contra alguém ou alguma coisa (e na guerra a primeira vítima é, via-de-regra, a verdade). Aliás, a palavra militante vem do latim militantia, de militans, particípio de militare, “servir como soldado”, de miles, “soldado”.

Pois bem. O militante petista foi o primeiro agente de uma espécie de jihadismo ostensivo (conquanto, em geral, não-violento) com o qual a maioria de nós teve contato. O contato mais desagradável com o militante petista é o da patrulha. Você fala ou escreve alguma coisa discordando de qualquer posição petista e pronto: lá vem a chusma patrulhá-lo.

A patrulha petista original não é exatamente igual ao atual cancelamento. Seu objetivo é a dissuasão. Se depois de emitir um juízo fora da “linha justa” você é patrulhado, pensará duas vezes antes de recalcitrar. Com o tempo, porém, a patrulha petista foi ficando parecida com o cancelamento bolsonarista. E, no que tange aos setores identitaristas pertencentes ao PT, ficou até pior (basta ver o que fizeram com o Antônio Risério).

A patrulha, porém, não é o único fator alergênico do comportamento petista. Há também a perseguição, sobretudo aos que já pertenceram aos quadros petistas, que são tratados como traidores e viram inimigos. Nesse particular o PT segue a máxima autocrática de destruir os inimigos privando-os dos recursos necessários à consecução de seus projetos e, até mesmo, das condições de sobrevivência. O sujeito nessa situação vira um pária em todos os meios em que o PT tem influência: é excluído de várias atividades, postos ou cargos universitários (sobretudo nas federais e nas áreas de humanas), nas iniciativas culturais e artísticas em geral, não recebe mais convites para palestras e consultorias feitos por empresas onde simpatizantes do PT tenham assento nos conselhos de administração ou na diretoria, é escanteado em veículos de comunicação e excluído as articulações de organizações da sociedade civil hegemonizadas pelo partido.

Em particular, pessoas que pretendem fazer carreira na área cultural – artística, intelectual e até jornalística – dificilmente resistem à pressão “ambiental” do PT. O propósito do neopopulismo lulopetista é transformar toda a população (ou, pelo menos, a sua maioria) em simpatizante do partido. Quem não se torna simpático sofre retaliações indiretas, tendo mais dificuldade para prosseguir na sua carreira e vai ficando sem meios para realizar os seus projetos. Perde financiamentos, perde audiência, é preterido ou ignorado por seus pares, não é convidado para eventos, é recusado por editoras, não é contratado para prestar serviços. Isso está voltando agora com força na campanha de 2022. É como se o normal ou natural fosse apoiar Lula. Quem não apoia – mesmo que seja contrário a Bolsonaro – é porque tem algum problema: quem sabe é um bolsonarista enrustido, um direitista envergonhado, alguém com algum interesse escuso ou, simplesmente, um egoista que só pensa em si e está pouco se lixando para o povo.

A condenação moral de quem não segue o partido

Isso é curioso. A militância petista acha-se mais ética ou com mais senso moral do que todos os outros setores políticos. É arrogante. E essa arrogância irrita os demais atores.

Como já escrevi no artigo Não há nenhuma superioridade moral em ser de esquerda, “a esquerda acredita que é melhor, não apenas politicamente, mas também moralmente, porque tem objetivos mais generosos. Transformando a política de uma questão de modo (modo de regulação de conflitos) em uma questão de lado (de quem está do lado certo, o único moralmente justificável por seus excelsos propósitos), a esquerda acha-se moralmente superior. Isso justifica, de antemão, tudo o que fazemos “nós”, contra tudo o que fazem “eles”. Pertencer ao “nós” é moralmente superior a pertencer ao “eles”. Porque é estar do “lado certo” da história, não do “lado errado”, onde estão “eles”. Por que isso é um problema? Porque, pensando e agindo de acordo com essas crenças, a esquerda passa a discriminar quem não é de esquerda. Só quem presta, ou quem presta mais, é de esquerda”. Ora, quem é discriminado fica irritado e, muitas vezes, ressentido. Só fica esperando uma oportunidade para dar o troco.

Quando acusava FHC e os tucanos de serem neoliberais, o PT não parava aí. Dizia que eles eram neoliberais porque, no fundo, eram fascistas ou neocolonialistas ou vendidos ao imperialismo norte-americano. E, segundo boa parte da militância petista intolerante, faziam tudo isso porque eram moralmente inferiores.

A incapacidade de reconhecer os próprios erros

Ecoando a letra do hino do partido comunista alemão – que dizia numa estrofe infame: “o Partido, o Partido, o Partido, tem sempre razão” – o PT nunca reconhece um erro, falha ou malfeito. A culpa é sempre dos adversários ou dos inimigos.

Depois de ter depositado seus ovos dentro da carcaça podre do velho sistema político, de ter se aliado ao que havia de mais corrupto na política, de ter chafurdado no mensalão e no petrolão, o PT não foi capaz de fazer uma autocrítica, de se desvencilhar de sua direção corrupta e não aceitou o processo constitucional do impeachment qualificando-o como golpe. Não satisfeito, o PT passou a acusar os que não fizeram a campanha de Haddad e não votaram nele em 2018, pela vitória de Bolsonaro. E continua até hoje com essa cantilena. Que irrita demais.

