segunda-feira, 24 de março de 2025

Nem o mundo, os europeus, ou os próprios americanos, ninguém merece Donald Trump - The Economist

 Putin é um cleptocrata e assassino serial, isso já sabemos. Ou seja, um perverso motivado, agindo racionalmente. Só pode ser contido pela força bruta.

Já Trump é um megalomaníaco imprevisivel, e portanto perigoso para todos, inimigos e “amigos” (mas ele não tem nenhum, só ele mesmo e o dinheiro). 

Vamos ler o que a Economist tem a dizer… PRA


THE ECONOMIST

 

A armadilha que Vladimir Putin armou para Donald Trump

O presidente russo quer sugerir que a Ucrânia é apenas um detalhe em um relacionamento maior 

Por The Economist

23/03/2025 


Eles conversaram pelo telefone por mais de duas horas, mas Vladimir Putin deixou Donald Trump sem quase nenhum resultado para mostrar — um tapa na cara que somente um homem possuidor de coragem ilimitada poderia fingir que foi uma vitória. Uma semana antes, os negociadores dos Estados Unidos e da Ucrânia concordaram com um cessar-fogo de 30 dias em um conflito que já dura mais de três anos. Trump disse que, se a Rússia não assinasse, ele poderia atingi-la com novas sanções duras. No caso, ele cedeu. Até Boris Johnson, um ex-primeiro-ministro britânico que admira Trump, declarou que Putin está “rindo de nós”.

Em vez de um cessar-fogo incondicional, Putin propôs apenas que ambos os lados parassem de atacar a infraestrutura energética um do outro, uma área em que a Ucrânia tem desferido alguns golpes pesados contra o invasor. Para que algo mais aconteça, diz o governo russo, a Ucrânia deve aceitar um congelamento na ajuda militar estrangeira e o fim do recrutamento e treinamento, embora a Rússia não proponha tais restrições a si mesma. Putin também quer uma solução para as “causas-raiz” do conflito, com o que ele realmente quer dizer o fim da existência da Ucrânia como um país independente. Essas não são as palavras de um homem que está ansioso para fazer concessões.

Os otimistas podem extrair disso um pouco de conforto. Uma pausa nos ataques a alvos de energia, acordada em uma ligação com Volodmir Zelenski, presidente da Ucrânia, é um pequeno avanço. Trump também sugeriu que as usinas nucleares passem para a propriedade americana, para sua proteção, e disse que tentaria obter alguns mísseis Patriot da Europa. Em público, ele se absteve de endossar as exigências mais severas de Putin para a Ucrânia.

O verdadeiro perigo está à frente. Putin quer que o presidente americano acredite que, como estadistas, eles têm peixes maiores para fritar do que ficar brigando por um lugar abandonado como a Ucrânia. Contanto que isso não atrapalhe, a Rússia e os EUA podem realizar quase tudo juntos. A Rússia poderia ajudar a resolver crises no Oriente Médio e além, talvez pressionando seu amigo Irã a abrir mão da bomba. O investimento americano em negócios russos, como exploração de gás no Ártico, poderia avançar. As sanções seriam suspensas e a Rússia poderia voltar a se juntar ao G7. Imagine se a Rússia fosse separada de sua “parceria sem limites” com a China. A “terceira guerra mundial”, uma preocupação constante de Trump, teria sido evitada.

Tudo isso é uma fantasia projetada para fazer Trump cair na tentação de entregar a Putin o que ele quer na Ucrânia em troca de promessas vazias. A realidade é que a Rússia agora depende mais da China do que jamais dependerá dos EUA, e não será separada dela. A influência da Rússia no Irã é limitada. A economia da Rússia é menor que a da Itália e sujeita aos caprichos de um déspota, o que significa que as oportunidades de negócios são escassas.

Pelo contrário, se em busca dessa quimera Trump aliviar a pressão que o Ocidente impôs à Rússia, os EUA perderão. Para começar, isso criará uma nova divisão entre os EUA e a Europa, que não seguirá Trump. A Ucrânia será desestabilizada, representando riscos para toda a Europa. As alianças e valores que os Estados Unidos têm defendido por décadas serão degradados, e os próprios Estados Unidos ficarão mais fracos como resultado disso. Trump pode se importar pouco com essas coisas, mas certamente ficará preocupado com o risco de parecer fraco, como seu antecessor Joe Biden fez quando o Talibã tomou conta do Afeganistão.