O hegemonismo

O hegemonismo é uma exacerbação do majoritarismo (a soberania da vontade da maioria), próprio da concepção política do neopopulismo. No caso do lulopetismo, o hegemonismo é uma espécie de espírito Highlander (“Só pode haver um”). O partido-Príncipe é o dono da verdade, o professor de Deus. É o PT FIRST: o hegemonismo petista como um trumpismo com o sinal trocado.

Imaginando que democracia seja, fundamentalmente, soberania popular, o PT faz um raciocínio simples, primário e incorreto: se nós somos os legítimos (ou mais legítimos) representantes do povo, o “verdadeiro povo” (the true people – composto pelos que seguem o líder do partido), então nós somos a verdadeira democracia (traduzida como uma sociedade menos desigualitária e mais justa). Ou melhor, uma sociedade menos desigualitária e mais justa só poderá se estabelecer quando nós hegemonizarmos todos os processos da vida social, a começar pelas instituições estatais, passando pelos corporações sindicais e movimento sociais, até chegar às diversas formas de sociabilidade.

O hegemonismo exige o alinhamento de posições em todo lugar, seja a família, a escola, a igreja, a organização da sociedade civil, o órgão estatal e, se possível, a empresa. Isso gera uma espécie de proselitismo evangelizador por parte da militância e da “simpatizância” que também irrita as pessoas, porque ninguém gosta de se sentir errado (ou de ser acusado de estar errado). E, para o PT, quem não é do PT ou não apoia o PT (ou seus satélites da esquerda) está sempre errado.

Na campanha eleitoral de 1982 o PT dizia: “Vote no 3, que o resto é burguês” (3 era o número do partido na ocasião). Claro que o partido amadureceu do ponto de vista de estratégia e tática eleitorais. Mas pedaços desse “DNA” remanesceram nos discursos atuais de campanha (quase 40 anos depois).

O tratamento instrumental dos aliados

O PT faz alianças, diz-se, não sem razão, apenas para ficar mais forte e, não raro, matar os aliados ao final. Todo mundo que já negociou com o PT, no parlamento, para a montagem de chapas de candidatos ou no movimento social, sabe da dificuldade do PT de ter uma visão não-instrumental das alianças (entendendo que fazer composições é o correto numa democracia). Não. O PT, via de regra, tem que estar na cabeça ou no comando de qualquer articulação. Se é para fazer uma frente ampla em defesa da democracia, até para evitar um golpe de Estado que alardeie como iminente, o que o PT propõe é que todos apoiem o seu candidato (jamais passando pela sua cabeça propor um futuro governo de coalizão democrática).

Depois disso, quem – não sendo petista – pode confiar plenamente no PT?

A contradição evidente de se dizer democrata mas apoiar ditaduras

Todo mundo que tem dois neurônios (funcionando) sabe que existem coisas que democratas não podem fazer. Por exemplo, desculpar a ditadura de Cuba (dizendo que todo o problema é o bloqueio dos EUA). Ou defender (justificar ou não condenar abertamente) ditaduras como a da Venezuela, da Nicarágua e de Angola. Ou, ainda, não condenar claramente a guerra de conquista da Ucrânia movida por Putin (dizendo que ele está apenas se defendendo da expansão da OTAN). Por último, justificar as tentativas de anexação da Ucrânia pela ditadura russa e de Taiwan pela ditadura chinesa em nome de combater “o imperialismo norte-americano”.

Com efeito, o PT apoiou o bolivarianismo de Chávez, continuou apoiando Maduro mesmo quando já estava claro que a Venezuela havia virado uma ditadura, e fez o mesmo com o sandinismo de segunda geração de Daniel Ortega na Nicarágua, outra ditadura. Sempre apoiou os irmãos Castro, ditadores de Cuba. E foi um dos responsáveis pela articulação da via neopopulista de usar a democracia contra a democracia, adotada por todos esses já mencionados (com exceção dos cubanos, que não querem ouvir falar de eleição) e por Correa no Equador, por Evo na Bolívia, por Funes em El Salvador, por Lugo no Paraguai, por Zelaya em Honduras, por Cristina e Fernandez na Argentina, por Obrador no México etc.

O que garante, às pessoas que não concordam com o PT, que – uma vez novamente no poder – o PT não reeditará uma prática de apoio às ditaduras amigas?

O caráter i-liberal (ou não-liberal) do projeto petista

Aqui encontramos uma consequência da concepção e da prática da política como uma continuação da guerra por outros meios: o famoso “Nós” (o povo) contra “Eles” (as elites). Sim, aquelas “elites que nos governam desde Cabral” – como ficou rouco de repetir Lula em seus discursos.

As elites aqui não são definidas sociologicamente e sim ideologicamente. Elites são todos os que não estão com o partido e com seu líder supremo. Muito antes de Bolsonaro, isso foi introduzido pelo PT. O paroxismo dessa praxis foi a campanha de reeleição de Dilma em 2014. A partir dali o “Nós” contra “Eles” pervadiu a sociedade toda, chegando inclusive às famílias, aos namoros e aos grupos de amigos.

Bem, isso leva claramente a uma postura i-liberal ou não-liberal, que pode ser assim caracterizada:

Em vez de achar normal que a sociedade esteja dividida entre muitas – e às vezes transversais – clivagens, o PT acha que a sociedade está dividida por uma única clivagem, separando a vasta maioria (o povo) das elites.

Em vez de avaliar que a melhor maneira de lidar com essas clivagens é por meio de um debate aberto e livre, sob uma cultura política que valoriza a moderação e a busca do consenso (sem elidir os dissensos), o PT acha que a polarização (povo x elites) deve ser encorajada. Os representantes do povo (que são os atores legítimos ou mais legítimos) não devem fazer acordos (a não ser táticos) ou construir consensos (idem) com os representantes das elites (posto que estes são ilegítimos ou menos legítimos) e sim buscar sempre suplantá-los, fazendo maioria em todo lugar (majoritarismo e hegemonismo).

Em vez de ressaltar que o Estado de direito e os direitos das minorias (inclusive das minorias políticas) precisam ser respeitados, o PT pensa que as minorias políticas (antipopulares) não devem ser toleradas (e devem ser deslegitimadas) quando impedem a realização das políticas populares; e, além disso, acha – embora não o declare – que a legalidade institucional (erigida para servir às elites) não deve ser respeitada (a não ser por razões táticas, de não ficar em posição ilegal) quando se contrapõe aos interesses do povo.

Os três parágrafos acima compõem uma definição, por contraposição, entre uma postura liberal em termos políticos e uma postura populista (i-liberal ou não-liberal). Mesmo que as pessoas, em sua imensa maioria, não entendam as diferenças conceituais entre um comportamento liberal e um comportamento populista, i-liberal ou não-liberal, elas são capazes de perceber os efeitos nocivos da guerra fria (“nós contra eles”) insuflada pelo populismo.

Acontece que as pessoas, em geral, não gostam de transformar a convivência social, seja na família, nos grupos de amigos, nos namoros, nas escolas e universidades, nas igrejas e nas organizações da sociedade e no trabalho, em uma disputa adversarial divisiva e estiolante. Quando tudo é luta, luta, luta, qualquer ambiente torna-se insuportável.

A estratégia do neopopulismo lulopetista

O PT jamais anunciou uma estratégia pronta e acabada. Mas é possível compor suas concepções e práticas de sorte a ter um retrato dessa estratégia. Vejamos alguns exemplos:

O PT sempre defendeu o controle partidário-governamental (disfarçado de social ou civil) dos meios de comunicação e da internet. Frequentemente hostilizou a imprensa livre (inclusive a Rede Globo, como faz atualmente o bolsonarismo). Enquanto isso, o PT montou e financiou um rede suja de sites e blogs para detratar seus adversários transformando-os em inimigos. Montou milícias virtuais (os MAVs), promoveu cursos e editou um manual com táticas para a guerrilha na internet. Mas tem mais.

O PT tentou instituir a participação assembleísta e conselhista arrebanhada e controlada por “movimentos sociais” que atuam como correias-de transmissão do partido para cercar a institucionalidade vigente e subordinar a dinâmica social à lógica do Estado aparelhado. Sim, o PT aparelhou o Estado com seus militantes em uma proporção jamais vista até então.

O PT defendeu a partidocracia (voto em lista pré-ordenada, fidelidade partidária e financiamento exclusivamente estatal dos partidos), querendo manter o oligopólio dos incluídos na política para bypassar o processo legislativo.

Havia no PT, recentemente (em 2016), quem quisesse até mudar os currículos das academias militares e alterar o processo de promoção de oficiais das forças armadas privilegiando aqueles com compromisso nacionalista.

O PT defendeu, nos idos de 2013-2014, um plebiscito para convocar uma Constituinte exclusiva de reforma política favorável aos interesses hegemonistas do partido.

A estratégia do PT visava – ao que tudo indica – mudar homeopaticamente o genoma do regime democrático. Previa estabelecer uma hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado controlado pelo partido com o fito de nunca mais sair do governo (ou nele se delongar indefinidamente).

Muitas pessoas – mesmo as que não eram estudiosas da política ou não tinham grande experiência política – sentiram que isso não poderia ser coisa boa. Observando o comportamento do PT e de seus principais aliados internacionais, desconfiaram que, uma vez tendo alcançado o poder pelo voto, o PT não sairia facilmente do poder apenas pelo voto.

Não estavam erradas. Nenhum partido populista sai facilmente do poder apenas pelo voto. Como escrevi no artigo linkado na frase anterior, “Orbán saiu? Não, foi reeleito. Erdogan saiu? Não, foi reeleito. Modi saiu? Não, foi reeleito. Putin saiu? Não, foi reeleito. À direita, Trump é a única exceção, mas deslegitimou a vitória de Biden. [Vejamos agora à esquerda]. Ortega saiu? Não, foi reeleito n vezes. Chávez e Maduro sairam? Não, um morreu e o outro, seu sucessor, foi reeleito n vezes. Correa saiu? Não, emplacou seu sucessor Moreno. Evo saiu? Não, foi reeleito n vezes até que sofreu um golpe parlamentar. Zelaya saiu? Não, foi preso. Lula e Dilma sairam? Não, Lula fez sua sucessora Dilma, que sofreu impeachment. Lugo saiu? Não, sofreu impeachment. Funes saíu? Não, fez seu sucessor, Salvador Cerén, da mesma Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional. À esquerda, Cerén (El Salvador) é a única exceção (já que Cristina não conta ao não ter conseguido emplacar Scioli seu sucessor, pois estava em transição do velho populismo peronista para o neopopulismo contemporâneo). Com as exceções, mencionadas acima, que confirmam a regra, nenhum partido que abrigava esses populistas saiu do governo apenas pelo voto.

Aí as pessoas pensam. Vamos votar no Lula para nos livrar de Bolsonaro. Tudo bem. Mas… e depois? Como vamos tirar o PT do poder apenas pelo voto?