A ligação Putin-Trump ocorreu quando um cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos em Gaza estava se rompendo em meio a ataques israelenses. O estilo pessoal de diplomacia de Trump pode quebrar impasses, mas a pacificação parece muito cansativa e detalhada para que ele a leve adiante. O comunicado da Casa Branca sobre a ligação com a Rússia falou de “enormes acordos econômicos e estabilidade geopolítica quando a paz for alcançada”. Está claro o que Putin quer. É estranho que Trump pareça tão pronto a entregar isso a ele. 


TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL


domingo, 23 de março de 2025

Book review: o fim do colonialismo - Martin Thomas: The End of Empires and a World Remade: A Global History of Decolonization; review by Eva-Maria Muschik

O problema com a Oxfam - Paulo Roberto de Almeida

 O problema da OXFAM consiste simplesmente em atribuir as desigualdades realmente existentes à riqueza exagerada de uns poucos, como se a ambição dessa minoria fosse capaz de superar políticas públicas ordenadas ao que é realmente importante decidir: a missão mais nobre da economia política não consiste em empobrecer os mais ricos para produzir uma esperada igualdade de condições, mas sim em formular e implementar políticas educacionais suscetíveis de enriquecer os mais pobres, e assim reduzir, não eliminar, as desigualdades advindas de situações de origem amplamente diversas.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 22/03/2025

Uma constatação necessária: um genocídio "desnecessário" - Paulo Roberto de Almeida

Uma constatação necessária: um genocídio "desnecessário"

Paulo Roberto de Almeida

        Alguns dos meus amigos judeus, ou israelenses (não é a mesma coisa), vão reclamar desta minha postagem, mas vou explicitar a acusação, não ao Estado de Israel ou a seu povo (árabes e israelenses), mas ao seu atual governo FASCISTA, de claro e direto GENOCÍDIO contra o povo palestino, a pretexto de eliminar os terroristas que se imiscuíram na população dos territórios ILEGALMENTE ocupados por Israel (sim, eu sei, ao cabo de guerras deslanchadas contra o Estado judeu décadas atrás).
        O povo palestino não pode levar a culpa por alguns atentados bárbaros que algumas lideranças TERRORISTAS impuseram sobre todo o povo israelense e sobre o povo palestino.
        O povo israelense, judeus e não judeus, não pode levar a culpa pelos CRIMES CONTRA A HUMANIDADE sendo perpetrados por um CRIMINOSO DE GUERRA, que merece um julgamento ao estilo de Nuremberg, ao lado de Putin e outros assassinos.
        A humanidade não merece o que vem sendo imposto a ela por ditadores, criminosos de guerra ou por simples IMBECIS, um deles nem preciso nomear.
        O atual governo israelense está criando (pelo menos) uma geração de terroristas, mas a ONU e o sistema multilateral não conseguem fazer nada, sequer contra a maciça destruição imposta ao povo ucraniano, sequer EXPELIR os Estados terroristas da organição.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23/03/2025

Golbery do Couto e Silva foi o gênio não reconhecido da ditadura militar? - Golbery do Couto e Silva Neto e Paulo Roberto de Almeida

Golbery do Couto e Silva foi o gênio não reconhecido da ditadura militar?

Golbery do Couto e Silva Neto e Paulo Roberto de Almeida 

O neto de Golbery, em quem eu reconheço um grande intelectual, o maior das FFAA e um dos maiores do Brasil, efetuou a seguinte postagem:

Nesses 40 anos de democracia no Brasil, não se pode esquecer desse nome, general Golbery do Couto e Silva. Sem ele, é verdade, não teria ocorrido a Revolução de 1964. Contudo, sem ele, certamente, o Brasil não seria uma democracia hoje. Não sejamos ingratos. A memória é a alma de uma Nação.

Canal Golbery Neto

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Repostei, mas comentando, da seguinte forma:

“Minha opinião, que não concorda com a sua: o governo Goulart era certamente o caos, com inflação crescente e quebra de hierarquia. Militares pretensiosos, como Golbery, se empenharam, incitados por governadores ambiciosos, em mais uma intervenção no sistema político, o que fizeram desde a monarquia, criando uma República oligárquica (tanto quanto o Império), da qual se julgavam os juízes e “protetores”. Acharam que poderiam curar o sistema político brasileiro de seus males e imperfeições, ficando um pouco mais para “limpar o terreno”.