Conclusão

Bem… tudo isso irritou, contrariou e deixou ressentidas muitas pessoas que engrossaram o antipetismo. Ou seja, o antipetismo não caiu da árvore dos acontecimentos, nem veio de Marte ou de Vênus. Ele tem uma fonte inequívoca: o petismo! Irritadas, parte dessas pessoas aderiu a qualquer alternativa capaz de evitar a continuidade do petismo ou o seu retorno ao centro do palco. Como, num primeiro momento, não havia alternativa democrática, permaneceram contrariadas, algumas até negando a política. E, em alguma medida, ressentidas. Infelizmente, a alternativa antipetista que surgiu foi o lavajatismo seguido do bolsonarismo (é simbólico que a famosa República de Curitiba tenha virado, sem a menor cerimônia, comitê eleitoral de Bolsonaro). As pessoas ficaram então vulneráveis à alternativas antidemocráticas. Vulneráveis, elas se deixaram capturar.

Não estou falando, porém, de todas as correntes que compõem o bolsonarismo. Estou falando apenas do antipetismo, que nem é uma corrente de opinião, uma força política organizada ou em organização e sim uma predisposição para aderir a qualquer movimento que surgiu se opondo ao petismo.

Revista ID é uma publicação apoiada pelos leitores.



Um plebiscito resolve a questão do Donbas? - Marcelo Guterman

 Um plebiscito resolve a questão do Donbas?

Fronteiras entre os países sempre foram algo disputável. Afinal, o que define uma fronteira?

Durante séculos, fronteiras entre reinos e países foram estabelecidas e reestabelecidas, seja na base da negociação comercial, seja na base da guerra. Aqui mesmo na América do Sul, ainda temos disputas territoriais entre Venezuela e Suriname, entre Chile e Bolívia, entre Argentina e Grã-Bretanha e entre a Argentina e o Chile. Com exceção do área do Essequibo, todas as outras disputas envolvem pequenas áreas ou rios. Mas não deixam de ser disputas.

Blog do Marcelo Guterman é uma publicação apoiada pelos leitores. Para receber novos posts e apoiar meu trabalho, considere tornar-se uma assinatura gratuita ou uma assinatura paga.

O último grande redesenho de fronteiras se deu após a queda do muro de Berlim, quando as ex-repúblicas soviéticas se separaram da mãe Rússia e se tornaram países independentes. O desenho das fronteiras atuais da Ucrânia foram estabelecidas em seu decreto de independência, de agosto de 1991, e não foram contestados, à época, pela Rússia. Um referendo popular, em dezembro do mesmo ano, aprovou a independência. O mapa abaixo mostra o apoio à independência, que ganhou em todos as regiões, inclusive no Donbas e na Crimeia. Nesta última, o apoio foi mais apertado, com 54% de aprovação e baixo comparecimento às urnas, mas, mesmo assim, houve aprovação. Na região do Donbas, o apoio foi superior a 80%.

Há quem defenda que se faça um referendo na região do Donbas para que a população se manifeste. São duas questões aqui. A primeira se refere às condições objetivas para a realização de um referendo justo, em um território ocupado por forças russas. Efetivamente foi realizado um em 2014 e outro em 2022, mas seus resultados, como pode se imaginar, foram fortemente influenciados pela pressão dos rebeldes separatistas e das forças militares e paramilitares russas estacionadas na região.

A segunda questão, no entanto, é mais importante. Todo país tem suas divisões internas. As regiões se distinguem umas das outras de vários modos. Imagine se, a cada discordância, as regiões resolvessem se separar do país. Por exemplo, não seria surpreendente se a separação do São Paulo do restante do País fosse aprovada em um plebiscito no Estado. Seria legal? Ou tal tentativa de separação seria combatida militarmente pelo governo federal? Em 1932 não houve tentativa de separação, mas as forças federais entraram em guerra civil contra as forças paulistas por muito menos.

No caso da Ucrânia, houve um referendo fundacional, que estabeleceu as suas fronteiras. A partir daí, não pode haver mais discussão sobre este assunto, a não ser na base da força, como ocorreu na região da Crimeia e ocorre agora na região do Donbas. Os cidadãos do Donbas aprovaram a sua incorporação à Ucrânia na sua fundação, e agora fazem parte da unidade territorial ucraniana. Colocar em dúvida de maneira permanente as fronteiras de um país não é compatível com qualquer estabilidade institucional. Ainda mais, como sabemos, quando o grupo rebelde é alimentado pela força estrangeira que deseja incorporar o território.

Assim, a solução simplista "vamos fazer um plebiscito e seguir a vontade da população" já foi adotada em 1991, e não há motivo para que seja feito novamente. Ainda mais sob a mira de fuzis.

Blog do Marcelo Guterman é uma publicação apoiada pelos leitores. 

Quem é Walter Salles, bilionário e diretor de ‘Ainda Estou Aqui’ - Mafê Firpo (Revista Veja)

 Quem é Walter Salles, bilionário e diretor de ‘Ainda Estou Aqui’

Cineasta está entre os mais bem pagos do mundo

Por Mafê Firpo 

 Revista Veja, 25 jan 2025, 19h00    

 

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/veja-gente/quem-e-walter-salles-bilionario-e-diretor-de-ainda-estou-aqui

 

.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-

Diretor de Ainda Estou Aqui é bilionário. Conheça história de Walter Salles


Em evidência atualmente por seu trabalho como o diretor de Ainda Estou Aqui, Walter Salles é conhecido por sua longa história relacionada ao cinema nacional. Desde sua estreia em 1991 com A Grande Arte, ele já se destacou por filmes como Central do Brasil (1998), Abril Despedaçado (2001) e Diários de Motocicleta (2004), entre outros.

 

Nascido em abril de 1956 no Rio de Janeiro, o cineasta teve um privilégio que até hoje é raro para a população brasileira, tendo estudado cinema na Universidade do Sul de Califórnia, em Berkley. Essa oportunidade, bem como a chance de dedicar uma vida inteira à arte, está muito ligada à sua origem como herdeiro de Walter Moreira Salles, um dos fundadores do Itaú Unibanco.

Diretor de Ainda Estou Aqui é um dos brasileiros mais ricos da atualidade

A ligação do diretor com o banco privado mais bem-sucedido do país faz com que ele já tenha aparecido várias vezes na Forbes como um dos brasileiros mais ricos do mundo. Uma estimativa recente coloca sua fortuna na casa dos US$ 4,2 bilhões (R$ 25,7 bilhões), graças ao patrimônio que compartilha com os irmãos Pedro Moreira Salles e João Moreira Salles.

A família Salles possui 100% das ações da Cia. E. Johnston de Participações, que é dona de 33,47% das ações do Itaú Unibanco Participações que, por sua vez, tem 26,1% do Itaú Unibanco. Em outras palavras, ele está em uma posição financeira confortável na qual pode se dedicar à produção de suas obras sem sofrer grandes pressões.

Também formado em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), ele dedicou toda a sua carreira profissional ao cinema, tendo produzido algumas das obras audiovisuais mais reconhecidas e aclamadas das últimas décadas. Ele inclusive tem seu nome marcado como o produtor de Cidade de Deus, longa de Fernando Meirelles que é considerado bastante influente em nível global.

Enquanto parte de sua fortuna pessoal sem dúvida é resultado dos sucessos comerciais de seus longas-metragens, a maior parte dela realmente está ligada às ações que possui do Itaú Unibanco. Graças a elas, ele é atualmente considerado o terceiro diretor mais rico do mundo, ficando atrás de Steven Spielberg (US$ 5,3 bilhões) e George Lucas (US$ 5,2 bilhões).

Filme do diretor foi indicado ao Oscar

A situação única de Walter Salles, combinada com a influência e conexões que ele conquistou com o passar dos anos, inclusive foi um fator determinante na criação de Ainda Estou Aqui. O longa-metragem não usou qualquer espécie de dinheiro público ou programa de incentivo em sua criação, sendo financiado de forma privada junto a parceiros franceses.

 

Diretor de Ainda Estou Aqui é bilionário? Conheça história de Walter Salles


Em evidência atualmente por seu trabalho como o diretor de Ainda Estou Aqui, Walter Salles é conhecido por sua longa história relacionada ao cinema nacional. Desde sua estreia em 1991 com A Grande Arte, ele já se destacou por filmes como Central do Brasil (1998), Abril Despedaçado (2001) e Diários de Motocicleta (2004), entre outros.

 

Nascido em abril de 1956 no Rio de Janeiro, o cineasta teve um privilégio que até hoje é raro para a população brasileira, tendo estudado cinema na Universidade do Sul de Califórnia, em Berkley. Essa oportunidade, bem como a chance de dedicar uma vida inteira à arte, está muito ligada à sua origem como herdeiro de Walter Moreira Salles, um dos fundadores do Itaú Unibanco.

Diretor de Ainda Estou Aqui é um dos brasileiros mais ricos da atualidade

A ligação do diretor com o banco privado mais bem-sucedido do país faz com que ele já tenha aparecido várias vezes na Forbes como um dos brasileiros mais ricos do mundo. Uma estimativa recente coloca sua fortuna na casa dos US$ 4,2 bilhões (R$ 25,7 bilhões), graças ao patrimônio que compartilha com os irmãos Pedro Moreira Salles e João Moreira Salles.

A família Salles possui 100% das ações da Cia. E. Johnston de Participações, que é dona de 33,47% das ações do Itaú Unibanco Participações que, por sua vez, tem 26,1% do Itaú Unibanco. Em outras palavras, ele está em uma posição financeira confortável na qual pode se dedicar à produção de suas obras sem sofrer grandes pressões.

Também formado em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), ele dedicou toda a sua carreira profissional ao cinema, tendo produzido algumas das obras audiovisuais mais reconhecidas e aclamadas das últimas décadas. Ele inclusive tem seu nome marcado como o produtor de Cidade de Deus, longa de Fernando Meirelles que é considerado bastante influente em nível global.

Enquanto parte de sua fortuna pessoal sem dúvida é resultado dos sucessos comerciais de seus longas-metragens, a maior parte dela realmente está ligada às ações que possui do Itaú Unibanco. Graças a elas, ele é atualmente considerado o terceiro diretor mais rico do mundo, ficando atrás de Steven Spielberg (US$ 5,3 bilhões) e George Lucas (US$ 5,2 bilhões).

Filme do diretor foi indicado ao Oscar

A situação única de Walter Salles, combinada com a influência e conexões que ele conquistou com o passar dos anos, inclusive foi um fator determinante na criação de Ainda Estou Aqui. O longa-metragem não usou qualquer espécie de dinheiro público ou programa de incentivo em sua criação, sendo financiado de forma privada junto a parceiros franceses.