Deveriam apenas ter garantido uma continuidade do regime democrático e esperado até as eleições de 1965, mas não gostavam de JK (que sofreu tentativas de golpe). 

De fato, limparam o terreno e prepararam o Brasil para um crescimento inédito, com a ajuda da tecnocracia qualificada, mas prolongaram demais o regime de exceção, passando à arrogância do projeto Super Potência, deixando na segunda metade da ditadura apenas endividamento e hiperinflação. 

Não foi Golbery quem trouxe a democracia de volta, pois saiu antes de uma transição bem-comportada. Foi o povo e líderes políticos moderados que conduziram o processo a uma solução incompleta, pois as “invenções” políticas criadas pelos militares continuam a dificultar a modernização plena do Brasil, um país de privilégios inaceitáveis e uma representação deformada em sua essência.

Golbery foi o maior intelectual de toda a história militar do Brasil, um dos grandes da história nacional tout court, mas não podia obviamente escapar das tragédias da Guerra Fria, que não era o principal problema do Brasil, que sempre foi o da não educação das grandes massas.

Nem os melhores militares se conscientizaram disso, e o Brasil continuou a ser um país para apenas uma parte da população.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 23/03/2025

Antecipando os efeitos da guerra de agressão de Putin contra a Ucrânia - Paulo Roberto de Almeida

Antecipando os efeitos da guerra de agressão de Putin contra a Ucrânia 

Paulo Roberto de Almeida

Putin e Trump, agindo de forma coordenada ou não, estão obrigando a Europa, compulsoriamente ou de forma voluntária, a se armar novamente. Make Europe Stronger Again, esse vai ser o resultado, mas depois da destruição de metade da Ucrânia, da emigração de milhares de ucranianos e da morte de milhares de seus soldados. 

Tudo isso provocado pela ambição de um ditador frustrado — facilitado por um outro dirigente desequilibrado — que deixará como legado uma Rússia mais pobre, sancionada pelas democracias que respeitam o Direito Internacional (entre as quais o Brasil não se inclui), um vácuo superior a um milhão de baixas em suas FFAA e outras centenas de milhares de emigrados forçados, talvez para sempre. 

A Rússia de Putin e a Venezuela de Chávez-Maduro (esta, de forma progressiva, aquela mais rapidamente) destruíram seu capital humano e passarão mais de uma geração empenhadas numa difícil reconstrução nacional.

Quais são os beneficiários do atual desmantelamento do sistema multilateral dos últimos 80 anos?

A China, em primeiro lugar, da forma mais oportunista possível, a Europa em segundo lugar, de forma involuntária e malgré soi-même

E o Brasil? Vai permanecer mais ou menos no mesmo lugar, mantendo, provavelmente, a ilusão do Brics+ como supostamente representativo de um diáfano “Sul Global” (como se China e Rússia pertencessem a essa ficção geopolítica). 

A diplomacia profissional brasileira se equilibra dificilmente entre seus padrões habituais de respeito aos valores e princípios de uma doutrina respeitável, construída por grandes estadistas do passado, e a submissão a dirigentes pouco preparados para dirigir um país que não chegou a completar sua modernização integral pela via da educação de qualidade, infelizmente historicamente desleixada por elites mediocres, sem visão de futuro.

Concluo repetindo minha estrofe preferida, de um poema escrito por Mario de Andrade em 1924:

“Progredir, progredimos um tiquinho/

Que o progresso também é uma fatalidade…”

Paulo Roberto Almeida

Brasília, 23 de março de 2025


A inversão do “Fim da História” de Fukuyama, por Benn Steil (Barron’s)

 

Decades After the ‘End of History,’ Liberal Democracy Is In Retreat

(ILLUSTRATION BY EDDIE GUY)

About the author: Benn Steil is director of international economics at the Council on Foreign Relations and the author of The World That Wasn’t: Henry Wallace and the Fate of the American Century

In his influential 1992 best seller, the political scientist Francis Fukuyama argued that “history”—understood in a Hegelian or Marxist sense, to denote the development of human societies over time—had come to an end. Liberal democracy and capitalism represented the terminus of millennia of ideological evolution. Nations such as the U.S. and the member states of the European Union he termed “posthistorical,” having come to rest permanently outside the ideological boundaries of history. They had arrived at the ultimate endpoint of political and economic organization, waiting only to be joined by China, Russia, and others retreating from the historical cul de sacs of authoritarianism.