Tributo a Maurício David, por Paulo Roberto de Almeida: unidos no amor à leitura e ao conhecimento

Uma homenagem que fiz a meu amigo Maurício David, no final de 2024, que continua a ser o meu grande e preciso abastecedor de todas as boas matérias de imprensa que estão no âmago de minha reflexões sobre a política e a economia mundiais.

Brasília, 4 de março de 2025


 Tributo a Maurício David, por Paulo Roberto de Almeida: unidos no amor à leitura e ao conhecimento

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 1 de dezembro de 2024

Mensagem pessoal e postagem no Diplomatizzando

 

Transcrevo, a seguir, como forma de não perder, minha resposta de agradecimento a um envio matinal, neste domingo primeiro dia do último mês do ano de pouca graça de 2024, contendo diversas postagens sequenciais que meu grande amigo Mauricio David efetuou na sua remessa de bons materiais de leitura que ele envia religiosamente (êpa, eu continuo sendo um irreligioso) a todos os seus amigos, desta vez transcrevendo matérias que eu mesmo postei, como repositório pessoal e “biblioteca aberta” aos meus seguidores ou simples curiosos, no blog Diplomatizzando, um pequeno espaço de culto à inteligência e à resistência intelectual (contra os dogmatismos) que mantenho ativo desde 2004, ou seja, por duas décadas inteiras e que foi precedido, ou foi contemporâneo de vários outros blogs pessoais que alimentei por certo tempo.

Paulo Roberto de Almeida 

 

“Grato pela transcrição de varias postagens do meu blog Diplomatizzando, meu caro Maurício, um espaço que eu costumo chamar de “quilombo de resistência intelectual” (à imbecilidade e à burrice, geralmente presentes nas redes ditas “sociais”), mas que também pode ser visto como um espaço aberto à leitura de coisas inteligentes (na minha concepção pessoal), algumas quais vou buscar ou recebo gentilmente graças à pletora de um volume inacreditavelmente gigantesco de excelentes materiais de leitura que você oferece quase diariamente nos seus envios generosos aos amigos e destinatários. Retiro mais da metade do que posto no Diplomatizzando dos seus envios diários, o resto de assinaturas gratuitas ou pagas que eu mesmo fiz, ou de postagens de terceiros, às quais tenho acesso, esforçando-me para atribuir os devidos créditos, quando isso é possível.

Tenho, neste momento, de agradecer imenso essa sua variada, diversificada e inteligente oferta de boas leituras, aproveitando também para agradecer mais uma vez o precioso presente de que fui objeto , em Paris, onde nos conhecemos, da primeira edição da Topbooks, em um único volume encadernado (hard cover) das memórias de Roberto Campos, Lanterna na Popa, um título não condizente com a imensa importância que o genial economista-diplomata (nessa ordem) teve na formação (na vanguarda, ou seja, na proa) de tanta gente esclarecida neste país ignorante, uma pequena tribo de bem formados e bem-informados, entre os quais eu mesmo me incluo (graças ao Roberto Campos, entre outros).

Lembro-me perfeitamente (e isso foi decisivo em minha formação e itinerário intelectuais) de ter ido assistir nas Faculdades Mackenzie, em 1966, a uma palestra que ele deu sobre o PAEG. Eu era então um mero office-boy de 16 anos numa grande multinacional do centro de SP, convictamente marxista (condição a que me tinham levado minhas leituras não exclusivamente, mas essencialmente de esquerda, a que fui levado por uma precoce adesão política e leituras “sérias” logo depois do golpe de 1964). Eu entrei disposto a recusar preventivamente e dogmaticamente todos os argumentos em defesa da ditadura e do “arrocho salarial” por aquele a quem nós, esquerdistas, chamávamos depreciativamente de “Bob Fields), e acabei saindo da palestra atordoado e admirativo pelo rigor metodológico e factual de um dos mais inteligentes e esclarecidos indivíduos que “conheci” na vida, junto com Raymond Aron, San Tiago Dantas, Mauricio Tragtenberg, Rubens Ricupero, Stephen Jay Gould, David Landes, José Guilherme Merquior, Celso Lafer e poucos outros. Posso dizer que a palestra de Roberto Campis constituiu um dos marcos transformadores numa trajetória pessoal que estava destinada a ser apenas dogmaticamente esquerdista, mas que acabou ss transformando num itinerário a partir de então eclético e aberto às mais variadas leituras e absorções intelectuais.

Terminei por expressar meu reconhecimento por essa transformação tardiamente, num livro que coordenei (e escrevi mais da metade) em 2017, aos cem anos do nascimento de Roberto Campos, intitulado O Homem Que Pensou o Brasil: Trajetória Intelectual de Roberto Campos (Appris), que gostaria de lhe oferecer como agradecimento e retribuição pelas memórias dele, ganhas em 1994. 

Estou escrevendo mais um pequeno texto sobre essa loucura da “nova ordem global multipolar”, já aceita e incorporada como programa de governo e de Estado por Lula 3, invariavelmente seguido pelo bando de acadêmicos beatos que o seguem fielmente e dogmaticamente desde muito tempo. Também me preocupa muito essa outra adesão irrefletida, do Lula e dos submissos diplomatas que aceitam qualquer coisa vinda do alto, do Brics, manipulado por duas grandes autocracias que estão nas antípodas do que queremos ser como nação desenvolvida e inserida numa economia global preferencialmente liberal e democrática.