The strength of Fukuyama’s thesis has been challenged by the subsequent success of those authoritarian states, particularly China’s quasi-market system. But China’s strides away from liberal democracy and laissez-faire economic organization are only half the story. Since China’s accession to the World Trade Organization, it is difficult to escape the conclusion that the U.S. has become more like China. This is Fukuyama in reverse.

As popular demands grow for protection against the vicissitudes of foreign forces—migrants flowing in, factories flowing out—patience with invisible hands, Madisonian checks and balances, and the grinding machinery of liberal democracy plummets. Autocracy creeps in.

The spread of “end of history” thinking among the U.S. elite in the 1990s and early 2000s was striking. Presidents Bill Clinton and George W. Bush championed the view that economic integration would promote political freedom. They espoused the conviction that the internet and the attractions of free trade were irresistible forces pushing the remaining benighted “historical” nations toward liberal democracy and free markets. Future President Joe Biden welcomed China’s 2001 WTO accession “because we expect this is going to be a China that plays by the rules.”

None of this proved to be true. Since China joined the WTO, its economy has grown 1,400%. Since 2010, it has been the world’s largest exporter. It has also become a systematic violator of basic rules and principles of the WTO, which was created specifically to integrate market economies. China practices state-supported intellectual property theft. It forces foreign companies operating in its markets to transfer technology to local enterprises. It engages in widespread commercial espionage. It provides state-owned and favored domestic firms with massive subsidies, enabling and encouraging them to undercut competitors abroad and dominate foreign markets. All the while it has, certainly since the ascension of President Xi Jinping in 2012, become progressively less liberal politically, using the internet and advanced technology to expand state surveillance and control of private behavior.

The end of history, it seems, is marked not by an ever-widening embrace of liberal democracy and free markets, but by the progressive centralization of national political power in a “unitary executive”—including greater power, vested in one man, to restrict trade with, and investment by, foreign entities.

That change isn’t limited to China.

Since the 2001 al Qaeda terrorist attacks, the U.S. executive branch has arrogated vast powers from the other branches in the areas of mass electronic surveillance and the use of military force. Trade, tariff, and investment policy is now set, sometimes hour by hour, through executive order. State subsidies, while still well below Chinese levels, have been showered on favored industries. Firms are compelled to share sensitive data and communications access, and to cut off financing links with targeted entities. Federal law enforcement, most notably at the Justice Department and the Federal Bureau of Investigation, has been openly politicized. Even U.S. election law seems now to be on soft ground, with President Donald Trump issuing mass pardons to the Jan. 6 Capitol rioters and suggesting he might fight for a constitutionally forbidden third term.

Whereas it would be wrong to blame the rise of Chinese economic power for trends that are discernible earlier, and for very different reasons, compelling link the so-called China shock—marked by the devastation of many U.S. communities from the loss of manufacturing jobs—to the rise of political polarization and popular demands for rapid and robust presidential action. Supranational limitations on presidential power, particularly the WTO dispute settlement appellate body, have been swatted away by three consecutive administrations—Republican and Democrat.

The full title of Fukuyama’s blockbuster was, of course, The End of History and the Last Man. “The last man” refers to Nietzsche’s profile of the docile, risk-averse individual who comes to dominate the landscape in “posthistorical” free-market liberal democracies. After the triumph of markets and democracy, the seemingly eternal human desire for struggle and heroism dies away, replaced by the flabby longing for comfort and ease. So, too, in the unitary-executive version of history’s end, we arrive at “the last tariff”—that final, fatal retaliatory tariff, heaped upon earlier mounds of retaliatory tariffs, that so destroys any reason for trade that it makes all further tariffs redundant, sweeping away Davos man and his dream of globalization.

Guest commentaries like this one are written by authors outside the Barron’s newsroom. They reflect the perspective and opinions of the authors. Submit feedback and commentary pitches to ideas@barrons.com.


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