Muito grato, pois, pelo seu e-mail de 1/12/2024, quando recém começo a ler as coisas que me chegam quotidianamente.

O grande abraço do

------------------------

Sent from my iPhone

Paulo Roberto de Almeida”

Brasília, 1/12/2024

 

Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/12/uma-longa-mensagem-meu-amigo-mauricio.html)

 

Santé: Huit règles d’or pour prévenir les maladies cardiovasculaires

Santé

Huit règles d’or pour prévenir les maladies cardiovasculaires

 

Stéphane Demorand

CHRONIQUE. Les maladies cardiovasculaires sont la principale cause de décès dans le monde. L’American Heart Association a identifié huit piliers essentiels pour prendre soin de son cœur.

Publié le 03/03/2025 à 07h10

image001.png

 

Les maladies cardiovasculaires sont la première cause de décès dans le monde et la deuxième en France (après les cancers). Dans l'Hexagone, plus de 15 millions de personnes sont traitées pour une maladie cardiovasculaire mais les médicaments, s'ils sont indispensables, ne dispensent pas de veiller sur son mode de vie, bien au contraire.

Les États-Unis étant particulièrement touchés par ce fléau, l'association américaine du cœur, l'American Heart Association (AHA), avance huit précieuses recommandations pour prendre soin de ce gros muscle.

 

À LIRE AUSSI Santé cardiovasculaire des femmes : la prévention, le pied sur l'accélérateur

 

1. Avoir une alimentation équilibrée préserve le cœur

L'AHA recommande une alimentation de type méditerranéenne, riche en fruits, en légumes, en grains entiers et en protéines maigres. La réduction de la consommation de sucres ajoutés, de sel et de graisses saturées contribue aussi à améliorer la santé cardiovasculaire. Ainsi, l'AHA préconise de remplir son assiette de végétaux – sous toutes leurs formes – et de limiter la consommation de sucres rapides (gâteaux, pâtisseries, farines blanches) et de viandes trop grasses telles que le bœuf et le porc, tout en privilégiant les protéines maigres que l'on trouve dans les viandes blanches et les poissons.

2. Faire une activité physique régulière, pour l'endurance du cœur

L'exercice est essentiel pour un cœur en bonne santé. L'AHA recommande de pratiquer au moins 150 minutes d'activité physique modérée ou 75 minutes d'exercice intense par semaine. Bouger régulièrement, cela réduit le stress, permet un meilleur contrôle de la glycémie et améliore la circulation sanguine. La notion de plaisir favorise l'adhésion à long terme, choisissez une activité qui vous plaît ! 

3. Arrêter de fumer, facteur de risque essentiel des maladies cardiovasculaires

Le tabac est l'un des principaux facteurs de risque dans les maladies cardiovasculaires. Le fait d'arrêter de fumer, ou de limiter son exposition au tabagisme passif, améliore la santé du cœur et des vaisseaux sanguins. Des solutions comme les substituts nicotiniques ou l'accompagnement par des professionnels de santé augmentent les chances de succès.

4. Avoir un sommeil de qualité, pour limiter l'hypertension

Un sommeil insuffisant ou de mauvaise qualité augmente le risque d'hypertension et de maladies cardiaques. Les adultes devraient dormir entre sept et neuf heures par nuit pour préserver leur santé. Un rituel apaisant avant le coucher et un environnement propice au repos – sans écrans, avec une température de chambre agréable et pas trop chaude – favorisent un sommeil réparateur.

À LIRE AUSSI Le sommeil, clé de la guérison

5. Contrôler son poids, pour prévenir les maladies cardiaques

L'excès de poids est un facteur de risque majeur des maladies cardiaques. Un IMC situé entre 18,5 et 24,9 est idéal pour limiter les complications cardiovasculaires et améliorer le bien-être général. Associer une alimentation équilibrée à une activité physique régulière, telle est la clé pour stabiliser son poids durablement.

6. Gérer son cholestérol, pour avoir des artères propres

Un taux élevé de « mauvais cholestérol » (LDL) favorise l'obstruction des artères. Une alimentation saine et l'activité physique sont des moyens efficaces pour réguler ces niveaux et maintenir une bonne circulation sanguine. Consommer des oméga-3 (poissons gras des mers froides, noix, huile de colza) et limiter les aliments transformés, voilà de quoi contribuer à un bon équilibre lipidique.

À LIRE AUSSI Diabète : « Grâce à l'IA, j'oublie parfois ma maladie »

7. Contrôler la glycémie, pour prévenir le diabète

Un taux de sucre élevé dans le sang peut endommager les vaisseaux sanguins et favoriser les maladies cardiaques. L'adaptation de son alimentation et la pratique d'une activité physique régulière aident à prévenir le diabète et ses conséquences cardiovasculaires. Préférer des glucides complexes aux sucres rapides et maintenir une hydratation adéquate sont des gestes simples et efficaces.

8. Réguler sa pression artérielle

Une pression artérielle inférieure à 120/80 mm Hg est idéale. L'hypertension artérielle peut provoquer des complications graves comme les AVC ou l'insuffisance cardiaque. Une alimentation pauvre en sel et une bonne hygiène de vie permettent de maintenir une tension optimale. Réduire le stress et pratiquer des techniques de relaxation, comme la méditation ou le yoga, peut aussi contribuer à gérer la pression artérielle.


A luta de Eunice Paiva tornou-se a luta de dezenas de outras famílias, vítimas da ditadura militar

 Conheça a história de Eunice Paiva, que inspirou “Ainda Estou Aqui”, na defesa dos direitos humanos

Ativista contra a ditadura militar e pela memória dos mortos e desaparecidos no regime, a viúva do ex-deputado federal Rubens Paiva também se destacou na luta pelos direitos dos povos indígenas do Brasil

Agencia Gov | Via MDHC

03/03/2025 


O longa-metragem "Ainda Estou Aqui" jogou luz à luta de Eunice Paiva para obter a certidão de óbito do marido

A história da mulher que cuida de sua família após o assassinato do marido, e se torna uma referência na defesa da memória e da verdade sobre os mortos e desaparecidos na Ditadura Militar brasileira e na defesa de povos indígenas, inspirou o filme “Ainda Estou Aqui”, que venceu a premiação de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025. O legado da advogada ecoa na premiação norte-americana e já proporcionou inúmeros avanços para a consolidação dos direitos humanos.

A trajetória contada na produção audiovisual mostra um pouco do trabalho de Eunice Paiva em casos referentes aos desaparecimentos de presos políticos, e sua dedicação à proteção dos direitos indígenas e à importância da demarcação de terras. Formada em Letras após a morte do marido, o ex-deputado federal Rubens Paiva, a ativista cursou Direito aos 47 anos, e se especializou em direito indígena. No ano 1987, ela contribuiu para a fundação do Instituto de Antropologia e Meio Ambiente (Iama), uma organização da sociedade civil voltada à defesa e autonomia dos povos indígenas que atuou até o ano 2001.

Em 1988, Eunice foi consultora da Assembleia Nacional Constituinte, que promulgou a Constituição Federal brasileira. Ela também teve atuação expressiva na promulgação da Lei 9.140/1995, que “reconhece como mortas pessoas desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979, e dá outras providências”.

Já no ano 1996, Eunice presenciou a emissão do atestado de óbito oficial de Rubens Paiva, emitida pelo Estado brasileiro, depois de 25 anos de luta da ativista. Este momento está eternizado no filme Ainda Estou Aqui. No dia 13 de dezembro de 2018, ela faleceu em São Paulo, aos 86 anos, após viver 14 anos com Alzheimer.

Defesa dos povos indígenas

O trabalho de Eunice Paiva na proteção dos povos indígenas – como os habitantes da Terra Indígena Zoró (TIZ), no estado do Mato Grosso – integra as muitas contribuições da ativista para a promoção dos direitos humanos. O professor do Departamento Intercultural da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e assessor técnico da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) de Dourados (MS), Carlos Trubiliano, explicou que o povo Zoró só foi contatado no final da década de 1970 e início dos anos 1980. De acordo com o docente, das grandes nações, os Zoró estão entre os últimos que foram contatados por não indígenas. Essa população já passou por invasões, conflitos, disputa por terras e o aparecimento de doenças antes desconhecidas por eles que provocaram muitas mortes.

Segundo Trubiliano, a ativista e advogada foi figura essencial para o processo de demarcação da Terra Indígena Zoró (TIZ). “Quando a Eunice entra, ela faz todo um debate jurídico e muito articulado também com a antropóloga Betty Mindlin, com um olhar antropológico em defesa do processo de demarcação das terras indígenas Zoró”, lembra.

O professor ressaltou que Eunice foi uma pioneira ao defender a importância das populações indígenas na preservação ambiental. “Ela demonstra não só a viabilidade, mas a necessidade daquele território como algo importante para a manutenção daquela cultura; e para a preservação não só daquele povo, mas também daquele bioma”.

“O debate dela é jurídico, mas também é social e ambiental. Essa intervenção da Eunice foi fundamental porque foi essa discussão que ela faz, esse parecer técnico que ela faz, que viabiliza a demarcação do povo Zoró. Se não tivesse a demarcação, provavelmente eles seriam extintos pela marcha da história”, completa o professor.

Memória e verdade

O longa metragem concorre nas categorias Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz (Foto: Sony Pictures)

O longa metragem concorre nas categorias Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz (Foto: Sony Pictures)

O longa-metragem "Ainda Estou Aqui" jogou luz à luta de Eunice Paiva para obter a certidão de óbito do marido. Como a sua família, outras 413 esperavam, em janeiro deste ano, pela retificação nos documentos de mortos e desaparecidos políticos no período da ditadura militar no Brasil, onde deverá constar a real causa da morte. Na data, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) entrou em contato com a família do ex-deputado federal Rubens Paiva, que informou também o desejo de obter a certidão de óbito retificada junto às demais famílias dos desaparecidos políticos.

Conforme a Resolução 601 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a causa da morte nos documentos das vítimas da ditadura deverá constar como "não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964". A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) e o MDHC estão organizando solenidades para a entrega das certidões de óbito e as datas serão informadas assim que as sessões forem agendadas.

O caso Rubens Paiva

Em janeiro de 1971, no Rio de Janeiro, o ex-deputado federal Rubens Paiva foi preso, torturado e assassinado pela Ditadura Militar. Na mesma época, Eunice e a filha Eliana também foram presas. Eliana por 24 horas e Eunice permaneceu presa por 12 dias, sendo interrogada. Quando foi libertada, a ativista lutou para saber o paradeiro do marido.

Leia também:

MDHC e Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos organizam entrega de certidões de óbito a famílias de vítimas da ditadura

 

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...